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Leandro Vilar

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

El Libertador

Nos idos do século XIX, a América Latina, vivia uma época de conturbadas revoluções. Era a época das guerras pela independência. Anos antes, os Estados Unidos da América, havia conseguido sua independência da Inglaterra, em 4 de Julho de 1776. Tal acontecimento serviria de incentivo e de modelo para as demais colônias latino-americanas, buscarem sua emancipação perante a suas metrópoles. Nesse caso, as principais metropoles eram, Espanha, Portugal e França. E dentre essas guerras pela revolução, muitos lideres se destacaram, se tornando verdadeiros heróis para o seu povo. E dentre estes heróis, estava Simón Bolivar, conhecido pela alcunha de El Libertador.

Simón José Antonio de la Santissima Trinidad Bolívar y Palacios, nasceu na cidade de Caracas (na Venezuela) em 1783. Filho de uma rica família aristocrática, descendente do País Basco (em Espanha). Tivera uma infância um tanto conturbada e triste. Aos três anos, seu pai, Juan Vicente Bolívar veio a morrer. Simón e seus irmãos ficaram aos cuidados de sua mãe até 1792, quando esta também veio a morrer. Depois disso ele passou pelas casas dos avós paternos e de um tio, até finalmente ficar sob a tutela de Simón Rodriguez, um pedagogo, e homem de caráter revolucionário, fortemente influenciado pela filosofia de Rousseau. Simón ficou aos cuidados de Rodriguez até 1799, quando é enviado para a Espanha a fim de terminar seus estudos. Bolívar teve de inicio contato com as ideias iluministas e revolucionárias, com seu tutor, e posteriormente enquanto esteve viajando pela Europa passaria a morar em Paris, onde seu caráter revolucionário afloraria ainda mais. Em 1802 este veio a se casar, e no mesmo ano decide voltar para a Venezuela, porém durante sua estadia, sua esposa veio a morrer em 1803. Magoado, Bolívar decide retornar para a Espanha. Em 1804, enquanto residia em Paris, assistiu a coroação do imperador Napoelão Bonaparte I. No ano seguinte, reecontrou seu velho tutor Simón Rodrigues, então viajaram para Roma, a onde Bolivar teria pronunciado seu famoso Juramento do Monte Sacro.

Sobre a colina sagrada aos arredores de Roma, Bolivar teria jurado em libertar seu povo da metropole espanhola. Curiosamente, naquele mesmo local há séculos atrás, antes da época de Cristo, os plebeus teriam se reunido ali a fim de confrontar a exploração dos patricios. Fora um momento em que a recém criada República Romana, estava ao imparsse de chegar ao fim. Depois de seu juramento, Bolívar ainda viajou por outros lugares na Itália, então retornou para Paris, por volta de 1806, onde aderiu a Francomaçonaria. Depois disso continuou suas viagens, até chegar aos Estados Unidos, e depois em 1807 retorna para a Venezuela, a fim de cumprir com sua promessa.

De volta a Venezuela, Bolívar tratou de fazer alianças com os grupos revolucionários, comandados pelos criollos (criollo - era o termo usado para se referir aos descendentes de espanhóis nascidos em território americano). Basicamente naquela época a classe social era dividida em: criollos, peninsulares (moradores da metrópole), estrangeiros e escravos (indígenas e africanos). Sendo nesse caso os principais responsáveis pelos movimentos de revolução na América Latina foram os aristocratas de origem criolla ou se não os escravos indigenas.

Em 1810, após a dissolução da Junta Suprema da Espanha, os revolucionários, conseguiram formar um governo provisório em Caracas, chamado a Junta de Caracas. Enquanto a Espanha passava por alguns problemas internos a respeito de sua administração e politica, Bolívar viajou para a Inglaterra a fim de conseguir apoio para libertar a Venezuela. Nessa época, a Inglaterra tinha causado muitos problemas aos espanhóis, devido a alguns acordos feitos entre estes dois países, a fim de ajudar os espanhóis em suas dividas. No ano seguinte, este retorna ao seu país, e proclama oficialmente em 5 de julho de 1811 a independência da Venezuela a metrópole espanhola. No entanto os espanhóis, não deixariam isso acontecer tão facilmente. No ano seguinte, os exércitos espanhóis invadem Caracas, e derrotam os exércitos revolucionários. Francisco de Miranda (1750-1816), considerado o precursor do movimento revolucionário latino americano, decidiu assinar um armísticio com os espanhóis a fim de poupar maiores desastres devido a guerra contra estes. Bolivar e outros membros partidários, viram isso como uma traição de Miranda. de qualquer forma a guerra fora evitada de se prolongar ainda mais. Bolívar, acabou fugindo de Caracas, indo se refugiar em Cartagenas das Indias, no estado de Nova Granada (atual Colômbia). Lá ele redigiu um manifesto a fim de também lutar pela independência deste Estado, com isso fora eleito general de seus exércitos.

Entre os anos de 1812 e 1813, a Coroa Espanhola, descobriu os planos de Bolívar em referência ao Estado de Nova Granada, com isso enviou seus exércitos que residiam na Venezuela para atacar Bolivar, no entanto este conseguiu derrotar os espanhóis em Agosto de 1813 em Taguanes (Venezuela). No mesmo ano invadiu e libertou Caracas, onde o povo lhe concedeu o titulo de El Libertador. No ano seguinte fora proclamado ditador. No entanto o governo de Bolívar não iria durar muito tempo. Os llaneros (habitantes da planície), nesse caso eram formados em parte por uma aristocracia fazendeira. Se uniram a aqueles que apoivam a Coroa, então marcharam para a capital a fim de derrotar Simón Bolivar. Sendo assim, parte da população da Venezuela se viu entre uma briga de castas sociais. A aristocracia revolucionária dos criollos e a aristocracia conservadora dos llaneros. Os generias espanhóis Boves e Morales, derrotaram Bolivar e puseram fim a Segunda República da Venezuela. Simón fugiu e se refugiou na Jamaica, onde escreveu a Carta da Jamaica, documento este no qual esboçava o seu sonho de libertar todas colônias das Américas, e criar uma grande República unida, seja politicamente ou economicamente. Depois disso, ele se muda para o Haiti, onde conta com a ajuda do presidente Alexandre Pétion (1770-1818).

"Foi acolhido no Haiti pelo presidente Petion, que lhe forneceu quatro batalhões e armas para 6 mil homens, sob a condição de que os escravos da América fossem libertados". (LAROUSSE, 1998, p. 826).

Além do apoio dos haitianos, este também contou com o apoio dos ingleses, e com isso em 1816, retornou para a Venezuela a onde formou um estado autônomo, com a capital sediada na cidade de Angostura. Naquela época as ideias bases da criação do Estado da Grã-Colômbia eram criadas. Bolivar contou com o apoio do general José Antônio Paez, líder dos llaneros, os quais se uniram dessa vez a favor de Simón. Com isso, a Venezuela fora recuperada. Porém mesmo reassumindo o controle de seu país, Bolívar ainda continou a prosseguir com o seu sonho de libertar a América de suas metrópoles. Em 1819, com o apoio dos ingleses, venceu os espanhóis na Batalha e Boyacá, e ocupou Bogotá. No mesmo ano, em 17 de dezembro, era proclamado a criação da República da Grã-Colômbia (ver mapa), contendo inicialmente a união de Nova Granada e Venezuela. Posteriormente seria assimilado a região de Quito (Equador), parte do norte do Peru, sul do atual Panamá, e um pedaço da Amazônia brasileira. Simón Bolivar fora eleito então o primeiro presidente dessa nova nação livre.

Em 24 de junho de 1821 na Batalha de Carabobo (Venezuela), Bolívar derrotou definitivamente o exército espanhol que ainda ameaçava a autonomia do novo país. Com tal vitória, este partiu em direção a Quito, e a libertou e a assimilou a Grã-Colômbia em 1822. Logo em seguida marchou para o sul, em direção ao Peru, onde em Junho de 1823, ocupa a capital Lima de los Reyes, e é então proclamado ditador do Peru. Em Junin em Agosto de 1824, e posteriormente em Sucre em Ayacucho em Dezembro, Bolivar havia derrotado as últimas forças colonianistas no Peru. Em 6 de agosto de 1825, Simón Bolívar concedia a independência do Alto Peru, passando a chamar-lo de Bolívia ou República de Bolívar. Sendo Simón o seu primeiro presidente.

Porém o sonho de paz e de harmonia presado por Bolivar não iria vigorar por muito tempo. Enquanto esteve fora da Grã-Colômbia, o então presidente, a deixou nas mãos de outros governantes, os quais acabaram entrando em conflito. Após o Congresso do Panamá (1826) idealizado por Bolívar o qual não contou com sua presença devido a este ainda estar na Bolívia, os lideres de vários países americanos ali reunidos, votaram para decidir o futuro politico de suas nações, acabou terminando não da forma como Bolívar esperava.

"O Congresso do Panamá, por ele convocado, ocorreu no verão de 1826, mas a ideia de unidade americana frustou-se. As tendencias centrifugas e a instabilidade dos novos Estados afetaram a obra de Bolivar, fragmentando-a. Em 1827, o Peru declarou guerra a Colômbia. Paez proclamou a independencia da Venezuela (1829), e Flores a do Equador (1830)". (LAROUSSE, 1998, p. 826).

Manuela Sáenz
Porém não fora somente o sonho de Bolívar que estivera em risco. Antes mesmo de a Venezuela e Equador se tornarem independentes, Bolívar o qual estava de volta a Colômbia (1828) na tentativa de unir seus partidários, chegou a sofrer uma tentativa de assassinato, o qual só não veio a dá certo, porque este fora salvo por sua amante, Manuela Sáenz (1797-1856) a quem tinha conhecido anos antes, durante a invasão de Quito. Manuela conseguira salvar a vida de seu amor, no entanto mesmo ainda vivo, Bolivar não conseguiu impedir a fragmentação da Grã-Colômbia. E em Maio de 1830 oficialmente ele se demite do cargo de presidente, e o Estado fora dissolvido.Depois disso, ele se exilou em um casebre na cidade de Santa Marta (Colômbia), onde acabou morrendo de tuberculose em 17 de dezembro de 1830, aos 47 anos de idade. O homem que uma vez fora chamado de o "Libertador das Américas" morria sozinho, pobre e abandonado. Tendo o seu sonho destroçado pela corrupção de seus generais e lideres.

NOTA: A então cidade chamada de Angostura, é chamada atualmente de Ciudad Bolivar.
NOTA 2: O filósofo suiço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), ficou conhecido por ter escrito a obra O Contrato Social, livro de grande influência politica em todo o mundo.
NOTA 3: Atualmente a Venezuela se chama oficialmente de República Bolivariana da Venezuela.
NOTA 4: A Grã-Colômbia durou de 1819 à 1830, tendo como único presidente, Simón Bolivar.
NOTA 5: Bolivar fora amigo dos renomados cientistas Alexander von Humboldt e Aimé Bonpland.
NOTA 6: Curiosamente tanto Simón como outros lideres da independência Americana, eram membros da maçonaria.
NOTA 7: Manuela ficou também conhecida pela alcunha de a Libertadora do Libertador (La Libertadora del Libertador).
NOTA 8: O Haiti foi o primeiro país latinoamericano a conseguir sua independência, em 1 de Janeiro de 1804. No entanto esta só foi oficialmente reconhecida pela França em 1825.
NOTA 9: Bolívar é retratado nos jogos, Age of Empires III e Civilization IV: Colonization.

Referências Bibliográficas:
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

LINKS:
Vidas Lusófonas: Simón Bolivar
Simón Bolívar e o juramento do Monte Sacro
O Bolívar simbólico - O nome do herói foi apropriado por um sem-número de políticos na América Latina

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