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Leandro Vilar

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tragédia e Comédia

Até hoje os gêneros da tragédia e da comédia perfazem a base da dramaturgia ao longo da História. Costuma-se creditar aos antigos gregos a invenção do teatro, da dramaturgia, das artes cênicas, de fato alguns historiadores apontam que a encenação de histórias já ocorria entre os antigos egípcios, os mesopotâmios, hindus e chineses, entretanto o que concebemos como teatro propriamente falando, seja na estrutura física e na organização das personagens tem a maior expressão na Grécia Antiga, por volta do século V a.C quando surgem os primeiros dramaturgos de renome, e os mais antigos anfiteatros conhecidos.


Teatro grego:


O teatro se inicia na Grécia como uma derivação de antigos ritos realizados em honra do deus Dionísio (deus do vinho e das festas). As festas realizadas em sua homenagem deram origem aos gêneros da tragédia e da comédia, ambos baseados nos mitos gregos. Encenar as histórias dos deuses, dos heróis e das grandes façanhas dos antigos gregos, se tornou um dever dos artistas que contavam estas histórias para o povo. Naquela época, poucos eram aqueles que sabiam ler e escrever, e a melhor forma de instruir o povo sobre sua história, religião e cultura era através da fala e da representação, ou seja, dança e artes cênicas. Aqui nota-se a função religiosa inicial do teatro, como forma de levar ao público os ritos litúrgicos, embora que posteriormente o teatro perdeu parte dessa sua ligação religiosa, passando a se tornar um meio de expressão artística, cultural e ideológica. 



A arte era algo tão importante entre os gregos, que havia deusas que personificavam suas virtudes. As nove Musas, eram as deusas das artes e das ciências, simbolizavam estas virtudes, fosse na música, dança, poesia, história etc. Para os gregos isso era uma dádiva dos deuses, fato este que especialmente havia duas musas que personificavam a dualidade da dramaturgia. Melpômene, a musa da Tragédia e Tália, a musa da Comédia.

Como foi dito, os gregos foram os responsá
veis por desenvolverem o conceito de teatro e suas características. Suas peças representavam mitos, histórias de grandes feitos, como vitórias militares e em alguns casos, era encenado peças sobre assuntos do cotidiano e da vida política do Estado. A peça nesse caso contava geralmente com poucos personagens, sendo estes acompanhados por um coro, chefiado por um corifeu, o qual tanto comandava o coro, como também dialogava com os personagens. Além do coro, o qual passou a contar com dez ou mais membros, dependendo do dramaturgo, havia em alguns casos a utilização de bandas, onde se tocava música ao vivo. Deve-se ressalvar que nesta época, não havia o uso de cenários propriamente falando, o que garantia a "mágica" da apresentação era a música, as roupas e principalmente as máscaras utilizadas pelos atores.


Projeto básico de um teatro grego.
As máscaras tinham um papel mais importante além da questão estética e de personificar a imagem de algum deus, herói ou monstro, elas eram utilizadas para deixar a voz dos atores mais alta, possibilitando que os espectadores na última arquibancada pudessem tanto distingui-los dos demais personagens como também compreender o que diziam. Mas, sobre isso, além da utilização das máscaras para tal efeito, a própria arquitetura do anfiteatro era projetada para que sua acústica fosse ouvida em todas as suas arquibancadas. Os teatros eram construídos nas encostas de montanhas ou serras, de forma que tivesse um formato de semicírculo ou de leque, de forma que não apenas o palco ficaria no centro, mas, que os atores não ficassem de costas para plateia. Esse formato também servia para a dissipação das ondas sonoras que se chocavam com o fundo do palco, o qual as vezes ficava para um vale ou um paredão de pedra, o qual rebatia as ondas de som para as arquibancadas.

"Os primeiros teatros de pedra, muit
o simples, apareceram no século IV a.C. As partes essenciais eram a orquestra, cujo acesso se fazia pelos paroidoi (duas entradas laterais); e o theatron, o lugar dos espectadores, que inicialmente cercava a orquestra, mas com o tempo foi se convertendo numa espécie de leque aberto em direção à encosta da colina". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 5607).

Havia também a skene, o qual seria para se utilizar a nomenclatura de hoje, uma espécie de camarim, onde os atores
trocavam de roupa. Posteriormente a skene que ficava aparte do espetáculo, passou a ser inserido atrás do palco, servindo como cenário de uma casa, palácio ou outra construção. O palco chamava-se proskenion (proscênio) o qual se estendia diante da skene. Inicialmente suas medidas eram breves, e o palco dispunha de pouco espaço, mas a medida que o teatro foi ganhando prestígio social, os palcos começaram a crescer e junto a eles os próprios teatros. Os palcos passaram a abrigar a orquestra, o coro e ter espaço para danças.

"Os maiores edifícios foram construídos no século IV a.C, e os mais belos exemplos de teatros gregos são os de Atenas (teatro de Dionísio, 17 mil lugares), de Epidauro (20 mil lugares), de Delfos; na Sicília, é preciso citar os de Siracusa e Segesta; na Ásia menor, os de Éfeso, Pérgamo e de Priena". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 5607).

A expansão d
o império de Alexandre, o Grande no século IV a.C, levou para os povos do Oriente Médio à Cultura Helênica, e junto com estes, ideais de beleza, arte, a filosofia e outros saberes. Os teatros começaram a se espalhar pela Ásia Menor e a costa asiática no Mediterrâneo. Posteriormente este papel, caberia aos romanos que difundiriam os valores das artes helênicas pelo seu império, embora os romanos por muito tempo não foram afeitos ao teatro. 


Ésquilo
Os gregos, não apenas só deram forma ao teatro, e sua organização, mas também conceberam os primeiros grandes dramaturgos da História. Dramaturgos estes que mesmo após mais de dois mil anos, suas peças ainda são encenadas pelo mundo. Entre estes gênios da dramaturgia, três nomes se destacaram entre a famosa tragédia grega: Ésquilo (525-456 a.C), Sófocles (496/494-406 a.C) e Euripedes (480-406 a.C). Ésquilo é considerado por muitos como sendo o "pai da tragédia grega".

"O triunfo de Os persas (472 a.C) consagrou-o definitivamente e atraiu o interesse de H
iéron, tirano de Siracusa. A partir de então, Ésquilo viveu ora em Atenas ora na Sicília, fazendo representar quase 90 tragédias que exploravam o universo dos antigos mitos, a teogonia, o ciclo troiano, a história dos Argonautas, as lendas de Tebas, Argos e Micenas. Considerado o verdadeiro fundador da tragédia grega, introduziu o segundo ator (deuteragonista), tornou mais vivo o diálogo, embelezou os movimentos do coro, conferiu maior expressividade às máscaras e decorou o palco com cenários". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2228).

Das suas dezenas de tragédias,
apenas poucas conseguiram sobreviver completas ao longo dos séculos. Dentre estas estão suas principais obras, Os persas, As suplicantes, Prometeu acorrentado, Os sete contra Tebas, e a trilogia da Orestíada.


Sófocles
Sófocles conviveu na época de grandes homens, ele foi amigo de Péricles, um dos maiores governantes da história de Atenas, e também era amigo de Herodóto, o "Pai da História". Por mais, que Ésquilo seja tido como o "pai da tragédia grega", as tragédias de Sófocles, que passaram de uma centena, mas apenas sete chegaram completas aos nossos dias, possui o personagem mais famoso da história da tragédia grega, Édipo. Herói condenado por um destino cruel desde o dia em que nasceu, predestinado a matar o próprio pai e desposar a própria mãe, Édipo se tornou um modelo de herói fadado a um fim trágico. No entanto, Sófocles em sua genialidade, põem em debate duas questões que tiram o sossego dos homens até hoje. Será que o destino existe? Será que você pode mudar seu próprio destino? Ambas as questões são tratadas em suas obras, mas principalmente em Édipo Rei, ela ganha sua expressividade máxima.


Pintura em um vaso retratando Édipo e a Esfinge. Nota-se que a esfinge grega possuía uma aparência diferente da esfinge egípcia. 
Além do seu destino cruel, Édipo também é notório por ter decifrado o Enigma da Esfinge. "Qual é o animal que anda com quatro pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à tarde?", Édipo respondeu: "O homem, que engatinha na infância, caminha ereto na idade adulta e se apoia em um bastão na velhice".

As obras de Sófocles que restaram completas são: Ajax (445 a.C), Trachiniai (445 a.C?), Antígona (442 a.C), Édipo Rei (425 a.C), Electra (415 a.C), Filocteto (409 a.C) e Édipo em Colono (401 a.C). Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona compõem a Trilogia Tebana, mesmo tendo sido escritas em diferentes épocas, Sófocles introduz na dramaturgia o conceito de trilogia livre.

Eurípedes escreveu 92 peças, mas apenas um dra
ma satírico e 17 tragédias sobreviveram ao tempo. O drama satírico se chama O ciclope, e dentre algumas de suas tragédias estão: Medeia (431 a.C), Héracles furioso (424 a.C), As suplicantes (422 a.C), As troianas (415 a.C), Electra (413 a.C) e Orestes (408 a.C).


Eurípedes
"Eurípedes chocou seus contemporâneos pelas inovações dramáticas (importância da análise psicológica, rejuvenescimento dos mitos, coros independentes da ação, introdução de personagens do povo) e por seu espírito crítico e ceticismo filosófico". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2299).

No comédia, o maior nome deste gênero foi Aristófanes (447 - 385 a.C). Dono de um humor sarcástico e ácido, Aristófanes ironizava e satirizava os homens comuns, diferente dos heróis e deus
es que eram representados nas tragédias. Dentre suas principais obras estão: Lisistrata ou a Greve do Sexo (411 a.C), As vespas (422 a.C) e As rãs (405 a.C). Em suas comédias, ele realizava críticas morais a sociedade, aos seus políticos, aos seus valores culturais e sociais.

Teatro romano:


Quando chegamos aos romanos devemos ter cuidado com certas nomenclaturas: anfiteatro não é o mesmo que teatro, assim como o circo máximo não possui hoje o sentido de circo que conhecemos. O anfiteatro era conhecido também como arena, e consistia num grande prédio circular ou ovalar. Nota-se que o anfiteatro na realidade consiste na junção de dois teatros gregos, pois se recordamos o fato do teatro grego ser semicircular, dois semicírculos formam um círculo. Normalmente o anfiteatro era usado para a realização das lutas de gladiadores, das caçadas (venatio), de naumaquias (batalhas navais), execuções, etc. O anfiteatro era geralmente maior que o teatro, pois sua estrutura comportavam uma plateia maior, e tal fato foi tão marcante e eficiente que ainda hoje os estádios modernos conservam essa tendência. Além disso, os jogos de gladiadores (ludi gladiatorii) eram os espetáculos mais populares da Roma Antiga, onde as pessoas preferiam ver sangue, ação e morte do que assistir tragédias e comédias. O anfiteatro mais famoso foi o Anfiteatro Flaviano, popularmente conhecido como Coliseu


Anfiteatro romano de Nimes, França. 
Um problema que existe hoje em dia, é que o termo anfiteatro passou erroneamente a ser usado também como sinônimo de teatro aberto, ou seja, o teatro sem cobertura, ou que possui uma estrutura semicircular, porém o anfiteatro era circular. Se pegarmos o conceito original de anfiteatro, o seu uso hoje é errôneo, embora como as línguas evoluem, acabou-se oficializando esse equivoco. 

Depois dos anfiteatros o segundo espetáculo mais popular eram as corridas com cavalos (ludi circenses), corridas essas realizadas em carroças puxadas por dois, três ou quatro cavalos onde competiam quatro equipes (a equipe vermelha, azul, verde e branca). Tais corridas ocorriam no circo máximo, o qual na realidade seria um hipódromo. As corridas foram bastante populares ao longo da história romana e até mesmo os bizantinos a adotaram em substituição aos jogos de gladiadores quando estes foram proibidos no século V. 


Maquete do circo máximo de Roma, além de retratar construções que ficavam em seu entorno. 
Em terceiro lugar viria o teatro que também era chamado de odéon. O teatro romano mantivera a estrutura básica do teatro grego, mas acrescentando algumas mudanças, como foi o caso da estrutura de plano de fundo o auditorium. Mas antes de chegarmos a estrutura do odéon, vamos conhecer um pouco da história do teatro romano. A medida que os romanos passaram a ter mais contato com os gregos algo que se acentuou no século II a.C, resultando na conquista romana da Macedônia e da Grécia, o teatro ficou sendo conhecido pelos militares e pelas elites, porém, não foi algo que se popularizou de imediato. Os jogos de gladiadores e as corridas com cavalos eram já populares neste tempo. 

Tal fato é interessante, pois em Roma não havia teatros fixos, havia construções temporárias que serviam para esse propósito, um dos principais motivos era que os políticos não gostavam do teatro, pois diferente das lutas e das corridas, onde não havia uma interação direta entre os atletas e o público, no teatro os atores falavam para a plateia, e na Grécia o teatro ainda no século IV a.C, já havia desenvolvido um teor ideológico e de crítica, logo, os políticos romanos não eram tão liberais quanto os políticos gregos, e passaram a censurar o conteúdo das peças, temendo que tais histórias exaltassem a revolta no povo. 

Essa tendência negativa sobre o teatro também recaiu sobre os atores. O ofício de ator era mal visto, era considerado uma profissão de baixo prestígio social. Quando o imperador Nero participava como músico e ator em algumas peças, os patrícios desprezavam aquele ato e consideravam um insulto, o soberano se misturar com aquela gente. Na época imperial, embora o ofício de ator era mal visto por parte da sociedade, os poucos grupos teatrais que existiam praticamente monopolizavam esse espetáculo, cobrando altas somas para se apresentar, embora o público fosse baixo, mesmo assim havia aqueles que admiravam as artes cênicas e pagavam para assistir. Foi na época imperial que o teatro começou a se popularizar, tendo sido construído em várias províncias, embora ainda se manteve abaixo da popularidade dos anfiteatros e dos circos máximos. 

O primeiro teatro permanente em Roma foi construído em 55 a.C, pelo senador Gneu Pompeu Magno (um dos quais formou o primeiro triunvirato, ao lado de César e Crasso). Até então o teatro era feito em palcos de madeira montados, e se movimentava para diferentes locais da cidade. Com a fixação deste, logo um maior número de espectadores começaram a ir a estes eventos, mesmo assim, isso nem chegava perto às grandes multidões que abarrotavam as arenas para verem os gladiadores matarem uns aos outros.

"O teatro construído por Pompeu e o aumento dos entretenimentos oferecidos ao povo, com César, modificaram esse quadro, ate o ponto em que teatros foram erguidos rapidamente tanto na Itália quanto nas províncias". (LIBERATI; BOURBON, 2005, p. 78). 

Embora na história romana houve alguns poetas famosos que atuaram como dramaturgos como Lívio Andrônico (284-204 a.C), Ênio (239-169 a.C), Plauto (230-180 a.C) e Terêncio (c. 195/185 - c. 159 a.C), onde ambos deram foco ao estilo da tragédia, as peças trágicas nunca tiveram uma boa recepção de público como entre os gregos, pelo menos não sendo apresentadas de forma tradicional. Além da preferência pela comédia, dois gêneros ainda no século I a.C se tornaram populares entre os romanos, a mímica e a pantomima

Mosaico encontrado em Pompeia, retratando alguns atores romanos. 
"Precisamente no século I a.C teve início a boa sorte de dois gêneros destinados a substituir a tragédia de origem grega: a mímica e a pantomima. No primeiro, de temática cômica e erótica, mas não carente de sátira política, a declamação era intercalada com a dança e não eram utilizadas máscaras; esses espetáculos também tinham a participação das mulheres, normalmente usando muita pouca roupa, pelo que às vezes eram com justiçada chamadas de 'desvestidas' e às quais por sua profissão, era dada a mesma consideração merecida de prostitutas. A pantomimam de temática trágica, era inspirada na mitologia e na história. Os protagonistas eram bailarinos, cujas peripécias eram contadas por um narrador e acompanhadas de música". (LIBERATI; BOURBON, 2005, p. 79).

Aqui notamos algumas inovações do teatro romano em relação ao teatro grego: um maior espaço para as mulheres, embora que em alguns casos, elas eram exploradas como símbolos sexuais (algo não diferente de hoje onde vemos em alguns programas de televisão); a fixação de cenários de fundo mais elaborados; a tendência e se dá mais espaço para os gestos e não apenas a fala, algo que vemos na mímica e na pantomima. 

A estrutura do teatro romano era bem semelhante a dos gregos, mas com novas inovações, como pode ser vista nesta imagem. Ao invés de se construir uma estrutura cravada em uma colina, erguia-se um edifício em forma de semicírculo ou leque, o odéon. Além de se apresentar as peças teatrais, o odéon também era usado para apresentação de espetáculos de dança e música. 


Partes do teatro romano de Bosra, Síria. 1) Scaenes frons; 2) Porticus post scaenum; 3) Pulpitum; 4) Proscaenium; 5) Orchestra; 6) Cavea; 7) Aditus maximus; 8) Vomitorium. 

  1. Scaenes frons: correspondia a parte da frente do cenário ou plano de fundo. Normalmente era formado por dois ou três andares, dividido em dois lados com colunas, possuindo janelas, mas três entradas: a regia (entrada principal) e as hospitalia (entradas laterais). Os protagonistas entravam no palco pela regia, e os coadjuvantes entravam pelas hospitalias.
  2. Porticus post scaenum: equivalia as colunas que se encontravam no cenário atrás do palco. 
  3. Pulpitum: equivalia ao palco. O detalhe era que o palco ficava mais elevado que o restante, algo comum da estrutura teatral, mas inicialmente entre os gregos, não havia essa diferença de altura. 
  4. Proscaenium: similar ao proscênio no teatro grego, onde se realiza as apresentações cênicas, de dança e de música, pois os músicos e o coro ficavam nesse local. Os atores desciam do pulpitum e atuavam no proscênio. 
  5. Orchestra: local reservado para convidados especiais ficavam bem diante do proscênio. 
  6. Cavea: correspondia as arquibancadas. Quanto mais alto na arquibancada, significava menor prestígio social, pois os ricos se sentavam na primeira fila. O mesmo valia para os anfiteatros e os circos máximos. 
  7. Aditus Maximus: correspondia aos corredores que levavam a orchestra
  8. Vomitorium: correspondia aos corredores que levavam a cavea

Além da encenação nos teatros, nos jogos de gladiadores também havia encenações, envolvendo batalhas mitológicas, batalhas históricas e até mesmo a retratação de batalhas literárias. Nesse caso, prezava-se pela tragédia e a ação, e de fato os personagens que morriam nas histórias, morriam de fato na arena.
Teatro medieval:

Na Idade Média, as antigas tragédia
s e comédias, gregas e romanas, foram praticamente esquecidas, restritas aos pergaminhos que lhe conservavam, guardadas nos mosteiros. Além disto, existe a questão de que estas peças faziam apologias aos deuses e heróis greco-romanos, algo que se tornou pagão para os cristãos. Com isso, as peças passaram a representar e celebrar histórias e preceitos bíblicos e cristãos.

"Na Idade Média, o objetivo do teatro foi
ensinar aos fiéis o caminho da salvação da alma; o auto surgiu por volta do século XII e progressivamente desenvolveu gêneros próprios, como os mistérios, milagres e moralidades". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 5608".

Com isso as peças passaram a ser encenadas em sua grande maioria dentro das igrejas ou em palcos armados ao lado
destas ou de capelas, ou em praças. Nessa mesma, época já havia também os circos, porém os circos não visavam propriamente motivos de pregação como o teatro, mas sim o entretenimento do povo, através da comédia, do exótico e do maravilhoso. Os circos ou se estabeleciam nos arredores de uma vila ou cidade, ou se instalavam no mercado ou em alguma praça. Onde apresentavam dançarinos, malabaristas, adestradores com seus animais domésticos ou selvagens, etc.

Teatro moderno: 


Um arlequin do século XVI.
Com o advento do Renascimento Cultural em meados do século XIV, o gosto pela cultura clássica fora revivido, essa fora a época de grandes artistas nos mais diversos campos da Arte, e nesse caso o teatro não ficou de fora. Nas cidades italianas começaram a surgir pequenos grupos de teatros independentes, os quais montavam arquibancadas e palcos, e encenavam suas peças em praças, campos,  etc. Tais grupos passaram a serem conhecidos como commedia dell'arte. Tais grupos eram em alguns casos itinerantes, viajando pelas cidades, fazendo suas apresentações. Estes grupos eram formados por profissionais ou atores amadores, era comum haver muito improviso neste tipo de peça, a qual procurava retratar as confusões do dia-a-dia.

Dentre as personagens que compunham a commedia dell'arte, talvez a mais conhecida sejam a
s personagens dos arlequins, figuras vestidas com roupas coloridas e extravagentes, as quais utilizavam máscaras ou pintavam os rostos, algo que se assemelha aos palhaços e aos bobos da corte. As outras personanges eram os: Pierrô, Pantaleão, Briguela e o Doutor. Quanto as mulheres elas interpretavam as personanges Colombina, Isabela, Silvia, etc.Todas essas personagens em geral personificavam estereótipos da sociedade italiana da época. No caso de algumas destas personanges havia a utilização de chapéus, máscaras, pinturas faciais, adereços próprios, mas, no geral elas se vestiam com roupas extravagantes. Estas personagens citadas eram típicas deste espetáculo, sendo assim, era comum ver sempre alguma delas, em diferentes enredos do estilo commedia dell'arte.

No entanto, não fora apenas os italianos que deram uma nova roupagem para o teatro, os espanhóis, franceses, ingleses
e posteriormente os alemães fariam o mesmo.

"No Renascimento , a redescoberta de textos gregos e latinos inspirou o florescimento do drama secular, e os
gêneros profanos (comédia, pastoral, peça de capa e espada, etc)". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, v. 23, p. 5608).

Na Inglaterra do século XVI, em pleno governo da rainha Elizabeth I, os teatros passaram a se tornar fixos, e contarem com verdadeiras companhias de atores, de ensaístas e dramaturgos, e dentre estes se destaca o mais famoso bardo inglês, William Shakespeare (1564-1616).

"Os teatros de madeira elisabetanos eram construções simples, a céu aberto, com um palco que se projetava a frente, em volta do qual se punha a platéia, de pé. Ao fundo, havia duas portas, pel
as quais os atores entravam e saíam. Acima, uma sacada, que era usada quando era necessário mostrar uma cena que se passasse em uma ambientação secundária. Não havia cenários, o que abria toda uma gama de versáteis possibilidades, já que, sem cortina a peça começava quando entrava o primeiro ator e terminava à saída do último, e simples objetos e peças de vestuário desempenhavam importantes funções para localizar a história. As ações se passavam muito rápido. Devido à aproximidade com o público, trejeitos e expressões dos atores (todos homens) podiam ser facilmente apreciados". (SHAKESPEARE, 2010, p. 6).


Gravura retratando a encenação de uma peça no Globe Theatre.

William Shakespeare
Shakespeare ficou conhecido na história pelas suas notórias tragédias, as quais exploravam profundamente os sentimentos humanos. Até hoje suas peças são famosas e encenadas pelo mundo. Ao todo ele escreveu 38 peças, 154 sonetos e outros inúmeros poemas. As suas obras, abrangiam a comédia, a tragédia, a tragicomédia, a sátira, e as chamadas peças históricas, onde ele escrevia comédias e tragédias sobre personagens reais. Dentre suas obras mais famosas se destacam: Romeu e Julieta (1595), Hamlet (1601), Rei Lear (1605), Otelo (1603), na área da comédia temos A Tempestade (1611) e a Noite de Reis. No campo histórico ele escreveu Júlio César, Antônio e Cleópatra, Henrique IV, V, VI e VIII, Ricardo II e III. Shakespeare não se restringia apenas em escrever suas peças, ele também trabalhou como diretor e ator, interpretando alguns de seus personagens.

Na França, durante o governo do Luís XIV (1643-1715), o teatro passou a ser bem mais valorizado, já que tanto o rei como a corte gostavam de assistir peças de teatro, apresentações de música, dança e ópera.  O próprio rei era considerado um dançarino de talento, ao ponto de que em  alguns casos o teatro exibia as apresentações do rei como dançarino.

Jean-Baptiste Molière
Luís XIV contou com dois importantes músicos, coreográfos, ensaístas, poetas e dramatrugos, Jean-Baptiste Molière (1622-1673)  e Jean-Baptiste Lully (1632-1687). Ambos os artistas passaram grande parte de suas vidas, vivendo na corte francesa, localizada no Palácio de Versalhes, construído pelo próprio Luís XIV. Moliére e Lully se notabilizaram por suas peças, coreografias e por sua rivalidade. O teatro deixou Versalhes e seguiu para Paris, e depois para outras importantes cidades do país. Foi Lully, artista de origem italiana, que trouxe para França o gosto pela ópera, no entanto a ópera francesa só se tornaria importante no século XIX, já que nem todos da corte apreciavam este estilo de música, dança e apresentação. E além do mais, apenas a nobreza, a elite e em parte a burguesia tinha o direito de assistir uma peça de teatro ou apresentação de ópera.

"O grande e rápido sucesso da dramaturgia de Molière deveu-se ao ritmo das cenas, ao encadeamento dos diálogos, á trama bem construída, ao retrato do cotidiano, à mordacidade de sua critica social e sobretudo à notável caracterização psicológica dos personanges". (Grande Enciclopédia Laurosse Cultural, 1998, v. 8, p. 4044).

Na França diferente da Inglaterra, ne
ssa época, havia poltronas para as pessoas se sentarem, o palco ficava elevado, usavasse cenários de fundo, e também em alguns casos a utilização de cortinas.

"Dentre os mais célebres teatros co
nstruídos no século XVIII, e que permanecem até hoje, distinguem-se na Itália o Teatro Farnese (Parma), a Fenice (Venesa), o Scala (Milão) e, na França, o Ópera de Versalhes, o Grande Teatro de Brodeaux, a Comédie Française". (LAROUSSE, 1998, v. 23, p. 5607).

                                         Vista do interior do Teatro Fenice, Veneza.

Teatro Comédie Française, Paris.



No século XIX, o teatro seria influenciado pelas correntes artísticas modernas, como o Romantismo, Surrealismo, Expressionismo, Realismo, Naturalismo, etc. Nomes como Goethe, Schiller, Beethoven, Mozart, Victor Hugo, Alexandre Dumas pai e filho, Wagner, etc., dariam uma nova roupagem para o estilo literário, poético, filósofico e musical para as artes, influenciando tanto a ópera quanto o teatro.

NOTA: No filme Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love) retrata a vida do poeta, como ator e escritor. Entretanto o filme consiste mais numa ficção sobre a vida amorosa de Shakespeare, não se predendo a relatar sua história propriamente.
NOTA 2: No filme a Dança do Rei (Le Roi Danse), é retratada a vida de Luís XIV, do seu gosto pela arte. No filme são retratados as personagens de Molière e Lully, mostrando a rivalidade entre os dois artistas pela atenção e prestígio do rei.
NOTA 3: O Coliseu se chama oficialmente, Anfiteatro Flaviano, ele começou a ser construído pelo imperador Vespasiano em 68, e fora concluído pelo seu filho, o imperador Tito em 79, sendo oficialmente inaugurado em 81. No entanto nos anos seguintes reformas e ampliações foram feitas.
NOTA 4: Molière escreveu dezenas de peças, dentre as quais algumas das mais famosas são: O avarento (1668), George Dandin (1668), O burguês fidalgo (1670), Tartufo (1664) Dom Juan (1665), O misantropo (1666) e As preciosas ridiculas (1659).


Referências Bibliográficas:
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 7, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 8, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 9, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 10, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 20, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 23, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
SHAKESPEARE, William. Hamlet. Tradução: Millôr Fernandes, Porto Alegre, L&PM, 2010. (Coleção L&PM).
LIBERATI, Anna Maria; BOURBON, Fabio. A Roma Antiga. Barcelona, Ediciones Folio, S. A, 2005. 
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 2a ed, São Paulo, Contexto, 2002. (Coleção Repensando a História). 

LINKS:
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm
http://www.baraoemfoco.com.br/barao/portal/cultura/teatro/tatrobr.htm
http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/shakespeare/teatro.htm
http://www.livrosgratis.net/download/1839/edipo-rei-sofocles.html

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Último Czar

Nas duas primeiras décadas do século XX, o czar Nicolau II, viveria seus anos mais turbulentos de seu governo que encaminhava-se para um fim que muitos vinham que seria inevitável. Em pouco anos, ele conseguiu deixar a Rússia em péssimas condições financeiras, e levantar ainda mais a raiva entre a população que lutava por reformas em vários setores da sociedade e da politica. Entre um dilema de ajudar o povo, de modernizar a Rússia para ser uma nação capitalista do século XX, e de manter e expandir as fronteiras de seu império, Nicolau II acabou tomando decisões erradas que levaram a deflagração da Revolução Russa de 1917, a primeira revolução de repercussão mundial, a qual tentou implantar o comunismo em uma nação, e tal implantação originou a futura URSS.

Antecedentes:

Antes de começar a falar de Nicolau I
I, vamos voltar um pouco no tempo e ver alguns antecedentes. Seu avô fora o czar Alexandre II (1818-1881) o qual governou de 1855 até 1881. Tentou promover uma modernização da Rússia, construindo ferrovias, portos e fábricas, além de também tentar reformar o Estado e realizar uma renovação na fé russa. Entretanto nem todos eram favoráveis as ideias do czar, principalmente a respeito de questões agrárias (até as primeiras décadas do século XX, a Rússia era um país profundamente agrário, tendo grande parte de sua população vivendo no campo), devido a tal fato e entre outros, o czar acabou sofrendo um atentado em 1 (13) de março de 1881, quando um grupo revolucionário tentou matá-lo, com uma bomba posta em sua carruagem, o czar sobreviveu a explosão, mas acabou sendo assassinado em meio a confusão instaurada.

Com a morte de Alexandre II, o seu
filho Alexandre III (1845-1894) assumiu o governo russo. Diferente de seu pai, Alexandre III fora mais radical a respeito das influências externas e no tratamento dos grupos da oposição, ele procurou fundamentar uma politica profundamente nacionalista, em alguns casos realizou politicas anti-semitas, e procurou resolver as questões de corrupção que imperavam entre os políticos e os militares. Ao longo de seu governo, sofreu alguns atentados contra sua vida, dentre estes o atentado iniciado pelos Pervomartovtsi (mesmo grupo responsável pelo assassinato do czar Alexandre II), no dia 8 (20) de maio de 1887, o grupo rebelde tentou matar o czar mas acabaram falhando nessa tentativa, um dos intrigantes era irmão mais velho de Lenin, o qual acabou sendo executado posteriormente. Alexandre III morreu de causas naturais agravado por doenças na velhice.

Nascimento:

Em 6 (18) de maio de 1868 nasce
u Nikolai Aleksandrovich Romanov, futuro czar Nicolau II, sua mãe fora a czarina Maria Feodorovna (1847-1928) (Princesa Dagmar da Dinamarca). Nicolau vivenciou o atentado que matou o seu avô, e os atentados de morte ao seu próprio pai, no entanto isso não abalou a ponto de que rejeitasse totalmente sua missão de ser o próximo czar, no entanto como ele próprio diz em seu diário, após a morte de seu pai quando este contava com seus 26 anos, disse que não estava pronto para governar.

Desse ponto, inicio o relato a respei
to da curiosa figura deste soberano, o último czar da Rússia.

"A imagem de Nicolau II que domi
na a memória histórica é a de um governante fraco e ignorante, mal preparado para enfrentar os desafios de levar a Rússia a era moderna. Essa idéia foi sustentada pelo óbvio fracasso da monarquia autocrática durante a longa provação da Primeira Guerra Mundial, embora tivesse origem em opiniões mantidas antes da revolução por numerosos russos de mentalidade liberal. Uma piada da época dizia que a Rússia não precisava de uma monarquia limitada (isto é, constitucional), uma vez que já possuía um monarca limitado". (STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 19).

Casamento
e família:

Nicolau II casou-se em 14 (26) de nov
embro de 1894 com a princesa Alix de Hesse-Darmstadt (1872-1918), a qual passou a se chamar czarina Aleksandra Feodorovna. Juntos os dois tiveram ao todo cinco filhos: Olga Nikolaevna (1895-1918), Tatiana Nikolaevna (1897-1918), Maria Nikolaevna (1899-1918), Anastásia Nikolaevna (1901-1918) e o herdeiro ao trono o czarevich Aleksei (1904-1918). Nicolau fora um marido fiel e um pai devotado, profundamente amoroso com sua família. Ele costumava dedicar muitas horas de seu tempo vago a ficar com sua familia, seja realizando passeios a pé, a cavalo, de barco, pelos campos da Rússia; fosse jogando tênis (esporte preferido do czar), fazendo outros exercícios físicos, lendo histórias para seus filhos, e acompanhando sua família para as missas nos feriados religiosos e nas festividades civicas. Sua ligação com a familia era profunda, e despertava a imagem de um verdadeiro pai de familia, imagem esta que Nicolau queria passar para o seu povo através da ideia do czar'batiushka (czar-pai).

A educação da familía real não somente
adveio da filosofia de vida do czar, um homem profundamente moldado pela etiqueta da nobreza, a disciplina militar, o gosto pelo trabalho manual, a religiosidade e a erudição. A educação das grã-duquesas e do czarevich também fora influenciada por sua mãe. Antes de Aleksandra se converter ao catolicismo ortodoxo para se casar com Nicolau, ela era uma luterana devota, nascida no grão-ducado de Hesse-Darmstadt, o qual passou a fazer parte do Império Alemão a partir de 1865. No entanto, quando Aleksandra se mudou para a corte russa, ela era mais vista como uma rainha inglesa do que uma grã-duquesa alemã, devido a sua educação aos moldes ingleses, condição esta devido ao fato dela ser neta da rainha Vitória da Inglaterra.

A czarina era uma mulher profundamente religiosa, devotada a família e ao marido, além de ter sido benevolente e carinhosa, como testa as suas cartas para o czar e as amigas. Ela em especial gostava que os filhos fizessem algum tipo de atividade, dizendo que a ociosidade e a preguiça eram grandes maus para os homens.

"Olhando a sociedade russa através dessa lente moralista, Aleksandra considerava como intoleravelmente decadente o ambiente em que vivia. Fazia tudo o que lhe era possível para manter a família, em especial as filhas, longe das vidas 'ociosas e apáticas', 'das bisbilhotices tolas e frequentemente maldosas' e da 'doentiamente precoce... visão de vida' que notava entre os aristocrata russos e mesmo entre muitos membros da Casa dos Romanov". (STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 40 apud VIRUBOVA, Memories, 5, 79).



Da esquerda para direita: Olga, Maria, Nicolau, Aleksandra, Anastásia, Aleksei e Tatiana.

"Quando o esporte, o exercício e o trabalho eram atividades da família, mais agradáveis ainda e mais importantes se tornavam para ele. A família era um valor fundamental para Nicolau. Suas cartas transbordam de adoração pela esposa, os filhos, a mãe e os parentes, essa intimidade com a familia se manteve até o fim da vida". (STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 24).

Entretanto a vida com a familia não
fora um completo "mar de rosas", o seu único herdeiro ao trono, o princípe Aleksei sofria de hemofilia, e a salvação para a família real veio através de um misterioso e sinistro mistico chamado Rasputin.

Rasputin:

Grigori Yefimovich Rasputin (1864-1916) filho de uma família de pobres camponeses da aldeia de Pokrosvkoe, na provincia de Tobolsk, Sibéria. Ganhou fama como mistico vidente e curandeiro, passou a ser conhecido como homem santo (starets). Entretanto sua ligação com a familia real russa, se inicia por volta do ano de 1905 quando se ouve as primeiras menções de seu nome no diário do czar Nicolau II, no entanto Rasputin só iria ter uma maior importância para a familia real, após ter curado uma crise de hemofilia do jovem czarevich em 1907. Com a cura do principe, o czar e a czarina ficaram profundamente gratos com Rasputin, e essa gratidão cresceu nos anos seguintes, já que o mistico salvou a vida de Aleksei em 1912 e 1915. Dessa forma a czarina Aleksandra era profundamente grata a este homem o qual ela chamava-o de "homem de Deus". Mas, além de atuar como curandeiro, Rasputin também fora conselheiro do czar.

"Quando estou preocupado, em dúvida ou atormentado, basta que eu converse com Grigori durante cinco minutos para me sentir imediatamente tranquilizado e fortalecido". (STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 27, apud Ambassador's Memoirs, 1915, 2:93).

Os conselhos de Rasputin nem sempre
foram seguidos pelo czar, em alguns momentos ele fora totalmente contra suas opiniões, como exemplo esta a iniciativa da Rússia de entrar na Primeira Guerra e se aliar a Alemanha. Rasputin disse que não era viável a participação russa nessa guerra, e muito menos sua aliança com a Alemanha, ele até mesmo teria dito que os alemãs perderiam a guerra. Outro momento ocorre quando o czar decide em 1915 ir pessoalmente chefiar as tropas na guerra, Rasputin o aconselhou que ficasse na capital em Petrogrado (atual São Petersburgo), já que o povo se revoltava contra as grandes perdas de soldados no campo de batalha, e isso era utilizado pelos grupos revolucionários como forma de ganhar apoio para a derrubada do czar. Mesmo assim, motivado por um orgulho militar (algo do caráter de Nicolau, um homem profundamente influenciado pelo amor a farda e a conduta militar) decidiu ir liderar suas tropas.

Se por um lado, Rasputin de fato aju
dou a família seja salvando o herdeiro do trono e dando conselhos ao czar, por outro, a reputação tanto da corte como do próprio Rasputin fora manchada por boatos que se tornaram escandalosos na época. Dentre as histórias que eram espalhadas pelas ruas da capital, dizia-se que Rasputin era um homem devasso, que virava a noite em bebedeira e orgias, que dormia com prostitutas, que era amante da própria czarina, além dessa vida tida como devassa, também havia boatos que diziam que ele na verdade era um bruxo e havia enfeitiçado o czar, sua esposa e filhos, e dessa forma os manipulava. Todavia se tais boatos foram verdadeiros ou não em parte, isso acabou manchando toda a reputação da familia real perante o povo russo, que via como um ultraje associação de seus soberanos aquele homem devasso.

Tais boatos
foram piorando ao longo dos anos e isso acabou culminando em sua morte. Na noite de 16 para 17 (29 para 30) de dezembro de 1916, Rasputin fora assassinado pelo principe Feliks Iussupov, pelo nobre Vladimir Purishkevich, o grão-duque Dimitri Pavlovitch e mais dois homens homens de identidade desconhecida. As hipóteses sugerem que estes dois homens eram soldados russos, ou até mesmo espiões britânicos. De qualquer forma, Rasputin, fora espancado e alvejado, tendo o último disparo contra a sua cabeça. Seu corpo fora jogado num rio próximo a casa de Iussupov (local do crime), porém na manhã seguinte o corpo fora encontrado. O enterro fora realizado, mas misteriosamente, no ano seguinte, sua tumba fora arrombada, e o corpo desapareceu da história.

Governo:

Como já fora visto, quando Nicolau
II assume o trono em 1894 disse em seu discurso que não se sentia preparado para assumir o governo, fato este que fora difundido na história ao longo do século. Para alguns historiadores da época e posteriormente, viam em Nicolau um homem preocupado mais com sua vida familiar, em praticar esportes, passear, assistir paradas militares, ir a missa, e supervisionar as tropas, do que a liderança de seu império.

"O fato de Nicolau preferir remove
r com uma pá a neve de trilhas ou desfrutar a companhia da mulher e dos filhos a governar o país tem sido habitualmente interpretado como prova de seu desinteresse pela função de czar". (STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 24).

Por mas, que se diga que o czar não estava apto a governar, este tivera uma educação digna de um principe. Fora educado por generais, clérigos, politicos, nobres e os melhores professores da Rússia em: história, geografia, matemática, química, economia, política, finanças, direito internacional e civil, e a própria arte da guerra. Ele também sabia falar inglês, francês e alemão. Além dessa educação erudita, o czar fora educado nos preceitos do catolicismo ortodoxo russo. Sendo assim, ele possuia de fato um repertório que o condicionava a ser o líder de seu povo, porém lhe faltava a confiança em governar.

O governo de Nicolau II seguiu algu
ns preceitos iniciados por seu pai e seu avô, a defesa da autocracia russa, em se consolidar o governo imperial czariano, um profundo sentimento de nacionalismo (questão esta que gerou desavenças contra os judeus e alguns povos estrangeiros), uma defesa da honestidade dos politicos e a condenação da corrupção e da indolência, além de fato de efetuar a modernização do país que aconteceu de forma lenta nesses anos.

Entretanto me prenderei aqui a relatar alguns fatos importantes do governo de Nicolau. No inverno de 190
1-1902 era fundado o Partido Socialista Revolucionário. Enquanto o czar procurava consolidar sua imagem como soberano autocrata, o PSR procurava convencer o povo que a monarquia russa era tiranica e deveria ser deposta e substituida por um governo democrático e socialista. No entanto no ano seguinte, entre julho e agosto, ocorreu o Segundo Congresso do Partido Social Democrático dos Operários Russos, o qual acarretou em desavenças entre seus membros levando a cisão em duas facções, os bolcheviques (maioria) e os mencheviques (minoria). ambas as facções queriam depor a monarquia autocrática do czar Nicolau II, no entanto os bolcheviques defendiam uma ação mais radical se fosse preciso, e quanto aos mencheviques eram a favor de uma mudança moderada, antes de se implantar uma politica socialista. Vladimir Lenin se tornaria lider dos bolcheviques. Entre 1903 e 1904, outro grupo revolucionário fora fundado, a União da Libertação, organização que visava preceitos liberais.

"Regimes inseguros e prudentes evitam politicas externas temerárias. A Rússia czarista enveredou por este terreno, como uma grande potência (por mais que tivesse pés de barro) que insistia em desempenhar o que ela sentia ser o papel que lhe cabia na conquista imperial. O território escolhido fora o Extremo Oriente - a ferrovia transiberiana fora, em boa medida, construída para penetrar nesse território. A conquista russa esbarrou ali com a expansão japonesa, ambas às custas da China. [...]. Como a infeliz e gigantesca China enfrentara uma guerra contra o Japão, o Império Russo fora o primeiro a subestimar, no século XX, aquele formidável Estado". (HOBSBAWM, 1998, p. 410).

Ainda em 1904 eclodiu a Guerra Russo Japonesa (1904-1905), onde o Império Russo disputou com o Império Japo
nês, territórios na Coréia e na Manchúria (território pertencente hoje a China). A guerra que perdurou pouco mais de um ano, acarretou duras derrotas para os russos, derrotados pela eficiência e superioridade do exército japonês, tais derrotas levaram a irritação de parte da população que perdeu seus maridos e filhos nessa guerra desastrosa.

Fonte: A queda dos Romanov: A história documentada do cativeiro e execução do último czar russo e sua família.

"A guerra russo-japonesa 1904-1905, embora tenha matado 84 mil japoneses e ferido 143 mil, foi um rápido e humilhante desastre para a Rússia, ressaltando a fraqueza do czarismo". (HOBSBAWM, 1998, p. 410 apud The Ascendancy of Europe 1815-1914, 1972, p. 266).

Enquanto a guerra não chegava ao fim, a capital russa vivenciava uma onda avassaladora de greves operárias. "
A 5 de janeiro, 26 mil homens haviam parado de trabalhar. a 7 de janeiro, 105 mil, a 8 de janeiro, mais de 111 mil". (KOCHAN, 1968, p. 89 apud GAPON, 17-8, 23). Em 9 (22) de janeiro de 1905, ocorreu uma das tragédias mais marcantes do governo de Nicolau, o chamado episódio do Domingo Sangrento de 1905. Neste dia uma multidão de operários, liderados pelo padre e agente de policia Georg Gapon marchou em direção ao palácio de inverno em Petrogrado (São Petesburgo) para entregar uma petição ao czar, com algumas exigências, a respeito das condições de trabalho nas fábricas e um pedido pelo fim da guerra contra os japoneses. Entretanto o czar já com uma série de problemas, acabou ordenando que a guarda disparasse contra a multidão para dispersá-la, isso acabou vitimando algumas dezenas e deixando outras centenas de feridos, a marcha de iniciativa pacifica terminou tragicamente. Alguns membros de grupos socialistas, foram capturados, espancados e executados. A imagem do czar como czar'batiushka, o czar-pai do povo, fora profundamente manchada pelo resto de sua vida. Tal tragédia gerou para Nicolau entre os socialistas o epiteto de Nicolau, o Sanguinário. Se por um lado, alguns criticavam a falta de firmeza do czar perante seu governo, ele acabou agindo severamente de mais.

"A petição enumera a seguir certas exigências políticas e econômicas 'para superar a ignorância e a opressão legal do povo russo'. Estas se assemelhavam às que haviam sido apresentadas pelos trabalhadores de Putilov. Mas também incluíam exigências de educação universal e compulsória, liberdade de imprensa, associação e consciência, libertação de prisioneiros políticos, separação entre a Igreja e o Estado, substituição da tributação indireta por imposto de renda progressivo, igualdade perante a lei, abolição dos pagamentos pela redenção, crédito a baixa taxa de juros, transferência das terras para o povo, execução das ordens do Almirantado dentro e não fora da Rússia, e término da guerra com o Japão. Finalmente, a fim de impedir a opressão do trabalho pelo capital, a petição exigiu a abolição dos inspetores fabris, uma comissão permanente de trabalhadores para os representar em cada fábrica, liberdade para organizar cooperativas e sindicatos, liberdade de luta entre trabalho e capital e seguro estatal para os trabalhadores. (KOCHAN, 1968, p. 91-92).

O ano de 1905 ficaria conhecido para a história russa como a Revolução Russa de 1905. O incidente do Domingo Sangrento em janeiro fora o estopim para uma série de revoltas, manifestações e ataques por todo o império. Enquanto os soldados morriam na guerra contra os japoneses que só acabaria em meados do ano, conflitos entre o povo e a policia deixavam centenas de vitimas. Uma onda de greves, se espalhou pela nação até o fim do ano, somando-se a isso, se encontram manifestações dos grupos operários, de grupos estudantis, de grupos camponeses, militares e da própria elite erudita da época, todos queriam que mudanças fossem realizadas na poltica e nas leis do país.

"A revolução de 1905 foi, como disse
Lenin, uma 'revolução burguesa realizada por meios proletários'. 'Por meios proletários' talvez seja uma simplificação excessiva, embora o inicio do recuo do governo se tenha devido as greves maciças de trabalhadores na capital e às greves de solidariedade na maioria das cidades industriais do império [...]". (HOBSBAWM, 1998, p. 411).

Em 17 (30) de outubro o czar assina o Manifesto de Outubro, prometendo realizar reformas na politica, administração, legislação, economia etc. Tal ato contribuiu para apaziguar as revoltas e protestos, já que muitos vinham nisso o inicio para mudanças efetivas. Com a assinatura do manifesto, formou-se o chamado Partido Outubrista ou União de 17 de Outubro, o qual consistia num partido de caráter liberal e moderado que apoiava o governo do czar (posteriormente o partido se tornaria oposto a politica czariana durante a Primeira Guerra). Em novembro fora assinado o acordo de paz, pondo fim a guerra contra os japoneses.

"Com certeza, as agitações socialista
s da década de 1890 e as repercussões diretas ou indiretas da primeira Revolução Russa aceleraram a democratização. Contudo, qualquer que fosse o modo pelo qual esta avançava, entre 1880 e 1914 a maioria dos Estados ocidentais havia se resignado ao inevitável: a política democrática não podia mais ser protelada. Daí em diante, o problema foi manipulá-la". (HOBSBAWM, 1998, p. 128).

No ano seguinte, o czar convocou
a Primeira Duma (Assembleia Nacional Representativa), concedendo ao povo russo o direito de ser representado por um parlamento. Entretanto os membros do parlamento ainda eram escolhidos para seus cargos por ordem do czar, e além disso os partidos não chegavam a consensos entre si, e constantemente as reuniões acabavam em desavenças e brigas, por essa falta de decência, respeito e ética, Nicolau II entre abril e junho deste ano, dissolveu a Duma e nomeou um novo presidente para o Conselho de Ministros. Tal acontecimento gerou mais uma série de protestos e conflitos, levando a convocação de uma Segunda Duma, no entanto como a anterior, essa nova Duma não dera certo, e acabou sendo dissolvida também, no entanto, sua dissolução gerou algumas mudanças legislativas, que levaram a formação de uma Terceira Duma, a qual conseguiu permanecer e exercer seu mandato por cinco anos.


O czar Nicolau II discursa perante os membros da Duma


"Mesmo quando Nicolau concordou, em
fevereiro de 1905, em face de maciça agitação popular, em permitir que uma assembléia nacional representativa, ou Duma, fosse eleita e participasse da elaboração de leis, ele explicou essa decisão em termos tradicionais: não como aceitação de uma limitação constitucional ao seu poder autocrático pessoal, mas como reativação de um costume e como meio de ouvir melhor a voz do narod". (STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 31).

Em novembro de 1912 para 1913 se i
niciou o mandato e as atividades da Quarta Duma. O governo parlamentarista da Duma ajudou a amenizar os conflitos internos do país, mas não significou que fora de agrado para todos. A Quarta Duma fora um evento decisivo para a eclosão da Revolução Russa de 1917, se até então parte dos partidos que ali atuavam criticavam o governo czarista pela falta de uma maior independência de suas ações como parlamento nacional, os problemas que afetariam a nação ao longo da Primeira Guerra, colaborariam para que uma nova revolução fosse dada.



"O imperador de todas as Rússias é um monarca autocrata e ilimitado. O próprio Deus determina que o seu poder supremo seja obedecido, tanto por consciência como por temor." Assim dizia o Artigo I das Leis Fundamentais do império (publicada em 1892). Nicolau II, que ascendeu ao trono em 1894, estava decidido a fazer com que as coisas continuassem desse modo. Somente o tzar nomeava os membros do Conselho de Ministros, formado por uns dez integrantes. A ausência de qualquer doutrina ou prática de responsabilidade ministerial coletiva aumentava ainda mais o poder do tzar". (KOCHAN, 1968, p. 60).

1914-1918:

Os anos que vão de 1914 a 1918 ma
rcam alguns fatos históricos, tanto para a história mundial quanto para a própria Rússia. Primeiro, a deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914-1918); Segundo, a abdicação do czar Nicolau II em 1917; Terceiro, a Revolução Russa; Quarto, o cativeiro e a execução da família real, pondo fim de fato ao dominio dos Romanov e fim ao Império Russo, em 1918.

Com o inicio da guerra em 28 de julh
o de 1914, as maiores potências europeias se uniram em dois eixos e se puseram a lutar. Assim formou-se a Triplice Entente (Império Britânico, França e Império Russo) e as Potências Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro e o Império Turco-Otomano), a guerra a partir de 1917 teve a retirada da Rússia dos confrontos e a entrada dos Estados Unidos e outros países na batalha. Com o seu fim oficialmente proclamado em 11 de novembro de 1918, ela havia contribuido para a dissolução dos impérios alemão, russo, austro-húngaro e o império turco-otomano. No entanto não me prenderei aqui a relatar a participação russa na guerra, mas sim relatarei algumas das consequências geradas por esta decisão do czar Nicolau II de entrar na guerra.


Mapa com as alianças militares durante a Primeira Guerra Mundial durante o ano de 1915

Quando a Rússia entra na guerra, entra para defender seus territórios que foram postos em perigo pelos impérios rivais, além de uma série de questões de ordem diplomática, financeira e politica, alé
m destas questões, estava a própria ideia do czar de que a Rússia para se mostrar ao mundo como uma grande potência do século XX deveria entrar nessa luta. De fato, a Quarta Duma que governava, fora em grande parte contra a decisão do czar, alegando que a guerra traria maiores calamidades do que possiveis beneficios, por outro lado, como o czar era o último a dá a palavra, decidiu enviar seus exércitos para a guerra. O primeiro ano terminou com um enorme saldo de baixas entre as tropas russas, o mau desempenho dos soldados no campo de batalha, e o grande número de feridos e mortos, começou a surtir efeito na opinião pública e nas finanças do império.

Ainda em 1914
a Duma tentando controlar e amenizar esses prejuízos, criou o Comitê Provisório de Ajuda a Soldados Feridos e Doentes, a União das Zemstvos de Todas as Rússias, a União dos Conselhos de Cidades de Todas as Rússias (os quais em 1915 se fundiram e tornando-se União dos Zemstvos e Conselhos de Cidades de Todas as Rússias (Zemgor)). Tais propostas visavam viabilizar efetivas saídas para se resolver problemas que afligiam as cidades, os campos, e os soldados combatentes, como falta de comida, falta de roupas, falta de equipamentos etc.

Em 22 de agosto (4 de setembro)
de 1915, contrariando os pedidos de sua esposa, de seus conselheiros e ministros, Nicolau II decidiu ir pessoalmente liderar as tropas nas frentes de batalha, indo para o quartel-general em Mogilev. Para a oposição isso fora um momento decisivo que marcaria o inicio de sua sublevação. Os partidos socialistas criticaram seriamente o fato do czar deixar o governo do país que já sofria com problemas de abastecimento de comida, de produção fabril, problemas financeiros etc, para ir comandar as tropas, por causa de seu ego como militar. Nicolau tendo servido o exército na juventude era um admirador profundo da disciplina militar, e com a Primeira Guerra, ele quis reviver os velhos tempos de glória quando os czares russos iam liderar suas tropas em período de guerra. Com o afastamento de Nicolau, as questões politica em parte foram incumbidas a czarina Aleksandra a qual contava com os conselhos de Rasputin.

"A descrição de um importante homem historiador da Rússia reflete acuradamente a opinião de muitos c
ontemporâneos: 'Uma mulher mentalmente limitada, reacionária, histérica e um camponês ignorante e esquisito... tinham nas mãos os destinos de um império'". (STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 51 apud RIASANOVSKY, 1993, p. 421).

O afastamento do czar em um mome
nto conturbado da história russa, fora uma escolha perigosa, que acarretaria em consequências drásticas que levariam a oposição a tentar uma nova revolução para depor a monarquia autocráta de Nicolau II.

"A deflagração da guerra acalmou te
mporariamente o protesto político e social, focalizando o ressentimento no inimigo externo. A frágil unidade patriótica, porém, pouco durou. Prolongando-se, a guerra exacerbou a maioria dos problemas da vida russa. A economia lutava para funcionar em uma guerra que mobilizava volumes sem precedentes de recursos humanos e materiais. Carências de todos os tipos tornaram-se epidêmicas - de equipamentos e suprimentos militares, combustível e matérias-primas para as fábricas, a alimento para as cidades e as tropas e os preços dispararam". (STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 51).

Nas fábricas de armamento, o trabalho dobrara ao longo da guerra, muitos trabalhavam várias horas extras, e sem receber por isso. Em outros tipos de fábricas, ocorreu o oposto, ao invés de se trabalhar mais, os operários estavam trabalhando menos, devido a falta de matéria-prima para seu oficio, assim eles recebiam menos, ou o salário atrasava, e consequentemente, os altos custos gastos na guerra, fizera as finanças do país despencarem, e consequentemente os impostos subirem para contrabalançar esse problema. Com a subida dos impostos, os produtos se tornaram tão caros, que algumas famílias não tinham condições de comprar o próprio pão de cada dia, isso levou a uma onda de revoltas, assaltos, incêndios, badernas, assassinatos etc, a confusão se instaurara pelo país. O governo pôs a policia nas ruas para acalmar os ânimos de uma sociedade que se via no limite. Com isso, em 18 (31) de dezembro de 1916 o czar retornou para Tsarkoe Tselo (palácio que ficava próximo a São Petersburgo. Nicolau preferia morar ali com a família, porque não gostava dos "ares" da capital).

De volta ao poder, já no ano segui
nte uma nova leva de protestos começaram a acometer o país a partir de fevereiro (março). A oposição da Duma as suas medidas de repressão, levou o czar a suspender os trabalhos da Duma em 27 de fevereiro (12 de março), tal acontecimento levou aos membros da Duma a formar emergencialmente o Comitê Provisório da Duma e do Soviete dos Representantes dos Operários. E ao mesmo tempo o Conselho de Ministros apresentavam sua renúncia ao czar, o qual se recusou a aceitá-la. Com tais decisões, iniciou-se a chamada Revolução de Fevereiro, a qual ficaria conhecida como a Revolução Russa de 1917. Nessa primeira etapa no dia 2 (15) de março de 1917, o Comitê Provisório votou pela formação de um Governo Provisório, e no mesmo dia o czar Nicolau II oficialmente abdicou-se do trono, em seu nome e no nome de seu filho Aleksei, escolhendo o seu irmão o Grão-duque Mikhail Aleksandrovich Romanov (1878-1918) para assumir como novo czar.

Abdicação:

Nos idos de março, ficou evidente
para Nicolau II que já não tinha formas de ainda se manter no poder. O Governo Provisório votado pela Duma, a qual nessa época contava coma predominância dos mencheviques e seus partidos aliados. O czar sabia que muitos estavam contra ele, e se ele tentasse persistir no mandato poderia correr risco de vida, e também por sua própria família em perigo, sendo assim ele nomeia seu irmão como sucessor, na tentativa de que a Duma votasse pela escolha de uma monarquia parlamentarista, e conservasse a realeza.




Manifesto de abdicação ao trono de Nicolau II, 2 de março de 1917.

Quartel-general

Ao Chefe do Estado-maior:


Nestes dias de grande luta contra um inimigo externo, que há quase três anos vem tentando escravizar nosso país, o Senhor Deus julgou conveniente impor à Rússia uma nova e dura provação. As perturbações populares internas em andamento ameaçam produzir um efeito catastrófico sobre o andamento futuro da guerra implacável. O destino da Rússia, a honra de nosso heróico Exército, o bem do povo, todo o futuro de nossa querida pátria mãe exigem que a guerra seja levaa, a qualquer preço, a uma conclusão vitoriosa. Um inimigo cruel está convocando suas últimas forças e aproxima-se a hora em que nosso valente Exército, juntamente com nossos renomados aliados, poderão esmagar inteiramente o inimigo. Nestes dias decisivos para a vida da Rússia, NÓS consideramos um dever de consciência facilitar a estreita união de NOSSO povo e a convocação de todas as forças populares, a fim de obter a vitória com tanta rapidez quanto possível e, em acordo com a Duma do Estado Russo e entregar o poder supremo. Não desejando separar-nos de NOSSO amado filho, NÓS designamos como NOSSO sucessor NOSSO irmão, NOSSO Grão-Duque MIKHAIL ALEKSANDROVICH, e abençoamos sua ascensão ao Trono do Estado Russo. Encubimos NOSSO irmão de conduzir os assuntos do Estado em união completa e inabalável com os representantes do povo nas instituições legislativas, de acordo com princípios que elas determinem, e sobre isso fazer um juramento inviolável. Em nome de nossa pátria mãe profundamente amada, apelamos a todos os seus filhos fiéis para que cumpram seu sagrado dever com esta terra, em obediência ao czar, neste difícil momento de tribulações nacionais e que O ajudem, juntamente com os representantes do povo, a levar o Estado Russo ao longo do caminho da vitória, da prosperidade e da glória. Que o Senhor Deus ajude a Rússia.


Nicolau

Cidade de Pskov 2 de março (15h) de 1917
Ministro da Corte Imperial, general-ajudante conde Frederiks

Fonte: A queda dos Romanov: A história documentada do cativeiro e execução do último czar russo e sua família. p. 103.



Ato (manifesto) da abdicação de Mikhail Aleksandrovich Romanov ao trono, 3 de março de 1917.

Por vontade de meu irmão, um pesado fardo me foi imposto, quando fui designado para assumir o Trono Imperial de Todas as Rússias em uma época de guerra e de agitação popular sem precedentes.
Inspirado, como todo povo, pelo pens
amento único de que o bem de nossa pátria mãe está acima de tudo, resolvi, com firmeza, assumir o poder supremo popular, através de seus representantes na Assembléia Constituente, a criar uma forma de governo e novas leis básicas para o Estado Russo.
Por conseguinte, implorando as bên
çãos de Deus, peço a todos os cidadãos do Império Russo [Derzhava] que obedeçam ao Governo Provisório, que surgiu por iniciativa da Duma do Estado e foi investido de plenos poderes, até a ocasião em que a Assembléia Constituente expresse a vontade do povo a respeito de sua forma preferida de governo, após ser convocada no prazo mais curto possível e mediante votação geral, direta, igual e secreta.


Mikhail

3 de março de 1917 Petrogrado

Fonte: A queda dos Romanov: A história documentada do cativeiro e execução do último czar russo e sua família. p. 106.

Em 3 (16) de março, Mikhail r
ecusou a aceitar se tornar o próximo czar. Em 7 (20) de março o governo sentencia o ex-czar e sua família a cárcere privado no palácio em Tsarkoe Tselo.

Lenin:

Vladimir Ilitch Ulianov (Lenin)
(1870-1924) retornou para a
Rússia no mês de abril entre os dias 20 e 21 (3 e 4 de maio) de 1917, vindo de seu exílio em Zurique na Suíça. Com o seu retorno a Petrogrado ele publicou as Teses de Abril, onde apontava que o o Governo Provisório era um governo formado e voltado para a burguesia. Ele também em suas teses, pedia que o poder passasse para os soviets, o fim da guerra, reforma agrária, controle das indústrias pelos conselhos operários etc. Lenin ao retornar se tornou líder dos bolcheviques, os quais lutariam para levar a Rússia para um caminho diferente o qual era proposto pelos mencheviques, ao invés de criar uma república feita e voltada aos interesses burgueses, os bolcheviques queriam implantar o socialismo para a eventual transição para o comunismo. Com o retorno de Lenin e a retomada das investidas bolcheviques pelo poder, uma série de conflitos, greves, revoltas, crises, poriam a nação em uma guerra civil, que perduraria até o fim do ano.

Em 3-24 de junho (16 de junho a 7 de julho) o Primeiro Congresso dos Sovietes de Representantes de O
perários e Soldados de Todas as Rússias elege o Comitê Executivo Central (VTsIK). Com a formação do comitê oficialmente os mencheviques passavam a deter o Governo Provisório. Os bolcheviques nos meses seguintes contra-atacaram, e isso gerou uma série de confusões pelo país, o próprio Lenin chegou ao ponto de ser preso, acusado  de está espionando para os alemãs, algo que que veio gerar o caos na nação. Com isso Lenin teve que novamente sair do país e se refugiar na Finlândia. Após meses de conflitos, os bolcheviques decidiram dá o golpe final sobre o governo, isso viria ocorrer no mês de outubro, ficando conhecido como a Revolução de Outubro.

Contando com o apoio de Trotsky e
m Petrogrado e suas conexões em Moscou, além do apoio de Stálin, Sverdiov e outros, os bolcheviques planejaram um ataque a capital.

"A insurreição, dirigida a partir do Instituto Smolnii, iniciou-se em 24 de outubro (6 de novembro). A Guarda Vermel
ha, apoiada pelo cruzador Aurora, invadiu o Palácio de Inverno e, depois, prendeu os membros do governo provisório. Em 25 de outubro (7 de novembro), Petrogrado foi tomada, o mesmo ocorrendo com Moscou, em 2 (15) de novembro". (LAROUSSE, 1998, v. 20, p. 5040).

Em 26 de outubro (8 de novemb
ro) o Congresso dos Soviets aprovou a formação do Conselho dos Comissários do Povo (SOVNARKOM), dirigido por Lenin. O conselho pôs oficialmente os bolcheviques a frente do poder nacional, entretanto os mencheviques e outros partidos da oposição ainda lutariam contra os bolcheviques nos próximos anos. Finalmente em 18 de janeiro (31 de janeiro) de 1918 o III Congresso Panrusso dos Soviets, votou a favor da formação da República Socialista Federativa da Rússia, a qual em 1922 se tornoria a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Prisão e morte:

Enquanto o país vivenciava conturbad
os momentos pela disputa do governo, o ex-czar e sua família foram mantidos em prisão em Tsarkoe Tselo. Em 9 (22) de março de 1917 a pedido de Nicolau, o Governo Provisório atende sua solicitação de conceder-lhes asilo para ele e sua família na Inglaterra. O rei Jorge V, era primo de Nicolau e Aleksandra, além disso havia a questões diplomáticas entre os dois países, que garantiam tal pedido. Nicolau pediu asilo temporário, até o fim da Primeira Guerra, e depois retornaria para a Rússia com sua família. De inicio o governo concordou, porém logo que os boatos sobre uma possivel "fuga" do ex-czar e sua familia para outra nação, elevou os ânimos de seus inimigos, parte do povo russo queria ver o ex-czar preso ou morto. Com esse fato, a viagem que se iniciaria no porto de Romanov (Murmansk) fora suspensa, não apenas pelo governo que mudou de ideia, mas pelo povo, que cercou estradas e ferrovias para impedir a viagem da família real.

"A vida da família e seu séquito no cativeiro em Tsarkoe Tselo, especialmente após a nomeação de Kobilinski como comandante, caracterizou-se acima de tudo pela monotonia tranquila e tediosa".
(STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 122).

Enquanto estavam presos ao palácio e seus domínios, Nicolau, sua esposa, filhos e alguns parentes e amigos, trabalhavam na propriedade do palácio o qual contava com uma horta, cortavam lenha, retiravam a neve dos caminhos, as mulheres bordavam e costuravam, eles passeavam, jogavam, liam, contavam histórias etc. As crianças tinham aulas particulares, e tanto Nicolau como Aleksandra liam jornais diariamente para saber a respeito de como ia o governo. Em alguns momentos, a vida deles não fora tão tranquila, já que nem todos os funcionários que tomavam conta da familia e os vigiavam eram amigáveis, e alguns faziam questão de mostrar seu ódio ou repulsa pelos Romanov.



No entanto os constantes conflitos na cidade e no país, não só punha em risco a vida dos cidadãos, mas dos próprios Romanov, os quais corriam risco em caso do povo se rebelasse e invadisse o palácio, já que muitos os odiavam e os culpavam por todas as desgraças que a Rússia estava vivendo. O governo temendo mais revoltas e retaliações, algo que como descreve Steinberg; Khrustallëv [1996], o Estado temia que algo parecido com o que houve com o rei e a rainha de França durante a Revolução Francesa viesse a ocorrer na Rússia, que a revolução acabasse se perdendo em seu rumo, e gerasse um caos ainda maior. Para se evitar isso, fora decidido a transferência de Nicolau e sua família em 1 (14) de agosto para Tolbosk na Sibéria, como forma de afastar-los dos perigos que rondavam a capital.

As fotografias abaixo retratam alguns dos momentos da família em Tsarkoe Tselo. A imagens foram retiradas do livro A queda dos Romanov, dos capítulos 3 e 4. (clique nas fotos para ampliá-las e ler a legenda).


Partindo de Tsarkoe Tselo, o trem levava a família real, 39 cortesãs, funcionários, empregados, e mais de 300 soldados bem armados para realizar a escolta dos Romanov até seu próximo ponto de parada. Temendo que a família real pudesse ser atacada no caminho, o governo não apenas providenciou esta escolta militar, mas, criativamente, disfarçou o trem no qual eles viajavam com os simbolos da Missão da Cruz Vermelha, além disso, o trem portava uma bandeira do Japão. Com esse disfarce, a familia estaria um pouco mais segura de eventuais desconfianças, mesmo assim, antes de chegarem a Tobolski, boatos já circulavam por Petrogrado, Moscou e outras cidades, dizendo que o governo havia transferido os Romanov sem o povo saber.

A família seguiu de trem até a cidade de Tiumen, lá eles continuaram a viagem de navio pelos rios Tura e Tobol, e no caminho avistaram a aldeia de Pokrosvkoe, terra natal de Rasputin. Em 6 (19) de agosto pela noite, a família real chega finalmente a Tobolski, onde passam a residir na casa do governador, local que fora cercado com duas cercas, além de contar com guaritas de vigia, e vários guardas armados. Mesmo com todo esse ar de cadeia, as acomodações eram dignas da nobreza.

"O maior de todos os fardos do confinamento era o tédio, embora os membros da família tudo fizessem para evitar a ociosidade e o enfado. Cortavam e serravam madeira; Aleksandra, às vezes acompanhada pelas filhas, costurava; jogavam damas e cartas; liam; as crianças recebiam aulas; e a familia representava peças teatrais, principalmente inglesas e francesas".
(STEINBERG; KHRUSTALËV, 1996, p. 123).

Os Romanov passariam o restante do ano presos em Tobolsk, onde ficaram sabendo da Revolução de Outubro em novembro, e posteriormente, da ascensão dos bolcheviques ao poder, onde Lenin se tornou o primeiro presidente da nova república russa. Em 20 de fevereiro de 1918 o SOVNARKOM (Conselho dos Comissários do Povo) decide iniciar o julgamento de Nicolau. Em 6 de abril, o presidium do VTsiK, ordena a transferência do ex-czar e sua família para os Urais (cadeia de montanhas que divide a Rússia). Entre o governo bolchevique houve divergências quanto ao destino a ser dado a família real, uns queriam lhe conceder o exilio politico, outros queriam manter-los presos, e outros queriam ver-los mortos. Devido a estes problemas, fora necessário a transferência da família.

Em 30 de abril eles chegam a Iekaterinburg, onde passam a residir na casa Ipatiev, onde permaneceriam até o dia de sua morte. Sob a guarda do novo governo, Nicolau e os demais foram privados de vários privilégios, passaram a ter refeições iguais a dos soldados, foram proibidos de fazer passeios em determinados locais, eram proibidos de usarem certos adereços e roupas, eles passaram a ser tratados mas, como prisioneiros propriamente dito.

Em 23 de maio, outros membros da familia real chegaram a Iekaterinburg, mas são mantidos presos em outros locais, indo alguns para prisões convencionais. Em 12-13 de junho, Mikhail Aleksandrovich em uma fuga forjada, acaba sendo assassinado. Em 16 de junho o governo vota a favor da pena de morte.




Telegrama da organização dos bolchevistas do distrito de Kolomna ao SOVNARKOM, exigindo que Nicolau e seus parentes fossem executados, 3 de julho de 1918.


Recebido em 4 de julho de 1918, às 10:06h
Procedência Petrogrado, Kolomna

A organização dos bolchevistas de Kolomna resolveu, por unanimidade, exigir que o SOVNARKOM destrua-o [Nicolau] imediatamente, a família e parentes do ex-czar, porque a burguesia alemã, juntamente com a burguesia russa, está restabelecendo o regime czarista em cidades capturadas. [No] caso [o SOVNARKOM] se recuse [a assim proceder], resolvemos cumprir este decreto usando nossas próprias forças.



Comitê dos Bolchevistas do
Distrito de Kolomna

Fonte: A queda dos Romanov: A história documentada do cativeiro e execução do último czar russo e sua família. p. 298.

Sob ameaças vindas de vários lados, em que se cogitava a morte do ex-czar e sua familia, ou se cogitava o seu resgate por grupos revolucionários da oposição, o governo de Lenin se viu pressionado novamente, assim, na noite de 16 para 17 de julho fora expedido a ordem de se executar os Romanov. Yakov Yurovsky fora o responsável por coordenar a execução. Eles foram fuzilados e golpeados por baionetas.

Nicolau, 50; Aleksandra, 46; Olga, 22; Tatiana, 21; Maria, 19; Anastásia, 17; Aleksei, 13. Além dos sete, foram no mesmo dia também executados o médico da familia, o doutor Eugene Botkin e mais três empregadas. No dia seguinte na cidade de Alapaevsk nos Urais, vários outros nobres que estavam presos, também foram executados.

A morte de Nicolau e de sua família ainda permaneceu um mistério para o povo russo, o governo não divulgou sua decisão, temendo retaliações das nações estrangeiras, além da ameaça de grupos contra-revolucionários, que haviam ameaçado de invadir os Urais e resgatar o ex-czar e sua família. De qualquer forma, passado esses primeiros dias, fora se divulgado oficialmente a morte de Nicolau, mas em alguns casos, fora dito que apenas ele morreu, e sua família fora transferida para outro lugar, tais boatos permaneceram pelos anos seguintes, já que os corpos não foram encontrados, uma série de especulações foram fundamentadas sobre isso.


Em 1991, os restos mortais de Nicolau, esposa e filhos foram encontrados nas redondezas de Iekaterinburg. Anos antes, em 1981, a Igreja Ortodoxa Russa havia canonizado Nicolau e sua família, os santificando como santos mártires. Em 2007 mais dois corpos foram descobertos a poucos metros da cova que encontram o Nicolau e sua familia. Por fim o mistério dos filhos desaparecidos fora resolvido, nesta segunda cova, estavam os restos mortais de Aleksei e de Anastásia.

NOTA: Até 1 de janeiro de 1918, antes a Rússia utilizava o calendário juliano, o qual consta com menos 12 dias em relação com o calendário gregoriano utilizado hoje em dia pelo mundo ocidental e países sobre sua influência. No entanto a partir de 1900, o calendário juliano passou a constar com uma diferança de 13 dias.
NOTA 2: O esporte preferido de Nicolau era o tênis. E quanto a suas matérias escolares preferidas, eram história e geografia, as quais ele gostava de dá aula para seus filhos.
NOTA 3: A partir de 1907, Rapustin passou a adotar o nome de Nóvykh.
NOTA 4: Nas cartas que o czar trocava com sua esposa, era comum esses se chamarem por apelidos, principalmente Nicky (apelido de infância) e Sunny (apelido de infância).
NOTA 5: São Petesburgo (Petrogrado) fora fundada pelo czar Pedro, o Grande em 1703. Pedro era o czar que menos agradava Nicolau na história russa, tal fato fica evidente pela oposição de Nicolau em morar em Petrogrado.
NOTA 6: Em março de 1918, a capital russa é transferida de São Petesburgo para Moscou onde está até hoje.
NOTA 7: Em 1935, Trotsky em seu exílio, escreveu que na verdade a ordem para se executar Nicolau e sua família não veio do governador soviet dos Uruais, mas sim do próprio Lenin e de Sverdlov.
NOTA 8: O Império Russo, defendia a ideia de que Moscou era a terceira Roma, e que eles era descedentes do Império Romano, fato este que o próprio imperador se chamar czar ou tsar (césar).
NOTA 9: Os Romanov governaram a Rússia de 1613 a 1917.
NOTA 10: Entre os mistérios que cercaram a morte dos Romanov, um que perdurou ao longo do século, envolvia a grã-duquesa Anastásia, a qual boatos na época diziam que ela estava viva, e até se descobrirem os corpos na década de 90, alguns realmente achavam que que Anastásia pudesse estar viva.
NOTA 11: O desenho animado Anastasia (1997) retrata a suposta história na qual a grã-duquesa tivesse sobrevivido. Na história, Rasputin é o vilão.
NOTA 12: Nicolau era muito parecido com o seu primo o rei Jorge V do Reino Unido. A semelhança absurda, parece levar a pensarmos que fossem irmãos gêmeos, como se pode ver no link mais abaixo.

Referências Bibliográficas:
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 17, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural
,
v. 20, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural
, v. 21, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios: 1875-1914. 12 ed, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1998.
KOCHAN, Lionel. Origens da Revolução Russa (1890-1918). Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1968.
STEINBERG, Mark D; KHRUSTALËV, Vladimir M. A queda dos Romanov: A história documentada do cativeiro e execução do último czar russo e sua família. Tradução: Ruy Jungmann, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1996.

Referências audiovisuais:
Arquivos Confidenciais: Rasputin (Mystery Files: Rasputin). [documentário-video]. Produzido pela Parthenon Entertainment Ltd. 23 min, color, som, 2010.
Arquivos Confidenciais: Os Romanov (Mystery Files: The Romanov). [documentário-video]. Produzido pela Parthenon Entertainment Ltd. 23 min, color, som, 2010.


Link relacionado:
Ivan, o Terrível - O primeiro czar

LINKS:
http://alexanderpalace.org/palace/ (inglês)
http://www.nicholasandalexandra.com/ (inglês)
Teses de Abril
http://www.pstu.org.br/campanha_lenin.asp
Palácio de Catarina - wikipédia
Foto de Nicolau II e Jorge V
Família Real Russa como santos mártires