Aníbal Barca (247-183 a.C), foi considerado um dos maiores generais da História de Cartago e do mundo. Aníbal ficaria lembrado na História por ter sido o principal general a comandar as guerras entre Cartago e Roma, durante o século III a.C. Sendo assim, irei relatar um pouco deste período de guerras, no qual Aníbal ameaçou a hegemonia romana sobre a Península Itálica, e o próprio governo desta pelo Mediterrâneo.
Antes de começar a contar um pouco da vida militar de Aníbal, irei fazer uma rápida retrospectiva sobre alguns fatos que levaram a guerra contra Roma.
Primeiramente irei falar um pouco sobre Cartago. Cartago foi uma colônia fundada na costa da África (ver mapa), pelos fenícios, por volta do século IX a.C. No entanto somente séculos depois é que esta viria a se tornar uma potência marítima e militar no Mediterrâneo. Por volta do século III a.C, Roma se expandia pela Itália, a tendo praticamente sobre seu domínio. Nessa época, na ilha da Sicília, as colônias da Magna Grécia, lutavam pelo controle da Sicília, uma das principais regiões produtoras de grãos da região. Sendo assim, os cartagineses também possuíam o mesmo interesse. Porém a guerra só tomaria proporções mais drásticas, quando os romanos decidem também lutar pelo domino da região. Como estes já possuíam amizade com os gregos, com isso eles se uniram a estes para combater os cartagineses. Nesse ponto se iniciaria as chamadas Guerras Púnicas.
As Guerras Púnicas foram uma série de batalhas divididas em três etapas, (o nome púnico se deve ao fato de os romanos chamarem os cartagineses de púnicos), as quais se sucederam ao longo dos séculos III a.C e II a.C. Com isso, a Primeira Guerra Púnica se iniciou em 264-241 a.C, e terminou com a vitória romana. Porém ao longo destes mais de vinte anos de guerras, ambas as nações saíram com grandes perdas, sendo Cartago a que sofrera mais com a derrota, pelo fato de perder alguns territórios e ter que pagar uma taxa de indenização a Roma. No entanto não estou aqui para relatar como esta guerra transcorreu, irei me abster mais a relatar as causas da Segunda Guerra Púnica, na qual a figura de Aníbal fora essencial para a deflagração destes conflitos e para o termino destes.
Antes de começar de fato a falar sobre a investida de Aníbal sobre os romanos, irei citar alguns antecedentes que levaram a ocorrência deste segundo confronto.
Com o fim da Primeira Guerra em 241 a.C, Cartago ficou arrasada e presa a uma divida com os romanos. Uma das soluções encontrada por esta fora explorar a região da Hispânia, rica em minas de prata. Sendo assim, expedições foram enviadas para conquistar a região e obviamente as suas minas. Dentre um dos principais responsáveis por estas conquistas cartaginesas na Hispânia, estava Amílcar Barca (270-228 a.C), pai de Aníbal. Amílcar teve uma importante participação nos últimos anos da Primeira Guerra Púnica, como o fato de ter participado não só das batalhas, mas na negociação de um acordo de paz com Roma. Na Hispânia, seria o responsável pela conquista da maior parte desta. Já que seus filhos dariam continuidade a esta. Com a sua morte no campo de batalha, ele havia deixado um exército forte, e uma região moldada com sua exímia diplomacia. Mesmo assim os hispânicos ainda se relutaram a aceitarem a submissão a Cartago. Asdrúbal Barca, seu genro, assume a chefia da Hispânia.
Asdrúbal, seria lembrado por ter sido o fundador da Nova Cartago (atual Cartagena na província de Múcia, Espanha). E por ter em 226 a.C assinado um acordo com os romanos, no qual se dividiria as terras da Hispânia em duas partes, sendo a delimitação dessa divisão o rio Ebro. De fato tal fronteira seria a causa da segunda guerra, para alguns historiadores. Em 221 a.C, Asdrúbal é assassinado. Alguns dizem que fora por vingança de algum dos seus servos, ou pelo inimigo. Com a sua morte, o governo de Cartago escolhe o jovem Aníbal Barca para sucedê-lo.
Sendo assim, aqui começa a história de Aníbal. Quando jovem recebera uma educação greco-romana (mesmo que este odiasse os romanos). Fora instruído por um mentor espartano, sobre a arte da guerra. Diz que este ouvira as histórias de Alexandre, o Grande e os seus feitos. Aos vinte seis anos, ele assume o governo, após a morte de Asdrúbal. Em seu governo ele continuou a expansão cartaginesa pela península, além de enriquecer Cartago com prata, e fortalecer o seu exército. Tais fatos, levaram os romanos a redobrarem a atenção com este. Em 218 a.C, o exército de Aníbal transpõe a fronteira do Ebro, os romanos consideram isso uma traição, e enviam uma mensagem para o Conselho dos Cem (órgão superior de Cartago), para que enviassem Aníbal para Roma para ser julgado. Devido a forte influência de seu nome no Conselho, este se negara a enviá-lo. Na verdade não se tem certeza por que o conselho se negara a tal pedido. Não se sabe se foi por medo a Aníbal, ou porque realmente Cartago queria a guerra, queria vingança. De qualquer forma tal fato levou os romanos a novamente declararem guerra as cartagineses, e assim se iniciava a Segunda Guerra Púnica.
Nesse ano Roma nomeara novos cônsules, e o Senado escolhera o cônsul Públio Cornélio Cipião (236-183 a.C) o responsável pela província de Hispânia, para combater Aníbal. Porém este não iria aguardar que os romanos tomassem a frente da luta, ele decidira agir imediatamente. Enquanto Cipião reunia as legiões romanas e partia para a Hispânia, Aníbal marchava com seu exército em direção a Gália (França). Nessa época os romanos já tentavam conquistar a região, porém muitas tribos ainda eram hostis a estes, então Aníbal viu nessa condição uma possibilidade de aliança com estes "barbáros". Inicialmente isso não ocorreu, porém não tardou muito que os gauleses se unissem ao exército cartaginês.
"Dessa maneira o general Cipião recebeu, em 218 a.C, cerca de 14 mil soldados e 1.600 cavaleiros para dirigir-se a Hispânia e Tibério Sempronio Longo, cerca de 16 mil e 1.800 respectivamente, para cumprir a tarefa de invadir a África". (MAGNOLI, 2009, p-64).
Roma descobriu os planos dos cartagineses, então decidiu aguardá-los em casa, na Itália. Decidiram esperar o exército inimigo na entrada da Planície do Pó, a principal via de acesso pelo norte da Itália, para quem quisesse vir com um grande exército. Porém a história fora outra, o inusitado acontecera. Ao invés de seguir pelas margens do rio Rodáno até a planície, ele decidiu pegar um caminho mais difícil e ousado. Decidiu contornar os Alpes, e atacar os romanos de surpresa. Aníbal marchou com o seu exército de cerca de 50 mil homens através dos Alpes, os contornado e chegando a Planície do Pó. Durante os cinco meses de viagem empreendida, ele perdera parte das tropas, mas conseguiu repor-la quando os gauleses se aliaram a ele. (clique no mapa para ver a rota de invasão de Aníbal).
Chegando a Itália com cerca de quase trinta mil homens (soma-se a infantaria com a cavalaria), e com pelo menos 20 elefantes de guerra, este iniciaria seus ataques as terras romanas. De fato relatos dessas guerras é muito vasto, afinal foram mais de dez anos de conflitos. Então pelo fato de ser muita história para contar e poucas linhas para escrever, irei resumir os acontecimentos. No entanto aconselho para quem tiver maior curiosidade a respeito do assunto, consultar outras fontes confiáveis que tenham uma maior abrangência a respeito do assunto.
Voltando a história de Aníbal. Este passaria dez anos na Itália confrontando Roma e suas colônias. Nas diversas batalhas travadas em terra e mar. Mas dentre estes vários conflitos, a Batalha de Canas, travada em 2 de Agosto de 216 a.C, representou a maior vitória cartaginesa, e a maior derrota romana já sofrida até então. (clicando no mapa poderás ver marcado neste, as principais batalhas travadas durante a Segunda Guerra Púnica). Na Batalha de Canas a qual aconteceu ao sul da Península. Os romanos estavam crentes de sua vitória. Contavam com um enorme exército de cerca de 8 legiões e alguns aliados (fontes estipulam pelo menos cem mil homens no campo de batalha). Quanto a Aníbal seu exército que já não era muito grande, constava de pelo menos a metade do contingente romano. Contudo, por mais que os números fossem desfavoráveis aos cartagineses, a estratégia empregada pelo seu general poria Aníbal na História como um dos grandes estrategistas militares.
Ele soube se valer da vantagem de seu número menor a fim de se conseguir mobilidade e velocidade. Pelo fato de terem lutado pr[oximo as margens de um rio, o campo de mobilidade ficara reduzido. E o exército romano por ser muito grande perderia muito tempo para se posicionar e se reagrupar, depois de movido. Aníbal enviou sua cavalaria e sua infantaria rápida a fim de quebrar a formação romana, conseguido tal feito este começou a atacar os romanos pelos flancos, os forçando a se reagruparem no centro. Não tardou que o restante da cavalaria e da infantaria pesada cerca-se o exército inimigo e o massacra-se. Tal derrota abalou fortemente a convicção da superioridade romana. No entanto mesmo com esta grande perda. Roma ainda não se daria por vencida.
"Mesmo diante de tamanha derrota os romanos não cederam. Reestruturaram suas estratégias e dividiram sua armada em grupos menores, para conter as investidas de Aníbal". (MAGNOLI, 2009, p-69).
Nos anos seguintes, Aníbal montaria uma base na Itália e passaria a atacar os domínios romanos, a fim de enfraquecer o inimigo, e se conseguir o apoio de povos subordinados ao julgo romano, mas que os odiavam, para se tornarem seus aliados. Curiosamente, nesse anos que ele passou na Itália, ele nunca chegou a ameaçar Roma, de forma que leva-se a esta o seu fim. De fato os romanos conseguiram resistir bravamente ao ataque cartaginês. E enquanto estas batalhas se desenrolavam, Aníbal conseguia suprimentos e homens vindo da Hispânia. Sendo assim, Cipião, decidira atacar os reforços de Aníbal. Então ele partiu para a Hispânia, chegando em 211 a.C. Lá ele ficaria até o ano de 207 a.C, combatendo Asdrúbal Barca, irmão de Aníbal (não confundir com o Asdrúbal que era genro de Amílcar).
"A derrota de Asdrúbal foi importante para os romanos na medida em que estes conseguiram submeter a Península Ibérica, expulsando os cartagineses da região". (MAGNOLI, 2009, p-69).
Com a morte deste, os suprimentos dos cartagineses em Itália foram suspensos, agora estes teriam que recorrer diretamente a Cartago. Cipião retornou para Roma em 205 a.C, com seu retorno, este fora novamente eleito cônsul, e dessa vez ele tentaria empreender seu plano mais ousado. Cipião tentou convencer o Senado em apoiá-lo em um ataque direto a África a Cartago em si, se esta caísse, Aníbal perderia. O plano era muito ousado, parte do Senado não concordou inicialmente. Mesmo assim Cipião conseguiu reunir duas legiões e partiu para a África em 204 a.C. Como ele contava com pouco homens, decidira não atacar Cartago, mas sim a enfraquecê-la, derrotando seus aliados. Cipião conseguiu derrotar o rei da Númidia, um dos importantes aliados de Cartago, além de vencer outros aliados deste. Logo Cartago se vira ameaçada pelos exércitos romanos em África, e solicitou que Aníbal retornasse. Sendo assim, em 202 a.C ele deixa a Itália e segue para Cartago.
Chegando lá, o exército romano comandado por Cipião, o qual agora era chamado pela alcunha de o Africano, atraiu Aníbal e suas tropas para longe de Cartago, em direção ao deserto, mais exatamente na planície de Zama. Em 19 de Outubro de 202 a.C na Batalha de Zama (ver imagem), ocorrera o confronto derradeiro que poria fim a esta guerra. No meio do deserto, longe de Cartago ou de qualquer outro aliado a quem recorrer, Aníbal só poderia contar com seu exército e com sua experiência. Armado com seus poderosos elefantes de guerra a frente do exército, este marchou de encontro ao exército romano. Contudo uma reviravolta ocorrera. Cipião já imaginando que seu oponente usaria elefantes na batalha, deu para cada um dos homens na frente de batalha uma trombeta. Quando os elefantes chegaram próximos, os soldados começaram a soprar as trombetas, os animais acabaram se enfurecendo e correndo para trás. Tal acontecimento levou a morte de vários membros da infantaria e cavalaria que foram pisoteados pelos animais em fúria. Com isso o exército de Aníbal ficara dividido, e num verdadeiro caos. Logo os romanos assumiram a dianteira do ataque, levando a rendição do inimigo.
No ano seguinte fora assinado um novo tratado de paz entre cartagineses e romanos. Mas dessa vez, Roma fizera maiores cobranças. Desde uma taxa indenizatória, a doação de vários territórios cartagineses, como toda a doação de sua marinha, e a proibição de se estabelecer um exército. As cobranças foram altas, se negassem a cumprir-las poderiam ser destruídos, sendo assim acabaram concordando.
Cipião retornou para Roma, aplaudido como um herói. Aníbal permaneceu em Cartago organizando os problemas gerados após o fim da guerra. Nessa época ele recebera um cargo no Senado cartaginês. Contudo anos depois, algumas desavenças entre inimigos, levaram este a abandonar a cidade. Alguns começaram a culpar-lo pelo inicio da guerra e pela dura derrota sofrida. Mesmo tendo perdido a guerra, este nunca abandonara o ódio que sentia pelos romanos. Logo veio a encontrar recepção em novos aliados no Oriente. Alguns povos, como os macedônios e os sírios relutavam a aceitar a submissão à Roma. Aníbal se mudou para a Macedônia, por volta de 195 a.C. Mas com a derrota de seu rei, esta e a Grécia passaram a pertencerem ao domínio romano, então ele se dirigiu para a Bitínia (correspondia a parte norte do atual território da Turquia). Lá ele passaria seus últimos anos de vida, quando cometera suicídio ao se envenenar. Com sua morte, seu nome ainda seria lembrado na história. Seria um herói para Cartago, e um nome que dava medo de se ouvir, para os romanos.
Sobre a pessoa de Aníbal, Maquiavel dissera o seguinte:
"Entre os admiráveis feitos de Aníbal conta o de que, possuindo ele um exército extraordinariamente grande no qual se amalgamavam homens de inúmeras procedências, exército que comandara em batalhas travadas em terras estrangeiras, jamais surgiu no seio deste qualquer dissensão, nem entre os soldados, nem contra o seu comando, nem na adversidade e tampouco na fortuna". (MAQUIAVEL, 2009, p-81-82).
NOTA: Alguns historiadores preferem chamar a família de Aníbal de Bárcida, devido ao fato de o nome Barca ser um apelido e não um nome próprio.
NOTA 2: As atuais ruínas da cidade de Cartago na Tunísia, não correspondem propriamente a cidade original. Com o fim da Terceira Guerra Púnica, a cidade foi destruída. Dizem que o serviço foi tão bem feito que suas ruínas se perderam nas areias no deserto. Contudo, anos depois, os romanos construíram uma outra cidade próximo dali, chamada de Cartago. Júlio César foi um dos quais propôs a construção dessa cidade.
NOTA 3: A Terceira Guerra Púnica, fora a mais curta dentre todas, se durou de 149-146 a.C, a qual terminou com a total derrota de Cartago, sendo seus territórios assimilados por Roma, sua cidade destruída e seu povo escravizado.
NOTA 4: De fato, Aníbal não era um cartaginês propriamente dito. Ele nascera na Hispânia, era um ibero. Porém por esta região pertencer a Cartago, era lhe dada a cidadania cartaginesa.
NOTA 5: A Numidia, correspondia a um reino africano localizado, no que hoje equivale a costa da Argélia. Os numidas era conhecidos por serem eximios cavaleiros, e fora com essa cavalaria que Anibal venceu a Batalha de Canas.
NOTA 6: Sobre os filhos de Anibal não se sabe muita coisa. Na realidade talvez não haja dados sobre quem foram e o que fizeram depois da morte de seu pai.
NOTA 7: Alguns historiadores costumam usar a expressão "mare nostrum" (nosso mar) para se referir a hegemonia romana sobre o Mediterrâneo após o fim da Segunda Guerra Púnica.
Referências Bibliográficas:
MAGNOLI, Demétrio (organizador). História das Guerras. São Paulo, Contexto, 3 ed, 2009.
BALDSON, J. P. V. D. O Mundo Romano. Rio de Janeiro, Zahar. 1968.
GRIMAL, Pierre. A Civilização Romana. Lisboa, Ed. 70, 1988.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe, Porto Alegre, L&PM, 2009.
Antes de começar a contar um pouco da vida militar de Aníbal, irei fazer uma rápida retrospectiva sobre alguns fatos que levaram a guerra contra Roma.
Primeiramente irei falar um pouco sobre Cartago. Cartago foi uma colônia fundada na costa da África (ver mapa), pelos fenícios, por volta do século IX a.C. No entanto somente séculos depois é que esta viria a se tornar uma potência marítima e militar no Mediterrâneo. Por volta do século III a.C, Roma se expandia pela Itália, a tendo praticamente sobre seu domínio. Nessa época, na ilha da Sicília, as colônias da Magna Grécia, lutavam pelo controle da Sicília, uma das principais regiões produtoras de grãos da região. Sendo assim, os cartagineses também possuíam o mesmo interesse. Porém a guerra só tomaria proporções mais drásticas, quando os romanos decidem também lutar pelo domino da região. Como estes já possuíam amizade com os gregos, com isso eles se uniram a estes para combater os cartagineses. Nesse ponto se iniciaria as chamadas Guerras Púnicas.
As Guerras Púnicas foram uma série de batalhas divididas em três etapas, (o nome púnico se deve ao fato de os romanos chamarem os cartagineses de púnicos), as quais se sucederam ao longo dos séculos III a.C e II a.C. Com isso, a Primeira Guerra Púnica se iniciou em 264-241 a.C, e terminou com a vitória romana. Porém ao longo destes mais de vinte anos de guerras, ambas as nações saíram com grandes perdas, sendo Cartago a que sofrera mais com a derrota, pelo fato de perder alguns territórios e ter que pagar uma taxa de indenização a Roma. No entanto não estou aqui para relatar como esta guerra transcorreu, irei me abster mais a relatar as causas da Segunda Guerra Púnica, na qual a figura de Aníbal fora essencial para a deflagração destes conflitos e para o termino destes.
Antes de começar de fato a falar sobre a investida de Aníbal sobre os romanos, irei citar alguns antecedentes que levaram a ocorrência deste segundo confronto.
Com o fim da Primeira Guerra em 241 a.C, Cartago ficou arrasada e presa a uma divida com os romanos. Uma das soluções encontrada por esta fora explorar a região da Hispânia, rica em minas de prata. Sendo assim, expedições foram enviadas para conquistar a região e obviamente as suas minas. Dentre um dos principais responsáveis por estas conquistas cartaginesas na Hispânia, estava Amílcar Barca (270-228 a.C), pai de Aníbal. Amílcar teve uma importante participação nos últimos anos da Primeira Guerra Púnica, como o fato de ter participado não só das batalhas, mas na negociação de um acordo de paz com Roma. Na Hispânia, seria o responsável pela conquista da maior parte desta. Já que seus filhos dariam continuidade a esta. Com a sua morte no campo de batalha, ele havia deixado um exército forte, e uma região moldada com sua exímia diplomacia. Mesmo assim os hispânicos ainda se relutaram a aceitarem a submissão a Cartago. Asdrúbal Barca, seu genro, assume a chefia da Hispânia.
Asdrúbal, seria lembrado por ter sido o fundador da Nova Cartago (atual Cartagena na província de Múcia, Espanha). E por ter em 226 a.C assinado um acordo com os romanos, no qual se dividiria as terras da Hispânia em duas partes, sendo a delimitação dessa divisão o rio Ebro. De fato tal fronteira seria a causa da segunda guerra, para alguns historiadores. Em 221 a.C, Asdrúbal é assassinado. Alguns dizem que fora por vingança de algum dos seus servos, ou pelo inimigo. Com a sua morte, o governo de Cartago escolhe o jovem Aníbal Barca para sucedê-lo.
Aníbal Barca |
Nesse ano Roma nomeara novos cônsules, e o Senado escolhera o cônsul Públio Cornélio Cipião (236-183 a.C) o responsável pela província de Hispânia, para combater Aníbal. Porém este não iria aguardar que os romanos tomassem a frente da luta, ele decidira agir imediatamente. Enquanto Cipião reunia as legiões romanas e partia para a Hispânia, Aníbal marchava com seu exército em direção a Gália (França). Nessa época os romanos já tentavam conquistar a região, porém muitas tribos ainda eram hostis a estes, então Aníbal viu nessa condição uma possibilidade de aliança com estes "barbáros". Inicialmente isso não ocorreu, porém não tardou muito que os gauleses se unissem ao exército cartaginês.
"Dessa maneira o general Cipião recebeu, em 218 a.C, cerca de 14 mil soldados e 1.600 cavaleiros para dirigir-se a Hispânia e Tibério Sempronio Longo, cerca de 16 mil e 1.800 respectivamente, para cumprir a tarefa de invadir a África". (MAGNOLI, 2009, p-64).
Roma descobriu os planos dos cartagineses, então decidiu aguardá-los em casa, na Itália. Decidiram esperar o exército inimigo na entrada da Planície do Pó, a principal via de acesso pelo norte da Itália, para quem quisesse vir com um grande exército. Porém a história fora outra, o inusitado acontecera. Ao invés de seguir pelas margens do rio Rodáno até a planície, ele decidiu pegar um caminho mais difícil e ousado. Decidiu contornar os Alpes, e atacar os romanos de surpresa. Aníbal marchou com o seu exército de cerca de 50 mil homens através dos Alpes, os contornado e chegando a Planície do Pó. Durante os cinco meses de viagem empreendida, ele perdera parte das tropas, mas conseguiu repor-la quando os gauleses se aliaram a ele. (clique no mapa para ver a rota de invasão de Aníbal).
Chegando a Itália com cerca de quase trinta mil homens (soma-se a infantaria com a cavalaria), e com pelo menos 20 elefantes de guerra, este iniciaria seus ataques as terras romanas. De fato relatos dessas guerras é muito vasto, afinal foram mais de dez anos de conflitos. Então pelo fato de ser muita história para contar e poucas linhas para escrever, irei resumir os acontecimentos. No entanto aconselho para quem tiver maior curiosidade a respeito do assunto, consultar outras fontes confiáveis que tenham uma maior abrangência a respeito do assunto.
Pintura representando a travessia dos Alpes pelo exército de Aníbal. |
Ele soube se valer da vantagem de seu número menor a fim de se conseguir mobilidade e velocidade. Pelo fato de terem lutado pr[oximo as margens de um rio, o campo de mobilidade ficara reduzido. E o exército romano por ser muito grande perderia muito tempo para se posicionar e se reagrupar, depois de movido. Aníbal enviou sua cavalaria e sua infantaria rápida a fim de quebrar a formação romana, conseguido tal feito este começou a atacar os romanos pelos flancos, os forçando a se reagruparem no centro. Não tardou que o restante da cavalaria e da infantaria pesada cerca-se o exército inimigo e o massacra-se. Tal derrota abalou fortemente a convicção da superioridade romana. No entanto mesmo com esta grande perda. Roma ainda não se daria por vencida.
"Mesmo diante de tamanha derrota os romanos não cederam. Reestruturaram suas estratégias e dividiram sua armada em grupos menores, para conter as investidas de Aníbal". (MAGNOLI, 2009, p-69).
Nos anos seguintes, Aníbal montaria uma base na Itália e passaria a atacar os domínios romanos, a fim de enfraquecer o inimigo, e se conseguir o apoio de povos subordinados ao julgo romano, mas que os odiavam, para se tornarem seus aliados. Curiosamente, nesse anos que ele passou na Itália, ele nunca chegou a ameaçar Roma, de forma que leva-se a esta o seu fim. De fato os romanos conseguiram resistir bravamente ao ataque cartaginês. E enquanto estas batalhas se desenrolavam, Aníbal conseguia suprimentos e homens vindo da Hispânia. Sendo assim, Cipião, decidira atacar os reforços de Aníbal. Então ele partiu para a Hispânia, chegando em 211 a.C. Lá ele ficaria até o ano de 207 a.C, combatendo Asdrúbal Barca, irmão de Aníbal (não confundir com o Asdrúbal que era genro de Amílcar).
"A derrota de Asdrúbal foi importante para os romanos na medida em que estes conseguiram submeter a Península Ibérica, expulsando os cartagineses da região". (MAGNOLI, 2009, p-69).
Com a morte deste, os suprimentos dos cartagineses em Itália foram suspensos, agora estes teriam que recorrer diretamente a Cartago. Cipião retornou para Roma em 205 a.C, com seu retorno, este fora novamente eleito cônsul, e dessa vez ele tentaria empreender seu plano mais ousado. Cipião tentou convencer o Senado em apoiá-lo em um ataque direto a África a Cartago em si, se esta caísse, Aníbal perderia. O plano era muito ousado, parte do Senado não concordou inicialmente. Mesmo assim Cipião conseguiu reunir duas legiões e partiu para a África em 204 a.C.
Chegando lá, o exército romano comandado por Cipião, o qual agora era chamado pela alcunha de o Africano, atraiu Aníbal e suas tropas para longe de Cartago, em direção ao deserto, mais exatamente na planície de Zama. Em 19 de Outubro de 202 a.C na Batalha de Zama (ver imagem), ocorrera o confronto derradeiro que poria fim a esta guerra. No meio do deserto, longe de Cartago ou de qualquer outro aliado a quem recorrer, Aníbal só poderia contar com seu exército e com sua experiência. Armado com seus poderosos elefantes de guerra a frente do exército, este marchou de encontro ao exército romano. Contudo uma reviravolta ocorrera. Cipião já imaginando que seu oponente usaria elefantes na batalha, deu para cada um dos homens na frente de batalha uma trombeta. Quando os elefantes chegaram próximos, os soldados começaram a soprar as trombetas, os animais acabaram se enfurecendo e correndo para trás. Tal acontecimento levou a morte de vários membros da infantaria e cavalaria que foram pisoteados pelos animais em fúria. Com isso o exército de Aníbal ficara dividido, e num verdadeiro caos. Logo os romanos assumiram a dianteira do ataque, levando a rendição do inimigo.
No ano seguinte fora assinado um novo tratado de paz entre cartagineses e romanos. Mas dessa vez, Roma fizera maiores cobranças. Desde uma taxa indenizatória, a doação de vários territórios cartagineses, como toda a doação de sua marinha, e a proibição de se estabelecer um exército. As cobranças foram altas, se negassem a cumprir-las poderiam ser destruídos, sendo assim acabaram concordando.
Cipião retornou para Roma, aplaudido como um herói. Aníbal permaneceu em Cartago organizando os problemas gerados após o fim da guerra. Nessa época ele recebera um cargo no Senado cartaginês. Contudo anos depois, algumas desavenças entre inimigos, levaram este a abandonar a cidade. Alguns começaram a culpar-lo pelo inicio da guerra e pela dura derrota sofrida. Mesmo tendo perdido a guerra, este nunca abandonara o ódio que sentia pelos romanos. Logo veio a encontrar recepção em novos aliados no Oriente. Alguns povos, como os macedônios e os sírios relutavam a aceitar a submissão à Roma. Aníbal se mudou para a Macedônia, por volta de 195 a.C. Mas com a derrota de seu rei, esta e a Grécia passaram a pertencerem ao domínio romano, então ele se dirigiu para a Bitínia (correspondia a parte norte do atual território da Turquia). Lá ele passaria seus últimos anos de vida, quando cometera suicídio ao se envenenar. Com sua morte, seu nome ainda seria lembrado na história. Seria um herói para Cartago, e um nome que dava medo de se ouvir, para os romanos.
Sobre a pessoa de Aníbal, Maquiavel dissera o seguinte:
"Entre os admiráveis feitos de Aníbal conta o de que, possuindo ele um exército extraordinariamente grande no qual se amalgamavam homens de inúmeras procedências, exército que comandara em batalhas travadas em terras estrangeiras, jamais surgiu no seio deste qualquer dissensão, nem entre os soldados, nem contra o seu comando, nem na adversidade e tampouco na fortuna". (MAQUIAVEL, 2009, p-81-82).
NOTA: Alguns historiadores preferem chamar a família de Aníbal de Bárcida, devido ao fato de o nome Barca ser um apelido e não um nome próprio.
NOTA 2: As atuais ruínas da cidade de Cartago na Tunísia, não correspondem propriamente a cidade original. Com o fim da Terceira Guerra Púnica, a cidade foi destruída. Dizem que o serviço foi tão bem feito que suas ruínas se perderam nas areias no deserto. Contudo, anos depois, os romanos construíram uma outra cidade próximo dali, chamada de Cartago. Júlio César foi um dos quais propôs a construção dessa cidade.
NOTA 3: A Terceira Guerra Púnica, fora a mais curta dentre todas, se durou de 149-146 a.C, a qual terminou com a total derrota de Cartago, sendo seus territórios assimilados por Roma, sua cidade destruída e seu povo escravizado.
NOTA 4: De fato, Aníbal não era um cartaginês propriamente dito. Ele nascera na Hispânia, era um ibero. Porém por esta região pertencer a Cartago, era lhe dada a cidadania cartaginesa.
NOTA 5: A Numidia, correspondia a um reino africano localizado, no que hoje equivale a costa da Argélia. Os numidas era conhecidos por serem eximios cavaleiros, e fora com essa cavalaria que Anibal venceu a Batalha de Canas.
NOTA 6: Sobre os filhos de Anibal não se sabe muita coisa. Na realidade talvez não haja dados sobre quem foram e o que fizeram depois da morte de seu pai.
NOTA 7: Alguns historiadores costumam usar a expressão "mare nostrum" (nosso mar) para se referir a hegemonia romana sobre o Mediterrâneo após o fim da Segunda Guerra Púnica.
Referências Bibliográficas:
MAGNOLI, Demétrio (organizador). História das Guerras. São Paulo, Contexto, 3 ed, 2009.
BALDSON, J. P. V. D. O Mundo Romano. Rio de Janeiro, Zahar. 1968.
GRIMAL, Pierre. A Civilização Romana. Lisboa, Ed. 70, 1988.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe, Porto Alegre, L&PM, 2009.
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Um comentário:
belo post meu amigo...
continue assim, sempre escrevendo bem e se dedicando aos livros! vc vai longe!
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