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Leandro Vilar

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Comédia de Dante


Dante Alighieri nascido em Florença por volta do dia 29 de maio de 1265, e falecido na noite entre 13 e 14 de setembro de 1321, vitimado por uma febre maligna ocasionada por malária, morreu aos 56 anos em Ravena, após poucos dias de ter concluído sua mais famosa obra, a Divina Comédia (La Divina Commedia). Mas o que poucos sabem é que ele foi muito mais do que um escritor e poeta. Dante para um homem da Idade Média, teve um pensamento a frente de seu tempo. Esta é a história de Dante Alighieri: soldado, poeta, escritor, político, linguista e filósofo. Imortalizado na História como sendo o maior poeta italiano. Não irei expor uma biografia detalhada de sua vida, mas, me prenderei a pontos importantes, que contribuíram para a formação deste ilustre artista, e porque ainda hoje após mais de seis séculos de sua morte, Dante ainda é lido em todo o mundo, e para alguns sua poesia é de um contexto bem moderno.

Dante era filho primogênito de Alighiero degli Alighieri e de Gabriella "Bella" degli Abati. Entre 1270 e 1273, sua mãe acabou falecendo, e seu pai casou-se novamente, vindo casar-se com Lapa di Chiarissimo Cialuffi. A segunda esposa de Alighieri, lhe dera dois filhos, Francesco e Geatana (Tana) (MIORANZA in ALIGHIERI, 2012, p. 13).

Sobre sua infância e adolescência pouco se sabe, mas este se retirou para os estudos, e assim permaneceu por longos anos. Dante era descrito como sendo um menino de rosto pálido, cabelo louro-escuro, olhos pretos, e era bastante magro. Quanto a sua personalidade, diziam que ele possuía um olhar melancólico, algo que piorou após a morte da mãe, na época Dante teria entre 5 ou 7 anos quando isso aconteceu. Ele era bastante tímido, desajeitado e preferia a reclusão (THOMAS; THOMAS, 1965, p. 13). 


 Museo Casa di Dante. 
Ainda na infância, seu pai arrumou com a Família Donati o casamento de Dante com Gemma di Manetto Donati. Embora Dante inicialmente tenha se apaixonado por Beatriz, ele nunca pôde desposá-la, e acabou em 1285 casando-se com Gemma, com a qual tivera quatro filhos: Giovanni, Pietro, Jacopo e Antonia (MIORANZA in ALIGHIERI, 2012, p. 13). Destes, sabe-se que Jacopo se tornou poeta e escritor, assim como o pai. Giovanni, Pietro e Jacopo chegaram a lutar em guerras e ficaram algum tempo como prisioneiros de guerra (. Contudo a vida de casado de Dante e Gemma não foi bem, o poeta anos depois no período de exílio, passou a viver longe da esposa e dos filhos. Diziam que Gemma era uma mulher ciumenta, temperamental e de hábitos vulgares, os quais desagradavam o marido (THOMAS; THOMAS, 1965, p. 15). 

Por volta de seus vinte anos, Dante foi convocado para o exército onde serviu nas tropas de Florença, chegando a participar de duas batalhas importantes, nas quais ele menciona no Inferno, além de ter também servido como mercenário por algum tempo. Devido ao contexto bélico da época, o número de mercenários era grande, pois os exércitos eram pequenos, e qualquer homem que soubesse lutar, era bem-vindo a prestar serviço.

A família de Dante era razoavelmente estável, equivaleria hoje a classe média. Sua família pertencia ao Partido dos Guelfos, ou seja, aqueles que apoiavam as políticas papais, os quais eram opositores do Partido dos Gibelinos, os quais apoiavam os interesses e a autoridade dos imperadores do Sacro Império Romano Germânico, o qual há alguns anos os imperadores se representavam como senhores dos Estados italianos. 

Posteriormente, o Partido dos Guelfos sofreria uma cisão, onde surgiria a ala esquerda (conservadora) chamada de "Guelfos Brancos", a qual pertenciam o pai de Dante; e a ala direita (moderada e próxima dos interesses dos gibelinos) chamada de "Guelfos Negros", a qual o próprio Dante pertenceria anos depois. Devemos nos lembrar que a Itália nesta época era dividida em vários pequenos Estados, logo, os papas lutavam para aumentarem seu controle sobre a Itália, assim como faziam os imperadores do Sacro Império, e assim como também fizeram, reis da França e de Espanha, e os próprios senhores dos Estados italianos que planejavam conquistar seus vizinhos.

Dante político:

Após sua carreira como militar, Dante entrou para o mundo da política por volta de 1295. Inicialmente Dante se mantivera neutro acerca de escolher um lado entre o partido dos Guelfos e dos Gibelinos, embora tradicionalmente sua família apoia-se os guelfos. Mas, depois se tornou partidário dos Brancos, entretanto os Negros venceram a disputa, e atacaram Dante. 

Dante foi membro da Corporação dos Médicos e Farmacêuticos, fez parte do Conselho dos Trinta e Seis do Povo, do Conselho dos Sábios e do Conselho dos Cem (Nicolau Maquiavel, quase dois séculos depois, também ocuparia cadeiras nestes conselhos).

Além disso, ele também chegou a ser embaixador na corte do papa Bonifácio VIII, de quem acabou gerando uma terrível inimizade, por discordar das atitudes do papa. Dante dizia que Bonifácio VIII se interessava mais pelos assuntos mundanos do que pelos assuntos espirituais. Posteriormente o papa desgostoso com tal afronta, arrumou uma forma de Dante pagar por tal ousadia. Em retorno a Florença, ele recebeu um comunicado de que estava sendo acusado de corrupção, oposição ao Papa e concussão (uso indevido do cargo público) (MIORANZA in ALIGHIERI, 2012, p. 14). A acusação era uma armação política dos seus opositores estingada pelo papa Bonifácio VIII. 

"É condenado à revelia a pegar dois anos de confinamento, à interdição perpétua do exercício de funções públicas e ao pagamento de uma multa em dinheiro. Como Dante não se apresentou para pagar a multa e para defender-se, é condenado a ser queimado vivo com outros catorze condenados". (MIORANZA in ALIGHIERI, 2012, p. 14). Dante decidiu permanecer em Roma, onde se encontrava, dando início ao seu longo exílio. 

Pintura retratando Dante pensativo em seu exílio, o qual durou vinte anos. Autor desconhecido.
"Durante os 21 anos de exílio, Dante passa por várias cidades, protegido pelos governantes locais, entre as quais os de Forli, Verona, Arezzo, Treviso, Padova, Veneza, Lucca e Ravenna. Durante seu longo exílio é que compõe sua obra máxima, A Divina Comédia". (MIORANZA in ALIGHIERI, 2012, p. 14). 

Entretanto, alguns pontos curiosos das ideias de política de Dante, eram que ele visava a formação de um império na Europa, no qual seu imperador poderia ser eleito independente da sua nacionalidade. Por outro lado, ele se mostrou contra a forte influência exercida do papado sobre o povo. Mesmo sendo um Guelfo, Dante possuía um pensamento em parte simpatizante aos dos Gibelinos. Para ele o papado deveria estender sua autoridade sobre os cristãos, mas, de forma que não se tornasse opressor. Algo bem visto, ainda mas, sendo esta época a Idade Média. Para o ele a concepção de império e imperialismo eram questões de sentido diferente.

"'Império' é sinônimo de harmonia funcional e hierárquica, entre todas as partes que integram o conjunto social de um determinado âmbito, e, neste sentido, uma república pode ser um império com ou sem a figura física do "imperador", como o demonstra o caso da República da Suíça. "Imperialismo", ao contrário, é assalto ao poder, é agressão a mão armada, é descontrolada ambição de mando, é escravização de gente livre, é compressão do indivíduo e do pensamento". (POLLILO, 1964, p. X-XI).

Alguns veem nessas ideias de Dante, uma tendência a democracia, algo que se perdera na Antiguidade Clássica, como em Atenas e Roma. Por outro lado, falar de democracia em pleno medievo onde os senhores feudais mandavam e desmandavam, e o povo era preso a servidão da terra, era algo bem difícil de se defender a ideia de liberdade nessa época, por mais que Florença ainda fosse uma república. 

Dante também era contrário a ideia do Papa se intrometer em assuntos políticos de outros Estados, e se proclamar como representante digno e majoritário do poder temporal (neste caso, o papa alegava que teria poder e autoridade sobre todos os reis e príncipes cristãos, do ponto de vista como chefe de Estado e chefe da Igreja). 

Dante linguista:

Muitos consideram Dante como sendo o maior poeta da língua italiana. Mas, por que de tal afirmação? De fato sua obra, a Divina Comédia é um dos grandes clássicos da literatura mundial, porém sua fama não se deve somente a essa obra. Em termos gerais, a Idade Média foi marcada por uma alta taxa de analfabetismo que abrangia todas as classes desde os mais ricos até o mais miserável servo que houvesse, nem mesmo a nobreza era alfabetizada. Com exceção do clero, somente poucas pessoas tinham acesso a educação letrada. 

Outro ponto é que devido o clero controlar a cópia dos textos medievais, em geral o latim era a língua utilizada para se fazer as cópias, e o latim era a língua do clero. No entanto, Dante e outros poetas da época, como Guido Cavalcanti, Lapo Gianni e Cino da Pistoia formaram a vanguarda chamada de dolce stil nuovo (doce estilo novo). 

"O stil nuovo, forma de escrever sintética por definição, herdando esta peculiaridade do latim escrito do tempo, compreendia quatro características fundamentais. Primeira característica - a poesia devia ser naturalmente espontânea; devia ser pura, isto é, desanuviada de abstrações e desimpedida de interesses alheios à essência artística; devia ser inspirada, nascendo do flagrante da vida, e não da capciosa elaboração rebuscadamente técnica do verso perfeito quanto à forma e vazio de conteúdo. Segunda característica - a poesia, ou a expressão literária em geral, devia acusar frescor, simplicidade, doçura. Terceira característica - a poesia devia partir do principio segundo o qual a finalidade superior da arte era a liberdade do espírito. [...]. Quarta característica - o amor devia assumir significação de emoção divina". (grifos meus) (POLLILO, 1964, p. XI-XII).

Além de se tentar romper com a forma tradicional que se compunha os poemas em sua época, Dante também fez algo bem diferente: ao invés de escrever suas obras em latim, língua erudita da época, ele começou a escrever a Comédia e outro de seus livros em italiano. Para sua concepção, se ele falava italiano no dia-a-dia, para quer havia de se escrever em latim, se esta não era sua língua materna. Mesmo assim, ele escreveu alguns livros em latim. 

Dante filósofo:

Dante Alighieri em perfil.
Para alguns Dante não pode ser chamado de filósofo, como eu já mencionei logo no início, pelo fato de ele não ter se aprofundado na filosofia, e elaborado algo novo para este ramo. Porém, o interesse de Dante pelo mundo e pela natureza era bem filosófico. Tendo vivido em plena Idade Média, Dante teve uma educação católica, baseada na filosofia escolástica, e principalmente tendo como grande influência da filosofia católica, a obra Suma Teológica de São Tomás de Aquino (1225-1274). Tomás de Aquino foi um dos principais "doutores" da Igreja Católica, sendo que parte da sua ideologia perdura até os dias de hoje. Mas, em contra-partida, se Dante estudou a filosofia de Tomás de Aquino, ele também se engajou no estudo dos antigos filósofos, principalmente de Aristóteles e do matemático e filósofo PitágorasAlém do campo da filosofia, Dante também se interessou por desenho, pintura e música, já que de fato foi um artista. Ele também estudou geografia, astronomia, geologia, astrologia, alquimia, além de estudar a natureza (POLILLO, 1964, p. XV)

Quanto ao estudo da geografia e da astronomia, Dante se fundamentou principalmente nos estudos de Ptolomeu (90-168), principal referência na Europa até o século XVI. Sendo assim, Ptolomeu como geógrafo de sua época, concebia que a Terra era plana, algo que perdurou ao longo da Idade Média. Sobre tal ideia, Dante formulou sua concepção de como estaria organizado o Inferno e o Purgatório. Mas, a frente quando falar sobre a Divina Comédia, esboçarei a concepção de Dante de como estava organizado o Inferno, Purgatório e o Paraíso. E como ele via a localização do Inferno e do Purgatório na Terra.

"Assim, como pensador puro, Dante foi o produto supremo daquilo que de melhor a Idade Média possuiu e produziu conservando, porém, os erros fundamentais que o nível cultural da época ainda não permitia desfazer". (POLILLO, 1964, p. XVI).

Mas, além destes fatos citados acima, ele deixou alguns trabalhos de cunho filosófico. Em 1320 ele lançou o tratado Quaestio de aqua et terra, no qual estudo a questão de que em nenhum lugar do mundo a água poderia estar acima da terra emersa, porém a terra poderia estar abaixo desta. Tal obra não possui grande importância, advinha mais de seus estudos sobre a natureza e a geografia. 

Convito, Convivio ou Do banquete (1304-1307), no qual ele concebera a vida humana, estando dividida em quatro idades, as quais ele chamava de: adolescência, juventude, velhice e decrepitude. Nesse caso, a infância estaria inserida na fase da adolescência, e decrepitude seria na realidade a velhice avançada, após seus 75 anos. Tal obra também baseia-se no livro O Banquete de Platão. Aqui ele realizou um estudo de cunho filosófico voltado para entender a vida humana ao longo de seu processo do nascimento a morte. 

De Vulgari Eloquentia
(Da Linguagem Popular), o qual consistiu num tratado que falava sobre a língua "vulgar", como era chamado o italiano e as outras línguas nacionais de outro países. Aqui Dante procurou defender o uso da língua materna para se escrever e não apenas se usar o latim, língua do clero, e que pouca gente sabia falar e ler. Não obstante, tal trabalho também expressava algumas concepções do movimento Dolce stil nuovo, do qual fazia parte. 

Vita Nuova (Vida Nova), no qual em sonetos ele contou a história de seu amor por Beatriz. Mas a frente, falarei um pouco da importância de Beatriz para a história do autor. Tal obra consiste num poema. 

De Monarchia (1310-1313), no qual ele concebeu um tratado a respeito da política. Tendo como principal tema o debate a respeito do poder secular e temporal exercido pela Igreja, em contra-partida ele defendia a liberdade dos reis e príncipes em deterem o poder temporal. A Monarquia é considerado como uma crítica a política estatal dos Estados italianos, obra que revela a erudição de Dante quanto a filosofia grega, especialmente de filósofos como Platão e Aristóteles. 

Outras das suas obras foram Epistolae (Cartas) e Egloghe (Égloglas).

Dante poeta e escritor:

Como poeta Dante escreveu obras tais como a Vita Nuova, já citado anteriormente, escreveu também La Rime (A Rima), Il Fiores (A Flor), Detto d'Amore (Ditado de Amor), entretanto sua principal obra como poeta e escritor foi a Divina Comédia. Não obstante, a Comédia, nome original da obra, já que o adjetivo "divina" foi dado pelo poeta Giovanni Boccaccio (1313-1375), o qual se tornou um dos principais críticos e admiradores de Dante, e pelo fato de tê-la considerado algo maravilhoso, passou a chamar-la de Divina Comédia


Afresco retratando Dante lendo. Pintando por Luca Signorelli.
Em sua obra intitulada originalmente de Commedia, Dante procurou escrever algo contrário a Tragédia no sentido empregado no estilo literário. Enquanto a Tragédia começa mal e acaba mal, na Comédia, pode haver momentos nos quais as personagens passam por maus bocados, mas, no fim se saem sãs e salvos. Nesse ponto, em sua obra, Dante começa no Inferno e acaba no Céu, vencendo todos os obstáculos de sua viagem e os perigos e tormentos que vivenciou para chegar ao Paraíso.

"'Comédia' era um estilo, um tom literário, contrapondo-se à 'Tragédia' e diferindo de 'Elegia'. Para a 'Tragédia', era de rigor o uso do falar ilustre. Para a 'Elegia', o do falar áulico. Para a 'Comédia', podia usar-se o falar 'vivo', esse falar em que, no dizer do próprio Dante, "falam até as mulheres". (POLILLO, 1964, p. XXII).

No entanto, o que perfaz a obra de Dante ser algo único para sua época fora o fato, que ele além de estudar literatura, tendo como principais fontes literárias como referência, a Eneida de Virgílio, os poemas de Homero, Ilíada e Odisseia, o poema Metamorfoses de Ovídio, o poema épico a Farsália de Lucano, a Bíblia Sagrada, além de ter estudado História e mitologia grega. Somando-se todas essas principais fontes e outras mais, a obra de Dante se perfaz numa união de cada aspecto baseado nessas fontes. Sendo assim, ao longo dos 100 cantos da Divina Comédia, o poeta fala em mitologia grega, personagens históricos da Antiguidade e de sua época; pessoas que ele conheceu e ouviu falar que viveram em seu período e personagens bíblicas. No ponto a seguir quando irei falar um pouco da sua obra, mostrarei os aspectos citados acima.

Exílio e últimos anos:


Papa Bonifácio VIII
Em 1300 o papa Bonifácio VIII enviou o príncipe francês Carlos de Valois (futuro rei Carlos IV) como seu embaixador a Florença, a fim de tratar de questões políticas, as quais punham em pauta a influência do governo papal sobre a Toscana, região governado pelos florentinos, e a lealdade destes ao papa. Carlos não foi bem recebido pelo governo florentino e deixou a cidade, retornando para Roma. No final daquele ano o governo florentino enviou uma delegação para falar com o papa, Dante foi nomeado para liderá-la. O papa acabou solicitando que Dante ficasse em Roma e enviou o restante da delegação de volta. Em novembro daquele ano, Carlos de Valois com o apoio dos guelfos negros, invadiram com algumas tropas a cidade e atacaram a oposição. Dante foi pego de surpresa, encurralado entre a cruz e a espada. Ele não tivera real conhecimento das intenções do pontífice, e ao mesmo tempo pelo fato de ter ficado em Roma, foi acusado por seus concidadãos de cúmplice e traidor. 

Embora tenha sido "enganado" pelo papa Bonifácio, Dante continuou a viver com sua família em Roma, tentando recuperar sua honra e respeito em Florença, tentando fazer as pazes com os guelfos brancos e o restante do governo florentino, mas com o passar dos meses, isso se tornou evidentemente impossível, então ele decidiu deixar Roma. Foi nesta sua estadia na "cidade eterna" que ele começou a escrever A Divina Comédia. 

Nos anos seguintes a 1302 ele viveu em Verona, Sarzana, Lucca e em outros locais. Continuou com seu ofício de escritor e poeta, e passou a atuar como conselheiro e consultor de alguns nobres e pessoas ligadas a política. Após 1310 o governo florentino começou a fornecer a anistia para os exilados, mas devido as cartas mordazes que Dante havia escrito, criticando os guelfos brancos e outros príncipes da Itália, cartas essas enviadas para o imperador Henrique VII do Sacro Império o qual em 1310 invadia o norte da Itália, o governo florentino negou a anistia ao poeta, e boatos começaram a sugerir que ele estivesse comungando com o imperador para invadir Florença.

Em 1312 as tropas do imperador Henrique VII, invadiram a cidade e massacraram os guelfos negros, no entanto, no ano seguinte ele faleceu, assim era interrompido suas pretensões de conquistar terras na Itália. Em 1315Uguccione della Faggiuola que estava a frente do governo florentino, ordenou que a anistia fosse dada a todos os exilados, desde que esses se comprometem-se a pagar uma multa e a comparecer a uma cerimônia onde declarariam que estariam arrependidos de seus crimes e ofensas ao Estado e ao povo. Dante negou-se a aceitar as condições, e permaneceu em Verona, para onde havia retornado desde 1313 a convite do comandante Cangrande I della Scala (1291-1329), o qual manteve o poeta sob sua proteção (MIORANZA in ALIGHIERI, 2012, p. 14).

Nos anos seguintes ele continuou a viver em Verona, escrevendo seus livros e esperando uma oportunidade de voltar para sua amada cidade. Em 1318 o senhor de Ravena, Guido Novello da Polenta (1275-1333) o qual admirava poesia e arte, convidou o poeta para se mudar para a cidade, Dante aceitou o convite e para lá seguiu, onde passaria o restante da vida. No ano de 1321 antes de ficar gravemente doente, Dante havia terminado de escrever a Comédia, mas poucos dias depois faleceu, sem viver para testemunhar a repercussão de sua obra e a crítica desta. 

Ele foi sepultado na Igreja de San Pier Maggiore, rebatizada para San Francesco, onde até hoje se encontra seus restos mortais. Florença após a morte de Dante quis lhe prestar uma homenagem e solicitou que seus restos mortais retornassem para a cidade, mas o governo de Ravena negou-se, e tal disputa durou séculos, e ainda hoje, o poeta reside na última terra que lhe acolheu (MIORANZA in ALIGHIERI, 2012, p. 14).


Cenotáfio de Dante Alighieri na Basílica de Santa Croce, Florença. Como o governo de Ravena recusou a entregar os restos mortais do artista, no século XIX o governo florentino solicitou a construção desse cenotáfio, para homenagear o grande artista.
Divina Comédia:

A Comédia está dividida em um prólogo e três partes: Inferno formado por 33 cantos e 4.716 versos; Purgatório formado por 33 cantos e 4.755 versos; Paraíso formado por 33 cantos e 4.754 versos. Sendo o poema escrito em tercetos, os quais a última palavra do primeiro e terceiro verso rimam entre si. No entanto, o mais interessante aqui, é que Dante concebeu sua obra como se tivesse sido uma viagem a qual ele realmente teria realizado de verdade. Nesse ponto o autor, imagina que sua viagem teria se iniciado em 7 de abril de 1300 na quinta-feira santa deste ano. Neste dia ele se perdeu na sombria floresta por onde iniciou a sua história, no dia 8 ele adentrou os portões do Inferno ao lado de Virgílio. Antes do dia 10 eles chegaram ao Purgatório e no dia 14 de abril ele concluiu sua viagem, estando no Paraíso.


Dante perdido na sombria floresta, Gustavo Doré.
Porém, por mais que sua viagem fosse algo da sua fértil imaginação, sua obra se revela como um espelho de sua época, a ponto de que o poeta a utiliza para criticar as pessoas e os atos que vivenciou. Ao longo das páginas do poema, é recorrente Dante fazer menções a lugares geográficos da Itália, França e de outras regiões da Europa. Locais esse que ele conheceu durante seu período de exílio e quando serviu no exército. Além da questão geográfica, ele também menciona várias personagens históricas as quais mencionarei algumas mais a frente, além de mencionar fatos históricos do passado e de sua época. 

Mas, o mais interessante seria sua crítica a política e a sociedade florentina, italiana e européia. Muitas pessoas que tiveram a fama de ruins em vida, são citadas por Dante, pagando por seus pecados em algum dos ciclos do Inferno. Outras que foram razoáveis em seus pecados, estarão no Purgatório, e as que foram boas, ele as pôs no Paraíso. Se valendo desse fato, ele fez sua crítica ao governo de reis, de cônsules, de governadores, dos cardeais e dos papas. Além de fazer uma crítica aos nobres, burgueses e plebeus que ficaram conhecidos por seus pecados, desafetos e atos que cometeram em vida.

"A visão que Dante tinha do inferno, no dizer de Santayana, "é o trabalho de uma imaginação sublime que se tornou amarga". Procurou, no entanto, a despeito dos seus sofrimentos pessoais - aliás perfeitamente justificados - ser tão imparcial quanto fosse possível a um poeta humano. Colocou no inferno não somente seus inimigos, mas também os inimigos de Deus; não somente a Bonifácio a quem odiava, mas Francesca di Rimini, a quem amava. Puniu-os pelas suas transgressões, mas apiedava-se dos seus sofrimentos". (THOMAS; THOMAS, 1965, p. 18). 


Edição italiana de 1529 da Divina Comédia.
"A obra, que combina o realismo mais cru com o mais mistíco lirismo, forma a síntese espiritual e poética da Idade Média". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 1945).

Nesse ponto, a Divina Comédia se revela como uma fantasia imbuída de filosofia, história, crítica política, moral e social.


"Convém recordar que Dante escreveu o Inferno também com objetivos políticos; na aplicação das penas aos castigos, seguiu uma doutrina de justiça realmente acertada e impecável, pouco se deixando levar pelas preferências ou inimizades pessoais". (POLILLO, 1964, p. XXIV).

Dante tal vez teria iniciado seu trabalho por volta de 1300 ou 1301, perdurando até 1321 quando ele o concluiu poucos dias antes de sua morte. Porém, antes de adentrar a alguns fatos de sua obra, irei citar duas personagens principais desta história, Virgílio e Beatriz.

Virgílio:

Públio Virgílio Marão (70-19 a.C), foi um dos maiores poetas romanos clássicos da História, consagrado por sua mais famosa obra a Eneida. História na qual narrara a epopeia do jovem guerreiro e herói troiano Eneias, após este fugir de Troia, carregando em suas costas, seu velho pai Anquises. Da fuga de Eneias de Troia à suas viagens pelo Mediterrâneo, pelo Inferno e sua estabilização na Itália onde se tornou rei e ancestral de Rômulo e Remo, fundadores míticos de Roma, Dante se valeu desta história como base para escrever sua obra, principalmente a questão do fato de que Eneias também viajou pelo Inferno. Sendo assim, pela grande apreciação de Dante por esta obra, ele escolheu Virgílio para ser seu guia e mentor em sua própria viagem na Comédia. De fato, Dante se refere a Virgílio como: "Mestre", "Poeta" e "Guia". Na Comédia, Virgílio ajuda Dante a viajar pelos ciclos do Inferno e do Purgatório, o deixando na entrada dos portões do Céu.

Beatriz:

Pintura figurativa de Beatriz.
Beatriz Portinari ou de'Perticari (1265-1290), era a filha de um rico comerciante de Florença, Folco Portinari. A paixão platônica de Dante por esta mulher, na qual alguns dizem que Dante só chegou a vê-la duas vezes em vida, foi o suficiente para transformá-la em sua musa inspiradora, não somente da Comédia, mas, também do livro Vita Nuova. Beatriz era descrita como uma menina de feições angelicais, cabelos louros como o Sol e belos olhos verdes (THOMAS; THOMAS, 1965, p. 14).

No entanto, alguns historiadores alegam que Beatriz talvez não tenha sido uma mulher real, mas uma fantasia imaginada pelo artista para compor sua obra. 

"Aos nove anos de idade, viu, pela primeira vez, a então jovem Beatriz, filha de Folco de' Perticari, sendo ela, já naquela época, ao que dizem o próprio Dante e Giovanni Boccaccio, esposa, desde muito moça, de Simone de' Bardi. Este primeiro encontro, entre Dante e Beatriz, ocorreu em maio de 1274, e, dessa feita, o menino não teve oportunidade de falar à dama. Nove anos mais tarde, verificou-se o segundo encontro entre o poeta e a amada. Neste segundo encontro, Dante apenas colheu a ocasião para saudar Beatriz, que lhe respondeu com um aceno de cabeça. Talvez também com um sorriso". (POLILLO, 1964, pp. VI-VII).

Dante teria visto Beatriz na Praça do Duomo (Piazza do Duomo), local que se encontra a principal igreja da cidade, a Basílica de Santa Maria del Fiore, chamada popularmente de Il Duomo, devido a sua grande abóboda. Foi nesse belo cenário arquitetônico, que segundo os relatos as duas crianças teriam se conhecido por volta dos nove anos de idade.

De fato muitos historiadores que escrevem sobre sua vida, alegam que Dante nunca chegou a se pronunciar a Beatriz sobre o amor que sentia por ela. Sendo assim, Dante nunca pôde dizer que a amava. E isso se viu claro em 1290, ano no qual Beatriz veio a falecer. Dizem que quando o poeta soube da notícia, se entregou a um período de bebedeira e devassidão. Outros relatos sugerem que Dante ficou algum tempo em depressão, pois embora fosse casado, ele não sentia por sua esposa o mesmo amor que nutria por Beatriz. Tal rancor lhe afligiria o coração pelo resto de sua vida. Pelo fato de ter perdido Beatriz, em sua obra ele arrisca a vida para reencontrá-la no Paraíso, a sua "Senhora da Luz".

Esse amor platônico de Dante real ou não, foi tão impactante que uma pequena igreja, chamada Igreja de Santa Margherita dei Cerchi abriga desde 1290, o corpo de Beatriz Portinari. Com a popularização da Divina Comédia décadas depois da morte do autor, a pessoas com o tempo começaram a visitar aquela pequena igreja e começaram a chamá-la popularmente de Igreja de Dante, em referência a sua eterna amada, ali estar sepultada.


Entrada da Igreja de Santa Margherita dei Cerchi, popularmente chamada de Igreja de Dante. 

Inferno:

Dante concebe o Inferno como sendo uma espiral que desce da superfície até o centro da Terra, sendo esta espiral dividida em nove ciclos; sendo os ciclos 7, 8 e 9 possuindo divisões secundárias. Assim, a cada ciclo que ele e Virgílio desciam, o Inferno ia se estreitando até convergir na câmara onde residia Lúcifer. Com isso, um ponto interessante é que para Dante, a única forma de se chegar ao Purgatório, era se atravessando o Inferno e saindo pelo outro lado. 

Por mais que ele concebesse a Terra como sendo plana, ela teria dois hemisférios: Norte e Sul, sendo o Norte onde ficava o mundo que ele conhecia: Europa, África e Ásia, e no Sul, a ilha onde ergueria-se a Montanha do Purgatório, a qual conduziria em direção ao Céu. Nesse caso, no outro lado da Terra haveria um vasto oceano, com uma única ilha no meio e uma gigantesca montanha se erguendo nesta. E a única forma de se chegar lá, era se atravessando o Inferno.


Dante e Virgílio se dirigindo para a entrada do Inferno, Gustavo Doré.
Antes de Dante entrar no Inferno, ele se perde em uma sombria floresta, onde se ver cercado por um leão, uma pantera e um lobo (os quais seriam as personificações respectivamente da ambição, luxúria e avareza), então surge Virgílio que o salva, e lhe conta toda a sua história (THOMAS; THOMAS, 1965, p. 18). E juntos eles entram pela caverna que conduz a entrada do Inferno, retratado como sendo o rio mítico Aqueronte (o mesmo da mitologia grega), neste rio residiria Caronte, o barqueiro, o qual atravessaria os mortos para acessar o portões do Inferno. Antes de entrarem, Dante ler no arco do portão a célebre frase que marcaria o início de sua história.

"Deixai, ó vós, que entrais, toda a esperança!"

(Inferno, Canto III, est. 3; ver. 9)

  1. Primeiro Ciclo: Limbo
  2. Segundo Ciclo: Vale dos Ventos/Luxúria
  3. Terceiro Ciclo: Poço de Lama/Gula
  4. Quarto Ciclo: Vale das Rochas/Avareza
  5. Quinto Ciclo: Lago Estiges/Ira e Preguiçosos
  6. Sexto Ciclo: Cidade de Dite (capital do Inferno)/Hereges
  7. Sétimo Ciclo: Vale do rio Flegetonte. Este se subdivide em três recintos nos quais são castigados os violentos: com o próximo; com si próprio; contra Deus, a natureza e as artes.
  8. Oitavo Ciclo: É dividido em dez fossos, chamados de Malebolges, onde são punidos os dez tipos de fraudulentos: rufiões ou sedutores de mulheres; aduladores; simoníacos (traficantes de relíquias sagradas); adivinhos e feiticeiros; políticos corruptos; hipócritas; ladrões; conselheiros fraudulentos; causadores de escândalos, cismas e heresias; falsificadores e alquimistas.
  9. Nono Ciclo: Lago Cócito. Neste ciclo são castigados os traidores. Sendo dividido em quatro câmaras: Caína: traidores contra o sangue; Antenora: traidores contra a pátria; Ptolomeia: traidores de seus hóspedes; Judeca: traidores de seus benfeitores.
Mapa do Inferno, Sandro Botticelli, c. 1480. 
Como eu já havia dito anteriormente, Dante ele emprega o uso de personagens históricos, bíblicos, mitológicos e de sua época, para servir de exemplo em sua obra.

De fato, quando eles chegam ao Limbo, os dois poetas encontram alguns nobres homens do passado, como: Homero, Ovídio, Lucano, Platão, Aristóteles, Sócrates, Saladino, Júlio César, Ptolomeu, Hipócrates, Sêneca, etc. Além de personagens míticas como: Orfeu, Heitor, Eneias, Latino, Lavínia, etc. No Limbo segundo a tradição católica, é o local reservado para as pessoas que não foram batizadas, nesse caso estas pessoas não foram batizadas (já que de fato, viveram antes do surgimento do cristianismo) e ali residem em um grande castelo cercado por sete muros.

No segundo ciclo, os dois encontram Minos, um dos três juizes do inferno na mitologia, e antigo rei de Creta. Aqui os luxuriosos são arrebatados por uma tempestade que os faz serem arremessados uns contra os outros e contra rochas, pela eternidade. Nesse caso provam na carne, a dor de seus excessos. 

No terceiro ciclo, eles se deparam com Cérbero, devorando os pecadores da gula. Nesse ciclo, os glutões além de serem perseguidos por Cérbero vivem em meio a um terreno lamacento e castigado por uma eterna chuva.


Cérbero devorando os gulosos no Terceiro Ciclo, Gustavo Doré.
No quarto ciclo, onde reside os avarentos e os pródigos, os quais empurram enormes pedras que personificam sua forte ligação com o dinheiro, eles encontram Pluto o deus grego da riqueza, e Fortuna, a deusa romana da riqueza. Nesse caso, tal castigo é inspirado no mito de Sísifo, o qual fora punido no inferno a empurrar uma grande pedra pela eternidade. 


Os avarentos e pródigos empurrando suas pedras no Quarto Ciclo, Gustavo Doré.
No quinto ciclo, o rio Estiges é retratado aqui como um lago pantanoso. Aqui, os raivosos se encontram dentro de um lago onde se digladiam para tentar sair deste, ferindo um aos outros como feras. 


Dante e Virgílio atravessando o lago Estiges em meio aos raivosos que se agridem, Gustavo Doré.
No sexto ciclo se encontra Dite a cidade de Satã, capital do inferno, onde os hereses são castigados por seus crimes, ardendo dentro de seus sepulcros, e sendo alvejados por flechas flamejantes, atiradas por demônios. É aqui antes dos dois adentrarem a cidade, que se deparam com as Erínias deusas gregas do castigo e da tortura e com a Medusa.


Dante e Virgílio em meio ao Sexto Ciclo, onde os hereges são castigados com fogo pela eternidade, Gustavo Doré.
No sétimo, ciclo, o rio Flegetonte, o qual é um rio de fogo que percorre o Tártaro, no inferno grego, ele percorrer o sétimo ciclo, local onde os violentos são castigados. Dentre algumas personagens que eles encontram estão: os centauros, o Minotauro, as Harpias, além de encontrar Alexandre, o Grande, Átila, o Huno, etc. No final do ciclo ele são ajudados pelo gigante Gerião, o qual fora morto por Héracles, em um dos seus doze trabalhos. Nesse ciclo, demônios também castigam os pecadores.


Dante e Virgílio diante de demônios alados, Gustavo Doré.
No oitavo circulo, eles se deparam com várias pessoas que viveram próximo a época de Dante, tais como alguns papas fraudulentos, reis, nobres, burgueses, etc. Eles também encontram Jasão, Tirésias, Odisseu e Diomedes, e outras personagens mitológicas que enganaram outras pessoas de alguma forma.

O nono circulo marca uma diferença relevante aos ciclos anteriores. Enquanto nos outros nota-se a presença do calor e do fogo, nesse ciclo tem-se a presença do frio e do gelo. Aqui o Cócito é retratado como sendo um lago congelado, diferente da mitologia grega, no qual ele representa o rio das lamentações, onde os mortos lamentam por seus pecados. Outro ponto interessante, é que no começo da primeira câmara do nono ciclo, Dante e Virgílio se deparam com gigantes enterrados em buracos até a altura do busto. Sendo alguns dos gigantes, Briaréu e Anteu. A alusão que Dante faz a esses gigantes, é comparar-los aos Titãs, os quais combateram os deuses, sendo estes seus sobrinhos e outros filhos, pelo governo do universo. De fato, quem começou a guerra foram os deuses, e estes sairam vitoriosos, sob a égide de Zeus.


Dante e Virgílio diante dos gigantes aprisionados no Oitavo Ciclo, Gustavo Doré.
Entretanto a grande questão que foca este ciclo, é o fato de que cada câmara evoca um traidor da história. Caína é uma alusão a Caim, o qual matou seu irmão Abel. Antenora, alude a Antenor, guerreiro troiano que traiu sua pátria ao se aliar aos gregos na Guerra de Troia. Ptolomeia, alude talvez a duas personagens, alguns críticos da Divina Comédia, dizem que Dante aludiu, o rei do Egito Ptolomeu XIII, o qual ordenou a morte de Pompeu, o Grande, inimigo de Júlio César. Por outro lado, alguns críticos sugerem que seria Ptolomeu, filho de Abobo, personagem bíblica. Judeca, alude diretamente, a Judas, o Iscariote, o qual traiu Jesus Cristo. De fato, na quarta câmara, Dante e Virgílio se deparam com Judas, Cássio e Bruto, responsáveis pelo assassinato de César. Além de estarem cara a cara com Lúcifer.


Dante e Virgílio no Nono Ciclo, diante de Lúcifer preso no lago de gelo, Gustavo Doré.
"Artisticamente, o Inferno é a parte mais conhecida, mais lida e mais citada, do poema de Dante, seja porque fica em primeiro lugar, no conjunto da Comédia, seja porque, nessa parte, o artista se mostra mais vigoroso no tratamento dos caracteres, seja, porque é ali que se concentram os maiores lances de sensação emocional e espiritual, à maneira dos romances e da arte literária em geral". (POLILLO, 1964, pp. XXIV-XXV).

Purgatório:

Saindo da câmara de Lúcifer, eles retornam para a superfície e chegam a ilha onde fica a Montanha do Purgatório. Ao voltarem ver a luz do dia, se deparam com uma praia, aos pés da alta montanha, lá eles são ajudados por Catão de Útica (Catão, o jovem), o qual os guia até a subida da montanha. Lá eles se deparam com a chegada de barcos na praia, onde anjos, trazem as almas que subirão para o Purgatório. Deste ponto, os dois poetas seguem viagem juntos com estas almas, das quais alguns são músicos, e começam a tocar e cantar, enquanto seguem viagem.


Representação dos níveis da ilha da Montanha do Purgatório
Eles deixam a praia e passam pelo Vale dos Excomungados, depois pelo Vale dos Princípes, até que Santa Luzia aparece na presença de Dante e Virgilio e os leva para a Porta do Purgatório.

Dante e Virgílio são recebidos por um anjo que traz os pecadores que subirão pela Montanha do Purgatório, Gustavo Doré.
Diante da grande porta, antes de poderem subir ao primeiro ciclo, de sete ciclos, o anjo guardião, com sua espada flamejante, escreve na testa de Dante, sete "P", representando os Sete Pecados Capitais. Cada ciclo do Purgatório, personifica a condenação destes pecados, diferente do que é visto no Inferno.
  1. Primeiro Ciclo: Soberba
  2. Segundo Ciclo: Inveja
  3. Terceiro Ciclo: Ira
  4. Quarto Ciclo: Preguiça
  5. Quinto Ciclo: Avareza
  6. Sexto Ciclo: Gula
  7. Sétimo Ciclo: Luxúria
  8. Topo: Paraíso terrestre
Ao adentrarem o primeiro ciclo, os dois se deparam ao longo da estrada com dois murais. Em um mural afastado da estrada, estão representados em relevos na rocha, imagens de pessoas humildes. De fronte para a estrada esta um mural no qual representa imagens de pessoas soberbas. Dentre algumas personagens apresentadas estão: os gigantes Nemrod e Briaureu (condenados no Inferno no nono ciclo), Niobe, Aracne, Saul, Roboão, Anfiarau, etc. Cada um destes foram tidos como grandes soberbos em suas histórias. Nesse ciclo os pecadores, são condenados a carregarem grandes pedras, as quais representam seu orgulho. (diferente do pecado da avareza no Inferno, lá os condenados empurram as pedras).

No segundo ciclo, Dante e Virgílio se deparam com os pecadores da inveja. Neste ciclo os pecadores têm os olhos costurados com fio de ferro.

No terceiro ciclo, os furiosos se encontram em meio a uma densa fumaça negra, a qual cega a sua visão, e os sufoca. Lá eles vagam no breu cantando o hino da misericórdia. Nesse ciclo, Dante e Virgílio se perdem da estrada, então um anjo aparece para guiá-los para o próximo ciclo. Para alguns críticos de Dante, a fumaça que aqui se encontra é uma metáfora para a "cegueira" causada pela raiva. Quando o sangue ferve, o homem age por impulso e não pela razão. Ele fica bloqueado a outras soluções, e parte com a ferocidade de um animal.


Dante e Virgílio em meio a densa fumaça no Terceiro Ciclo, onde residem os raivosos, Gustavo Doré.
No quarto ciclo, os preguiçosos são condenados a andarem ao redor da montanha, pagando por seu pecado. Enquanto eles andam até os pés doerem, uns choram, outros oram pela salvação.


Dante e Virgílio em meio aos preguiçosos, Gustavo Doré.
No quinto ciclo, Dante e Virgílio em meio aos avarentos, encontram o Papa Adriano V. Os avarentos se encontram deitados no chão de bruços, olhando para a terra, o com o rosto nessa. Isso simboliza o apego dos avarentos as coisas materiais, nesse caso a terra representa a ganância deles. O poeta quando os ver, questiona isso para Virgílio  e este lhe diz que soube a cabeça dos avarentos no alto da montanha está o Paraíso, mas a ganância destes é tanta, que não conseguem se desprender da terra. Antes de subirem ao próximo ciclo, os dois conhecem Públio Papínio Estácio (61-96), um antigo poeta romano, o qual tendo sido absorvido de seus pecados, podia finalmente entrar no Paraíso. Sendo assim, Estácio segue viagem junto a Dante e Virgílio.


Dante e Virgílio em meio aos avarentos no Quinto Ciclo, Gustavo Doré.
No sexto ciclo, os pecadores da gula, se encontram padecendo de fome e sede. E possuem uma aparência cadavérica e pálida.


Dante e Virgílio em meio aos pecadores da gula, Gustavo Doré.
No sétimo ciclo, os luxuriosos são castigados no fogo da justiça por sua depravação. São queimados vivos e profunda agonia.

Finalmente, os três poetas chegam ao último degrau, lá Dante acaba dormindo, e quando acorda se encontra do outro lado da barreira de fogo que separava o Sétimo Ciclo do Paraíso terrestre. Em meio ao verdejante e belo jardim, os três encontram uma mulher chamada Matilde, a qual se encontra próxima as águas do rio Letes.


Dante, Virgílio e Matilde. Ambos se encontravam no Paraíso terrestre, Gustavo Doré.
Diferente da mitologia grega, o rio Letes percorre as terras dos bem-aventurados, os Campos Elísios, os quais seriam uma espécie de Paraíso para os gregos antigos. Entretanto os Elísios se encontravam no mundo inferior nos domínios de Hades. O rio Letes era conhecido como o rio do esquecimento, já que quem bebesse de suas águas esquecia-se dos pecados e da vida anterior. Na Comédia, o Letes nasce no topo da montanha e suas águas caem até o inferno, se encontrando com os outros quatro rios.

Nos cantos finais do Purgatório, Dante descreve o Paraíso terrestre, descrevendo alguns animais que viu, como um grifo; ele fala de ninfas cantando e dançando, de outras pessoas e de anjos, de uma prostituta e um gigante sobrevoando o jardim em uma carruagem alada. E finalmente ele encontra Beatriz. Após ele se livrar de seus pecados se banhando nas águas do rio Letes e do rio Eunoe, Beatriz o conduz para o Paraíso.

Paraíso:


No último cântico do poema, Virgílio já não irá mais acompanhar Dante em sua jornada. Sua missão era guiá-lo pelo Inferno e pelo Purgatório até eles se encontrarem com Beatriz. Feito isso, Virgílio cumpre sua missão com Dante e sua promessa para Beatriz, e saí do enredo da história. No Paraíso, o poeta passa a ser guiado por sua amada. Dante concebe o Paraíso dividido em 10 céus, sendo cada um referente aos astros celestes que formam o sistema solar conhecido na época. E quanto ao décimo céu, este seria de fato o que concebemos como Céu na religião. O local onde reside Cristo e Deus.
  1. Primeiro céu: Lua
  2. Segundo céu: Mercúrio
  3. Terceiro céu: Vênus
  4. Quarto céu: Sol
  5. Quinto céu: Marte
  6. Sexto céu: Júpiter
  7. Sétimo céu: Saturno
  8. Oitavo céu: Estrelas fixas
  9. Nono céu: Cristalino/Primeiro Móbile
  10. Décimo céu: Empíreo
No primeiro céu residem as almas castas. Neste Dante e Beatriz conversam a respeito sobre os pecados, a salvação, a devoção, etc.


Dante e Beatriz subindo ao Paraíso, Gustavo Doré.
No segundo céu, o de Mercúrio, residem as almas ativas. Lá Dante e Beatriz encontram o imperador bizantino Justiniano, o Grande (483-565). Justiniano conta um pouco da História de Roma para os dois (embora Justiniano na realidade tenha sido um imperador bizantino).

No terceiro céu, reside os amorosos sob a influência de Vênus. Lá os dois se encontram com a alma do rei da Hungria, Carlos Martel de Anjou (1271-1295). Lembrando que Carlos Martel também foi o nome do avô do rei Carlos Magno. 

No quarto céu sob o brilho do Sol, reside as almas dos doutores da Igreja. Dentre alguns santos e clérigos que os dois encontraram, o principal foi S. Tomás de Aquino (1225-1274) conhecido pelo epiteto de Doutor Angélico.

Passando para o quinto céu, o de Marte, residem as almas guerreiras. Lá os dois encontram um ancestral de Dante, Cacciaguida (1106?-?). Cacciaguida conta um pouco da História de Florença em sua época para os dois. Segundo Dante, Cacciaguda teria sido seu trisavô por parte materna, e teria lutado na Segunda Cruzada (1147-1149). 


Dante e Beatriz diante de Cacciaguida, o ancestral de Dante. Gustavo Doré.
No sexto céu, o de Júpiter, residem as almas justas, defensoras da justiça. Neste céu ele conhecem várias almas que lhe contam um pouco de suas histórias e outras histórias, de pessoas que foram justas em vida.

Chegando ao sétimo céu, o local onde reside os santos anacoretas (anacoretas são aqueles que seguem os ensinamentos de Santo Antão, o Anacoreta). Dentre os santos que eles conhecem, os principais que conversam com eles são: São Pedro Damiano e São Bento.

Deixando este céu eles partem para o oitavo, o céu onde residem as estrelas fixas, as constelações. Os dois entram neste céu seguindo caminho pela Constelação de Gêmeos. O mesmo signo de Dante. Aqui eles são interrogados por São Pedro, São Tiago, São João e Adão.

No nono céu, Dante questiona Beatriz a respeito da origem dos anjos e de seu papel. Nesse ponto ele divide os anjos em nove grupos de três hierarquias. Sendo que cada grupo corresponde a um dos nove céus.

1. Primeira hierarquia:

  • Serafins - Primeiro Móbile
  • Querubins - Estrelas Fixas
  • Tronos - Saturno
2. Segunda hierarquia:
  • Domininações - Júpiter
  • Virtudes - Marte
  • Potestades - Sol
3. Terceira hierarquia:
  • Principados - Vênus
  • Arcanjos - Mercúrio
  • Anjos - Lua
Nossa Senhora acompanhada de anjos no Décimo Ciclo, Gustavo Doré.
Quando finalmente os dois chegam ao último céu, o Empíreo. Lá Beatriz se senta em seu trono dourado. Neste local há vários anjos, almas bem-aventuradas, além da presença das santas: Santa Luzia, Sant' Ana e a Virgem Maria.  Então Beatriz deixa o poeta seguir caminho ao lado de São Bernardo até se depararem com um turbilhão de anjos circundando uma forte luz, o Criador. 


Dante e São Bernardo diante de um turbilhão de anjos que circundam Deus. 
"A linguagem humana, mesmo a linguagem do maior dos poetas - observa Dante - é incapaz de descrever o esplendor do Céu, a sua profusão embriagante de flores e de incenso, de música e de luz. O céu é, numa palavra, Luz - luz que é Beleza, e beleza que é Amor. No paraíso, todas as almas estão mergulhadas num oceano infinito de Luz, de Beleza e de Amor. Tudo se torna Uno na presença esplêndida de Deus - "Sorriso universal de inexprimível alegria". (THOMAS; THOMAS, 1965, p. 20). 

Considerações finais:

Antes de encerrar esta viagem pela divina obra de Dante Alighieri, tenho alguns pontos a esclarecer. Primeiro, de acordo com os estudos do historiador brasileiro Hilário Franco Jr (1996), Dante teria sido um alquimista. Quando ele condenou os alquimistas no Oitavo Ciclo do Inferno, ele na verdade de acordo com o autor, estaria condenando os falsos alquimistas, já que a alquimia não era uma prática totalmente condenável em sua época. O próprio São Tomás de Aquino escreveu um tratado sobre o uso da alquimia. Por outro lado, Hilário defende que a filosofia empregada na Comédia em si, possui bastante influência da alquimia.

"O mais importante, porém, era a prática daquele conhecimento por parte de Dante. De fato, a viagem que ele realiza pelo mundo do Além segue o esquema das operações alquímicas, partindo da calcinação (destruição da forma primária) até atingir a coagulação filosófica (junção perfeita e inseparável dos principios da matéria). [...] o poeta precisou destruir sua matéria pecaminosa assistindo aos tormentos do Inferno, para somente depois poder encontrar Deus". (FRANCO JR, 1996, p. 234).

"Em suma, o que ele descreve na Commedia é processo de transmutação espiritual que operações de tipo alquímico produziram em si mesmo. E que poderiam, por isso, servir de modelo para a humanidade". (FRANCO JR, 1996, p. 241).

Deve-se ter em mente que a Divina Comédia foi uma obra de crítica. Dante via em seu poema a utopia que ele imaginava. Utopia essa em referência a punição "divina", pois como vimos na história de vida dele, Dante foi falsamente condenado e expulso da sua cidade e até ameaçado de morte. Podemos encarar o seu livro como forma de retratar esse seu "rancor" contra essas calúnias ditas para ele, e ao mesmo tempo, como uma forma de criticar problemas sociais da sua época. 

"Dante escreveu a Divina Comédia como uma compensação para a sua vida frustrada. Exilado, perseguido, desprezado, criou um mundo no qual fosse bem recebido, assistido, exaltado. Compelido a procurar a caridade dos grandes, elevou-se a si próprio a uma altura de onde pudesse julgar os reis, os príncipes e os papas. Vencido e humilhado no mundo dos homens, imaginou-se triunfante no mundo de Deus. A Divina Comédia é um mundo de sonho e de refúgio para um homem derrotado - para todos os derrotados". (THOMAS; THOMAS, 1965, p. 21). 

Para ele, o passado foram bons tempos, mas cada ano que se passava os homens iam corrompendo a sociedade. Por isso ele não teve "papas" na língua quando falou dos nobres, aristocratas, papas e de todos aqueles que caíram nos pecados. As torturas relatadas no Inferno e no Purgatório, seriam o ideal de justiça imaginado por ele. Se aquele que foi ruim em vida e cometeu muitos crimes, saiba que será punido por isso após a morte. Por outro lado, o Paraíso representa a rendição para os homens, de que de fato a paz eterna realmente existiria, e somente poderia ser alcançada pelo bem, feito nesta vida. 

Tal condição foi tão impactante, que muitas pessoas que jamais leram o poema, mas só de ouvirem dos males do Inferno, começaram a repensar em seus atos e suas vidas. As representações criadas por Dante, levaram a uma nova visão sobre o Inferno e a se temê-lo mais ainda. Dan Brown [2013] conta que em certos momentos, houve surtos no aumento de frequentadores nas missas e de confissões, pois as pessoas passaram a ter maior ciência de que realmente poderiam ir acabar indo para o Inferno. Ora, devemos nos lembrar que por mais que a obra de Dante estivesse a frente do pensamento medieval, ainda eram tempos medievais quando ela foi publicada. A Itália ainda demoraria algumas décadas para iniciar o Renascimento. 


"A Divina Comédia representa a justiça utópica de Dante Alighieri, em oposição a uma sociedade corrompida por seus pecados".
Leandro Vilar

Mas, qual seria a ligação desta obra escrita a mais de seis séculos com os acontecimentos de hoje em dia? A resposta é simples. A condenação da realidade, a crítica ao governo, a sociedade, a Igreja. Muito do que foi exposto na época que este livro foi escrito, ainda perdura nos dias de hoje, até mesmo com mais vivência. 

No campo artístico as influências de seus livros são inúmeras. Sandro Botticelli (1445-1510), Michelangelo Buonarroti (1475-1564), Johannes Stradanus (1523-1605), William Blake (1757-1827), William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) Gustavo Doré (1832-1883), Auguste Rodin (1840-1917), Franz von Bayros (1866-1924), Salvador Dalí (1904-1989), foram alguns nomes da pintura, escultura e desenho que foram influenciados por Dante. 


No campo literário, alguns dos artistas influenciados pela obra dantesca foram: Geoffrey Chaucer (c. 1343-1400); John Milton (1608-1674), renomado escritor e poeta inglês, autor de O Paraíso Perdido (1667) e O Paraíso Recuperado (1671); Honoré de Balzac (1799-1850), célebre escritor francês, autor da monumental Comédia HumanaHenry Wadsworth Longfellow (1807-1882), foi um famoso escritor e poeta americano, lembrando por ter criado um grupo que se reunia para debater a obra de Dante, além de ter sido a primeira pessoa a traduzir A Divina Comédia nos Estados Unidos. Jorge Luís Borges (1899-1986), renomado autor argentino. E mais recentemente Dan Brown com seu livro, Inferno

Não vou negar que até eu fui influenciado por essa obra. Além de historiador, sou escritor e poeta, logo escrevi um poema com base nesse livro, e em um dos meus romances, faço uma homenagem a Dante. 


Além de livros e poemas, a obra de Dante também influenciou ensaios, reflexões, críticas, seminários, monografias, dissertações, teses, óperas, músicas, peças de teatro de Claudio Monteverdi (1567-1643), Franz Liszt (1811-1886), Richard Wagner (1813-1883), Piotr Tchaikovsky (1840-1893), e Giacomo Puccini (1858-1924). 


Se chegarmos ao século XX e começo do XXI, encontramos histórias em quadrinhos, desenhos animados, mangás e jogos de videogame que também foram influenciados pela obra dantesca. No caso dos videogames temos a série Devil May Cry (2001-2013) e o jogo Dante's Inferno (2010), como principais referências.



Tudo isso nos revela o impacto dessa obra, quase única em seu gênero. Em vida, é bem provável que Dante compôs esses vasto poema como forma de causar polêmica quando fosse publicado, no entanto ele morreu antes de receber as críticas. Mas, sem sombra de dúvidas ainda é uma obra bastante comentada. A Divina Comédia, se encontra no mesmo patamar de outros importantes poemas como a Ilíada, Eneida e os Lusíadas. Esse reconhecimento e tão grande, que hoje em vários países existem sociedades que levam o nome de Dante Alighieri, e tratam de estudar e debater não apenas a Divina Comédia, mas a produção literária dele, como também divulgar a cultura em outros aspectos. 

NOTA: Em versões mais antigas, o nome de Dante pode ser escrito como Durante Aldighiero. Pois alguns linguistas defendem que Dante fosse o apelido de Durante, e Aldighiero uma variação de Alighieri, algo que o próprio Jacopo Alighieri alegara em vida acerca da variação de seu sobrenome. 
NOTA 2: Dante fala que Beatriz possuía lindos olhos verdes, tão belos quanto duas esmeraldas.
NOTA 3: Guido Cavalcanti foi um grande amigo de Dante. Na Divina Comédia, Guido é citado muitas vezes. A obra Vita Nuova, foi dedicada a sua pessoa. Todavia, Dante e Guido tiveram divergências políticas, por pertencerem aos partidos opostos dos Guelfos.
NOTA 4: São Gregório Magno (540-604), papa de 590-604, foi o responsável pela compilação dos Sete Pecados Capitais.
NOTA 5: A obra-prima de Giovanni Boccaccio, foi a coletânea de novelas, Decamerão.
NOTA 6: No anime/mangá Os Cavaleiros do Zodíaco - Saga de Hades: Capítulo Inferno, teve como fonte de inspiração o Inferno da Divina Comédia.
NOTA 7: A novela brasileira Sete Pecados (2008) produzida pela Rede Globo, contava como história principal os desenlaces de uma vaidosa, soberba, preconceituosa, jovem e bela mulher rica, chamada Beatriz Ferraz (interpretada por Priscila Fantini) a qual acabava se apaixonando pelo bom, honesto, ingênuo e simples Dante Florentino (interpretado por Reynaldo Gianecchinni). Na trama, Beatriz para conquistar Dante teria que fazê-lo cometer os sete pecados capitais, contudo, ele era ajudado por amigos, familiares e por anjos que tentavam evitar que ele cedesse as tentações propostas por Beatriz. 
NOTA 8: No jogo Resident Evil: Revelations (2012) um dos personagens cita trechos da Divina Comédia e, além disso, um exemplar do livro aparece em algumas cenas do jogo. 
NOTA 9: No livro Assassin's Creed: Revelações (2011), baseado no jogo homônimo, o livro é dividido em três partes, e o início de cada parte traz uma citação das três partes da Comédia. Além disso, o protagonista Ezio Auditore menciona que terminou de ler A Divina Comédia
NOTA 10: A Divina Comédia foi tema do carnaval brasileiro pela Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, em 2017. 
NOTA 11: Dante Alighieri age como um detetive na série de sete livros do escritor italiano Giulio Leoni. Em seus livros, Leoni coloca o poeta tentado solucionar conspirações, assassinatos misteriosos e complôs. 

Referências Bibliográficas:
ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia - volume I. Prefácio de Raul de Polillo. São Paulo, W. M. Jackson Inc, 1964. (Coleção Jackson Clássicos, Volume V).
ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia - volume IIPrefácio de Raul de Polillo. São Paulo, W. M. Jackson Inc, 1964. (Coleção Jackson Clássicos, Volume VI).
ALIGHIERI, Dante. A Monarquia. Tradução e apresentação de Ciro Mioranza. São Paulo, Lafonte, 2012. p. 9-15. 
BROWN, Dan. Inferno. Tradução de Fabiano Morais e Fernanda Abreu, São Paulo, Arqueiro, 2013.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Eva Barbada: Ensaios de Mitologia Medieval, São Paulo, Editora USP, 1996.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
THOMAS, Henry; THOMAS, Dana Lee. Vidas de Grandes Poetas. Tradução de Brenno Silveira. Rio de Janeiro, Editora Globo, 1965. (Capítulo 1: Dante Alighieri, p. 13-22). 

Link relacionado: 
Os Sete Pecados Capitais

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Gustave Doré - Purgatorio (44 F) (Wikipédia)
Gustave Doré - Paradiso (20 F) (Wikipédia)
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Dante's Inferno (anime) trailer (+18)
Guia virtual do livro Inferno de Dan Brown
Sinfonia Dante - Franz Liszt


3 comentários:

Unknown disse...

Resenha formidável e citações tão incríveis que fazem jus a essa obra " Divina ". Parabéns !

Nilceia disse...

A igreja católica “criou” as doutrinas do inferno e o purgatório? Ou retirou essas doutrinas do livro de Dante?

Leandro Vilar disse...

Nilceia, a obra de Dante é o amálgama de uma longa tradição de escritos sobre os mundos dos mortos no Cristianismo, algo visto em obras como os apocalipses apócrifos e as visões sobre o Inferno, Paraíso e o Purgatório. Tais obras existem séculos antes de Dante escrever seu livro. Tendo sido escrita por clérigos e leicos.

Por exemplo, São Agostinho já falava sobre Inferno, Paraíso e Purgatório, isso lá no século V.