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Comunicado

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Atenciosamente
Leandro Vilar

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O que é o Iluminismo?

Este artigo foi escrito em 1783 pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), em resposta a uma pergunta de um pastor de sua cidade, a respeito do que seria o Iluminismo. Tal artigo fora publicado em 1784 pela revista Berlinischen Monatsschrift.

1. Definição do Iluminismo
.

O iluminismo é a saída do homem de um estado de menoridade que deve ser imputado a ele próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si próprios é esta menoridade se a causa dela não depende de um defeito da inteligência, mas da falta de decisão e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem ser guiado por outro. Sapere aude!1 Tenha a coragem de servir-te da tua própria inteligência! – é, portanto, o lema do Iluminismo.

2. Dificuldade para o homem de sair do estado de menoridade.

A preguiça e a vileza são as causas pelas quais tão grande parte dos homens, depois que a natureza há muito tempo os liberou da heterodireção (naturaliter minorennes), ainda permanecem de bom grado em estado de menoridade por toda a vida; e esta é a razão pela qual é tão fácil que outros se erijam como seus tutores. É tão cômodo ser menor! Se eu tiver um livro que pensa por mim, um diretor espiritual que tem consciência por mim, um médico que decide por mim sobre a dieta que me convém etc., não terei mais necessidade de me preocupar por mim mesmo. Embora eu goze da possibilidade de pagar, não tenho necessidade de pensar: outros assumirão por mim essa enjoada tarefa. De modo que a estrondosa maioria dos homens (e com eles todo o belo sexo) considera a passagem ao estado de maioridade, além de difícil, também muito perigosa, e provêm já os tutores que assumem com muita benevolência o cuidado vigilante sobre eles. Depois de tê-los em um primeiro tempo tornado estúpidos como se fossem animais domésticos e ter cuidadosamente impedido que essas pacíficas criaturas ousassem mover um passo fora do andador de crianças em que os aprisionaram, em um segundo tempo mostram a eles o perigo que os ameaça caso tentassem caminhar sozinhos. Ora, este perigo não é assim tão grande como se lhes faz crer, pois ao preço de alguma queda eles por fim aprenderiam a caminhar: mas um exemplo deste gênero os torna em todo caso medrosos e em geral dissuade as pessoas de qualquer tentativa ulterior.

É, portanto, difícil para cada homem particular desembaraçar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma segunda natureza. Ele chega até a amá-la e, no momento, é realmente incapaz de servir-se de seu próprio intelecto, pois nunca lhe foi permitido colocá-lo à prova. Regras e fórmulas, estes instrumentos mecânicos de um uso racional, ou melhor, de um abuso de suas disposições naturais, são os laços de uma menoridade eterna. Mesmo que deles conseguisse se soltar, mais não faria que um salto inseguro até mesmo sobre os mais pequenos buracos, pois não estaria treinado a tais movimentos livres. Portanto, apenas poucos conseguem, com a educação do próprio espírito, desembaraçar-se da menoridade e apesar de tudo caminhar com passo seguro.

Que, ao contrário, um público2 se ilumine por si próprio é coisa grandemente possível; ou melhor, se lhe for deixada a liberdade, é quase inevitável. Nesse caso, com efeito, se encontrarão sempre, até entre os tutores oficiais da grande multidão, alguns livres pensadores que, depois de terem sacudido de si o jugo da tutela, espalharão o sentimento da avaliação racional do próprio valor e da vocação de todo homem a pensar por si próprio. A este respeito há o fenômeno singular de que o público, que em um primeiro tempo foi colocado por aqueles sob tal jugo, os obrigue depois ele próprio a aí permanecerem, tão logo tenham a isso instigado aqueles de seus tutores que fossem eles próprios incapazes de qualquer esclarecimento. Semear preconceitos é tão perigoso exatamente porque terminam por recair sobre seus autores ou sobre os predecessores de seus autores. Por isso o público pode chegar ao esclarecimento apenas lentamente. Talvez uma revolução poderá, sim, determinar a liberação em relação a um despotismo pessoal e de uma opressão ávida de ganho ou de poder, mas nunca uma verdadeira reforma do modo de pensar. Ao contrário: novos preconceitos servirão da mesma forma que os antigos para colocar no andador a grande multidão de quem não pensa.

3. Condição essencial para o Iluminismo é a liberdade de fazer uso público da razão.

Todavia, para esse esclarecimento não é preciso mais que a liberdade; e precisamente a mais inofensiva de todas as liberdades, isto é, a de fazer uso público da própria razão em todos os campos. Mas em todos os lugares ouço gritar: não raciocineis! O oficial diz: não raciocineis, mas fazei exercícios militares! O intendente de finanças: não raciocineis, mas pagai! O clero: não raciocineis, mas acreditai! (Há apenas um único senhor no mundo3 que diz: raciocineis o quanto quiserdes e sobre tudo aquilo que quiserdes, mas obedecei!). Aqui existe, em todo lugar, limitação da liberdade.

a. Uso público e uso privado da razão.

Todavia, qual limitação é obstáculo para o Iluminismo, e qual não o é, ou melhor, até o favorece? Respondo: o uso público da própria razão deve ser livre em todo tempo, e apenas ele pode atuar o esclarecimento entre os homens; o uso privado da razão, ao contrário, pode muito freqüentemente sofrer estreitas limitações, sem que por isso o progresso do esclarecimento seja particularmente obstaculizado. Entendo por uso público da própria razão o uso que alguém faz dela, como estudioso, diante de todo o público dos leitores. Chamo, ao contrário, de uso privado da razão aquele que a um homem é lícito fazer dela em certa profissão ou função civil da qual é investido. Ora, para muitas operações que se referem ao interesse da comunidade é necessário certo mecanicismo, pelo qual alguns membros dela devem se comportar de modo puramente passivo em que mediante uma harmonia artificial o governo os induza a concorrer aos fins comuns ou ao menos a não contrastar com estes. Aqui, obviamente, não é permitido raciocinar, mas deve-se obedecer. Todavia, enquanto ao mesmo tempo estes membros da máquina governante se consideram como membros de toda a comunidade e, mais ainda, da sociedade cosmopolita, e são, portanto, na qualidade de estudiosos que com os escritos se dirigem a um público no sentido próprio da palavra, eles podem certamente raciocinar, sem com isso lesar a atividade à qual estão destinados como membros parcialmente passivos. Desse modo, seria bastante pernicioso que um oficial, ao qual foi dada uma ordem por seu superior, quisesse em serviço publicamente raciocinar sobre a oportunidade e a utilidade dessa ordem: ele deve obedecer. Mas é iníquo impedir que ele, na qualidade de estudioso, faça suas observações sobre erros cometidos nas operações de guerra e as submeta ao julgamento de seu público. O cidadão não pode se furtar a pagar os tributos que lhe são impostos; e uma crítica inoportuna de tais imposições, quando devem ser executadas por ele, pode até ser punida como escândalo (pois poderia induzir a desobediências generalizadas). Contudo, este não age contra o dever de cidadão se, como estudioso, manifestar abertamente seu pensamento sobre a inconveniência ou também sobre a injustiça destas imposições. Dessa forma, espera-se que um eclesiástico ensine o catecismo aos aprendizes e à sua comunidade religiosa segundo o credo da Igreja da qual depende, porque é com esta condição que ele foi assumido; mas, como estudioso, ele tem a plena liberdade e até a tarefa de comunicar ao público todos os pensamentos que um exame severo e bem intencionado lhe sugeriu a respeito dos defeitos daquele credo, e também suas propostas de reforma da religião e da Igreja. Nisso não há nada de que a consciência possa tornar-se culpada. Aquilo que ele ensina como parte de sua profissão, como funcionário da Igreja, ele de fato o expõe como algo em torno do qual não tem a liberdade de ensinar conforme suas próprias idéias, mas que tem a tarefa de ensinar segundo as instruções e em nome de um outro. Ele dirá: nossa Igreja ensina isto e aquilo, e estas são as provas de que ela se vale. Toda a utilidade prática que pode derivar para sua comunidade, ele portanto a tirará dos princípios que ele próprio não subscreveria com plena convicção, mas a cujo ensinamento pode em todo caso se empenhar porque não é de modo algum impossível que neles não se encontre alguma verdade, e em todo caso, ao menos, neles não se encontra nada que contradiga a religião interior. Se, ao contrário, acreditasse encontrar aí algo que a contradiga, ele não poderia exercitar sua função com consciência; deveria demitir-se. O uso que um ministro de ensino oficial faz da própria razão diante de sua comunidade religiosa é, portanto, apenas um uso privado; e isso porque aquela comunidade, por maior que seja, é sempre apenas uma reunião doméstica; e sob este aspecto ele, como padre, não está livre e não o pode sequer ser, pois exerce um cargo que lhe vem de outros. Ao contrário, como estudioso que fala com os escritos ao público propriamente dito, isto é, ao mundo e, portanto, como eclesiástico no uso público de sua própria razão, ele goza de uma liberdade ilimitada de valer-se de sua própria razão e de falar por si mesmo. Que os tutores do povo (nas coisas espirituais) devam por sua vez permanecer sempre na menoridade é um absurdo que tende a perpetuar os absurdos.

4. Criar obstáculos contra o progresso das luzes é um crime contra a natureza humana.

Contudo, uma sociedade de eclesiásticos, por exemplo, uma assembléia eclesial ou uma venerável “classe” (como ela se autodefine entre os holandeses), não teria por acaso o direito de obrigar-se por juramento a certo credo religioso imutável, para exercer de tal modo sobre cada um de seus membros e, por meio deles, sobre o povo uma tutela contínua e até para tornar eterna essa tutela? Eu digo que isso é de fato impossível. Tal contrato, dirigido a manter a humanidade para sempre longe de qualquer progresso ulterior no esclarecimento, é irritante e nulo de modo absoluto, mesmo que fosse sancionado pelo poder soberano, pelas Dietas imperiais e os mais solenes tratados de paz. Nenhuma época pode coletivamente empenhar-se com juramento a pôr a época sucessiva em uma condição que a coloque na impossibilidade de estender seus conhecimentos (sobretudo quando são tão necessários), de libertar-se dos erros e em geral de progredir no esclarecimento. Isso seria um crime contra a natureza humana, cuja originária destinação consiste justamente nesse progresso; e, portanto, as gerações sucessivas estão perfeitamente legitimadas a rejeitar tais convenções como não autorizadas e ímpias. A pedra-de-toque de tudo aquilo que se pode impor como lei a um povo está no quesito: um povo pode impor a si próprio tal lei? Isso sim seria uma coisa possível, por assim dizer, na espera de uma lei melhor e por breve tempo determinado, com o fim de introduzir certa ordem, mas com a condição de que entrementes se deixe livre todo cidadão, sobretudo o homem de Igreja, de fazer sobre os defeitos da instituição vigente suas observações publicamente, em sua qualidade de estudioso, isto é, mediante seus escritos; e isso enquanto a ordem constituída se mantiver sempre em vigor até que as novas visões nessa matéria não tenham alcançado no público tanta difusão e crédito que os cidadãos, com a união de seus votos (mesmo que não de todos), estejam em grau de apresentar ao soberano uma proposta dirigida a proteger as comunidades que estivessem de acordo para uma mudança para melhor da constituição religiosa segundo suas idéias, e sem prejuízo para as comunidades que, ao contrário, pretendessem permanecer na antiga constituição. Mas entrar em acordo para manter em vigor, mesmo que apenas pela duração da vida de um homem, uma constituição religiosa imutável que ninguém possa publicamente pôr em dúvida, e com isso anular por assim dizer uma fase cronológica do caminho da humanidade para sua melhora e tornar essa fase estéril e por isso mesmo talvez até danosa para a posteridade, não é absolutamente lícito. Um homem pode, de fato, por sua própria pessoa, e também em tal caso apenas por certo tempo, diferir de iluminar-se sobre aquilo que ele próprio é destinado a saber; mas renunciar a isso para si e, mais ainda, para a posteridade, significa violar e calcar aos pés os sagrados direitos da humanidade. Ora, aquilo que nem sequer um povo pode decidir a respeito de si próprio, menos ainda o pode um monarca a respeito do povo; com efeito, seu prestígio legislativo se funda precisamente sobre o fato de que em sua vontade ele resume a vontade geral do povo. Embora ele vigie para que toda verdadeira ou presumida melhora não contrarie a ordem civil, ele não pode de resto senão deixar seus súditos livres de fazer o que crêem necessário para a salvação de sua alma. [...] O monarca acarreta detrimento à sua própria majestade caso se intrometa nessas coisas, considerando que os escritos nos quais seus súditos colocam às claras suas idéias sejam passíveis de controle por parte do governo, tanto se ele faz isso invocando a própria intervenção autocrática e expondo-se à reprovação de que Caesar non est supra grammaticos,4 como, e com maior razão, se ele abaixa seu poder a ponto de sustentar o despotismo espiritual de algum tirano em seu Estado contra todos os outros seus súditos.

5. A época atual é “de iluminismo”, e não uma época “iluminada”.

Se agora perguntarmos: nós, atualmente, vivemos em uma era iluminada? então a resposta é: não, e sim em uma era de iluminismo.Que na situação atual os homens tomados em massa já estejam em grau, ou que também possam ser colocados em grau de valer-se seguramente e bem de seu próprio intelecto nas coisas da religião, sem a guia de outros, é uma condição da qual ainda nos encontramos muito distantes. Mas que a eles, agora, esteja aberto o campo para trabalhar e emancipar-se para tal estado, e que os obstáculos à difusão do esclarecimento geral ou à saída da menoridade a eles próprios imputável pouco a pouco diminuam, disso temos, ao contrário, sinais evidentes. [...]

Um príncipe que não crê indigno de si dizer que considera seu dever não prescrever nada aos homens nas coisas de religião, mas deixá-los nisso em plena liberdade, e que, portanto, afasta de si também o nome orgulhoso da tolerância, é ele próprio iluminado e merece que o mundo e a posteridade reconheçam ser digno de elogio como aquele que por primeiro emancipou o gênero humano da menoridade, ao menos por parte do governo, e deixou livre cada um de valer-se de sua própria razão em tudo aquilo que é questão de consciência. [...] Este espírito de liberdade se estende também para o exterior, até o ponto em que ele deve lutar contra obstáculos exteriores suscitados por um governo que entende mal a si próprio. O governo, com efeito, tem em todo caso diante dos olhos um resplandecente exemplo que mostra que a paz pública e a concórdia da comunidade nada têm a temer da liberdade. Os homens se empenham por si mesmos para sair pouco a pouco da barbárie, contanto que não se recorra a instrumentos artificiais para nela mantê-los.

6. O Iluminismo deve se referir sobretudo às coisas de religião.

Coloquei particularmente nas coisas de religião o ponto culminante do esclarecimento, isto é, da saída dos homens de um estado de menoridade que deve ser imputado a eles próprios; em relação às artes e às ciências, com efeito, nossos regentes não têm nenhum interesse de exercitar a tutela sobre seus súditos. Além disso, a menoridade em coisas de religião é entre todas as formas de menoridade a mais danosa e também a mais humilhante. Mas o modo de pensar de um soberano que favorece aquele tipo de esclarecimento vai ainda além, pois ele vê que até em relação à legislação por ele estabelecida não se corre perigo em permitir aos súditos fazer uso público de sua razão e de expor publicamente ao mundo suas idéias sobre um melhor arranjo da própria legislação, até criticando de modo aberto a existente. [...]

7. Um paradoxo: uma liberdade civil maior põe maiores limites à liberdade do espírito do povo.

Todavia, também é verdade que apenas aquele que, iluminado ele próprio, não tem medo das sombras e ao mesmo tempo dispõe a garantia da paz pública de um exército numeroso e bem disciplinado, pode enunciar aquilo que uma república não pode arriscar-se a dizer: raciocinai o quanto quiserdes e sobre tudo aquilo que quiserdes; apenas obedecei! Revela-se aqui um estranho e inesperado curso das coisas humanas; como, de resto, em outros casos, considerando esse curso em tamanho grande, quase tudo nele parece paradoxal. Um maior grau de liberdade civil parece favorável à liberdade do espírito do povo, e todavia põe a ela limites intransponíveis; um grau menor de liberdade civil, ao contrário, oferece ao espírito o espaço para desenvolver-se com todas as suas forças. Portanto, se a natureza desenvolveu sob este duro invólucro o germe do qual ela toma o mais inteiro cuidado, isto é, a tendência e vocação para o livre pensamento, esta tendência e vocação gradualmente reage sobre o modo de sentir do povo (motivo pelo qual este, pouco a pouco, torna-se sempre mais capaz da liberdade de agir) e finalmente até sobre os princípios do governo, o qual percebe que é vantagem para si próprio tratar o homem, que doravante é mais que uma máquina,5 de modo conforme com a dignidade que ele tem.

____________________

1 “Tem a coragem de saber!”: Horácio, Epístolas I, 2, 40).

2A expressão “o público” tinha no séc. XVIII três possíveis acepções. Significava, em contraposição ao indivíduo, a totalidade das pessoas reunidas em um certo lugar ou espaço (província ou Estado), ou o público dos leitores de um determinado escritor, e ainda o conjunto das pessoas que pertencem a uma época histórica.

3Alusão a Frederico II da Prússia (1740-1786).

4“O imperador não tem autoridade sobre os gramáticos”.



NOTA 1: Kant foi considerado um dos mais influentes filósofos da história moderna.
NOTA 2: Seus ensinamentos e teorias influenciaram outros filósofos, tais como: Hegel, Herder e Nietzsche.
NOTA 3: Ele nunca chegou a difundir muito os ensinamentos e teorias iluministas em sua cidade, devido a desaprovação do imperador Frederico II, o qual abominava tais idéias.


Fonte: http://rgirola.sites.uol.com.br/Kant.htm

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Igreja no Brasil colônia

Este artigo é uma cortesia do meu amigo Eduardo M. I. Da Costa.


A história da Igreja no Brasil tem sua elaboração e organização iniciada ainda em Portugal, onde o Papa detinha o direito da evangelização das terras descobertas ou que iriam ser descobertas ainda, assim estabelecendo o regime de padroado que foi concedido desde 1456 para a Ordem de Cristo que possuía como seu grão-mestre o Infante Dom Henrique, O Navegador (ver foto). Foi apenas em 1514 que o Brasil, ainda despovoado, passou a ser controlada pela Diocese Funchal, que era sediada na Ilha da Madeira, criada por Leão X. Nos navios que aqui chegaram no descobrimento haviam frades, e foram os franciscanos que rezaram as duas primeiras missas no Brasil, mas apenas em 1549, com a vinda dos primeiros jesuítas, é que fica marcado o início da atividade religiosa organizada no Brasil. Em 1551, o Papa Júlio III (ver foto abaixo) instituiu o primeiro bispado no Brasil, tendo como primeiro bispo brasileiro Dom Pero Fernandes Sardinha.


Assim, após 38 anos subjugados a ordem Funchal, tornou-se uma Diocese separada, a Diocese de S. Salvador da Bahia de Todos os Santos. Até meados do século XVIII, o estado controla a atividade eclesiástica na colônia através do padroado, arcando com o sustento de Igreja. É o Estado que nomeia e remunera os párocos e bispos, além de controlar as sentenças e as execuções do tribunal da Inquisição. A vida religiosa na colônia brasileira era dividida basicamente em três preocupações básicas: a primeira era a catequização dos índios e a segunda, promover as necessidades espirituais da população e também cumprir tarefas sociais.

A tarefa de catequização era muito árdua devido a diversos empecilhos encontrados no Brasil, mas também era de extrema importância para a Igreja Católica, pois naquele período havia uma enorme preocupação relacionada ao aumento de seguidores convertidos ao catolicismo. Era preciso se adaptar a terra, ao clima. Para abordar os índios tinham que ensiná-los a desenvolver sua cultura, fazer com que eles compreendessem a fé em Cristo e principalmente pregar o Evangelho. Mesmo sendo pouco numerosos, os catequistas tiveram que aprender línguas novas, andar enormes distancias a pé, sem apoio do governo e também enfrentando a ambição dos colonos que viam os índios como presas fáceis para a escravização. Uma forma de ajudar na catequização dos indígenas foi à fundação de aldeias, encontradas nos subúrbios de Salvador, no Recôncavo baiano, em Porto Seguro, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, em São Paulo, no Rio Grande do Norte e na Paraíba, onde os missionários dedicavam-se em tempo integral ao ensino das artes e também ao ensino da agricultura.


A vida espiritual da Igreja era expressa principalmente através de procissões na Semana Santa, Missa do Galo no Natal, nas festas de Nossa Senhora e também incentivavam a moral familiar. Também promovia a parte social que muitas vezes não era cumprida, ou até mesmo oferecida pelo Estado. Era a Igreja que comandava as poucas escolas existentes na colônia. As Irmandades e Confrarias eram organizadas com a finalidade de amparar e promover cultos entre elas. As Misericórdias (Santa Casa) colaboraram com o combate a doenças, epidemias e socorro aos acidentados e também ajudaram no desenvolvimento da medicina colonial. Socialmente a Igreja catequizava a população no Período Colonial.


Tanto as crianças, quanto os adultos recebiam essa catequização, preocupados principalmente com a formação dos lares regidos pela moral e fé cristã e também se preocupavam com os sermões dos pregadores. Negativamente, em muitas vezes a Igreja contribuiu para o afastamento da moral cristã, através da formação de “haréns domésticos” e também pela busca do poder e do dinheiro. Também contribuiu negativamente na escravidão, tanto ela sendo indígena (guerras justas) e também na escravidão negra.


Quanto à inquisição no Brasil colônia, esta nunca foi instalada burocraticamente no Brasil, os atos inquisitórios eram remetidos a Lisboa. O primeiro visitador do Santo Ofício chega à Bahia em Junho de 1591, o desembargador Heitor Furtado de Mendonça, toma algumas medidas como, nomear uma comissão inquisitorial, publicou um Auto-de-Fé, uma Carta de Graça para a cidade da Bahia e seus arredores e uma Carta Monitória que em um de seus trechos menciona práticas e cerimônias judaicas que deveriam ser confessadas ou denunciadas. Em Recife, o visitador Mendonça estabeleceu os órgãos e fez as promulgações, em Olinda e em alguns outros locais e paróquias, similares às realizadas na Bahia. Os relatos desta visitação mostraram que uma parte relevante da população branca era constituída de judaizantes que começaram a chegar no século XVI, e que eram, em sua maioria, homens de poder econômico.


Em 1618 a notícia da presença do Santo Ofício deixou a população em pânico. A falta de fé e de obediência certamente representava para o poder papal uma derrota no campo da conscientização e da formação de uma sociedade que deveria ser adepta aos preceitos católicos, o que facilitaria a centralização do poder estatal, que estava aliado à Igreja, na reconstrução do modelo de estado português na colônia. As práticas desregradas na colônia chegaram a ser tidas como doutrina, a idéia de que não existia pecado ao sul do equador, onde colonos e degredados viviam às fornicações, sodomia, adultérios e incestos. Esses comportamentos fizeram alguns acreditar que o próprio nome Brasil estaria associado a essa idéia, pois a figura da brasa quente como o inferno, vermelha como a madeira, produto que daria o nome ao país teria substituído o nome inicialmente adotado de “Terra de Santa Cruz”.


Somente após a posse de Sebastião José de Carvalho e Melo (conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal) (ver foto) para ocupar o cargo de primeiro-ministro foi possível observar uma mudança em relação à administração e também sobre as obrigações da igreja. A principal delas foi a expulsão dos jesuítas que tinha como objetivo principal aprofundar o controle sobre as regiões administradas pelos jesuítas. Essa expulsão gerou uma necessidade de uma profunda reforma no sistema educacional que antes era comandada pela Igreja. Outras medidas adotadas no período pombalino foram: a abolição da escravidão indígena, em 1757, e o fim da perseguição aos chamados "cristãos-novos", em 1773. É possível então observar que no Brasil a Igreja não apenas cumpria sua função religiosa, mas também estava inserida em questões políticas e muitas vezes cumpria o papel que o Estado deveria cumprir.



Referências Bibliográficas:

BOXER, Charles Ralph. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial – 3°ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.

LIMA, Maurílio Cesar de. Breve História da Igreja no Brasil. Rio de Janeiro: Restauro 2001.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira - Tomo I - A Época Colonial - Vol. II – 6° ed. São Paulo, Bertrand Brasil.

RIBEIRO, Darcy, e Neto, Carlos de Araujo Moreira. A fundação do Brasil: testemunhos, 1500 -1700, Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.

BOXER, Charles Ralph. A igreja e a expansão ibérica (1440 – 1770), 70° ed.

HOORNAERT, Eduardo, A Igreja no brasil-colônia: 1550-1800, Vol. XLV, 2º ed. Editora Brasiliense, 1984.

VIANNA, Helío. História do Brasil: Período colonial e monarquia, Vol. II, 10º ed. Edições Melhoramentos, 1972.

BETHELL, Leslie. História da América Latina – Vol. I, EDUSP, 1997.

MARCILIO, Maria Luiza. Família, mulher, sexualidade e Igreja na história do Brasil, Edições Loyola, 1993.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Sentença de Sócrates

Sócrates, um dos filósofos antigos mais famosos da História. Conhecido como o grande sábio da Antiguidade. Para alguns o fundador da Filosofia Ocidental, e fonte de expiração para muitos filósofos de vários países e épocas distintas. No entanto, este que uma vez fora chamado de "o mais sábio dos homens" ainda é um mistério para os historiadores de hoje. Muito pouco se sabe da vida deste ilustre homem. Por incrível que pareça o mais famoso dos filósofos gregos antigos, nunca deixou nenhum documento escrito sobre seus ensinamentos e pensamentos. Alguns sugerem que Sócrates, não sabia ler e nem escrever. O que se tem hoje como sendo atribuído a sua pessoa, parte dos relatos de filósofos como Platão, Xenofonte e Aristófanes.

"Sócrates é conhecido através de Aristófanes, que o denigre sob uma visão caricatural; de Xenofonte, que nos oferece dele uma imagem simplista; e de Platão, que lhe dá uma estatura fundamental na história da filosofia". (LAROUSSE, 1998, p. 5438).

A respeito desta contribuição posta por Platão a imagem de Sócrates, alguns historiadores sugerem que talvez Sócrates nunca teria existido, que esse teria sido uma personagem criada por Platão. Não obstante, há quem defenda que ele realmente existiu. E sendo assim, neste artigo não irei me focar a respeito de sua vida que se pouco se conhece ou de seus ensinamentos. Me prenderei a fazer um relato do julgamento o qual Sócrates fora condenado por crimes de Estado contra a cidade e o povo de Atenas.

Pelo pouco que se sabe de sua vida, Sócrates, nasceu em Atenas, por volta de 470 a.C ou 469 a.C. Tendo sido filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta. Desse ponto em diante nada mais se sabe ao certo sobre sua vida. Sócrates só se tornou um homem conhecido em sua época, durante sua velhice. Quando passou a mendigar pelas ruas, e a ensinar quem quisesse ouvir seus ensinamentos dos quais formariam o Método Sócratico. De fato ele não fora o primeiro filósofo da Grécia, mas sua contribuição fora quem impulsionou os filósofos seguintes a desenvolver a filosofia grega.

"[...] o filósofo teria empenhado, a partir dos 40 anos, na reestruturação moral de seus concidadãos. Passou então a viver nas ruas de Atenas ensinando a virtude e a sabedoria. Não aceitava pagamento por isso e tão pouco aceitou cargos públicos". (LAROUSSE, 1998, p. 5438).

Platão segundo Rafael Sanzio
Em meio a sua velhice, onde sua fama se perpetuava por toda a Atenas, havia aqueles que o consideravam um perturbador da ordem civil. Sendo assim Sócrates acabou sendo condenado por crime de calúnia, perante os cidadãos atenienses. E é nesse fato, que irei descrever a seguir como ocorreu seu julgamento, mediante aos relatos de Platão  sobre este acontecimento. A respeito de sua condenação, o próprio filósofo diz de acordo com o relato de Platão, que era acusado não somente por crimes recentes, mas também por supostas desavenças no passado, nas quais seus acusadores se uniram para levar a fim o julgamento dele. Dentre os acusadores de Sócrates, estavam ilustres homens de sua época, os quais o acusavam de desvirtuar os jovens, de ser espião dos inimigos, e de possivelmente, está adorando outros deuses, os quais não fossem próprios dos gregos. No caso de desvirtuar os jovens, era pelo fato dele ensinar-los a chamada filosofia, a qual concebia a razão como resposta para determinados acontecimentos mundanos e humanos, não sendo estes totalmente ligados a vontade dos deuses.

"Entre esses, arremessaram-se contra mim Meleto, Anito e Licon: Meleto pelos poetas, Anito pelos artífices, Licon pelos oradores". Platão.

"É mais ou menos assim: Sócrates comete crime corrompendo os jovens e não considerando como Deuses os Deuses que a cidade considera, porém outras divindades". Platão.

A respeito das acusações e daqueles que o acusavam, Sócrates teria dito o seguinte:

"Porque muitos dos meus acusadores têm vindo até vós há bastante tempo, talvez anos, sem jamais dizerem a verdade; a esses eu temo mais do que a Anito e aos seus companheiros, embora também sejam temíveis esses últimos". Platão.

"Nunca, ao menos, falei de dinheiro; igualmente me presto a me interrogar os ricos e os pobres, quando alguém, respondendo, quer ouvir o que digo, e se algum deles se torna melhor, ou não se torna, não posso ser o responsável pois que não prometi, nem dei, nesse sentido, nenhum ensinamento". Platão.

Outro ponto interessante que Platão escreve sobre o julgamento de seu mentor, é a respeito da famosa ideia na qual Sócrates quanto tendo visitado o Oráculo de Delfos (ver foto), a onde ao conversar com a sacerdotisa pitonisa, este pergunta para ela quem era o mais sábio dos homens. Então a pitonisa diz que o mais sábio dos homens era ele mesmo. Mesmo diante de tal afirmação Sócrates ainda haveria de ter ficado em dúvida, então teve uma ideia. Este baseado na frase a qual se encontrava diante do templo do Oráculo "Conhece-te a ti mesmo" (γνῶθι σεαυτόν), teria partido em busca de respostas, para saber se realmente o que a sacerdotisa dissera era verdade, e se Apolo tinha razão em se dizer isso a sacerdotisa para comunicá-lo.

De volta a Atenas, este se pôs a entrevistar e conversar com alguns dos mais ilustres homens de diferentes ofícios a fim de levar a cabo sua missão de saber quem era o mais sábio.

"Depois dos políticos, fui aos poetas trágiosc e, dos ditirâmbicos fui a outros, convencido de que, entre esses, eu seria de fato apanhado como mias ignorante do que eles. Tomando, pois, os seus poemas, dentre os que me pareciam os mais bem feitos, eu lhes perguntava o que queriam dizer, para aprender também alguma coisa com eles". Platão.

"Em poucas palavras direi ainda, em relação aos trágicos, que não faziam por sabedoria aquilo que faziam, mas por certa natural inclinação e intuição, assim como os adivinhos e os vates; em verdade, embora digam muitas e belas coisas, não sabem nada daquilo que dizem". Platão.

"Por fim, também fui aos artífices, porque estava persuadido de que, por assim dizer, nada sabiam e, ao contrário, tenho que dizer que os achei instruídos em muitas e belas coisas. Em verdade, nisso eu me enganei: eles, de fato, sabiam aquilo que eu não sabia e eram muito sábios do que eu". Platão.

Sócrates quando termina de fazer suas investigações, chega a conclusão que a sabedoria é algo difícil de ser explicada. Todos os homens que ele entrevistou, eram sábios e gênios em suas determinadas áreas de atuação, porém eram tolos e ignorantes a respeito de outros assuntos. E nesse ponto ele teria pronunciado sua famosa frase "Só sei que nada sei".

No entanto mesmo chegando a tais conclusões, e levantando outras, que puseram os magistrados e juízes em "maus lençóis" devido ao fato de este questionar o modo de como estava se processando aquele julgamento, a sentença de Sócrates acabou dando a pena de morte. No entanto. Ouve antes disso, a decisão de que ele pudesse ser sentenciado a pagar uma multa para o Estado, no entanto, o filósofo disse que era pobre e não tinha dinheiro, a final ele ficava mendigando e vivendo de favor. Outros levantaram a hipótese de este ir para o ostracismo (exílio politico), sobre a forte imposição de que este não poderia mais ensinar em lugar algum sua filosofia. Porém sobre isso Sócrates, diz que não poderia cumprir. Mesmo que ele fosse mandado embora para bem longe, ainda continuaria transmitindo seus ensinamentos.

"Ora, é possível que alguém perguntasse; - Sócrates, não poderias viver longe da pátria calado e em paz? Eis justamente o que é mais difícil fazer e aceitar a alguns dentre vós: Se digo que seria desobedecer ao Deus e que, por essa razão, eu não poderia ficar tranquilo, não acreditareis em mim, supondo que tal afirmação é, de minha parte, uma fingida ingenuidade". Platão.

Para Sócrates, o dom da filosofia e da razão fora lhe dado pelos deuses, sendo assim em que mal haveria ele de fazer isso, se os deuses lhe concederam esta oportunidade? Por outro lado, ele lembra que os deuses também concederam aos homens, o ato de matar, roubar, destruir, e outros sentimentos egoístas, e nem por isso, eles acabaram com todos.

E sobre tal argumento, os juízes questionam Sócrates, sobre qual sentença seria a melhor para ele. E nesse ponto ele chega a ser sagaz e até mesmo sarcástico. Sócrates diz que sua sentença seria a absolvição plena e sua inocência. E por fim ele queria ser tratado como um dos vencedores dos Jogos Olímpicos. Nessa época o vencedor das Olimpíadas, era tratado como um herói, tendo estátuas suas construídas pela cidade, além de ser bancado pelo próprio Estado, que custeava sua alimentação, moradia e todos outros gastos seus, o isentando dos impostos.

Nesse caso, ele diz que se, um homem que vence uma corrida a pé, uma corrida de bigas, atira dardos e discos a longas distâncias, e vence lutas de pancrácio, pode ser sustentado pelo Estado, mesmo sendo este um homem rico. Então porque, ele que é um homem pobre, que passou sua vida, transmitindo o conhecimento e a verdade, não pode ter o mesmo beneficio?

No entanto, os juízes acabam o sentenciando ao crime de morte. E antes de isso vir acontecer, lhe perguntam o que ele achava de ser condenado a morte.

"Mas, ó cidadãos, talvez o difícil não seja fugir da morte. Bem mais difícil é fugir da maldade, que corre mais veloz que a morte. E agora eu, preguiçoso como sou, e velho, fui apanhado pela mais lenta, enquanto os meus acusadores, válidos e lépidos, foram apanhados pela mais veloz: a maldade". Platão.

"Porque morrer é uma outra destas duas coisas: ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do quer que seja, ou, como se diz, a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma, uma migração deste lugar para o outro". Platão.

Nesse caso, mais uma vez mantendo o bom humor, Sócrates diz que se ele tem que ir para o Hades (nesse caso me refiro ao inferno e não ao deus em si), pelo menos lá ele poderá conhecer e conversar com os ilustres homens do passado. Ele poderá conversar com Homero, Hesíodo, Orfeu, Agamêmnon, Aquiles, Menelau, Ajax, Odisseu e tantos outros heróis, reis, e grandes homens. Então se ele diz que se isso realmente for possível, para ele está tudo bem.

Com isso, Sócrates retorna para sua cela, aguardando o dia de sua morte. Durante este tempo, seus discípulos haveriam de ter planejado sua fuga, mas o próprio filósofo teria se recusado a fugir. Já que para ele, que se considerava inocente, fugir naquele momento, só iria refutar sua culpa para aqueles que o acusavam.

A morte de Sócrates. 
Em 399 a.C, em uma cela de prisão na cidade de Atenas, Sócrates acompanhado de seu discípulos, era finalmente sentenciado por seus crimes, a beber veneno feito da cicuta. Na imagem acima que retrata tal acontecimento, nota-se que todos os demais homens que estão ali estão muito tristes e se lamentam. No entanto Sócrates mantêm a calma até nesse último momento. Dizem que ele teria mandado seus discípulos pararem de chorar, por que afinal aquilo não era o fim de tudo, e ele iria para um lugar melhor. Naquele momento, eles deveriam estar orgulhosos de seu mestre e do que ele fez em vida. E quanto a morte, isso chega para todos um dia.

"A vida e o pensamento de Sócrates fascinaram os filósofos ocidentais e suscitaram uma admiração quase mística em Rousseau, Kant e Hegel, ao mesmo tempo que uma rejeição exemplar em Nietzsche, que via nele o aniquilador do mito em nome da razão". (LAROUSSE, 1998, p. 5438).

NOTA: O nome pitonisa, advém da mitologia. De acordo com esta, Hera havia enviado a serpente gigante Piton para devorar a deusa Leto, mãe de Apolo e Artémis, no entanto Apolo matou a tal serpente com suas flechas. E teria criado um evento esportivo, os Jogos Piticos para se celebrar tal vitória, e os homens teriam erigido um templo em sua homenagem em Delfos, passando as sacerdotisas se chamarem pitonisas.
NOTA 2: O ostracismo fora criado por Clístenes, o Pai da Democracia.
NOTA 3: Hades pode ser tanto referir-se ao deus do inferno, como ao Inferno em si.
NOTA 4: Para os antigos gregos quando se morria a alma não ia para o Céu (Urano), já que este era a morada dos deuses. Esta ia para o Inferno (Hades). No entanto havia um paraíso para os mortais, chamado de Campos Elísios, o qual ficava também no Hades.
NOTA 5: O pancrácio seria o ancestral do boxe moderno.

Referências bibliográficas:
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo, Nova Cultural, 1998.
http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/didaticos/Apologia_de_Socrates.htm

LINK:
Apologia de Sócrates para download: Tradução em português disponível no site do Domínio Público.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Dinastia das Pirâmides

Em toda a história de suas XXX Dinastias, o Egito possuiu uma época dourada, na qual seus mais imponentes, famosos e conhecidos símbolos perduraram, e marcaram a glória de seus idealizadores no tempo. Sendo nesse caso, muitos historiadores, egiptólogos, arquitetos e outros estudiosos, consideram a Era de Ouro das pirâmides do Egito, tendo ocorrido durante a IV Dinastia por volta de 2613/15 - 2498/94 a.C (Quanto a estas datas não há um consenso entre todos os historiadores, daí se apresentar variações para mais ou menos), mais exatamente entre a família do faraó Sneferu ou Seneferu e os seus descendentes.

Entretanto as três famosas pirâmides de Gizé, construídas por Khufu (Quéops), Khaf-re (Quefrén) e Miquerinos, simbolizam até hoje o esplendor dessa era, mesmo apôs mais de 4 mil anos, elas ainda estão lá erguidas em meio ao deserto. Sendo as únicas maravilhas do Mundo Antigo ainda a existir. Entretanto antes da construção destas três pirâmides, seus antepassados também realizaram o mesmo, e de certa forma foram os responsáveis por formar as bases da construção das pirâmides. Sendo assim, irei contar um pouco da história desde a criação da primeira pirâmide, até o reinado de Miquerinos, o qual fora quem construiu a terceira pirâmide de Gizé, a menor das três.

"O Homem teme o Tempo, e ainda o Tempo teme as Pirâmides"
Provérbio árabe

Representação de uma mastaba
Para começar esta história, devemos retornar a mais de 100 anos antes da construção da pirâmide de Quéops, e da época de seu pai Sneferu, o primeiro faraó da IV Dinastia. A História, começa por volta do século XVII a.C, durante a III Dinastia (2686-2613-15 a.C), com o seu segundo faraó, chamado de Djoser ou Neterket. Djoser foi o primeiro faraó a fazer uma revolução na construção de túmulos. Até então os faraós desde o inicio da primeira dinastia, eram enterrados em túmulos chamados de mastabas. Os quais consistiam em uma construção feita de tijolos ou de pedras, da forma de um paralepipedo, com ligeira inclinação nas laterais. Dentro desta construção, havia um local onde as oferendas para o morto era deixado, e logo abaixo um caminho que conduzia a câmara sepulcral, onde residia o sarcófago do faraó.

Imhotep
No entanto Djoser queria fazer algo diferente de seus antecessores, ele queria criar uma nova tumba, que pudesse ser vista por todos a longas distâncias, e que fosse mais grandiosa que as outras. Assim ele recorreu a ajuda de seu primeiro-ministro, sumo-sacerdote, arquiteto e médico chamado Imhotep. Imhotep conhecido como um homem de exímias qualidades, fora incumbido pelo faraó para resolver tal questionamento, e a resolução a qual chegou fora bem simples. Ele aproveitaria a estrutura da mastaba já construída, e iria empilhar outras estruturas menores sobre esta, fazendo uma espécie de "montinho". E de tal façanha nascia a chamada pirâmide escalonada ou pirâmide em degraus.

Constituída de cerca da junção de seis andares, um menor que o outro, tendo cerca de 62 metros de altura, a antes mastaba, agora se tornava um novo monumento, o qual enfeitava com sua grandiosidade a região de Saqqara, ao sul de Mênfis, capital egípcia da época. Sendo assim, a pirâmide de Saqqara, construída por Imhotep para o faraó Djoser, marca o inicio da construção das pirâmides do Antigo Egito. No entanto tal inicio ainda voltaria a demorar a transcorrer novamente. Após a morte de Djoser, os três faraós que lhe sucederam, nenhum chegou a construir algo similar. Este ainda continuaram a construir suas mastabas. Porém a história mudaria com o inicio da IV Dinastia, com o faraó Sneferu.

A pirâmide escanolada ou em degraus. Projetada por Imhotep para o faraó Djoser. A primeira pirâmide do Egito. 
Sneferu ficou conhecido por ter sido o único faraó a quem lhe credita a construção de três pirâmides, por isso de alguns o chamarem de "o construtor de pirâmides". Antes dele não se tem dados a respeito de que algum faraó que lhe antecedeu tenha tentando construir algum tipo de pirâmide logo apôs Djoser. De qualquer forma, Sneferu no início de seu reinado, começou a construir sua pirâmide na região de Meidum ao sul de Mênfis. Tal pirâmide parece ser um híbrido entre a pirâmide escanolada de Djoser, com o formato que conhecemos hoje de uma pirâmide. No entanto ao se ver de longe, ela parece ser uma torre no meio do deserto. De qualquer forma. apôs ser terminada, o faraó nunca chegou a usá-la. E sobre isso não se sabe ao certo o porque. Especula-se que o revestimento de calcário que lhe dava a forma piramidal, desabou ainda na época do faraó, o que o levou a construir outra pirâmide.

A pirâmide de Meidum, a primeira pirâmide projetada para o faraó Sneferu. Contudo, complicações na construção levaram ao desabamento de parte da estrutura. O revestimento da pirâmide caiu a vários séculos. 
Deixando a região de Meidum, Sneferu decidiu construir sua próxima pirâmide, um pouco mais próxima de Mênfis, na região de Dahchur. (Dahchur conta com a presença de outras pirâmides, mastabas e necrópoles, construídas pelas dinastias posteriores). Neste lugar o faraó chegaria a construir duas pirâmides, já que a segunda não teve sucesso, e acabou ruindo, com isso ele teve que construir uma terceira e última pirâmide. A segunda pirâmide de Sneferu é conhecida pelo nome de Pirâmide Romboidal ou pirâmide curvada. Fato este que devido a um erro de cálculo de seus arquitetos, teria cedido sob seu peso ao centro, o que levou parte das paredes a se curvarem e lhe dá tal aspecto. De qualquer forma o seu tamanho para época já era bem grande. Ela possui, cerca de 190 metros de largura na base e cerca de 100 metros de altura. Um dos problemas apontados pelos atuais estudiosos, fora o fato de que os ângulos da pirâmide mediam 52 graus, diferente dos 43 graus, visto nas pirâmides seguintes. Tal condição teria levado a pirâmide ceder sobre seu peso.

A segunda pirâmide de Sneferu, chamada de pirâmide romboidal. Um erro de cálculo levou a pirâmide ceder ao próprio peso, encurvando suas arestas.
Mesmo com tais dimensões sendo superiores as anteriores, o projeto dera errado, e por fim a terceira pirâmide fora construída próximo dali, a chamada Pirâmide Vermelha, a qual de fato foi a primeira pirâmide a ter as bordas lisas, e a possuir o aspecto que comumente conhecemos. Esta acabou saindo perfeitamente como planejada, e no fim de sua vida, Sneferu pode ter finalmente seu corpo sepultado em sua pirâmide. No entanto, Sneferu não foi simplesmente um homem obcecado por construir pirâmides, os poucos dados a respeito de seu governo, não sugerem uma má administração. E além disso muito da arte egípcia nasceu deste período, como fato de se haver inscrições dentro das pirâmides, e posteriormente os desenhos. Além de todo o ritual pôs vida ligado a mumificação e transição da alma para o outro mundo.

A pirâmide vermelha. Terceira e última pirâmide construída para o faraó Sneferu, e a única que deu certo, se tornando a primeira pirâmide propriamente como conhecemos. 
Com a morte de Sneferu por volta de 2589 a.C ou 2551 a.C, seu filho Khufu (Quéops) assumiu o trono. E este promoveria a construção da maior pirâmide do Egito, e a mais alta construção do mundo feita pelo homem, por mais de 4 mil anos. A Grande Pirâmide como assim ficou conhecida simbolizou o apogeu da construção de pirâmides. Após ela, nenhuma foi tão grande o maior. Durante o seu governo de cerca de 23 anos, este ficaria conhecido como um tirano, no qual gastou grandes quantidades de dinheiro para bancar a construção de sua pirâmide. Tendo que bancar o sustento de milhares de trabalhadores, com comida, água, abrigo e assistência médica (eles não eram totalmente escravos. Em grande parte eram camponeses, que trabalhavam em troca de um "salário" sendo este dado em muitas vezes, na figura de pão e cerveja). Além de ter que bancar o sustento dos trabalhadores, de construir vilas para eles morarem, grande parte das pedras utilizadas na construção de sua pirâmide proveram do sul do Egito das pedreiras de calcário de Tura. Mesmo assim ele conseguiu terminar sua imponente obra, a qual até hoje é motivo de debates, de que forma ela foi construída.

A grande pirâmide de Quéops, a maior de todo o Egito. 
Com quase 150 metros de altura (isso em sua época. Hoje ela está com algo em torno de 137 metros), com cerca de 230 metros de largura na base; composta por pelo menos 2.300.000 blocos pesando entre 2 à 5 toneladas ou até mesmo 10; com uma massa total calculada em torno de 32 milhões de toneladas, não se sabe quanto tempo foi necessário para a sua construção. Alguns falam que foram gastos 20 anos, outros que foram 15 anos, e que foram pelo menos utilizado uma mão-de-obra entre 30 mil à 50 mil trabalhadores.

"A grandiosidade da obra é tal que tem despertado a imaginação de quem se aproxima dela. Heródoto, por exemplo, garantiu que levou dez anos para se preparada e outros vinte para a execução, com 100 mil homens trabalhando continuadamente, simultaneamente por turnos e morrendo sob o peso de blocos imensos de pedra". (PINSKY, 2001, p. 78).

"É espantoso o sucesso obtido. A base da pirâmide, por exemplo, teoricamente um quadrado perfeito, tem uma diferença máxima de três centímetros em cada lado (em 230 metros significa algo em torno de 0.01%!)". (PINSKY, 2001, p. 78).

Djedef-re 
Quéops, teve três filhos e outras filhas, sendo que os três filhos eram Khawab seu primogênito, Djedef-re, e Khaf-re (Quéfren) o qual era filho bastardo. No entanto, Khawab não chegou a assumir o trono, especula-se que foi morto pelo seu irmão Djedef-re o qual de fato veio a se tornar o terceiro faraó da IV Dinastia. Tal fato se deu depois de uma má interpretação de um arqueólogo francês, no qual no século XX, quando descobriu os restos da pirâmide de Djedef-re em Abu Roach, localizado a oito quilômetros ao norte de Gizé, sobre um morro se encontrava a sua pirâmide. No entanto posteriormente ela foi destruída, e grande parte de sua história tentou ser apagada. Fato este que concedeu a imagem de vilão a Djedef-re, por ter matado o irmão mais velho, governado como um tirano, e por fim foi morto pelo seu irmão Quéfren. Alguns apontam que Khawab morrera de alguma doença, e que Quefrén não teria matado Djedef-re.

De qualquer forma sua vida é ainda envolta em mistérios. originalmente especulava-se que ele teria governado por 8 anos, mas hoje há indícios que apontam que este governou por mais de 20 anos, e que a má fama se deu pela má interpretação do arqueólogo que descobriu sua pirâmide. De qualquer forma, sua pirâmide por se encontrar no alto de um morro ultrapassou a altura da pirâmide de Quéops. Mas além deste fato, Djedef-re teve outros dois importantes papéis. Ele foi o primeiro a usar granito na construção de sua pirâmide, mesmo que fosse só para o revestimento, devido ao alto preço e a demora no tempo de transporte. E foi o primeiro faraó a utilizar o título de "filho do sol". Depois dele, até os últimos faraós de fato, utilizaram este título. E não obstante, há indícios recentes que sugerem que a Grande Esfinge tivesse sido construída por ele, como forma de homenagear seu pai. De qualquer forma na maioria dos livros se credita tal obra a Quéfren.

A Grande Esfinge de Gizé. 
Por volta de 2520 a.C ou 2558 a.C, Quéfren assumira o poder, e inicou a construção de sua pirâmide a qual diferente dá de seu irmão, ficaria ao lado da pirâmide de seu pai, e se tornaria a segunda maior pirâmide já construída no Egito. Além da construção desta pirâmide, também lhe é atribuído a construção da Grande Esfinge, a qual seria uma homenagem a seu pai ou a si mesmo, ainda há dúvidas de quem seria o rosto representado na estátua. Mesmo que alguns digam que foi Djedef-re quem a construiu, ou até mesmo, que fora construída antes do reinado de Quéops, sua fama permanece ligada a Quéfren. Além de ter realizado estas obras, Quéfren ficou lembrado por ter sido um bom governante, proporcionando anos de fartura e prosperidade para o seu povo. E outro fato curioso, é que ele é um dos faraós mais representados na arte egípcia neste período, possuindo várias estátuas e gravuras com sua imagem. E curiosamente nenhuma destas imagens, se parecem com o rosto da Esfinge, por isso de se questionarem o por que de ele ter construído uma estátua, a qual não tivesse seu rosto. Em todas as representações de Quéfren, este sempre aparece usando uma barba postiça e um toucado (nemes) de listagem diferente da qual a Esfinge é representada. E além disso, ela não possuía a barba postiça.

Com a morte de Quéfren por volta de 2532 a.C ou 2494 a.C, seu filho Miquerinos assumira o poder, e seria o responsável por construir a terceira pirâmide que compõem o complexo funerário de Gizé. Miquerinos, como o seu pai, fora visto e lembrado como um bom governante, como aponta alguns egiptólogos e o próprio Heródoto. Ele também foi um dos faraós que esteve bastante representado na arte egípcia, possuindo várias estátuas que o representavam, juntamente com sua esposa-irmã Khamerernebti II.
As pirâmide de Miquerinos, Quéops e Quéfren, e as pequenas pirâmides de suas esposas. 

Quanto a sua pirâmide, é a menor das três que compõem o complexo de Gizé. No entanto, ali esta representado três gerações de governantes, os quais ficariam lembrados na história por sua tumbas. Após a morte de Miquerinos por volta de 2503 a.C ou 2460 a.C, seu segundo filho, já que o primogênito havia morrido na infância, Chepseskaf assumira o poder. Deste em diante, os demais faraós ainda iriam construir dezenas de pirâmides pelo Egito. Estimasse que haja pelo menos 100 pirâmides conhecidas, e outras ainda não descobertas. De qualquer forma, seu esplendor terminou com o fim da IV Dinastia, tendo ChepsesKaf como último representante. No entanto a Era dourada das pirâmides é creditada a Sneferu, Quéops, Djedef-re, Quéfren e Miquerinos, uma das famílias mais poderosas do antigo Egito, que por mais de cem anos detiveram o poder e a glória da construção destes grandes monumentos.

NOTA: Nos filmes A Múmia (The Mummy) e o Retorno da Múmia (The Return of Mummy), Imhotep é representado como um terrível vilão.
NOTA 2: Alguns creditam a invenção do calendário egípcio a Imhotep. E, além de ter criado o sagrado calendário, este próprio foi elevado a figura de um deus. E passou a ser adorado como tal.
NOTA 3: A respeito da variação das datas, como eu já havia apontado antes, existe um grande déficit em consenso destas datas, pelos egiptólogos. Com isso vocês poderão encontrar várias datas diferentes se referindo a mesma Dinastia ou governo de algum faraó.
NOTA 4: Alguns historiadores apontam que o Egito possuiu XXXI Dinastias ao invés de XXX. No entanto o período faraônico perdura de aproximadamente 3100 a.C até 30 a.C, quando o Egito se torna uma província romana.
NOTA 5: A Grande Esfinge, possui cerca de 57 metros de comprimento, 6 de largura e 20 de altura. Possuindo um pequeno templo em seu peito, entre as patas. Quanto a seu nariz, alguns dizem que este foi destruído pela tropa francesa de Napoleão Bonaparte I, quando este invadira o Egito. Outros apontam que o seu nariz já tinha caído muito tempo antes de Napoleão chegar ao Egito.
NOTA 6: As três pirâmides de Gizé estão alinhadas com as três estrelas do Cinturão da Constelação de Órion.
NOTA 7: Todas as três pirâmides de Gizé foram saqueadas. Sendo assim, praticamente todo o tesouro real dos faraós foi roubado.
NOTA 8: Quanto a pirâmide de Djedef-re, até há alguns anos se pensava que aquilo fosse as ruínas de um templo solar construído pelo faraó, até mudarem de ideia após descobrirem a câmara funerária.

Referências bibliográficas:
PINSKY, Jaime. As Primeiras Civilizações. São Paulo, Contexto, 2001.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Referência da Internet: 
http://antigoegipto.com.sapo.pt/

Referência audiovisual: 
Documentário: A Pirâmide Perdida (The Lost Pyramid). History Channel, 2008.

LINKS:
Navegar no Antigo Egipto - página do Museu Calouste Gulbenkian.
BBC History - Egyptians (inglês)
Imagens do interior de uma mastaba e dos seus corredores subterrâneos (inglês)