Leopold von Ranke nasceu em 21 de dezembro de 1795 e veio a falecer em 23 de maio de 1886, na Alemanha (na realidade fora em um Estado pertencente a antiga Prússia). Ranke se notabilizou por suas iniciativas e propostas metodológicas, as quais reformularam e deram um novo caráter ao estudo historiográfico. Em outras palavras, muitos creditam a Ranke, o caráter de a História ser vista como uma ciência em si. Por isso de ele ser chamado também de o "Pai da História Científica". O que vou relatar a seguir, será mas sobre a sua vida acadêmica, e sobre os seus projetos e contribuições para o estudo historiográfico, não ficando retido a questões sobre detalhes de sua vida pessoal. De fato, Ranke não fora o primeiro a tratar do caráter cientifico da História. Anos antes, o filósofo italiano, Giambattista Vico (1688-1744), em sua obra Ciência Nova (Scienza Nuova), propôs que tanto a História como outras disciplinas fossem levadas a serem compreendidas mediante a especificações de cunho cientifico; vale ressaltar que nessa época a concepção de "Ciência" que temos hoje, ainda estava se desenvolvendo; a Europa se encontrava na Revolução Cientifica da Era Moderna. Mesmo assim, foi só com os esforços de Ranke, que muitos começaram a enxergar com mais clareza este ideal de cientificidade na história (mesmo que haja aqueles que discordem de tal ideia).
Leopold Von Ranke, ingressou na Universidade de Leipzig, onde estudou as Artes Clássicas: História, Teologia Luterana, e teve contato com a Filologia. Tais aspectos contribuíram para sua formação como historiador. Formação esta a qual mostrou que ele nunca concordara plenamente com a forma de como se estava se fazendo a história em sua época. Tal relutância seria uma marca em seu caráter e uma condição de ter rivais no ofício de História. Até a época de Ranke, a história era vista como relatos em crônicas, voltados a falar sobre grandes batalhas ou sobre os soberanos, em alguns aspectos chegavam até mesmo serem romanceadas.
Sua primeira e grande obra foi, História dos povos latinos e germânicos entre 1494 à 1514, lançada em 1824. Neste trabalho, ele realizou tudo aquilo que ele considerava que estava faltando nos outros historiadores de sua época. Ao invés de ficar empilhando um monte de fatos, e simplesmente os jogá-los naquelas páginas, Ranke fez todo um trabalho de análise, interpretação, conferência e por fim conclusão. De certo modo, ele ao escrever sua obra, recorreu a várias fontes primárias, das quais algumas eram deixadas de lado pelos historiadores. De certa forma, o caráter filológico em se tentar compreender a linguagem de um texto, levou ainda mais a ele ser mais rígido e criterioso em suas pesquisas.
Ranke se tornou um dos principais expoentes da teoria de pensamento chamada Historicismo (Historismus em alemão). De certa forma o historicismo como aponta Tosh [2011] possuía ligação com o movimento artístico do Romantismo, pois ambos exibiam uma espécie de forte nostalgia acerca do passado, e a ideia do historicismo era "escrever a História como ela realmente aconteceu", algo que hoje é visivelmente impossível de se fazer, por uma gama de obstáculos que impedem a pesquisa histórica e a própria perda de documentação ocorrida ao longo do tempo.
"O que era novo sobre a abordagem historicista era sua generalização de que a atmosfera e a mentalidade das eras passadas tinham que ser também reconstruídas, pois só assim o registro formal dos eventos teria qualquer significado". (TOSH, 2011, p. 22).
Um dos problemas que o historicismo apresentou fora seu forte conservadorismo em se tratar da história política nacional, algo que inibiu o desenvolvimento da historiografia pelo restante do século, pois mesmo a história cultural, a história social e econômica que já existiam no século XIX, não tinham muito espaço no meio acadêmico, fortemente historicista, e posteriormente metodista e positivista, metodologias que possuíam em comum essa tentativa de se "resgatar o passado" ou se "refazer o passado".
"Foi ele quem criou para os estudos históricos o sistema dos seminários, que aos poucos iriam proliferar em outros países Ao mesmo tempo desenvolveu recursos de pesquisa e crítica das fontes, adaptando para isso, à História, processos já em uso, antes dele, entre filólogos e exegetas da Bíblia. (HOLANDA, 1979, p. 16).
Na sua concepção, História e Filosofia deveriam ser vistas separadas, e não como algo só. Outras de suas críticas diz a respeito ao estudo da atribuição de juízos de valores aos historiadores, da relutante comparação do historiador a um juiz, um "juiz da História". Tais condições levaram que alguns historiadores como Droysen, Carr, Braudel, ficassem a margem da critica negativa do trabalho de Ranke, por outro lado, historiadores como Dilthey e Bloch, o apoiam em seus métodos.
Hoje em dia Ranke não é tão estudado como fora no passado, porém nos cursos de História ele não é esquecido por causa de seu legado metodológico, o qual embora não seja o mesmo de hoje em dia, fora um dos pontapés para que a história fosse vista com maior credibilidade como Ciência Humana.
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Posteriormente ele seria chamado para se tornar historiador da Casa de Brandemburgo no ano de 1841. Porém, mesmo recebendo este honorífico cargo, relatos da época dizem que ele se mostrou contrário as expectativas do que muitos esperavam. Era comum os historiadores e os cronistas de Corte, bajularem seus governantes, só que Ranke não fazia isso, ele não gostava de ficar bajulando os seus patrões. Tal posição ganharia a fama de em se dizer que ele era um homem imparcial. Mas tal imparcialidade detestada por outros, era explicada pelo próprio Ranke:
"A história recebeu a tarefa de julgar o passado; de instruir o presente para o benefício das eras futuras. O presente estudo não aspira tão grandiosas funções. Seu único objetivo é meramente mostrar como as coisas realmente aconteceram (wie es eigentlich gewesen)". (TOSH, 2011, p. 21).
"O que era novo sobre a abordagem historicista era sua generalização de que a atmosfera e a mentalidade das eras passadas tinham que ser também reconstruídas, pois só assim o registro formal dos eventos teria qualquer significado". (TOSH, 2011, p. 22).
Um dos problemas que o historicismo apresentou fora seu forte conservadorismo em se tratar da história política nacional, algo que inibiu o desenvolvimento da historiografia pelo restante do século, pois mesmo a história cultural, a história social e econômica que já existiam no século XIX, não tinham muito espaço no meio acadêmico, fortemente historicista, e posteriormente metodista e positivista, metodologias que possuíam em comum essa tentativa de se "resgatar o passado" ou se "refazer o passado".
Mas se por um lado o historicismo sofreu dura críticas no começo do século XX, especialmente pelos franceses e ingleses, não significa que Ranke não tivera em o que contribuir. Ranke chegou a escrever mais de 60 livros, embora muitos não são tão conhecidos e alguns até raros de se encontrar hoje, mas como Holanda [1979], sua principal contribuição não se encontra na forma de se entender a História e pensar sobre ela, mas sim na metodologia de como se estudá-la.
Como já fora posto acima, a resposta das contribuições de Ranke por Sérgio Buarque, ver-se que fora ele, o responsável por engajar este sentimento e critério de uma metodologia cientifica no estudo histórico. No entanto mesmo este tendo realizado um bom trabalho nesta área, ele ainda era criticado por ser imparcial, e até mesmo por não aceitar os estudos da Filosofia da História, algo muito feito por Hegel.
Hoje em dia Ranke não é tão estudado como fora no passado, porém nos cursos de História ele não é esquecido por causa de seu legado metodológico, o qual embora não seja o mesmo de hoje em dia, fora um dos pontapés para que a história fosse vista com maior credibilidade como Ciência Humana.
Referências Bibliográficas:
HOLANDA, Sérgio Buarque de (Organizador), Leopold Von Ranke: história. S. Paulo, Ática, 1979.
TOSH, John. A busca da história: Objetivos, métodos e as tendências no estudo da história moderna. 5a ed, Petrópolis, Editora Vozes, 2011. (Capítulo 1).
WHITE, Hayden. Metahistória: A imaginação Histórica do Século XIX (tradução de José Laurênio de Melo), São Paulo: EDUSP, 1995.
WHITE, Hayden. Metahistória: A imaginação Histórica do Século XIX (tradução de José Laurênio de Melo), São Paulo: EDUSP, 1995.
LINKS:
Leopold von Ranke, no site da Universidade Humboldt de Berlim.
Leopold von Ranke , na "Age of the Sage".
5 comentários:
Muito boa a síntese. Me ajudou a entender, obrigado.
Muito bom
Excelente síntese, muito obrigado.
Muito bom.
Me ajudou muito a entender sobre Ranke, grata pelo texto!
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