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Leandro Vilar

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Mar, o Prodígio e o Surdo

Neste texto procurei falar um pouco da vida e obra de três dos maiores compositores e músicos da história da música clássica e da própria história da música; Johann Sebastian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven. 

O Mar

"Bach não é um riacho, mas um mar"
Ludwig van Beethoven

Johann Sebastian Bach nasceu no seio de uma tradicional família de músicos originários da Turíngia, Alemanha. A Família Bach se dividia em quatro ramos, Meiningen, Erfurt, Francônia e Arnstadt. Sendo que Johann pertencia ao terceiro ramo. Sua família já se encontrava inserida no ramo da música desde o século XVI, pelo que é conhecido.

Seu avô, Christoph Bach (1613-1661), fora músico da corte e da cidade em Weimar, Pretin, Erfurt e Arnstadt. O cargo de músico da corte era uma posição honorifica e de prestígio, embora não fosse um ofício para enriquecimento, assim como os Beethoven descobririam. Christoph tivera dois filhos, ambos seguiram a carreira musical. 

Johann Ambrosius Bach, pai de J. Sebastian.
Em 1685 em Eisenach, nasceu Johann Sebastian, filho de Johann Ambrosius (1645-1695). Seu pai fora violenista e altista em Erfurt em 1667 e posteriormente  tornou-se músico da corte e da cidade em Eisenach em 1671. J. Ambrosius casou-se em 1668 com Maria Elisabetha, com quem tivera oito filhos, sendo quatro destes músicos. Assim, Sebastian possuiu três irmãos que eram também músicos, além do próprio pai, avô, tio e bisavô. 

Johann Sebastian Bach (1685-1750).



Vivendo em um meio tradicionalmente voltado para a formação de músicos, o jovem Sebastian, filho caçula do casal, logo apresentou talento e interesse por arte, e ainda cedo, Sebastian ingressou no mundo da música. Durante sua infância, Sebastian aprendeu a tocar instrumentos de cordas, como violino, violão e piano. Aos oito anos ingressou na Escola Latina, na escola ele despertou o interesse dos professores, e logo fora cogitado para ser cantor do coro escolar. Sebastian se tornou um dos mais jovens e prodigiosos sopranos infantis da cidade e da História alemã, diziam que sua voz de criança era angelical. Ele posteriormente também passou a cantar no coro da Congregação de São Jorge.

Quando completou nove anos, uma dura noticia o acometeu, Sebastian perdeu a mãe e o pai no mesmo ano, vitima de epidemias que assolavam a região e o país. Anos antes, ele havia perdido dois irmãos. Tendo ficado, órfã, ele fora entregue aos cuidados de um dos seus irmãos mais velhos Johann Christoph, o qual o levou para morar consigo na cidade de Ohrdruf. Bach passou os cinco anos seguinte morando com seu irmão, matriculou-se na escola local, e se tornou o melhor aluno da classe, além de também conseguir um emprego como cantor em um coral local. Por volta de 1700, aos 14 anos, Bach viu uma chance imperdivel, ele ouviu histórias que na cidade de Lüneburg os jovens músicos tinham grandes chances de crescerem e ficarem famosos. Assim, ele partiu para Lüneburg em companhia de um amigo, e contando com o dinheiro de uma bolsa de estudos que conseguiu em sua escola, tudo isso graças ao seu talento musical e suas boas notas.


Na nova cidade, Sebastian passou a contar com ajuda do dinheiro para viver em um quarto de aluguel, e não tardou para conseguir emprego no coro da Igreja de São Miguel, além de fazer uns "bicos" como cantor em casamentos, festas, funerais, etc. Nessa época, além de prosseguir com a carreira de músico, ele também aperfeiçoava suas habilidades instrumentais, e já começava a conceber suas primeiras composições. 


Em 1702, Sebastian concluiu os estudos, e preparava-se para ingressar na universidade, contudo, o ensino superior não lhe atraia naquela época, ele tinha a pretensão e o sonho de prosseguir com sua carreira de músico, e logo isso se tornou realidade quando em 1703, ele fora nomeado por um dos dois duques de Weimar, violinista da corte, e posteriormente, nomeado organicista em São Bonifácio de Arnstadt. Sebastian mau contava com seus dezoito anos, e já trabalhava para a nobreza alemã. Nessa época, sua carga de trabalho diminuiu razoavelmente, logo ele se tornou professor de canto, dando aulas para os coros nas igrejas, e dedicou-se mais tempo a composição. Em 1705, ele percorreu 50 km a pé para ver e ouvir o famoso Buxtehude tocar órgão em Marienkirche na Igreja de Maria.


Aos 20 anos, Sebastian se mudou para Mühlhausen, onde recebera a proposta de trabalhar como professor e coordenador dos coros e orquestras da cidade (Blasiuskirche). No mesmo ano, casou-se com sua prima, Maria Bárbara Bach (1684-1720), com quem tivera sete filhos, sendo que três morreram durante a infância. Sebastian, permaneceu menos de um ano em Mühlhausen, frustrado com o baixo salário e com os empecilhos locais, que prejudicavam sua meta de fazer a cidade se tornar um centro da música na região, demitiu-se e mudou-se com a família em 1708 retornando para Weimar. 


De volta a Weimar, Sebastian fora acolhido pelo novo duque da cidade, Wilhelm Ernest, o qual o nomeou violinista e organicista da corte. Além disso, ele também continuou a trabalhar como compositor e professor. Ainda no mesmo ano, nasceu sua primeira filha, Catarina Dorathea (1708-1774),  dois anos depois, nasceu seu primeiro filho, Wilhelm Friedemann (1710-1784) o qual se tornou músico, em 1713 nasceram os gêmeos Johann Christoph e Maria Sophia, natimortos. Em 1714, nasceu, Carl Phillipp Emanuel (1714-1786), o qual também se tornara músico. No ano seguinte, nasceu Johann Gottfried Bernhard (1715-1739) e posteriormente Leopold Augustus (1718-1719).



Wilhelm Friedemann Bach, um dos filhos músicos de Sebastian.

Durante estes sete anos, Sebastian construiu muitas amizades importantes e influentes, além de consolidar sua carreira como músico de renome. Em 1716, o diretor musical de Weimar faleceu, Sebastian acreditava que ele assumiria o cargo, mas para sua surpresa, o filho do diretor fora o escolhido. O homem se mostrou um incompetente no cargo, Sebastian indignado, decidiu aceitar o convite do príncipe Leopold von Anhalt, e fora trabalhar para este em Köthen, onde se tornou músico da corte, e assim permaneceu no cargo de 1717 até 1723. Nessa época, compôs várias músicas para o órgão, violino e violoncelo, como forma de suprir a falta de músicos nesses instrumentos. 

Em 1720, enquanto estava em viagem de trabalho, sua esposa, Maria Bárbara faleceu de forma misteriosa. No ano seguinte, ele conheceu a cantora Anna Madalena Wülcken com quem se casou ainda em 1721, com quem tivera apenas um filho, Johann Christian (1735-1782), o qual se tornou-se músico e compositor. Terminado seu contrato com o príncipe em 1723, ele se mudou com a família para Leipzig onde residiria até o final da vida. Em Leipzig assumiu os cargos de kantor e diretor musical da cidade, além de continuar trabalhando como compositor e professor. Tornou-se kantor da Igreja de São Tomás até o fim da vida.



Igreja de São Tomás, Leipzig, Alemanha.

"Ali lecionou na Thomasschule, organizou a música de culto nas igrejas de São Nicolau, São Mateus e São Pedro, dirigiu o Collegium Musicum fundado por seu amigo Telemann; compôs cantadas e paixões para os serviços religiosos". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 578). 


Orgão da Igreja de São Tomás, onde Bach se apresentou algumas vezes.

Em 1741, fora convidado pelo rei Frederico II da Prússia para ir a Postdam, lá compôs algumas músicas encomendadas pelo próprio rei, além disso, seu filho Carl Philipp Emanuel era cravista na cidade. Nessa época, Bach estava ficando cego, ele tentou nos anos seguintes encontrar uma cura para sua doença, mas como ainda hoje, a cegueira, é uma doença que ainda não possui cura, nesse caso, quando morreu em 1750 aos 65 anos, já estava quase que completamente cego. Mesmo assim, conseguiu terminar sua obra Oferenda Musical e deixou inacabada a Arte da Fuga, e ainda conseguiu testemunhar o nascimento de seu primeiro neto, Johann August. Em seus últimos dias de vida, já quase sem enxergar, Bach estava deitado na cama de sua casa em Leipzig, enquanto ditava para seu genro, Altnikol, seus últimos corais. 


Rei Frederico II da Prússia, um dos mecenas de Bach.

"Bach trabalho todos os gêneros com exceção da ópera. Toda a sua música é funcional e de encomenda, correspondendo aos três aspectos de sua carreira: o musicista de igreja, o homem de corte, o professor". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 578).

Como compositor sacro, Bach deixou um vasto e rico repertório de corais harmonizados, oratórios, paixões, como São João (1723) e São Mateus (1729), motetos, cantatas profanas, para o culto católico, compôs Magnificat (1723) e uma missa em si menor (1724-1747). Deixou mais de 145 composições instrumentais para órgão, cravo, violino, violoncelo, flauta, etc. Compôs também, prelúdios, tocatas, fantasias, fugas, partitas e variações, para orquestras. 

Como compositor da música profana (designação dada a música comum, não ligada a temas religiosos), destinou-se sua criatividade principalmente ao cravo (instrumento de teclas, parecido com um piano), onde compôs invenções e sinfonias, suítes franceses, suítes inglesas, partitas, dois volumes de Cravo bem-temperado, Concerto Italiano, Fantasia cromática, etc. Também compôs para o violino, viola de gamba, violoncelo solista e flauta. 


"Como teórico, Bach mostrou toda a sua extensão de sua ciência da escrita com as Variações Canônicas, a Oferenda Musical, a Arte da Fuga. Bach é o representante de uma arte internacional. Assimilador de gênio, não criou novas formas, mas ampliou e transcendeu as de seus predecessores. Herdeiro de vários séculos de polifonia, imprimiu a marca alemã ao moteto, ao prelúdio e à fuga, ao coral e à variação. Sente-se nele a proximidade dos italianos, que ele tanto admirou, na escolha de suas melodias, no tratamento da sonata e do concerto; a França inspirou-lhe um certo tom de nobreza nas aberturas, o gosto pela ornamentação, o sentido do divertimento na suítes de danças". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 578). 


A obra de Bach fora tão vasta e monumental, que Beethoven uma vez dissera em um trocadilho "Bach não é um riacho, mas um mar", tal trocadilho se deve ao fato de que o nome Bach, significa "riacho" em alemão, e para Beethoven e outros músicos da época, a obra de Bach era tão vasta e grandiosa como o mar. 



Túmulo de Johann Sebastian Bach na Igreja de São Tomás.

Bach deixou um enorme legado para a história da música erudita, embora muitos o desconheçam, e lembrem-se mais de Mozart e Beethoven, Johann Sebastian Bach fora tão grande como estes, e de fato os próprios Mozart e Beethoven possuíam um profundo respeito e admiração pela obra deste homem. 


"O que tenho a dizer sobre a obra de Bach? Ouçam-na, toquem-na, amem-na – e calem-se!"
Albert Einstein

Prodígio

"Há de passar mais de um século até que se desperte um talento igual"
Joseph Haydn



Nascido Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart em 27 de janeiro de 1756 em Salzburgo, Áustria. Posteriormente passou a adotar uma forma reduzida de seu nome, Wolfgang Amadeus Mozart. Era o filho caçula do casal Johann Georg Leopold Mozart (1719-1787) e de Anna Maria Pertl (1720-1778). O casal se casou em 1747 e tiveram sete filhos, sendo que cinco morreram ainda na infância, restando apenas Maria Anna (1751-1829) e Wolfgang.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791).



Leopold era um violinista e compositor com algum prestígio na região. Seu cargo mais importante fora o de vice-mestre de capela do príncipe-arcebispo de Salzburg em 1763. Já sua esposa, era de família burguesa, embora a Família Perlt já não fosse tão abastada assim na época, mas a família Mozart dispôs de certo conforto.


Tanto Maria Anna, conhecida mais pelo apelido de Nannerl e o pequeno Wolfgang mostraram logo cedo interesse pela música. Leopold aproveitou tal interesse e logo cedo pôs a ensinar aos filhos a tocarem instrumentos; Nannerl aos nove anos, já se mostrava uma pianista promissora, e já sabia também tocar violino. De fato, fora Nannerl que ensinou Wolfgang a aprender a tocar piano, isso enquanto o pai estava trabalhando ou fora de casa, já que o mesmo dedicava várias horas a está ao lado dos filhos os ensinando. Assim, aos cinco anos de idade, Wolfgang já era um prodígio.

A carreira precoce do "menino-prodígio" começou ainda aos cinco anos, Leopold estava convencido que seus filhos poderiam se tornar grandes músicos e isso poderia lhe render muito dinehiro, então decidiu levá-los numa turnê de apresentações. Leopold que possuía alguns contatos, começou a se comunicar com estes, dizendo que seus filhos eram verdadeiras crianças talentosas, isso atraiu o interesse de organizadores de eventos musicais, assim em 1762, ainda com cinco anos, Os Mozart se apresentaram em Munique, capital da Baviera, na época pertencente ao Sacro Império Romano-Germânico, hoje Alemanha. De Munique, eles seguiram para Viena na Áustria e depois se apresentaram em outras cidades do país. Em duas ocasiões, os irmãos Mozart foram honrados pela possibilidade de se apresentarem para os monarcas austríacos, a imperatriz Maria Teresa e o imperador Francisco I.

Pintura de Mozart por volta de seus cinco ou sete anos. O menino prodígio.

Em 1763, os irmãos voltaram a se apresentar, e dessa vez, Wolfgang além de tocar piano, tocava cravo e violino. Mesmo sendo, jovem, alguns relatos sugerem que ainda nessa faixa, Wolfgang já teria composto suas primeiras músicas, embora alguns historiadores aleguem que tais músicas teriam de fato sido escritas pelo seu pai, na tentativa de colaborar com a construção do mito do "menino-prodígio". Eles continuaram a se apresentando pela Áustria, Sacro Império (Alemanha), França, Inglaterra, Holanda, Suíça e posteriormente na Itália.

Passaram cerca de três anos viajando por estes países em sua turnê. Ao longo de suas viagens, Wolfgang e Nannerl adoeceram várias vezes, algo que comprometeu os planos da turnê, atrasando a viagem em semanas ou até mesmo um ou dois meses. Na Inglaterra, teria conhecido Johann Christian Bach, um dos três filhos músicos de J. Sebastian Bach. Depois desta turnê, eles retornaram para Salzburgo e passaram cerca de um ou dois anos em casa, antes de partirem em uma nova turnê, agora pela Itália, dessa vez foram apenas pai e filho. A turnê na Itália começou em 1769, nessa época com treze anos, Mozart já era conhecido como pianista, cravista e violinista e já era um compositor de fato. A viagem pela Itália assim como fora na Inglaterra, foram de suma importância por terem influenciado cada uma de seu jeito o estilo musical do artista, fato este que diferente de Bach, Mozart, chegou a compor óperas, com base no estilo italiano, tido como o mais apreciado da Europa, seguido, depois pelo francês e austríaco.

Pintura da Família Mozart. Na época sua mãe já havia falecido.

Por volta de 1773, Mozart já um tanto cansado de ficar viajando pela Europa em turnês obrigadas pelo seu pai, decidiu ficar em Salzburgo e desenvolver sua carreira por conta própria, embora que de forma esporádica fosse convidado a se apresentar em outra cidade ou em outro país. Nessa época, Mozart tornou-se empregado do príncipe-arcebispo Colloredo, com quem manteria a parceria até 1777. Nesse meio tempo, ele continuou a compor, de fato começou a compor suas primeiras óperas e peças musicais, além de vários outras composições para piano, cravo, violino, etc. Mozart, tentou em 1774, de forma infrutífera arranjar um cargo na Corte, em Viena, capital do país.

Em 1777, ele rompeu com Colloredo, e passou os dois anos trabalhando de forma autônoma, mas isso acabou não dando certo. Em 1778, sua mãe faleceu, e isso o abalou profundamente. No ano seguinte, voltou a trabalhar para o príncipe-arcebispo, mas por poucos meses, quando a recebeu a noticia que sua ópera Idomeneu (escrita em 1781, baseada na personagem da mitologia grega, Idomeneo, o qual havia sido um rei de Creta durante a Guerra de Tróia), era um sucesso em Munique. Convencido que a fama não tardaria a chegar, deixou o cargo de músico da corte em Salzburgo, para quem trabalhava para o príncipe-arcebispo e se mudou de vez para Viena, onde passaria os próximos dez anos.

Uma das questões interessantes sob Mozart, era que de fato ele nunca chegou a ser um "super astro" como nos dias de hoje, por muito tempo fora relegado a um status secundário. Durante suas turnês na infância ao lado de sua família, ele ganhou fama, por ser o "menino-prodígio" algo inegável de fato, mas quando cresceu, deixou de ser esse menino e se tornou apenas mais um entre tantos outros músicos da época. A competitividade entre o ramo musical na Europa dos séculos XVII ao XIX era imensa, fato este que Bach por muito tempo não fora um músico popular, e ganhou fama após a morte, e o próprio Beethoven, só começou a ser um nome de destaque perto dos trinta anos.

Dessa forma, Mozart, acabou deixando de ganhar dinheiro e em alguns casos sua situação financeira ficou bem grave, devido aos custos de algumas viagens que fizera para se apresentar, mas não fora bem recompensado da forma esperada.

Durante sua longa estadia em Viena, se tornou músico da corte, embora que cargo fosse de baixo prestígio, algo que lhe gerou insatisfação como fora visto, nas cartas que escrevia para seu pai e sua irmã. Nessa época, ele se tornou amigo da Família Weber e chegou a se apaixonar por duas das três filhas do casal, sendo que tivera um caso amoroso rápido com Aloysia e posteriormente em 1782, casou-se de fato, com Constance Weber (1762-1842), com quem tivera quatro filhos e duas filhas. 

Constanzia Weber, esposa de Mozart.

Seu primeiro filho Raimund Leopold, nasceu em 1783, mas acabou morrendo ainda no mesmo ano. Seus outros filhos foram: Carl Thomas (1784-1858), Johann Thomas Leopold (1786), Theresa Constanzia (1787-1788), Anna Maria (1789) e Franz Xavier Wolfgang Mozart (1791-1844). Franz Xavier, tornou-se músico, contudo não chegou a ter o mesmo talento e fama do pai, já que não dispôs do ensino do mesmo, já que seu pai veio a falecer poucos meses depois.

Os irmãos Mozart, Carl e Franz. 

Posteriormente se tornou amigo do barão Van Swieten, grande admirador da música erudita, a quem apresentou a Mozart, os trabalhos de G. F. Handel e J. S. Bach. Em 1784, tornou-se membro da Franco-Maçonaria. De 1785 a 1787, sua carreira se mantivera estável, porém era pouco rendosa. Os gastos aumentavam com o crescimento da família, e Mozart começou a recorrer a empréstimos. Posteriormente, sua carreira voltou a maré de azar. Mozart dizia que a Corte e a sociedade de Viena não reconheciam seu talento, que ele era uma estrela ofuscada pelo pensamento cinzento da sociedade.

"Entre abril e junho de 1789, viajou para Dressden, Leipzig e Berlim, onde foi recebido pelo rei da Prússia. Frederico Guilherme II. Após um período pouco produtivo, em 1791 sua atividade criadora teve uma extraordinária renovação. Mozart esperava que a estréia de A flauta mágica relançasse sua carreira, mas isso não ocorreu, pois morreu em 5 de dezembro, deixando o seu Requiem inacabado". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 4110).

Além de A flauta mágica que ele chegou a concluir, Mozart também concluiu a ópera a Clemência de Tito, a qual se tornara bem popular em Praga (hoje capital da República Checa). A flauta mágica, a qual de início não fora bem recebida, depois se tornou um sucesso, mas quando isso aconteceu, o artista já havia falecido. Já o Requiem, acabou ficando inacabado, e de acordo com os estudiosos, se tivesse sido concluído, teria sido uma grande obra.

Capa do livreto de A flauta mágica, 1791.

A respeito de sua morte, ainda é incerto a sua causa. Quando, o mesmo faleceu, várias teorias surgiram, dentre algumas, sugeriam suicido por envenenamento, outras diziam que ele havia sido envenenado, e outras cogitaram febre tifóide, febre reumática, etc. De fato, não se tem uma conclusão derradeira sobre as causas de sua morte. Um estudo recente, aponta que Mozart teria sido vitima de infecção bacteriológica, daí a febre ter sido um dos sintomas, já que é um recurso utilizado pelo organismo para se defender do contágio invasor. Como naquela época ainda não existiam antibióticos, sua vida fora ceifada aos 35 anos.

"Em sua produção musical, Mozart, pela perfeição de sua escritura, pela riqueza, originalidade, acuidade e sensibilidade, transcendeu todos os esquemas estabelecidos pelos antecessores e contemporâneos. Assimilou as mais diversas influências (sinfonias concertantes francesas, singspiel alemão, música de câmara vienense, música dramática italiana) com uma extraordinária facilidade e realizou uma síntese que revela toda a sua genialidade". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural,1998, p. 4110).

Sua obra fora abrangente, ele deixou cerca de 50 sinfonias, dentre as quais Haffner (1782), Linz (1783) e Praga (1786) e algumas outras que não fora nomeadas ou numeradas. Compôs várias serenatas e divertimentos, marchas, danças e 27 concertos para piano (um para dois pianos e um para três pianos), 5 concertos para violino (1775), dois para flauta (1778), um para flauta e harpa (1778), um para clarinete, oboé e fagote, etc.

Na música de câmara, deixou 23 quartetos para cordas, seis quintetos para cordas, dois quartetos para piano e cordas, além de outras 30 sonatas para piano e violino. Deixou, 16 missas, além de algumas cantatas e oratórios.

Na ópera, alguma de suas principais obras foram: Idomeneu (1781), O rapto do Serralho (1782), As bodas de Fígaro (1786), Don Giovanni (1787), A flauta mágica (1791) e a Clemência de Tito (1791). Compôs também outras óperas e cerca de 40 árias de concerto para soprano, Lieder e cânones.

Mozart pode não ter tido a glória e a fama que esperou em vida, mas inegavelmente fora um compositor prolífico e grandioso. Sua arte fora marcante.

"Mozart foi um meteoro que passou, brilhou e marcou".
Leandro Vilar


O Surdo

"No paraíso eu vou ouvir!".
Ludwig van Beethoven
Ludwig nasceu como a terceira geração de músicos da Família Beethoven, embora que seu bisavô Michael van Beethoven (1684-1749) fora um comerciante flamengo, o qual após entrar em falência, vendeu tudo e se mudou para Bonn no Sacro Império (Alemanha). Michael era casado com Maria e tivera três filhos com esta, sendo que  um morrera, sobrevivendo apenas Ludwig e Cornelius (1708-1764), o qual se tornou fabricante de velas e posteriormente um rico comerciante de Bonn, tendo casado com uma viúva rica da cidade.

Ludwig van Beethoven (1770-1827).

Seu avô Ludwig (1712-1773), nasceu em Malines na Bélgica, e logo cedo ingressou na vida artística. Estudou de 1717 a 1725 na Schola Cantorum (Escola de Canto) da Igreja de St. Rombaut, formando-se como músico, logo encontrou emprego em várias igrejas, como diretor de corais, pianista, organicista, violinista, além de assumir outros cargos. Em 1733 a pedido do eleitor Clemens August, arcebispo de Colônia, mudou-se para o protetorado, se estabelecendo na cidade de Bonn, onde se tornou mestre-de-capela (kapellmeister), espécie de diretor musical de uma igreja ou de uma corte. Cargo que mantivera até o final de sua vida. Além disso, também fora um pequeno comerciante de vinho, legado de seu pai. Casou-se em 1733 com Maria Josepha Poll (1714-1775), a qual lhe dera três filhos, sendo que apenas um sobreviveu, Johann van Beethoven (1739/40?-1792). O casamento não fora alegre, dois filhos morreram ainda em tenra idade, e Maria revelou-se uma alcoólatra desenfreada, o que obrigou ao seu marido enviá-la para um convento, onde viveu até o fim da vida, daí o fato de Beethoven mau citar em seus diários a sua avó.

Ludwig desamparado com a separação forçada de sua esposa, criou por conta própria o jovem Johann. Ludwig, não aceitou se divorciar de sua esposa embora seu estado de separação, e também não tomou nenhum outra mulher para viver consigo. Educou rigidamente seu filho, o qual também se tornou músico.

"Johann van Beethoven recebera educação elementar e fora colocado numa classe preparatória do Colégio dos Jesuítas, onde não logrou qualquer progresso. Aos 12 anos, ingressara na capela da corte como soprano. Seu pai ensinara-o a cantar e a tocar o cravo, e também aprendera piano com alguma competência". (SOLOMON, 1987, p. 31).

Johann van Beethoven, casou-se com Maria Magdalena Kaverich (1746-1787). Ele a desposou em 1767, a mesma se encontrava no estado civil de viúva. Maria havia se casado aos 15 anos com Johann Leym, criado do eleitor Trier. Ela tivera um filho dele aos 16 anos, mas perdeu a criança no mesmo ano, e quando fizera 19 anos, seu marido morreu. Posteriormente conheceu Johann van Beethoven, e casou-se com o mesmo dois anos depois. Seu futuro sogro era contra o casamento, e a mãe da noiva, também não era a favor do matrimônio dos dois.

Os dois tiveram seu primeiro filho em 1769, chamado Ludwig Maria, o qual faleceu seis dias após ter nascido. A data da morte de seu irmão se tornaria um dilema na vida de Ludwig por vários anos, o qual acreditou não se sabe porque, que teria nascido em 1772 e não em 1770, Ludwig por vários anos teimou com a família e os amigos, que a data de seu nascimento era incorreta. Além dele, seus pais tiveram mais cinco filhos, Caspar Anton Carl (1774-1815), Nikolaus Johann (1776-1848), Anna Maria Franziska (1779), Franz Georg (1781-1783) e Maria Margaretha Josepha (1786-1787).

Outro dilema que envolveu o nascimento de Ludwig, diz respeito a um boato de que ele era um filho bastardo, que na realidade, sua mãe tivera um caso com o rei Frederico Guilherme II. Não se sabe ao certo, de onde tal boato surgiu, mas passou a ser disseminado por volta de 1810. Beethoven nunca deu muita atenção a este boato, algo que lhe fez levar algumas criticas por parte de amigos e familiares, que diziam que ele não estava defendendo a honra de sua falecida mãe.

A situação do jovem Ludwig piorou ainda na infância. Quando seu avô morreu em 1773, seu pai sentiu profundamente a perda dele, algo que mudou seu comportamento pelo resto da vida. Johann, tornou-se indisciplinado com seu trabalho, tornou-se mentiroso e caiu no alcoolismo. Fora sua mãe, que tomou a frente dos negócios da família de quem Johann herdara o comércio de vinho do pai.

"A morte de seu pai trouxe à tona os sentimentos hostis de Johann. (Não foi, certamente, uma desesperada necessidade de dinheiro que o levou a empenhar o retrato do falecido pai.). A mediocridade de sua própria carreira deve ter demonstrado a  Johann o abismo entre suas capacidades e as de seu pai". (SOLOMON, 1987, p. 33).

Diferente de Bach e Mozart, Beethoven não contou com grande apoio de seu pai, para inseri-lo no ensino musical, Beethoven teve que trabalhar duro por conta própria para desenvolver seu talento, algo alcançado tardiamente, se comparado a Bach e Mozart.

Ao longo da vida, Beethoven desenvolveu uma grande admiração pela figura de seu avô, já que seu pai tornou-se um alcoólatra e um péssimo exemplo para a família, assim como sua mãe dizia. De fato, Johann tentou ser um bom professor para o filho e um bom pai, mas fracassou em ambas as tentativas.

O único professor que de fato ele tivera propriamente falando, fora Christian Gottlob Neefe (1748-1798), o qual se tornou organicista da corte em Bonn em 1779, e tornou-se professor de Ludwig de 1781 até 1792. Neefe acreditava que Ludwig tinha tudo para ser um grande músico, então começou a instruir o menino, Ludwig passava horas e horas tocando piano, cravo, violino e outros instrumentos. Neefe, também apresentou ao jovem os trabalhos de Bach, os quais Beethoven tivera contato a primeira vez, por volta de seus treze anos, fato que ele nutriu uma grande admiração pelo falecido músico. Nessa época ele também compôs suas primeiras obras, mas não foram bem recebidas pelo público.

Em 1786, a situação financeira da família começou a piorar novamente, ele como irmão mais velho, sentiu-se obrigado em ajudar nas despesas, já que seu pai já não fazia isso como de costume, devido ao seu alcoolismo. Beethoven, passou a tocar piano, violino ou cravo em festas, bailes, igrejas, escolas, apresentações, etc, para conseguir dinheiro a fim de ajudar nas despesas da casa.

"Escreveu Schiller: "O próprio Beethoven, por via de regra, não falava de sua vida de criança e, quando o fez, pareceu vacilante e confuso". (SOLOMON, 1987, p. 42).

Em 1789, aos 19 anos, ingressou na Universidade de Bonn, Beethoven estava decido em seguir a carreira musical assim como fora seu avô e seu pai, mas principalmente devido ao primeiro, o qual o via como um herói.

Em 1791, uma triste noticia o acometeu, Wolfgang Amadeus Mozart, a quem nutria uma grande admiração e o sonho de ter sido seu discípulo, havia falecido. Com a morte de Mozart, Beethoven, decidiu procurar outros mestres para lhe ensinar, assim em 1792, ele partiu para Viena, onde estudou com J. Hadyn e depois com A. Salieri. No mesmo ano, seu pai faleceu.

"Beethoven estava agora envolvido no trabalho do mundo e procurava nicho firmemente delineado em sua comunidade, esperando estabelecer para si um lugar determinado na sociedade". (SOLOMON, 1987, p. 52).

Entre a movimentada sociedade da Viena dos fins do século XVIII, Ludwig Beethoven, começou a ganhar destaque. Tendo se mudado em 1792, passou a ganhar reconhecimento nos fins de 1793, quando conseguiu tocar em alguns de suas apresentações, obras suas, já que até então, tocava, obras de Mozart, Bach, Hadyn, Salieri, dentre outros.

Pintura de uma das ruas de Viena no final do século XVIII.

A música que Beethoven  criaria pelos anos seguintes, teria uma forte influência romântica advinda da literatura, especialmente da poesia de Friedrich Schiller e das ideias iluministas, que despontaram em 1789 com a Revolução Francesa. De fato, Beethoven apoiava os ideais da revolução, e posteriormente o próprio imperador Napoleão, a quem dedicou o concerto número cinco para piano, intitulado Imperador.

"Beethoven atingiu aos poucos a perfeição até hoje incomparável de suas sinfonias, concertos e sonatas. Em 1794, porém, uma publicação destinada à critica musical já o incluía em um ranking dos 40 mais brilhantes músicos daquele tempo, sem economizar elogios ao jovem promissor: "Um gênio musical que escolheu Viena como residência nos dois últimos anos. [Beethoven] é admirado pela velocidade incomum de suas mãos sobre o teclado, sendo impressionante como ele domina as maiores dificuldades com a maior facilidade. Ele parece já ter ingressado no santuário da música, distinguindo-se por sua precisão, sentimento e gosto; o que faz com que sua fama aumente consideravelmente a cada dia"". (PORTELA, 2009, p. 52).

Em 1795 ele se apresentou em grande concerto solo em Viena, no ano seguinte fora convidado a se apresentar na França, Inglaterra e Alemanha, a sua turnê durou dois anos. E isso lhe rendeu fama imediata. O jovem menino que havia trabalhado duro, finalmente era reconhecido pelo seu esforço.

Beethoven aos 33 anos. Dono de uma carreira promissora e de um futuro nublado.

"Em um primeiro momento, Beethoven ganhou a sincera simpatia do público; logo, conquistou o respeito até dos críticos mais exigentes; subitamente, passou a ser verdadeiramente idolatrado". (PORTELA, 2009, p. 52).

Se por um lado ele galgava cada vez mais em sua carreira profissional, sua vida pessoal e social não era uma das melhores. Amigos e outros conhecidos, em relatos da época, diziam que seu gênio era tempestuoso, impulsivo, que as vezes, tendia a se isolar em seu estúdio e ficava se falar com ninguém até mesmo por dias, apresentando um ar de antissocial. 

Gravura retratando o estúdio de Beethoven. Descrito por seus amigos como bem bagunçado e sujo.

Outro dilema enfrentado pelo jovem promissor, fora o amor. Beethoven não chegou a se casar ou a deixar herdeiros, todos os seus romances foram fracassos e frustrações platônicas, algo curioso, já que o mesmo havia sido um expoente do Romantismo no campo musical. A única mulher por quem ele realmente se apaixonou, não se conhece o nome, só se conhecem as cartas que ele escreveu para ela, cartas escritas durante o mês de julho, onde ele refere-se a ela como Minha Amada Imortal. Beethoven não revelou o local, ano e o nome desta mulher. Embora tenha sido um romântico frustrado, ele conheceu muitas mulheres em vida e as flertou, mas a mulher que lhe tomou o coração ainda é um mistério na história.

E para completar este período de desânimo, em 1796, reclamando de dores no ouvido, ele fora consultar um médico da cidade, o médico diagnosticou que ele tinha uma obstrução do canal auditivo, algo que com o tempo o levaria a surdez completa. Hoje sabe-se que ele possuía uma doença degenerativa que lhe tirou a audição.

Para um jovem com seus 26 anos saber que ficaria surdo e ainda mais sendo um músico, isso fora uma catástrofe. Inconformado com o diagnóstico ele passou a consultar outros médicos e a tentar tratamentos para curar seu problema, mas a medida que os anos passavam sua surdez ia se agravando. Beethoven, como deixou escrito em seu diário e em cartas para os amigos, pensou em até mesmo cometer suicídio. Quando havia iniciado sua cavalgada para a glória, o futuro se revelou-se cruel. Como um jovem com um futuro promissor, poderia conviver com esta terrível e inevitável situação?

"devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso em uma pungente angústia, pelo receio que descubram meu triste estado. E assim vivi este tempo em que passei no campo... Mas que humilhação quando, ao meu lado, alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou quando alguém comentava sobre o canto de um pássaro e eu nada escutava! Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Somente a arte me deteve". Trecho do testamento de Beethoven. (PORTELA, 2009, 54).

Ele dizia que sua paixão pela música era tão grande que estava decidido que enquanto ainda lhe restasse audição ele continuaria compondo até onde fosse possível. Beethoven contou com o apoio de amigos como a Família Brunswick, o arquiduque Rodolfo, o príncipe Lichnowsky e o violinista Schuppanzigh.

No inicio do século XIX, Beethoven se tornou ainda mais famoso. Em 1802, ele escreveu uma carta para seus dois irmãos, Caspar e Nikolaus; a carta ficou conhecida como Testamento de Heilingenstadt, devido a cidade de onde escrevera. Nesta carta, ele falou sobre sua doença, sobre sua fama, sobre sua frustração, dilemas, mágoas e dúvidas, até mesmo na tentativa de suicídio que tentou cometer anos antes. Hoje, a carta é um dos documentos mais importantes deixados pelo artista.

Testamento de Heilingenstadt, 6 de outubro de 1802.

Os anos que se seguem de 1802 a 1812 foram bem produtivos para a carreira de Ludwig, ele compôs várias sinfonias para piano, sonatas, concertos e até mesmo óperas. Tal década é chamada por alguns historiadores de período áureo ou período heróico, uma alusão a exaltação do heroísmo feita por Beethoven em seus trabalhos.

Conheceu o importante e renomado escritor e pensador Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), amigo de Friedrich Schiller (1759-1805) e do filósofo Georg W. F. Hegel (1770-1831). Fora através desta rápida conversa que os dois trocaram assuntos acerca do Romantismo, de poesia, literatura, música e da vida política européia, a qual estava por ser abalada pelo reinado de Napoleão. No passado, Beethoven havia aclamado as iniciativas de Bonaparte, mas a medida que o mesmo prosseguia com seu reinado e sua fase de guerras pela Europa, isso gerou-lhe uma crise de crença, o homem que ele admirava se mostrou bem diferente do que ele pensava ser.

Após 1812 sua surdez progrediu consideravelmente e ficava cada dia mais difícil falar com ele sem gritar. Em 1814, Beethoven se afastou dos palcos, seu estado não o permitia mais, ir tocar piano ou outro instrumento em concertos e outros espetáculos. Passou os anos seguintes trabalhando na composição de outras obras.

"A dissolução do estilo heróico não ocorreu subitamente ou mesmo de um modo espetacular; tampouco se pode ter a certeza de que Beethoven estava consciente do processo que vinha ocorrendo". (SOLOMON, 1987, p. 305).

Em 15 de dezembro de 1815, seu irmão Caspar Carl, faleceu vitima de tuberculose, deixando esposa e um filho de nove anos, chamado Karl. Ludwig tomou a guarda do sobrinho para si, contudo, sua cunhada, Johanna não quis abrir mão do filho, assim eles passaram os cinco anos seguinte, lutando na Justiça pela guarda da criança, até que Ludwig saiu vitorioso. Contudo, como apontam os relatos, a relação entre tio e sobrinho não era uma das melhores, dizia-se que Ludwig era muito protetor, tal fato ficou bem claro quando em 1826, Karl, tentou cometer suicídio. Beethoven passou cerca de seis anos em um hiato de crise criativa e pessoal, entrando em depressão.

A partir de 1818, ele retomou o ânimo e voltou a compor, fora nesse período que compôs muita de suas grandes sonatas e até o fim de sua vida ele ainda surpreenderia o mundo mesmo estando praticamente surdo. Entre 1822 a 1824 baseado no poema Ode à Alegria de Friedrich Schiller, Beethoven compôs o que é para muitos sua obra prima, a Nona Sinfonia.

Em 1825, Beethoven fora convidado pela Sociedade Filarmônica de Londres para supervisionar uma série de concertos dedicados as suas obras, contudo ele acabou adoecendo em abril do mesmo ano. O médico, lhe sugeriu que deixasse o ar sujo e o barulho da cidade e se retirasse para o campo, ele se mudou para Baden, mas continuou a viajar para Viena até outubro. Sua saúde ainda continuou debilitada pelos dois anos seguintes. E para piorar, ele cada vez mais se desentendia com seu sobrinho o qual tentou cometer suicídio em 1826.

Em 1826, sua saúde voltou a se agravar ainda mais. Seu irmão, Nikolaus Johann, escreveu que Ludwig estava com falta de apetite, logo mal se alimentava, queixava-se de muita sede, e ao invés de beber água, tomava vinho, o que acabou lhe gerando diarréia. Ele também se queixava de dores abdominais (possivelmente cólicas), e seus pés ficaram inchados, retendo líquido. Preocupado com a condição do irmão, Nikolaus decidiu levá-lo de volta a Viena para se tratar o quanto antes. O médico de Beethoven, o dr. Wawruch disse o seguinte acerca de sua condição em 5 de dezembro.

"Encontrei Beethoven atacado com graves sintomas de inflamação dos pulmões. Tinha o rosto congestionado, cuspia sangue, a respiração ameaçava sufocá-lo e uma pontada na ilharga fazia com que ficar deitado lhe fosse um insuportável tormento".

O médico conseguiu tratá-lo naquele momento lhe aliviando os sintomas, mas Beethoven sentia que a morte estava perto, e não tardaria a morrer. Em 26 de março de 1827 ele veio a falecer, a causas de sua morte ainda não são certas, alguns sugerem que ele padecia de tuberculose, cirrose, hepatite, tifo, ou teria se envenenado com os medicamentos, os quais na época se usava chumbo, altamente nocivo ao organismo.

De qualquer forma, quando morreu aos 57 anos em Viena, alguns amigos e familiares, como seu irmão, e sua cunhada Johanna e seu sobrinho Karl estavam na hora do falecimento. O funeral de Beethoven fora assistido por mais de vinte mil pessoas que seguiram seu caixão como em uma procissão pela cidade. Diferente de Mozart e Bach que ganharam mais fama após a morte, Beethoven quando faleceu, já era um gênio da música, um ícone, um mestre, um ídolo.

Túmulo de Beethoven, Viena, Áustria.

"Em 1852, W. de Lenz propôs a divisão em três estilos para o estudo de sua obra. A primeira época (até mais ou menos 1804) sofre influência de Haydn, Mozart e Clementi; a segunda já revela um pensamento mais amplo e mais subjetivo; a terceira, a partir, de 1819, mostra uma forma livre e uma linguagem audaciosa". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 3, São Paulo, Nova Cultural, 1998, p. 703).

Seu trabalho fora monumental e revolucionário. Beethoven deixou 32 sonatas para piano, compostas de 1795 a 1822, onde se destacam: Patética, Appassionata, Ao luar, Hammerklaiver (homenagem ao kaiser); 10 sonatas para piano e violino; 5 sonatas para piano e violoncelo; 17 quartetos para cordas (1800-1826); 5 concertos para piano e orquestras (1795-1809); 9 aberturas (entre as quais Coriolano, Fidelio, Ruínas de Atenas e Prometeu); 2 balés; 8 cantatas; 24 lieder; 2 missas (em dó e Missa Solemnis); 6 óperas (A amada longínqua (1816), três versões de Fidelio (1805-1814)); 5 trios para piano, violino e cello; 3 trios para violino, viola e cello; 15 variações para piano, violino, violoncelo, etc; 9 sinfonia, dentre as quais destacam-se: número 3 "Heróica", número 5 "Do Destino", número 6 "Pastoral", número 7 "Movimento" e a número 9 "Coral" ou "Ode à Alegria". Além de uma outra gama de trabalhos não enumerados e alguns já perdidos nos dias de hoje.

A Quinta Sinfonia composta entre 1804 a 1808 em Dó menor, imortalizou na história quatro notas que ficariam bem conhecidas "tan tan tan taaan!". Já a Nona Sinfonia, baseada no poema de Schiller, é considera sua obra máxima, e quando fora escrita entre 1822 e 1824, sua surdez já estava em um estágio bem avançado. Hoje, a Nona Sinfonia, é o hino oficial da União Europeia, e é considerado por alguns como hino à humanidade.

"Pondera Leonardo Martinelli, compositor, critico musical e professor de história da música na UniFMU-FAAM. Segundo Martinelli, antes de Beethoven, a música tinha necessariamente uma função social a cumprir, e a tarefa do compositor era criar uma música adequada a uma certa ocasião, fosse ela uma reunião entre amigos, um casamento ou um concerto público. "A partir dele, a música deixa de ser tratada como mero utensílio para, enfim, virar arte em seu sentido mais pleno. Em outras palavras, sua atitude retira o compositor e uma posição de serviçal e eleva-o a de artista", argumenta". (PORTELA, 2009, p. 55).

"As mágoas, paixões, ilusões, dilemas, sonhos é dúvidas de Beethoven soaram em um grito abafado aos seus ouvidos. Mas ecoaram em uma melodia grandiosa aos ouvidos do mundo".
Leandro Vilar


NOTA: A Alemanha só se tornou uma nação unificada em 1870, antes disso, por vários séculos, fora um conglomerado de pequenos Estados, reunidos sob o Sacro Império Romano-Germânico.
NOTA 2: O bisavô de Beethoven, era natural de Flanders, região no norte da Bélgica, onde chama-se os nascidos ali, de flamengos. 
NOTA 3: Diferente de Bach e Beethoven, Mozart fora enterrado em uma cova simples, sem nenhuma pompa. 
NOTA 4: Existe um filme inspirado na vida de Mozart, intitulado Amadeus (1984), do diretor Milos Forman e roteiro de Peter Shaffer.
NOTA 5: Sobre Beethoven, existem os filmes: Minha Amada Imortal (1994) e O Segredo de Beethoven (2007). 
NOTA 6: Quem tiver mais interesse sobre a vida e obra destes três artistas, recomendo: Beethoven, de Maynard Solomon; Wolfgang Amadeus Mozart, de Richard Baker e Johann Sebastian Bach de Karl Geiringer.
NOTA 7: Nas páginas da Wikipédia, referente a estes artistas, está disponível links para se ouvir trechos de suas músicas. No You Tube, há videos com apresentações de suas obras. 

Referências Bibliográficas:
SOLOMON, Maynard. Beethoven. Tradução Álvaro Cabral, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1987.
PORTELA, Carine. Dôssie: Beethoven. Revista BBC História. v. 12, São Paulo, Tríada, 2009. p. 50-55.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 3, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 17, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

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