Pesquisar neste blog

Comunicado

Comunico a todos que tiverem interesse de compartilhar meus artigos, textos, ensaios, monografias, etc., por favor, coloquem as devidas referências e a fonte de origem do material usado. Caso contrário, você estará cometendo plágio ou uso não autorizado de produção científica, o que consiste em crime de acordo com a Lei 9.610/98.

Desde já deixo esse alerta, pois embora o meu blog seja de acesso livre e gratuito, o material aqui postado pode ser compartilhado, copiado, impresso, etc., mas desde que seja devidamente dentro da lei.

Atenciosamente
Leandro Vilar

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Troia

Imortalizada nos versos de um poeta cego, Troia a de imponentes muralhas, lar dos troianos, domadores de cavalos. Palco de uma sangrenta e grande batalha que se estendeu por dez anos, ceifando a vida de milhares, tornado guerreiros em heróis, homens em mitos, por muito tempo acreditou-se que Troia fosse apenas uma lenda, mais uma de tantas outras que perfazem a mitologia grega, no entanto homens determinados a provar que tal cidade realmente existiu, a descobriram no século XIX, na Ásia Menor (hoje Turquia). Foram descobertas ruínas de uma cidade de altas muralhas, a lenda se tornava real.

Nesse texto falarei desde a Troia mitológica retratada nos versos da Ilíada e da Odisseia até as descobertas arqueológicas no final do século XIX e começo do século XX, pois ainda hoje no século XXI, Troia ainda guarda muito de seus mistérios, devido a escassez de evidências escritas da história do(s) povo(s) que ali viveram. Entretanto, a verdadeira Troia em alguns aspectos difere-se da sua versão lendária.


A TROIA MITOLÓGICA

Fundação e origem dinástica

A cidade de Troia tanto na mitologia quanto na realidade, fica localizada na Ásia Menor, hoje a Turquia, numa região chamada de Troade, nome pelo qual ainda se reconhece essa região nos dias de hoje, embora que os turcos a chamem por outro nome. Acerca da dinastia troiana, a mitologia nos conta que houve apenas quatro reis de Troia: Tros, Ilus II, Laomedonte e Príamo.

Localização da região da Troade e cercanias, na atual Turquia. Em destaque algumas das cidades de origem grega. Nesse caso como pode-se ver Troia fica localizada próxima ao rio Escamandro e do mar Egeu.
Segundo a mitologia a fundação de Troia deve-se ao rei Tros, o qual era filho do rei Erictônio e de Astíoque. Seu pai e sua mãe eram soberanos da Dardânia, região localizada ao norte de Troia. Tros se tornou o novo rei, casou-se com Calírroe, a qual algumas versões dizem que era filha do deus-rio Escamandro (os gregos antigos consideravam que alguns rios eram deuses), e fundou Troia ao sul da Dardânia, sobre uma colina próximo ao rio Escamandro. Assim, o mesmo se tornou o primeiro rei de Troia e iniciou a Dinastia Troiana.

O sucessor de Tros foi seu primogênito Ilus II, o qual em algumas lendas atribui-se a ele a fundação de Troia. Existe algumas divergências entre os mitos, pois a cidade de Troia também é conhecida pelo nome de Ílio. O próprio Homero em seus dois poemas refere-se a cidade pelos dois nomes, sendo que o nome Ilíada advém do nome Ílio. Nos poemas também se utiliza tanto o gentílico troiano como ílio. Assim, de acordo com o mito de Ilus II, ele fundou uma cidade chamada Ílio, a qual passou mais tarde a ser conhecida como Troia. Ilus II seria uma homenagem ao rei Ilus I, antigo soberano da Dardânia. 

"Uma das coisas estranhas a respeito da cidade é o facto de ter dois nomes. A Ilíada e a Odisseia chamam-lhe, sem distinção aparente, quer Tróia (Troie) quer Ílio. Tróia seria talvez, primeiramente, o nome mais geral, aplicável a toda a região - a Tróade -, enquanto Ílio designaria mais especificamente a própria cidade; mas esta distinção não se mantém nos poemas de Homero e qualquer dos nomes é empregado sem preferência para designá-la. Na Ilíada o nome Ílio aparece 106 vezes, acima de duas vezes mais do que Tróia, que vem 50 vezes. Na Odisseia, Tróia leva uma vantagem de quase quatro para três vezes sobre Ílio, aparecendo 25 vezes, enquanto esta útlima só se vê em 19 casos. No período clássico e mais tarde, o nome regular da cidade que ainda sobrevivia no local tinha-se tornado Ílion e os habitantes eram conhecidos como Ilianos". (BLEGEN, 1971, p. 18).

Com a morte de Ilus II o filho que lhe sucedeu foi Laomedonte, o qual teve vários filhos e filhas, dentre os mais famosos estão Ganimedes (embora que algumas lendas diga que Ganimedes era filho de Tros) e Príamo. Laomedonte é especialmente conhecido pelo fato de ter sido em seu reinado que Troia ganhou suas imponentes muralhas, pois até então a cidade não possuía as gigantescas muralhas que lhe renderam fama. 

De acordo com o mito, Laomedonte pediu aos deuses Poseidon e Apolo que ajudassem a proteger os troianos de seus inimigos, os deuses concordaram em erguer uma grande muralha, em troca de celebrações, oferendas, sacrifícios, etc. Laomedonte se comprometeu em cumprir com tudo isso, assim os dois deuses ergueram as muralhas de Troia, mas quando chegou a hora de terem suas recompensas, Laomedonte que não era um homem de palavra, não cumpriu com sua parte do trato, isso acabou indignando os deuses. 

Apolo enviou uma praga que varreu as colheitas dos troianos e matara seu gado, e Poseidon enviou um monstro para destruir a cidade. Em algumas versões do mito, dize-se que os oráculos disseram ao rei que oferece-se uma de suas filhas em sacrifício para apaziguar a fúria dos deuses, a filha escolhida foi Hesíone, no entanto tal fato não chegou a se consumar, devido que o herói Héracles (Hércules) se encontrava na região. O rei ficou sabendo da força e da fama de Héracles e enviou mensageiros para pedir a ajuda dele, o herói aceitou matar o monstro desde que Laomedonte lhe desse seus melhores cavalos, os quais diziam ter sido presentes de Zeus ou de Hermes. O rei concordou, Héracles matou o monstro, mas novamente Laomedonte não cumpriu com sua palavra, injuriado com tal desonra e falta de palavra, Héracles matou Laomedonte e vários de seus filhos.


Héracles matando Laomedonte e um de seus filhos. A mulher a esquerda possivelmente seja Hesíone.
Héracles chegou a negociar a venda de Hesíone como escrava, no entanto a mesma pediu para não ir sozinha, ele permitiu que ela escolhe-se alguém para acompanhá-la, e ela escolheu seu irmão Podarge, porém antes de serem vendidos, Hesíone libertou Podarge, o qual retornou para Troia e se tornou o novo rei, assumindo o nome de Príamo (literalmente "o liberto"). 

Segundo o mito, foi durante o governo de Príamo que Troia alcançou seu apogeu e também vivenciou seu fim com a guerra. Príamo casou-se várias vezes, sendo que sua segunda esposa Hécuba, é a mais famosa, pois foi mãe de Heitor e Páris. Também de acordo com o mito, Príamo teve 50 filhos e todos viviam no grande palácio de telhado dourado, como Homero menciona na Ilíada

A guerra de Troia

A narrativa da guerra de Troia é hoje conhecida principalmente através dos dois poemas atribuídos ao poeta grego Homero, os quais dizem que ele teria sido o autor de a Ilíada, que mostra o início do conflito, e embora tenha ocorrido dez anos de guerra, Homero narra ao longo do livro apenas o penúltimo e o último ano (alguns especialistas dizem que foi apenas o último ano). Mas curiosamente, na versão original da Ilíada, Homero não fala sobre a queda de Troia. A narrativa poética se encerra com a morte de Heitor. Parte do desfecho da história é relatada na Odisseia e em poemas de outros autores. 

Quanto a Odisseia, essa perfaz uma continuação da Ilíada, mas focando a viagem e desventuras de Odisseu (Ulisses) e seus homens na tentativa de retornarem para seu lar na ilha de Ítaca. No entanto, a Odisseia começa onde a Ilíada termina, com a morte de Heitor, sendo que na Odisseia, Homero descreve como os gregos venceram os troianos, graças ao engenhoso plano do "cavalo de Troia"


Busto representando hipoteticamente Homero, pois não se sabe sua verdadeira face ou se realmente teria existido.
Assim como Troia guarda ainda seus segredos e mistérios, Homero também pertence a esse ciclo, pois ainda hoje contesta-se se realmente ele existiu. O historiador Heródoto de Halicarnasso (485?-420 a.C) disse que Homero teria vivido no século IX a.C, no entanto outros filósofos, historiadores e artistas, como Hesíodo apontavam que o mesmo teria vivido no século VIII a.C, que teria sido contemporâneo seu. Entretanto, alguns acham que Homero pertença a própria lenda por trás do ciclo troiano, pois ainda há carência de fontes que comprovem sua existência. Por outro lado, Homero embora tenha existido, não foi o responsável por ter escrito os poemas, pois todos dizem que ele era cego, logo, foram seus discípulos que copilaram os versos declamados por seu mestre.

De qualquer forma, acredita-se que a Ilíada e a Odisseia teriam sido escritas entre os século IX a.C e VII a.C, assim, Homero se realmente existiu, viveu nesse período. Por outro lado, Homero perfazia a herança de velhos contadores de história, que contavam ou cantavam as histórias do ciclo troiano, pois outros autores também escreveram sobre Troia. 

Alguns historiadores e outros estudiosos comprovaram que em sociedades agrafas (sem escrita), as histórias mesmo sendo passadas oralmente conseguiam sobreviver muito tempo e algumas vezes sem ser alterada de forma significativa. Em algumas sociedades atuais isso ainda é feito. Assim, Homero teria sido um desses contadores de história e poeta que mantiveram viva as histórias e feitos da Guerra de Troia, pois para os antigos gregos, tal guerra havia sido bem real e suas personagens também.

Acerca da guerra farei um breve resumo, pois o foco desse trabalho é tratar da Troia real ou arqueológica como alguns preferem chamar, e não realizar uma análise literária da Ilíada

A guerra de Troia se inicia no plano divino, na ocasião do casamento da nereida Tétis com o mortal Peleu, ambos, mãe e pai de Aquiles. Para a festa foram convidados deuses e mortais, porém, a deusa Éris não foi convidada. Éris era a deusa da discórdia e enciumada pela falta do convite, lançou um pomo de ouro com os seguintes dizeres grafados: "À mais bela". Zeus acabou por pegar o pomo e notou que sua esposa Hera e as deusas Afrodite e Atena haviam visto o pomo em sua mão, mas sabendo que algo de errado poderia vir daquilo, decidiu conceder tal difícil tarefa a outra pessoa. Ele acabou escolhendo o príncipe troiano chamado Páris ou Alexandre, como também seu nome aparece em algumas versões antigas. 

Páris aceitou ser o juiz daquela disputa e cada uma das deusas lhe fizeram uma proposta para que ele lhes desse o pomo dourado. Hera lhe prometeu poder e riqueza, Atena lhe prometeu glória e fama e Afrodite lhe prometeu o amor da mais bela das mulheres. Páris como sendo um tanto mulherengo, acabou aceitando a oferta de Afrodite, então a deusa lhe contou que a mais bela das mulheres era a rainha Helena de Esparta, esposa do rei Menelau

Pintura renascentista retratando Helena e Páris.
Helena e Páris se apaixonaram perdidamente, e o príncipe convenceu Helena de ir com ele para Troia para que pudessem se casar. Helena acabou concordando e os dois fugiram para Troia. Príamo relutou no momento, mas acabou concordando em acudir os dois amantes.

Menelau indignado com a traição dos troianos, foi pedir ajuda de seu irmão mais velho Agamemnon, o qual era rei de Micenas e considerado o mais poderoso rei da Grécia. Agamemnon utilizou a vingança de Menelau como bode expiatório para organizar um poderoso exército para conquistar a poderosa e rica Troia. Menelau estava decidido em "lavar sua honra com o sangue de Páris", assim recorreu ao seus aliados e por sua vez Agamemnon fez o mesmo. De acordo com Homero, todos os reis da Grécia foram convocados a lutar contra Troia, e, então numa frota de mil navios eles partiram para a guerra.


Representação de Troia num filme. O problema, nessa imagem é que Troia fica acerca de seis quilômetros de distância do mar, sendo que a cidade fica mais próxima do rio Escamandro do que o mar Egeu.
Os gregos confiantes da vitória, após meses de batalha sem conseguirem chegar pelo menos perto das muralhas, se viram diante de um grande problema, como conquistar essa cidade de imponentes muralhas?

Na Ilíada, como já foi dito, Homero descreve apenas os últimos meses da batalha, sendo assim ele diz que por mais que Troia possuísse suas imponentes muralhas, os gregos estavam decididos a todo o custo em conquistar aquela cidade, assim por dez anos a guerra se mantivera pela Troáde, pois diferente do que se ver nos filmes, nos poemas existem menções a conflitos entre os gregos e os aliados de Troia pela Troáde. 

Após nove anos de guerra, ambos os lados estavam enfraquecidos, pois Troia contou com a ajuda de seus aliados para resistir a todo esse tempo as ondas de ataque. No entanto, no décimo ano de guerra, os grandes guerreiros e heróis como Aquiles, HeitorPátroclo, PárisSárpedon já estavam mortos. Os recursos estavam acabando, o número de mortos para ambos os lados passava dos milhares, os homens estavam desmotivados, pois seus heróis haviam morrido e os deuses haviam parado de interceder na luta. Diferente dos filmes que não mostram a intervenção divina, em toda a Ilíada é constante a intervenção dos deuses na guerra; Ares e Atenas chegaram a lutar no campo de batalha, Apolo ajudou Páris algumas vezes, Afrodite socorreu seu filho Eneias, Zeus e Hera assistiram as batalhas a partir do Monte Ida, etc. 

De qualquer forma a solução para esse impasse que durava dez anos veio com o sagaz e astuto rei de Ítaca, Odisseu (Ulisses). Odisseu teve a ideia de criar uma armadilha em forma de um gigantesco cavalo oco feito de madeira, e dentro dele esconder alguns guerreiros, para que pudessem posteriormente abrirem os portões da cidade, para que os exércitos a invadissem. 


Representação do cavalo de Troia para o filme Troia (2004).
O cavalo de Troia como ficou conhecido, se tornou uma das mais famosas armadilhas da história da literatura e até mesmo uma metáfora para perigo. Na história, os gregos fingiram que haviam ido embora e deixaram um grande cavalo na praia. Príamo viu aquilo como uma oferenda ao deus Poseidon, pois o mesmo também era o deus dos cavalos. Assim, ordenou que o cavalo fosse levado para dentro da cidade. Os troianos e seus aliados passaram o dia e parte da noite celebrando a vitória e o fim da guerra, então na calada da noite Odisseu e outros guerreiros saíram do cavalo e abriram os portões, permitindo que os exércitos gregos invadissem a cidade e o massacre começa-se.

Odisseu e Menelau foram resgatar Helena e mataram de forma brutal Dêifobo, um dos filhos de Príamo o qual havia se casado com Helena após a morte de Páris. Com Dêifobo morto, Menelau levou Helena embora, mas largou os quatro filhos que ela tivera com Páris em Troia. 

O rei Príamo segundo conta a história teria sido assassinado enquanto se encontrava sentado em seu trono, o mesmo teria sido alvejado por flechas ou apunhalado por uma lança, tendo sido seu assassino Neoptólemo, o filho de Aquiles. 

Troia foi saqueada, sua povo foi assassinado, mulheres foram estrupadas, bebês e crianças pequenas foram jogadas do alto das muralhas, assim como aconteceu com Astíanax, filho de Heitor. E os sobreviventes que não conseguiram fugir foram feitos escravos e depois levados como despojos de guerra. Após o saque a cidade foi incendiada. 

A partir desse terrível acontecimento para os troianos, mas glorioso para os gregos, se iniciam as histórias da Odisseia e da Eneida, a qual narra as aventuras do herói troiano, Eneias e alguns sobreviventes de Troia, os quais viajaram pelo Mediterrâneo e outros lugares. 


O herói troiano Eneias, carregando o seu velho pai Anquises, enquanto os dois fogem junto a outros troianos do incêndio da cidade. A história de Eneias foi contada pelo poeta romano Virgílio na obra Eneida.
A TROIA REAL

(Re)descoberta da cidade

Os gregos antigos acreditavam que a guerra realmente havia ocorrido, Heródoto dissera que a guerra teria ocorrido quinhentos ou quatrocentos anos antes de Homero, logo, como ele diz que Homero viveu no século IX a.C, a guerra teria ocorrido entre os séculos XIV a.C ou XIII a.C.

Por outro lado, alguns relatos dizem que quando Alexandre, o Grande chegou à Ásia, dando início as suas campanhas para a conquista do Império Persa, o mesmo teria visitado Troia onde teria prestado homenagem a Aquiles e outros heróis gregos que ali morreram, pois Alexandre era um grande admirador das histórias da Ilíada. De fato sabe-se que na época de Alexandre a cidade ainda existia e era habitada como será dito mais a frente. 

No entanto, com o final da Antiguidade, Troia praticamente foi esquecida. No Império Bizantino, originário a partir da fusão das culturas greco-romana, em determinadas épocas de sua história, as crianças (apenas os filhos das elites) liam os poemas homéricos e até mesmo os recitavam nas escolas. Entre os ricos, era comum as pessoas, homens e mulheres recitarem versos dos poemas, era visto como um sinal de prestígio intelectual, pois poucos eram que sabiam ler.

Mesmo assim, isso não ajudou a tentarem de fato procurar por Troia. E quando chegamos ao período do Renascimento na Idade Moderna, entre os séculos XV e XVII, Troia era considerada apenas uma lenda, uma bela história ficcional concebida por Homero ou outro poeta grego antigo. No entanto, foi apenas a partir do século XIX quando a arqueologia e a história iam se tornando ciências, é que alguns homens decidiram tentar encontrar as ruínas de Troia. 

"Em 1822, Charles Maclaren publicou em Edimburgo um livro chamado Dissertação sobre a topografia da planície de Tróia, que recebeu muito menos atenção do que aquela que merecia. Maclaren, coligindo todas as informações topográficas que é possível extrair da Ilíada, e comparando-as com os melhores mapas à data existentes da região, ressuscitou o ponto de vista, que dominou a antiguidade desde os tempos romanos clássico, que pretendia que os Helenos, e mais tarde Ílion, ocupavam o mesmo local que a Tróia de Príamo e Homero". (BLEGEN, 1971, p. 27).

Mais de quarenta anos depois é que o trabalho de Charles Maclaren tivera um reconhecimento digno, pois nessas quatro décadas, muitos não deram atenção e nem levaram a sério o trabalho de Maclaren e de outros que também tentavam localizar Troia, pois para o senso comum, Troia era uma cidade imaginária, fictícia, assim como o El Dorado para os espanhóis no tempo das Grandes Navegações e nos desbravamentos do Novo Mundo, ou como a Atlântida para Platão. Todas essas cidades não passavam de lendas, logo não existiam. 

No entanto, foi por volta de 1865 que um arqueólogo inglês chamado Frank Calvert, o qual estava à trabalho no Império Otomano, o qual governava sobre a atual Turquia, começou a realizar escavações em uma colina chamada Hissarlik. Calvert estava seguindo os estudos de Maclaren e de outros a respeito da possível localização de Troia, e ele acreditava que as ruínas dessa cidade ficava em Hissarlik.


O arqueólogo inglês Frank Calvert, o qual em 1865 começou a realizar algumas escavações na colina de Hissarlik, onde encontrou vestígios de cerâmica, concluindo que deveria ter havido ali uma vila ou cidade.
"O local das ruínas, chamado Hissalirk, ocupa a ponta ocidental de uma crista baixa, vinda do nascente, que para norte e para oeste termina, um pouco abruptamente, numa íngreme ravina, e a sul  num declive suave. A uns seis quilômetros para oeste, passando a planície nua do Scamander com os seus três confins, e para além de uma linha de colinas baixas, acha-se o Mar Egeu". (BLEGEN, 1971, p. 23).


A colina de Hissarlik em 1870. Foi nessa colina que se descobriu as ruínas de Troia.
No ano de 1866, o empresário e arqueólogo amador alemão Heinrich Schliemann (1822-1890), o qual era um grande admirador da Ilíada havia se interessado pelos estudos sobre a possível localização da cidade. Schliemann pegou parte de sua fortuna, pois era um homem bem rico e decidiu viajar por conta própria para visitar a Turquia e procurar por vestígios que indicassem a localização de Troia. Em 1866, ele conheceu Calvert o qual lhe dissera sobre os pequenos achados que havia feito em Hissarlik, Schliemann ficou tão maravilhado com aquelas peças de cerâmica, que cogitou que talvez aquele lugar fosse Troia. 


Heinrich Schliemann (1822-1890) o descobridor de Troia.
"Em 1870 estava pronto para começar a sua longa série de campanhas, que seriam continuadas, de tempos a tempos, até 1890. Temos que conceder a Heinrich Schliemann o pleno crédito, tanto pela descoberta como por ter estabelecido a sua validade e ter despertado um interesse enorme por Homero e pela arqueologia, não só da parte dos estudantes das coisas clássicas como de todo o mundo culto e do próprio público em geral". (BLEGEN, 1971, p. 26).

Schliemann dedicou vinte anos de sua vida a explorar o sítio arqueológico de Hissarlik, chegando a empregar as melhores ferramentas da época para o tipo de serviço e até mesmo mais de cem escavadores em uma expedição. A medida que a colina ia sendo destrinchada, cacos de cerâmica, ruínas de casas, templos, muralhas e outras construções foram sendo descobertas. Até mesmo se achou joias em ouro, as quais Schliemann dissera que compreendiam o tesouro do rei Príamo. Existe também uma famosa foto, onde ele enfeitou sua esposa Sophie com um belíssimo colar, brincos e uma tiara de ouro, o qual ele dizia ter pertencido a Helena.


A esposa de Schlieman, Sophie Schliemann usando uma tiara, colar e brincos, todos feitos de ouro, encontrados na escavações de Troia. Na época, Heinrich dissera aos jornais que aquelas joias teriam pertencido a Helena. 
Além de realizar escavações em Troia, Schliemann e a esposa também viajaram para a Grécia onde foram escavar as ruínas da cidade de Micenas, na qual na Ilíada dizia-se ter sido governada por Agamemnon durante a época da guerra. Nessas escavações, Shcliemann encontrou uma máscara mortuária feita de ouro, a qual ele disse que era a máscara mortuária do rei Agamemnon. Schliemann estava tão empolgado com as descobertas que toda a joia que era encontrada ele logo dizia que teria pertencido a alguma personagem da Ilíada, embora que estudos posteriores dataram as joias de épocas diferentes.

De qualquer forma, além desses achados, Schliemann também deixou uma série de diários sobre as escavações, relatando os artefatos descobertos e as ruínas, além de uma autobiografia, um tanto romanceada, que serviu de prefácio para o seu livro, Ílio, a cidade e o país dos Troianos, onde ele falou a respeito da descoberta de Troia e seus achados nas escavações. Porém em 1890 quando estava para iniciar sua próxima série de escavações acabou falecendo. 

"Depois da morte de Schliemann, em fins de Dezembro de 1890, o seu colega e sucessor, Professor Wilhelm Dörpfeld, operando também em grande escala, prosseguiu com os trabalhos com duas campanhas adicionais, em 1893 e 1894. Para cima de uma geração decorreu entçao, sem que se empreendessem quaisquer novos trabalhos em Hissarlik". (BLEGEN, 1971, p. 27).


O arquiteto e arqueólogo alemão Wilhelm Dörpfeld (1853-1940). Ao lado de Schliemann foi um dos pioneiros nos estudos e escavações de Troia.
No entanto, em vida, nesses vinte anos de trabalho, tendo sido ajudado pelo seu amigo Dörpfeld, ambos fizeram uma descoberta grande e inesperada. Ao invés de encontrarem apenas uma cidade, encontraram nove Troias? 

"A medida que avançava, começou a notar que os restos não formavam uma massa única homogênea, mas sim que tinham crescido por acumulação em numerosas camadas sobrepostas, umas sobre as outras, e que representavam, evidentemente, igual número de fases ou períodos cronológicos. A certa altura, já Schliemann conseguia distinguir pelo menos sete, e por fim, com a ajuda de Dörpfeld, nove camadas principais que se estendiam pela elevação adentro. Chamou-lhes 'cidades'". (BLEGEN, 1971, p. 30).

Schliemann e Dörpfeld haviam descoberto que ao longo da história a cidade foi reconstruída e ampliada várias vezes, sendo que alguns casos, se construíram sobre as estruturas anteriores, por isso que quando começaram a escavar cada vez mais fundo a colina, notaram que a mesma até certo ponto era uma formação natural, no entanto algumas de suas partes eram formadas pelo o acumulo de sedimentos ao longo do tempo, pois as nove "cidades" em parte foram construídas uma acima da outra. Por um lado, isso intrigou os dois arqueólogos, mas por outro, revelava que realmente a cidade era bem antiga, e Schliemann apontou que os níveis mais antigos teriam pertencido aos reis que antecederam Príamo. 


Representação de algumas construções de alguns dos sítios arqueológicos de Troia, chamados de "cidades" por Schliemann
Porém com a descoberta dessas "cidades" isso deixou Schliemann em dúvida, pois no início ele acreditava que a cidade fosse "uma" só, mas agora descobrira que haviam nove "cidades", no entanto a dúvida de Schliemann era, qual dessas "cidades" teria sido a que Príamo governou? Inicialmente ele cogitou a Troia II, mas posteriormente, Dörpfeld acreditava que a Troia VI, seria a Troia descrita por Homero. Sobre isso, vamos analisar um pouco melhor cada uma dessas "cidades".

Troia I (3000-2500 a.C)

Em grande parte a história de Troia ocorreu no período chamado Idade do Bronze que começou mais ou menos em 3300 a.C e foi até 700 a.C, ressalvando que o período oscilou de lugar para lugar, de cultura para cultura, pois algumas civilizações entraram mais tardiamente na Idade do Bronze e outras saíram mais cedo. 

O termo Idade do Bronze advêm do fato de que tais povos passaram a utilizar o bronze, o qual é uma liga metálica formada a partir da fundição de estanho e cobre, para fabricar armas, utensílios, e uma gama de objetos. A partir da difusão da metalurgia a base de bronze, os historiadores criaram essa periodização, e no caso de Troia, ela vivenciou esse período, mas não no início, pois tardou algumas décadas para que os troianos adotassem o bronze.

"Os primeiro habitantes a instalarem-se no local construíram as suas casas sobre a rocha nativa ou pouco acima dela, na ponta ocidental da crista. Ainda hoje não se sabe de onde vieram estes imigrantes. Escavações feitas em Kum Tepe, uma elevação que se ergue a pouca altura, na margem esquerda do Escamandro, não longe do pequeno estuário em que este rio desaguá nos Dardanelos, revelaram restos da mesma cultura que se acha representada em Troia I". (BLEGEN, 1971, p. 42).

Estudos em ruínas de cidades da região da Troade, revelaram que os povos que ali viveram possuíam traços culturais em comum, logo cogita-se que todos tiveram antepassados em comum. Percebeu-se que o estilo artístico e as técnicas de fabricação dos objetos eram similares, e também acredita-se que a língua e alguns ritos religiosos também poderiam ser parecidos, pelo menos no início, pois cada cultura tende a se modificar ao longo do tempo.

Nas escavações realizadas por Schliemann na Troia I descobriu-se a ausência de metais, pois foi encontrado poucas peças de metal no sítio arqueológico da cidade. Não obstante, descobriu-se que Troia I foi uma espécie de cidadela que chegou a contar com uma muralha de pelo menos 3,5 metros de altura, muralha essa feita de pedras, sem muita habilidade, e as ameias eram feitas de tijolos de barro cru. 


Schliemann descobriu que houve um aparente progresso cultural na Troia I, pois notou-se diferenças nos estratos desse sítio, ao ponto de reconhecer dez subdivisões, no entanto não falarei especificamente desses estratos, pois é algo mais voltado para o estudo arqueológico e uma linguagem mais técnica a qual desconheço. Mais o que importa saber, em que nesses dez estratos, notou-se poucas diferenças de mudanças na sociedade troiana, no entanto quando se chega a Troia II como será visto mais a frente, as mudanças foram bem significativas.

Assim chega-se a conclusão que Troia I foi uma pequena cidadela que com o tempo foi ampliada, pois descobriu-se que algumas muralhas foram construídas posteriormente, conotando a expansão daquele núcleo populacional. 


Imagem escaneada do livro Troia e os Troianos, página 47.
Não obstante, as habitações eram bem simples como aponta os estudos. As casas eram feitas de tijolos, só possuíam um cômodo, tendo ao centro uma fogueira ou lareira, e as vezes uma segunda lareira ou fogão a lenha nos fundos da casa, o que indicava ser a cozinha. O teto era plano e não possuía telhas, o chão era revestido de barro e as paredes rebocadas grosseiramente com barro. As casas eram simples e geralmente tinham uma forma alongada, e em alguns casos, ficavam lado a lado.

"Os habitantes de Troia I viviam uma vida simples mas serena, em casas bem construídas, relativamente confortáveis, Em muitas as paredes eram rebocadas; e no chão se estendiam esteiras tecidas". (p. BLEGEN, 1971, p. 51).

Devido a precariedade das estruturas encontradas, não se sabe ao certo se as casas possuíam janelas, quanto eram e como eram. Mas acredita-se que possuíssem uma abertura no teto, para permitir a entrada da luz e a saída da fumaça. 

A respeito da mobília não se encontrou nada que sugeri-se algo do tipo, nenhum sinal de mesas, cadeiras, camas, armários, etc. Acredita-se que as pessoas sentavam-se no chão sobre esteiras, e também dormissem no chão, dormindo sobre forros. No entanto, encontrou-se muitos objetos ligados a cozinha; foram encontrados descansos para espeto de assar, panelas, tigelas, copos, vasos, facas, um tipo de garfo, etc. Os talheres que conhecemos hoje habitualmente só foram desenvolvidos propriamente na Idade Moderna, ou seja mais de dois mil anos depois dessa época. 

"Pelos restos de comida deixados no chão vemos que a alimentação habitual dos Troianos não deixava de apresentar uma certa variedade. Carne de vaca, carneiro ou cordeiro, cabrito e porco parecem ter sido de consumo corrente, alternando ocasionalmente com coelho e caça. Comiam golfinho, atum e outros peixes, juntamente com aves selvagens não identificadas, e ainda muitas espécies de mariscos". (p. BLEGEN, 1971, p. 51).

Sabe-se que nesse primeiro momento a alimentação era basicamente carnívora, mas no final do período da Troia I, já existiam pequenas lavouras de trigo, pois se encontrou indícios da fabricação de pães nas casas. 

Mas continuando essa descrição sobre o lar e a vida troiana dessa época, Schliemann e Dörpfeld ficaram surpresos e espantados com a falta de higiene dos troianos, pois descobriu-se que eles não tinham o hábito de colocar os restos de comida e entulho para fora de casa, simplesmente eles escolhiam um local da casa e entulhavam restos de comida, cacos de cerâmicas, tecidos velhos, o que poderíamos chamar de "lixo", ou em alguns casos atiravam tudo no meio da rua.

"Tudo que se punha de parte - ossos, restos de comida, loiça partida - era atirado para o chão dentro de casa, ou pela porta fora para a rua. Mais tarde ou mais cedo tinha de chegar uma altura em que o chão se achava tão cheio de ossos e miudezas que até a família mais descuidada sentia que tinha de tomar algumas medidas do gênero da clássica limpeza da Primavera. Esta realizava-se normalmente, da maneira mais prática e efectiva: não varrendo o desagradável aglomerado que cobria o chão, mas sim trazendo uma boa dose de barro novo, limpo, e espalhando uma camada espessa para cobrir os incômodos depósitos". (BLEGEN, 1971, p. 36-37).

Outra questão descoberta sob as camadas que formavam o chão das casas, era que em alguns casos, as famílias sepultavam recém-nascidos ou bebês que faleceram na própria casa. Foram encontradas urnas de barro, contendo os ossos dessas crianças, estando as mesmas enterradas sob o chão da casa. Para historiadores mais atuais, isso conota uma certa ligação simbólica com o lar, algo como se significasse que o individuo mesmo morto, ainda estaria próximo. 

A respeito de outras características da sociedade troiana desse tempo, sabe-se que os troianos já possuíam uma relativa habilidade na confecção e fiação de roupas e outros tipos de tecidos. Havia a criação de ovelhas, permitindo o uso de lã, além de também o couro bovino e a pele de animais. Entretanto, as agulhas dessa época eram feitas de ossos.

Osso também era o material utilizado para a fabricação de alguns tipos de ferramentas e até mesmo de armas, pois encontraram-se punhais feitos de costelas de animais. Não obstante, o uso de ferramentas e de armas feitas de pedra era comum, pois nessa época o metal era escasso, já que não há minas na região, logo os troianos para conseguirem metais teriam que saquear de outros povos ou realizar comércio. Em Troia II, já nota-se um grande aumento de peças de metal nos estratos escavados, conotando possivelmente o comércio com o Oriente, mas principalmente com as Cíclades (nome dado ao arquipélago do Egeu, hoje em grande maioria compreende o atual território grego), ilhas conhecidas pelo comércio de bronze e outros metais.

A respeito da cerâmica, notou-se uma incrível variedade de formatos e detalhes estilísticos, indo desde meros desenhos geométricos, a tracejados mais complexos e até mesmo a retratação de rostos humanos e formas humanas. Nas escavações aponta-se que as cerâmicas eram bem trabalhadas e deveriam ser belas para a época. Suas cores variavam do preto, cinza, verde-azeitona, em alguns casos castanho e mais raramente vermelho.
Imagem escaneada do livro Troia e os Troianos, página 54.
"Reconheceram-se para cima de 60 formas de vasos mais ou menos diferentes, muitos deles concebidos nitidamente para comer e beber, alguns para conter líquidos, outros para armazenagem. Um sem-número de outras formas acham-se, indubitavelmente, representadas no meio da massa de fragmentos, insuficientemente preservados para que os possamos juntar e reparar". (BLEGEN, 1971, p. 55).

Troia II (2500-2200 a.C)

As ruínas de Troia II em grande parte construída sobre a Troia I, marcaram visivelmente um grande avanço pelo menos tecnológico e social da cultura troiana. As muralhas da cidadela foram ampliadas para dá espaço a estruturas que Dörpfeld chamou de megaras e megaron, pois segundo ele, tais estruturas se assemelhavam as estruturas palacianas vistas na ilha de Creta e em Micenas. Logo, Dörpfeld constatou que deve ter havido um enriquecimento e um aumento do prestígio do soberano, pois tais estruturas indicam terem sido o lar do rei e da família real troiana. 

"Troia II começou pela reconstrução completa da cidadela, depois do desastre que causou o fim do Primeiro Estabelecimento. Não há a menor prova de quebra, ou mesmo de um salto cronológico apreciável; pelo contrário, a cultura de Troia I parece passar à Troia II numa continuidade inalterável". (BLEGEN, 1971, p. 62).

A cidadela de Troia I havia sido destruída por um incêndio, no entanto a cidade se salvou desse acidente. A respeito da nova cidadela, a mesma ocupava uma área de cerca de 110 metros de diâmetro, pois como foi dito, a construção dos megaras, levou a ampliação do terreno e até mesmo o deslocamento das muralhas e torres da cidadela, para abrir espaço para as novas construções.

Sobre as muralhas, notou-se que as mesmas não eram homogêneas, pois em alguns trechos era feita inteiramente de pedra, em outros apenas metade ou a base era feita de pedras, e o restante era feito de tijolos. Além desse aspecto, na parte sul e oeste, foram erguidas novas torres a cada dez metros do segmento da muralha, e os portões foram ampliados.

"Dörpfeld reconheceu duas portas principais, uma a oeste e outra a sul; pode ter havido uma terceira a leste e uma quarta a norte. As duas que sobreviveram apresentam um plano especial: ambas têm a forma de um corredor coberto bastante comprido, ou galeria, que passa directamente por baixo de uma enorme torre, que se projecta para fora da muralha, e ambas sobem gradualmente até ao  nível do solo interior da cidade". (BLEGEN, 1971, p. 64).


Imagem escaneada do livro Troia e os Troianos, página 68.
Na imagem acima pode-se ter uma noção da nova cidadela erguida durante a Troia II. Ao centro pode-se ver as paredes dos megaras e do megaron, além do propileu (corredor de colunas), como também da nova muralha e os restos de outras construções. Schliemann considerou a descoberta dessas estruturas como o indicativo de isso ter sido o palácio do rei Príamo, pois na Íliada, Homero diz que Príamo vivia em um grande palácio cheio de cômodos que chegava a abrigar todos os seus 50 filhos, evidentemente Schliemann considerou em parte isso um exagero, mas por outro lado estava crente que aquelas ruínas eram o palácio do rei Príamo. Mas, além desse fato há outros indicativos que levaram Schliemann a acreditar por quase vinte anos, que Troia II era a Troia descrita por Homero, a Troia da famosa guerra. Vejamos alguns desses indicativos.

O mégaron ou sala do trono como alguns passaram a chamar era uma grande sala, possivelmente de forma retangular, embora que suas medidas exatas ainda sejam desconhecidas. Mas acredita-se que dentro deveriam haver colunas de pedra ou madeira sustentado o amplo teto, além de uma possível abertura no telhado para permitir a saída da fumaça da fogueira. Também foi encontrados indicativos de uma espécie de bancos de pedra, pois se houve mobília de madeira como cadeiras, bancos e mesas, o tempo as destruiu. Não obstante, sugere-se que o local do trono fica-se do lado oposto a entrada principal, embora não se encontrou vestígios do mesmo. Além disso, existe ao lado do mégaron um corredor, o propileu, uma construção típica vista entre os gregos, as quais existiam em muitas de suas cidades. Os propileus eram formas de destacar a beleza arquitetônica da cidade. 

Mas além da própria cidadela, nota-se que houve o crescimento de algumas casas, as quais se tornaram maiores e passaram a terem divisões de cômodos. Além desse fato, vestígios de ossos de animais sugerem que os troianos desse tempo tiveram grandes rebanhos de gado vacum, cabras, ovelhas e possivelmente porcos e cavalos, somando-se a isso, também a descoberta de vários produtos feitos de metais. 

O chamado "grande tesouro" descoberto por Schliemann na chamada "Casa do Rei da Cidade", uma estrutura de 8x15m bem maior do que o comum, foi um dos motivos para Schliemann também acreditar que aquela era a Troia de Príamo, pois era descrito que sob seu governo os troianos gozavam de uma grande prosperidade. 

"O 'Grande Tesouro' de Schliemann era deste gênero misto. Incluía três vasos (entre eles uma notável molheira com dois planos de simetria), dois magníficos diademas, uma banda estreita muito simples, quatro ornamentos complicados para as orelhas, em feitio de cesto, 56 argolas, talvez para segurar o cabelo, seis braceletes e 8700 contas de vários tamanhos e feitios de língua, todas de ouro; uma taça de electro; seis barras em feitio de língua, quatro canecas, dois pires, uma tigela baixa, uma taça, duas botijas e uma tampinha, tudo de prata; três granes vasos (uma bacia, uma panela e um balde), 20 lâminas de serra estragada e o fragmento de um utensílio de uso desconhecido, todos de cobre ou bronze". (BLEGEN, 1971, p. 78).

Além de joias e esses utensílios, também foram encontrados outros objetos feitos de bronze, incluindo agora lâminas de adagas e pontas de lança. Armaduras e escudos não foram descobertos nesse período. Entretanto, a questão que recaí a respeito desses "tesouros" e objetos de metal, é de onde eles vieram?


Machados de Combate reais do "Tesouro L" de Schliemann, provavelmente da última fase de Troia II. O que se vê em cima à esquerda é feito de uma pedra azulada, semelhante ao lápis lazúli, os outros de nefrite esverdeada escura. Imagem escaneada do livro Troia e os Troianos.
De acordo com o poeta grego antigo Hesíodo (séc. VIII a.C), ele disse que na Troade havia minas de ouro, no entanto até hoje não se encontraram essas minas de ouro, então de onde vinham os metais, sobre isso existem várias hipóteses: Alguns sugerem que os metais em grande parte advieram do comércio com as Cíclades como já mencionado anteriormente, talvez da região da Frígia e da Cilícia, hoje ambas também localizadas na atual Turquia, da Grécia e de Creta. Quanto ao Egito, não se encontraram indicativos que nessa época houvesse um comércio troiano com os egípcios. Por outro lado, alguns sugerem que os tesouros e os metais advieram do saque de campanhas militares. De qualquer forma não se tem certeza.

Porém, se tomarmos a questão do comércio, o qual se sabe que aconteceu, o que Troia poderia fornecer como mercadoria? Pois a moeda, ou o dinheiro em si não existiam nessa época, logo, o comércio era a base de escambo (trocas de mercadorias). 

Descobertas arqueológicas encontraram vestígios de cerâmicas troianas, algumas conhecidas como depas, as quais foram descobertas na Cilicia, nas Cíclades, na Grécia e até mesmo no sudeste da atual Bulgária. Isso foi interpretado como o indicativo de que os troianos estivessem envoltos em uma rede de comércio pelo Mar Egeu. Por outro lado, muitos povos da época já produziam cerâmicas, logo, os troianos teriam que vender algo a mais. Assim, os historiadores sugerem que os troianos devessem exportar roupas, tecidos de lã, animais, e até mesmo madeira, pois diferente de hoje, naquela época havia mais florestas na região da Troade, e as Cíclades nunca tiveram uma quantidade razoável de madeira, logo acredita-se que os troianos pudessem ter vendido madeira para eles, e em troca comprariam metais, pois as Cíclades eram um importante centro do comércio metalúrgico no Egeu. 

Homero diz que os troianos faziam comércio com vários povos, por isso eram muito ricos, logo os gregos os viam como concorrentes nesse âmbito. De certa forma, Homero estava certo em ter falado isso.

Outro aspecto que chamou a atenção de Schliemann, Dörpfeld e a expedição da Universidade de Cincinnati, de Ohio, Estados Unidos, foi a falta de túmulos em Troia e de até mesmo cemitérios, pois, nos vinte anos de Schliemann trabalhou escavando o sítio não foi encontrado cemitérios; nas duas expedições solos de Dörpfeld em 1894 e 1896, também não se encontrou nada, embora que o mesmo encontrou alguns esqueletos carbonizados, vítimas de um incêndio. Já a expedição da universidade, que ocorreu nos anos 30 do século XX, encontrou na cidadela três covas, uma pertencendo a uma mulher por volta de seus 30 anos e as outras duas pertenciam a crianças, uma de 8 anos e outra de 12 anos. 

A questão é que não se sabe se tais esqueletos pertenceram a uma mãe e seus dois filhos, ou tais indivíduos não eram parentes. Não obstante, as covas era pouco profundas e simples, conotando-se que aquelas pessoas poderiam ter sido escravos ou pessoas de baixa classe social. Porém a grande questão que ronda isso tudo, é a falta de cemitérios, o que levou a Schliemann e Dörpfeld a acreditarem que os troianos cremassem seus mortos, assim como Homero aponta em se livro, pois Heitor e Páris foram cremados, e grandes ritos fúnebres foram realizados em suas homenagens. 

Por fim, a última evidência que levou Schliemann a acreditar que Troia II era a Troia descrita por Homero, foi devido ao fato de que um grande incêndio assolou a cidade, destruindo a cidadela e grande parte da cidade. Os cidadãos evidentemente fugiram todos, a não ser por alguns esqueletos carbonizados que foram encontrados. Segundo Homero, depois que os gregos invadiram Troia, eles mataram, pilharam e incendiaram a cidade a reduzindo à cinzas. 

Mas, havia um problema nessa teoria que Schliemann acreditava como Dörpfeld apontou. Se a cidade teria sido incendiada por inimigos, onde estariam os corpos? Pois embora a cidade tenha sido queimada, não significa que os corpos foram cremados, logo deveria se ter encontrado vários esqueletos ou ossos humanos por toda a cidade, mas isso não foi encontrado; não obstante, haveria sinais de uma batalha pela cidade, mas também nada disso foo encontrado. Assim, uma hipótese sugere que o incêndio talvez não tenha sido causado por uma invasão, mas pode ter sido acidental ou até criminoso, de qualquer forma, são apenas hipóteses, mas pelo o que indica-se, grande parte da população conseguira fugir a tempo. E se o incêndio não foi causado por uma batalha, logo, então não foram os gregos que incendiaram Troia, como Homero fala, assim Dörpfeld presumiu que Troia II não deveria ter sido a Troia descrita por Homero. Mas, a respeito disso, ele também somou outras evidências encontradas, que sugeriram que Troia VI foi a cidade do mito. 

Troia III (2200-2050 a.C)

Mesmo com o grande incêndio que pusera fim a Troia II, os troianos voltaram a se restabelecer no local, limpando os escombros e reconstruindo a cidade. Entretanto, as condições de Troia III como sugerem os artefatos e outros vestígios foram difíceis e menos prósperas do que no período anterior, pelo menos no início. 

As escavações apontaram que nessa terceira fase, a cidade era bem menor do que a anterior; a cidadela foi reconstruída, porém os megaras deram espaço apenas para um megaron; as casas também em grande parte foram reconstruídas e em muitos casos como foi visto, aproveitou-se o material das antigas casas na construção, pois constatou-se que a maioria das casas de Troia III eram feitas em grande parte de pedras e não de tijolos como até então vinha sendo construído. Acredita-se que os escombros das muralhas foram reutilizados na construção das novas casas.

A respeito das casas surgiram algumas diferenças. Constatou-se que as mesmas eram construídas lado a lado, uma espécie de bloco residencial, no qual havia quatro casas, ambas davam saída para rua; não obstante, as salas passaram a serem maiores, tendo algumas casas as dimensões de 10x5 m. Foi encontrado também vestígios de bancos de alvenaria e possivelmente de camas também. Passou-se também em haver uma divisão nos fundos da casa, para se separar a cozinha do restante. Em alguns casos, algumas casas chegaram até mesmo a possuírem primeiro andar e segundo, revelando uma espécie de pequeno apartamento, no qual poderia abrigar várias famílias.

"Casas separadas, sem encosto, eram aparentemente raras - se chegou a haver alguma. A gente vulgar vivia, evidentemente, em apartamentos de uma, duas ou três peças, contidos numa estrutura maior e separados por paredes divisórias, dispondo cada um de uma porta que dava para a rua, podendo ainda ter havido pátios a céu aberto, de tamanho diminuto. As paredes eram normalmente cobertas com camadas de um revestimento feito de argamassa dura, por vezes acabadas com um banho final de argila. Os chãos eram feitos de argila, e certas pequenas áreas de feitio irregular, fortemente calcinadas pelo fogo, serviam de lareiras.

Outra diferença encontrada em Troia III diz respeito aos hábitos alimentares, notou-se que houve um grande aumento no consumo de carne de caça, em especial de veados.

"A aparição um tanto brusca de veados, em número sensivelmente maior do que até então, deve significar, naturalmente, terem-se aperfeiçoado novos métodos de caça; pode ter sido um avanço da habilidade e da técnica ou a obtenção de melhores cães de caça ao veado ou a invenção de armas mais eficazes, embora não possamos passar sem referir a possibilidade de alterações climáticas que tivessem favorecido a expansão de pastagens para os veados selvagens". (BLEGEN, 1971, p. 99).

Além da carne de veado que estava em alta, seguiam-se o consumo de cabras, porcos, vacas, coelhos e frutos do mar. Notou-se que a alimentação dos troianos desse período era razoavelmente abundante, no que teria proporcionado um aumento populacional como sugerem as estruturas de Troia IV onde encontrou-se uma ampliação da cidade.

A respeito da cultura material, praticamente não notou-se diferenças técnicas e artísticas, a cerâmica continuou sendo fabricada quase do mesmo jeito; a produção fiandeira e de tecelagem também teria mantido as mesmas técnicas; foram encontrados produtos em metal, o que sugerem que os troianos não perderam o acesso as suas fontes de metais, embora que encontrou-se menos quantidade de ouro e prata nas escavações de Troia III, um indicativo de queda de prosperidade econômica. 


Imagem escaneada do livro Troia e os Troianos, página 102.
A respeito das questões religiosas e os ritos fúnebres nada foi descoberto, a não ser pequenos ídolos de pedra e osso, que já tinham sido descobertos desde Troia I, embora não se saibam o nome desses deuses e suas atribuições. 

"Depois de passar por três fases ou mais, Troia III chegou ao fim. Permanece obscuro como isto se passou. Uma das casas foi, indubitavelmente, destruída pelo fogo, mas não parece que haja qualquer camada contínua de escombros queimados a indicar que todo o estabelecimento tenha perecido numa conflagração geral. Por outro lado, não pode haver dúvidas de que todas as casas da cidadela foram destruídas e de que uma nova cidade foi edificada sobre as ruínas da antiga". (BLEGEN, 1971, p. 103).

Troia IV (2050-1900 a.C)

"O novo estabelecimento, Troia IV, que se estendia por cima e para além das ruínas do Terceiro Estabelecimento, ocupava uma área de uns 17 000 m2 ou mais, perto de dois hectares. Os restos do Quarto Estabelecimento foram escavados por Shcliemann, por toa a maior parte da acrópole; em consequência disto, só ficaram pequenos restos de depósitos, não mexidos, disponíveis para exame das escavações mais recentes, e o material recolhido é correspondentemente escasso". (BLEGEN, 1971, p. 103).

Notou-se que parte da muralha da cidadela foi reconstruída, dessa vez usando-se apenas pedras, ao invés de tijolos também. Por outro lado notou-se um certo desleixo na organização estrutural da cidade, pois muitas casas descobertas possuíam tamanhos irregulares e até mesmo ruas foram fechadas e outras foram abertas, diferente da organização vista em Troia III. Ao mesmo tempo, os troianos usaram as fundações das antigas casas para subir as novas casas.

A respeito das lareiras ou fogões, notou-se uma modificação nesses, agora passou-se a possuir cúpulas, que ajudavam a conduzir a fumaça pela chaminé até fora da casa, pois antes disso, os fogões não tinha cúpulas. Também foram encontrados fogões e fornos externos, possivelmente de uso comunitário.


Lareira circular elevada, com um descanso simples de cozinha, preparado para suster uma panela sobre o fogo de carvão. Dois blocos planos de barro serviam de descansos para manter chegadas ao fogo vasilhas auxiliares. Imagem escaneada do livro Troia e os Troianos.
"Como em Troia III, os ossos de veado continuam a abundar no Quarto Estabelecimento e, proporcionalmente aos de outros animais, são muito usados como material de construção de utensílios". (BLEGEN, 1971, p. 106).

A cerâmica e outros materiais continuaram a serem produzidos no mesmo estilo, apenas variando as técnicas de fabrico, como a utilização de armações de palha na fabricação de grandes vasos, algo que já foi introduzido em Troia III. Nos mais tardar, não se notou muitas diferenças estruturais em Troia IV, pois como eu disse no começo, devido a falta de fontes escritas, nada se sabe da história da cidade e seu povo, além do que se conhece pelos vestígios materiais.

Troia V (1900-1800 a.C)


Nesse ponto, o interessante sobre a história de Troia é que sempre estão reconstruindo a cidade, embora que ainda hoje não haja explicações definitivas do porque de toda essa reconstrução. Em Troia V foi descoberto que parte da muralha da cidade foi refeita, para que possivelmente abriga-se um terraço, ao mesmo tempo, esse terraço nivelava o terreno e ampliava a área interna para construção. 

"Com as suas paredes regulares, relativamente finas e ligeiras, e (em certos casos) a maior regularidade das suas plantas, por comparação com as do período precedente, as novas casas apresentam certos sinais bem definidos de melhoria da técnica de construção". (BLEGEN, 1971, p. 110).


Mesa, banco de trabalho ou assento no canto sudoeste da sala 501. Era feito de barro, tijolo  cru e pedra. Imagem escaneada do livro Troia e os Troianos.
Um aspecto interessante descoberto em Troia V foi a questão da limpeza das casas. Os arqueólogos constataram que pela falta de entulhos e camadas sobrepostas nas casas, sugere que os troianos desse período passara a "varrer o chão" de casa e colocar o "lixo" para fora. Por um lado isso era bom na época, mas para os arqueólogos representou uma escassez de materiais desse período, logo em Troia V foram encontrados poucos objetos dos mais variados tipos, pois não se sabe o local para onde o entulho era levado, que provavelmente ficava fora da cidade. 

A respeito da cerâmica troiana, nota-se uma singela mudança no fabrico e adorno dos vasos nesse período.

"Os vasos são agora mais cuidadosamente moldados e cozidos, dando em resultado conseguir-se uma simetria maior do contorno e um acabamento superficial mais fino, uma qualidade mais igual e ocres mais vivas do revestimento exterior de aspecto vidrado. Aparecem muito umas tigelas baixas decoradas por dentro ou por fora com uma grande cruz pintada, que continuavam uma tendência aparecida pela primeira vez em Troia IV. Os oleiros aplicavam ainda decorações incisas, bem como ornamentos plásticos à maneira antiga, mas ocasionalmente criavam também motivos com traços polidos". (BLEGEN, 1971, p. 114).

Embora se desconheça mais aspectos relevantes da história de Troia V, os arqueólogos notaram que nesse fase da história troiana, os troianos já haviam recuperado em parte a prosperidade vista em Troia II, e tal recuperação foi visível em Troia VI e VII.

Troia VI (1800-1300 a.C)

"Com Troia VI encontramo-nos na Idade do Bronze Média, tomando como referência o sistema cronológico do Egeu. Uma análise das ruínas do Sexto Estabelecimento e dos objectos variados e cerâmica nele recolhidos revelam, imediatamente, muitas diferenças flagrantes e inovações, por comparação com os períodos precedentes na colina de Hissarlik. As mudanças aparecem de forma tão inesperada, difundidas numa vasta extensão e de tão grande projecção, que a única explicação é indicarem uma quebra com o passado e a chegada e estabelecimento, no local, de uma população nova, portadora de uma herança própria". (BLEGEN, 1971, p. 116).

Em Troia VI notou-se que uma nova cultura se estabeleceu na cidade, tendo essa algumas características que se assimilavam a cultura micênica na Grécia. Descobriu-se uma grande quantidade de cerâmica micênica em Troia, o estilo das cerâmicas de Troia VI mudou quase que por completo, foi estimado 90 tipos de estilos, sendo que 8 ou 7, eram antigos estilos já empregados na cidade. Não obstante, outro fato interessante dessa influência grega, foi a descoberta de um templo dedicado a deusa Atena, construído na Acrópole.


Representação da cidadela de Troia VI. No topo da acrópole pode-se ver o templo de Atena. As demais construções estariam ligadas a família real e a nobreza da cidade.
A própria cidadela foi reconstruída e reformada. Casas, megaras e templos foram erguidos, transformando a cidadela numa verdadeira fortaleza. As muralhas, passaram a serem feitas em maior parte de pedras do que de tijolos; foi erguida uma torre no lado sudeste-nordeste que teria chegado a ter 18 ou 20 metros de altura, tendo sido a torre mais alta da cidade, possivelmente uma torre de vigia em si do que uma torre de defesa. 

As casas também se tornaram em alguns casos maiores, chegando a ter 10x5 m, e em alguns casos constatou-se divisórias de cômodos, como uma espécie de antessala o soleira, quartos, cozinha e depósito, além de que também encontrou-se um maior número de móveis de alvenaria, como bancos, mesas, camas, bancadas, etc. 

A respeito das casas das quais poucas foram encontradas razoavelmente intactas na escavações de Dörpfeld, um edifício que chamou a atenção na época foi a chamada "Casa dos Pilares".

"A Casa dos Pilares foi projectada com uma divisão relativamente pequena, com cerca de 3,80 m de largura que se estendia de encontro à parede leste, uma grande sala com uns 15,5X8,0 m, que ocupava a parte média, e três pequenos compartimentos, ou cubículos, ao lado uns dos outros, de encontro à parede oeste. O telhado do edifício, proávelmente plano, era sustentado pelas paredes exteriores e pelas paredes divisórias, com o auxílio de dois grossos pilares dispostos sobre o eixo da sala grande". (BLEGEN, 1971, p. 137-138). 

De início acreditou-se que devido as dimensões e outras características que a "Casa dos Pilares" poderia ter sido um megaron, mas Dörpfeld e outros atestaram que a casa era uma construção similar mas diferente em alguns aspectos, perfazendo uma estrutura única desse período, embora tenha semelhanças com outras casas de Troia VI. Isso levou os arqueólogos e historiadores a contestarem se a "Casa dos Pilares" havia sido uma residência de alguma rica família que morava foi da cidadela, ou teria servido para outros propósitos  como um templo, salão de reuniões, banquetes, festejos, etc?

Não obstante, tanto na "Casa dos Pilares" quanto em outras casas da cidade, foram encontrados muitos objetos em bronze, embora que em ouro e prata encontrou-se muito pouco, mas por outro lado, se descobriu alguns objetos em marfim, conotando que possivelmente os troianos ou estavam fazendo comércio com os egípcios, ou passaram a comprar produtos de origem africana. 


Vista de um dos portões de Troia VI
Outro aspecto interessante a respeito desse período foi o aumento de cavalos na região, pois até então havia-se muito poucos cavalos. Tal fato foi um dos motivos para que Dörpfeld acredita-se que essa fosse a Troia descrita por Homero, já que o poeta refere-se em muitas momentos aos troianos como sendo "domadores de cavalos" possuindo grandes criações de cavalos. Nesse caso, acredita-se que os cavalos introduzidos de Troia vieram de povos do Oriente, como os hititas que não viviam tão distante dali.


Nesse período da história troiana também descobriu-se uma grande quantidade de louça de cerâmica minica, um tipo de cerâmica de cor acinzentada, que por algum tempo acreditou-se que era feita na Grécia, mas os indícios apontaram que tal cerâmica era feita em Troia, e a quantidade da mesma encontrada na Grécia, é mais um indicativo do aumento do comércio dos troianos com os gregos.  


Alguns vasos de cerâmica mínica cinzenta de Troia VI.
Outra grande descoberta feita em relação a Troia VI foi o achamento do primeiro cemitério troiano, pois como eu já havia falado aqui, até então nunca havia-se encontrado um cemitério em Troia. O cemitério foi descoberto em uma colina a 550 metros de distância a sudeste da cidade, lá foram descobertas cerca de 200 urnas fúnebres, contendo as cinzas e alguns poucos ossos que sobreviveram a cremação. O cemitério já havia sido descoberto em 1893 na expedição de Dörpfeld mas o mesmo não se aprofundou em escavá-lo, então na expedição da Universidade de Cincinnati, decidiram explorar mais afundo o cemitério.

"A importância desta descoberta é dupla: é o primeiro e único cemitério de Troia pré-clássica que se conhece até hoje, e mostra a que a cremação era ali praticada nos últimos tempos do Sexto Estabelecimento. Dos restos de ossos queimados, recolhidos tanto nas urnas como fora delas, o Dr. Angel conseguiu determinar que se achavam representados cerca de 29 indivíduos: 13 criancinhas, que iam de recém-nascidas a poucos meses de idade,  7 mulheres, 6 homens e 3 pessoas de identificação duvidosa. Parece pois tratar-se de um cemitério comum".  (BLEGEN, 1971, p. 148-149).

Sabe-se que uma catástrofe atingiu a cidade no final do século XIV a.C, e tudo indica que teria sido um terremoto, pois constatou-se que um trecho de 120 metros de parte da muralha desabou quase que completamente e outras avarias foram encontradas por toda a cidade, além de também de indícios de incêndios, no entanto, o terremoto não foi forte o suficiente para acabar com a cidade pois, o período de Troia VIIa é bem similar a Troia VI, no que indica que passado o tremor, os troianos reconstruíram e repararam as muralhas e as edificações abaladas e continuaram a viver normalmente, não tendo sido necessária a total reconstrução da cidade como foi visto em tempos passados.

Mas por fim, porque Dörpfeld acreditava que Troia VI fosse a Troia descrita por Homero e não Troia II? Para isso vamos recapitular alguns pontos: 

A descoberta de grandes casas e imponentes muralhas, sugerem certa prosperidade e poder ao governante, além de perfazer uma característica descrita por Homero. 

Segundo, o variado tipo de cerâmicas e outros produtos estrangeiros conotam uma rede comercial que abarcava pelo menos todo o mar Egeu. 

Terceiro, a descoberta de um templo dedicado a deusa Atena, indica uma proximidade com a cultura grega, pois Homero diz que os troianos falavam a mesma língua que os gregos além de possuir costumes e leis em comum. 

Quarto, o indicativo de incêndio e o terremoto também correspondem as descrições da guerra, pois embora o incêndio em Troia II tenha sido maior do que em Troia VI, outros autores que falam sobre a Guerra de Troia dizem que parte das muralhas desabaram devido a um tremor, pois teria sido um ato de punição enviado por Poseidon. Assim, a comprovação do terremoto nesse período e mais um indicativo para tal fato. 

Quinto, o grande número de ossos de cavalos, também contribui para reafirmar o que Homero falava. 

Sexto, Heródoto havia dito que Homero teria vivido cerca de 500 ou 400 anos depois da guerra, logo se o mesmo viveu entre os séculos IX e VII a.C, os séculos XIV e XIII a.C, seriam o período em que a guerra teria acontecido.

No entanto, estudos posteriores acreditam que a Guerra de Troia teria acontecido entre o final de Troia VI, ou no final de Troia VIIa, pois descobriu-se que houve uma grande ruptura entre Troia VIIa e Troia VIIb, o que levou o próprio Dörpfeld na época em se dividir a fase VII em dois períodos, assim alguns historiadores acreditam que a guerra teria acontecido na realidade em Troia VIIa, por outro lado, outros levam em consideração que embora a guerra possa ter acontecido nesse período, ela não teria tido as mesmas proporções da guerra narrada por Homero e os outros poetas. 

Troia VIIa (1300-1260 a.C)

Mesmo que o terremoto tenha feito desabar parte da muralha e algumas casas, pelo o que os vestígios indicam não tardou para que os troianos voltassem a reconstruir a parte destruída e imediatamente voltassem a seguir com a vida. Dörpfeld e outros arqueólogos notaram que a cultura de Troia VIIa era bem similar a sua antecessora, e ele cogitou até mesmo considerar mudar a nomenclatura de Troia VIIa para encaixá-la em Troia VI, mas devido a questão do terremoto, a reformas estruturais e outros pequenos achados, Dörpfeld e os outros acabaram concordando em deixar a nomenclatura de VII.

Descobriu-se que algumas das casas que haviam sido destruídas pelo terremoto foram reconstruídas lado a lado e até mesmo tendo uma das paredes bem próxima da muralha ou colada na muralha. Não se sabe ao certo o porque, mas alguns sugerem que a população deve ter aumentado nessas décadas, e levou a se replanejar o espaço urbano. Acerca dos palácios e dos megaras, praticamente não se encontraram bons vestígios dos mesmos, mas não significa que os mesmos não existiram nesse tempo.

No entanto, nota-se que as casas das pessoas comuns foram reconstruídas com uma estrutura bem mais sólida. As paredes eram mais grossas, o acabamento mais firme, o telhado também foi reformulado para se tornar mais resistente, tal motivo era um indicativo que os troianos temendo que outro terremoto pudesse acontecer já estavam se precavendo contra o mesmo, assim eles pensavam. 

Nota-se também que as casas eram um pouco maiores e pareciam um pequeno conjunto habitacional algo visto desde Troia V, entretanto, passou-se a ser mais comum a divisão interna dos cômodos, como dito anteriormente, em Troia VI. Porém, uma marca diferencial desse período a respeito das casas, não era apenas sua estrutura, mas a descoberta dos pithoi


Imagem de pithoi recém desenterrados. 
Os pithoi (phitos no singular) eram um tipo de vasos ou ânforas comuns entre o povo grego, cretense, egípcio, fenício, etc. A forma e o tamanho dos pithoi poderia varia de 50 cm ou até mesmo chegar aos 2 m de altura. Em alguns casos, os pithoi eram enterrados nas casas tendo apenas a tampa para fora, ou simplesmente era resguardado algum lugar da casa, uma espécie de despensa, para armazená-los, pois eles poderiam conter desde água, vinho, azeite, a grãos, e outros tipos de produtos.

No caso de Troia VIIa, as expedições de Dörpfeld e Cincinnati descobriram algumas casas que possuíam vários pithoi, que variavam de apenas dois até mesmo doze desses. Desde Troia VI havia-se encontrado pithoi, mas não em tamanha quantidade como se viu em Troia VIIa. Nesse caso os troianos antes armazenavam pequenos pithoi ou até mesmo escavam nichos na parede para colocá-los, mas na fase VIIa todos passaram a serem enterrados, logo evitavam de ocupar espaço na casa, mas o curioso a respeito, foi descoberto na casa chamada "Casa 700", o número incomum de pithoi e salas (quatro ao total), levou alguns arqueólogos a acreditarem que a "Casa 700" teria sido na realidade uma espécie de refeitório ou um restaurante? Acredita-se que possa ter sido um refeitório para os soldados, porém não se tem certeza.


Representação de Troia VI e VIIa. Muitos historiadores e outros estudiosos acreditam que nesse período aconteceu a famosa Guerra de Troia.
No fim, quando chegamos ao final do período VIIa que durou breve 40 anos, descobriu-se que a cidade foi atingida novamente por um incêndio, mas dessa vez os indícios indicavam que foi devido a uma guerra. 

"Na vertente ocidental da colina exterior à muralha da acrópole, ao de cima de um estrato que forneceu cerâmica como a de Troia VIh e VIIa, achou-se um esqueleto. Os ossos, embora ainda mais ou menos ligados uns aos outros, não pareciam jazer em posição normal própria de um enterramento: dava impressão de que o homem foi abatido e abandonado ali mesmo, vindo a ficar coberto pelos escombros que lhe caíram em cima. A caveira foi esmagada e o maxilar inferior esmigalhado. Seriam restos de uma vítima, quem sabe se atacante se defensor, morto na peleja que precedeu a captura da cidade? Nada há de improvável nisso; na verdade, é até mais do que provável. Mas não podemos garanti-lo com toda a certeza". (BLEGEN, 1971, p. 167).

Blegen (1971) defende que Troia VIIa foi a Troia da guerra narrada na Ilíada de Homero. Para isso, basta pegarmos as explicações dadas por Dörpfeld a respeito de Troia VI e ao invés de considerá-la a cidade da lenda, transferimos aquelas explicações e as somamos com as descobertas encontradas em Troia VIIa, assim podemos chegar a conclusão que, de fato houve uma batalha na cidade, não se sabe se foram gregos os atacantes ou algum outro povo; o grande indicio de pithoi sugere que um cerco poderia ter sido feito, ou os troianos poderiam ter perdido acesso as plantações e ao gado, devido a eminência de um exército inimigo, pois não foi encontrado indicativos de uma seca prolongada ou algum outro fator que levou os troianos armazenarem grande quantidade de alimento. 

Entretanto, Blegen ressalva que por mais que os indicativos sejam favoráveis, não se tem como definir com clareza quando exatamente Troia VIIa foi atacada e quanto tempo durou essa batalha, pois embora ele sugira o ano de 1260 a.C, alguns outros arqueólogos e historiadores sugerem que a guerra teria ocorrido entre 1300a.C e 1250a.C, e alguns ainda defendem a data dada pelo geógrafo e matemático grego Eratóstenes, o qual disse que a guerra teria acontecido em 1184 a.C, 328 anos antes do início das Olimpíadas em 776 a.C. De qualquer forma, são poucos ainda que dão crédito a data proposta por Eratóstenes.

Pois se Homero estiver certo em dizer que Micenas foi responsável por reunir as cidade gregas para atacar Troia, Micenas teria que ter feito isso antes de meados do século XIII a.C, pois nesse período a Grécia foi invadida pelos Dórios e os Povos do Mar, logo como justificar uma guerra contra Troia, enquanto as cidades gregas estavam sendo atacadas por esses invasores?

"A empresa deve ter sido executada muito antes, numa altura em que o mundo micênico se achava no apogeu da sua força política, econômica e militar, e em que os imponentes palácios reais se elevavam em toda a sua grandeza, oferecendo um agradável acolhimento aos hóspedes que recebiam". (BLEGEN, 1971, p. 170).

Assim, se tomarmos que o lendário rei Agamemnon de Micenas foi o responsável por organizar a guerra, logo Micenas se encontrava em seu auge político, econômico, militar e cultural entre 1400-1200 a.C, embora que nas últimas décadas do século XIII a.C houvesse caído consideravelmente. Assim, desse ponto de vista a guerra de Troia mencionada nos poemas é plausível como acontecimento, mas não dá forma que foi descrito nos poemas.

Troia VIIb (1260-1100? a.C)

A história do período VIIb é interessante pois foi dividida em duas subfases bem distintas. Embora que nos períodos anteriores exista, várias subdivisões que omiti aqui por se tratarem de uma linguagem mais arqueológica e técnica, o VIIb merece menção a essas subfases.

Diferente do que é dito na Íliada que a cidade de Troia foi totalmente arrasada e seus sobreviventes ou foram levados como escravos ou passaram a vagar sem rumo definido pelo Mediterrâneo, na realidade constatou-se que após os eventos bélicos que levaram novamente a destruição da cidade, não tardou para os sobreviventes retornarem a habitá-la e reconstruir as casas. Logo a subfase denominada de VIIb 1 (1260-1190 a.C) consistiu numa espécie de prolongamento da fase VIIa, pois nenhuma mudanças significativa em termos de vestígios encontrados sugere que houve uma ruptura com o período anterior. Evidentemente deve ter havido mudanças políticas, mas devido a falta de documentos que falem sobre isso, nada sabemos.

Quando chegamos ao período denominado VIIb 2 (1190-1100 a.C) há outro mistério. Primeiro não se sabe o que ocorreu na cidade para que a fase 2 se distancia-se em alguns aspectos da fase 1, pois notou-se que o estilo arquitetônico, o acabamento, o interior das casas e a própria urbanização da cidade sofreram mudanças. O Portão Leste foi fechado, e uma casa foi construída diante de sua entrada, o Portão Sul ainda continuou a funcionar, mas acerca dos outros portões nada se sabe a respeito.

"Em quase todas as novas construções e reparações introduziu o povo de Troia VIIb 2 um novo aspecto arquitectônico, dispondo uma fila de lajes ortostáticas irregulares, de tamanho não muito grande, na face e na parte inferior da parede, ao nível ou logo abaixo do chão. Este critério, útil para datar os edifícios do Estabelecimento VIIb 2, foi primeiro notado por Dörpfeld". (BLEGEN, 1971, p. 174).

Outro fator que indica ruptura entre as duas fases diz respeito ao modo de fabrico da cerâmica. Até a fase anterior, era comum em Troia haver cerâmicas acastanhadas e minica cinzenta, mas na subfase VIIb 2, passou-se a privilegiar a produção da chamada "cerâmica com protuberâncias", uma mudança radical para alguns historiadores e arqueólogos, pois que motivos teriam levado os troianos a adotarem um novo estilo artístico e modo de produção? Alguns, acreditam que os troianos teriam recebido influência ou dos gregos, ou de algum povo da Ásia Menor ou até mesmo da Trácia.


Imagem escaneada do livro Troia e os Troianos, página 176.
"Reconheceu-se há muito que a Loiça com Protuberâncias apresentava um parentesco geral indubitável com certos materiais que têm sido encontrados em depósitos da Idade do Bronze Recente da Hungria. Esta ligação, que une Troia VIIb 2 ao vale do Danúbio, vem reforçar a possibilidade de que os instrumentos de bronze atrás mencionados, a despeito da falta de registos dos lugares da descoberta, possam ser atribuídos com segurança ao mesmo estabelecimento". (BLEGEN, 1971, p. 176-177).

Por fim até a década de 70 do século XX ainda pouco se sabia a respeito do período VIIb, e algumas novas descobertas levaram alguns arqueólogos a cogitarem a criação de uma nova subfase, VIIb 3 (1100-1025? a.C), pois notou-se um prolongamento da cultura troiana para além da data anterior de 1100 a.C. Mesmo assim, não se sabe ao certo o que aconteceu em VIIb 3 para ter levado os troianos a abandonarem a cidade.

Pois quando se chega ao período de Troia VIII nota-se que a cidade ficou vários anos abandonada. Não se sabe os motivos e fatores para esse abandono, se teria sido devido a guerras, fome, seca, peste, etc., e para onde os troianos teriam ido. Alguns apontam que os troianos teriam ido uma parte para as Cíclades e outra migrado para o interior da Ásia Menor. 

Troia VIII (700? a.C - séc. I? a.C)

Troia VIII ainda é um mistério em alguns aspectos, pois sabe-se que houve um extenso período que a cidade ficou abandonada até que um novo povo voltou a habitar aquelas terras, e nesse caso, pelos indícios descobertos tudo indica que foram os gregos, pois a estrutura desse período, lembra muito a do período Arcaico e Clássico da história grega, além de que na cidade foram construídos templos para alguns deuses gregos e até mesmo um anfiteatro e uma ágora, construções típicas da cultura grega. 

Acerca de quando esse período começou ainda não existe um consenso; alguns falam que Troia VIII se iniciou por volta de 950 a.C, 700 a.C, e outros apontam uma data mais tardia para o ano de 500 a.C, ampliando a lacuna temporal em que a cidade permaneceu desabitada após o final de Troia VIIb.


Representação do templo de Atena e de parte da cidade de Troia VIII.
A respeito do nome, alguns historiadores acreditam que a mesma se tornou colônia de alguma cidade-estado grega, embora ainda não se sabe exatamente qual foi essa cidade, e nesse caso Troia passou-se a se chamar de Ílion. Entretanto, outros sugerem que o nome Ílion só teria sido adotado durante o período de Troia IX, sendo atribuído pelos romanos. 

A respeito dessa nova cidade-grega pois Troia ou Ílion, agora era uma colônia grega, pouco se sabe sobre sua história, mas tudo indica que seus costumes, leis, sociedade, religião, economia e cultura eram gregos. Dize-se também que foi nesse período que Alexandre, o Grande teria visitado a cidade.

Troia IX (séc. I? a.C - séc. V? d.C)

Sobre Troia IX os estudos e dados a respeito desse período ainda são escassos e recentes. Já existem várias datas dadas para delimitar o começo e fim desse período, entretanto os historiadores e arqueólogos ainda não chegaram a um consenso devido a falta de mais dados. Contudo sabe-se que a cidade possuía características tanto gregas como romanas, fosse na arquitetura, e provavelmente na política, economia, sociedade e na cultura.

Encontraram-se vestígios de cerâmica e outros produtos de origem romana como até mesmo moedas com a efígie de imperadores romanos. Alguns sugerem que Ílion tivesse sido uma cidade comercial de tamanho médio na região. No entanto não se tem certeza de quanto tempo Ílion foi habitada, pois acabou sendo esquecida na História. Pelo fato de não dispor de mais dados acerca da mesma, por hora não me aprofundarei mais nesse período. 


Representação das fases da história da cidadela de Troia dos períodos I ao IX, tendo em destaque a área da cidadela de Troia VI.

Conclusões sobre a guerra de Troia

A respeito da Guerra de Troia, de fato sabe-se que ocorreram batalhas na cidade, porém não se tem certeza da data exata, por quanto tempo durou o cerco e quem foram os inimigos: teriam sido micênicos, gregos, trácios, hititas? De qualquer forma, quanto a Troia descrita na Ilíada, inicialmente Schliemann o descobridor da cidade, acreditou que fosse Troia II, porém Dörpfeld concluiu que foi Troia VI e hoje, muitos acreditam que tenha sido Troia VIIa, o período que ocorrera a invasão de Troia pelos micênicos e gregos assim como descrito no poema. A respeito da data em que a guerra teria ocorrido, alguns historiadores atuais a situam entre os períodos de 1300 a.C a 1260 a.C, embora que historiadores, poetas e filósofos da Antiguidade, dissessem que a guerra teria acontecido entre os séculos XIII a.C e XII a.C. 

Então, dizer que a guerra foi real, não é uma afirmação exata, pois não se encontrou provas que confirmem a guerra descrita nos poemas, no entanto os indícios apontam para a existência de conflitos que teriam levado a originar as lendas sobre a Guerra de Troia. O mais sensato seria dizer que a guerra narrada, foi um romanceamento de eventos reais, mas no fim a cidade de Troia e os troianos realmente existiram e realmente se encontravam onde Homero havia dito que a cidade ficava. 

NOTA: Além dos poemas Ilíada e Odisseia de Homero, o poeta romano Virgílio (70-19 a.C) escreveu a Eneida. Além desses três famosos poemas outros poemas que falam sobre o Ciclo Troiano são: Cantos Cípricos, atribuído a três possíveis autores; A Etiópida e A Destruição de Troia de Arctino de Mileto; A Pequena Ilíada da poetisa Lesques de Mitilene; Os Retornos de Hágias de Trezena e Telegonia de Eugamon de Cirene. Todos os poemas mencionados aqui são posteriores as obras de Homero, sendo a Eneida o mais novo deles, pois os demais foram escritos entre os séculos VII a.C e VI a.C.
NOTA 2: Com exceção dos poemas homéricos e da Eneida, os demais poemas só se encontrou apenas fragmentos, estando em grande parte tais obras incompletas. E todos eles, remetem-se à acontecimentos posteriores a Ilíada ou exploram os últimos momentos da guerra. 
NOTA 3: Em alguns livros mais antigos em língua portuguesa pode-se encontrar a utilização do gentílico trojano ao invés de troiano.
NOTA 4: De acordo com as descrições dadas por Homero, a Troia lendária teria abrigado uma população entre 30 a 50 mil habitantes. No entanto, as evidências arqueológicas e a própria estrutura da cidade, aponta que a população teria variado em determinados períodos entre 5 a 15 mil habitantes. 
NOTA 5: Cavalo de Troia (Trojan Horse) é o nome de um vírus comum de computador. 
NOTA 6: Quem souber inglês fluentemente pode assistir alguns documentários curtos sobre Troia, disponíveis no site da Universidade de Cincinnati. 
NOTA 7: Virgílio na Eneida, utiliza os gentílicos teucros, dardânios e dânaos para se referir aos troianos. 
NOTA 8: O imperador D. Pedro II do Brasil chegou a se corresponder com Schliemann, trocando algumas cartas com ele. Pedro II admirava o trabalho arqueológico do mesmo. 


Referências Bibliográficas:

BLEGEN, Carl W. Troia e os Troianos. São Paulo, Editora Verbo, 1971. (Coleção História Mundi).
BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: história de deuses e heróis. Tradução de David Jardim, 34a edição, Rio de Janeiro, Ediouro, 2006.
CERAM, C. W. Deuses, túmulos, e sábios: o romance da arqueologia. Tradução de João Távora. São Paulo, Biblioteca do Exército-Editora/ Edições Melhoramentos, 1971.

CERAM, C. W. O mundo da arqueologia. Tradução de Octávio Mendes Cajado. 2a ed, São Paulo, Companhia Melhoramentos, 1973. 
HOMERO. La Ilíada. Tradução de Montserrat Casamada, Barcelona, Obras Maestras, 1959. 
HOMERO, La Odissea. Tradução de Mauricio Croiset, Barcelona, Obras Maestras, 1956.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 8, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 18, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
 
LINKS:
Página da Universidade de Cincinnati dedicada à Troia - inglês
Imagens de cerâmicas gregas, romanas e bizantinas encontradas em Troia
Projeto Troia - inglês