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Leandro Vilar

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Cruzes caídas na terra do sol nascente: a perseguição ao cristianismo por Toyotomi e os Tokugawa (1587-1640)

Introdução:
       
O intuito dessa introdução é apresentar de forma geral alguns fatos históricos importantes sobre a chegada dos portugueses ao arquipélago nipônico, e alguns aspectos da situação do país no século XVI e como tais características se relacionaram com as missões jesuíticas responsáveis pela evangelização destes pagãos como eram chamados na época.

De certa forma o Japão não foi descoberto pelos europeus no século XVI, na realidade os europeus já possuíam certa noção sobre sua existência, graças ao mercador, explorador e embaixador veneziano Marco Polo (1254-1324), o qual em sua longa estada de pelo menos 16 anos no império sino-mongol de Kublai Khan (1215-1294), Polo em seu livro escrito após seu retorno para Veneza, nos falara sobre um país chamado de Cipango (variação do chinês, Je-pen Kuou, que significa “País do sol levante”), o qual ele dizia ficar a leste da China, sendo uma nação rica em prata, governada por um imperador pagão.

"Cipango é uma ilha do Levante, que está afastada da terra 1.500 milhas. É uma ilha muito grande. Os indígenas são brancos, de boas maneiras e formosos. São idólatras e livres, têm um rei próprio, que não é tributário de nenhum outro. Têm ouro em abundância, mas o rei não deixa levar, e por essa razão há lá poucos mercadores e poucas vezes vão ali as naus". (POLO, 2009, 200).

Evidente que Marco Polo não visitou Cipango, que posteriormente as traduções de seu livro originaram o nome de Japão, mas em 1492, Cristóvão Colombo  em sua missão de descobrir uma rota marítima pelo Ocidente para chegarem as Índias, levava consigo o livro de Polo, e Colombo cogitava poder chegar a Cipango ou a China. (BOSSONG, 2003, p. 215).

Contudo, o primeiro contato que os europeus tiveram com o arquipélago japonês, ocorreu em 1543[1] ou no 12º ano da Era Tembun, onde três marinheiros portugueses de nomes Antônio da Mota, Francisco Zeimoto e Antônio Peixoto, abordo de um junco chinês que partiu da colônia portuguesa de Macau no sudeste da China. O navio mercantil foi retirado da rota por uma tempestade, e os ventos o levou para noroeste.

E em 23 de setembro daquele ano, a embarcação chegou à ilha de Tanexuma (atualmente Tanegashima), na província de Kyushu, no sul do país. Na ocasião eles foram vistos com olhares de curiosidade, pois foram os primeiros europeus a chegarem ao Japão. Contudo, além de suas roupas e aparência, o que chamou a atenção dos nativos foram suas armas de fogo, onde abordo do junco havia alguns mosquetes. Tal fato foi tão marcante que o governador da ilha na época deixou registrado o informativo de ter comprado algumas daquelas armas trazidas pelos estrangeiros. Em 1606 foi publicado o livro Teppô-ki (A Crônica da Espingarda), relembrando esse acontecimento.

“Introduzia-se a arma de fogo no Japão. A espingarda trazida pelos portugueses era de poder incomparavelmente superior a todas as armas até então conhecidas, razão porque foi logo aproveitada pelos lordes feudais de todo o país. Surgiram fábricas de mosquetes em Sakai (perto de Osaka) e outras cidades, e a tática de guerra sofreu profunda modificação”. (YAMASHIRO, 1964, p. 90).

As armas realmente tiveram grande influência nas táticas de guerra dos japoneses a partir desse primeiro contato, afinal, o país vivia em um estado de guerra há vários séculos, e a necessidade de novas técnicas e armas era imprescindível para contribuir no êxito das campanhas militares[2].

O Japão do século XVI ainda vivenciava seu período feudal, iniciado no século XII quando o Clã Minamoto ao derrotar o Clã Taira em 1185, firmaram sua influência e poder sobre a província de Kamakura, e criaram o Kamakura Bakufu (“Posto Militar de Kamakura”), dando início ao período feudal e ao governo militar, onde o xogum (“comandante-geral” ou “general”) se tornou a figura política mais importante do país, suplantando a autoridade política e militar do imperador (Tennō), relegando apenas a autoridade religiosa e simbólica a este.

“A transformação do Estado Ritsuryo em Estado Feudal (bakufu) não significa apenas a transferência do poder político das mãos dos nobres palacianos para as dos samurais em ascensão, com radical mudança no sistema social e econômico. Na verdade, verifica-se uma profunda modificação em toda sociedade nipônica - atingido todas as classes sociais - inclusive alteração sensível na mentalidade dos homens. Registra-se uma grande transformação nas esferas do pensamento e da cultura”. (YAMASHIRO, 1978, p. 77).
       
O ano de 1543 ou 12º ano da Era Tembun se encontrava na fase mais sangrenta e turbulenta da história feudal japonesa, chamada de Período Sengoku Jidai (c. 1467-1573), conhecido como “Período das Guerras Feudais” ou “Período dos Reinos Combatentes”, foi à época onde as guerras se intensificaram, onde os complôs, traições, armadilhas, golpes, assassinatos, etc., se tornaram mais comuns na sociedade. (DUUS, 1976, p. 20).

Contudo, os japoneses também desenvolveram uma nova nomenclatura histórica para se referir a esse momento da sua história, foi criado o termo Período Nanban (1543-1639), período no qual o país tivera intenso contato com os europeus, sendo primeiro os portugueses e em seguida vieram os espanhóis, ingleses e holandeses. Os europeus foram inicialmente chamados de nanban ou nanbanjin (“bárbaros do sul”), termo antes usado para se referir aos chineses, mas acabou se tornando uma terminologia comum a qualquer europeu que ali chegasse.

Francisco Xavier  
Mas, mesmo com esse alto nível de violência a qual para os estrangeiros não era bastante perceptível devido à reclusão do país em assuntos exteriores, Portugal decidiu se aproximar do país, mesmo assim. Outros comerciantes retornaram ao Japão nos anos seguintes, contudo, o jesuíta São Francisco Xavier[3] (1506-1552) decidiu realizar a primeira missão cristã ao Império do Sol Nascente. Quando em 1547 de volta a Malaca, Francisco Xavier conheceu o aventureiro português Fernão Mendes Pinto (1510/14-1583), o qual havia regressado de outra viagem que fizera ao Japão. Na ocasião o aventureiro retornou do país acompanhado de um japonês de nome Angirô, o qual era acusado de homicídio, então acabara fugindo do seu país. Angirô o qual sabia falar um pouco de português mostrou interesse na fé cristã, e no mesmo ano, Francisco Xavier o batizara, e ao mesmo tempo Angirô passara a adotar o nome cristão de Paulo de Santa Fé, decidindo se tornar também um missionário. Francisco Xavier passou o ano de 1548 na Índia, até que viajou novamente para Malaca, de lá, partiu para Macau com o intuito de pegar um navio para ir ao Japão. Na ocasião, Paulo de Santa Fé e mais dois missionários que sabiam falar japonês, o padre Cosme de Torres e o irmão João Fernandes seguiram junto, nessa que seria a primeira missão religiosa cristã ao país[4]. 

Os quatro viajantes chegaram em julho de 1549 ou no 18o ano da Era Tembun em Kagoshima, na ilha de Kyushu (o Japão possui cinco grandes ilhas que englobam várias províncias menores). Francisco Xavier entrou em contato com a família Shimazu, a qual havia mostrado interesse pelo comércio lusitano que vinha sendo desenvolvido nestes últimos anos. Francisco conseguiu convencer Shimuza Takahisa a se converterem ao cristianismo e assim firmou uma aliança entre o dáimio (senhor feudal) com a religião e o comércio[5]. Shimuza se tornou responsável por assegurar a segurança da missão e fornecer recursos para a viagem deles a capital do país, a cidade de Miaco, além de ter-se tornado o primeiro dáimio a ser convertido.

Por dois anos Francisco Xavier e seus companheiros percorreram o sul do Japão realizando pregações e entrando em contato com outros dáimios, tendo o êxito de converter alguns destes e suas famílias[6]. Tanto Francisco Xavier quanto outros jesuítas adotaram a “política da boa vizinhança”, onde procuraram aprender o máximo que pudessem sobre a cultura nipônica, evitando problemas com este povo belicoso. De início os missionários sofreram com o choque cultural entra as várias diferenças entre a cultura nipônica e a cultura europeia, além da própria dificuldade de comunicação. No âmbito religioso, os três cristãos se depararam com as duas religiões predominantes no país: o Xintoísmo, religião tradicional de caráter nacionalista e estatal onde se adoravam vários kamis (deuses), e se tinha o imperador como uma figura divina.

“Diferentemente do cristianismo e do islã, o xintoísmo não tem um fundador. É tipicamente uma religião nacional, que ao longo dos séculos adotou tradições de várias outras religiosidades. Ela não conta com nenhum credo ou código de ética expressamente formulado. A essência do xintoísmo são a cerimônia e o ritual, que mantêm o contato com o divino”. (GAARDER, 2000, p. 89).

A segunda religião foi o Zen Budismo, religião mais organizada em termos de estrutura monástica em relação ao xintoísmo. Assim como outras vertentes budistas, seus preceitos básicos eram as ideias de iluminação (bodhi), carma e a reencarnação. Além disso, o zen também enfatizava a meditação e a procura da “iluminação” em aspectos cotidianos, logo, a filosofia zen acabou por influenciar desde atos simples como a cerimônia do chá, cuidar do jardim, preparar a comida, passando para a prática de alguns esportes e artes. Segundo o pensamento do zen, a iluminação[7] (chamada neste caso de satori) não possui uma fórmula que lhe diga como se alcança-la, essa pode vir a qualquer momento de uma forma desconhecida.

Diante dessas duas religiões profundamente enraizadas na cultura nipônica, os missionários viram alguns problemas: no xintoísmo havia a questão do politeísmo e da idolatria ao imperador, duas práticas contrárias ao que se prega o Primeiro Mandamento dos Dez Mandamentos. No caso do zen, os conceitos de iluminação, carma e reencarnação não fazem parte da doutrina católica, e iam contra o princípio de que Jesus era o caminho para Deus, e apenas Deus é o responsável por nossa salvação. A ideia de carma salienta que nós sejamos os responsáveis pela nossa própria salvação, daí a necessidade de se reencarnar em várias vidas para nos aperfeiçoar espiritualmente e nos livrar do ciclo das reencarnações (samsara) como diz o budismo.

Mesmo com tais diferenças religiosas, o cristianismo no início foi visto como uma curiosidade e um equívoco. Os japoneses passaram a chamar o cristianismo de kirishitan-shû, que literalmente significava “seita cristã”. Tal denominação se deve em repercutir num equívoco tomado pelos japoneses em se pensar que o cristianismo fosse alguma seita budista[8]. Assim, através desse equívoco, os primeiros convertidos estavam pensando que ingressaram em alguma vertente budista.

Um samurai conversa com um jesuíta. Pintura data do começo do século XVII. 
Não obstante, antes do árduo trabalho do padre Baltasar Gago em se criar uma gramática em português-japonês, para auxiliar na evangelização por volta de 1558 ou 1559, era comum usar termos budistas, por exemplo, Dainichi ou Hotoke = Deus, tamashi = alma, Judo = Paraíso, Jigoku = Inferno, tenmin = anjos, para se referir a preceitos cristãos, pois facilitava a compreensão dos japoneses, embora que isso acabou gerando alguns problemas de entendimento. Posteriormente, os missionários preferiram japonizar algumas palavras portuguesas para evitar tais equívocos. Por exemplo, padre = bateren, Jesus Cristo = Iesu Kirisuto, irmão = iruman, cruz = kurusu.  

Mas, passado esse equívoco inicial, nos anos seguintes os japoneses passaram estar cientes de que o cristianismo não era uma seita budista, mas outra religião. Por outro lado, devido ao intenso período de conflitos, a própria classe sacerdotal budista havia se infiltrado nas disputas familiares e políticas, pondo em dúvida seus votos.

Quando os jesuítas chegaram, mostrando devoção, retenção, benevolência, polidez e seriedade, alguns dos japoneses compararam aquilo com a conduta moral do Bushidô (lit. “Caminho do guerreiro”), o guia do samurai (também chamados de bushi), onde se presava a obediência, servidão, fidelidade, honra, dedicação, polidez, benevolência, justiça e coragem. Além desse fato, havia o interesse econômico, pois muitos dáimios receberam de bom grado os missionários, pois alguns destes possuíam ligações com o comércio. E o fato de se converterem era uma forma de se aproximar mais deles.

Os bonzos (monges budistas) viram sua influência e autoridade ameaçada em estarem perdendo fiéis para a fé estrangeira. Houve alguns desentendimentos entre o clero budista, os dáimios e as autoridades do Estado em relação à pregação católica, contudo isso não desmotivou os jesuítas em prosseguirem com suas missões, as quais tiveram muito a contribuir, não apenas no aspecto religioso, mas em outras causas sociais.

“Havia padres jesuítas que se desfaziam de todos os bens pessoais no serviço da fé. Os jesuítas construíram leprosários, santa-casas de misericórdia, orfanatos, asilos, etc. E combatiam os maus costumes como o da venda de filhas, o de abandonar crianças na rua, etc., que a miséria impunha às classes baixas. Curavam doentes, aplicando a ciência médica do Ocidente então desconhecida no país”. (YAMASHIRO, 1964, p. 98-99).

Sabe-se que Baltasar Gago em 1553, criou uma enfermaria no Bungo, capital da província do Bungo, onde ele e outros jesuítas e católicos japoneses passaram a tratar os enfermos. Posteriormente, o médico e mercador Luís de Almeida (1525-1583), compadecido pela situação do singelo hospital jesuíta, decidiu entrar para a Companhia, e doou 2.000 cruzados para ajudar nas estalagens do hospital. Posteriormente, ele doou mais dinheiro e em 1557 inauguraram o Hospital do Bungo. Almeida se dedicaria de corpo e alma a catequização, passando o restante da sua vida no Japão. (CARVALHO, 1994, p. 101). 

Ao longo de seu governo de 1560 a 1582, Oda Nobunaga tendo assim como outros dáimios, simpatizado com os missionários () e também se interessado no comércio sino-lusitano, ambicionava concluir a reunificação do país e se tornar xogum, e ele soube usar a astúcia para manter seu apoio aos jesuítas e comerciantes portugueses os usando contra os bonzos (entre 1573 e 1578 no auge de suas campanhas militares, vários templos budistas foram saqueados, suas terras confiscadas, e os monges ou foram feitos prisioneiros ou foram executados), e ao mesmo tempo conseguiu apoio da Corte japonesa[9] para suas campanhas militares.

Pintura representando Oda Nobunaga, um dos mais famosos dáimios do Período Sengoku. Após sua morte ganhou a fama de ter sido um cruel tirano. 
“Os territórios controlados por estes sacerdotes espalhavam-se a longo de seus domínios, assim, Oda Nobunaga temia que o poder dos bonzos sobre a população local viesse a se tornar um dos grandes obstáculos à unificação do país. Então, ele procurou estimular o choque cultural e religioso, entre os jesuítas e os bonzos, como forma de enfraquecê-los”. (LEÃO, 2010, p. 220).

Pelos seus feitos, Nobunaga chegou a receber os títulos honoríficos e políticos de Tenka (“Aquele que está abaixo dos céus”) e Sengoku-Daimiô (“Senhor do País”). Embora ele se mostrasse um homem tolerante com o cristianismo, ele diferente de outros dáimios, recusou várias vezes a conversão. O padre Luís Fróis[10] (1532-1597), um dos notórios missionários neste período, autor de História do Japam (1583-1587), chegou a ser hóspede e a se tornar amigo do dáimio. Fróis descrevera que Nobunaga se apresentava como um homem mundano que se importava apenas com os prazeres terrenos, esbanjando seu poder e riqueza. Ele também nos conta que embora um primo e um dos seus filhos tenham se convertido, isso não contribuiu para que o dáimio fizesse o mesmo. Fróis assinalou que Nobunaga era um “ateu”, pois o mesmo dizia que não havia vida após a morte e até mesmo duvidava da existência dos deuses. No entanto, o padre Fróis também nos informou que sob a proteção de Nobunaga, várias igrejas, paróquias, hospitais e escolas foram fundados em seus domínios ou nos domínios de seus vassalos. Por mais que Nobunaga tenha se negado a conversão, ele mostrou interesse em apoiar os missionários, sendo evidente que não era por questões religiosas.

A fundação de Nagasaki[11] que data de 1570 é o resultado da colaboração de alguns dáimios católicos como Otomo Yoshishigue (batizado como Francisco Otomo), senhor de Bungo, Arima Harunobu (batizado como Protasio Arima), senhor de Arima, e Omura Sumitada (batizado como Bartolomeu Omura), senhor de Omura, com os jesuítas e comerciantes portugueses, isso tudo revela a importância comercial estrangeira no Período Nanban, como alicerce para garantir o desenvolvimento das missões. Em 1580 os ingleses chegaram à ilha de Herida, iniciando os contatos com este distante império.

Em 1582 os três importantes dáimios católicos, Dom Francisco Otomo, Dom Protasio Arima e Dom Bartolomeu Sumitada enviaram uma embaixada para Portugal, mas devido a União Ibérica[12], eles seguiram para a Espanha, presenteando Filipe II, rei de Espanha e Portugal, e depois viajaram para Roma, para levar saudações e presentes ao papa Sisto V. Contudo, com a morte de Nobunaga ainda em 1582 ou 10º ano da Era Tenshô, a situação para o cristianismo no Japão começaria a mudar, adentrando uma fase de problemas.

Pintura retratando uma embaixada japonesa ao visitar o papa Gregório XIII, em 1585. Gregório XIII foi o segundo papa a receber uma embaixada de cristãos japoneses. 
Toyotomi retoma as hostilidades contra os cristãos:

Tendo sido vítima de traição de um dos seus próprios generais, chamado Akechi Mitsuhide (1528?-1582), o qual encurralou Nobunaga no templo Honno-ji em Kyoto, o que levou Nobunaga a cometer o seppuku (ritual de suicídio para se preservar a honra. Apenas praticado pelos samurais), do que se render, ser humilhado e executado pelo seu general traidor, Toyotomi Hideyoshi (1537-1598), um dos fiéis generais de Nobunaga, jurou vingar a morte de seu senhor. Reunindo forças com outros dáimios vassalos de Nobunaga, Toyotomi venceu o exército de Akechi em batalha, contudo, Toyotomi também aproveitou a ocasião para se apresentar como sucessor direto de seu senhor[13].

Toyotomi Hideyoshi foi o primeiro grande dáimio a tentar banir o cristianismo do Japão. 
Embora tenha dado continuidade à unificação iniciada por Nobunaga, tendo concluído esse processo, pondo fim a 120 anos de guerras contínuas no país[14], Toyotomi dedicou-se principalmente a questões políticas e militares, algo que lhe tomou muita atenção, e nestes anos de 1582 a 1586 ele não mostrou interesse nos jesuítas e nos luso-hispânicos, mesmo assim, diferente de Nobunaga, Toyotomi não era um simpatizante do cristianismo, nesse ponto ele era mais conservador acerca da influência dos nanban sobre a cultura e a sociedade nipônica.

Nas cartas jesuíticas dessa época, notamos que os jesuítas não gostavam de Toyotomi, enquanto Nobunaga recebeu elogios, Toyotomi era alvo de críticas negativas. Em 1585, Toyotomi recebeu o título de Kampaku (regente), conotando sua grande autoridade adquirida em poucos anos que assumira os exércitos de Nobunaga, e a partir deste momento, ele começaria a se intrigar contra os missionários.

“Hideyoshi julgou que os sacerdotes estrangeiros não somente visavam à conversão do povo japonês à religião católica, como procuravam estabelecer o poder político ocidental (português ou espanhol) nas ilhas nipônicas. De fato, antes de Hideyoshi dominar Kyushû, os católicos controlavam o poder político e temporal da região de Nagasaki”. (YAMASHIRO, 1964, p. 100-101).

Em 25 de julho de 1587, Toyotomi Hideyoshi expediu o Édito de Hakata (entre os jesuítas e os mercadores luso-hispânicos ficou conhecido como Édito Anticristão), no qual designava que os missionários deixassem o país e não retornassem mais. Além disso, ele também visava dessa forma frear a expansão católica que se espalhava por Honshu (a maior ilha do arquipélago). O padre Gaspar Coelho antes da promulgação do édito, tentou convencer o regente a se converter ao cristianismo, mas ele se negou veemente. Contudo, seu édito proibia apenas a vinda dos clérigos, mas mantinha os portos abertos para os comerciantes.

Entretanto, o édito promulgado por Toyotomi embora tenha causado impacto inicialmente, acabou não surtindo o efeito desejado, pois os jesuítas ainda continuaram a retornar ao país depois deste, mas limitando-se as províncias sulistas, mesmo assim, ele gerou alguns problemas para os jesuítas pela parte dos bonzos e de alguns japoneses que se apegaram a causa proposta pelo kampaku, e passaram a hostilizar os japoneses católicos e os europeus. Na tentativa de contornar esse problema iniciado com o Édito de Hakata, o papado decidiu criar um bispado no Japão[15], visando que dessa forma isso o reaproximasse do país. O bispado foi criado em 19 de fevereiro de 1588 pelo papa Sisto V, no feudo de Funai, na província do Bungo (atualmente a cidade de Oita na província homônima).

Porém, a sede do bispado permaneceu inutilizada pelos anos seguintes, pois os bispos que foram nomeados para assumir o bispado japonês, ou morreram durante a longa viagem ou não ousaram adentrar o país, temendo retaliação pelo governo, e assim ficaram a “governar” a partir da Diocese de Macau, fundada em 1576Além desse problema que nenhum dos quatro bispos do Japão até então nomeados não chegaram a visitar o país de seu bispado, e em 1589, os franciscanos chegaram ao país, e por volta da mesma época chegaram também os dominicanos.

As duas ordens religiosas seguiram para o Japão sob a influência do governo ibérico, já que estes já vinham sendo responsáveis pela catequização nas Filipinas. Contudo, o padre jesuíta italiano Alessandro Valignano[16] (1539-1606), que nos legou importantes testemunhos sobre a situação do país nesse período, mencionou problemas de entendimento entre as três ordens religiosas, já que até então os jesuítas monopolizavam a pregação no país e agora teriam que dividir sua atuação com os franciscanos e os dominicanos, e isso não agradou a Companhia de Jesus.

Outro problema que Valignano apontou, foi o fato de que muitos dos franciscanos eram espanhóis e italianos, contudo embora falassem bem o português, eles falavam pouco o japonês, e isso foi um problema para a catequização, e motivos para queixas por parte da Companhia de Jesus, a qual reclamava que tais missionários não possuíam capacidade para evangelizar os japoneses já que nem ao menos conheciam a língua nativa. 

Em 1596 abordo do navio Santo Antônio, o bispo Pedro Martins finalmente chegou ao Japão, sendo o primeiro bispo a chegar ao país, como também de fato o primeiro bispo do bispado japonês a visitar o lugar, já que nenhum de seus antecessores havia feito isso. Uma das principais missões do bispo Pedro Martins era tentar pôr fim a perseguição dos japoneses cristianizados e dos missionários no país. Sendo assim, o bispo reuniu uma comitiva e foi ainda no mesmo ano, falar com o Taiko (“regente aposentado”) Toyotomi Hideyoshi.

O padre João Rodrigues[17] atuou como intérprete do bispo na reunião com o Taiko. Martins não apenas se apresentou como sendo bispo do Japão, mas como embaixador da Santa Igreja, do vice-rei da Índia e do próprio rei de Portugal e Espanha. Segundo o relato de João Rodrigues, Hideyoshi recebeu a comitiva do bispo com honra e gentileza, mas o mesmo não apresentou sinais que iria ceder a paz aos cristãos e aos demais estrangeiros que viviam no sul. Desanimado com a infrutífera visita, o bispo deixou Osaka e seguiu para Nagasaki passando o final do ano por lá, e em fevereiro do ano seguinte ocorreu a primeira grande tragédia para os cristãos no Japão.  

Nagasaki desde a década de 1570 se tornou uma cidade bastante ocupada por portugueses, fossem eles clérigos ou mercadores, tornando-se um dos principais portos envolvidos no comércio sino-português com Macau. Mas, no intuito de reconquistar as províncias do sul, nas quais viviam uma grande quantidade de católicos, Toyotomi ordenou que o governador de Nagasaki agilizasse a expulsão dos missionários, já que iria fazer dez anos que o Édito de Hakata havia determinado que os missionários não retornassem ao país e deixassem esse.

Vários anos se passariam sem grandes incidentes, algo que permitiu que os missionários mantivessem seus trabalhos nas províncias sulistas, contudo, no ano de 1596, ocorreu um incidente com um galeão espanhol chamado San Felipe. O navio que foi pego por uma tempestade teve que fazer uma parada de emergência em Urato. O navio iria seguir viagem para as Filipinas e de lá seguiria rumo para a Nova Espanha (atual México).

Na ocasião a embarcação foi abordada pelas autoridades. Durante o interrogatório informal, o capitão teria se vangloriado da extensão dos domínios do Império Espanhol, e em meio a sua conversa ele falou como era importante o papel dos missionários para se expandir os domínios da Igreja e da fé de Deus. Isso irritou as autoridades, então os seis franciscanos descalços que estavam abordo foram presos e a carga foi confiscada.

Em 5 de fevereiro de 1597 ou 4º ano da Era Bunroku na cidade de Nagasaki, 26 homens entre missionários e japoneses católicos (alguns da mesma família), trazidos de outras localidades, foram levados para Nagasaki, onde foram agredidos e depois conduzidos até uma colina próxima ao mar, nas cercanias do Hospital São Lázaro, fundado pelos jesuítas, próximo à estrada que levava para Miyako, onde normalmente criminosos eram executados. Foram crucificados e furados com lanças[18]. Tal incidente ficou conhecido como o Martírio dos 26 de Nagasaki[19]. Dos 26 mártires, seis eram franciscanos descalços (os mesmos que foram presos abordo do navio San Felipe), sendo quatro espanhóis, um mexicano e um indiano; três jesuítas japoneses e dezessete japoneses católicos, sendo que desses dezessete, três eram seminaristas que estavam para ingressar na Ordem Terceira de São Francisco. 

O Martírio dos 26 de Nagasaki. Em 1597, vinte e seis homens, entre clérigos e leigos, foram torturados e crucificados. 
O bispo Pedro Martins aterrorizado com tal sangrento ato, posteriormente escreveu um documento intitulado Instrumento autêntico da feliz e gloriosa morte de vinte e seis cristãos, que morreram crucificados por nossa santa fé em Nagasaki, a 5 de fevereiro de 1597, o enviando para os franciscanos nas Filipinas. O título do documento já conota que o bispo tentou amenizar o acontecimento, o enxergando como tido sido um “ato de fé” daqueles 26 mártires que “morreram defendendo o cristianismo”. O bispo nos relatou o seguinte:

“Colocaram as 26 cruzes no solo, e com cinco argolas de ferro, uma no pescoço, duas nos braços e duas nos pés, sujeitaram os corpos as cruzes. Logo levantaram as cruzes com os corpos. Todos os mártires davam sinais de alegria com cantos e animando-se. Foram profundamente feridos com as lanças dos ministros de justiça. Os cristãos que estavam próximos, choravam. A causa da morte estava escrita em língua japonesa: ‘porque estes homens não deixavam de pregar a Lei dos cristãos, que eu (Hideyoshi) proibi rigorosamente nos anos passados, mando que sejam crucificados em Nagasaki, deixando seus corpos na cruz. E eu proíbo de novo esta Lei baixo a mesma pena de morte’”. (LOPEZ-GAY, 1994, p. 93).

Após tal ato, Hideyoshi passou o restante do ano atento ao planejamento de sua segunda campanha a Coreia (a primeira foi enviada em 1552, resultando em êxito, contudo os chineses se uniram aos coreanos e derrotaram o exército de Hideyoshi). Determinado a reaver a Coreia e retomar a invasão ao Império Ming na China, Toyotomi dedicou-se a tais planos, mas durante uma reunião, ele passou mal e faleceu em 1598, aos 61 anos.

Pelo fato de seu único herdeiro, Toyotomi Hideyori (1593-1615) ser uma criança na época, um conselho regencial assumiu o controle, porém, os próprios membros do conselho acabaram se desentendo e entraram em conflito. Além dos conselheiros, outros dáimios também aproveitaram para formar alianças para disputar o título de xogum, e entre eles estava Tokugawa Ieyasu (1543-1616).

Os Tokugawa iniciam o período de expurgos:

De 1598 a 1600, guerras eclodiram pela disputa ao poder. Em 15 de setembro de 1600, Tokugawa Ieyasu venceu a Batalha de Sekigahara, dando início a sua ascensão ao poder. Ainda em 1600, em julho daquele ano, antes da vitória de Tokugawa, um navio holandês chamado Liefde aportou na província do Bungo, e seu capitão William Adams, viajou até Osaka para falar com o dáimio Tokugawa. Os holandeses estavam interessados em fundar um posto comercial da Companhia das Índias Orientais (Vereenigde Oost-Indische Compagnie) em Hirado, algo que repercutiu em êxito. Posteriormente os ingleses também conseguiram fundar um posto em Hirado. Porém, o estabelecimento dos holandeses e dos ingleses no país geraria conflitos de fator comercial e religioso com os portugueses e espanhóis.

Em 1603 ou 4º ano da Era Keisho, Ieyasu recebeu o título de xogum, pondo fim ao Período Azuchi-Momoyama (1573-1603), com a fundação do Tokugawa Bakufu ou Xogunato Tokugawa em Edo (atual Tóquio), designado Período Edo, que perduraria até o ano de 1867De 1598 até 1605 a perseguição aos cristãos se amenizou, embora as hostilidades se mantivessem em alguns cantos do país, mas sem grandes incidentes como visto em Nagasaki. Além disso, após assumir o poder, Tokugawa preferiu retomar a política da “boa vizinhança”, permitindo a reabertura de igrejas, paróquias, o retorno da realização de missas, além de permitir que comerciantes portugueses aportassem em outros locais antes proibidos.

O xogum Tokugawa Ieyasu a partir de 1606 retomou as hostilidades e perseguições aos cristãos. 
Em 1605, Ieyasu renunciou o cargo de xogum a favor de seu filho Tokugawa Hidetada (1579-1632), contudo assumiu o título de Ogosho (“xogum aposentado”). Na prática, ele era o governante oficial, tomando as principais decisões. Porém, no ano de 1606, o ogosho mudou drasticamente sua política externa em relação aos cristãos, dando início a uma política anticristã. Tokugawa começou a expedir ordens para proibir a construção de igrejas, paróquias e capelas; proibir que missionários adentrassem outras províncias, etc. Por outro lado, ele também procurou aumentar a fiscalização sobre os navios mercantis, criando o Shuin-sen (navios japoneses autorizados pelo xogunato a comercializar em outros países).

Tal condição foi uma forma de aumentar o controle sobre o comércio dos nanban, e ao mesmo tempo, influenciado pelos interesses dos holandeses em quererem se livrar da concorrência luso-espanhola, incentivaram no ogosho, o descrédito para os portugueses. Embora os holandeses fossem cristãos protestantes, eles alegavam que não tinham interesse missionário, mas apenas comercial. Tal condição assegurou proteção política aos holandeses por várias décadas. 

Ainda no ano de 1606, Tokugawa decretou oficialmente que os nobres japoneses estavam proibidos de se converter ao cristianismo. Procurando evidenciar a eficácia da sua medida, posteriormente ele afastou alguns nobres católicos de seus cargos e perseguiu outros, os enviando para o exílio, confiscando seus bens ou ordenando suas prisões. Em 1608 ocorreu o incidente da nau Madre de Deus onde a tripulação formada por japoneses e portugueses que havia viajado para Macau, acabaram se desentendo e geraram uma briga que vitimaram alguns tripulantes japoneses. Ao retornar a Nagasaki os marinheiros japoneses contaram sua versão do incidente, acusando os portugueses de traição e violência, mas o capitão André Pessoa contou sua versão que se contrapunha a dos marinheiros japoneses. Todavia, o fato chegou aos ouvidos do ogosho, e esse acreditou na versão japonesa. O capitão Pessoa temendo o confisco de sua carga e de seu navio, tentou fugir, mas foi descoberto, então ordenou que o navio fosse explodido. Tal incidente aumentou ainda mais a desconfiança dos japoneses com os portugueses.

O sexto bispo do Japão, Luís Cirqueira, em 1609, escreveu uma longa carta relatando ataques a japoneses católicos ocorridos desde 1603[20]. Não sabemos até onde vai à credibilidade do relato do bispo, mas ele nos informou que entre 8 e 9 de dezembro de 1603, três homens e três mulheres foram decapitados na província de Higo, por ordem do dáimio Kato Kiyomasa. Um dos homens era um menino chamado Luís e ele teria oito ou nove anos. Em 1605, outros dois japoneses foram mortos, ambos foram decapitados. Em 1608, outros seis foram executados na cidade de Yatshusiro, incluindo duas crianças.

Desde 1592, católicos japoneses já vinham deixando o país. O local de exílio eram as Filipinas, onde eles contavam com a proteção dos franciscanos. Cidades como Dilao, São Miguel e Pagranjan, foram algumas das cidades fundadas pelos exilados entre 1592 a 1622 nas Filipinas. Após os incidentes relatados pelo bispo, outros se sucederam, e em 1614, o ogosho Tokugawa publicou o Édito de Expulsão Cristã.

Seu édito declarava que o cristianismo se tornava proibido, obrigava que os missionários parassem com a pregação e deixassem o país; ordenava que as pessoas que haviam se convertido ao cristianismo, o renegassem e aderissem ao budismo. O édito também declarava que a fé cristã estava corrompendo os costumes japoneses, se tornando uma má influência, além disso, o documento alegava que os nanban planejavam um possível “golpe de Estado”. Se de 1606 a 1611 a situação embora instável, mas ainda assim foi rentável para as pregações, a partir de 1614, os expurgos se intensificariam.

No 18º ano da Era Keisho ou ano de 1614, pelo menos 90 missionários abandonaram o país, além de outros 146 cristãos japoneses foram expulsos. Entretanto, em tais números não constam os que fugiram clandestinamente, principalmente para as Filipinas e alguns para Macau. Tokugawa Ieyasu faleceu em 1616, mas os expurgos se mantiveram no governo de seu filho Hidata, incluindo proibições não apenas de caráter religioso, mas também comercial, pois ainda em 1616, Ieyasu proibiu que navios europeus aportassem em Nagasaki e Hirado.

Assim como seu pai, Hidata manteve-se enérgico ao se perseguir os missionários, embora ainda mantivesse tolerância com os holandeses por motivos comerciais. Os expurgos, as perseguições e assassinatos se mantiveram nos anos seguintes, mesmo assim, alguns missionários dedicados à sua missão se mantiveram escondidos no país e outros adentravam de forma clandestina. No caso dos comerciantes, alguns capitães temendo retaliações pelas autoridades passaram a evitar ir para os portos japoneses.

Após 1614 aumentou o número de ataques às igrejas, capelas, paróquias, hospitais, escolas e residências dos missionários. Os lugares eram saqueados e alguns eram incendiados. Sabe-se que imagens de Cristo na cruz, Nossa Senhora, crucifixos, quadros e outros relicários, ou eram queimados ou eram jogados no meio da rua e quebrados a pisadas ou pauladas. Além da destruição material, as famílias católicas também passaram a ser perseguidas e vítimas de atrocidades, algumas já comentadas aqui. Se Toyotomi não procurou impor propriamente seu édito, os Tokugawa o fizeram com punhos de ferro.

As famílias que não conseguiam ou não queriam abandonar o país, tinham que mentir para as autoridades e a vizinhança, alegando não serem cristãos. Alguns dos missionários ou dos próprios padres japoneses que procuraram manter o sacerdócio passaram a agir na clandestinidade, realizando as missas em algumas casas de católicos devotos, ou até mesmo em cavernas e nas florestas. A pena de morte se tornou legalizada para os missionários e os padres.

Visando melhor controlar os cristãos que ainda restavam no país e concentrar a chegada de mercadores europeus, especialmente os portugueses, o xogum Hidata ordenou que Nagasaki se tornasse um “campo de concentração” para os cristãos. Em 1617, três missionários: um jesuíta, um franciscano e um dominicano, foram mortos. A cidade de Omura passou a abrigar uma “prisão de cristãos”. As celas ficavam no subterrâneo e os prisioneiros viviam em condições subumanas. Alguns morreram devido aos maus tratos ou vítimas de torturas. Alguns dos cativos passaram anos presos no local.

Em 1622, seis missionários foram levados para lá, sendo três franciscanos, um dominicano e dois jesuítas chamados Carlos Spinola e Ambrósio Fernandez. Em agosto daquele ano, 52 presos de Omura foram levados para Nagasaki e reunidos com mais 30 cativos na cidade, e todos foram sentenciados a decapitação. Em 10 de setembro, mais 22 prisioneiros foram torturados, feridos e executados em Nagasaki, sendo uns queimados vivos e outros decapitados. Os padres Spinola e Fernandez morreram na ocasião.

“Pelo restante do mês de setembro até o começo de outubro, mais de trinta pessoas foram executadas, o que incluiu crianças, pois os filhos dos prisioneiros não foram poupados. Tal incidente ficou conhecido como o ‘Grande Martírio’, onde mais de cem pessoas foram executadas em menos de 60 dias”. (BERNARD, 1920, p. 71).

O Monte Unzen na província de Arima, conhecido por suas fontes termais, foi apelidado pelos cristãos como “Monte Infernal”, pois alguns cristãos eram ali levados e “cozinhados vivos” nas águas sulfurosas. Não temos relatos exatos de quantos ali padeceram de terrível fim. Todavia, não foi apenas gente das camadas populares a serem perseguidos, presos e executados, os nobres cristãos não foram poupados. Houve casos de dáimios e samurais, onde eles e seus familiares foram executados e seus bens confiscados pelo Estado.

Em 20 de julho de 1626 ocorreu o “Martírio de Fogo”. O então governador do Japão, Francisco Pacheco[21], acompanhado dos padres João Baptista Zola e Baltasar de Torres, mais quatro jesuítas japoneses, um jesuíta coreano e nove japoneses católicos, totalizando quinze pessoas, todos em junho daquele ano, foram queimados vivos em fogueiras. Em 1630, em Amakusa, trinta crianças católicas foram colocadas em poços, deixadas sem comida e água, expostas o dia todo ao sol. Todos morreram.

Pintura representando o martírio do missionário Francisco Pacheco, queimado vivo no Japão, em 1626. 
Com a morte de Tokugawa Hidetada, seu filho Tokugawa Iemtsu (1604-1651) continuou com a política anticristã, mas também deu início a política de fechamento do país. Em seu governo, o império nipônico se isolaria para os europeus e outras nações asiáticas (os chineses e holandeses ainda continuariam a visitar a nação, mas com menor regularidade). Sob seu governo as perseguições e assassinatos se mantiveram, e em 1637-1638 ocorreu o último grande ato envolvendo cristãos japoneses no Período Nanban, a chamada Revolta de Shimabara. (CADDILL, 1856, p. 125).

No 14º ano da Era Kwan-ei eclodiu na península de Shimabara, feudo de Hiruzen, na ilha de Kyushu, uma rebelião formada em grande maioria por camponeses católicos, os quais foram liderados por Amakusa Shiro (1621?-1638), um jovem camponês carismático que tomou para si as dores de seus compatriotas, conseguindo reunir um exército de cerca de 20 mil homens. Grande parte dos camponeses da região era cristã, logo, com a política anticristã dos Tokugawa, eles sofreram com as perseguições, esse foi um dos fatores para sua revolta, mas somando-se a essa causa religiosa, havia o fator político, pois os dáimios de Shimabara e Amakusa (ilha vizinha), aumentaram a cobrança de impostos, além de haver queixa por parte da população rural acerca dos seus governantes.

O xogum reuniu um exército de mais de cem mil guerreiros e ordenou o massacre dos rebeldes. Até mesmo os holandeses foram obrigados a enviar navios para bombardear o reduto dos insurretos. Embora estando e maior número, a batalha não foi fácil, os rebeldes conseguiram resistir por cinco meses de cerco. Mas, no fim, o exército do xogum triunfou e executou além dos rebeldes, seus familiares e outros católicos que não aderiram à causa. Estima-se que cerca de 37 mil foram mortos na retaliação. Amakusa Shiro foi decapitado, sendo sua cabeça exibida em Nagasaki. O xogum Iemitsu cogitou que a revolta teria sido incentivada pelos nanban, e isso o levou a tomar medidas mais drásticas nos anos seguintes.

Em 1639, o xogum expediu o Édito de Isolamento[22], decretando que nem missionários e nem comerciantes portugueses, espanhóis e ingleses deveriam retornar ao país. Apenas os chineses e holandeses ainda seriam tolerados. A medida não foi efetivada logo para os comerciantes, contudo, os portugueses, espanhóis e ingleses ficaram retidos apenas a aportarem em Nagasaki, se algum navio aportasse em outro porto, seria confiscada sua carga e sua tripulação seria deportada.

Tentando recuperar o bom entendimento com o xogum, o governo de Macau enviou uma embaixada de 74 membros, liderados por quatro embaixadores, contudo, o xogum ordenou a execução destes, e apenas 13 retornaram para Macau, levando a mensagem de nunca mais voltarem. Como parte da política de isolamento, os estrangeiros começaram a serem todos enviados e condicionados em Nagasaki, além disso, sabe-se que os mestiços, sendo estes filhos de japoneses com portugueses, espanhóis e ingleses foram obrigados a deixar o país, pois o governo visava extirpar a influência estrangeira na nação.

Outra medida tomada foi o efumi, uma prática na qual os japoneses eram obrigados a pisotear imagens cristãs ou a quebra-las, como forma de averiguar se ele seria ou não um cristão. Além disso, foram oferecidas recompensas por informações que denunciassem a localização de padres, missionários, de famílias cristãs ou locais onde missas eram celebradas. O governo também voltou a cobrar que as pessoas declarassem publicamente e oficialmente que eram budistas ou xintoístas.

Placa com a imagem de Cristo crucificado, usada no e-fumi. Para os japoneses cristãos, pisar e cuspir nessas imagens era encarado como uma ofensa a Deus, então, eles se negavam a fazer isso, o que acabavam os delatando como cristãos. 
Considerações finais:

Em 1641, o escritório comercial da Companhia das Índias Orientais que ficava em Hirado, foi transferido para o distrito de Deshima, em Nagasaki, e os mesmos também foram proibidos de aportar em outros portos do arquipélago e até mesmo de deixarem a cidade sem autorização. Cada vez mais a política de isolamento ia fechando as portas da nação. Os missionários que tentavam entrar ilegalmente no país, se fossem descobertos eram executados. Os cristãos japoneses que ainda mantiveram sua convicção pela fé, entraram definitivamente na clandestinidade.

Posteriormente foi criado o termo kakure kirishitan (“cristãos escondidos”) para se referir aos católicos japoneses que mantiveram sua religião após o final do Período Nanban. Os japoneses foram proibidos de deixar seu país, e apenas os chineses e holandeses podiam entrar na nação, mas estando limitados pelos anos seguintes a Nagasaki. Para não perder contato total com o exterior, o governo incentivou o Rangaku (estudos holandeses), no intuito de incentivar seus estudiosos a aprender a falar e ler holandês.

No que tange no quadro dos missionários, com a suspensão definitiva do bispado japonês, e a proibição de navios ibéricos em seguirem para o país, gradativamente os missionários deixaram de se arriscar a entrar clandestinamente, e o cristianismo no Japão ficou sob a incumbência dos padres japoneses, os quais tiveram que se valer de suas aulas e da lembrança para continuar a exercer o sacerdócio, já que a Bíblia só foi traduzida integralmente para o japonês apenas no século XIX.

Os missionários dispunham de manuais de evangelização e de alguns capítulos traduzidos, sendo que muito desse material se perdeu ou foi destruído nas perseguições. Isso gerou o problema que a população que não possuía muitos clérigos (alguns fiéis passaram a se apresentar como “sacerdotes cristãos”, embora não possuíssem a formação do sacerdócio), começou a adotar sincretismos religiosos para dar continuidade à liturgia católica, mas também para ocultar suas práticas do governo.

De certa forma isso não foi uma novidade, já que desde a época de São Francisco Xavier os missionários vinham adotando sincretismos para facilitar à absorção dos japoneses a doutrina católica. Fosse à adoção de termos budistas, ou até mesmo em aspectos ritualísticos vistos em ritos xintoístas como danças, uso de incenso, uso de quimonos, e outros apetrechos nas celebrações litúrgicas (JANEIRA, 1998, p. 143-154). O oposto também ocorreu, onde aspectos culturais portugueses influenciaram a arte, arquitetura, vestuário e alguns costumes japoneses, algo que foi chamado de Nanbanbijutsu (lit. “estilo nanban”).  

Mas, com a ausência dos missionários para guiar de forma correta o ensino e a pregação, isso levou ao surgimento de uma doutrina católica miscigenada, formada por sincretismos entre o catolicismo, o zen budismo, o xintoísmo e até mesmo por aspectos culturais, filosóficos e morais do confucionismo e da própria cultura japonesa.

“A política anti-cristã dos Tokugawa perdurou durante todo o seu longo governo do Japão e ainda nos primórdios da era de Meiji (1867-1912). Durante algumas décadas, os cristãos resistiram de modo organizado mesmo no centro do país, pois entre 1664 e 1667 foram descobertos e aprisionados mais de 2.000 na região de Mino e de Owari. No entanto, o Cristianismo nunca foi erradicado do país do Sol Nascente. Em regiões periféricas como as ilhas de Gotô e de Amakusa, ou nas partes mais remotas do feudo de Ômura, nomeadamente em Urakami e na sua costa marítima, os cristãos ocultos mantiveram viva a sua Fé. Isolados e desapoiados, milhares de cristãos resistiram a todas as tentativas do bakufu para fazer desaparecê-los”. (COSTA, 1998, p. 737).

Referências Bibliográficas: 

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[1] GALVÃO, Antonio. Tratado dos Descobrimentos Antigos, e Modernos, p. 94-95. O autor aponta a data de 1542 para a chegada dos portugueses em Tanegashima.
[2] Cf. SÁ, Michele Eduarda Brasil de. Primeiras relações comerciais entre Portugal e Japão (1543-1639): convergência de interesses, choque de culturas. 
[3] São Francisco Xavier foi amigo de Santo Inácio de Loyola (1491-1556), tendo o conhecido no seminário em Paris. Ele foi cofundador da Companhia de Jesus (1534). Era descrito como um homem simpático, inteligente e dedicado ao trabalho. Essa sua dedicação e vocação lhe rendera o epíteto de “O Apóstolo do Oriente”
[4] Cf. D’ASSUMPÇÃO, T. Lino de (coord.) História geral dos jesuítas: desde sua fundação até os nossos dias. 
[5] Cf. LEÃO, Jorge Henrique Cardoso. Jesuítas e Daimyôs: Evangelização e poder político no Japão do século XVI. 
[6] CARTAS que os padres e irmãos da Companhia de Iesus escreuerão dos Reynos de Iapão & China aos da mesma Companhia da India, & Europa, desdo anno de 1549 atè o de 1580. Ver as cartas de Francisco Xavier de 1549 a 1552.
[7] BORGES, José Luiz. Buda. São Paulo, Difel, 1977. p. 95.
[8] PIRES, Benjamin Videira. Baltasar Gago, SJ e a terminologia cristã do Japão. p. 83.  
[9] Em 1550, Francisco Xavier viajou para a capital na tentativa de falar com o imperador, mas o xogum Ashikaga Yoshiteru lhe negou autorização. Anos depois na década de 1560, Luís Fróis tivera acesso a Corte, tendo convertido alguns membros da família do xogum e da nobreza. O próprio Nobunaga assegurava o xogum Ashikaga em seu cargo, aguardando a hora certa de tomar o poder.
[10] Cf. FRÓIS, Luís. CARTA DO PADRE LVIS FROES DA COMPANHIA DE IESVS, Em a qual relação das grandes guerras, alterações e mudanças que ouue nos Reynos do Iapão, e da cruel perseguição que o Rey vniuersal aleuantou contra os padres da Companhia, e contra a Christandade. 
[11] BOXER, C. R. O Império marítimo português, p. 30.
[12] Em 1580 com a morte do rei português D. Henrique I, o trono português ficou vago pelo fato do rei ter sido cardeal e não deixado filhos. Logo, alguns pretendentes ao trono apareceram e um deles foi o rei de Espanha, Filipe II o qual saiu vitorioso nessa disputa, se tornando rei Filipe I de Portugal, passando a governar os dois reinos e suas colônias, dando início ao período da União Ibérica (1580-1640). 
[13] Oda Nobutada (1557-1582) era o filho mais velho de Nobunaga, mas ele também acabou sendo encurralado por Akechi, e preferiu cometer o seppuku. Todavia, Nobunaga teve 19 filhos, sendo 12 homens e 7 mulheres, mas embora possuindo ainda 11 filhos varões, Toyotomi se apresentou como tutor de um dos filhos de Nobutada, de forma a se tornar mais próximo da família Oda, alegando passar o poder para o menino na fase adulta. Além disso, ele contou com o apoio de outros daimiôs e da Corte, e se firmou como herdeiro oficial do legado político e bélico de Oda Nobunaga.
[14] YAMASHIRO, José. Japão: passado e presente. p. 104.
[15] Foi em 1566 que o papa Pio V através da bula Ex litteris, nomeou o padre Belchior Carneiro (1516-1583), como bispo de Niceia (cidade turca) e pároco auxiliar do Patriarca de Etiópia. Belchior posteriormente foi nomeado bispo da China e o primeiro bispo do Japão. No entanto, o bispo Belchior Carneiro não chegou a visitar o Japão, porém conseguira chegar a Macau, e lá residiu até o final da vida.
[16] Cf. RADULET, Carmen M. O "Cerimonial" do Pe. Alessandro Valignano: encontro de culturas e missionação no Japão
[17] João Rodrigues (1558/60-1634) que passou quase toda a vida no Japão, chegando ao país por volta dos vinte anos, se tornando um notório intérprete e tradutor, recebendo o título de Tçuzu (intérprete). Ele utilizou seu domínio da língua japonesa para escrever três livros importantes: Vocabvlario da Lingoa de Iapam (1603), que se tornou o primeiro dicionário de português-japonês; escreveu a gramática Arte da Lingoa de Iapam (1604) superando em muito o trabalho inicial de Baltasar Gago publicado em 1559. Por fim ele publicou História da Igreja no Japão.
[18] SANTA MARIA, Juan de. Relacion del martírio qve seys padres descalços franciscos, y três hermanos de la Compañia de Iesu, y dicisiete iapones crhistianos padicieron em Iapon
[19] Os seis franciscanos descalços eram: Francisco Blanco, Francisco de San Miguel, Filipe de Jesus (mexicano), Gonçalo Garcia (indiano), Martín de la Ascención e Pedro Baptista. Os três jesuítas eram: Diogo Kisai, João de Goto (19 anos) e Paulo Miki. Os demais eram: Antônio Dainan, Cosme Takeya, Francisco de Nagasaki, Francisco, Gabriel (19 anos), João Quizuya, Joaquim Sakakibara, Leão Karasumaru, Luís Ibaraki (12 anos), Matias de Miyako, Miguel Kosaki, Paulo Ibaraki, Paulo Suzuki, Pedro Sukeyiro, Tomás Danqui, Tomás Kosaki (15 anos) e Ventura.
[20] Cf. CIRQUEIRA, Luís. Relação da morte que seis jappões padeçerão em Jappão pola fee de christo.
[21] O cargo de bispo foi suspenso, e passou-se a designar governadores laicos para a Província do Japão.
[22] O escritor japonês Tadao Shizuki no começo do século XIX criou o termo Sakoku (“País acorrentado”) para se referir ao estado do país após a medida tomada pelo xogum Tokugawa.

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