Pesquisar neste blog

Comunicado

Comunico a todos que tiverem interesse de compartilhar meus artigos, textos, ensaios, monografias, etc., por favor, coloquem as devidas referências e a fonte de origem do material usado. Caso contrário, você estará cometendo plágio ou uso não autorizado de produção científica, o que consiste em crime de acordo com a Lei 9.610/98.

Desde já deixo esse alerta, pois embora o meu blog seja de acesso livre e gratuito, o material aqui postado pode ser compartilhado, copiado, impresso, etc., mas desde que seja devidamente dentro da lei.

Atenciosamente
Leandro Vilar

terça-feira, 25 de março de 2014

Hernán Cortés e a conquista dos Astecas (1519-1521)

Os Astecas foram um dos povos considerados mais desenvolvidos quando os europeus chegaram as Américas. Sua vasta Confederação englobava vários povos tributários da Mesomérica, consistindo um Estado rico e poderoso. Contudo, quando Hernán Cortés chegou a Tenochtitlan, a capital dos Astecas em 1519, o então imperador Montezuma II achou que o branco espanhol e seus companheiros fossem mensageiros do deus-sol Quetzacóalt, o qual havia prometido que retornaria algum dia de sua viagem feita para o Leste. Cortés ficou interessado em se aliar aquele rico Estado, o torná-lo vassalo do rei de Espanha, mas os astecas começaram a desconfiar de seus convidados e se rebelaram, e isso iniciou a queda deste próspero povo. Nas linhas seguintes contarei um pouco dessa história que marcou a conquista pelos espanhóis do que hoje é a região central do México, que passou a ser chamado de Nova Espanha

Introdução:

Antes de chegar ao fatídico ano de 1519, decidi apresentar algumas características do povo asteca para situar o leitor acerca de quem foi essa civilização, e como eles se encontravam no ano que Cortés chegou com sua tropa. 

Os astecas, ou melhor falando, os mexicas, pois eles se autointitulavam mexicas, palavra que originou o termo mexicanos, são um povo de origem norte-americana que segundo sua história viviam em uma terra chamada Chicomoztoc ("lugar das sete cavernas"), onde eles viviam em companhia de outros oito povos (algumas fontes mencionam que eram seis povos): 
  • Chichimeques (povo do arco e das flechas), 
  • Malinalcas (povo da erva trançada),
  • Cuitlahucas (povo do poço d'água),
  • Tepaneques (povo do palácio ou da pedra),
  • Matlazincas (povo da rede),
  • Xochilmicas (povo do campo florido)
  • Huexotzincas (povo do salgueirinho)
  • Chalcas (povo de jade)
Todos eles falavam a língua náuatle, daí serem inseridos na família dos povos nauhuas. Estes nove povos abandonaram Chicomoztoc e migraram para uma terra próxima chamada de Aztlan ou Aztlatan (alguns autores mencionam que apenas sete povos viveriam em Chicomoztoc, sendo os outros dois advindos de outro lugar desconhecido, mas se reuniram em Aztlan), governada por um rei asteca (asteca era o gentílico dos moradores de Aztlan). Segundo os relatos dos mexicas, por volta do século XI d.C, eles abandonaram Aztlan, tendo sido o último dos povos a fazer isso, e seguiram viagem para o sul.

Por volta do século XIII eles se estabeleceram no Vale do México, local densamente habitado, pois vários outros povos já viviam a vários séculos naquela região, como os Olmecas, Toltecas, os Chichimecas, alguns dos povos que ergueram Teotihuacán (ainda hoje não se sabe ao certo quem foram os povos que fundaram essa cidade, embora se encontre influência olmeca, maia, nahua, etc.), e mais para o sul estavam os Maias


"Desde a segunda metade do II milênio a.C, esse povo [olmecas] ainda misterioso construíra imponentes centros cerimoniais principalmente em La Venta e San Lorenzo, nos atuais estados de Tabasco e Veracruz. Antes de seu desaparecimento, em 400 a.C, os olmecas já haviam difundido sua civilização por uma imensa área da Mesoamérica desde o vale do Balsas até El Salvador e a Costa Rica, do litoral do golfo às montanhas de Oaxaca e ao litoral do Pacífico. Pirâmides e altares, esteias esculpidas, baixos-relevos, jades e jadeístas cinzelados, e sobretudo a escrita hieroglífica, mais a contagem do tempo; com os olmecas, surgem esses traços essenciais a todas as altas civilizações do México. Por isso, eles podem ser considerados o elo de transição entre o período pré-clássico, isto é, o da aldeia, e o período clássico, ou seja, o da civilização urbana". (SOUSTELLE, , p. 4).

"Os toltecas, tribos nahuas do norte, penetraram na Mesoamérica e construíram, no ano 908, um Estado que tinha por capital Colhuacán. Depois de um agitado período de convulsões internas, após o assassinato do soberano Mixcóalt (947), seu filho Topiltzin é confirmado como novo rei-sacerdote, estabelecendo-se na cidade de Tula, ou 'cidade das canas', adotando o título de Quetzalcoalt". (PEREGALLI, 1994, p. 21). 

Os olmecas nesse período já estavam em decadência, o que permitiu que os toltecas assumem o controle de grande parte da região, subjugando outros povos. Contudo, lutas internas levou a fragilização do governo tolteca o deixando vulnerável para que os chicimecas os conquistassem. A cidade de Tula, capital do Estado Tolteca foi destruída. Entre os séculos XI e XIII, muitos povos lutaram para reconquistar a hegemonia na região, pois uma das características desses povos era o modo de produção tributário, ou seja, um Estado que subjugava outros, e os obrigava a pagar tributos. Embora nessa época fosse o período medieval, não significa que houvesse suserania e vassalagem como visto na Europa medieval, não. Os modos de produção e políticos eram diferentes.

Todavia, em meio a esse período de disputas, os mexicas se estabeleceram próximo ao lago Texcoco, o qual era cercado por várias cidades e aldeias, e passaram a participar dessa disputa pelo controle da região. 

"No século XIV, 28 Estados compartilhavam o planalto Central, dentre os quais Colhuacán (tolteca), Texcoco (chichimeca), Azcapotzalco (dinastia de origem possivelmente otomi ou mazahua, porém "nahuatlizada"), Xaltocán (otomis) etc. Alianças, ligas, guerras c golpes de governo entre si transformavam a cada dia o equilíbrio político. Cada cidade-estado lutava pela hegemonia. Foi uma época de violência e intrigas, mas também de rico desenvolvimento cultural: a civilização tolteca renasceu entre os rudes invasores do norte". (SOUSTELLE, , p. 10). 

O lago Texcoco (México) e algumas importantes cidades indígenas no século XIV.
"Os mexicas, provenientes do norte, instalaram-se em Chapultec, sobre a margem ocidental do lago Texcoco, no vale do Anahuac, hoje vale do México, numa data ainda não determinada. A mais antiga que possuímos, 1168, parece indicar o período em que o calendário asteca passou a ser utilizado no centro do México". (PEREGALLI, 1994, p. 22).

Em 1325 após terem sido derrotados algumas vezes e terem que se refugiar em algumas das ilhas do lago, os astecas fundaram uma nova cidade a qual chamaram de México-Tenochtitlán, nome composto por dois topônimos que ainda hoje é motivo de debates sobre seus significados. Peregalli [1994] menciona que México-Tenochtitlán significaria "A cidade dos Mexicas de Tenoch", sendo Tenoch um líder que hoje pouco conhecemos. 

Já Marcilly [1978] falara que Tenochtilán significaria "Região do cacto sobre a pedra", pois segundo a história asteca, o deus Huitzilopochtli teria lhes dito acerca de uma terra prometida, então ele teria enviado uma águia a qual carregava no bico uma serpente, e essa águia pousou em um cacto. Encarando aquilo como um sinal divino, os astecas escolheram aquela ilha para fundar sua capital. 

Soustelle [1990] já aponta outros possíveis significados para o nome da cidade, ao invés de ter sido um cacto ele menciona que seria uma figueira-bravia, e o nome México seria uma variação de Mextil, o segundo nome de Huitzilopochtli, que já foi interpretado como "umbigo da lua", sendo assim o nome da cidade significaria "A cidade que está no meio do lago da lua", sendo esse lago uma referência ao Texcoco. De qualquer forma, ainda hoje há debate sobre o verdadeiro significado do nome da cidade, mas não irei me prender mais nisso, e passarei adiante. 

O brasão mexicano do Codex Mendonza, representando a origem da cidade de México-Tenochtitán.
Após a fundação da nova capital, os astecas nos anos seguintes procuraram formar alianças com outras cidades como foi o caso de Texcoco e Tlacopán, a fim de que essa aliança os fortalecesse para confrontar a cidade de Atzacapotzalco. O resultado só veio quase um século depois durante o governo do imperador asteca Izcoalt ("Serpente de Obsidiana").

Izcoalt (1381?-1440) foi o quarto imperador (tlatoani), sendo filho do primeiro imperador, chamado Acamapichtli (a sucessão não era hereditária, e os indícios apontam que Izcoalt fosse um filho bastardo). Durante o seu reinado de 1428-1440 foi responsável por formar a coalização com Texcoco e Tlacopán, liderando vitoriosas campanhas militares e diplomáticas que contribuíram para conquistar outras cidades vizinhas e subjugar outros povos, os tornando tributários dos astecas. A ascensão do império asteca se iniciou com o governo de Izcoalt e continuou nos anos seguintes, quando no final do século XV, grande parte do que hoje é o sul do México se encontrava sob o governo asteca. A medida que o império asteca ia se expandindo, isso originou a chamada Confederação Asteca

"Chamamos de Confederação Asteca ao conjunto de cidades, povos territórios ou Estados unidos aos mexicas em diferentes graus de subordinação. Sob a confederação, dividida em 38 províncias, conviviam povos de diferentes línguas, costumes e religiões. Entre eles sobressaem os zapotecas e os mixtecas, nas costas do oceano Pacífico, e os totonacas, no golfo do México". (PEREGALLI, 1994, p. 23).


A Confederação Asteca em sua máxima extensão durante o século XVI antes da conquista espanhola. 
Se inicialmente os astecas viveram como simples agricultores, caçadores e pescadores em suas pequenas ilhas no Texcoco, no início do século XVI a cidade de Tenochitlán era uma das cidades mais populosas das Américas, possuindo uma população estimada em 300 mil habitantes, mas sendo a capital de um império de milhões de pessoas. Se antes os astecas eram simples lavradores no Texcoco, se tornaram um poderoso Estado que governava vários povos.

Ao longo de mais de dois séculos, os astecas assimilaram os conhecimentos de outros povos e os desenvolveu, no campo da matemática, astronomia, agricultura, arquitetura, engenharia, medicina, metalurgia, artesanato, economia, escrita, etc. Soustelle [1997] lembra que o primeiro templo feito para Huitzilopochtli quando México-Tenochitlán foi fundada, não passava de uma simples cabana de madeira, e um pouco mais de um século depois, já havia pirâmides de pedra pela cidade. 

Huitzilopochtli, um dos principais deuses do panteão asteca. 
A sociedade se tornou mais organizada e estratificada, do imperador ao escravo todos tinham funções definidas, e todos tinham obrigações com o Estado. O Estado passara a deter a posse das terras as quais eram comunais, não havia propriedade privada, logo, o Estado era o responsável por ceder a concessão das terras para os nobres (tecuhtli) e para as comunidades aldeãs (calpulli) formadas por camponeses, guerreiros, artesãos, comerciantes, sacerdotes, estudiosos, escravos, etc., desde que os mesmos garantissem que aquelas terras produzissem algo, pelo contrário, elas seriam confiscadas. Tal fato é interessante, que não havia um patrimônio em terras, as famílias que possuíam aquelas terras não tinham garantias de legá-las aos seus herdeiros, pois o Estado poderia intervir a qualquer momento. 

Além de viver da agricultura, o comércio se desenvolveu bastante entre esse povo. Encontramos relatos de grandes feiras nas principais cidades, onde se vendia diversos tipos de mercadorias. A classe dos comerciantes (pochteca) se tornou uma camada social influente, pois não apenas eram responsáveis pelo comércio, mas também pela exploração, contato diplomático e em alguns casos a guerra, pois alguns pochteca eram enviados para propor acordos de paz, em caso de recusa, a guerra era deflagrada, e alguns deles chegavam atuar no campo de batalha. 

"Esses negociantes percorrem todo o país, a fim de bem realizar seus negócios. Não existe lugar onde eles não procurem algum objeto próprio para ser vendido ou comprado, e pouco importa para isso que faça o calor ou o frio, ou que a saúde esteja boa ou má. Eles têm tanta audácia que penetram mesmo em países inimigos e se mostram tão espertos que fazem negócios até com os estrangeiros: aprendem sua linguagem e tratam-nos com benevolência a fim de atrair sua clientela. Sabem também onde encontrar as peles de animais raros e onde vendê-las pelo melhor preço". (MARCILLY, 1978, p. 163). 

Seu artesanato era bastante sofisticado, algo que deixou surpreso os espanhóis, que esperavam encontrar um bando de selvagens seminus vivendo em cabanas de madeira. Mas, além da agricultura e do comércio, a grande renda do Estado vinha da tributação a qual era responsável por garantir a sobrevivência do governo e a manutenção da sociedade, pois falamos de uma população bastante densa, algo estimado em torno de 20 milhões de habitantes. 

"Os tributos variavam de acordo com as províncias e a forma da conquista. Os arrecadores, chamados calpixques, percorriam as regiões da confederação, controlando e arrecadando os tributos fixados pela capital. Calcula-se que chegavam anualmente a Tenochtlán 7 000 toneladas de milho, 4 000 de feijão, 36 de pimenta, 21 de cacau, 2 milhões de mantas de algodão, mel de abelha, anáguas, saias, algodão natural, armas, penas, madeira, cal, tinturas, perfumes, etc". (PEREGALLI, 1994, p. 28).

Além de gêneros alimentícios, de armas, tecidos, equipamentos, etc., os tributos incluíam o envio de soldados quando fosse requisitado, enviavam mão de obra escrava ou livre para trabalhar em grandes construções, como construir pontes, canais, aquedutos, templos, palácios, prédios, etc. Isso é interessante, pois rompe com a ideia de que apenas escravos eram responsáveis pelo trabalho na construção, na realidade, durante o período entre safras, a população camponesa se dirigia para o setor de construção, para arranjar emprego, mas também como forma de cumprir com a obrigação perante ao Estado. 


A religião era politeísta, onde os principais deuses astecas eram Huitzilopochtli ("Beija-flor do Sul"), o senhor da guerra, padroeiro de México-Tenochitlán e o deus guia e protetor dos mexicas. Segundo a história dos astecas, Huitzilopochtli teria vivido entre os humanos por algum tempo, até que morreu, e seu corpo foi cremado e as cinzas guardadas num saco, e quando os mexicas abandonaram Aztlan levaram consigo esse saco e outros dois contendo relíquias sagradas, pois antes de morrer o deus havia dito que eles deveriam procurar pela terra prometida. Quando Tenochtitlán foi fundada, as cinzas do deus foram depositadas em seu templo, e de acordo com a crença ele ressuscitou, mas não voltou mas a habitar entre os humanos. 

Tlaloc, o deus das chuvas, dos trovões, dos raios, estava associado a agricultura, a noite, ao dia e ao mundo inferior. Quetzacóalt ("Serpente Emplumada"), chamado pelos maias de Kukulkán, era o deus do sol, da luz, do dia, estava associado ao conhecimento e a vida, aspectos que o tornaram bastante popular entre os astecas. Quetzacóalt era descrito como sendo um homem alto, de pele branca e era barbudo, daí quando os espanhóis chegaram, eles foram tidos como mensageiros de Quetzacóalt. O deus assim como Huitzilopochtli também viveu entre os humanos, até que foi embora viajando para o Oeste, mas deixando a promessa que um dia retornaria. 


Representação do deus Quetzacóalt.
Entre os deuses primordiais tínhamos o Tenocatecuhtli e sua esposa Tonacacihualt, e os casais Ometecuhtli e Omecihuatl (o dualismo era uma característica marcante da religião asteca, essa tendência entre o masculino e o feminino era constante). Além destes três deuses, existiam outras dezenas, cada um possuindo suas especificidades. 

"Os sacerdotes estavam livres da guerra e da administração, mas tinham a tarefa de construir, consertar e conservar os templos, manter o fogo sagrado, oferecer tributos e consultar as estrelas. Essa última função estava ligada ao calendário, que por sua vez determinava o ritmo da agricultura e o futuro de toda a comunidade". (PEREGALLI, 1994, p. 27).

A religião asteca também era conhecida pelos sacríficos de animais e os sacrifícios humanos, embora fosse algo comum naquela parte do mundo, oferecer-se aos deuses homens e mulheres. Geralmente sacrificavam-se prisioneiros de guerra, daí tanto os astecas, maias e outros povos da região, sempre procuravam fazer cativos durante as batalhas, algo que chamou a atenção dos espanhóis ao ponto deles criarem o termo "guerra das flores", para se referir ao fato que os astecas e outros povos realizavam uma batalha menos severa, pois procuravam capturar os melhores guerreiros, procuravam evitar de cometer estupros e matar crianças, assim como procuravam evitar de destruir as vilas e cidades atacadas, pois isso só traria prejuízos para a conquista e aumentaria a revolta do povo conquistado. Mas, não significa que todas as vezes eles agissem de forma branda, em alguns casos, eles poderiam ser bem cruéis. 

Entretanto, havia casos onde a pessoa se oferecia para ser sacrificado. O sangue era considerado um elemento de vida e sagrado, logo, oferecia-se oferendas em sangue aos deuses, além de se ofertar plantas, animais, ouro, jade, obsidiana, e até mesmo corações humanos, etc. 

Como o intuito era realizar uma introdução, então me limitarei a falar apenas isso, e passar para o próximo ponto, onde comentarei acerca da formação de Cortés e sua chegada ao Novo Mundo, para finalmente iniciar a fase da conquista em 1519. 

Hernán Cortés:

Hernán Cortés
Hernán ou Hernando como também se encontra escrito em livros antigos, nasceu em data incerta no ano de 1485 em Medellín, Estremadura na Espanha. Era filho do capitão de infantaria Martin Cortés de Monroy e de dona Catalina Pizarro Altamirano. Aos 14 anos foi enviado para a Universidade de Salamanca para estudar Direito, pois seu pai pretendia que o filho segui-se a "carreira das letras" como se dizia na época. Após cursar por dois anos o curso de Direito, Cortés abandonou o mesmo e retornou para casa, apresentando aos pais a vontade de seguir "carreira nas armas", assim como o seu pai fizera. O pai decidiu atender o pedido do filho e entrou em contato com alguns conhecidos para arranjar vaga para o filho para ir participar das campanhas militares na Itália, época aquela, onde os Estados italianos estavam em guerra, e a Espanha tentava conquistar o Reino de Nápoles. Hernán iria servir sob o comando de Gonzalo de Córdova, um homem de respeito naquele tempo, contudo, Hernán acabou adoecendo gravemente e não pôde viajar. 

Posteriormente, surgiu uma nova oportunidade, viajar para o Novo Mundo, descoberto há mais de dez anos por Cristóvão Colombo. Assim, aos 19 anos de idade, Hernán Cortés seguiu viagem em 1504 para a ilha de Santo Domingo (atualmente a ilha é dividida em dois países: República Dominicana e o Haiti). Hernán levava consigo cartas de recomendação escrita por seu pai, e além disso, o governador local era D. Nicólas Obando, o qual era um parente seu. 

O jovem Cortés apresentou-se capacitado e dedicado ao serviço militar, algo que lhe fez cair nas graças do governador. Pelos anos seguintes, Cortés permaneceu na ilha servindo e participando de algumas atividades menores até que no ano de 1511 surgiu uma grande oportunidade. Na época o governador de Santo Domingo era Diego Colombo (1480-1526), o filho primogênito de Cristóvão. O governador Diego tinha interesse em subjugar completamente os nativos da ilha de Cuba, pois embora a ilha já tivesse sido colonizada, os indígenas ainda causavam problemas aos colonos, e neste caso, Hernán viu a possibilidade de participar dessa empreitada organizada pelo governador. 

Hernán Cortés entrou em contato com seus conhecidos, e assim pôde se apresentar para participar da expedição do governador Colombo. No mesmo ano ele chegou a Cuba e se tornou secretário do governador de Cuba, Diego Velázquez (1465-1524). Cortés participou da expedição inicial composta por cerca de 300 homens a qual obteve êxito contra os belicosos indígenas da ilha, com o sucesso da empreitada e a dedicação dele ao governador, posteriormente Velázquez lhe deu terras e escravos, e o nomeou como alcaide (prefeito) da Vila de Santiago de Cuba, um cargo bastante honroso, já que até então Hernán não era um militar famoso. 

Nos anos seguintes, um problema surgiu para Hernán Cortés, este foi acusado de conspirar contra o governador, o qual lhe declarou prisão. No entanto, provada sua inocência ele foi solto, e para tentar se redimir de seu erro, Velázquez propôs casar dona Catalina Suarez Pacheco com Hernán Cortés. Os dois se casaram entre 1514 e 1515, e Velázquez foi padrinho dos noivos. Catalina morreu cinco anos depois, sem ter filho, contudo, nesse meio tempo, Hernán tivera uma filha bastarda chamada Catalina Pizarro, filha com dona Leonor Pizarro. Posteriormente ele teria outros filhos bastardos até voltar a se casar a segunda vez em 1528. Ao todo ele teve onze filhos. 

Entre 1517 e 1518, o governador de Cuba, Diego Velázquez enviou duas expedições para Yucután. A primeira comandada por Francisco Hernandéz de Córdoba.

“Foi somente em 1517 que uma expedição partida de Cuba com três navios, sob o comando de Francisco Hernández de Córdoba, entrou em contato com os maias de Yucatán e de Campeche. Repelidos com perdas por esses índios belicosos, os espanhóis foram obrigados a reembarcar apressadamente. Dos 110 homens que haviam partido para a descoberta, 57 pereceram nessa aventura, inclusive o chefe. Os sobreviventes, porém, descreveram maravilhados as cidades maias que tinham conseguido observar do litoral, seus edifícios e seus templos em pedra, as ricas vestimentas e as jóias dos nativos. O Yucatán, que ainda se pensava ser uma ilha, revelava-se como um mundo novo, mais povoado e civilizado que as Antilhas”. (SOUSTELLE, 1994, p. 90).

No ano seguinte, a segunda expedição de quatro navio, partiu sob o comando de Juan de Grijalva. O qual descobriu a ilha de Cozumel, costeou a costa de Yucatán, passando por Tabasco e Tuxpan, chegando ao golfo do México. Além de encontrar maias, eles tiveram contato outros povos, que lhe deram presentes, mas lhe falaram sobre um rico país governador por um imperador pagão. Esse povo eram chamados de mexicas. 

Em ambas as expedições Cortés não participou, embora demonstrou em seu ter ficado descontente com isso, mas estava esperançoso em poder liderar a próxima expedição ao continente. 

Preparativos para a partida (1519): 

Ao longo do ano de 1518, Diego Velázquez e seus comandantes debateram sobre as possibilidades de mandar uma expedição para visitar esse país dos mexicas, que alguns passaram a chamar de México. Muitos candidatos para liderar a expedição se apresentaram, o que incluía Hernán Cortés, o qual era um dos favoritos do governador. Isso acabou irritando outros pretendentes ao comando, e em meio a tramoias, Cortés conseguiu ser nomeado Capitão-Geral da armada e das terras a serem descobertas. Todavia, alguns percalços atrasaram o envio da expedição, e Cortés impaciente com aquilo e temendo que seus concorrentes tramassem algo, decidiu partir ainda no dia 18 de novembro de 1518 para a ilha de Trinidad, onde abasteceria os navios e conseguiria mais gente para sua companhia.

A partida precipitada de Cortés, levantou suspeitas para o governador, ao mesmo tempo que foi considerada um desacato de autoridade, pois o mesmo não havia ordenado que a armada de dez navios deixasse Cuba. Velázquez enviou uma mensagem para seu cunhado Francisco Verdugo, o qual era alcaide-mor da Vila de Trinidad, lhe cobrando que destituísse Hernán Cortés do cargo. 

Mas Córtes era homem de lábia, como os historiadores antigos nos contam. Ele conseguiu ganhar o apoio da sua tripulação, o qual defenderam a permanência dele no comando, ainda conseguiu contornar as exigências que Verdugo lhe fazia, dizendo que voltaria a Cuba, e se desculparia perante o governador, mas ainda que assim, se manteria no comando, como lhe foi delegado pelo próprio Diego Velázquez. 

De volta a Havana (atual capital de Cuba), Cortés continuou a seguir com os preparativos para a viagem, requirindo mais armamentos. Nesse tempo, chegou a cidade Gaspar de Garnica, enviado pelo governador, o qual levava consigo ordens para destitui Cortés do comando e o prendê-lo. As ordens foram entregues a Pedro Barba. No entanto, Barba não as cumpriu e foi falar com Hernán. Não sabemos o que se passou nesta conversa, mas o resultado é conhecido: Pedro Barba não prendeu Hernán Cortés, e garantiu apoio a sua expedição, a qual em 10 de fevereiro de 1519 deixou Havana, seguindo para a ilha de Cozumel (também chamada na época de Santa Cruz). 

De Cozumel a Vera Cruz (1519):

Chegando a ilha, Cortés decidiu dar descanso para a tripulação, e por três dias permaneceram ali, enquanto isso ele decidiu vistoriar toda a tripulação, suprimentos e armas. Sobre isso dispomos dos seguintes dados:
  • 508 soldados
  • 109 marinheiros
  • 413 mosquetes
  • 32 arcabuzes
  • 2 pequenos canhões de campanha
  • 4 falconetes (um tipo de canhão)
  • 16 cavalos
Durante a estada na ilha de Cozumel, eles avistaram alguns guerreiros nativos. Cortés ordenou que a tripulação ficasse atenta para um possível ataque, mas no dia seguinte, o chefe local foi visitá-los, levando presentes para o comandante. Posteriormente, Hernán ordenou que alguns homens explorassem a ilha, a qual era conhecida dos maias há bastante tempo, de fato, alguns daquele indígenas poderiam ser de descendência maia, ou até mesmo maias. 

Pedro de Alvarado
Na ocasião da exploração avistaram um templo e uma estátua de um deus, que os espanhóis chamara de Cozumel, embora não saibamos ao certo de que deus trata-se. Um dos espanhóis chamado Pedro de Alvarado (1485-1541) roubou algumas relíquias do templo e havia mantido dois índios como prisioneiro, ao descobrir tal fato, Cortés decidiu punir Alvarado publicamente, ordenou que os cativos fossem libertos e as relíquias devolvidas, e pediu sinceras desculpas ao chefe, evitando um confronto.Nesse tempo que a estada prolongou-se na ilha, Cortés e seus homens acabaram conhecendo um espanhol que era um padre franciscano chamado Gerônimo de Aguilar, o qual havia naufragado naquela ilha há oito anos. De acordo com o relato dos espanhóis, Aguilar andava nu como os indígenas, e carregava seu próprio arco e flecha. Aguilar aceitou o convite de Cortés para seguir junto da expedição, e assim o fizera. 

Antes dos espanhóis deixarem a ilha definitivamente em 4 de março, pois a parada inicial de três dias prolongou-se pelo mês todo, no intuito de conseguir converter aquelas pessoas, Hernán ordenou que uma cruz e uma capela para Nossa Senhora fossem erguidos na ilha, na tentativa de compadecer o restante da população, já que os escravos que ele recebera de presente, foram batizados. Além disso, ele também ordenou que alguns ídolos fossem destruídos. Tal fato é interessante, pois num momento, ele punira um e seus homens por profanar um dos templos, mas depois ele próprio ordena que as estátuas dos deuses fossem destruídas, algo que voltaria a ordenar posteriormente. Contudo, os indígenas não entraram em conflito, embora os sacerdotes ficaram horrorizados com aquilo.

Localização da ilha de Cozumel no México.
No dia 4 de março a expedição chegou ao rio Grijalva (os nativos o chamavam de rio Tabasco), descoberto por Juan de Grijalva em 1518. O rio hoje fica no estado de Tabasco. Durante alguns poucos dias, a expedição ficou parada para tratar dos doentes, e nesse tempo, Hernán ordenou que os navios menores e alguns esquifes adentrassem o rio, na tentativa de encontrar alguma cidade onde pudessem falar com algum chefe, embora que a medida que navegavam contra a corrente, guerreiros indígenas iam aparecendo na margem, e demonstravam não estarem ali para boas intenções. Eles passaram a noite ali, e na manhã seguinte, Cortés enviou cerca de 18 homens em alguns barcos para seguir na frente, mas estes depois de algum tempo se depararam com índios em canoas, os quais bloqueavam o rio. 

Os espanhóis seguiam armados e com a ordem de não atacarem primeiro, a ideia era oferecer presentes para o chefe deles, mas os guerreiros se recusaram e disparam algumas flechas, o que levou os soldados espanhóis a revidarem com tiros de mosquete. Alguns índios caíram mortos e outros aterrorizados com as armas de fogo, se jogavam na água e nadavam até a margem. Os espanhóis o seguiram por terra, onde voltaram a confrontá-los. 

Mais atrás, Cortés ordenou que o capitão Alonso Dávila comanda-se cem homens e toma-se de assalto a cidade de  que ficava ali perto, além disso, o próprio Cortés também se dirigia para lá, comandando outros cem homens. Ele e Dávila seguiriam caminhos diferentes. Os relatos falam que o local era pantanoso, e os espanhóis tiveram dificuldade de se locomover, chegando a ter que andar com água até o nível da cintura. 

Cortés acabou chegando primeiro que Alonso Dávila, o qual acabou se perdendo brevemente. De qualquer forma, eles se depararam com uma cicade cercada por uma muralha de madeira, era a cidade de Potonchán pertencente a um povo de origem maia-chontal. Os indígenas começaram a disparar flechas contra eles, e os espanhóis revidaram com suas balestras e armas de fogo. Cortés estava decidido a tomar aquela cidade até o cair da noite. Solis [1858] conta que quatorze ou quinze espanhóis foram feridos naquele assalto a vila, enquanto o número de mortos dos índios não foi calculado, e, além disso, muitos acabaram fugindo, contudo, alguns prisioneiros foram feitos. 

No dia seguinte, Hernán Cortés delegou alguns homens para Pedro de Alvarado Francisco de Lugo, a fim que os dois liderassem missões de reconhecimento na área. Os relatos falam que cada um comandava cem homens. Durante a exploração, a tropa de Francisco de Lugo fora pega numa emboscada, eles só não foram derrotados, pois Pedro de Alvarado e seus homens não estavam distante deles, e conseguiram chegar a tempo de ajudá-los, contudo, estando os espanhóis em menor número tiveram que recuar. 

Cortés sabia que os indígenas, logo iriam atacar a vila, e viriam e um número bem maior. Ele ordenou que os mortos fossem sepultados, que os feridos fossem levados para os navios, e que os cavalos e os canhões fossem encaminhados para a vila, estariam prontos para o ataque, e que de fato ocorreu no dia seguinte. Tal luta foi chamada de a Batalha de Centla, ocorrida em 14 de março de 1519.

"Luego que ameneció, dispuso que oyese misa toda la gente: y encargando  el gobierno de la infantaria á Diego de Ordaz, montaron á caballo él y los demas capitanes, y empezaron su marcha al paso de la artillería, que caminaba con dificultad, por ser la tierra pantanosa y quebrada. Fuerónse acercando al parege donde, segun las noticias de los prisioneros, se habia de se junta la gente del enemigo; y no hallaron persona de quien poder informase, hasta que llegando cerca de un lugar que llamaban Cinthla, poco ménos de una legua del cuartel, descubrieron á larga distancia un ejército de índios tan numeroso y tan dilatado, que no se le hallaba el término con lo que alcanzaba la vista". (SOLIS, 1858, p. 52).

Alguns relatos antigos falam de número exagerados, citando dezenas de milhares de indígenas contra meio milhar de soldados, dezesseis cavalos e seis canhões. Embora se falem de "chuvas de flechas" as quais não conseguiam perfurar as couraças e elmos dos espanhóis, a vitória veio para os espanhóis, embora se desconheça realmente o verdadeiro contingente do exército inimigo.


A entrada de Cortés em Potochán. Pintor desconhecido, século XVII. 
Mesmo contando com um número superior de combatentes, o som das armas de fogo, mas principalmente dos canhões era aterrorizador para muitos guerreiros indígenas, os quais acabavam fugindo. Além disso, a cavalaria embora pequena, causava estranheza, pois os nativos não conheciam o cavalo, e achavam a figura de um cavaleiro algo amedrontador, embora, não signifique que todos fugissem diante de um cavaleiro. Não possuímos detalhes sobre a batalha, logo, não sabemos de fato como os espanhóis os venceram, embora os relatos que dispomos aleguem que o empenho dos soldados espanhóis, com o apoio de sua artilharia e sua pequena cavalaria, somado-se a indisciplina e má articulação das tropas inimigas teriam sido os fatores que contribuíram para a vitória de Cortés. Em celebração, o comandante ordenou que erguessem uma capela para Nossa Senhora da Vitória, em agradecimento pelo sucesso naquele dia.


Pintura retratando a primeira missa espanhola feita no que hoje é o México. A missa foi celebrada em 17 de abril de 1519. Na imagem podemos ver o padre Bartolomé de Olmedo diante da cruz, e o padre Juan Diaz segurando sua batina.
De qualquer forma, alguns prisioneiros foram feitos, e Cortés os usou para negociar que o inimigo. Para evitar maiores problemas com os chefes locais, Hernán ordenou que os prisioneiros fossem soltos e que retornassem para seus lares, seu ato de generosidade ou de estratégia, ou ambos, surtiu resultado. Pois, posteriormente o governador de Tabasco se aliaria a Cortés em sua empreitada de conquistar a capital Tenochtitlán. 

Quando o governador Tabscoob fora se apresentar a Cortés, lhe deu vários presentes, entre ouro, joias, peles de animais, plumas, etc. Os presentes também incluíram vinte jovem escravas, e uma delas chamava-se Malitzin (seu nome também é grafado como Malinche). O padre Bartolomé de Olmedo, o qual seguiu na expedição junto com outros capelães, batizou Malitzin durante a missa do dia 17 de abril, lhe dando o nome de Marina. Dona Marina tornou-se intérprete, escrava pessoal e amante de Hernán Cortés, chegando a ter um filho com este. 


Hernán Cortés e Malitzin em um desenho do século XIX. 
Antes de partir de Potonchán, Cortés mandou erguer uma cruz e um altar a 25 de março, em homenagem a Nossa Senhora da Vitória, e rebatizou a cidade maia, com o nome de Vila de Santa Maria de la Victoria, a qual se tornou a primeira vila espanhola fundada no México. A vila por vários anos foi capital da província de Tabasco, contudo em 1660 começou a ser abandonada, e hoje só restam suas ruínas. 

Após tal celebração e firmado aliança com o governante Tabscoob, a expedição voltou a navegar para o oeste, indo parar na ilha descoberta por Grijalva, chamada San Juan de Úloa na província asteca de Guazacoalco, onde avistaram uma canoa cheia de indígenas se aproximando. Os índios subiram a bordo de um dos navios e começaram a falar. Aguilar não os entendeu, mas Marina compreendia a língua deles, e traduziu o que eles disseram. Eles falavam que seu governador era súdito do imperador Montezuma, o senhor dos mexicas. Eles haviam vindo em paz. 

Cortés aceitou de bom grado a ajuda dos nativos, lhes dando algumas bugigangas como presente. Ele ordenou que seus soldados desembarcassem e montassem acampamento na praia no dia seguinte, o qual era Sexta-feira Santa. Alguns outros índios vieram e ajudaram a levantar acampamento e trouxeram frutas e aves para os espanhóis. No domingo de Páscoa, pela manhã, o governador Pilpatoe e o seu general Teutile compareceram a praia, acompanhado de uma grande escolta. 

A presença do governador foi encarada por Cortés como um bom sinal, pois sugeria que o governador facilitaria sua aproximação ao imperador, mas a realidade não foi bem assim. O governante e sua comitiva assistiram a missa pascoal naquela manhã, embora nada compreenderam das palavras do padre Bartolomé de Olmedo, mas como reconheceram sendo uma oração, respeitaram o rito. 


“Considerándole Cortés como un ministro de un gran rey, le recibió con toda ceremonia y etiqueta: bízole decir que Carlos de Austria, rey de Castilla, le enviaba en calidad de embajador, y por tanto esiaba encargado de comunicar al mismo emperador unas proposiciones de la mas a¡la importancia: por consiguiente, pedia que le condujeran á su presencia sin pérdida de tempo”. (1879, p. 8). 

Durante o almoço Cortés conversou com o governador Pilpatoe. Embora tendo sido gentil e oferecido presentes a Cortés, o qual retribuiu também com presentes, no entanto, ele dissera que o imperador não gostava de receber estrangeiros, e que para isso, havia alguns funcionários que o faziam. Aquilo não desmotivou Cortés, ele tentou convencer o governador a enviar um mensageiro a capital para tentar conseguir uma audiência com o monarca. 


Bernal Diaz del Castillo
Durante a reunião no domingo de Páscoa, alguns nativos que seguiram na comitiva do governador, passaram a desenhar os espanhóis para enviar aqueles desenhos ao imperador. Eles desenharam os soldados, suas armas, os cavalos e os navios. Bernal Diaz del Castillo (c. 1496-1584) que era o escrivão da expedição relata que os desenhos dos indígenas era tosco e pouco detalhado, mas o que ele achou interessante foi o fato deles escreverem símbolos que ele disse que lembravam os hieroglifos dos egípcios. E com aqueles desenhos eles escreviam. Cortés ficou sabendo que os nativos estavam os desenhando, então decidiu se mostrar para todos eles. Ordenou que seus soldados e cavaleiros se apresentassem para os nativos, exibindo as armas, trajando as couraças, realizando movimentos de cavalaria, onde o próprio Hernán participou, e até disparos com a artilharia, algo que deixou os indígenas com bastante medo, e também serviu de forma a mostrar a eles o poderio que os espanhóis possuíam. Impressionado e aterrorizado com aquilo, Pilpatoe enviou alguns mensageiros para a capital, os quais levavam consigo os presentes oferecidos ao imperador. 

Uma semana depois eles retornaram com presentes do imperador, mas este negou-se a receber os espanhóis. Cortés recebeu os presentes, mas não aceitou aquele não, como sendo definitivo, e insistiu do governador que enviasse novos mensageiros, e assim ele o fez. Enquanto aguardava o retorno dos outros mensageiros, entre a tripulação espanhola, alguns desentendimentos começaram a crescer, especialmente por aqueles que eram partidários do governador Velázquez. 

A situação entre Hernán e seus comandados se tornou mais tensa, quando os mensageiros retornaram com a resposta de Montezuma. O general Teutile retornou com sua guarda até o acampamento espanhol, com novos presentes, sendo estes menos do que antes, mas trouxera a resposta do imperador, que novamente era não. Além disso, Montezuma solicitava que os espanhóis deixassem suas terras o quanto antes, sob a ameaça de usar a força se fosse preciso. Cortés tentou contornar o problema e convencer Teutile a tentar novamente, mas o general, negou-se a enviar novos mensageiros.

A notícia que o imperador asteca exigia que eles deixassem suas terras chegou em má hora. Os tripulantes e soldados desmotivados com as negativas respostas do monarca asteca, encararam aquilo como sinal que a expedição estava fadada ao fracasso e o melhor era retornar para Cuba. Por outro lado, alguns que haviam ficado fascinados com os vários presentes que o imperador enviara, consideravam que aquilo era o suficiente por hora, e o melhor era voltar e depois tentar em outra ocasião uma visita a capital. 

A teimosia de Cortés em não desistir da empresa, levou a uma dissidência entre seus homens, e isso piorou quando o governador Teutile parou de enviar mantimentos para eles. Parte dos comandados viu aquilo como uma decisão inviável para continuarem a manter a jornada, e cogitaram que Cortés deixasse o comando. Hernán negou-se com relutância e abandonar o posto e disse que iria fundar ali uma vila. Além de o argumento da vila motivar a tripulação, era também uma forma de deixar aquelas terras, para se evitar problema com o governador Palpitoe. 

Enquanto aguardava a segunda resposta do imperador, Cortés havia enviado Francisco de Montejo com alguns navios para explorar a costa, e eles descobriram uma boa localidade próxima a cidade de Quiahuiztlán (também escrito como Quiabislan) na província asteca de Zempoala ou Cempoala. Em 22 de abril daquele ano, nas praias próxima de Quiahuiztlán, fundou-se a Vila Rica de Vera Cruz (a atual cidade de Veracruz não corresponde a essa vila). A vila foi o segundo centro urbano fundado no México pelos espanhóis.


A fundação da Vila Rica de Vera Cruz em 22 de abril de 1519. 
O estabelecimento da Vila Rica de Vera Cruz e novas alianças (1519):

Após fundação da vila, cinco indígenas chegaram trazendo a mensagem que o governador de Zempoala convidava seu comandante para ir a capital. Cortés agradeceu o convite e deu alguns presentes para que entregassem ao governador, e disse que em breve iria visitá-lo. Antes de ir visitar o governador asteca, Hernán tratou de nomear os principais cargos da vila, designando homens de confiança para esses. Além disso, ele recusou ser o alcaide (prefeito), nomeando dois para o cargo, Alonso Hernandez Portocarrero e Francisco de Montejo

Posteriormente, Hernán Cortés fizera sua grande "jogada política". Ele compareceu a reunião do Conselho da vila, e após discursar brevemente, renunciou ao seu cargo de capitão-geral, alegando que suas iniciativas pessoais haviam ficado acima dos objetivos da expedição, logo, ele não estava apto para continuar ao comando. Sua renúncia foi aceita e comunicada oficialmente. Contudo, os alcaides, os regedores e os demais membros da Câmara questionaram a necessidade de possuírem um líder experiente para continuar a comandar o exército da vila, e decidiram realizar uma votação, e o escolhido fora Cortés.

Os dois alcaides e os dois regedores foram até a barraca de Hernán Cortés e lhe deram as boas novas, dizendo que por votação livre e justa da Câmara da Vila Rica de Vera Cruz, tendo como testemunhas a população da vila, sob a palavra do rei Carlos I de Espanha, sugeriu-se para o cargo de comandante dos exércitos da Nova Espanha, Hernán Cortés. Nova Espanha fora o nome que os espanhóis deram após conquistarem o Império Asteca, mas antes disso acontecer, eles já haviam cogitado tal nome para essa futura colônia. Hernán Cortés honrado com a indicação, aceitou o novo cargo. 

Todavia a nomeação de Cortés para o novo cargo não agradou a todos, especialmente os partidários do governador Diego de Velázquez. E como primeira medida, para evitar conflitos, Cortés ordenou a prisão de três destes partidários: Diego de Ordaz, Pedro Escudero e Juan Velázquez de Léon. Após a prisão dos mesmos, foi ordenado que Pedro de Alvarado liderasse uma missão de exploração nas redondezas, o qual retornou dizendo que encontrou algumas casas abandonadas, todavia, sabia-se que a vila de  Quiahuiztlán não ficava longe dali, então Cortés com uma pequena comitiva seguiu para lá, onde seguiram caminho até a capital Zempoala que ficava um pouco distante da costa. Eles seguiram viagem pelo rio homônimo até a cidade. 


Algumas ruínas da antiga cidade de Zempoala. México. 
Cortés e seus homens foram bem recebidos pelo governador de Zempoala, onde receberam presentes e passaram a noite na cidade. Durante as conversas, os espanhóis ficaram sabendo da inimizade que existia entre alguns senhores e seus povos acerca do imperador. Além desse fato, Cortés também já havia notado e ouvido falar que nem todos os povos que estavam sob o domínio asteca eram súditos leais, alguns foram forçados a se tornarem tributários, mas ainda mantinham inimizade pelos seus senhores. 

Isso foi encarado pelos espanhóis como uma possibilidade preciosa, pois se conseguissem incitar o ódio nestes povos submissos a se rebelarem contra o imperador, as chances de um ataque bem sucedido a capital aumentavam, já que Cortés não era um homem tolo, e sabia que quinhentos soldados não seriam suficientes para por medo em uma cidade que ele até então desconhecia seu tamanho e a força de seu exército. 

Ele oferece o seu apoio ao governador de Zempoala, e o instiga para uma possível rebelião. Depois da visita, retorna para  Quiahuiztlán, procurando também ganhar apoio no local. Na viagem de ida para  Quiahuiztlán, o governador de Zempoala delegou que 400 tamenes (carregadores) levassem suprimentos para os espanhóis. 

Embora não desconhecessem a roda e carroças, os mesoamericanos, assim como os norte e sul-americanos, não usavam carroças, e o transporte era feito pelas próprias pessoas ou escravos, embora que nos Andes houvesse o uso das lhamas. Após a introdução dos cavalos, tais animais passaram a ser usados no transporte. 

Solis [1858] conta que quando chegaram novamente a  Quiahuiztlán, grande parte da população havia deixado a cidade devido ao fato de pensarem que os espanhóis iriam atacá-los na ocasião. Apenas alguns poucos índios, entre quatorze ou quinze permaneceram e deram alguns presentes para Cortés, e falaram acerca da evacuação da cidade. Cortés através de dona Marina, lhes agradeceu pelos presentes e falara que viera em paz, que não queria nenhum mal para eles, e procurava fornecer ajuda a estes e até mesmo a lhes pedir apoio. 

Posteriormente os governadores de Zempoala e  Quiahuiztlán chegaram juntos para se apresentar a Cortés, e voltaram a falar sobre os problemas que tinham com os astecas. Grande parte da população dessa província era formada pelos totonacas, chinantecas e zapotecas. Povos os quais já possuíam um histórico de rivalidade contra os astecas há bastante tempo. Contudo, durante a visita dos dois governantes, seis ministros com suas comitivas chegaram no local. 

Esses homens não eram ministros propriamente como se fala nas fontes antigas, mas eram os cobradores de impostos. A presença deles irritou os dois governantes, e Cortés depois foi convocado pelos governadores para se explicar. Os dois cobraram que os cobradores de impostos fossem presos, e Hernán para não contrariar seus aliados, cumpriu com isso, mas tomando suas próprias medidas.

Parte do grupo foi liberado e a outra parte foi encaminhada para os navios, pois após os governadores descobrirem que os prisioneiros conseguiram fugir, Cortés alegou que seria mais difícil eles fazerem isso nos navios. O fato dele procurar não tratar ruim os enviados do monarca, era uma forma de evitar futuros problemas quando fosse se apresentar ao soberano asteca. 

Nas semanas seguintes, mais e mais chefes de cidades se dirigiram pessoalmente ou enviaram representantes para  Quiahuiztlán, pois fora convocada uma reunião para se falar sobre uma aliança. Tais chefes foram influenciados a jurarem lealdade ao rei de Espanha, e ajudarem seus representantes (neste caso Cortés e sua expedição) a chegarem até a capital dos astecas. Nesse tempo, os nativos ajudaram a erguer as casas e os muros da Vila Rica de Vera Cruz, a qual ficava cerca de uma légua de distância de  Quiahuiztlán

A aliança entre a população de Zempoala com os espanhóis chegou aos ouvidos do imperador Montezuma, e esse tratou de tomar decisões e enviou de acordo com os relatos, quatro sobrinhos seus, acompanhados de velhos conselheiros e a guarda pessoal de cada um. A comitiva de embaixadores chegou a Veracruz. O recado que deram era que o imperador estava desgosto em saber daquela tentativa de traição e prepara um exército que iria punir-los por causa disso. Ordenava que os cobradores de impostos que ainda estavam presos fossem soltos, e que os espanhóis deixassem aquelas terras. 

Cortés, mandou soltar os quatro prisioneiros, pediu desculpas aos embaixadores dizendo que foi um engano ter os prendidos, mas lembra que dois fugiram (na realidade ele os mandou soltar), além disso, falara que os prisioneiros foram tratados bens, e os espanhóis não planejavam nada contra o imperador, estavam ali apenas para conseguir a oportunidade de poder falar com o monarca. 

Segundo Solis [1858], Cortés teria contado os desentendimentos que tivera com Pilpatoe e Teutile, alegando que eles foram descorteses com eles, com aqueles pobre viajantes, mas o governador de Zempoala fora bem mais gentil e atencioso, assim como os outros senhores daquela província. 

Além disso, havia o elemento divino. Quando Cortés explicou que servia um grande rei que vivia no oriente, no outro lado do oceano, os embaixadores associaram aquilo com a história ou profecia do deus Quetzacoált, o deus alto, branco e barbudo que havia viajado para o Oriente, e disse que um dia retornaria. Não sabemos até onde ia essa analogia, mas alguns chegaram a pensar que os espanhóis fossem os enviados do deus Quetzacoált, e não recebê-los seria uma grande ofensa. E para completar tal questão havia uma profecia que falava que no final do ciclo de 52 anos do calendário asteca (o calendário maia também se dividia em ciclos de 52 anos), haveria grandes mudanças para o começo de uma nova era.

Após a ida dos embaixadores, o governador de Zempoala comunicou a Cortés que a cidade de Zimpazingo que distava segundo Solis [1858] dois dias de viagem de Zempoala, Hernán decidiu ajudar seus aliados e enviou algumas tropas para lá. Na ocasião descobriu-se que havia-se cometido um engano, o povo de Zimpazingo não pretendia entrar em combate com Zempoala, apenas as tropas mexicas que estavam postas ali o pretendiam, mas estes haviam ido embora. 

De retorno a Zempoala, o governador que ficou sabendo do engano, pediu desculpas a Cortés, e lhe ofereceu oito mulheres, sendo uma delas uma sobrinha sua, para que se torna-se sua esposa. Mas, Cortés recusou em aceitar as mulheres e o casamento, pois alegara que só poderia se casar com uma cristã, e solicitou do governante que se convertesse, mas o mesmo negou-se a abandonar seus deuses. 

Dias depois durante um sacrifício humano feito na comemoração de um festejo religioso, Cortés negou-se a ir assisti-lo, e ordenou que alguns ídolos fossem destruídos, isso gerou um desentendimento com os sacerdotes. Os soldados subiram até um dos templos, e os sacerdotes disseram que aqueles que tentassem destruir as estátuas seriam punidos com a morte. 

Os espanhóis as derrubaram do alto do templo, e aquilo espantou a população que se encontrava no momento. Nenhum deles foram punidos com a morte. Tal fato fora tomado como um sinal divino. Cortés mandou erguer um altar e uma cruz, e um dos membros da expedição, chamado Juan de Torres se ofereceu para permanecer e cuidar do novo santuário cristão em Zempoala. Aquele incidente, seria usado para convencer os zempoales a se converterem ao cristianismo.

Quando Cortés retornou para Vera Cruz, encontraram um navio recém-chegado de Cuba, capitaneado por Francisco de Saucedo. Além dele vinha outro capitão chamado Luís Marin, e mais oito homens, um cavalo e uma égua. Foi dada a notícia que o governador Diego Velázquez estava a procura de Cortés e até mesmo encaminhou uma carta ao rei. Todavia, não sabemos ao certo como Saucedo e Marin conseguiram encontrá-los e porque exatamente foram até eles, provavelmente deve ter sido por aliança, já que os mesmos se uniram a expedição. 

Hernán Cortés decidiu redigir uma carta para o rei avisando sobre sua missão. Em sua carta ele menciona as riquezas que descobriu e recebeu naquelas terras, fala das alianças que fizera com alguns senhores, menciona sobre a realidade daqueles povos pagãos, aborda sobre a criação da Vila Rica de Vera Cruz e solicita reconhecimento do monarca, além de dizer que estava próximo de conseguir contatar pessoalmente o imperador Montezuma, e prometia que aquele soberano se tornaria vassalo do rei de Espanha. Foram delegados Alonso Hernandez Portocarrero e Francisco de Montejo para entregarem a carta e os presentes dados pelo imperador e outros senhores, tudo seria enviado para o rei Carlos I. 

Nesse tempo, alguns homens que eram partidários do governador Diego Velázquez e após saberem notícias que este procurava por Hernán Cortés, tramaram em roubar alguns navios e voltar para Cuba, mas a intenção deles fora descoberta. Dois dos conspiradores foram executados, outros dois foram açoitados, e os demais foram considerados apenas manipulados pelos dois que morreram, mas havia ficado o aviso, que uma nova tentativa seria punida com a morte. Cortés ordenou que os navios fossem destruídos, para evitar que desertores fossem procurar Diego Velázquez ou outro governador espanhol do Caribe. 


Cortés ordena que os seus navios fossem afundados. Van Beecq, data desconhecida. 
Partida para Tlaxcala (1519):

Foram deixados segundo Solis [1858] 150 homens e dois cavalos em Vera Cruz. Já o relato das Histórias e las aventuras de Hernán Cortés [1879] fala que foram 80 espanhóis e 40 indígenas, o que totaliza 120 homens deixados para guarnecer Vera Cruz. Juan de Escalante fora nomeado alcaide da vila, já que os alcaides anteriores haviam partido para a Espanha como já mencionado. 

Enquanto Cortés cuidava dos preparativos em Zempoala para prosseguir para a populosa província de Tlaxcala, lhe chegou um comunicado de Vera Cruz, dizendo que avistaram navios espanhóis que não eram os deles. Cortés retornou para Vera Cruz, e descobriu que os navios haviam sido enviados por Francisco de Garay, governador da Jamaica.

Em terra haviam ido se reportar a Cortés, quatro homens, sendo um deles um escrivão que trazia consigo a mensagem do capitão Alonso de Pineda, o qual comandava aquela expedição de três navios e 170 homens. A missão dada pelo governador ao capitão Pineda era realizar reconhecimento e fundar uma vila próximo a cidade de Naothlan. Cortés exigiu que o capitão viesse pessoalmente explicar o que realmente queria, já que ambos trabalhavam para o mesmo rei. 

Os quatro enviados não gostaram daquilo, e segundo Solis [1858] Cortés os considerou afrontosos em desacatarem sua ordem para comunicar o capitão, então ordenou que eles fossem presos, e no dia seguinte alguns botes vieram a praia, trazendo membros da tripulação dos prisioneiros para averiguar o que havia acontecido com eles. 

O incidente não surtiu mais efeitos, pois os prisioneiros foram liberados, e retornaram para seus navios, e depois notou-se que os navios foram embora. Pineda deve ter desistido de conversar. Com isso, Cortés e sua tropa retornaram para Zempoala, e a 16 de agosto de 1519 partiram finalmente para Tlaxcala.

A viagem pela mata densa e a região serrana foi desgastante para os espanhóis, como nos relatara seu escrivão Bernal Diaz del Castillo, mas excetuando-se as dificuldades pelo trajeto, não houve ameaças, pois as populações locais eram aliadas de Zempoala, e se mostraram amigáveis com eles. Quando chegaram a cidade de Zocothlan, relataram que as boas-vindas não foram agradáveis. No dia seguinte a chegada deles, Cortés fora se reunir com o governador Olinteth. Quando lhe indagara se ele era súdito do rei do México, Olinteth respondera com um pergunta, questionando se havia gente que não fosse tributária ou escrava de Montezuma. Hernán respondeu que o mundo era maior do o governador imaginava, e os espanhóis serviam a um rei muito mais poderoso e senhor de vários vassalos.

Por cinco dias os espanhóis e seus aliados permaneceram em Zocothlan, embora Olitenth tenha melhorado os serviços de acolhimento as suas visitas, não demonstrou propriamente que iria ajudá-los em uma futura guerra, pois o padre Bartolomé de Olmedo contara que o governador possuía muito temor do imperador. Mesmo assim, Olienth ofereceu quatro escravas para preparar a alimentação, e nomeou vinte guerreiros para guiar a expedição, sugerindo que fossem para Cholula, um local bastante mercantil e pouco afeito as armas, que poderia trazer mais segurança aos espanhóis. 


No entanto, os zempoales consideraram aquela sugestão suspeita, pois contaram aos espanhóis que embora Cholula fosse uma grande cidade mercantil, devido as várias riquezas que passavam por ali, o imperador mantinha tropas na área para evitar crimes ou ataques a cidade. Isso soou bastante suspeito para os espanhóis, então Cortés indagara aos seus aliados qual seria a melhor alternativa, e eles lhe recomendaram ir para Tlaxcala, a qual era uma zona livre do domínio asteca, embora estando encrustada em meio ao seu território. 


Atual estado de Tlaxcala. Contudo a região corresponde a mesma localização que no século XVI, embora as fronteiras tenham mudado. 
"Era entónces Tlascala una provincia de numerosa poblacion, cuyo circuito pasaba de cincuenta leguas: tierra montuosa y desigual, compuesta de frecuentos collados, hijos, al parecer, de la montaña que se llama hoy la Gran Cordillera. Los pueblos, de fábrica ménos hermosa que durable, ocupaban las eminecias, donde tenian su habitacion, parte por aprovechar en su defesa las ventajas del terreno, y parte por dejar los llanos á la fertilidad de la tierra". (SOLIS, 1858, p. 116). 

Hernán Cortés decidiu enviar quatro zempoales para serem seus representantes, a fim de comunicar ao governador de Tlaxcala sobre a chegada deles, assim como, levar alguns presentes e falar que estavam indo em paz, e tinham assuntos a tratar com o governante. Dias depois ao chegarem em Tlaxcala os quatro zempoales, no dia seguinte a chegada, foram se reunir com alguns funcionários do governante. Solis [1858] os chama de senadores, pois os espanhóis na época pensaram que o Estado de Tlaxcala fosse uma república, mas na verdade era uma monarquia. O conceito de república era desconhecido para os tlaxcaltecas. 

Depois de algum tempo de demora, onde segundo os relatos da época, houvera uma divisão de opinião entre os conselheiros, os quais uns defendiam o acolhimento aos espanhóis, zempoales e totonacas, mas outros, alegavam que eles deveriam apenas passar por suas terras, mas sem ali permanecer, e outros eram contra eles adentrarem seu território. No final, foi decidido que os espanhóis não seria bem-vindos. 

Por oito dias a tropa de Cortés aguardou seus mensageiros, enquanto se encontravam em Jacazingo, mas devido a demora, todos começaram a suspeitar que algum problema pudesse ter acontecido, já que Tlaxcala não ficava distante. Então Cortés e os demais decidiram ir até a cidade de Tlaxcala procurar saber o que aconteceu com seus enviados. No caminho para a cidade eles se deparam com uma muralha de pedra, localizada ao sul da capital. Constatou-se que era uma defesa ligada a uma espécie de forte, então foi ordenado contorná-la e continuar a seguir caminho para a capital.

Mais a frente na estrada depararam-se com uma emboscada dos tlaxcaltecas. Segundo os relatos da época, mencionou-se o número de cinco mil inimigos contra um pequeno exército de espanhóis, zempoales e totonacas. Embora tenhamos suspeitas acerca desse grande número de inimigos, os espanhóis e seus aliados conseguiram vencê-los, graças as armas de fogo que causaram medo nos tlaxcaltecas, o que fez que muitos fugissem. Segundo Solis [1858] pelo menos 60 inimigos foram mortos e alguns foram feitos prisioneiros. Contudo cinco cavalos e cavaleiros espanhóis foram feridos, além de outros feridos e mortos entre os zempoales e totonacas. 


Xicohténcalt
No dia seguinte o embate retornou, e na ocasião o líder do exército revelou-se, um homem chamado Xicohténcalt Axayacatzin (em alguns livros antigos seu nome era escrito como Jicontecal ou Xicotenga), o qual seria um dos conselheiros que participara da reunião que os quatro zempoales mensageiros haviam estado, todavia os relatos antigos falam que Xicohténcalt seria um dos governantes de Tlaxcala. Contudo, novamente os relatos voltam a exagerar-se, onde deliberam em dizer que esse segundo confronto, a chamada Batalha de Tecoantzinco (nome devido ao vale homônimo) o exército inimigo vinha em maior número, pois o primeiro ataque foi apenas um "ataque de reconhecimento", mas o grosso do exército que Solis [1858] diz ter sido algo mencionado em 40 mil soldados inimigos, algo que Castillo [1854] corrobora, se bem que Solis retirou essa informação do livro de Castillo, sendo o mesmo uma das poucas testemunhas do conflito. Castillo também menciona que os espanhóis eram um pouco mais de 400 homens, e os zempoales e totonecas eram mais de mil cada um, o que totaliza uma tropa em torno de quase 2.500 guerreiros contra os supostos 40 mil tlaxcaltecas. 

Todavia, não temos certeza de até onde vai a veracidade destes relatos, pois é importante lembrar que exagerar sobre as batalhas as vezes era algo comum, e dependendo da pessoa que relatara isso, devemos term mente que no estudo da História é preciso ler isso com cautela e procurar comparar os relatos. Se bem que em alguns casos realmente isso foi verdade, e o fato é que mesmo que o inimigo dispusesse desse imenso contingente, não significa que a vitória seria certa. 

Pois como Sun Tzu falara em A arte da guerra, onde dissera que por mais que você possua um exército com muitos homens, se não houver disciplina e estratégia, aqueles números não são garantia de vitória. Além disso, é importante mencionar que a estratégia militar dos tlaxcaltecas em grande parte é desconhecida hoje, não sabemos ao certo como eles organizavam suas tropas e suas táticas de batalha. 

A batalha prosseguiu-se até que Xicohténcalt ordenou a retirada. Não sabemos ao certo os motivos, mas pelo o que consta nas versões antigas, ele teria perdido alguns de seus capitães e entre alguns dos mortos, estavam homens importantes e conhecidos seus, isso o motivou a retirar-se com o exército do campo de batalha, dando mais tempo para os espanhóis. Cortés escolheu um local seguro que consistia numa aldeia abandonada, para montar acampamento, ordenando que a base fosse reforçada para um eventual novo ataque. 

No dia seguinte ao conflito, os trabalhos para erguer paliçadas em torno da aldeia continuaram. Castillo, nos fala que os ataques não se sucederam por alguns dias, o que deu tempo para alguns se recuperarem de ferimentos leves, o que incluiu quatro ou cinco cavalos, os quais ainda causavam medo para alguns dos indígenas inimigos. Entretanto, a munição dos mosquetes e dos canhões diminuía cada vez mais, seus principais trunfos, não iriam durar muito mais tempo. Chegou-se até mesmo a organizar uma rota de fuga. Lembrando que eles estavam em meio a uma região serrana com florestas e alguns poucos campos, algo que dificultou as lutas, mas também dificultaria a fuga. 

Cortés ordenou que três prisioneiros fossem soltos e levassem uma mensagem para Xicohténcalt, ofertando um acordo de paz. Os três seguiram para encontrar o chefe, no entanto, ainda naquele dia retornaram. Eles estavam gravemente feridos, e quando indagados sobre o que aconteceu, responderam que Xicohténcalt recusou-se a aceitar a proposta de paz, e ordenou que eles três fossem punidos por sua covardia e afronta e seguir ordens do inimigo. 

No dia seguinte ao retorno dos mensageiros, já tendo passado alguns dias desde a última batalha, Hernán Cortés decidiu atacar o inimigo, ordenou que as tropas saíssem ao nascer do sol e se preparassem para a lutar em uma campina ali perto, entre a distância de onde estavam e o acampamento inimigo se encontrava. Mesmo em menor número, Cortés acreditava que os indígenas não possuíam estratégia militar e lutavam de forma desorganizada e aquilo apenas seria um obstáculo para eles mesmo. Além disso, estava convencido que suas armas de fogo e seus canhões poderiam por muitos deles a correr de medo, como já acontecera.  

A tropa de Cortés organizou-se em um campo, onde seria mais fácil concentrar a infantaria inimiga, para torná-la um alvo mais fácil para a artilharia. Das três batalhas contra os tlaxcaltecas, a terceira é uma das que temos melhor ciência de como aconteceu, pois embora não segunda o exército de Cortés tenha seguido para um campo, para melhorar sua movimentação, especialmente a movimentação da pequena cavalaria, ainda assim, não é um confronto claro de se compreender como transcorreu.

Enquanto as tropas espanholas, zempoales e totonocas se preparavam, batedores espanhóis e indígenas avistaram o exército inimigo. Cortés ordenou que se aguardasse a infantaria se aproximar até ficar na área de alcance dos canhões, quando isso aconteceu os disparos da artilharia começou a causar estragos no exército inimigo. Alguns tlaxcaltecas com medo, começaram a fugir, mas outros que eram mais corajosos continuaram a avançar. Quando chegaram mais próximo da infantaria espanhola, foi ordenado que os soldados armados com arcabuzes, mosquetes e balestas começassem a disparar, mas passadas essas duas frentes de tiros, o restante da infantaria inimiga avançou e a batalha entrou em corpo a corpo. 

Contudo, novamente o exército inimigo se retirou. Os motivos também não são claros. Castillo [1854] conta que Xicohténcalt teria se desentendido com um de seus comandantes, e esse ordenou que sua tropa se retirasse do campo de batalha (ele fala que o tal comandante que era filho de um senhor importante da região, comandava 10 mil homens na ocasião), e em meio a essa confusão, outros comandantes também teriam dado início a retirada, e no fim, o exército tlaxcalteca retirou-se do campo de batalha, dando vitória aos espanhóis e seus aliados. Bernal Díaz de Castillo chegou a dizer que a vitória teria sido um milagre de Deus, pois durante essas três batalhas, onde os espanhóis e seus aliados estavam em menor número e em desvantagem, o inimigo fraquejou diante deles. 

Castillo conta que apenas um espanhol morreu, 60 ficaram feridos e todos os cavalos foram feridos. Contudo, ele não conta quantos dos zempoales e totonecas ficaram feridos ou morreram. Durante a madrugada, o exército de Xicohténcalt atacou a base dos espanhóis. A luta prosseguiu por algum tempo, mas as defesas conseguiram resistir, embora Castillo fale que muitos inimigos morreram na ocasião, tentando escalar os muros ou derrubá-los, mesmo assim foram persistentes. Castillo também conta que os espanhóis prepararam um engodo, prenderam chocalhos de cascavéis nas celas dos cavalos, e soltaram os animais, o som dos chocalhos fez que os tlaxcaltecas pensassem que houvesse tais serpentes por ali, e começaram a fugir, pois confrontar tais víboras durante a noite, era loucura. 

Solis [1858] conta que Xicohténcalt teria planejado realizar um novo ataque a base inimiga, mas o Conselho de Guerra de Tlaxcala decidiu em aceitar a proposta de paz ofertada por Hernán Cortés. Todavia, Xicohténcalt mesmo assim enviou alguns espiões disfarçados para oferecerem suprimentos para os espanhóis, mas estes foram descobertos, e Cortés ordenou que eles tivessem as duas mãos cortadas, e foram enviados de volta. No fim, já no dia 7 de setembro, Tlaxcala aceitou firmar paz com os espanhóis. 

Pelo restante do mês de setembro, os espanhóis e seus aliados permaneceram em Tlaxcala, nesse tempo, alguns enviados do imperador Montezuma, sabendo do acordo de paz entre eles, tentaram persuadir os tlaxcaltecas em voltarem a trás e matarem os espanhóis e seus aliados, mas os tlaxcaltecas sendo inimigos dos astecas, negaram a se fazer isso, e no dia 23 de setembro, Cortés retomou sua marcha em direção a Tenochtlán. 


“Os espanhóis entraram em Tlaxcala, que consideram "muito maior do que Granada", sob uma chuva de flores. Desde então, a conquista tornou-se essencialmente uma empresa hispano-tlaxcalteca”. (SOUSTELLE, 1994, p. 94). 

O massacre de Cholula: 

Em 23 de setembro o exército de Cortés agora reforçado com as tropas de Tlaxcala seguiram viagem para Cholula anteriormente rota que Cortés e seus homens iriam fazer. O motivo de ir para a cidade, é que embora fosse a segunda cidade mais populosa do império asteca, Cortés temia que se seguisse direto para Tenochtitlán, o exército de Cholula os atacaria pela retaguarda, logo, ele pensou que seria mais sensato tomar a cidade primeiro. 

O governo de Tlaxcala enviou alguns milhares de homens para apoiar a empreitada de Cortés. Solis [1858] nos fala que Bernal Diaz falara em 2 mil guerreiros, já Antonio de Herrera falara em 3 mil e no caso de Hernán Cortés, esse em seu diário mencionara 6 mil tlaxcaltecas. De qualquer forma, isso significa que grande parte do exército que Cortés era o capitão-geral, consistia predominantemente de tlaxcaltecas. E um fato curioso é que o próprio Xicohténcalt, que antes se dedicara tanto a derrotar Cortés, passou a seguir na expedição.


Localização das cidades de Cholula, Tenochtitlán e Teotihuacan. 
Antes de entrarem na cidade de Cholula a qual não ficava tão distante e Tlaxcala, fora dito que os tlaxcaltecas não deveriam entrar na cidade, aquilos irritou, mas Cortés conseguiu conter os seus ânimos, e pediu que eles acampassem fora da cidade.

"La entrada que los Españoles hicieron en Cholula fué semajante á la de Tlascala: inummerable concurso de gente; que se dejaba romper con dificultad: aclamaciones de bullicio: mugeres que arrojaban y que repartian ramilletes de flores: caciques y sacerdotes que frecuentaban reverencias y perfumes: variedad de instrumentos, que hacian mas estruendo que música, repartidos pelas calles". (SOLIS, 1858, p. 166).

Os espanhóis foram bem recebidos pelos cholultecas, e além disso, acharam a cidade bastante bonita, chegando a compará-la com Valladolid. O jantar e os alojamentos foram bastante agradáveis, contudo, durante o jantar, Cortés e seus homens acharam suspeitas alguns gestos e olhares dos cholultecas. No dia seguinte, alguns indícios começaram a surgir. Notaram que mulheres, crianças e roupas estavam sendo levadas para fora da cidade; ouviram falar que naquela manhã fora feito um sacrifício de dez crianças, metade de cada sexo, e que tal sacrifício era feito por preceitos bélicos. Além disso, alguns zempoales teriam visto movimentação estranha de grupos de homens, e até avistaram o que pareciam ser barricadas.  

De acordo com Castillo, ele fala que Marina acabou fazendo amizade com uma velha, e esta teria dito para ela que havia um plano para matar os convidados. Marina sendo amante de Cortés, lhe avisou sobre isso, e o mesmo ordenou que alguns sacerdotes fossem falar com ele, e teria questionado a estes sobre essa suposta traição. Os mesmos teriam confirmado tal vil plano. 

Cortés cobrou que o governador se apresentasse e exigiu deste que lhe fornecessem comida, tamenes (carregadores) e mil guerreiros. Em caso de se negarem, a cidade seria tomada. Foi lhe dado o que pediu, mas no dia seguinte Cortés ordenou que um de seus homens efetuasse um disparo de mosquete ou arcabuz, o qual serviu de sinal para que os tlaxcaltecas invadissem a cidade. E assim decorreu o hediondo massacre. A cidade foi saqueada e segundo os relatos da época, de cinco a seis mil cholultecas foram assassinados, sendo a maioria civis. Alguns dos templos foram incendiados e os ídolos de pedra foram destruídos. Alguns prisioneiros foram feitos, mas depois Cortés os liberou, e cobrou apoio de Cholula a sua causa. 


Desenho representando o Massacre de Cholula, 18 de outubro de 1519. 
A Passagem de Cortés pelas montanhas (1519):

Após o massacre em Cholula, algo que anos depois foi motivo de crítica por alguns a Hernán Cortés, pois consideraram algo desnecessário, a expedição preparou-se para voltar seguir caminho para a capital. Antes disso começar, alguns zempoales apresentaram a Cortés a solicitação de retornarem para suas casas. Alegaram que estavam com saudade e cansados da viagem. Hernán que reconheceu o valor dos mesmos durante estes meses, concedeu autorização para aqueles que queriam partir, e enviou uma carta por eles, para ser entregue em Vera Cruz, para Juan de Escalante, lhe dando notícias sobre os últimos acontecimentos, e pedindo que enviasse farinha e vinho para as cidades amigas onde haviam cristãos entre os indígenas. 

Nesse mesmo tempo que os zempoales se retiravam de Cholula, uma nova embaixada do imperador Montezuma chegou a cidade. Os embaixadores entregaram presentes para Cortés e lhe parabenizaram por ter derrotado aqueles traidores. A questão é simples: os cholultecas haviam alegado que existia um exército de pelo menos 20 mil astecas nas redondezas da cidade, aguardando para invadi-la e matar os rebeldes espanhóis e seus aliados. Todavia, esse exército asteca não foi descoberto, e quando os embaixadores chegaram, alegaram que todo o plano de traição não havia sido uma ordem do imperador, mas sim uma ideia formulada pelos próprios cholultecas. 

Os embaixadores se despediram dizendo que o imperador os aguardava, e que não haveria problemas no caminho. Evidentemente, Cortés e os demais, já cientes de tantas surpresas desagradáveis, decidiram prosseguir com cautela. Após 14 dias desde o massacre, eles ainda permaneceram em Cholula, quando o exército voltou a se mover. Escolheram uma rota em direção ao Vale do México, onde se localiza o lago Texcoco. 

No caminho eles pararam em Guajozingo, onde foram bem recebidos, e o chefe local disse que lhes daria ajuda e fornecendo suprimentos, guerreiros e guias para levá-los através do vale. Enquanto atravessavam a região de Chalco de onde pode-se avistar dois vulcões, o Popocatépelt ("Montanha fumacenta") e o Iztaccíhualt ("Mulher Branca"), o chefe de Guajozingo alertara os espanhóis sobre o fato de ter avistado tropas astecas na região. Aquilo fez Cortés pensar de que se trata-se de uma nova emboscada e decidiu agir com prudência. 


O vulcão Iztaccíhualt visto do Chalco. Segundo os nativos, a forma do vulcão lembra uma mulher deitada de lado. 
Solis [1858] conta que pouco tempo depois, apareceram alguns enviados astecas dizendo que estavam ali para verificar a estrada real, para ver se estava tudo em ordem para facilitar a viagem dos espanhóis e seu exército, mas novamente Hernán e seus comandantes suspeitaram daquilo. Se havia realmente um plano de emboscada como sugeriu Bernal Diaz del Castillo, tal plano não ocorreu. Solis [1858] também fala que os astecas tentaram usar feitiçaria para deter o avanço dos espanhóis, mas isso não adiantou.

Seguindo caminho pela região montanhosa, o exército cruzou uma região planáltica, mas que possuía alguns bosques em volta, na ocasião chamaram de Passagem de Cortés, pois tal caminho passa por entre os dois vulcões e leva em direção a terras mais baixas e planas, já a beira do lago Texcoco, e por vez chegaram a cidade de Texcoco (também chamada de Tetzuco), onde a acharam bela e disseram que era pelo menos duas vezes maior que Sevilha (de fato algumas cidades astecas eram maiores que algumas cidades europeias naquele tempo). Texcoco era governada por Cacumatzin (1483-1520), um dos sobrinhos de Montezuma. 


O vulcão Popocatépelt visto a partir da Passagem de Cortés. 
Se conta que o príncipe chegou para os espanhóis e seus aliados sob muita pompa. Sua comitiva era grande e estavam todos bem vestidos, trajando roupas belas, e havia alguns escravos que segundo o relato, varriam o chão antes que Cacumatzin passasse pelo local. O príncipe estava indo em paz falar com os rebeldes. Cacumatzin tentou persuadir Cortés e seus homens de continuarem a viagem, chegou a lhes dá presentes, mas isso não retirou da cabeça dos espanhóis o plano de continuar a ir até a capital a qual ficava do outro lado do lago. 


Diego de Ordás
Enquanto o exército ficou hospedado em Texcoco e na vila vizinha de Quitlavaca, o governante de Quitlavaca lhe confidenciou seu desânimo com o governo de Montezuma, além de lhe dar outras informações sobre o território. Por esse tempo de descanso, Hernán teria solicitado que alguns homens se aventurassem a ir aos vulcões para tentar coletar enxofre, no intuito de se produzir pólvora. Diego de Ordás (1480-1532) e alguns homens aceitaram a tarefa, e eles escalaram o vulcão Popocatépelt. Se conta que subiram até o topo, mas não temos certeza se realmente fizeram isso, pois o vulcão possui mais de cinco mil metros de altura. Seu feito foi reconhecido e parabenizado posteriormente pelo rei Carlos I de Espanha, que lhe concedeu ter em seu brasão de armas, a imagem do tal vulcão. Passados alguns dias de descanso o exército espanhol-ameríndio retornou viagem, contornado o lago e chegaram a cidade de Iztacpalapa, a qual ficava ao sul da capital. 

Chegada a México-Tenochtitlán (1519): 

Solis [1858] conta que o exército de Cortés era formado por 450 espanhóis e cerca de seis mil indígenas, a maioria de tlaxcaltecas, mas havia zempoales, totonacas, cholultecas entre outros. Eles adentraram uma larga rua da cidade de Iztacapalapa, a qual dizia-se que essa avenida era larga o suficiente para que oito homens a cavalo a percorressem, estando eles lado a lado. A cidade segundo os relatos dos espanhóis possuía pelo menos 10 mil casas, sendo algumas com mais de um andar. A cidade ficava na beira da lagoa. 


Mapa retratando a jornada de Hernán Cortés a partir da ilha de San Juan de Úloa até México-Tenochtitlán. 
Muitas pessoas se acomodavam pelas ruas para verem os forasteiros. Alguns jogavam flores, outros gritavam, e outros cantavam. Os príncipes Magicalzingo e Cuyoacan foram receber os espanhóis os demais, levando ricos presentes para estes, o que incluiu várias peças em ouro. Cortés e sua comitiva pessoal e os demais chefes passaram a noite em um dos palácios da cidade, o qual descreveram ser muito luxuoso e belo aos moldes daquele povo. No dia seguinte, 8 de novembro de 1519, eles se dirigiram para a capital. 


“Luego otro dia de mañana partimos de Iztapalapa, muy acompanhados de aquellos grandes Caciques, que atrás he dicho. Íbamos por nuestra calzada adelante, la cual es ancha de ocho pasos, y va t an derecha á la ciudad de México, que me parece que no se tuerce poco ni mucho: é puesto que es bien ancha, toda iba llena de aquellas gentes, que no cabían unos que entraban en México y otros que salian, que nos venían á ver, que no nos podíamos rodear de tantos como vinieron porque estaban llenas las torres é cues, y em las canoas, y de todos partes de la laguna: y no era cosa de maravillar, porque jamas habian visto caballos, ni hombres como nosotros. Y de que vimos cosas tan admirables, no sabíamos qué nos decir, d si era verdad lo que por delante parecía, que por uma parte en tierra habia grandes ciudades, y en la laguna otras muchas, é víamosle todo lleno de canoas, y en ia calzada muchas puentes de trecho á trecho, y por delante. estaba la gran ciudad de México”. (CASTILLO, 1854, p. 48). 


Pintura retratando a chegada do exército de Hernán Cortés em México-Tenochtitlán, em 8 de novembro de 1519. 
A medida que eles avançavam pela ponte e adentravam uma larga avenida, podiam ver milhares de pessoas em volta, todos curiosos em vê-los. Além disso, narra-se que vários representantes do Estado ou até pessoas de outras funções iam cumprimentá-los. Os espanhóis contam que ficaram fascinados com o local, Bernal Diaz del Castillo chegara dizer que era uma paisagem maravilhosa que lembrava um sonho. Alguns chegaram a falar que aquelas cidades sobre ilhas, lembrava Veneza de um jeito mais exótico. As "grandes torres" como eles se referiram inicialmente as pirâmides que serviam de templos, falavam ser construções imponentes, e ficavam perplexos como aquele povo bárbaro havia conseguido construí-las.


A cidade de Tenochtilán vista do mercado de Tlatelolco. Pintura de Wolgang Sauber, 2008. 
Mais a frente, vários governantes de outras cidades apareceram, o que incluiu os senhores de Texcoco e Iztapalapa, e todos lhes deram boas-vindas, e na ocasião vinha o próprio imperador Montezuma Xocoyotzin II (seu nome também é grafado como Moctezuma ou Motecuhzoma). O imperador trajava uma rica túnica de algodão com capa, usava muitas joias em ouro, pérolas e outras pedrarias preciosas; sua coroa era folheada a ouro e adornada com plumas. Seus calçados possuíam adornos em ouro, e lembrava as sandálias usadas pelos romanos, que subia pela panturrilha, como se fosse uma bota. 

Montezuma II era descrito como sendo um homem por volta de seus quarenta anos, de pele mais clara, embora ainda assim fosse pardo. Tinha os cabelos longos, era de estatura mediana, o que implica em dizer que teria entre 1,60 m e 1,65 m, como era a estatura média dos espanhóis daquele tempo, os quais usaram isso como base para se comparar aos indígenas. Era descrito como sendo magro, rosto aquilino, olhos escuros e bem vivos. Ele se aproximava em vindo em um palafrém com adornos em ouro, sendo carregado por quatro homens. 

Hernán Cortés desceu de seu cavalo e seguiu junto de Marina para falar com o monarca. O palafrém parou, e os senhores de Texcoco e Iztapalapa estenderam as mãos para ajudar o soberano a descer. Cortés fizera uma reverência, onde tocara o chão com a mão direita, e depois beijara a mesma mão, um costume feito naquelas terras, para se mostrar respeito ao senhor. Ele pedira que Marina comunicasse suas boas-vindas para o imperador. Em seguida Cortés esticou a mão direita para cumprimentar o soberano, mas este não o cumprimentou de volta, pois desconhecia tal cumprimento, além disso, não era qualquer um que poderia se aproximar em demasia do soberano. 


Pintura retratando o encontro de Hernán Cortés e o imperador asteca Montezuma II. 
Em seguida, Hernán ofereceu um colar de pedra coloridas que imitavam gemas como o diamante e as esmeraldas. Castillo fala que aquilo era vidro colorido, mas o imperador ficou admirado com aquilo e aceitou o colar. Quando Cortés se ofereceu em colocar o colar no monarca, seus guardas o impediram, mas passado esse breve descuido, Montezuma aceitou o colar e lhe agradeceu pelo presente e lhes deu boas-vindas. 


“Motecuhzoma, acompanhado de numerosos dignitários, entre os quais o rei de Texcoco, recebeu Cortez à entrada da cidade. Dirigindo-lhe a palavra, declarou especialmente: "Sede bem-vindo, nosso senhor, de volta a vosso país e entre o vosso povo, para vos sentar sobre vosso trono, do qual fui o detentor por algum tempo em vosso nome." Os espanhóis instalaram-se no antigo palácio de Axayacatl em 8 de novembro de 1519”. (SOUSTELLE, 1997, p. 94).

Aqui tivemos o primeiro contato entre dois inimigos, afinal, desde que Montezuma negara em aceitar as súplicas de Cortés para ir a capital, isso há alguns meses, o imperador enviou embaixadores para tentar despersuadi-los, assim como, tramou a morte deles. Por outro lado, o fato de Montezuma está diante dos espanhóis e ter-los tomados como deuses ou mensageiros de Quetzacóalt, ou talvez os dois, era reafirmado com a condição de que os espanhóis haviam sobrevivido a algumas batalhas e outros perigos, e agora estavam ali diante dele. Isso reforçava a ideia de que talvez fossem realmente divinos. 

Um imperador fantoche:

Devido a extensão deste texto e ao que se tem ainda pela frente, irei ter que pular alguns aspectos da narrativa sobre a longa estada dos espanhóis em México-Tenochtitlán, a qual durou vários meses, contudo, os leitores que ficarem interessados em conhecer como se deu esse convívio podem procurar por livros sobre tal assunto. 

Nestes meses que Cortés conviveu com o imperador, o convívio foi razoavelmente tranquilo, embora não totalmente pacífico, pois embora os espanhóis e seus aliados tenham recebido vários e vários presentes, mesmo assim os espanhóis, tlaxcaltecas, totonacas, zempoales, etc., cometiam furtos, furtando principalmente objetos de valor, além de outras violações. Por outro lado, Hernán tentava convencer o imperador a se converter ao cristianismo e permitir que conversões fossem feitas em seu povo. Sabe-se que Montezuma teria começado a estudar o cristianismo, tendo "aulas" com o padre Bartolomé de Olmedo. Cruzes e altares foram erguidos pela cidade, e missas começaram a ser realizadas, mesmo assim, os ritos astecas se mantiveram. 

Cortés também tentou persuadir que Montezuma reconhece-se plena vassalagem ao rei da Espanha, o que incluía também submeter a lealdade dos outros senhores ao governo espanhol. A ideia dos espanhóis eram conseguir controlar o imperador e dessa forma ganhar confiança e controle sobre o império asteca para que pudessem concluir o plano de torná-lo na Nova Espanha. 

Poucos dias depois de terem chegado a capital, dois tlaxcoltecas chegaram a cidade, dizendo que levavam uma carta da Vila Rica de Vera Cruz endereçada para Hernán Cortés. Ao ser comunicado sobre a chegada dos dois indígenas, Cortés solicitou encontrá-los e recebeu a tal carta. As notícias eram ruins. O capitão Juan de Escalante que havia sido designado para governar Vera Cruz, estava morto. Havia morrido em combate durante a Batalha de Nautla, pois um comandante asteca chamado Cuauhpopoca estava atacando as terras e povoações do zempoales, os quais pediram ajuda aos espanhóis, e Escalante decidiu ajudar, mas veio a falecer, contudo, conseguiram a vitória. 

Após ler a carta, Cortés cobrou explicações de Montezuma, pois na carta dizia que os ataques foram ordenados por ele. Montezuma alegou que não tinha nada haver com aquilo, que Cuauhpopoca havia agido por conta própria. Então Cortés solicitou que o mesmo fosse preso e trazido a capital para ser julgado. 

Montezuma Xocoyotzin II.
No dia 14 de novembro, Hernán Cortés acompanhado de seus homens de confiança, Pedro de Alvarado, Gonzalo de Sandoval, Juan Velázquez de Léon, Francisco de Lugo e Alonso Dávila, além de dona Marina e mais trinta soldados foram até o palácio onde estava o imperador, e Cortés lhe deu voz de prisão. Conta-se que Montezuma ficou pálido ao ouvir aquilo. Solis [1858] nos fala que ocorreu uma intensa discussão verbal entre os dois, pois Montezuma considerava aquilo uma afronta tremenda, o fato de um estrangeiro ordenar a prisão do imperador, o senhor de todas aquelas terras e pessoas. Cortés que sempre foi um homem teimoso e impulsivo mantivera firme suas graves palavras, dizendo que Montezuma ficaria sob prisão domiciliar e seria vigiado dia e noite por guardas espanhóis, e se tentasse algo contra, ele seria morto, assim como sua família. 

Entretanto, tal prisão inicialmente seria apenas temporária até que Cuauhpopoca estivesse na cidade e fosse julgado, onde se veria se o rei era inocente ou não. No entanto, veio o julgamento, Cuauhpopoca foi condenado a morte junto com um de seus filhos e demais membros de sua comitiva, que eram cerca de quinze pessoas. Mesmo assim, Montezuma continuava a ser refém dos espanhóis e isso duraria pelos meses seguintes. Na ocasião do julgamento, Cortés ordenou que o imperador fosse algemado enquanto assistia o ato, pois foi ordenado que depois de mortos, os corpos dos criminosos fossem queimados, e prevendo que o imperador tentasse intervir, Cortés mandou algemá-lo. 

Do ponto e vista dos astecas aquilo era ultrajante, seu soberano acorrentado como um criminoso, como um escravo. Não tardaria para que aquilo causasse revolta na sociedade. Na realidade não temos certeza se Montezuma realmente ordenou que Cuauhpopoca atacasse os zempoales, todavia, Cortés usou isso como pretexto para prendê-lo, e passar a controlá-lo. Solis [1858] fala que Montezuma governava seu império, preso em seu palácio. 

Nos meses seguintes, os governadores das cidades vizinhas, sendo um deles o sobrinho do imperador, Cacumatzin. Cortés ordenou que Montezuma resolvesse aquilo, e então ocorreram alguns pequenos conflitos, mas as revoltas nas cidades em torno do lago Texcoco foram controladas. Posteriormente, Hernán fez que Montezuma concordasse em designar seu império como herança para o rei de Espanha, Carlos I, alegando que ao morrer deixava suas terras e riquezas ao rei de Espanha, e se comprometia em lhe pagar tributos, e seus sucessores e povo, seriam vassalos do monarca espanhol. 

Um novo ataque a Vera Cruz (1520):

Pánfilo de Narváez
Era maio do ano de 1520, quando uma nova ameaça caiu sobre a Vila Rica de Vera Cruz. Dessa vez não se tratava de uma ameaça asteca ou de outro povo ameríndio, mas dos próprios espanhóis. Sob o comando do governador Diego Velázquez o capitão Pánfilo de Narváez (c. 1470-1528) liderou um ataque a vila espanhola. Antes de tomar conhecimento sobre o ataque espanhol a Vera Cruz, Cortés e sus homens de confiança estavam planejando enviar suprimentos, ferramentas e trabalhadores para Vera Cruz, a fim de construírem dois navios, onde poderiam embarcar novos tesouros conquistados, e encaminhá-los ao rei, como também pedir reforços para a empreitada, e permitir que alguns dos homens que quisessem voltar para casa pudessem fazer isso. Então chegou aos ouvidos do imperador que avistou-se próximo a ilha de San Juan de Úloa dez ou oito navios. Pela descrição dada, os espanhóis os reconheceram como sendo navios dos seus. No entanto, Castillo conta que inicialmente pensou-se que tais navios poderiam ser o reforço que os capitães Pontocarrero e Montejo, os quais haviam seguido para a Espanha, agora estavam de volta, mas como eles viriam a descobrir, não eram eles. 

O então governador de Vila Rica de Vera Cruz, Gonzalo de Sandoval, enviou uma carta dizendo que eram navios vindos de Cuba, enviados por Diego Velázquez, e traziam pelo menos 800 homens. Solis [1858] e Castillo [1854] informam que alguns contatos do governador em Espanha lhe informaram da chegada de Pontocarrero e Montejo, e o tesouro que eles levavam para o rei, somando-se a isso havia o fato de Alonso Piñeda no ano anterior ter encontrado a segunda vila fundada por Cortés. Isso tudo somado ao seu ódio por Hernán, o levou a mobilizar navios e homens para ir tomar a Vila Rica de Vera Cruz e caçar Hernán Cortés. 

A armada que Velázquez organizou era composta por 19 navios, 800 homens, 80 cavalos, dez ou doze canhões, e uma grande quantidade de suprimentos e munição. Pánfilo de Narvaéz em caso de obtivesse sucesso, seria nomeado governador da Nova Espanha. 

Ao se aproximar de Vera Cruz, que segundo Castillo contava apenas com cerca de 60 homens para protegê-la, eles não tinham a miníma chance de durarem bastante tempo em um cerco. O capitão Narvaéz enviou a terra, o capelão Juan Ruiz de Guevara para negociar a rendição da vila, evitando que sangue fosse derramado. Guevara foi acompanhado de um escrivão e mais três soldados. Os cinco adentraram a vila, sendo recebidos por Sandoval, o qual respondeu que eles não eram seus inimigos, eram conterrâneos e todos serviam ao mesmo rei, e deveriam por essa obrigação frente as ordens de um governador vingativo. Sandoval sugeriu que Narvaéz se unisse a Hernán Cortés para auxiliar na conquista dos mexicas, e que deixassem para o tribunal esses desentendimentos entre Cortés e Velázquez. 

O capelão Guevara desaprovou a proposta, e replicou dizendo que por ordem de Pánfilo de Narvaéz eles seriam presos e se fosse o caso condenados por morte, devido ao crime de traição. Gonzalo se irritou com aquilo e mandou prender os cinco, e enviá-los para Tenochtitlán para ir "conversar" pessoalmente com Cortés. 

Pedro de Solis levou os prisioneiros para a capital, onde Cortés ordenou que fossem soltos e lhes propôs enviar um acordo de paz para Narvaéz, os enviando de volta, os quais além da mensagem, levavam alguns presentes. No acordo ele tentava persuadir Narvaéz a se unir a ele a sua empreitada e deixar de lado as ordens de um governador vingativo, mas Narvaéz negou-se a aceitar a proposta de Cortés, e decretou guerra a aquele traidor da Coroa Espanhola. 

Hernán Cortés decidiu retornar para Zempoala para comandar pessoalmente as tropas, então antes de partir designou alguns de seus homens para permanecer na capital e manter a vigilância sobre o imperador Montezuma, entre estes homens escolhidos estava Pedro de Alvarado, designado para o comando. Cortés pediu que guerreiros de Tlaxcala e Chinantlá para seguirem com ele até Zempoala. Montezuma ofereceu seu exército para lhes proteger a retaguarda, mas Cortés negou a oferta. Aqui podemos notar que ele agira com prudência, afinal, Montezuma tentou matá-los anteriormente, e o que impediria de tentar novamente?


Chegando a Tlaxcalteca, Cortés não conseguiu seu exército, pois o governo negou-se a lhe fornecer guerreiros, pois temiam que muitos dos seus perecessem as armas de fogo, aos cavaleiros e aos canhões. De acordo com Castillo, Cortés teria solicitado pelo menos 4 mil homens. Indignado com a falta de apoio dos tlaxcaltecas, prosseguiu viagem até Matalequita, onde se encontrou com Gonzalo de Sandoval e seus homens, pois Cortés anteriormente havia pedido que Sandoval abandonasse a vila, pois seria apenas o caso de reavê-la depois ou de reconstruí-la. Sandoval contou que alguns dos homens em Vera Cruz, pelo menos sete deles, se debandaram para o lado de Narvaéz. 

Embora não tenha conseguido que os tlaxcaltecas lhe dessem apoio, os zempoales lhe forneceram apoio, e, além disso, aguardava-se a chegada do exército dos chinantecas. Todavia, mesmo que contasse com maior número de combatentes, o inimigo possuía oitenta cavalos e pelo menos dez canhões, e um número ainda desconhecido de armas de fogo. Em geral, os indígenas usavam armas feitas com lâminas de pedra ou obsidiana, as quais não eram tão eficazes para o ferro e o aço das espadas, lanças e flechas dos espanhóis. 

De qualquer forma, Cortés aproveitou esse meio tempo antes da batalha ocorrer, para tentar persuadir parte da tropa de Narvaéz fosse para o seu lado. Ele chegou a manter contato direto com Andres de Duero, secretário que representava o governo espanhol, na tentativa, de Duero se unir a ele, e levar o máximo de gente consigo. 

Caminhava-se para o final do mês de maio, quando Cortés marchou com suas tropas para Zempoala, onde ali perto se encontrava a tropa de Narvaéz, mas devido a uma forte chuva, Pánfilo decidiu abandonar o local de batalha e recuar para o acampamento, na ocasião, Cortés ordenou que seguissem para lá. No caminho conseguiram capturar um dos sentinelas, o qual lhes fornecera valiosas informações sobre a base inimiga, e esse foi solto. Era o dia 24 de maio de 1520, passava-se da meia noite segundo alguns relatos. Era uma noite um pouco fria devido a chuva que caíra e o templo nublado que ainda se mantinha. Hernán Cortés delegara que Sandoval procura-se tomar os cavalos e sabotar a artilharia do inimigo. 

Tiros foram ouvidos em meio a noite. Os homens com medo e apreensivos começaram a disparar contra o exército indígena que avançava em direção ao acampamento. Em meio ao conflito, Pedro Sanchez Farfan feriu Narvaéz, lhe furando um dos olhos com uma lança. Incapacitado de lutar, a tropa foi forçada a se render. 

Hernán ofereceu rendição aos derrotados, oferecendo a proposta de se unirem a ele, ou aqueles que quisessem ir embora, poderiam ir. Muitos decidiram permanecer, e se uniram a Cortés. Ainda naquela noite de 24, os últimos soldados que ainda resistiam, liderados por Salvatierra e Diego Velázquez, o Moço, foram derrotados. Narvaéz entre outros prisioneiros foram levados para Vera Cruz. A vitória fora conquistada. 

Com a vitória dessa batalha, Cortés conseguiu vários soldados espanhóis, armas de fogo, 80 cavalos, dez ou doze canhões, munição, suprimentos e 19 navios. Algo que viria a ser bastante útil pelo o que estava por acontecer. 

O massacre do Templo Maior e a revolta em Tenchotitlán (1520):

O episódio sanguinário do Templo Maior ocorrido em 20 de maio de 1520 na cidade de Tenochtitlán, ainda hoje possui algumas questões em aberto. Por um lado, Bernal Diaz del Castillo argumentou que a matança ocorrera devido ao fato de que descobriu-se um complô entre os mexicas para assassinar Pedro de Alvarado e outros espanhóis durante a celebração do Toxcalt, onde se faziam orações e oferendas aos deuses Huitzilopochtli e Tlaloc. Outro fator que teria levado ao massacre, foi o fato de que os astecas retiraram uma imagem de Nossa Senhora e uma cruz que haviam sido postos no Templo Maior, e aquilo indignara os espanhóis. Sob tais circunstâncias Alvarado teria ordenado que seus homens matassem os sacerdotes e a população que se encontrava ali na ocasião.

Maquete do Templo Maior em México-Tenochtitlán. Na realidade eram dois templos na mesma pirâmide. 
De acordo com a versão dos relatos indígenas encontradas em alguns códices, se conta que Alvarado permitiu a realização do rito, mas depois teria voltado atrás e os atacado de forma covarde. É importante saber que enquanto os espanhóis estiveram na cidade, embora fossem realizadas missas e pregações, não se aboliu de vez as práticas religiosas astecas. Não sabemos ao certo quais motivos levaram Pedro de Alvarado a ordenar que várias pessoas fossem assassinadas a sangue frio, estando desarmadas. 


Massacre do Templo Maior. Pintura do Códice Duran. 
Embora as causas e o desenvolvimento ainda sejam incertos, as consequências são mais claras. Após a chacina, os espanhóis e os tlaxcaltecas que também teriam participado do ato, todos se refugiaram nos palácios onde estavam hospedados, e mantiveram o imperador por perto. Quando Hernán Cortés retornou em junho daquele ano, deparou-se com uma cidade em um estado bastante tenso. Nesse tempo, Alvarado e os demais evitaram de andar pelas ruas, temendo serem atacados. 

Além de se queixar publicamente a Alvarado e os demais espanhóis que haviam ficado na capital, Cortés cogitou declarar a prisão de Alvarado, mas antes de fazer isso, nomeou Diego de Ordaz para sair em patrulha e averiguar a situação nas ruas da cidade. Ordaz teria levado consigo 400 homens, entre espanhóis e tlaxcaltecas, e enquanto percorriam a avenida principal, avistaram um grupo de revoltosos que começaram a jogar pedras neles. 

Diego ordenou que alguns deles fossem presos, mas quando se aproximaram daquele grupo menor, mais gente começou a chegar na avenida, e logo a tropa de Ordaz estava cercada e o tumulto se tornou agressivo. Solis [1858] fala que pedras, flechas e tiros foram disparados, e a população começou a atacar os espanhóis e os tlaxcaltecas com porretes, machadinhas, lanças, etc. 

A medida que as armas de fogo disparavam, muitos mexicas se apavoraram com aquilo e fugiam. Ordaz aproveitou essa abertura para decretar retirada, e ele vários outros conseguiram fugir, mas houve vários feridos e alguns poucos mortos entre sua tropa. Durante sua fuga Diego de Ordaz e seus homens foram perseguidos até o prédio que usavam como quartel e a turba revoltada atacou o local. 

Os espanhóis revidaram e o confronto se mantivera. Ao cair da noite já tendo se aquietado a revolta, mesmo assim, uma surpresa aconteceu: a população ateou fogo no "quartel". O incêndio foi controlado, mas nos dias seguintes, a população ainda continuou a atacar os locais onde os espanhóis estavam refugiados, e confrontos com feridos e mortos ocorriam. A situação se tornava cada vez pior a medida que avançava o mês de junho. 

Hernán Cortés cobrou de Montezuma que fizesse algo, o imperador até tentou acalmar os ânimos da população, mas entre os revoltosos, alguns viam o imperador como um "escravo" dos espanhóis, e já não tinham mais confiança e respeito por ele. A cidade havia se tornado uma zona de guerra, e os espanhóis quase estavam limitados as suas "bases", embora ainda possuíam certa mobilidade por algumas ruas, contudo, eram cerca de mil espanhóis e pelo menos dois mil tlaxcaltecas contra uma cidade com mais de cem mil habitantes, e para piorar, era uma ilha. 

No dia 29 de junho a situação se tornaria ainda pior. Em uma nova tentativa de apaziguar os ânimos da população enfurecida, o imperador Montezuma II fizera uma petição pública, mas enquanto discursava, parte da plateia se irou e começaram a atirar flechas e pedras contra eles e sua comitiva, e uma dessas pedras lhe feriu gravemente a cabeça. Não existe um único relato sobre isso, dependendo dos autores, há versões diferentes, onde uns falam que Montezuma se pronunciou ao povo, a partir do terraço do palácio, outros falam que ele teria ido a uma praça, ou teria ido a avenida principal, ou a um templo, mas de qualquer forma, todas são unânimes no ponto que ele foi apedrejado. 

Solis [1858] conta que quando começaram a disparar flechas e pedras, os guardas se posicionaram na frente do imperador, mas uma das pedras o atingiu de tal maneira na testa que o derrubou ao chão quase inconscientemente. Algumas horas depois, ele veio a falecer devido ao ferimento. Mas antes de morrer designara seu filho Chimalpopoca como herdeiro (não sabemos quantos filhos Montezuma tivera ao todo, mas como ele possuía várias esposas e concubinas 'alguns relatos antigos falam de 50 esposas', ele tivera dezenas de filhos e filhas). Algumas versões falam que o imperador negou-se a ser batizado. 

Mas de qualquer forma, a morte do imperador acabava com o principal aliado dos espanhóis em Tenochtitlán, ao mesmo tempo que parte da nobreza estava contra eles. Cortés diante dessa situação decidiu em tentar fugir novamente da cidade. Solis [1858] menciona que alguns astecas suspeitavam que havia sido os espanhóis que mataram Montezuma, e isso fez aumentar o ódio da população pelos "falsos deuses".

A Noite Triste (1520):

No dia seguinte, 30 de junho, a atenção da cidade foi distraída pelo funeral do imperador, era o momento dos espanhóis planejarem sua fuga. Sendo a capital uma ilha só havia naquela ocasião duas maneiras de deixá-la: a mais rápida e fácil era ir pelas várias pontes que ligavam a cidade a margem do lago, contudo, todas as pontes estavam vigiadas, e de noite elas eram erguidas. Cortés ordenou que se fizesse uma ponte improvisada, usando vigas e tábuas.

Era de noite e chovia, quando os espanhóis e seus aliados deixaram sua base, e na calada da noite começaram a se dirigir para o oeste em direção ao caminho de Tlacopan. A vanguarda era formada por 200 espanhóis, um número maior de tlaxcaltecas e 20 cavalos, sendo essa conduzida por Gonzalo de Sandoval, Francisco de Azevedo, Diego de Ordaz, Francisco de Lugo e Andres de Tapia. Já a retaguarda que possuía mais gente, era liderada por Pedro de Alvarado, Juan Velázquez de Léon, e outros capitães que pertenciam ao exército de Pánfilo. No meio do exército seguiria os prisioneiros, os carregadores com mantimentos, equipamentos e os tesouros que reuniram neste tempo. Não temos exatidão de quantas pessoas compunham esse exército, pois os relatos variam acerca da quantidade do número de mortos, mas estima-se que houvesse mais de duas mil pessoas, entre espanhóis e tlaxcaltecas. 


A Noite Triste. Autor desconhecido, século XVII.
Após passarem por uma ponte, houve um problema: a ponte improvisada que eles haviam feito, começou a ceder ao peso dos cavalos e dos canhões. Enquanto tentavam resolver esse problema, os astecas os atacaram, vindos pelas ruas e em canoas, e uma dura batalha se iniciou. Castillo conta que o número de mortos era tão grande, que se usou os corpos para fazer uma "ponte de cadáveres". Vendo que a situação piorava, Cortés ordenou que se atirassem os canhões na água, e que se salvassem suas vidas. Além dos canhões serem deixados para trás, parte da bagagem que eles levavam também fora deixada para trás na tentativa de escaparem. 

Hernán Cortés, Marina (Malinche), Geronimo de Aguillar, Bernal Diaz del Castillo, Pedro de Alvarado, Gonzalo de Sandoval foram alguns que conseguiram escapar. Eles conseguiram atravessar pelo outro lado da ponte e correram até chegar a terra firme em Popotlan, onde alguns relatos falam que Cortés se sentou sob uma árvore e chorou bastante pela perda de seus companheiros. Castillo conta que já estava amanhecendo quando eles se encontravam fora da cidade. De Popotlan eles foram para Tlacopan (Tacuba), onde aguardaram por algum tempo, na esperança que que outros sobreviventes ali chegassem. 

Entre os vários mortos na fuga, estava o herdeiro nomeado por Montezuma, seu filho Chimalpopoca. O trono mexica foi ocupado por um dos irmãos de Montezuma, Cuitláhuac (1476-1520). O novo soberano levaria a cabo a missão de exterminar os espanhóis, embora não viveria muito tempo para isso. 


O penúltimo imperador asteca, Cuitláhuac.
A medida que as horas passavam, e não se via sinais de mais sobreviventes, Hernán decidiu partir e retornar para Tlaxcala, tomando uma longa rota pelo norte para contornar o lago. Posteriormente enquanto se encontravam na cidade de Calocoayan eles foram atacados, mas conseguiram escapar. Voltariam a ser atacados novamente em Otompan (também chamada de Otumba) em 7 de julho, próximo as montanhas. A marcha de Tenochtitlán até as montanhas levou uma semana, tempo de sufoco para os espanhóis, pois além de terem que procurar por comida e água, tinham que viajar com cautela, e nesse caso preferiam fazê-lo à noite. Já em território tlaxcalteca eles começaram a receber apoio e proteção até chegar a capital deles. Nos meses seguintes prepararia-se o contra-ataque. 


Rota da fuga dos espanhóis de Tenochtitlán para Tlaxcala em 1520, após a Noite Triste. 
Retorno a Tlaxcala e preparativos para a guerra (1520-1521): 

Antes de chegarem a Tlaxcala, os espanhóis receberam a notícia que o rei tlaxcalteca Magiscatzin estava a beira da morte, e sabendo que os espanhóis estavam a caminho solicitou que enviassem um padre para batizá-lo e ouvir sua confissão. Magiscatzin havia dado muito apoio aos espanhóis desde que se tornaram aliados, e compadecido por isso Hernán enviou o padre Bartolomé de Olmedo na frente para atender os últimos pedidos do monarca. Ao chegarem a cidade, os espanhóis foram bem recebidos, mas o rei veio a falecer, e Cortés sentiu muito a sua morte, pois havia sido um grande aliado e um bom amigo. 


Nos dias que se prosseguiram em Tlaxcala, chegou-se notícias vindos de Vera Cruz, onde um navio com treze espanhóis e dois cavalos, capitaneado por Pedro de Barba, o qual vinha em missão para resgatar Pánfilo de Nárveaz. Ao chegar em Vera Cruz, foi ordenado a Pedro Caballero, então governador da vila, que Barba e seus homens fossem presos. Oito dias depois um segundo navio que vinha em auxílio de Pedro Barba, sendo comandando por Rodrigo de Morejon de Lobera, também foi apreendido e a tripulaçãoo foi presa.

Excetuando-se essas questões dos dois capitães e suas tripulações que foram aprisionados, Cortés passou a se dedicar aos planos de atacar México-Tenochtitlán, para isso ordenou que barcos de guerra fossem construídos e que pólvora fosse preparada, se Tenochtitlán era uma ilha, seria conquistada por via aquática. 



Após a morte do rei Magiscatzin houve um pequeno desentendimento acerca de seu sucessor foi escolhido um de seus filhos, Yzucan, o qual aceitou ser batizado como cristão. Posteriormente o próprio Xicohténcalt também aceitou ser batizado. Nas semanas seguintes mais dois navios espanhóis chegaram a Vera Cruz, o primeiro capitaneado por Camargo com setenta homens, e o segundo liderado por Ramirez, trazendo cinquenta homens. As tripulações iam resgatar Narváez, contudo, os capitães chegaram a conversar com Cortés, viabilizando se unirem a ele. Ambos os capitães pediram a Cortés que pudessem ir embora e pudessem levar quem quisessem ir consigo. Hernán foi complacente e permitiu que quem quisesse ir, poderiam ir. Os dois capitães foram bastante amistosos com Cortés.

Nesse tempo, Cortés também enviou representantes a Espanha para avisar o rei, a fim de levar presentes e interceder ao seu favor, no intuito de enviar reforços. Era final do ano de 1520 quando chegou um navio mercantil a Vera Cruz, onde ia para se vender armas, munição, escravos, equipamentos, suprimentos, etc. Não era o reforço ou a ajuda esperada, mas veio a calhar. 

Enquanto os espanhóis aguardavam os preparativos para retomarem as campanhas no ano seguinte, nesse tempo os astecas não os atacaram por que uma epidemia de varíola se espalhou pela cidade. Não sabemos quantos morreram, mas o relato fala de milhares de vítimas, incluindo o próprio imperador Cuitláhuac. O novo imperador asteca foi Cuauhhtémoc (1496-1525) um primo de Montezuma e Cuitláhuaca. O novo soberano governaria cerca de um ano até se deposto pelos espanhóis, tendo sido o último imperador mexica. 

Busto do  último imperador asteca, Cuauhhtémoc.
No início do ano de 1521, Hernán Cortés convocou seus principais comandantes e capitães para tratar os planos de guerra, cogitava-se tomar a cidade de Texcoco, para torná-la uma praça-forte e base de operações no lago Texcoco. Solis [1858] menciona que o exército que Cortés havia sob seu comando eram pelo menos 60 mil guerreiros. 

Tomada de Texcoco (1521):

No começo de 1521, o grande exército de Hernán Cortés composto em sua grande maioria por tlaxcaltecas e outros povos nativos como os cholultecas, marchou em direção a cidade de Texcoco. No caminho algumas cidades próximas ao lago, começaram a se aliar aos espanhóis e em 15 de fevereiro, os espanhóis adentraram Texcoco, pois o governador da cidade havia ido para a capital e deixara seu irmão Ixtlilxóchtil o qual não era simpatizante do imperador, decidiu se unir aos espanhóis lhes dando boas-vindas. Isso foi algo surpreendente, pois esperava-se ter que combater os texcocos, mas não foi preciso fazer isso, embora que os tlaxcaltecas chegaram a incendiar um dos palácios da cidade, mas de qualquer forma a cidade agora estava sob domínio dos espanhóis.


“PROBABLEMENTE Tetzcoco era la mejor posición que Cortés podia elegir para establecer su cuartel principal, atendiendo á su comodidad para alojar y mantener un fuerte ejército, y á que allí habia todos los artesanos y operarios de que se podia necesitar (1). Lindaba por un lado con Tlaxcallan, la república aliada; y por el otro con México ; por manera que el general podia estar al corriente de todos los movimientos que hacia el enemigo. En una palabra, su situación central facilitaba las comunicaciones con todo el valle, y le hacia servir de punto de apoyo de todas las operaciones”. (PRESCOTT, 1878, p. 72). 

Ixtlixóchtil conseguiu convencer os nobres e a população a se aliarem aos espanhóis e seus aliados, algo que veio bem a calhar, pois agora as forças de 60 mil homens eram acrescidas com mais alguns milhares. Estando os barcos prontos, se colocariam os canhões nestes e tropas e os enviariam para Tenochtitlán. 

Para poder continuar a construção dos barcos de guerra era necessário chegar ao lago, mas a cidade ficava a pelo menos uma légua de distância, então foi ordenado que se escavasse um canal conectando o lago a cidade, de forma ser mais seguro montar os barcos na cidade e depois despachá-los para o lago. Ixtlilxóchtil encarregou-se de comandar as obras de escavação do canal. Enquanto isso, senhores de outras cidades que margeavam o lago enviavam representantes e se mostravam favoráveis a aliança com os espanhóis e até mesmo alegavam a se tornarem servos do rei de Espanha. 

A conquista de Iztacpalapa (1521): 

A cidade de Iztacpalapa no ano anterior havia servido de uma acolhedora hospedagem aos espanhóis e seus aliados antes de prosseguirem para capital, todavia sua localização era um ponto estratégico tanto por ficar bem próximo a México-Tenochtitlán, assim como, servir de base para se dominar a região sul do lago, tomar a cidade era algo que Hernán Cortés decidiu fazer. 

Ao se aproximarem da cidade, um exército de oito mil guerreiros, segundo Solis [1858] partiu para defender a cidade, mas depois que eles começaram a perder, se puseram a recuar para a cidade, algo que os espanhóis suspeitaram se tratar de uma armadilha, então avançaram com cautela, contudo, ao adentrarem a cidade notaram que ela estava deserta, ou pelo menos parcialmente deserta. Parte da cidade ficava a beira d'água, havendo casas sobre palafitas.


“De las casas, unas estaban en terreno seco; las otras descansaban en estacas clavadas en el agua. Las primeras estaban casi todas abandonadas por sus moradores que se habian escapado á toda priesa en canoas' y que habian dejado dentro de sus hogares todos sus efectos. Los tlaxcaltecas se apoderaron de ellos y se cargaron de despojos. Entre tanto, los de la ciudad siguieron huyendo hasta refugiarse en las casas construidas sobre el agua, ó entre los juncos y carrizales que sobresalían de su superficie. Dentro de las habitaciones se encontró también algunos que no teniendo tiempo para huir se quedaron con sus mujeres é hijos”. (PRESCOTT, 1874, p. 75).


Localização de algumas das principais cidades ao redor do lago Texcoco. No mapa destaca-se as pontes que ligava México-Tenochtitlán a outras cidades, as quais foram alvos dos espanhóis durante o cerco a capital. 
No entanto, ao cair da noite, começou a se notar que o nível da água estava subindo. Logo, desconfiou-se que os inimigos haviam abertos as comportas dos diques. Cortés ordenou retirada e os espanhóis e tlaxcaltecas saíram dali com água acima da altura dos joelhos, mas segundo consta, parece que ninguém se afogou. Saindo da cidade, Hernán ordenou que prosseguissem em marcha para retornar o quanto antes a Texcoco, mas no raiar do dia, descobriu-se que os inimigos o haviam seguido e estavam em seu encalço. 

Os guerreiros de Iztacpalapa os atacaram em três frentes. Devido ao fato da pólvora ter molhado, as armas não deram para ser usadas, contudo, a quantidade de arcos e balestras foram suficientes para mantar muitos dos inimigos e rechaçar várias outros. Os relatos antigos falam em torno de seis mil guerreiros mortos, e assim os espanhóis e tlaxcaltecas triunfavam sobre o exército de Iztacpalapa. 

“La expedición de Cortés, no obstante el revés que habia llevado, era favorable á la causa de. los españoles, porque la catástrofe de Ixtapalapan, esparció el terror por todo el valle; como lo probaban las embajadas que de varias partes llegaron pidiendo sumisión. Su influjo se hizo sentir aún del otro lado de la sierra, pues la ciudad de Otompan, cerca de la cual ganaron los españoles su famosa batalla, vino pidiendo la protección de tan poderosos extranjeros, prometiéndoles obediencia y disculpándose de haber tomado parte en las últimas hostilidades, echando toda la culpa de ellas á los mexicanos”. (PRESCOTT, 1874, p. 77).

Chalco e Otompam são atacadas pelos astecas (1521):  


Gonzalo de Sandoval
Com a conquista de Iztacpalapa, a notícia se espalhou rapidamente pela região, e as cidades de Otompam e Chalco que antes eram partidárias dos astecas se debandaram para o lado espanhol, apresentado votos de aliança e obediência. Em resposta a essa traição, o monarca mexica ordenou que seus exércitos atacassem tais cidades. Contudo, Hernán para acudir seus novos aliados, nomeou Gonzalo de Sandoval e Francisco de Lugo para liderarem tropas para cada uma das cidades para defendê-las. Cada um dos comandantes espanhóis levavam consigo quinze cavalos e duzentos espanhóis e mais um contingente indeterminado de tlaxcaltecas. Em um terreno plano, mas parcialmente alagado, os dois exércitos se confrontaram. As tropas mexicanas formavam um paredão diante dos espanhóis e os tlaxcaltecas, contudo, o avanço da cavalaria fez abriu uma brecha na defesa dos astecas permitindo que o restante da infantaria adentra-se, o que forçou a formação a se destabilizar e parte dos guerreiros a se debandar. Assim, sem esforços, os espanhóis e tlaxcaltecas adentraram a cidade do Chalco. 

Solis [1858] comenta que os chalqueses eram anteriormente inimigos dos tlaxcaltecas, mas por ordem dos astecas, tendo rompido com estes, eles firmaram aliança com os tlaxcaltecas deixando para trás as rivalidades. Já Prescott [1874] informara que antes do governador de Chalco morrer, ele havia pedido aos seus filhos que se os espanhóis voltassem ao México (entenda-se México aqui como a região do Vale do México) que eles se submetessem aos espanhóis, pois o velho governador os considerava como sendo enviados dos deuses. 

O exército que ameaçava Otompam foi embora, então os espanhóis retornaram a Texcoco levando alguns prisioneiros capturados na batalha, aos quais Cortés lhes deu um a mensagem dizendo que os espanhóis retornavam para se vingar dos astecas pela traição que eles cometeram em tentar matá-los; vingar o assassinato do imperador Montezuma, o qual Cortés tinha grande apresso, e dessa vez, a cidade cairia sob o poder da Espanha. 

Todavia, Hernán também dissera que estaria aberto a negociações de paz. Então os oito prisioneiros foram levados até o lago, e um barco lhes foi dado. No entanto, nenhuma resposta veio, e posteriormente novas tropas astecas se aproximaram de Texcoco para atacar os espanhóis, isso significava que eles optaram pela guerra. 

Ameaças internas: 

De fevereiro ao começo de maio do ano de 1521, algumas batalhas ocorreram, todavia, chegado os idos de maio, um novo problema tomou o exército espanhol e tlaxcalteca: supostas traições começavam a passar de boca em boca, tais boatos iam se espalhando. De acordo com Solis [1858] um espanhol chamado Antonio de Villafaña tramou assassinar Hernán Cortés e nomear um novo general, que fosse mais condizente as ordens do governador Diego Velázquez e que permitisse os homens retornarem para as colônias insulares, ou para a própria Espanha, e que não fosse obcecado em conquistar Tenochtitlán, pois para Villafaña supõe-se que ele devesse considerar que a vitória sobre os astecas já estava definida, e não fazia diferença ter que subjugar a capital, embora não saibamos seus exatos motivos para esse plano de assassinato.

Além de se matar Cortés, planejou-se também matar seus homens de confiança, pois esses iriam se rebelar. Para se eleger como novo general foi cogitado o nome de Francisco Verdago, cunhado do governador Diego Velázquez. Contudo, Villafaña e seus comparsas foram delatados. Não sabemos que foi o responsável ou responsáveis por isso, mas os planos de traição chegaram aos ouvidos de Hernán e este decretou a prisão de Villafaña e seus comparsas. Na mesma noite, Antonio de Villafaña fora executado. 

Mas, passado esse intento traiçoeiro, poucos dias depois, um novo problema aconteceu. O general tlaxcalteca Xicotencalt durante a noite ordenou que seu exército parti-se do local onde se encontrava, contudo, essa retirada foi feita sem autorização e não fora comunicada aos espanhóis. No dia seguinte, quando avisaram Hernán Cortés que Xicotencalt havia partido com seu exército, ele considerou aquilo uma afronta. 

Os motivos que levaram o general tlaxcalteca a fazer isso não são certos. Solis [1858] considera o fato que Xicotencalt nunca foi um aliado totalmente seguro, pois ele apenas desistiu de combater os espanhóis quando esses chegaram a primeira vez em Tlaxcala, devido a ordem do rei, contudo, era sua intenção continuar a lutar contra eles. A partir dessa antiga rixa, Solis cogitara que Xicotencalt nunca se mostrou totalmente seguro em apoiar os espanhóis.

Hernán despassou espanhóis e texcocos para procurarem pelo exército tlaxcalteca levado por Xicotencalt, quando esses foram encontrados, fora dada voz de prisão ao general, e este foi levado de volta a cidade. No dia 12 de maio, ele foi executado como traidor. A morte Xicotencalt gerou entre alguns tlaxcaltecas um sentimento de indignidade e revolta, que tornou a sua relação com os espanhóis turbulenta, no entanto, a aliança deste povo ainda se mantivera, e eles continuaram a fazer parte da campanha.

O longo cerco a Tenochtitlán:

Após a batalha próxima a Chalco, outros ataques se sucederam, mas nesse tempo, os barcos ficaram prontos, e Martin Lopez comandou a missão de levar suas partes de Tlaxcala para Texcoco, onde seriam montados. Com os barcos prontos, Cortés decidiu ir pessoalmente em alguns casos ou enviou seu pessoal para fazer reconhecimento do território, de forma a viabilizar o planejamento dos ataques. Contudo, uma coisa que os espanhóis não esperavam era o fato de que a cidade iria resistir por bastante tempo. 

Após a execução de Xicotencalt, Hernán passou a agilizar os preparativos para lançar o primeiro ataque direto a México-Tenochtitlán. Uma missa foi rezada, onde contou-se com a participação dos espanhóis e alguns indígenas cristianizados; durante a cerimônia os padres benzeram as embarcações e nomes lhe foram dados. Depois da missa, Cortés passou revista na tropa espanhola. 


“Lo primero que después de esto hizo el general, fué pasar revista á sus tropas en la plaza mayor de la capital. Encontró que su ejército se componía de ochenta y siete jinetes y ochocientos diez y ocho infantes, de los que ciento ocho eran ballesteros y arcabuceros. Habia tres cânones de hierro, de grueso calibre, y quince cañoncitosó falconetes de bronce. Los cañones de hierro habian sido traídos hacia poco tiempo de Veracruz á Tetzcoco, por los fieles tlaxcaltecas. Contaba con suficiente cantidad de balas y municiones, y con cerca de mil libras de pólvora, y cincuenta mil saetas de cobre hechas por los indios conforme á la muestra que se les habia dado”. (PRESCOTT, 1874, p. 125). 

Após contar as tropas, Cortés designou para cada barco que seguissem vinte e cinco homens, um capitão, doze remadores e um canhão. Alguns dos capitães desse primeiro ataque foram os seguintes: Pedro de Barba (embora tenha sido preso, foi solto e aceitou a aliança), Garcia de Holguin, Juan de Portillo; Juan Rodriguez de Villafuerte, Juan Jaramillo, Miguel Diaz de Auz, Francisco Rodriguez Magarino, Cristoval Flores, Antonio de Caravajal, Gerónimo Ruiz de la Mota, Pedro Briones, Rodrigo Morejon de Lobera e Antonio Sotelo. 

O plano inicial não era apenas atacar a capital, mas tomar os portos das cidades de Tacuba, Iztacpalapan e Cuyoacan com apoio terrestre. Para comandar o ataque a Tacuba foi designado Pedro de Alvarado; Cristoval de Olid foi encarregado de atacar Cuyoacan, e Gonzalo de Sandoval ficou com o comando para atacar Iztacpalapan. 

Pedro de Alvarado e Cristoval de Olid obtiveram sucesso em romper os reservatórios da cidade de Tenochtitlán, pois embora fosse um lago de água doce, parte da água era salgada em algumas áreas, e os dejetos das cidades eram jogados no lago, o que o tornava impróprio para o consumo. Com a destruição dos reservatórios, isso forçaria a população ter que ir para mais longe conseguir água potável, ao mesmo tempo tal ato fazia parte da estratégia para destabilizar a cidade. 

Após tal feito, Pedro Alvarado e Cristoval de Olid prosseguiram para Tacuba, enquanto o próprio Hernán, em companhia de Fernando (Ixtlilxóchtil) e Carlos (Suhel), respectivamente o novo rei de Texcoco e seu irmão, os quais foram batizados, embarcavam em um dos barcos e seguiram em companhia de treze embarcações em direção a capital. 

Era o dia 26 de maio quando esse primeiro ataque se iniciou. Ao chegarem a cidade, Cortés saltou a terra acompanhado de 150 espanhóis e esses se puseram a atacar um reduto inimigo (nos relatos antigos usam o termo castelo, mas é um termo impróprio, pois não havia castelos entre os astecas, talvez se tratasse de uma fortaleza). 

Após a fortaleza ser conquistada, notou-se que várias canoas começaram a partir da cidade; Sandoval que estava ao sul da cidade, notou esse súbito aumento das canoas. Solis [1858] mencionou que eram pelo menos 500 canoas, com 4 mil guerreiros. Hernán ordenou que seus homens retornassem aos barcos e dera a ordem para formar uma meia lua e se preparar para o combate. A medida que os astecas eram mortos, a frota recuou para a cidade. 

No dia seguinte, Hernán passou o dia indo visitar os locais tomados e conhecer as baixas que tiveram. Embora aquele primeiro ataque terminou em vitória aos espanhóis, o cerco demorou mais do que esperavam. No total foram 2 meses, 2 semanas e 4 dias de conflitos regulares, em muitos casos foram ataque pequenos, mas mal sucedidos, pois embora a varíola tenha dizimado milhares no ano anterior, mesmo assim, a população ainda continuava bastante grande, e, além disso, havia o fato de que cada construção da cidade era usada como fortaleza pelos astecas. 

Logo, tomar uma cidade inteira, onde o inimigo estava literalmente em casa e possuía conhecimento sobre todos os caminhos, tornava a conquista algo realmente difícil, daí uma das medidas tomadas pelos espanhóis foi cortar os suprimentos de água e comida, forçando a escassez de víveres, o que levaria a população ter que sair para conseguir comida e água, ou declarar rendição para não morrer de fome. Ao mesmo tempo que os espanhóis realizam seus ataques a diferentes áreas da cidade, era dada a ordem de tacarem fogo no máximo de edificações

Pelo fato dos relatos sobre o cerco serem realmente longos, o que valeria um texto específico para abordar apenas isso, se bem que existem livros interiores que tratam especificamente desse cerco, terei que saltar esses relatos e partir para a batalha final. 

Era 13 de agosto de 1521, haviam se passado pelo menos vinte ataques iniciados em 26 de maio, contudo, nesse tempo tais empreitadas belicosas não foram o suficiente para conquistar a capital México-Tenochtitlán. Nesses idos de agosto, os espanhóis descobriram que o então imperador Cuauhhtémoc pretendia fugir da cidade, então Gonzalo de Sandoval partiu para avisar a Hernán Cortés, que era hora de desferir o último ataque derradeiro e tomar a cidade. Se capturassem o imperador, o império cairia nas mãos dos espanhóis. 


A conquista de México-Tenochtitlán. Autor desconhecido, século XVII. 
Sabendo disso, Cortés ordenou imediatamente que toda a frota se mobilizasse para impedir que o imperador deixasse o lago. Assim os barcos de guerra partiram para cerca a cidade, e ao se aproximarem entraram em combate contra as várias canoas dos astecas. Em meio ao combate seis barcos se distanciavam do campo de batalha, então Sandoval designou que Garcia de Holguin fosse atrás deles. Garcia conseguiu alcançá-los e descobriu que se tratava do imperador e sua família. Cuauhhtémoc decidiu se render, mas desde que nada de mal fosse feito as suas esposas e filhos. 

A notícia da captura do imperador começou a ser comunicada entre os nobres e comandantes astecas, então não tardou para que alguns começassem a declarar rendição. A notícia posteriormente chegou a aqueles que lutavam em terra, pelas ruas da cidade, e os comandantes sabendo sobre a prisão do imperador, também começaram a declarar rendição, embora os relatos antigos falem que os próprios guerreiros ao saberem que seu líder fora preso, simplesmente fugiam. 

Garcia levou o imperador até o barco onde estava Gonzalo de Sandoval, e depois o levou até Hernán Cortés, o qual se encontrava então em terra, e um dos acampamentos. Ao chegar diante do acampamento, o imperador e a imperatriz foram conduzidos até a barraca que Hernán se encontrava. O casal foi convidado a se sentar, e Solis [1858] conta que Cuauhhtémoc teria indago a Cortés por que ainda não ter-lo matado.

Hernán Cortés decidiu não matar o imperador, este seria mantido prisioneiro, pois ainda poderia ser útil. Terminada a breve conversa, Cortés retornou para o campo de batalha, pois alguns ainda lutavam tanto por água e por terra, mas no fim daquele dia, Pedro de Alvarado havia conseguido conquistar triunfalmente o mercado de Tlatelcoco, o último reduto dos astecas na capital. A cidade fora tomada, o exército derrotado, as cidades vizinhas estavam subjugadas, o imperador estava preso, a Confederação caíra, tornado-se o Vice-reino da Nova Espanha. 


“A principal razão, porém, foi que astecas e espanhóis não faziam o mesmo tipo de guerra. Para os astecas, a guerra constituía uma espécie de duelo cujos árbitros eram os deuses, conduzida conforme regras tradicionais muito precisas. A guerra tinha por finalidade principal obter prisioneiros destinados ao sacrifício. Os vencidos deveriam certamente reconhecer a autoridade suprema do México, abrir seus templos a Uitzilopochtli e pagar os tributos, mas conservavam a autonomia cultural e mesmo política. 

Os espanhóis, ao contrário, faziam a guerra total. Tratava-se, para eles, de destruir a religião indígena em proveito da sua própria, considerada a única verdade, e eliminar o Estado asteca em proveito de seu soberano Carlos V. Assim, não se tratava simplesmente de arrancar impostos dos indígenas, e sim de se apoderar de todas as suas riquezas e reduzi-los a escravidão”. (SOUSTELLE, 1997, p. 98). 

Considerações finais:

Tendo mantido o imperador Cuauhhtémoc vivo, Hernán Cortés passou a manipulá-lo como havia feito com Montezuma II, fazendo que os astecas reconhecessem oficialmente o governo espanhol, mostrando que o seu "líder" havia se tornado vassalo do rei Carlos I de Espanha, além disso, reconhecia-se que o Estado asteca (entenda-se aqui a confederação ou império) seria absorvido pelo governo espanhol, tornando-se um vice-reino. Todos passariam a pagar tributos para a Coroa Espanhola. A cidade de Tenochtitlán que havia sido parcialmente destruída devido as incêndios, começou a ser reconstruída tendo como modelo a arquitetura espanhola daquela época. A cidade deixou de ser chamada de Tenochtitlán e adotou-se o nome de México. 

Cuauhhtémoc foi algumas vezes torturado pelos espanhóis para revelar a localização das minas de ouro e das minas das outras joias, mas o jovem nobre não soube dizer onde ficavam tais locais. Nas viagens que Cortés realizou para encontrar tais minas, Cuauhhtémoc foi junto, até que quatro anos após a conquista ele morreu, possivelmente por maus tratos, ou fora assassinado. 

Hernán Cortés posteriormente enviou um grande carregamento de ouro e outros tesouros para o rei de Espanha, o qual retribuiu reconhecendo ele como o conquistador do México, como também lhes concedeu títulos de nobreza, chegando a se tornar o Marquês do Vale de Oaxaca em 1529. Antes de tornar-se marquês, Hernán foi reconhecido como governador e capitão-general da Nova Espanha, mesmo que inicialmente por aclamação de seu exército e não por designação oficial do rei, mas depois a designação oficial fora dada, e ele permaneceu no cargo até 1524, e em 1526 governou por quase um mês. 

Após a conquista, Cortés empreendeu uma viagem inicial para a região das Hibueras (hoje nas Honduras) onde ficariam as minas de ouro, como visitou também o atual território da Guatemala. Em 1524 descobriu a Califórnia, que na época pensou-se que fosse uma ilha. Em 1525 retornou para a cidade do México onde permaneceu até metade do ano seguinte, e depois seguiu viagem para a Espanha. Em 1529 tendo sido nomeado marquês retornou a América, participando nos anos seguintes de mais quatro expedições. 

Após a conquista, novos surtos de varíola e outras doenças contribuíram para dizimar a população indígena. Estima-se que com a chegada dos espanhóis, haveriam pelo menos 20 a 25 milhões de pessoas na Mesomérica, contudo, cinquenta anos depois, essa população caíra para algo entre 3 a 5 milhões de povos indígenas. 

Referências Bibliográficas:
B. D. M. M. Opúsculo sobre la vida militar y política de Hernán Cortés. Sevilha, Francisco Alvarez & Cia. 1855. 
CASTILLO, Bernal Diaz del. Historia verdadera de la conquista de la Nueva España - tomo I. México, Tipografia de R. Rafael, 1854. 
CASTILLO, Bernal Diaz del. Historia verdadera de la conquista de la Nueva España - tomo II. México, Tipografia de R. Rafael, 1854. 
CASTILLO, Bernal Diaz del. Historia verdadera de la conquista de la Nueva España - tomo III. México, Tipografia de R. Rafael, 1854. 
CASTILLO, Bernal Diaz del. Historia verdadera de la conquista de la Nueva España - tomo IV. México, Tipografia de R. Rafael, 1854. 
HISTÓRIA de las aventuras y conquistas de Hernan Cortés en Méjico. Madrid, Despacho de Marés y Compañia, 1879. 
MARCILLY, Jean. A civilização dos astecas. Rio de Janeiro, Editora O. Pierre, 1978. 
PEREGALLI, Enrique. A América que os europeus encontraram. 13 ed, São Paulo, Atual, 1994. (Coleção Discutindo a história). 
PRESCOTT, W. H. Historia de la Conquista de Mexico - tomo I. Paris, [s.n.], 1878. 
PRESCOTT, W. H. Historia de la Conquista de Mexico - tomo II. Paris, [s.n.], 1878.
SAUNDERS, Nicholas J. Américas Antigas: as grandes civilizações. São Paulo, Madras, 2005. (Capítulo 6: Os Astecas). 
SOLIS, Antonio de. Historia de la Conquista de Méjico, poblacion y progresos de la América Setentrional, conocida por el nombre de Nueva Espanã. Paris, Carlos Hingray livreiro, 1858. 
SOUSTELLE, Jacques. Os astecas na véspera da conquistas espanhola. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo, Companhia das Letras/Círculo do Livro, 1990. (Coleção A vida cotidiana). 
SOUSTELLE, Jacques. A civilização asteca. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1997. 

5 comentários:

Ocara disse...

excelente texto

celso marques neto disse...

Você é português estou perguntando isso por causa de algumas palavras que eu vi
como cimo porque é muito usada por portugueses para se referir a algo que está em cima. Um belo texto parabéns ele é bem explicado.

Leandro Vilar disse...

Celso Marques, não sou português, sou brasileiro. Todavia, não encontrei a palavra cimo como você menciona.

William disse...

Cara, Montezuma foi muito burro, deveria ter mandado atacar os espanhóis logo de cara. O simples fato de Cortes estar avançando em direção a capital com um comboio de povos inimigos já era óbvio que as intenções dele não eram de "paz" ... Fico me perguntando como seria o México hoje caso os espanhóis não tivessem dominado tudo. Será que seria uma grande nação ou teria sucumbido com o tempo mesmo assim? Muito legal essa história. E a analogia com o mito da serpente emplumada que eles fizeram ao se depararem com os conquistadores é de uma coincidência incrível!!!

Leandro Vilar disse...

William realmente Montezuma II cometeu um erro crasso. Subestimou o inimigo, mas acima de tudo, subestimou os pretensos aliados.