domingo, 28 de abril de 2013

Xerxes: O Rei dos Reis

"Sou Xerxes, o grande rei, o rei dos reis, rei de terras contendo muitos homens".
Xerxes I da Pérsia


O egocêntrico rei da Pérsia, Xerxes I é lembrado principalmente na História por ter tentando conquistar a Grécia, vingando assim a derrota que seu pai sofreu anos antes, o qual também tentara conquistar os gregos. Xerxes não igualou-se a grandiosidade de seu pai, mas sua ânsia por vingança e a cobiça por novas terras, o levou a reunir um dos mais poderosos exércitos que o mundo vira, mas que pela imprudência dos persas e pela sagacidade dos gregos, foi derrotado. No entanto, a vida de Xerxes não resumiu-se apenas em combater os gregos, ele herdara o legado do maior império que existia em seu tempo, o Império Persa Aquemênida, e durante seu governo consolidou conquistas, reuniu um poderoso exército, propôs reformas na política, ordenou construções públicas, mas no fim foi derrotado pelo seu ego. 

Antecedentes: o avô, o tio e o pai

Xerxes era neto de Ciro II da Pérsia (?-530 a.C), conhecido como Ciro, o Grande, fundador do Império Persa; e era filho do rei Dario I (550-486 a.C), conhecido como Dario, o Grande. De certa forma, os epítetos herdados por seu avô e pai, levaram Xerxes a tentar se igualar aos mesmos. Ciro II era neto de Ciro I e filho de Cambises I, ambos foram reis de Anshan, um pequeno Estado vassalo do Reino da Média localizado no que hoje é o Irã, governado pelos Medos. No entanto, quando Ciro II subiu ao poder, decidiu levar à cabo a iniciativa de se emancipar do domínio dos Medos, e em 559 a.C ele saiu vitorioso, tendo conquistado seus antigos senhores, e passando a se proclamar rei da Pérsia. Nos quase vinte anos que governaria, Ciro II expandiria o novo Reino da Pérsia, conquistando seus vizinhos o que incluiu a Babilônia, a Suméria, a Assíria, a Armênia, a Pártia, a Bactriana e a Lídia. 

Mapa do Império Persa durante o reinado de Ciro, o Grande (559-530 a.C). 
Ciro, o Grande é lembrado por ter libertado os judeus do cativeiro da Babilônia em 539 a.C. Tendo sido clemente com os judeus, Ciro ordenou que os mesmos fossem escoltados de volta a Judeia. Depois disso prosseguiu com suas conquistas, expandindo seu império da Ásia Menor em direção à Índia. Tornando-se o maior império de seu tempo. 

Cambises II
O império da Dinastia Aquemênida, iniciado por Ciro, foi sucedido por seu filho Cambises II (?-522 a.C) o qual empenhou-se nas campanhas militares, o que levou a conquista do Egito em 525 a.C, vindo a ser também proclamado Faraó do Egito. Diferente de seu pai, Cambises não dera tanta atenção a política e a gestão de seu vasto império, e era conhecido por seu um homem cruel e violento. Heródoto de Halicarnasso (485?-420 a.C) considerado o primeiro historiador grego, descreve Cambises como tendo sido um governante tirânico, impetuoso, ambicioso e ganancioso. Enquanto Cambises II se encontrava no Egito, a fim de organizar campanhas militares para expandir seus domínios na África, porém, os anos se passaram e Cambises II se frustou com as impossibilidades. Em 522 a.C, uma rebelião eclodiu na Pérsia, e Cambises decidiu retornar para a capital, mas acabou morrendo misteriosamente em algum lugar da Síria. A história a respeito de sua morte ainda é um mistério. Heródoto diz que Cambises teria se ferido acidentalmente e morrido; por sua vez, Dario I dá a entender que o rei teria cometido suicídio ou teria sido assassinado. De qualquer forma, como o trono estava vago, e o rei não havia nomeado seu sucessor, o novo rei que assumira o trono da Pérsia foi Smerdis, um impostor. 

Smerdis ou Bardiya, era meio-irmão de Cambises, porém Cambises o havia assassinado ou ordenou sua morte por volta de 522 a.C. Mas como a morte do irmão foi guardada em segredo, poucos sabiam que o mesmo havia morrido. Quando o rei faleceu, um impostor de nome Gaumata que era um mago, se fez passar por Smerdis e assumiu o trono persa, no entanto, alguns funcionários da Corte e a Família Real começaram a desconfiar do novo rei, pois ele não lembrava a aparência de Smerdis. A esposa de Smerdis contou isso ao seu pai, então o pai pediu que ela investiga-se, ela notou que o suposto marido não tinha as orelhas, logo, lembraram que um mago de nome Gaumata havia sido punido pelo rei Ciro, e tivera as orelhas cortadas. Algumas famílias nobres, o que incluía a família de Dario, invadiram o palácio e mataram o usurpador e seus comparsas. Dario foi eleito rei da Pérsia no dia seguinte, em 521 a.C.

"O pai de Xerxes havia conquistado sua posição atual através de uma combinação de inteligência e capacidade de liderança e uma sucessão de matrimônios convenientes. Seu primeiro casamento, com a filha de um sátrapa, ou governador de província, foi o início de uma escalada ao poder; dentro das fileiras da aristocracia persa". (LLYWELYN, 1988, p. 10).


Dario, o Grande
Dario era filho de Vishtaspa (conhecido mais pela forma grega de seu nome, Histaspes), e era neto de Arsames. Neste caso, Histaspes e Arsames foram sátrapas durante o reinado de Ciro, o Grande e de Cambises II, tendo governado a Persis e a Báctria, províncias orientais do Império, no que hoje seria o Afeganistão. Logo, de certa forma, Dario estava ligado ao governo, embora sua família não fosse nobre, mas alegava ser descendente direta de Aquêmenes (705-675 a.C), ancestral que teria formado a Dinastia Aquemênida. Todavia, embora tendo a condição de ser filho e neto de um sátrapa, Dario era um homem que almejava muito mais. Alcançou postos elevados através de casamentos, mas também de seu valor como guerreiro e comandante militar. Dario era descrito como sendo um exímio cavaleiro, espadachim e lutador, isso o levou a se tornar membro da Guarda Real de Cambises II, logo, Dario seguiu junto com o rei para várias das campanhas que o mesmo dirigiu pessoalmente, o que incluiu a conquista do Egito. 

De qualquer forma, existe a possibilidade que Dario soubesse que o rei havia ordenado a morte de seu irmão Smerdis, daí, Dario ter se unido com os demais nobres para derrubar o usurpador. Dario foi escolhido para assumir o poder, pois contava com apoio de parte da nobreza e da aristocracia das províncias, como também foi um leal servo do rei Cambises. Quando assumiu o poder, revoltas eclodiram pelo império, e Dario tratou de contê-las. 

Nos anos seguintes, ele não apenas empreendeu censura a tais revoltas, como reorganizou o Estado persa, desde sua economia, leis, burocracia, justiça, impostos, etc; dividiu o império em novas satrapias, criou um sistema de comunicação mais eficiente, criou novos cargos, o que incluiu espiões para espionar os sátrapas; reformulou o sistema monetário instituindo o dárico como moeda oficial do império. Casou-se com as antigas esposas de Cambises, Atossa e Artystone e também tomou para si novas esposas, o que aproximou importantes famílias persas a sua Corte; expandiu os domínios do império, consolidando fronteiras e firmando acordos com outros povos. Ordenou a construção de palácios, estradas, aquedutos, cidades, templos, monumentos, etc.

Um dárico de ouro do século V a.C. A moeda contem a efígie do rei Dario, o Grande. 
"Dario estava convencido de que a ele se reservara a missão de levar a cultura e a civilização persa aos povos dos territórios conquistados. Ele enviou exploradores para percorrer o rio Indo e o Oceano Índico. Abriu portos na costa sul da Pérsia. O canal que mandou construir no Egito, do rio Nilo até Suez, foi uma realização gloriosa, e o rei tinha monumentos erguidos ao longo de sua extensão, ostentando inscrições que exaltavam o poder da Pérsia Aquemênida". (LLYWELYN, 1988, p. 18).


O Império Persa em sua máxima extensão durante o reinado de Dario, o Grande (521-486 a.C).
Xerxes: da infância a adolescência


Xerxes I da Pérsia
Xerxes nasceu em 519 a.C, era filho de Dario com Atossa, filha de Ciro, o Grande e irmã de Cambises II (o incesto não era proibido entre a realeza persa). Xerxes era o primeiro filho de Atossa com Dario, pois os mesmos tiveram mais filhos, e além disso Dario já tinha esposas anteriormente de se tornar rei e se casou novamente; a poligamia e os haréns eram características comuns da cultura persa. Quanto mais esposas e concubinas um homem possuía, isso era indicativo que ele era muito rico, pois para se possuir um grande número de esposas era necessário pagar muitos dotes de casamento, e no caso das concubinas, ter dinheiro para comprar as mais belas. Heródoto conta que Dario tinha cinco esposas e dezenas de concubinas em seus haréns. De qualquer forma, Xerxes e seus irmãos e irmãs, cresceram afastados do amor do pai e em alguns casos até da mãe, pois, era comum na realeza, as ama-de-leite e os escravos cuidarem das crianças. De fato, Xerxes só via o pai de longe como ele mesmo atesta em seus relatos acerca da sua infância. Foi apenas na adolescência que ele passou a se aproximar do pai. Xerxes foi educado pelos melhores professores do império, assim como também recebera treinamento militar, pois como seu pai, tio e avô haviam sido guerreiros, Dario cobrava o mesmo de todos os seus filhos. Embora que Xerxes como aponta, nem sempre gostava da rígida disciplina e etiqueta cobrada de seus estudos e do fato de ser príncipe. 

"Xerxes pensava em Dario como um rei, um semideus em contato com o divino deus Sol, mas não como um pai. Como todos os filhos de Dario, Xerxes nunca vira o rei agir como um pai, num sentido mais pessoal. Ele podia apenas admirar o grande homem de longe e tentar imitá-lo nas muitas ocasiões especiais em que Dario viajava com toda a família, a fim de impressionar os habitantes das províncias". (BUTSON, 1988, p. 12). 

Os relatos contam que Xerxes era habilidoso na equitação, na condução de bigas e na luta com lança. Dizia que possuía pernas fortes, era um homem relativamente alto para os padrões persas e de aparência bela. Deixou os cabelos e a barba crescerem, assim como ditava a moda dos nobres na época. Além de aprender etiqueta, a ler e escrever em aramaico e outras línguas e receber treinamento militar, Xerxes estudou história, geografia, política, administração, economia, comércio, direito, filosofia, etc. 

Embora não fosse o primogênito, era o favorito do rei para se tornar seu sucessor, pois Xerxes possuía o sangue real de Ciro, o Grande, fundador do Império Persa, algo que Dario orgulhava-se. Além disso, nem sempre a sucessão monárquica era algo calmo, as vezes herdeiros legítimos eram destronados por usurpadores, então Xerxes não apenas teria que se preparar para herdar um vasto e poderoso império, mas assegurar que permanece-se no trono. 

Por volta de seus quinze anos, Xerxes ainda continuava seguindo os estudos, mas passou a se aproximar mais do pai, dos irmãos mais velhos, tios e demais membros da Corte. Por essa época, já se tornava visível a predileção de Dario para que Xerxes fosse seu herdeiro.

"Dario gostava de ver tanta riqueza desfilar ante seus olhos, e Xerxes, ao alcançar a adolescência, provavelmente dividiu o tablado com seu pai, assistindo à inspeção dos tesouros oriundos de diferentes regiões que eram presenteados ao rei". (LLYWELYN, 1988, p. 21).

A medida que envelhecia e alcançava a maturidade, Dario passou a designar algumas responsabilidades a Xerxes, o mesmo passou a ocupar alguns cargos na Corte ou em outras sátrapas, pois Xerxes morou algum tempo na Babilônia e em outras cidades. Enquanto Dario estava viajando, era Xerxes que ficava em seu lugar na capital Persepólis ou em Susa, pois Dario queria assim mostrar que o filho era de fato o seu escolhido a sucessão. 

O ataque a Grécia: o malogro de Dario (492-490 a.C)

A Grécia Antiga não era uma nação unificada, mas sim uma união dispersa de dezenas de cidades-Estados, que compartilhavam a língua, religião e costumes, mas cada cidade possuía seu soberano, e algumas destas cidades possuíam colônias, e tais colônias que se espalhavam pela Ásia Menor (atual Turquia), Itália, França e Espanha, passaram a formar o território da Magna Grécia ("Grande Grécia"). Foram as colônias gregas na região da Jônia, terras que compreendiam o oeste da Lídia como os persas chamavam a Ásia Menor em seu tempo, que em 499 a.C começaram a se rebelar contra os altos impostos cobrados. 

De fato, antes dos persas conquistaram esta região, os gregos já estavam a colonizando. E mesmo que Ciro, o Grande, tenha a subjugado, porém nunca se reconheceram como sendo persas. A língua, a religião e os costumes ainda eram gregos, apenas os impostos eram pagos aos reis persas, porém naquele ano estas cidades se rebelaram, e contaram com o apoio de Atenas e Erétria, que as incentivavam a se rebelarem contra a Pérsia a fim de conquistarem sua independência.

Em destaque as cidades gregas na Jônia, local das revoltas que levaram Dario, o Grande a decidir invadir a Grécia para punir Atenas e Erétria por terem incentivado a revolta na Jônia. 
As revoltas duraram alguns anos, porém cansado de ter que cuidar destes problemas na Jônia, em 492 a.C, Dario ordenou que seu genro Mardônio, liderando um pequeno exército, ele atravessou o Estreito de Helisponto (hoje Dardanelos) adentrando a Trácia (hoje Bulgária) e seguindo até a Macedônia (tal região não corresponde a atual Macedônia, mas sim o norte da atual Grécia). Mardônio reafirmou a conquista da Trácia e da Macedônia, as tornando províncias do Império Persa (na realidade a região já havia sido invadida por ordens de Dario anteriormente, mas ainda estavam instáveis sob o governo persa). Dario enviara uma frota para dá apoio a Mardônio, mas uma tempestade afundou alguns navios e fizera outros se perderem, então o rei adiou o ataque a Grécia.

Em 490 a.C, a ilha de Chipre foi conquistada, então Dario designou seu sobrinho Artafernes e o nobre meda Danis para liderarem os ataques. A frota persa partiu de Chipre, aportou na ilha de Naxos, a conquistou, pilhou e destruiu, então seguiu para a ilha de Eubéia onde ficava a cidade de Erétria. A cidade fora saqueada e incendiada, a população fora assassinada e feita prisioneira. 

A rápida vitória sobre Erétria aumentou a confiança de Danis, acreditando que Atenas cairia facilmente. Como Atenas ficava recuada em uma região alta na Ática, a solução era desembarcar o exército e seguir por terra. O lugar escolhido fora a planície de Maratona, localizada a nordeste de Atenas, acerca de 42 quilômetros de distância. 


Milcíades
Os atenienses sabendo do ataque a Erétria, reuniram um exército de cerca de 9 mil hoplitas (infantaria pesada) e mais 1 mil hoplitas vindo de Platéia. Todavia, os atenienses enviaram um mensageiro a rival cidade de Esparta, mas os espartanos alegaram que só poderiam deliberar assuntos de guerra apenas a partir de noites de Lua cheia, como atesta Heródoto. Logo, os atenienses e os platenses marcharam em direção a Maratona, sendo liderados pelo general ateniense Milcíades, o Jovem (550-490 a.C). O exército persa continha cerca de 20 mil guerreiros, na época Heródoto exagerou nos cálculos alegando que o número teria sido de quase 100 mil. 

"Os guerreiros de Atenas, comandados pelo general Milcíades, imobilizaram rapidamente o exército persa, cortando o corpo central das tropas de apoio que estavam encarregadas de protegê-lo. Os gregos lutaram com devoção e a batalha logo se transformou num massacre. Os soldados persas, despreparados para a luta a curta distância, foram massacrados enquanto fugiam para seus navios". (LLYWELYN, 1988, p. 28).

Os atenienses tiveram menos de duzentas baixas, já os persas perderam pelo menos 6.400 homens, uma perda enorme se compararmos ambos os lados, e o fato de que o exército persa era praticamente o dobro do exército grego. O restante dos persas embarcaram nos navios e fugiram para a Lídia. Os atenienses celebraram a vitória, dando início a construção de um templo dedicado a deusa Atena, padroeira da cidade. O templo seria chamado e Partenon. Milcíades morreu na batalha, mas seria lembrado como um grande general, seu elmo foi oferecido como uma oferenda no Templo de Zeus em Olímpia, local onde era realizado os Jogos Olímpicos.  Seu elmo ainda pode ser visto hoje no Museu Arqueológico de Olímpia. 


Desenho retratando o início da Batalha de Maratona em 490 a.C. Os hoplitas partem para o ataque contra o exército persa. 
"A esmagadora derrota infligida por uma força menor inquietou o espírito de Dario. Desde então a idéia de provar o poderio persa tornou-se quase uma obsessão para ele. Dario estava determinado a conquistar a Grécia". (LLYWELYN, 1988, p. 29). 

A vitória em Maratona inspirou a lenda do mensageiro Fidípedes contada por Heródoto; o qual após a vitória em Maratona, Fidípedes correu até Atenas para avisar acerca da vitória, quando o mesmo chegou, suas últimas palavras antes de morrer de exaustão foram: "Nós vencemos". Em sua homenagem criaram no século XX a prova de corrida chamada maratona

Xerxes se torna rei:

A derrota deplorável em Maratona repercutiria pelos anos seguintes. Dario, os conselheiros de Estado e a nobreza ficariam profundamente indignados. Os persas se consideravam uma potência mundial, se consideravam o império mais poderoso do mundo, e terem perdido para um "punhado" de gregos, onde o restante do exército tivera que fugir, isso era humilhante, desonroso. O próprio Xerxes deve ter compartilhado dessa frustração, isso contribuiria anos depois para sua obsessão em se conquistar a Grécia. 

Dario culpou a derrota para os gregos tendo sido provocada pelo general Danis, pois os persas se viam como sendo o mais poderoso império do mundo e possuindo o maior e mais poderoso exército, a derrota fora um erro de comando e estratégia, algo que Xerxes também acreditava, pois quando chegou a sua vez, ele mesmo partiu para comandar seu exército, e não enviou outros em seu lugar. Xerxes julgava que um rei deveria liderar seu exército pessoalmente. Dario fizera isso por vários anos, mas acabou se acomodando e elegendo outros para liderar seus exércitos.

Todavia, Dario iria ficar indignado com essa derrota e pretendeu contra-atacar. Ele estava decidido em conquistar a Grécia de vez. Aquela península povoada por um povo bárbaro que vivia em pequenas cidades-Estados (era assim que os persas viam os gregos). Nos três anos seguintes, Dario aumentou absurdamente os impostos para repor os cofres do Estado, e armar, equipar e treinar um novo e grande exército. Em 486 a.C ele partiu liderando seu exército, e naquele ano se encontrava acampando na província da Lídia (hoje território turco). Ele apenas estavam aguardando o restante das tropas chegarem, para se dirigir à Grécia, porém fatidicamente uma grande rebelião eclodiu no Egito naquele momento.

Os altos impostos e tributos, foram questionados pelos egípcios que se rebelaram contra o governo. O Egito era uma das províncias mais populosas do império e a maior produtora de alimentos. Se os egípcios suspendessem o fornecimento de grãos para outras províncias, isso geraria fome, e a fome levaria a revoltas e as revoltas poderiam gerar uma guerra civil. Novas revoltas e uma guerra civil eram a última coisa que Dario queria naquele momento, então ele ordenou que seu exército seguisse para o Egito, a fim de apaziguar a rebelião, para depois retomar o plano de se atacar a Grécia. No entanto, na viagem de ida para o Egito, Dario acabou adoecendo gravemente e veio a falecer ainda naquele ano. Seu corpo foi embalsamado e levado para Persépolis. Dias depois do funeral, Xerxes foi coroado rei da Pérsia. 


Tumba de Dario, o Grande em Naqsh-e Rustam, hoje no Irã. No mesmo monte foram enterrados outros governantes, o que inclui também o próprio Xerxes. 
Aos 32 anos de idade, já casado e pai de alguns filhos, Xerxes embora não fosse o filho mais velho de Dario, e possuía alguns irmãos mais velhos, era desde sua adolescência o favorito a assumir o trono, principalmente por sua linhagem sanguínea,  pois era descendente de Ciro, o Grande, sendo o neto mais velho deste. Sua coroação foi cheia de pompa, e o dia da coroação fora decretado feriado nacional, e o povo foi incentivado a festejar a coroação do rei.


Xerxes num primeiro momento não decidiu ir atacar a Grécia, isso só iria ocorrer anos depois. Naquele momento ele estava preocupado em conter a rebelião no Egito e punir os egípcios por sua afronta que levou seu pai a atrasar a campanha contra os gregos e eventualmente trouxe a morte do mesmo, enquanto seguia viagem para a província. De certa forma, Xerxes considerava aquela rebelião como causadora da morte de seu pai, se não tivesse sido ela, seu pai teria ido para a Grécia e ainda poderia estar vivo. 

Contida a rebelião no Egito, ele passou a dar atenção ao restante do império, de forma a consolidar sua autoridade para seus súditos, e mostrando para aqueles que ousassem desobedecer suas leis, seriam duramente castigados. Em 482 a.C uma nova grande rebelião eclodiu no império, nesta vez na província da Babilônia. Num passado longínquo a Babilônia foi um poderoso reino, mas quando Ciro, o Grande a conquistou, o reino estava em decadência. 

Naquele ano, o sátrapa da Babilônia fora assassinado e o assassino se proclamou "rei da Babilônia". Xerxes revoltado com a afronta, ordenou a invasão da Babilônia. A cidade fora saqueada, o usurpador e seus cúmplices foram executados, e a cidade foi parcialmente destruída. Assim como o Egito, a Babilônia perdera alguns privilégios políticos, legais e econômicos que dispunha, por serem civilizações antigas. 


Inscrição em cuneiforme exaltando a imagem do rei Xerxes I da Pérsia. Tais mensagens eram uma forma de propaganda para exaltar a pessoa do monarca para seu povo e os estrangeiros. 
Nos anos seguintes, novas revoltas não eclodiriam, então Xerxes passou a dar maior atenção aos preparativos para se atacar os gregos. Ele reuniu um grande exército, convocando homens de todos os cantos do império. Estima-se que o exército persa seria de 200 mil homens, embora que Heródoto e outros historiadores gregos antigos, sugeriram cifras absurdas de mais de 1 milhão de guerreiros. Tal fato se deve que os gregos queriam aumentar ainda mais a vitória que tiveram, alegando que embora os persas possuíssem um gigantesco exército, os gregos eram mais fortes e habilidosos. 


"Heródoto relaciona pelo menos 45 diferentes povos dominados como fornecedores de soldados para a campanha grega de Xerxes. No mínimo doze outros enviaram homens para tomar parte da esquadra persa. Havia vinte e nove divisões de infantaria, incluindo etíopes, com o corpo pintado de vermelho e preto; arqueiros árabes, com suas túnicas finas e grandes arcos presos às costas, e soldados da Trácia, portando gorros de pele de raposa e capas coloridas". (LLYWEYLN, 1988, p. 41). 

Xerxes decidiu que iria comandar pessoalmente seu exército, então em 481 a.C seguiu para a Lídia, levando consigo, algumas de suas esposas, concubinas, filhos, irmãos, cunhadas, primos, tios, conselheiros, funcionários, escravos, etc. De fato, cada um dos generais e comandantes poderia levar seus familiares e escravos pessoais. Os historiadores dizem que os persas de certa forma transferiam sua corte quando o rei decidia participar das campanhas militares. Daí, além de seguir o exército de 200 mil guerreiros, mais algumas centenas de pessoas seguiam o exército, eram um cortejo de guerra. Tal ideia era uma forma de o rei mostrar aos povos conquistados o seu poder e prosperidade, e ao mesmo tempo, mostrar a corte e seus familiares e amigos, sua bravura e astúcia no campo de guerra. 

As Guerras Médicas (480-479 a.C):

As Guerras Médicas (nome dado pelos gregos, para se referir aos medas, povo de quem os persas eram originalmente vassalos antes da criação do Império Persa. O termo era uma forma de afrontar os persas) ou Guerras Greco-persas, se iniciaram em 490 a.C com o ataque ordenado por Dario, todavia, apenas dez anos depois é que tais guerras voltaram a ocorrer. Daí, alguns historiadores preferirem dividir o momento das Guerras Médicas em duas fases: Primeira fase (492-490 a.C) e Segunda Fase (480-479 a.C). 

Devido o foco deste texto ser a figura do rei Xerses, e as poucas fontes que consegui para escrever este texto, pois é difícil encontrar livros sobre a Pérsia aqui no Brasil, me restringirei a falar por alto acerca das Guerras Médicas. Todavia, um dos primeiros historiadores a tratar destas guerras fora Heródoto de Halicarnasso (ca. 484 a.C - ca. 425/420 a.C) dito o "Pai da História". 

No ano de 480 a.C o grande exército de Xerxes e sua Corte itinerante estavam reunidos na cidade de Sardis na Lídia, de onde partiram em direção ao Helesponto para chegar na Trácia, pois grande parte do exército seguiria por terra, atravessando a Trácia e a Macedônia até chegar a Tessália, no norte da Grécia. Outra parte seguiria por mar, nos cerca de seiscentos trirremes que o rei havia designado para aquela campanha (os historiadores gregos falaram em mil navios, ainda sim um número contestável). Além disso, a frota também era formada por outros tipos de navios, chegando a contabilizar pelo menos mil navios. 

Desenho de um trirreme. O nome se deve ao fato de o navio possuir três fileiras de remos. Os trirremes foram usados pelos gregos, fenícios, persas entre outros povos. Eram navios de porte mediano, principalmente usado para viagens ou para guerra, pois para o comércio seu interior não era muito amplo, devido o fato de ter que acomodar os remadores que poderiam chegar ao número de 100 ou mais. Os trirremes possuíam na proa um espigão que ajudava a furar o casco de outros navios.

Temístocles
Enquanto Xerxes seguia por terra, na Grécia, as cidades-Estados gregas já haviam vindo se preparando para este dia. Em Atenas, o general Temístocles (524-459 a.C), há alguns anos, convenceu os atenienses de formarem uma aliança com outras cidades gregas a fim de combaterem os persas, pois Temístocles acreditava que os persas iriam atacá-los novamente, embora Dario tenha morrido em 486 a.C, quando se preparava para atacar a Grécia, agora era seu filho Xerxes que o fazia. Neste tempo, Temístocles incentivou o governo a seguir sua proposta, de fortificar a cidade de Atenas, enviar os cidadãos para outras terras, pois ele sabia que Atenas seria atacada pelos persas, como também incentivou a construção de uma frota de guerra, até então Atenas mal dispunha de navios de guerra. Estima-se que pelo menos cem ou mais navios foram construídos, assim como os aliados de Atenas também contribuíram com dinheiro para formar a frota e as tropas. 

Do outro lado da Grécia, Esparta reunira suas aliadas, para juntar forças para combater os persas. Embora Esparta e Atenas fossem inimigas, assim como outras cidades-Estados gregas também, os gregos estavam cientes que não poderiam derrotar os persas sozinhos. Heródoto chega a comparar a aliança das cidades gregas durante a guerra contra Xerxes, com a lendária (embora Troia tenha existido, a guerra narrada por Homero, é considerada mítica) aliança feita para se travar a Guerra de Troia. No caso de Esparta, o rei Leônidas I (c.540-480 a.C), era quem lideraria as forças espartanas nas primeiras batalhas. 

Xerxes havia enviado mensageiros levando a mensagem para que as cidades gregas se rendessem. Segundo Heródoto, as cidades que se renderam ofereceram terra e água ao rei, como sinal de sua rendição. Algumas das cidades do norte da Grécia se renderam a Xerxes, todavia, Atenas, Esparta e os demais aliados, não iriam se render, a guerra havia sido escolhida e em breve se iniciaria. Temístocles sugeriu que a frota se reuni-se em Artemísia, no norte da ilha de Eubeia, por sua vez, Leônidas sugeriu que os espartanos e seus aliados defendessem uma pequena passagem no Peloponeso, localizado nas Termópilas, chamada também de Portões Quentes ou Portões de Fogo (o nome se deve ao fato de haver pequenas fontes de águas termais na região, que liberam o cheiro de enxofre). 

O único ponto fraco da estratégia espartana era uma trilha que subia pela encosta e saia do outro lado dos Portões Quentes, mas Leônidas sabia desta trilha, e pôs os fócios para cobrir a retaguarda, enquanto os espartanos, tebanos e tepsianos defenderiam os Portões Quentes e atacariam na vanguarda. 

No dia 13 de agosto de 480 a.C, parte da frota persa chegou ao istmo de Artemísia, mas uma violenta tempestade afundou parte dos navios persas. Os gregos viram aquilo como um sinal de Poseidon, o deus dos mares, o qual estava do lado deles. Xerxes preferiu aguardar alguns dias, para que o restante do exército e da frota estivesse mais perto para se iniciar o ataque. O ataque inicial se realizou em duas frentes: uma batalha naval em Artemísia e uma batalha terrestre em Termópilas, em ambas os persas saíram vitoriosos, embora tendo sofrido algumas baixas.

A frota persa muito maior do que a grega, a qual contava com 271 navios, sendo cem destes, apenas de Atenas; subjugou a frota ateniense, levando Temístocles a abandonar a batalha. Embora os persas tenham perdido mais navios que os gregos, quase a metade da frota grega fora dizimada. A rainha Artemísia I da Cária (a região da Cária ficava na Ásia Menor, e tinha como capital nesta época a cidade de Halicarnasso), acabou traindo os gregos, se aliando aos persas. Todavia, embora a vitória tenha sido fácil, a luta em terra fora mais difícil. A estreita passagem dos Portões Quentes, dificultava a mobilidade do exército de Xerxes, e por dois dias os espartanos e seus aliados defenderam bravamente as Termópilas.

Lêonidas havia levado consigo 300 espartanos de elite, pois o Conselho dos Éforos de Esparta, havia lhe negado levar mais guerreiros, pois consideravam imprudência do rei colidir de frente ao poderoso exército persa, e além disso, os Éforos alegaram que o Oráculo não havia considerado aquele dia propício para se debater assuntos de guerra. Leônidas não lhe deu ouvidos e levou consigo seus homens de confiança. Junto aos espartanos, se uniram 1000 fócios, e mais um grande contingente de tebanos e tepsianos, além de guerreiros de cidades vizinhas, totalizando uma força de 7300 guerreiros para defender a Termópilas. No entanto, Xerxes estavam confiante da vitória, seu exército contava com milhares de soldados, os números esmagariam os espartanos e seus aliados assim como esmagou os navios de Atenas e seus aliados no mar. 

Xerxes contava com os conselhos de Demeratus, antigo rei de Esparta que fora destronado em 491 a.C e enviado para o exílio. Demeratus, indignado pela traição de seu povo, partiu para a Pérsia a fim e prestar seus favores ao rei Dario. De fato, em 486 a.C, Demeratus se encontrava com Dario, no ataque que iria vim para a Grécia, mas não aconteceu. Agora, passado-se seis anos, ele dava seus conselhos a Xerxes, pois Demeratus queria se vingar de Esparta. Demeratus havia explicado acerca do estilo de guerra dos espartanos, seu treinamento militar, costumes, etc. Xerxes contendo tais informações estava confiante que iria esmagar os espartanos e seus aliados, porém, a estratégia grega se mostrou eficiente.


Traje e armas de um hoplita
Não se sabe ao certo quantos guerreiros persas ali lutaram, pois os antigos historiadores gregos exageram nos números, alegando que Xerxes teria enviado cem mil ou mais guerreiros. De qualquer forma, os espartanos e os demais tinham a vantagem de um rígido treinamento militar e do equipamento que usavam, pois os hoplitas usavam couraças de bronze, diferente das roupas de lã e linho que os guerreiros persas usavam. Além disso, os grandes escudos de bronze protegiam das flechas e das lanças, assim como seus pesados elmos de bronze. No dia 19 de agosto, Xerxes enviou sua tropa de elite, chamada pelos gregos de "Imortais". O termo refere-se ao fato de que quando um "imortal" morria, rapidamente ele era substituído, logo, as fileiras sempre aparentavam conter o mesmo número de soldados. Mesmo os "Imortais" não foram páreos para os gregos e vieram a sucumbir no segundo dia de luta. Segundo Heródoto, Xerxes havia ficado surpreso com a bravura e força dos espartanos, ele teria dito que os espartanos não lutavam por riquezas como outros homens, mas lutavam por honra, lealdade e glória. Finalmente no terceiro dia, um traidor, chamado Elfiates se dirigiu ao acampamento de Xerxes e lhe contou sobre uma rota que seguia sobre a colina. Xerxes enviou parte da infantaria e vários arqueiros por tal caminho. Os fócios que a defendiam foram massacrados, mas conseguiram alertar a Leônidas sobre a traição. Leônidas ordenou que os feridos fossem levados embora e aqueles que quisessem ir, poderiam ir, pois a morte era certeza. Cerca de 1500 guerreiros ficaram para trás, incluindo Leônidas e seus 300 espartanos. Os que partiram, foram incumbidos de avisar suas cidades que as Termópilas havia caído. 


Esquema representando a Batalha das Termópilas. Em vermelho o exército persa e em azul o exército grego. A trilha em tracejado, fora o caminho que Elfiates revelara. 
Os 1500 soldados que ficaram para trás foram massacrados. Alguns historiadores gregos antigos, dizem que Leônidas fora decapitado e sua cabeça fora espetada na ponta de uma lança, na qual Xerxes exibira para seu exército com orgulho, e exaltando que os persas já haviam vencido duas batalhas, e logo outras vitórias viriam. Todavia, não se sabe ao certo se Xerxes fizera isso, mas sabe-se que sua confiança e a confiança de seus homens crescera largamente. A Batalha de Artemísia e a Batalha das Termópilas haviam sido vencidas por ele. 


Estátua do rei Leônidas I de Esparta, no memorial à Batalha das Termópilas ocorrida em 480 a.C. No memorial que fica hoje nas Termópilas, pode se ler os seguintes dizeres: "Quem por aqui passar, diga ao nosso povo que aqui morremos, obedecendo suas ordens". 
"A perda das Termópilas custou aos gregos o controle do centro do continente. Temístocles, assombrado com a terrível notícia da derrota grega, ordenou a retirada completa da esquadra ateniense de Artemísio na noite de 20 de agosto. Os persas estavam em posição de penetrar maciçamente no sul, marchando diretamente para Atenas. Os generais mais otimistas percebiam agora que era impossível deter os persas. As regiões da Beócia e da Ática estavam indefensáveis frente à maré persa". (LLYWELYN, 1988, p. 58). 

Temístocles sabia que não poderia salvar Atenas e as cidades que estivessem no caminho dos persas, daí meses antes, ele sugeriu que os atenienses começassem a deixar a cidade, pois prevendo que em caso de fracasse, mais pessoas poderiam ser salvas, pois era certeza que Atenas seria atacada. O mesmo se dirigiu para a ilha de Salamina, onde prepararia uma armadilha para os persas. Aqueles que ficaram em Atenas tentaram defender a cidade como puderam, mas os persas a invadiram, saquearam e incendiaram a Acrópole.

A próxima direção quer Xerxes seguiria, era encontrar o restante da frota grega que se refugiara em Salamina. Em torno da pequena ilha, Temístocles reuniu o restante da frota ateniense assim como os navios de várias outras cidades como Esparta, Corinto, Mégara, Egina, Eubeia, Ceos, Crotônia, Naxos, etc. A Tessália, Beócia, a Fócia e a Ática, nome dado a regiões que compreendiam a Grécia, estavam sob o domínio persa, e a última esperança era a vitória grega na Batalha de Salamina, a qual contava com cerca de 366 navios gregos contra mais de seiscentos navios persas. 

Xerxes tinha pressa para conquistar a Grécia, pois o outono já começara e o inverno viria em breve, o problema que isso envolvia era que o exército e a Corte itinerante precisava de alimentos, e se estando em terras inimigas, conseguir alimento era uma questão de tomar a força. Além disso, havia o risco, de os inimigos queimarem as plantações e sacrificarem os animais, de forma a deixar os persas com fome. Se o inverno chega-se, a campanha teria que ser suspensa até o início da primavera, pois na Grécia neva em algumas regiões, e lutar na neve e no frio, era algo que os persas não estavam acostumados. 

Xerxes estava confiante acerca da batalha naval, pois todas que foram travadas, haviam sido triunfantes, embora que o próprio não assistiu todas elas. Além disso, ele se confiava na superioridade numérica de seus navios e soldados. Salamina seria esmagada e com sua derrota, a Grécia cairia sob seu comando. 

No dia anterior a batalha, Xerxes realizou oferendas e rituais pedindo a proteção e ajuda dos deuses, principalmente do deus-sol Ahura-Mazda, o qual diziam que o rei persa era seu mediador entre os homens e o deuses. A grande frota se posicionou para atacar a frota grega que havia ficado retraída em uma das parte da costa de Salamina. Xerxes decidiu assistir pessoalmente a batalha. Seu trono elevado que tinha rodas e era puxado por escravos ou cavalos, fora posto sob o monte Aegaleos, de onde o rei possuía vista de todo o mar entre o continente e a ilha. Artemísia comandou cinco navios nessa batalha. 

Temístocles sabia que aquela seria uma batalha derradeira, se perdessem, a Grécia seria derrotada de vez. Segundo Heródoto, Temístocles um homem de pulso firme, discursou com confiança e bravura, convencendo que se trouxessem a frota persa para o estreito entre Salamina e a costa continental, isso restringiria a mobilidade dos navios persas, permitindo que os trirremes gregos que eram menores em tamanho, seriam mais ágeis. 


Esquema da Batalha de Salamina. A grande frota persa fora Encurralada entre o istmo de Salamina e a ilha de Psitaléia, em 480 a.C.
Os navios começaram a colidir na passagem estreita abarrotada pelos mesmo. De fato, grande parte da frota persa ficou longe da luta, e a medida que uns avançavam, colidiam com outros no caminho, ou com outros que estavam recuando. Os gregos também usaram flechas de balistas armadas nos trirremes, como também flechas incendiárias, incendiando os navios persas. Além disso, quando os navios colidiam, os guerreiros saltavam para o navio inimigo e a luta se desenrolava na espada. 


Desenho retratando a Batalha de Salamina, uma das maiores batalhas navais da Antiguidade. 
Xerxes deve ter ficado furioso, pois testemunhar sua grande frota impotente diante daquela armadilha. Quase a metade dos navios persas foram destruídos. Xerxes ordenou que os navios recuassem, alguns chegaram a fugir em direção a Lídia. O próprio rei desgostoso, revoltado e humilhado retirou-se do monte. Não se sabe ao certo o que houve, mas Xerxes decidiu deixar a Grécia e retornou para a Lídia, todavia ele ainda não havia decidido desistir de conquistar a Grécia.

"A derrota da esquadra persa em Salamina dissipou o terror e o desespero dos gregos do sul. Num clima de euforia e júbilo, eles ofereceram infinitos sacrifícios a seus deuses. Pelo menos uma vez, Atenas, Esparta e várias cidades-Estados haviam se unido num propósito comum. Em razão da crise que haviam enfrentado juntos, os gregos começaram a compreender que tinham muitos laços em com - língua, costumes e cultura. Começaram a compreender o que significava ser grego, e não simplesmente ateniense, tebano, espartano ou corintio. Essa fase propiciou o surgimento da Idade de Ouro da Grécia". (LLYWELYN, 1988, p. 72). 

Em 479 a.C, Mardônio, cunhado de Xerxes, liderou uma tropa de 30 mil homens para continuar a guerra na Grécia. Posteriormente ele recebeu o apoio de 20 mil guerreiros enviados pelo rei, e tal exército marchou de volta a Atenas e a ocupou. Pausânias, que era filho de Leônidas, organizou os espartanos e seus aliados para atacar Mardônio, formando um exército de 40 mil soldados, que se uniram a 8 mil hoplitas atenienses e algumas centenas de corintios. A última batalha travada, foi na arenosa planície de Platéia na Beócia, em 29 de agosto daquele ano. Os persas sofreram uma derrota esmagadora na Batalha de Platéia. Ainda naquele mesmo dia, a cidade de Micale na Lídia fora atacada pela frota grega, marcando uma dupla derrota para os persas. Depois disso, Xerxes desistiria de continuar a guerra e retornaria para Persépolis, arrasado e humilhado. 

A decadência de Xerxes:

Xerxes passaria os anos seguintes em um estado depressivo como atestam os relatos palacianos. O rei passou a beber e comer em demasia, e a não dá muito atenção as questões políticas. De certa forma, sua derrota fora mais humilhante que a que seu pai sofrera, pois o exército que ele enviara era imensamente maior do que o pai enviou, além de ter travado mais batalhas e vencido muitas delas.

"Ao voltar à Pérsia, transformou-se num homem amargo, condenado por seu povo, por seus conselheiros e sacerdotes. O controle que exercera sobre seu reino estava, agora, definitivamente ameaçado". (LLYWELYN, 1988, p. 75).


Desenho europeu retratando Xerxes. Na moeda está escrito em latim: "Xerxes - Rei da Pérsia". 
"Xerxes foi sem dúvida um homem astuto e inteligente. Infelizmente, ele também desistia de suas maiores ambições como mais frequência do que o desejado para o governante de um complexo e vasto império. Seus inúmeros casos sentimentais causaram rivalidades e atritos na Casa Real, produzindo inimigos entre os administradores do Palácio, entre os eunucos e mesmo entre seus próprios parentes". (LLYWELYN, 1988, p. 77). 

A medida que o rei se desinteressava por governar seu grande império, dando atenção a banquetes, riquezas, festas, etc., entre os funcionários do palácio começaram a correr boatos e complôs de que se o rei que contava com seus cinquenta anos, se continuasse a sim, levaria o império a decadência, pois a desatenção do mesmo, levou a um aumento de problemas sociais, econômicos, violência, corrupção, etc. Em 485 a.C, um vizir (ministro ou conselheiro) chamado Artabanos tramou matar o rei e empossar seu filho Artaxerxes I (?-424 a.C), no intuito de manipular Artaxerxes.  


Artaxerxes I da Pérsia
Artaxerxes era filho de Xerxes com Amastris, a qual tivera vários filhos com Xerxes, sendo Artaxerxes o terceiro filho do casal. Além disso, Xerxes já possuía outros filhos mais velhos, mas Artaxerxes era seu favorito, o próprio nome indicava isso. Segundo Llywelyn [1988], Artaxerxes significaria "justiça de Xerxes" e por sua vez, Xerxes significaria "herói entre os homens", logo Artaxerxes seria interpretado como "a justiça do herói entre os homens". Em 485 a.C, Artabanos combinou com um eunuco pessoal de Xerxes, que lhe desse acesso ao quarto do rei na calada da noite, então Artabanos com a ajuda do eunuco, assassinou o rei enquanto este dormia. Artabanos alegou que o responsável pelo crime era Dario, filho mais velho de Xerxes com Amastris, e um dos possíveis herdeiros do trono. Artaxerxes motivado pela lábia ardilosa de Artabanos, decretou seu irmão um traidor e ordenou sua morte, porém, Artaxerxes veio descobrir a verdade e ordenou a morte do eunuco, do vizir e de seus familiares e comparsas. 

Artaxerxes realizou um funeral suntuoso, digno não apenas de um rei, mas de um herói. Foi decretado um ano de luto pela morte de Xerxes. Além disso, o rei fora sepultado como se fosse um vencedor, como se tivesse vencido os gregos. Embora sua derrota ficou na História, Artaxerxes tentou fazer o povo esquecê-la, pelo menos naquele primeiro momento. Artaxerxes conseguiu o apoio da Corte e dos sátrapas e assumiu o trono. O mesmo governaria por 40 anos, recebendo o epíteto de o "Longímano"

Artaxerxes não seria um grande conquistador como seu pai, avô e bisavô, ou um homem sedento por guerras e vingança, de fato ele firmou um acordo de paz com os gregos, e não voltou a tentar invadir a Grécia, embora alguns conflitos com as colônias gregas na Lídia o levaram a ter que interceder.  

Artaxerxes ficou lembrado como um rei amável e benevolente, não fora tão rude como seu pai e seu avô, mas governou com pulso firme, embora não foi tão brilhante gestor como seu avô. Após a sua morte, o império começou a declinar, e menos de um século depois, o rei da Macedônia e da Grécia, Alexandre, o Grande em 336 a.C conquistaria o Império Persa, derrotando o rei Dario III

NOTA: Temístocles seria enganado pelos governantes atenienses e seria forçado ao ostracismo (exílio político forçado). Temístocles viajou para a Pérsia, a fim de buscar exílio na Corte de Xerxes, porém o mesmo lhe negou exílio. Temístocles teria cometido suicídio em 471 a.C ou teria sido assassinado. 
NOTA 2: A Batalha das Termópilas fora retratada algumas vezes no cinema, sendo um dos filmes mais famosos, 300 (2006), baseado na graphic novel homônima de Frank Miller, o qual lançou outra história que foca a Batalha de Artemísio e a Batalha de Salamina e alguns aspectos da vida do rei Xerxes, chamada de Xerxes, a qual foi adaptada para o filme 300: A Ascensão de um Império (2014). 
NOTA 3: No filme 300 (2006) e 300: A Ascensão de um Império (2014), Xerxes é interpretado pelo ator brasileiro Rodrigo Santoro, todavia nos filmes, Xerxes é retratado como um homem bastante alto, tendo cerca de três metros, careca, de barba feita, usando várias correntes e percingis e o corpo pintado de dourado, sendo resultado de sua "transformação" em Deus-rei. De fato, nos filmes ele se proclama o Deus-rei. 
NOTA 4: Depois de Xerxes, seus sucessores adotariam o título de "Rei dos Reis". 
NOTA 5: Em sua viagem de ida para o Helesponto, Xerxes teria visitado Troia, embora seja uma especulação, nada de concreto. 
NOTA 6: Quando chegou no Helesponto, uma tempestade afundou parte dos navios que aguardavam para transportar as tropas para o outro lado do estreito. Xerxes indignado, ordenou que seus homens açoitassem o mar, na tentativa de amansá-lo. Xerxes ordenou que os navios que restaram fossem alinhados lateralmente, e uma ponte fosse construída sobre eles. No filme 300: A Ascensão de um Império tal acontecimento foi representado.
NOTA 7: De acordo com o livro bíblico, Livro de Ester, esta bela judia teria sido uma das esposas do rei Xerxes I, o qual era chamado pelo título de Assuero. Contudo, alguns historiadores apresentam imprecisões históricas que fundamentam tal fato. Pois pelo fato de Assuero aparecer como uma referência ao monarca persa, não se tem certeza de quais dos reis persas teria sido o que foi mencionado nos livros bíblicos do Antigo Testamento, alguns sugerem que pelos relatos históricos o rei Assuero na realidade teria sido mais de uma pessoa, mas não se sabe ao certo o porque não ter se mencionado seu nome, logo, em diferentes livros que o nome Assuero é apontado, talvez não se refira ao mesmo rei persa. O historiador romano Flávio Josefo (37/38 - ca. 100) menciona em seu livro sobre a história dos hebreus, que Ester teria se casado com Artaxerxes, e não com Xerxes. Contudo, não há uma certeza acerca de quem foi o rei persa de quem Ester teria se tornado esposa, ou se realmente ela se casou com o soberano persa, ou teria sido outro membro da nobreza. 
NOTA 8: No filme 300: A Ascensão de um Império (2014) mostra que Temistócles tivera grande participação na Batalha de Maratona, mas na realidade foi o general Milcíades quem tivera maior participação, embora tenha morrido na ocasião. Ainda no filme, Artemísia interpretada por Eva Green, possui grande importância na trama, contudo, embora historicamente ela tenha comandado alguns navios, ela não possuiu a mesma relevância que é passada no filme. Em ambos os filmes de 300 existem imprecisões históricas, se bem que a ideia de Frank Miller seja uma reinterpretação e não uma obra histórica de fato. 

Referências Bibliográficas:
LLYWELYN, Morgan. Xerxes. São Paulo, Nova Cultural, 1988. (Coleção Os Grandes Líderes - vol. 90). 
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 3. São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 5. São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 7. São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 24. São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Links relacionados: 
O Século de Péricles
Heródoto de Halicarnasso: O Pai da História
A Era de Alexandre


sábado, 20 de abril de 2013

Viena, 1913: há cem anos, Hitler, Stalin, Freud e Trotsky eram vizinhos

Viena, 1913: há cem anos, Hitler, Stalin, Freud e Trotsky eram vizinhos


Andy Walker
Programa 'Today', da BBC Radio 4


Cem anos atrás, a região de Viena, então capital do Império Austro-Húngaro, serviu de casa para cinco homens que viriam a ter papéis determinantes no século 20: Adolf Hitler, Leon Trotsky, Joseph Tito, Sigmund Freud e Joseph Stalin.

Joseph Stalin em 1902
Em janeiro de 1913, um homem cujo passaporte trazia o nome Stavros Papadopoulos desembarcou de um trem vindo da Cracóvia, na Polônia, com um bigode típico dos camponeses e uma mala de madeira, muito simples.

"Eu estava sentado à mesa quando a porta se abriu com uma batida e um homem desconhecido entrou. Ele era baixo, magro, sua pele, escura, coberta por pequenas marcas e cicatrizes... não vi nada em seus olhos que se assemelhasse a simpatia", relembrou, muitos anos depois, o homem que Papadoulos tinha vindo encontrar na cidade.

Mas a real identidade do forasteiro era outra. Nascido Iosif Vissarionovich Dzhugashvili, o homem recém-chegado à Viena era, na verdade, Joseph Stalin, também conhecido pelos amigos como Koba. E seu anfitrião, um intelectual dissidente russo, então editor do jornal radical Pravda (A Verdade), chamava-se Leon Trotsky.

Disparidades

Obviamente, nem todos os "quase vizinhos" que viriam a moldar grande parte do século 20 nos anos que se seguiram dividiam as mesmas visões de mundo, e nem todos estavam no mesmo momento de vida.

Leon Trotsky
Stalin e Trotsky, por exemplo, estavam fugindo da Rússia.

Já o psicanalista Sigmund Freud viva um momento de exaltação por, de acordo com seus seguidores, abrir os segredos da mente, e estava bem estabelecido na rua Berggasse, onde morava e atendia seus pacientes.

Sigmund Freud em foto tirada em 1915.
O jovem Josip Broz Tito, que mais tarde viria a ser conhecido como o marechal Tito, líder sangrento da Iugoslávia, trabalhava na fábrica de automóveis Daimler, em Wiener Neustadt, um vilarejo ao sul de Viena, e procurava emprego, dinheiro e diversão.

Josip Broz Tito
E havia ainda um jovem de 24 anos do noroeste da Áustria cujos sonhos de estudar pintura na Academia de Belas Artes de Viena haviam sido destruídos duas vezes e que agora vivia numa pensão na rua Meldermannstrasse, próximo ao Danúbio. Frustrado, o austríaco que viria a transformar a história de maneira terrível se chamava Adolf Hitler.

Adolf Hitler
E reinando sobre todos eles, no Palácio Hofburg estava o já envelhecido imperador Franz Joseph, que detinha o trono austro-húngaro desde o ano das grandes revoluções, 1848. O arquiduque Franz Ferdinand, designado como seu sucessor, morava no Palácio Belvedere, nas proximidades, e aguardava com ansiedade o momento de tomar o poder. Seu assassinato, em 1914, seria o estopim da Primeira Guerra Mundial.

Arquiduque Franz Ferdinand

Império e diversidade

A Viena de 1913 era a capital do Império Austro-Húngaro, que consistia em 15 nações e mais de 50 milhões de habitantes.

 
Imperador Franz Joseph
"Embora não fosse exatamente um caldeirão de diversidade, Viena tinha seu próprio tipo de charme cultural, atraindo os mais ambiciosos de todas as partes do império. Menos de metade dos dois milhões de habitantes da cidade eram nativos e cerca de um quarto vinha da Boêmia (região no oeste da República Tcheca) e da Morávia (no leste do mesmo país), então o tcheco era falado ao lado do alemão em muitas ocasiões", explica Dardis McNamee, editora-chefe do "Vienna Review", único periódico mensal em inglês da Áustria, e moradora da cidade há 17 anos. Ela acrescenta que, na época, os súditos austro-húngaros pertenciam a um império onde 12 línguas diferentes eram faladas.

"Oficiais do Exército Austro-Húngaro tinham que estar aptos a dar ordens em 11 línguas além do alemão, e cada uma tinha sua própria versão do hino nacional", diz.

Cafés e dissidentes

Além disso, outras características tornavam a cidade atraente, entre elas o tipo de governo e os famosos cafés, onde intelectuais de várias origens se encontravam e mantinham calorosos debates.

"A comunidade intelectual vienense era na verdade razoavelmente pequena e todos se conheciam, o que tornava possível um intercâmbio através das fronteiras culturais", explica Charles Emmerson, autor de 1913: Em Busca do Mundo Antes da Grande Guerra, que também atua como pesquisador sênior no instituto de política externa Chatam House, na Grã-Bretanha.

Mapa de Viena entre os anos de 1913-1914.
"Não havia um Estado central muito forte. Ele era na verdade um pouco displicente. Se você quisesse encontrar um lugar para se esconder na Europa onde pudesse conhecer muitas outras pessoas interessantes, Viena era o lugar para se estar", diz.

Embora todos frequentassem os cafés da cidade e tivessem seus favoritos, ninguém sabe se Hitler esbarrou em Trotsky ou se Tito conheceu Stalin. Mas obras como "Dr. Freud está pronto para recebê-lo agora, senhor Hitler", uma radionovela de 2007 escrita por Laurence Marks e Maurice Gran, dão uma amostra de como esses encontros poderiam ter se desenrolado.

O que se sabe, de fato, é que a guerra que emergiu no ano seguinte destruiu muito da vida intelectual de Viena, levando à implosão do império anos mais tarde, em 1918, e dando a Hitler, Stalin, Trotsky e Tito papéis cruciais na História.