A história revolucionária da
Venezuela e de outros países latino-americanos começa desde a época que ainda
eram colônias das metrópoles europeias. Nesse trabalho, será relatado um pouco
do processo revolucionário em particular da Venezuela, traçando um caminho
desde as guerras de independência dos idos do século XIX, sob a liderança do
revolucionário Simón Bolívar, de como suas iniciativas contribuíram para marcar
esse episódio da História das Américas, e porque ainda hoje, após mais de
duzentos anos, Bolívar ainda é um símbolo de liberdade e justiça. O que se
sucedeu com sua morte, e como a Venezuela se constituiu em uma república,
governada por oligarquias ditatórias, ao longo de mais de cem anos, até
desembocar nas lutas populares no final do século XX, quando se inicia o
governo do então presidente Hugo Chávez. Com sua revolução bolivariana,
marchando para um socialismo do século XXI.
Neste trabalho, será focada a
essência na qual Chávez quis trazer ao povo venezuelano do ideal bolivariano.
De como um povo oprimido por décadas, pôde finalmente se libertar dos grilhões
que os acorrentavam, para poder de fato se construir uma democracia, da qual o
povo pudesse ter voz ativa. Não obstante, também será revelado o papel de
outros países na história revolucionária da Venezuela, como Cuba, Bolívia e a
forte oposição ao imperialismo dos Estados Unidos.
"Para as
nações, como para os homens, a tempo de maturidade que é preciso esperar antes
de submetê-las às leis; porém, a maturidade de um povo nem sempre é fácil de
conhecer e, se a antecipamos, o trabalho se perde". (ROUSSEAU, 2009, p.
61).
O sonho de Bolívar
O sonho de Bolívar
Simón Bolívar, o Libertador |
Simón José Antonio de La Santíssima Trinidad
Bolívar y Palácios (1783-1830) nasceu em Caracas, atual capital da Venezuela, entraria
para a História conhecido pela alcunha de O Libertador (El Libertador). Tendo liderado um grande movimento de independência
entre os países do noroeste da América do Sul, Bolívar conseguiu de fato a
emancipação de tais países, e fundou uma grande república unificada, chamada Grã-Colômbia
(1819-1830). No entanto a corrupção interna de seus subordinados levou à ruína
a grande república. Entretanto seus ideais de liberdade, justiça, igualdade,
motivariam nos séculos seguintes vários lideres latino-americanos. E mesmo com todo
o passar dos anos, suas ideias ainda se encontram vivas entre o povo
venezuelano. Desde cedo Simón Bolívar tivera uma vida difícil, perdeu
o pai e a mãe ainda jovem. Morou algum tempo na casa dos avôs, depois de tios e
até de seus irmãos mais velhos, até finalmente se mudar em 1792 para a casa de
Simón Rodriguez, seu tutor e grande professor.
Simón Rodriguez era um homem da elite e culto, desde cedo esteve envolvido com os projetos revolucionários da Venezuela. De fato seu espírito revolucionário fora de grande inspiração para Bolívar. Rodriguez era um admirador do Iluminismo e da Revolução Francesa, ele particularmente gostava das obras do filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau. Com isso, Bolívar fora fortemente influenciado pelas ideias iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, empregadas na Revolução Francesa. O próprio Rousseau fora quem escrevera O Contrato Social, obra a qual influenciou o pensamento republicano de Bolívar.
Simón Rodriguez era um homem da elite e culto, desde cedo esteve envolvido com os projetos revolucionários da Venezuela. De fato seu espírito revolucionário fora de grande inspiração para Bolívar. Rodriguez era um admirador do Iluminismo e da Revolução Francesa, ele particularmente gostava das obras do filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau. Com isso, Bolívar fora fortemente influenciado pelas ideias iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, empregadas na Revolução Francesa. O próprio Rousseau fora quem escrevera O Contrato Social, obra a qual influenciou o pensamento republicano de Bolívar.
Em 1799, Bolívar partiu para Espanha para concluir
seus ensinos. Nos anos seguintes ele ficou mais próximo das ideias
revolucionárias herdadas da Revolução Francesa, como também das ideias
republicanas. Ele também fizera muitos amigos entre a corte espanhola, francesa
e inglesa, os quais os dois últimos apoiaram-no em suas lutas de independência.
Em 1810 ele retornou para a Venezuela, e se uniu a Francisco de Miranda
(1750-1816), considerado o precursor do movimento revolucionário na Venezuela.
Nos anos seguintes, Bolívar e seus aliados começariam sua marcha pela
libertação.
Em 1810, Bolívar e seus partidários fundaram a
Primeira República da Venezuela, mas pouco tempo depois esta fora derrubada
pela intervenção da Espanha. Em 1813 os revolucionários retomam Caracas e
proclamam a Segunda República da Venezuela, mas novamente esta fora derrubada
com um golpe de Estado.
Em 1817, durante o exílio voluntário de Simón na Jamaica e depois no Haiti, seus partidários tentam dá outro golpe de
Estado na Venezuela e fundam a Terceira República da Venezuela (1817-1819). De
volta de seu exílio no Haiti, em 1819, Bolívar libertou Bogotá e fundou a Grã-Colômbia,
anexando a Venezuela ao seu território. Em 1821, ele libertou Quito (atual
capital do Equador), Lima em 1822 (atual capital do Peru), e em 1825 libertou o
chamado Alto Peru (hoje corresponde a Bolívia), onde fundou a República de
Bolívar ou República da Bolívia.
Em 1826, ele propôs o Congresso do Panamá, reunião
esta na qual ele tinha em mente de se debater e propor a respeito do futuro da
América Latina. No congresso se teve como principal fonte documental de
inspiração a chamada Carta da Jamaica
(1815) a qual é tida como o principal documento que se encontra escrita sua
ideologia revolucionária. Bolívar queria através deste congresso, conseguir a
independência de todas as colônias da América Latina, como também criar um
grande bloco político, econômico e social, unificando os países
latinoamericanos em uma grande república americana. De fato este era o seu
grande sonho.
“O
Congresso do Panamá, por ele convocado, ocorreu no verão de 1826, mas a ideia
de unidade americana frustrou-se. As tendências centrifugas e a instabilidade
dos novos Estados afetaram a obra de Bolívar, fragmentando-a. Em 1827, o Peru
declarou guerra a Colômbia. Paez proclamou a independência da Venezuela (1829),
e Flores a do Equador (1830)”. (Grande
Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 826).
Além
da ideia de se criar uma grande e única república, Bolívar visava à criação de
um sistema educacional público, de acesso para todos e de boa qualidade, algo
hoje atualmente visado pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez. Além do
ensino, ele também propôs um sistema de saúde, judicial, ele também era contra
a forte influência de outros países sobre a política interna e a economia. Em
sua época fora a Espanha, hoje são os Estados Unidos.
De
fato muitas das ideias de Simón Bolívar foram contraditórias em alguns
aspectos, porém hoje em dia, os chamados bolivarianos procuram fazer de sua
ideologia um caminho para se alcançar o Socialismo.
O período das oligarquias e ditaduras
O período das oligarquias e ditaduras
Em
1830 com o fim da Grã-Colômbia e com a morte do Libertador, para muitos este
foi o fim da luta pela liberdade, democracia e justiça na Venezuela. Alguns
historiadores costumam dizer que estes ideais morreram com Bolívar. No entanto, outros defendem que tais ideais não morreram, eles permaneceram entre os
seguidores de Bolívar, os bolivarianos,
porém, sem muito sucesso em suas iniciativas.
A
Venezuela ainda se manteria independente da Espanha, até ser oficialmente
reconhecida como independente por essa em 1845. Mesmo assim ela se manteve como
uma república, mas uma república governada por ditadores e oligarquias que se
revesavam no poder. Após a separação da Venezuela em 1829 da Grã-Colômbia,
realizada por José Antônio Paez, deu-se início ao período das ditaduras. A
Venezuela a qual estava separada da política e da economia espanhola sofreu um
duro golpe para se manter estável.
Os
gastos gerados durante os anos de guerra, causaram uma profunda miséria no país,
principalmente entre a classe baixa e os libertos (ex-escravos), mas por outro
lado, os próprios latifundiários também receberam um duro golpe nas
exportações, já que a Espanha se recusara comprar suas mercadorias, e tentava
boicotar suas vendas a outros países das Américas.
Juan Crisóstomo Falcón |
Durante
os 18 primeiros anos da nova república, o governo foi chefiado por uma
oligarquia conservadora, a qual se manteve sob a égide de seus ditadores para
controlar um Estado a beira de um colapso interno. De 1848 a 1858 a Família Monaga
derrubou a então oligarquia governante e assumiu o poder até 1859 quando se
deflagra a primeira grande revolução deste período. A chamada Revolução Federal
(1859-1863) encabeçada pelos federalistas, derrubaram os Monagas do poder e
elegeram Júliam Castro como seu novo presidente. Júliam foi substituído por Juan
Crisóstomo Falcón, o qual em 1863, elaborou a primeira constituição do país, a
Constituição de 1864, ano que foi aprovada pelo Estado. A constituição deu um novo caráter ao Estado venezuelano.
"Em
1864 se preparou una nova constituição que consagrava os direitos, a
propriedade, a inviolabilidade do lar doméstico, a liberdade de instrução, o
direito ao voto dos maiores de 18 anos, e a abolição da pena de morte”. (Fonte:
http://www.presidencia.gob.ve/venezuela_historia.html).
Mesmo
com a nova constituição elaborada, não tardou para que os problemas voltassem a
assolar o país. De 1866 a 1870 se desenrolou uma guerra civil liderada pelos
partidos conservadores contra os liberalistas.
General Guzmán Blanco |
O
conflito teve fim com a vitória do general Antonio Guzmán Blanco, membro do
Partido Liberal, o qual assumiu a presidência em três momentos: 1870-1877,
1879-1884 e 1886-1887. Guzmán Blanco mesmo governando como ditador, tentou dar uma reviravolta nas crises do país. Ele abriu a economia da Venezuela para
capitais estrangeiros a fim de conseguir amenizar os problemas
econômicos. Também visou uma política contra o analfabetismo, a construção de
obras públicas como escolas, hospitais, estradas, além de investir na
modernização dos meios de comunicação. Por outro lado, seu governo também foi marcado pela forte oposição ao clero. Tendo
ele promovido uma política anticlerical. No entanto, sua política de abertura
econômica para o exterior prejudicou parte dos empresários e latifundiários
venezuelanos. E tal fato contribuiria para revoltas posteriores. Com o fim do
governo de Guzmán Blanco, outros ditadores assumiram o poder, entretanto até o
ano 1899, várias pequenas revoluções eclodiram pela Venezuela. Dentre as quais se destacaram: A Revolução
Legalista (1892), a Revolução Restauradora (1899) e a Revolução Libertadora
ocorrida nesse meio tempo, promovida pelo interesse de alguns latifundiários
patrocinados por banqueiros.
Cipriano Castro, líder revolucionário |
Entretanto
foi a Revolução Restauradora liderada por Cipriano Castro em 1899, que poria
uma nova ordem na Venezuela, assumindo posteriormente como presidente do país. Se antes a economia era basicamente agrícola, esta
passaria a ter como principal produto o petróleo. Se por um lado a Venezuela entrava
para a economia do século XX como um exportador de petróleo, Cipriano Castro,
abriu as portas para o governo de outros ditadores, os quais governariam até
1945, quando o então presidente Isaías Medina Angarita (1941-1945) foi deposto
por Rómulo Betancourt, membro do Partido Ação Democrática (Accíón Democrática). Em
1947 ocorreram as primeiras eleições livres, onde o povo venezuelano pode
escolher seu presidente, algo negado até então. O primeiro presidente eleito
pelo voto livre, foi Rómulo Gallegos (1948-1953), deposto por um golpe de
Estado. O novo presidente, o general Marco Peréz Jiménez (1953-1958) promoveria a modernização do país, mas ao mesmo tempo visando interesses das oligarquias políticas, e fazendo uma forte opressão aos partidos rivais. De fato alguns historiadores dizem que este período marca a Ditadura Militar da Venezuela, como também viria ocorrer nos anos seguintes em outros países da América Latina.
Rómulo Betancourt votando nas primeiras eleições livres da Venezuela, em 27 de outubro de 1947. |
“O
governo de Marcos Pérez Jiménez é considerado uma ditadura autoritária e
personalista que silenciou as forças da oposição, proibiu os principais
partidos políticos tanto de direita como de esquerda, fechou meios de impressão
que o criticavam, e impôs a censura a rádio e a televisão. Durante seu governo
um grande número de seus detratores foram perseguidos, torturados,
assassinados, enviados ao exílio ou encarcerados sem encargo algum ou por se
suspeitarem de sua oposição ao governo, com a força da "Seguridad Nacional", sua tendência fora conservadora”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/venezuela_historia.html).
Com
o fim do governo de Pérez, a nova etapa da política Venezuelana foi chamada por
seus historiadores de “Puntofijista”.
Governo este voltado para interesses particulares e externos. O qual desprovia o povo
de participar do governo.
“O
presidente Carlos Andrés Perez, eleito democraticamente em 1973, nacionalizou a
indústria do ferro e do petróleo. Após a guerra Árabe-Israelense de 1973, a Venezuela foi
aceita como membro fundador da OPEP, triplicando o preço de seu petróleo. A
imensa receita atraiu milhares de imigrantes, elevou os gastos públicos e as
importações de artigos de luxo, e corrupção. Neste período de opulência,
reforçou-se uma pequena elite econômica, ampliando ainda mais as desigualdades
sociais”. (Fonte: http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php).
Os
problemas sociais, políticos e econômicos gerados desde a década de 50, vieram
gradativamente se acentuando, até explodirem nas revoltas a partir da década de
80 e 90, que levariam a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1999.
A Era Chávez
A Era Chávez
Hugo
Rafael Chávez Frías (1954-2013), nasceu em Sabaneta, onde concluíra o ensino fundamental e médio, ingressou aos dezessete anos na Academia Militar
da Venezuela, onde seguiu carreira militar. Foi no campo militar que Chávez
tivera contato com as ideias revolucionárias como o socialismo, marxismo,
comunismo, etc. Entretanto a figura que lhe inspirou mais, foi o herói da pátria
venezuelana, Simón Bolívar. Sob tal influência, Chávez começou a ingressar no
meio político, participando de partidos populares, grupos de esquerda, passeatas, grêmios, etc. Ele
até mesmo chegou a se formar em Ciências Políticas , pela Universidad Simón
Bolívar.
“Seu
desempenho em numerosas responsabilidades profissionais e seu estreito contato
com distintas comunidades o permitiu vivenciar o drama político e social que
padece a República nesses tempos, motivando em seu ser, a busca de novas alternativas
que respondão as crises política e econômica que embargava a Nação”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/gobierno_presidente.html).
Chávez
percebeu que os próprios partidos da esquerda, entravam em confronto entre si,
não prestando o merecido apoio paras as lutas contra o governo da direita e
pelo povo. Em sua vivência no Exército, ele notou como os camponeses eram
utilizados como “cães de briga” para matarem outros camponeses, tudo por ordem
das oligarquias dominantes, das quais muitas estavam profundamente ligadas ao
imperialismo estadunidense, algo que Chávez era contra.
Então
para tentar por ordem nesses problemas, em 17 de dezembro de 1982, ano do
bicentenário do nascimento de Simón Bolívar, Chávez criou o Exército Bolivariano Revolucionário
(EBR-200). O EBR-200 visava promover uma reestruturação na política
venezuelana, lutar pelas eleições populares, a reforma agrária, combater o
imperialismo estadunidense e as oligarquias governantes. O grupo visava uma
“união civil-militar”, como diz o professor Carlos Cesar Almendra.
Outros
partidos motivados pelas ideias bolivarianas pregadas por Chávez, com base em Simón Bolívar , Simón
Rodriguez e Ezequiel Zamorra, levaram a tais grupos a se unirem ao EBR-200, no
qual em 27 de fevereiro se tornou o Movimento
Bolivariano Revolucionário (MBR-200), e no mesmo ano o partido empreendeu
um golpe de Estado contra o então presidente Carlos Andrés Pérez. O golpe
acabou falhando e Chávez e seus partidários foram presos. No ano seguinte o
presidente Carlos Andrés Pérez sofreu um impeachment, e foi destituído do poder, assumindo, Rafael Caldera, o qual em 1994, libertou Hugo Chávez e seus partidários.
“Do
cárcere - lugar onde se consagrou ao estudo, reflexão e análises da realidade
nacional e internacional - Hugo Chávez saí a recorrer todos os confins pátrios,
reivindicando ideais libertários e justiceiros que foram compartilhados
entusiasticamente por um amplo setor da população venezuelana. Funda então,
junto com um qualificado grupo de companheiros de armas, o Movimiento V República. Esta organização política, em união com
outras tantas organizações tais como o Movimiento
al Socialismo (MAS), Pátria Para
Todos (PPT), Partido Comunista de
Venezuela (PCV), Movimiento Electoral
del Pueblo (MEP) e de um amplíssimo espectro de instancias da sociedade
civil, o catapultariam como Primeiro Magistrado da Nação”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/gobierno_presidente.html).
Não
obstante, devo dizer que além de conservar e reformular as ideias bolivarianas,
Chávez passou a ser fortemente influenciado pelas ideias socialistas, tendo
como principal modelo a Revolução Cubana e o próprio Fidel Castro.
“[...]
os números relativos à pobreza pularam para 66,7% em torno de 1995. Esse é o
cenário que explica o triunfo eleitoral subseqüente de Chávez. Sua participação
na rebelião de 1992 foi vista pela maioria dos venezuelanos como uma tentativa
quixotesca de derrubar um sistema corrupto e indefensável”. (GOTT, 2004, p. 78).
Com
a criação do Partido do Movimento da Quinta República, Chávez ganhou apoio da esquerda
para se candidatar a presidência nas eleições de 1998. Candidato do Pólo
Patriótico, em 6 de novembro com a aprovação de 56% dos votos, Hugo Rafael
Chávez Frías era eleito o novo presidente do Estado Venezuelano (nome oficial
do país na época).
Para
alguns historiadores venezuelanos, o ano de 1999 foi o ano da “refundação da
república” na Venezuela. De fato, o nome oficial do país passou a ser República
Bolivariana da Venezuela. Chávez no primeiro ano de seu mandato, iniciou a
formação de uma Assembleia Nacional Constituinte para votar a respeito das
mudanças que seriam realizadas no país. Ele queria pôr definitivamente o
direito ao voto, a democracia seria de fato uma democracia. Se antes, somente
certas oligarquias estavam no controle do poder, Chávez queria trazer o povo de
volta para a participação política do país. Por outro lado, isso foi um duro
golpe para as elites dominantes, as quais na época eram responsáveis por 50% do
PIB interno. Se um por um lado, as elites estavam contra o governo de Chávez,
de se contrapor ao imperialismo estadunidense, de nacionalizar empresas, algo
que geraria um grande problema posteriormente. Ele contava com o apoio das
massas, do povo. Já que na época, 80% da população se encontravam na classe
baixa.
No
ano de 2000, Hugo Chávez reformulou a divisão política do país, e propôs uma
nova eleição para sua candidatura para presidente. Ganhou novamente às
eleições, seu mandato iria até 2006. Tais eleições foram chamadas de
Megaeleições (Megaelecciones). Na
qual além da votação do próprio presidente, outros cargos públicos foram
votados, além da permanência da Assembleia Nacional e da aprovação de uma nova
constituição. A última constituição aprovada foi a de 1984.
“O
imperialismo estadunidense e a oligarquia racista local, temendo perder seus
privilégios, logo acusaram o tranco. A partir das acaloradas discussões na
Constituinte, a oposição reacionária não dá mais trégua ao governo. Há uma
inflexão no quadro político. Na Constituinte, concluída em dezembro de 99, a maioria bolivariana
amplia a democracia, incorporando várias formas de participação popular –
inclusive o inédito "referendo revogatório", fixado no artigo 72. A nova Constituição
define as bases para a reestruturação do corrompido Poder Judiciário e altera o
nome do país para República Bolivariana da Venezuela – num ato de enorme simbolismo.
Ela ainda amplia os direitos sociais e incorpora as demandas indígenas. Em 15
de dezembro de 1999, um referendo popular ratifica a nova Constituição com 71%
de aprovação”. (Fonte: http://alainet.org/active/6542&lang=pt).
2001
foi o ano das chamadas Leis Habilitantes (Leyes
Habilitantes), as quais Chávez promoveu uma reforma econômica, na tentativa
de se livrar da dependência do FMI e do Banco Mundial, organizações estas que
para ele são manipuladas pelos interesses dos Estados Unidos. Por outro lado,
ele também levou a cabo um movimento de nacionalizar suas empresas.
“Dos
grupos importantes de leis habilitantes foram ativados pelo presidente Hugo
Chávez entre os anos 1999 a
2001. Entre elas destacam as leis tributarias, a eliminação de alguns
organismos públicos, a modernização dos trâmites administrativos e as relações
entre o Estado e o setor privado. Durante este ano o Presidente Hugo Chávez
também concreta a criação do sistema microfinanceiro, assim como das leis que
regulam as atividades produtivas do setor privado. Assim mesmo, se reforma a Ley de Hidrocarburos e se cria o Banco de Desarrollo Económico y Social de
Venezuela. Se retoma de este modo a indústria petrolífera como empresa pertencente
à Nação”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/gobierno_presidente.html).
Com
tal medida, Chávez conseguiu fortalecer a economia do país, já que os
investidores privados compravam o petróleo venezuelano abaixo do preço de
mercado, e por outro lado, a nacionalização contribuiu para um aumento de 80%
do lucro, amenizando a dívida da Venezuela que era de US$ 31,6 bilhões em 1998
para US$ 22,5 bilhões no final de 2002. Com os lucros adquiridos, Chávez
priorizou o investimento na educação, na saúde, no combate a pobreza. As elites
viram isso como um péssimo momento para seus negócios e se puseram a agir.
Grupos
da direita se uniram para atacar e por um fim no governo de Chávez. Na época
o próprio presidente dos Estados Unidos, George W. Bush foi acusado de ter
enviado membros da CIA, para levar a cabo um golpe de Estado contra o presidente
Hugo Chávez.
Os
dias 11, 12 e 13 de abril de 2002 ficariam lembrados na história da Venezuela
como os dias nos quais o imperialismo tentou predominar sobre o
bolivarianismo. Como é mostrado no documentário A revolução não será televisionada, um grupo da direita, composto por membros e motivados pelos interesses da Fedecamaras (Federación de Cámaras y Asociaciones de Comercio y Producción de
Venezuela), promoveram um golpe de Estado. O presidente Hugo Chávez foi sequestrado e mantido em
cativeiro. Enquanto isso, os responsáveis pelo golpe se
dirigiram para a sede do governo, o Palácio de Miraflores. Como ficou
evidenciado no documentário, o planejamento do golpe se iniciou na embaixada
americana, e se espalhou pelas redes de televisão e rádio privada, as quais
começaram a criticar o governo de Chávez, e a transmitirem a informação de que ele
havia renunciado do cargo, e com isso, Pedro Carmona assumira a presidência interinamente. E como
primeira medida tomada, ele suspendeu a Constituição Bolivariana promulgada em 1999.
No
entanto, o povo se relutou a acreditar que Chávez havia realmente renunciado ao
poder, e posteriormente, ainda no dia 11 de abril, uma das filhas de Chávez avisou ao
povo venezuelano que seu pai havia sido sequestrado e que haviam tomado o
poder. Num ímpeto de revolta e fúria o povo partiu para as ruas em direção ao
Palácio Miraflores. De acordo com os produtores do documentário, os ciclos
bolivarianos tiveram grande contribuição para a reunião das massas, já que
estes pequenos ciclos distribuídos e organizados entre as comunidades e
bairros eram o que realmente representavam a ligação direta do povo com o poder
Nacional.
“Criado
em 17 de dezembro de 2001, no 19º, aniversário do MBR-200. (...)
Estatutariamente, os círculos bolivarianos são grupos organizados, formados,
por sete a onze pessoas, que se reúnem para discutir os problemas da sua
comunidade, canalizá-los para o organismo competente e buscar a solução.
Funcionam à concepção de assembléias populares, em que se discutem, sobretudo,
matérias de interesse local e problemas do dia-a-dia, e a prestação de serviços
comunitários. (...) o presidente Hugo Chávez criou os círculos bolivarianos
para dar capilaridade à sua revolução, criando agentes de difusão do pensamento
bolivariano que alcançam os pequenos recantos da sociedade onde os pesados
braços do Estado não podem chegar”. (UCHOA, 2003, pp. 213-216).
Se
por um lado, há aqueles que diziam que Chávez era inocente, grande parte da mídia
mundial criticava o golpe de Estado como sendo algo necessário para se combater
a “ditadura” de Hugo Chávez. Entretanto por mais que a oposição tentasse se
manter no poder, o Exército e o próprio partido de Chávez ainda o apoiava, além
do povo em si. Então
em uma reviravolta tremenda, as forças armadas do Palácio de Miraflores, deram
um contra-ataque e prenderam parte dos intrigantes do golpe. No entanto, Carmona
e outros membros acabaram fugindo. E em 13 de abril, Chávez foi localizado em
uma base militar e retornou para o palácio do governo onde fez um discurso ao
vivo, revelando o fato ocorrido. Após o primeiro golpe de Estado de seu
governo, Chávez voltava ao poder.
“Outro
aspecto importante do documentário é a revelação da manipulação dos canais de
televisão comerciais sobre os responsáveis pelos assassinatos dos manifestantes
em 11 de abril de 2002. Todos os canais privados de televisão que, junto à
imprensa escrita e radiofônica, justificaram o golpe de estado de 11 de abril
com uma edição de imagens em que aparece um grupo de apoiadores de Chávez,
situados na Ponte Llaguno de Caracas, realizando disparos. Estas imagens foram
utilizadas para afirmar que "Chávez foi quem ordenou disparar contra a
multidão". "A revolução não será televisionada" demonstra, ao
apresentar a edição completa da seqüência de imagens (manipulada na edição das
TVs), que os grupos situados sobre a Ponte Llaguno de Caracas respondem ao fogo
de franco-atiradores (estes sim atiram nos manifestantes) e não disparam sobre
os manifestantes”. (Fonte: http://www.cecac.org.br/mat%E9rias/Venezuela.htm).
Em
2003, Chávez dera uma reviravolta no controle da PDVSA (Petróleos de Venezuela,
S.A), principal empresa petrolífera do país, por muito tempo esteve quase que
nãos mãos de corporações privativas. Chávez destituiu o poder dessas
corporações e reverteu o lucro da empresa para o investimento no país. Na mídia
mundial, tal fato fora exposto como a grande demissão em massa de funcionários
da empresa. Entretanto a mídia não disse que muito desses funcionários
trabalhavam para empresas fantasmas ou eram “laranjas”.
Cartaz de Hugo Chávez localizado na refinaria da PDVSA em Los Tanques. |
No
ano seguinte o governo bolivariano de Chávez começava a agir com maior eficiência.
Em 2004, Chávez assinou com Fidel Castro, a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas - em 2009 a ALBA sofreu algumas mudanças) em contra partida da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas)
a qual visava interesses próprios dos Estados Unidos. Com a ALBA, Chávez procurou
criar um bloco econômico para ajudar os países latino-americanos. Atualmente o
Brasil ainda não se encontra como membro da ALBA. Entretanto ele apóia o
comércio com Cuba e Venezuela.
Mapa retratando os países membros da ALBA-TCP Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América - Tratado de Comércio dos Povos |
Com
o início da aliança entre Venezuela e Cuba, Fidel Castro na época então
presidente (Castro renunciou a presidência em 2006), enviou um verdadeiro batalhão de médicos e professores para a
Venezuela. Em pouco tempo a população fora alfabetizada, e centenas de postos
de saúdes foram criados entre as comunidades e os bairros mais pobres do país. Esse
fora um grande passo para a Venezuela no combate do analfabetismo, desemprego e
a pobreza.
Em
2005, a
Venezuela se uniu ao Mercosul. Como também expandiu seu intento de caridade por
outros países, levando professores e médicos para a Bolívia de Evo Morales, e
outros países da América Central. No âmbito econômico seu PIB cresceu muito
como não se havia visto antes. Por outro lado, no ano seguinte, ano do fim do
segundo mandato de Chávez, este mexeu novamente na Constituição Bolivariana,
permitindo agora a reeleição ilimitada ao cargo de presidente. E novamente ele
se candidatara a presidência e vencera com a maioria dos votos. Por um lado a mídia
mundial viu isso como um crime a democracia, por Chávez ter sido reeleito a
segunda vez consecutiva, passando a assumir seu terceiro mandato.
Chávez de 2007 para cá vem tentando fazer a
Venezuela se tornar futuramente um país plenamente socialista, mas esse sonho ainda está longe. Chávez vem vivenciando problemas desde 2010. De fato, em
alguns sites, você quando procura a respeito de que tipo de governo é o da
Venezuela, muitos já falam de uma república socialista. Se por um lado o medo
do comunismo e do socialismo acabou com o final da Guerra Fria (1945-1991), hoje em dia,
Venezuela, Coreia do Norte e China, são os países que ainda mais põem medo nos
interesses estadunidenses. Fato
este que quase toda a reportagem que sai atualmente de Chávez, fala mal de sua
“ditadura”, no caso da Coréia do Norte, eles estão produzindo armas nucleares, e já a China vem apresentando um crescimento comercial assombroso.
Conclusão
Conclusão
Depois
desta breve retrospectiva da história revolucionária venezuelana até a época de Simón
Bolívar, posso levantar alguns pontos a respeito de como hoje a Venezuela serve
de exemplo de uma nação a qual por longos anos passou pelas mãos de vários
ditadores; passou por crises, miséria e guerras civis, e entrou no século XXI,
como um país, por mais que tendo a riqueza do petróleo, bem atrasado em
aspectos sociais, educacionais, políticos, etc. Mas, mesmo sob tantos
problemas, esta conseguiu magistralmente aos poucos se erguer deste peso que lhe
punha ao chão. Apesar que nos últimos anos o governo chavista venha apresentando sinal de desgaste e a saúde abalada de seu líder sugira um futuro incerto.
Não
estou dizendo que acho que Chávez seja o melhor governante do mundo, como alguns sugerem, ele cometeu seus erros, como no ato de perpetuar-se no poder mais do que deveria. Porém, é inegável
que sua determinação, seu amor a pátria, a justiça a democracia ajudaram a
suportar as maiores adversidades para se chegar ao poder e ainda permanecer neste. Depois de ter sido preso, ridicularizado, sofrido um sequestro e um golpe de Estado. Seu governo e um
pouco mais de dez anos, mudou profundamente a cara da nação venezuelana, trazendo melhorias, embora que essas melhorias possam estar sob ameaça.
Por
mais que haja críticas as suas medidas, suas escolhas, acusações dos Estados
Unidos, de nações sul-americanas e europeias que Chávez esteja agindo como um ditador; a Venezuela se encontra muito melhor hoje, do que foi há mais de cem anos. Não falo por questões tecnológicas ou
econômicas, mas principalmente por questões sociais. Hoje o povo pode dizer que a Constituição que eles defendem, realmente
adianta, por mais que não seja cem porcento, e de 2008 em diante o governo de Chávez decaiu em relação aos primeiros anos. Sua Constituição se tornou um símbolo para o povo
venezuelano, um símbolo da sua luta pela independência, justiça, progresso,
igualdade e liberdade. Se
Bolívar e Chávez podem ser chamados de heróis, loucos ou tiranos, não sei ao certo. Mas,
é inegável o que eles fizeram pelo seu país.
Referências Bibliográficas:
GOTT,
Richard. Debaixo de Chuva. À Sombra do
Libertador, São Paulo, Expressão Popular, 2004.
ALMENDRA,
Carlos Cesar. Hugo Chávez e a Revolução
Bolivariana na Venezuela. In: IV Colóquio Marx e Engels, 2005, Campinas.
4o. Colóquio Marx e Engels, 2005.
UCHOA,
Pablo. Venezuela – A encruzilhada de Hugo Chávez, São Paulo, Globo,
2003.
CASTRO,
Fidel. As reflexões de Fidel: A Revolução
Bolivariana e as Antilhas. Agência Cubana de Noticias (ACN), 2010.
ROUSSEAU,
Jean Jacques. O Contrato Social,
Porto Alegre, L&PM, 2009.
Grande Enciclopédia
Larousse Cultural.
São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Referência
audiovisual:
BARTLEY, Kim; O’BRIAIN, Donnacha. A revolução não será televisionada. [Filme-vídeo]. Produção da Power Picture associada à Agencia
de Cinema da Irlanda. Irlanda, 2003. 1 DVD/NSTC. 74 min. Color. Som.
Referências virtuais:
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