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Leandro Vilar

sexta-feira, 22 de março de 2013

Francisco: O papa latino-americano

No dia 13 de março de 2013 o conclave elegeu o 266o papa, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, entrou para a História recente por vários motivos: 
  • Tornou-se o primeiro papa jesuíta assumir o pontificado;
  • Foi o primeiro sul-americano e latino-americano a assumir o papado;
  • Se tornou o primeiro papa argentino;
  • Sendo o primeiro papa não-europeu em 1282 anos, em que o último papa não-europeu a ser eleito, foi São Gregório III, nascido na Síria, o qual governou de 731 a 741;
  • Também foi o primeiro papa a ser eleito após seu antecessor ter renunciado o mandato, algo que não acontecia em 493 anos.
Embora seja um acontecimento recente da História contemporânea, já vale a menção de ser comentado aqui não apenas como uma notícia jornalística, mas como um episódio que já começa fazer história na História da Igreja Apostólica Romana e do Cristianismo. Para isso, procurei apresentar alguns aspectos que marcam a renúncia de Bento XVI e o final de seu pontificado e a eleição do novo papa Francisco, neste breve relato. Todavia os interessados em mais informações, sintam-se a vontade em conferir as referências ou procurar outras fontes. 

Papa Francisco

Antecedentes: A renúncia de Bento XVI

Em 11 de fevereiro de 2013, Bento XVI anunciou no dia da Independência do Vaticano, que iria renunciar ao papado no dia 28 de fevereiro. A notícia surpreendeu o mundo, ninguém imaginava que o papa fosse renunciar ao pontificado após sete anos e alguns meses a frente do governo, e, além disso, a renúncia de papas embora seja permitido pelas leis da Igreja, nunca foi algo comum. O último papa que havia renunciado foi Gregório XII, em 1415, o qual havia sido eleito papa em 1406. Na época, devido há problemas políticos pela Itália e o Grande Cisma do Ocidente, o qual desde 1377 havia dividido o papado entre Roma e Avignon na França, chegando em alguns momentos há haverem três papas (os outros eram chamados de antipapas, e a Igreja não os reconhece como tendo sido oficiais), a solução encontrada para pôr fim a este cisma, era que o então papa Gregório XII renuncia-se ao mandato. O papa aceitou a exigência e renunciou ao papado, sendo Marinho V eleito seu sucessor. O cisma terminou em 1417 no Concílio de Constança 

Papa Gregório XII, havia sido o último papa a renunciar antes de Bento XVI. 

No caso do papa Bento XVI os motivos ainda não são claros, mas várias hipóteses circulam atualmente. Mas antes de chegarmos nestas, devemos fazer um breve retrospecto para ver alguns aspectos da pessoa do papa emérito (título honorífico agora pelo qual é chamado). Joseph Aloisius Ratzinger (1927-2022), o qual se tornou o papa Bento XVI, nasceu em 1927 em Marktl am Inn na Alemanha, sendo o terceiro filho de Joseph Ratzinger, que era comissário de polícia e da cozinheira Maria Ratzinger

Seus pais eram católicos devotos, e quando os nazistas assumiram o poder, sua família se mostrou contrária as ações radicais dos nazistas. Depois de terem mudado para uma cidade maior a fim de melhor educar os filhos, Joseph despertou interesse pela vida eclesiástica e posteriormente entrou no seminário, no entanto no ano de 1939, ano que eclodiu a Segunda Guerra, foi baixado um decreto no qual todos os jovens deveriam ser alistados obrigatoriamente. 

Entre 1943 e 1944, Joseph e outros seminaristas foram obrigados a servir no exército nazista, Joseph foi designado para trabalhar em cargos auxiliares e não propriamente ir para o campo de batalha, pois não possuía nenhuma experiência militar, dentre os locais que ele trabalhou, estava a base antiaérea da BMW (a BMW antes de começar a fabricar carros, produzia motores de trator, caminhão e até motores de avião) na época nos arredores de Munique. Com o fim da guerra, ele e outros alemãs se renderam e foram presos pelas forças da Aliança, vindo a ser solto depois que completou 18 anos. 

Joseph A. Ratzinger
Retornando para casa com seu irmão
Georg (o qual também serviu no exército), os dois retornaram aos estudos seminaristas e passaram a seguir a carreira sacerdotal. Em 1951, o Arcebispo de Munique o ordenou sacerdote. Entre as décadas de 1950 e 1960, Ratzinger formou-se em Teologia, chegando a fazer doutorado, como também atuou como professor, além de atuar como teólogo convidado no Segundo Concílio do Vaticano (1962-1965). Em 1977, o papa Paulo VI o ordenou Bispo de Munique e depois cardeal. Ratzinger também escreveu vários artigos e alguns livros, hoje é considerado um dos mais respeitados nomes da teologia atual, e devido a sua experiência com isso, conseguiu se aproximar e ganhar a admiração do papa João Paulo II, tornando-se conselheiro do mesmo a partir de 2002.  


João Paulo II faleceu em 2 de abril de 2005 aos 84 anos, tendo realizado um pontificado de 24 anos, sendo o terceiro papa com mais tempo de governo. O conclave foi convocado para o dia 18 de abril, no entanto, naquele primeiro dia não houve resultado. No dia seguinte o resultado foi anunciado, Ratzinger, um dos favoritos ao papado, foi eleito, curiosamente quem ficou em segundo lugar foi o cardeal Jorge Mario Bergolio. Ratzinger que assumiu o nome de Bento XVI, na época tinha 78 anos.

Papa Bento XVI

Não irei me deter a comentar passo a passo o pontificado de Bento XVI, porém, embora tenha governado por sete anos e poucos meses, seu pontificado foi regular e em dados momentos marcados por alguns problemas. Chamado de conservador pela mídia internacional e homem de pouco carisma em comparação ao seu antecessor, se envolveu em polêmicas ligadas ao uso de preservativos, casamento homossexual, pesquisas genéticas, omissão de clérigos acusados de crimes de pedofilia e abuso de menores; "indiretas" aos muçulmanos, etc.

No entanto, o papa durante esses anos criticou as ações econômicas mundiais por cada vez mais deixarem "o lado humano" e se importarem apenas com o "capital", criticou a falta de solidariedade aos países pobres, afetados pela fome, seca, doenças e guerras civis. Criticou aqueles que defendem a eutanásia e o aborto; a falta de apoio e consideração aos deficientes, órfãos e idosos, etc. 

Ao ter anunciado sua renúncia, o papa alegou que com seus 85 anos, já não tinha mais forças para se manter a frente do governo e geri-lo de forma adequada. Alguns jornais alegaram que ele estivesse com problemas de saúde, mas o Vaticano negou, dizendo que ele estava bem de saúde, porém, o seu ofício era exaustivo para um homem de sua idade. No entanto, para outros jornais o motivo da renuncia do papa teria sido os escândalos que vieram a público no ano passado, que ficaram conhecidos como Vatileaks (alusão ao Wikileaks).   

Em 2010, o Vaticano havia sido confrontado por acusações de que padres e bispos na Irlanda e nos Estados Unidos, estavam sendo acusados de pedofilia e abuso de menores, na ocasião, o papa não se pronunciou diretamente a respeito disso, e a oposição considerou uma omissão gravíssima de sua parte. Porém, a grande polêmica veio à tona no final de 2012, com o chamado Vatileaks, documentos ditos oficiais do Vaticano, onde revelam indícios de corrupção interna, lavagem de dinheiro, associação com prostituição, omissões, homossexualismo, ligação com grupos terroristas e mafiosos, etc. 

O ex-mordomo do papa Bento XVI, Paolo Gabriele, foi preso por ter furtado documentos pessoais do gabinete do papa, no entanto, ele foi perdoado pelo mesmo, mas ainda irá responder por seu crime. Além disso, alguns dos documentos do Vatileaks que vazaram pela internet, foram publicados num livro do jornalista Gianluigi Nuzzi, intitulado, Sua Santidade, as Cartas Secretas de Bento XVI. As acusações do Vatileaks ainda estão sendo analisadas pela polícia para averiguar sua veracidade, como as investigações ainda não deram resultados conclusivos, não irei me pronunciar a respeito, mas quem tiver interesse pode procurar pelos documentos. Além do ex-mordomo, alguns cardeais, bispos, funcionários ligados a administração do Estado do Vaticano e ao Banco do Vaticano estão sendo acusados de fazerem parte destas tramoias. 

Logo, devido a tais acusações, alguns jornalistas e cientistas políticos, alegaram que a renuncia do papa na realidade não teria sido por causa de cansaço ou motivos de saúde, mas sim por causa destas polêmicas, no que levaria a sociedade a considerar o papa Bento XVI um mal governante e um homem de pouca credibilidade em sua gestão, então para se evitar piores problemas, ele teria renunciado. Gianluigi Nuzzi em seu livro de 2009, Vaticano SA, diz que anteriormente o próprio papa João Paulo II também teria tido problemas com essa divisão interna no Vaticano e problemas similares. Para alguns críticos, a renuncia do papa e um novo conclave, fora um meio do Vaticano dirigir as atenções da mídia para outro assunto, neste caso o novo papa. 

Habemus papam: O papa argentino

Jorge M. Bergoglio
Antes de falarmos a respeito do novo papa Francisco, irei falar um pouco dele, como fiz com o papa Bento XVI. Jorge Mario Bergoglio era o filho caçula de cinco filhos dos imigrantes italianos Mario Bergoglio e Regina Bergoglio, os quais se mudaram para Buenos Aires, capital da Argentina. Seu pai era ferroviário e sua mãe dona de casa. Jorge nasceu em 17 de dezembro de 1936 no bairro de Flores na capital argentina. Tornou-se logo cedo fã do clube de futebol San Lorenzo de Almagro, onde seu pai havia sido jogador. Bergoglio entrou na Universidade de Buenos Aires onde graduou-se em engenharia química. Tendo terminado a universidade, ele tinha planos de se casar com sua namorada chamada Amália, no entanto, como essa não aceitou o seu pedido de casamento, Bergoglio aos 21 anos decidiu se tornar padre e entrou no seminário em 1957No ano de 1958 entrou para a Companhia de Jesus, onde passaria os anos seguintes estudando e sendo professor de colégios jesuítas. Jorge graduou-se em Filosofia em 1960 e em 1969 em Teologia. Em 1969 fora ordenado padre, e no mesmo ano tivera que fazer uma cirurgia que levou a remoção de parte de um de seus pulmões por um agravamento devido a uma terrível pneumonia que o atingira quando tinha 21 anos, a qual quase lhe tirara a vida. Em 1992 tornou-se Bispo de Auca e bispo auxiliar de Buenos Aires. Em 1998 fora promovido a arcebispo. Finalmente em 2002, o papa João Paulo II o reconheceu como cardeal. Nestes anos publicou vários livros. 

Bergoglio é descrito como um homem simples, de bom humor, que gosta de futebol, de tango e de ler, como aponta sua biografa, a jornalista argentina Francisca Ambrogetti, coautora da biografia oficial do papa Francisco, intitulada El Jesuíta. Nos últimos dias deu-se para notar que o papa não gosta muito das formalidades que se exigem de seu cargo, tanto como papa, como chefe de Estado. Francisco usa trajes simples, e optou em usar um crucifixo de ferro ou invés do habitual crucifixo de ouro, assim como trocou o trono papal de ouro por um trono mais simples. Suas vestes também não mostram o requinte das antigas vestes papais. 

Dentre algumas das posições que o novo papa defende e apoia, estão: é contra o aborto, a eutanásia e o casamento homossexual. Dedicou-se a promover campanhas de ajuda aos pobres, aos doentes e a combater a desigualdade social. Acerca do casamento homossexual, devemos ter em mente que desde o surgimento da Igreja, a mesma sempre se posicionou contra tal união, embora em alguns momentos tolerasse o homossexualismo como acontece hoje, mas em outros, tal prática fora condenada de heresia e perseguida pelas Inquisições. Assim, devemos ter em mente que a posição defendida pelo atual papa não é apenas particular a ele, mas sim, uma posição adotada pela Igreja Católica desde seu início, assim como também referente ao aborto e a eutanásia. 

No dia 12 de março começou o conclave para eleger o sucessor de Bento XVI, o primeiro dia terminou sem um eleito. No dia seguinte, numa quarta-feira fora anunciado que o novo papa havia sido eleito, seu nome, Jorge Mario Bergoglio, o qual adotara o nome de Francisco.

Papa Francisco

Embora tenha ficado em segundo lugar no conclave anterior, fora uma surpresa sua escolha, pois embora consta-se entre os dez favoritos, acreditava-se que os candidatos da Itália, Estados Unidos e do Brasil pudessem ser eleitos, mas Bergoglio surpreendeu pela indicação, sendo eleito com 77 de 115 votos, se tornando o primeiro papa latino-americano e argentino da História.

Para entendermos um pouco melhor acerca do conclave, no início, o papa era eleito pelo clero romano, a elite romana e os bispos das províncias romanas. Com o fim do Império Romano, os bispos das províncias romanas, foram substituídos pelos bispos das dioceses dos Estados cristãos. No entanto, entre 1059-1061, o papa Nicolau II determinou que o conclave só seria realizado pelos cardeais-bispos, os quais seriam os únicos a terem o direito de se candidatar e votar. Em 1173, o papa Alexandre III estabeleceu que a validade da eleição seria obtida se o candidato obtivesse pelo menos 2/3 dos votos. Outro fato a se mencionar é que a partir de 1492, os conclaves passaram a serem realizados com regularidade na Capela Sistina, sob maior sigilo e rigor posteriormente, como delegara o papa Gregório XV em 1622, para se evitar intervenções internas e o contato entre os cardeais na hora da votação, daí, a obrigatoriedade dos mesmos permanecerem em silêncio durante a votação e nem poderem falar um com o outro. Em 1970, o papa Paulo VI, estabeleceu a barreira dos 80 anos, como a idade máxima para que um cardeal concorra ao pontificado, pois anteriormente, houveram papas que foram eleitos como mais de 80 anos, como o caso de Gregório XII. 

O papa Francisco tem 76 anos e um duro desafio pela frente: recuperar a imagem do Vaticano abalada com os escandá-los ocorridos nos últimos três anos durante o pontificado de seu antecessor, como também se posicionar acerca de questões polêmicas que vem a cada ano sendo postas em pauta à Igreja, procurar integrar ainda mais o Catolicismo ao resto do mundo cristão e não-cristão e por em prática seus próprios objetivos, como o que ele chamara de "uma Igreja para os pobres", porém a ideia não é tornar a Igreja uma "ONG Piedosa", como ele mesmo sublinhara, mas fazer da Igreja a representante dos ensinamentos de Jesus Cristo e de Deus, assim como Cristo teria legado ao seus Apóstolos, "vão e espalhais meus ensinamentos". 

O nome Francisco

Bergoglio escolhera o nome de Francisco, o primeiro a fazer tal escolha, em homenagem a dois santos, São Francisco de Assis (1182-1266) e São Francisco Xavier (1506-1552), os dois foram notórios em suas épocas, por terem trazido mudanças na pregação da Igreja Católica Apostólica Romana. O mesmo dissera que a ideia de escolher o nome veio de uma frase que o arcebispo emérito de São Paulo no Brasil, o cardeal Cláudio Hummes dissera: "não esqueça dos pobres".

"Na eleição, eu tinha ao meu lado o arcebispo emérito de São Paulo, um grande amigo. Quando a coisa começou a ficar um pouco perigosa, ele começou a me tranquilizar. E quando os votos chegaram a 2/3, aconteceu o aplauso esperado, pois, afinal, havia sido eleito o Papa. [...] Ele me abraçou, me beijou e disse: 'Não se esqueça dos pobres'. Aquilo entrou na minha cabeça. Imediatamente lembrei de São Francisco de Assis". (G1). 

Nascido Giovanni di Pietro di Bernardone, o qual ficaria conhecido como São Francisco de Assis ou apenas São Francisco (pois fora o primeiro santo com este nome a ser canonizado), nasceu na Itália medieval, no seio de uma próspera família burguesa de Assis. Seu pai, Pietro di Bernadone dei Moriconi era um comerciante bem sucedido e sua mãe, Pica Bourlemont era de origem francesa, fato onde seu pai possuia grande admiração pela França e sua cultura. Sabe-se que Giovanni cresceu com conforto, mas as hagiografias contam que ele fora um adolescente rebelde e indisciplinado. Giovanni chegou a entrar no exército por volta de 1202, com o senho de se tornar um herói e progredir na carreira militar, mas acabou sendo preso, e ficou gravemente doente, depois disso voltou ao serviço militar, mas começou a notar que não tinha vocação para ser soldado. Contam os hagiógrafos que ele teria ajudado um leproso que estava largado em uma rua em Assis, e sentia muito frio; Giovanni que na época já era chamado de Francisco, cobrira o leproso com seu manto. A partir deste acontecimento ele teria ido orar na Igreja de São Damião, onde tivera a revelação de Deus. Um dos episódios mais marcantes da sua renúncia fora quando ele se despiu de suas luxuosas roupas e joias e as jogou aos pés de seu pai, e disse que renunciava a herança deste, pois dedicaria-se a evangelização, tornando-se um missionário e fundando a Ordem dos Frades Menores em 1209. A ordem também é conhecida como Ordem de São Francisco ou Ordem dos Franciscanos, onde os seus seguidores fazem votos de celibato, obediência e de pobreza, renunciando ao luxo, seguindo uma vida dedicada a pregação, a caridade e a ajuda principalmente dos pobres e dos doentes. 

Basílica de São Francisco de Assis, Itália.

São Francisco ficou conhecido por sua dedicação a evangelização, por sua simplicidade e humildade, sua devoção a Deus e a Igreja, seu apoio aos pobres, doentes e até mesmo aos animais (pois és protetor dos animais); ajudou na construção de igrejas, mosteiros e conventos. Na Idade Medieval, depois dos Apóstolos, São Francisco fora considerado o santo que mais se aproximou do ideal cristão pregado por Cristo. Hoje, ele é um dos santos mais reconhecidos no Cristianismo.

No caso de São Francisco Xavier, este nasceu na Espanha em Navarra, com o nome de Francisco de Jaso y Azpilicueta, o qual era filho de Juan de Jasso, na época conselheiro do rei, e de Maria de Azpilicueta y Xavier, era o filho caçula. Sua família vivia em condições confortáveis pois pertenciam a aristocracia de Navarra, além disso seu pai tinha contatos próximos ao rei de Espanha. Todavia, Navarra fora invadida e durante alguns anos ficou em guerra, seu pai falecera quando Francisco só tinha nove anos; sua mãe temendo pela segurança do filho mais novo e sua instrução, o enviara para estudar em Paris, no Colégio de Santa Bárbara, dirigido por um padre português. Francisco passara os anos seguintes estudando no colégio até ser admitido na Universidade de Paris, fora na universidade onde ele formou importantes amizades, o que incluiu o seu colega de quarto Santo Inácio de Loyola (1491-1556). Eles dois e mais alguns amigos criaram a Sociedade de Jesus, posteriormente em 1534 fora reconhecida como Companhia de Jesus, sendo Francisco seu co-criador. Em 1537 Francisco fora ordenado padre, e passou algum tempo trabalhando em Roma, pois a ideia dele, de Inácio e dos demais era realizar uma peregrinação a Jerusalém, mas devido a insegurança gerada entre a rivalidade de muçulmanos e cristãos, eles acabaram desistindo da viagem. A missão dos jesuítas como ficariam conhecidos os membros da Companhia de Jesus que só veio a ser oficializada em 1541, era de evangelizar, ensinar e ajudar. Os jesuítas assim como os franciscanos também fazem voto de pobreza. 

No ano de 1540 o papa Paulo III recebera uma mensagem do rei de Portugal, D. João III pedindo que enviassem um novo missionário, pois Nicolau de Bobadilla que partiria com Simão Rodrigues para as Índias, acabou adoecendo gravemente. Na ocasião, o rei fora sugerido a procurar pelos jesuítas, então Inácio de Loyola sugeriu ao papa que nomeasse Francisco de Xavier para tal missão. Francisco chegou em Portugal e partiu no mesmo ano, chegando aportar meses depois em Moçambique, onde ficaram algum tempo aguardando bons ventos para seguir viagem a Índia. Em 1542 eles chegaram em Goa na Índia, chegando em maio. Pelos dez anos seguintes, Francisco de Xavier se dedicaria a pregação, conversão e ao ensino, viajando pela Índia, Málaca, as Ilhas das Especiarias (nome dado a algumas ilhas da atual Indonésia), chegou a viajar para Macau na China e fora o primeiro padre a ordenar uma missão oficial ao Japão em 1549, onde permanecera até 1551, tendo com a ajuda de cônegos, convertido os primeiros japoneses ao Cristianismo, e fundando as bases para uma missão jesuítica no país. 

São Francisco Xavier ficou conhecido como um homem de fala alegre, educado, inteligente, amigo, devoto a evangelização; um homem simples e aventureiro, pois não mediu esforços para ir a terras longínquas e estranhas para conhecê-las e levar a palavra do Senhor. São Francisco Xavier também é conhecido como "O Apóstolo das Índias" e o "Apóstolo do Oriente"

Logo, como sugerem o papa Francisco escolheu este nome como forma de aludir as pessoas dos dois santos mencionados, em se unir a devoção que ambos mostraram em suas épocas: o apoio de São Francisco aos pobres, necessitados e doentes e a devoção missionária de São Francisco de Xavier de levar a palavra de Deus a terras distantes e ao mesmo tempo procurar integrar os cristãos do mundo. No entanto, os resultados disso só saberemos com o tempo. 

Polêmica envolvendo o papa Francisco e a Ditadura Militar Argentina

Segundo alguns jornais, como o Pagina 12, no ano de 1976 durante o período ditatorial argentino, Bergoglio na época era chefe da Ordem dos Jesuítas no país, e teria sido omisso em relação a outros dois padres jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Jalics, os quais realizavam trabalhos em comunidades carentes em Buenos Aires, algo que os militares não gostaram, então os sequestraram e os torturam, pois pensavam que os dois jesuítas fossem espiões, ou estivessem pregando ideias contrárias a ditadura vigente. A acusação que recaí sobre Bergoglio é que o mesmo sabia do sequestro dos dois, mas nada fizera para resgatá-los. 

"As acusações são mencionadas no livro Iglesia y Dictadura, de Emílio Mignone, publicado em 1986, e em O Silêncio, de 2005, escrito pelo jornalista investigativo e ex-guerrilheiro argentino Horacio Verbitsky". (BBC Brasil).

Todavia, Bergoglio negara que fora omisso aos sequestros dos dois jesuítas e em 2010 voltou a negar novamente, chegando a dizer que até mesmo tentou resgatá-los.  

""Me reuni duas vezes com o comandante da Marinha nesse momento, com Massera", afirmou Jorge Bergoglio há três anos no tribunal de Buenos Aires que julgou os crimes cometidos na maior prisão da última ditadura (1976-1983), a Escola de Mecânica da Marinha (Esma), sob a direção de Massera". (Abril).

No dia 15 de março de 2013, o padre Francisco Jalics, negou a se pronunciar a respeito deste incidente, mas desejou paz e boa sorte ao novo papa. Jalics diz que depois que ele Yorio foram soltos, eles chegaram a conversar com Bergoglio, porém, o mesmo não comentou acerca desta conversa. Hoje Jalics vive na Alemanha, e Yorio, já falecera há alguns anos.

Acerca desta acusação, o juiz argentino Gérman Castelli se pronunciou em 16 de março de 2013, dizendo que as acusações contra Bergoglio não eram conclusivas e de ralo fundamento, logo, o tribunal as rejeitou por não as considerarem como sendo verdadeiras. 

"É totalmente falso dizer que Jorge Bergoglio entregou os padres. Nós analisamos, escutamos esta versão, vimos as evidências e entendemos que sua atuação não teve implicações jurídicas nestes casos. Em caso contrário, teríamos denunciado", disse Castelli ao jornal La Nación". (Exame.com). 

O segundo crime pelo qual o papa é acusado há alguns anos, é que durante a última ditadura argentina (1976-1983) teria também estado envolvido no desaparecimento de um bebê, na época a pequena Ana de La Cuadra que fora sequestrada pelos militares. Além dela, sabe-se também que outras crianças foram sequestradas pelos militares durante este período. O envolvimento do papa na época se dera no fato que a avó de Ana, a qual era co-fundadora da  organização, Avós da Praça de Maio, escrevera para Bergoglio pedindo a sua ajuda para encontrar a neta e a filha Elena, no entanto, a acusação partira da irmã de Elena, Estela de Carlotto, a qual acusara Bergoglio de ter sido omisso em ajudar, e ter mentido que desconhecia o fato do desaparecimento de crianças durante a Ditadura Argentina, pois Bergoglio nos anos 80, dissera que só veio saber acerca deste fato após o fim da ditadura. 

Recentemente, Estela de Carlotto, hoje líder das Avós da Praça de Maio, dissera  a Rádio La Red, que a organização mantem o discurso, e está aberta para ouvir o pronunciamento do papa Francisco acerca deste fato. A acusação ainda corre na justiça, mas ficara enfraquecida nos últimos anos, sendo revivida recentemente com a eleição de Bergoglio ao papado. 

""Tenemos confianza y siempre con los abiertos los brazos y el corazón para escuchar. Si alguien tiene que rendir algo a la historia, corre por cuenta de esa persona", afirmó Carlotto en la entrevista radial". (La Nácion). 

Todavia, o Vaticano se pronuncia oficialmente defendendo a inocência do papa perante estas acusações.

"Nunca houve uma acusação concreta e crível contra ele", disse o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, acrescentando que o papa - ainda enquanto cardeal Jorge Mario Bergoglio - nunca foi formalmente acusado. Lombardi atribuiu as críticas a Bergoglio a "elementos esquerdistas anticlericais sendo usados para atacar a Igreja". (BBC Brasil). 

"Ao mesmo tempo, o Prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel, também saiu em defesa do novo papa, dizendo à BBC Mundo que ele "não tinha vínculos com a ditadura". (BBC Brasil).

Como as acusações ainda não foram oficialmente encerradas, embora o parecer do juiz Castelli acerca do sequestro dos padres Jalics e Yorio seja contundente, a  segunda acusação ainda está em aberto, por mais que alguns defendam a inocência do papa. A resposta disto só teremos pela frente. 

NOTA: Ao todo existem seis santos com o nome Francisco. Os outros quatro são: São Francisco de Paula (1416-1557), São Francisco de Borja (1510-1572), São Francisco de Sales (1567-1622) e São Francisco Coll Guitart (1812-1875). 
NOTA 2: O nome de São Francisco de Xavier também pode ser grafado como São Francisco Xavier, sem o uso do (de). 
NOTA 3: O dia litúrgico de São Francisco de Assis é em 4 de outubro, já o dia litúrgico de São Francisco Xavier é em 3 de dezembro
NOTA 4: O papa Bento XVI fora o primeiro papa a ser eleito no século XXI, como também o primeiro papa a renunciar ao pontificado no mesmo século. 
NOTA 5: Na História houveram vários papas franciscanos, curiosamente o papa Francisco é o primeiro jesuíta.
NOTA 6: Os papas que tiveram os três maiores pontificados foram: São Pedro, o Apóstolo que teria governado 34 anos, de 33 a 67 (todavia alguns historiadores não consideram o pontificado de São Pedro o mais extenso, pois faltam documentos que comprovem o início de seu papado); Pio IX que governou por 31 anos, 7 meses e 23 dias, de 1846 a 1878, e em terceiro lugar, João Paulo II, que governara por 26 anos, 5 meses e 7 dias, de 1978 a 2005
NOTA 7: Bento XVI decidira homenagear Bento XV o qual fora papa de 1914-1922, pelo mesmo ter tentado promover o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) , o que lhe rendera a alcunha de "o papa da paz". Além disso, ele promoveu uma reforma administrativa no Vaticano, a fim de adaptá-lo ao século XX. 
NOTA 8: O papa Bento XVI em sua visita ao Brasil em 2007, o país com o maior número de católicos no mundo, ele canonizou o primeiro santo brasileiro, Santo Antônio de Sant'Ana Galvão, mais conhecido como Frei Galvão
NOTA 9: O primeiro papa a ser eleito na Capela Sistina, quando se passou a ser regular a realização do conclave na mesma, fora o papa Alexandre VI em 1492. Alexandre VI se chamava Rodrigo Bórgia, e sua família fora bem influente e polêmica nesta época. 
NOTA 10: No século XX e início do XXI, os conclaves duraram poucos dias, sendo os mais extensos tendo durado cinco dias. No entanto, o maior período de tempo que o papado ficara vacante aconteceu entre 304 e 308, onde após a morte do papa São Marcelino, o papado ficara vago por quatro anos. 
NOTA 11: Dos 50 primeiros papas, 48 se tornaram santos. Dos papas que concorrem a canonização o mais recente é o beato João Paulo II. 
NOTA 12: Na história da Igreja apenas quatro papas renunciaram ao pontificado. Ponciano renunciou em 235, após ter assumido o papado em 230. Celestino V renunciou em 1294, poucos meses após assumir o pontificado, alegando que não estava preparado para ter assumido o papado. Gregório XII renunciou em 1415 e, por fim Bento XVI, tendo renunciado em 2013

Referências Bibliográficas:
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 18, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 22, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
MONIZ, Antônio Manuel de Andrade. A evangelização do Japão na óptica de Fernão Mendes Pinto. In: O Século Cristão do Japão: Actas do colóquio internacional comemorativo dos 450 anos de amizade Portugal-Japão (1543-1993). Lisboa, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa e Instituto de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1994. 

Referências da internet:
http://g1.globo.com/mundo/novo-papa-francisco/platb/
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/03/130315_escolha_francisco_papa_jp_tp.shtml
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/03/130315_biografa_papa_personalidade_humor_jp_mc.shtml
http://www.vatican.va/news_services/press/documentazione/documents/cardinali_biografie/cardinali_bio_bergoglio_jm_it.html
http://g1.globo.com/mundo/novo-papa-francisco/noticia/2013/03/g1-no-vaticano-papa-francisco-fala-sobre-escolha-do-nome.html
http://es.wikipedia.org/wiki/Papa_Francisco
http://www.lanacion.com.ar/681078-el-candidato-bergoglio-il-papabile
http://www.lavozdegalicia.es/noticia/informacion/2013/03/13/francisco-i-jorge-mario-bergoglio-nuevo-papa/00031363202152310484709.htm
http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/renuncia-do-papa/conheca-papas-que-renunciaram-e-o-que-aconteceu-apos-saida-do-vaticano,3d3bff68a3ecc310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html
http://visaoregional.com.br/2013/02/27/infografico-mostra-historia-do-papa-bento-16/
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http://www.lanacion.com.ar/1565882-carlotto-admite-que-ya-no-va-a-hablar-mas-del-papa-francisco

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