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Leandro Vilar

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Aquenaton e a reforma monoteísta no Egito Antigo

"[Aton] Deus único sem igual".
Grande Hino a Aton, séc. XIV a.C.

Os egípcios antigos como outros povos eram conhecidos pelos vários deuses que adoravam, contudo, no século XIV a.C, um faraó da XVIII Dinastia, chamado Amenhotep IV realizou uma reforma religiosa em que decretou que apenas um único deus seria adorado em todo o império egípcio. Esse deus era Aton, o novo deus-sol que passaria a ser supremo. A reforma religiosa proposta por Amenhotep IV que ficaria mais conhecido pelo nome que adotaria de Aquenaton, não apenas causou impactos nos preceitos religiosos, mas incidiu sobre a política, a cultura e a sociedade de todo o país, pois muitos não gostaram da ideia de terem que renegar seus deuses para adorar apenas um deus. Neste texto procurei abordar um pouco desse peculiar episódio da história egípcia antiga, mas antes de adentrarmos a política religiosa de Aquenaton, passamos por uma breve introdução ao período que ele viveu, o qual nos fornece informações valiosas para se compreender a realidade do império em seu tempo.

Aviso: Muitos faraós ficaram conhecidos pela versão grega de seus nomes, daí se algum dos leitores encontrar outro nome para o mesmo faraó, não está errado, pois o nome grego pode aparecer com grafia diferente. Além disso, as datas que serão apresentadas aqui em relação a alguns faraós, trata-se do período de seus governos e não dos seus anos de vida. Por fim, não existe unanimidade de quando determinados governos e períodos se iniciaram ou terminaram, daí as datas aqui apresentadas são aproximadas e dependendo da fonte, poderá haver divergências entre as datas. 


O Império Novo (c. 1580-1085, 1570-1070 ou 1550-1075 a.C):


A história egípcia antiga é dividida em fases, sendo que o chamado período do Império Novo, Novo Império, Reino Novo ou Novo Reino é um dos mais marcantes desse povo. O Império Novo foi governado por três dinastias, as quais foram as dinastias XVIII, XIX e XX, totalizando ao todo 32 faraós que governaram o império durante esses quase cinco séculos. O Império Novo ficou conhecido por se iniciar com o retorno das famílias egípcias ao poder, pois até então os hicsos, um povo estrangeiro vindo da Ásia, havia invadido e tomado parte do território do delta do Nilo por volta de 1780 a.C, iniciando a fase histórica do Segundo Período Intermediário (c. 1785-1580, 1780-1550 ou 1750-1570 a.C) período neste que o Egito passou a ser governado por um povo estrangeiro. Os hicsos assumiram o poder elegendo seus próprios faraós que consistiram na XIII a XVII dinastias, embora que houve faraós de origem egípcia que governaram nesse período, ainda que houvesse casos de haver mais de um faraó ao mesmo tempo, devido aos embates entre as famílias hicsas e egípcias. O faraó egípcio Amósis I ou Ahmés I foi o responsável por vencer os hicsos. 



Pintura retratando o faraó Amósis I combatendo os hicsos. Os hicsos ficaram conhecidos pelo uso de uma forte e habilidosa cavalaria que contribuiu para sua vitória sobre os egípcios nos séculos XVIII e XVII a.C. 

"A expulsão definitiva dos hicsos ocorreu por volta de 1532. Além de protagonizar tal fato capital, o primeiro rei da XVIII dinastia, Ahmés I, tomou a localidade de Sharuen, na Palestina, e restabeleceu o domínio egípcio na Núbia até a segunda catarata do Nilo. Sua política núbia foi seguida por seu filho Amenhotep I, em cuja época surgiu na Mesopotâmia e Síria setentrionais o reino do Mitani, o qual se tornou o principal adversário do Egito na Ásia durante mais de um século". (CARDOSO, 1985, p. 24).

“O rei Amósis I, aclamado pela posteridade como pai do Novo Império e fundador da XVIII dinastia, foi, segundo todas as evidências, um homem de energia e capacidade excepcionais. Amenófis I (ou Amenhotep I), seu filho, mostrou se um sucessor a altura do pai, cuja política interna e externa prosseguiu com vigor. Embora provavelmente estivesse mais preocupado com a organização do reino do que com as conquistas, consolidou e estendeu os domínios do Egito na Núbia ate a Terceira Catarata. Durante os nove anos de seu reinado não ocorreram agitações na Síria nem na Palestina”. (BAKR, 2010, p. 118). 

Mas, além dessa recuperação do controle completo do país, o Império Novo ficou conhecido por ter sido uma época de expansão territorial, onde o império alcançou sua máxima extensão, indo da Núbia até a Cilicia. Foi a época com o maior número de campanhas militares, algo visível entre os faraós Tutmósis I (seu nome em egípcio era Djehutimés, contudo ficou mais conhecido pelas versões gregas de seu nome como Tutmósis ou Tutmés), Tutmósis III e Ramsés II, os quais são lembrados como grandes conquistadores, sendo Tutmósis III o mais triunfante neste aspecto.


A máxima extensão territorial do Império do Egito durante o reinado de Tutmósis III. 

"O terceiro Djehutimés, como Senuosret III no Reino Médio, além de grande construtor, foi o mais notável guerreiro de sua época. Ao longo de dezessete campanhas militares de importância variável enfrentando coligações de príncipes e cidades da Palestina e da Síria encorajadas pelos mitanianos, e por fim vencendo o próprio Mitani, consolidou - ou, segundo outros autores, criou - o império egípcio na Ásia. Estendeu, outrossim, os limites do domínio faraônico na Núbia até além da quarta catarata, fundando a cidade de Napata. No fim do seu reinado, voltou-se contra a memória de Hatshepsut, eliminando o seu nome de várias inscrições e danificando muitas das representações da rainha em relevos e esculturas". (CARDOSO, 1985, p. 25).

Além dessa expansão territorial, tal período também foi marcado por renovações artísticas e arquitetônicas, sendo uma das épocas onde se mais realizou obras em todo o país. As tumbas do Vale dos Reis e do Vale das Rainhas surgiram nessa época (Tutmósis I foi o primeiro faraó a ser enterrado no Vale dos Reis inaugurando tal hábito seguido pela maioria dos faraós do Império Novo), substituindo plenamente a construção de pirâmides que já estava em baixa a bastante tempo devido aos altos gastos de sua construção. 

"O Vale dos Reis que os árabes chamam de Biban el-Moluk, 'As portas dos reis', com evidente alusão às entradas das numerosas tumbas que já na antiguidade eram escavadas na montanha tebana, é formado por uma profunda abertura na rocha calcária". (SILIOTTI, 2006, p. 184). 


Mapa mostrando a localização das principais tumbas de um total de 63 até onde foi descoberto, pois estima-se que existam outras tumbas. Os faraós na legenda são na maioria os monarcas das XVIII, XIX e XX dinastias, embora que as dinastias XXI e as seguintes também enterraram ali alguns de seus faraós. 

"O Vale dos Reis, chamado antigamente Ta sekhet-âat, 'a grande pradaria', consiste em uma profunda garganta em rocha calcária dominada pela Colina Tebana (em árabe el-Qurn), consagrada à deusa naja Meretseguer, 'A que ama o silêncio". É muito provável que fosse precisamente a forma piramidal da montanha o que determinou a escolha deste lugar para a localização da necrópole real na época de Tutmés I e Hatshepsut, que foram os primeiros a ter uma tumba neste lugar". (SILIOTTI, 2006, p. 184). 

A capital do país mudou-se para Uaset, mais conhecida pelo seu nome grego de Tebas. Ao longo da XVIII Dinastia, Tebas se mantivera como capital, crescendo muito neste tempo, e durante o governo de Amenhotep IV brevemente deixou de ser a capital, mas retomou o posto até que na XIX Dinastia, o faraó Ramsés II transferiu a capital para Pi-Ramsés na região do delta do Nilo, embora Tebas manteve-se como capital religiosa, além deter soberania em algumas aspectos administrativos do Estado. 

Localização da cidade de Tebas (Uaset em egípcio antigo). 

Muitos templos e monumentos foram erguidos por essa época, fato este que os complexo de Karnak em Luxor (cidade próxima a Tebas), resultado das reformas empreendidas por Amenhotep III crescera bastante e vivenciara sua fase dourada, sem contar as riquíssimas tumbas e templos pessoais de vários faraós, como o caso do Templo de Abu Simbel construído por Ramsés II, a grande tumba real de Seti I no Vale dos Reis, e o complexo de Deir-el-Bahari de Hatshepshut e Tutmósis III.

"Djehutimés IV e seu filho Amenhotep III, sem manifestarem a energia de seus antecessores, colheram os frutos dos esforços destes, desfrutando de um domínio proveitoso e ainda pouco ameaçado sobre os territórios ocupados na Ásia e na Núbia". (CARDOSO, 1985, p. 25). 

Fachada do Templo de Abu Simbel de Ramsés II, o Grande. As estátuas retratam a face do faraó.

O império também estendeu suas relações comerciais e diplomáticas com monarcas asiáticos da Mesopotâmia, Síria e Palestina, como também defendeu seus territórios da ameaça dos hititas e dos "povos do mar" (termo genérico para se referir a grupos de povos do Mediterrâneo oriental que atacaram não apenas o Egito, mas também a Grécia, a Ásia Menor e outras localidades), onde os faraós Meneptá e Ramsés III se destacaram na defesa do país. 

Hatshepsut
Um dos fatos curiosos e importantes desse período foi a questão de que uma mulher assumiu o título de faraó e governou por cerca de 22 anos o país. Essa foi Hatshepsut, a qual de fato foi a mulher mais poderosa de toda a história egípcia dinástica (embora Cleópatra VII seja lembrada como "a rainha do Egito", em termos de poder ipso facto, Hatshepsut governou realmente como soberana, a ponto de manter seu sobrinho Tutmósis III vinte anos afastado do trono). Embora tenha sido uma fase de relativa tranquilidade para o governo, houve várias intrigas políticas e desentendimentos, como a misteriosa morte do faraó Tutancâmon e o desentendimento de Amenhotep IV com os sacerdotes de Amon, mesmo assim, isso não manchou a imagem desse período. Sendo assim, a XVIII Dinastia foi marcada pelo retorno da soberania nacional sobre o governo estrangeiro, a retomada da expansão territorial e o desenvolvimento cultural e arquitetônico, além de ter sido a dinastia que mais perdurou das três deste período. A XIX Dinastia é principalmente lembrada pelos governos de Ramsés I, Seti I e Ramsés, como um período que se prosseguiu com as campanhas expansionistas, assim como com o desenvolvimento urbano e econômico. 

"A XIX dinastia (1307-1196 a.C) destacou-se, em primeiro lugar, pela recuperação da preeminência egípcia na Síria-Palestina. As necessidades da política e do comércio asiáticos levaram a que se fixasse a residência real no Delta (Pi-Ramsés), de onde aliás era originária a nova família reinante. Tebas se manteve, porém, como capital religiosa e administrativa. Ramsés I, escolhido como sucessor por Horemheb, era como este um soldado. Chegou ao trono já idoso, associando ao poder como co-regente o seu filho Sethi I, que logo reinou só. Este, que já havia realizado uma campanha militar na Núbia ainda em vida de Ramsés I, dedicou-se a recuperar parcialmente o império asiático do Egito, retomando a Palestina e uma porção da Síria". (CARDOSO, 1985, p. 27).

Cabeça mumificada do faraó Seti I, pai de Ramsés II. 

Por fim, a XX Dinastia se apresenta como o declínio desse período, marcado principalmente pelo governo dos faraós Ramsés que totalizaram onze monarcas que assumiram tal nome, contudo, após a morte de Ramsés III, o último grande faraó do Império Novo, os demais não conseguiram manter a prosperidade que vinha se desenvolvendo a vários anos no país. 

Ramsés III
“A XX dinastia (1196-1070 a.C) foi a última do Reino Novo e conheceu um único reinado de peso, o de seu segundo faraó, Ramsés III. Este rei, construtor do templo funerário de Medinet Habu (Tebas), teve de enfrentar e repelir três ataques dos “povos do mar” contra o Delta, dois provenientes da Líbia e um do leste (este último em forma de invasão ao mesmo tempo terrestre e marítima). O Egito, em seu reinado, ainda controlava o sul da Palestina, cuja zona costeira, no entanto, caíra nas mãos da tribo indo-européia dos filisteus. Ramsés III efetuou uma reforma social e administrativa que conhecemos mal; alguns autores interpretam-na como constituindo a consagração da tendência já antiga à hereditariedade das funções e à formação de castas. Em seu reinado deu-se uma greve – que já mencionamos - dos operários da necrópole real e houve uma tentativa de assassinato do rei, tramada por uma mulher do seu harém para levar ao trono um dos príncipes”. (CARDOSO, 1985, p. 28).

“Depois de Ramsés III, outros oito reis - todos chamados Ramsés - ocuparam o trono durante uns noventa anos. Foi uma fase francamente decadente, durante a qual o Egito perdeu o controle da Palestina e mais tarde da Núbia. Os sacerdotes de Amon concentravam enormes extensões de terras e se tornaram praticamente independentes em Tebas. Os mercenários estrangeiros - líbios em particular - também chegaram a ter muito poder e riqueza. O país conheceu más colheitas e anos de fome e miséria. As tumbas reais foram pilhadas”. (CARDOSO, 1985, p. 28).

Amenhotep IV e sua família:


Amenhotep III
Amenhotep ou também como é conhecido pela versão grega de seu nome, Amenófis, era filho de Amenhotep III (c. 1390-1350 a.C) e da rainha Tiye que pelo o que se propõe era uma princesa de origem síria, que se tornou a principal esposa de Amenhotep III (a poligamia não era proibida totalmente, embora que apenas uma das mulheres recebe-se o título de Grande Esposa Real, e as demais eram concubinas. O faraó teve outras duas concubinas importantes, a princesa de Mitanni, Mutemuya, e uma princesa quera irmã do rei Enlil da Babilônia). Não se sabe ao certo em que ano Amenhotep IV nasceu e sobre sua infância praticamente nada se sabe, pois entre os egípcios antigos não era costume contar a vida no período da infância. Contudo, Amenhotep IV não foi o filho mais velho, logo, não era o herdeiro direto ao trono, sendo o primogênito, o seu irmão Tutmósis. Pouco se sabe sobre esse irmão mais velho, contudo, sabe-se que foi governador de Mênfis (antiga capital do Egito) e sumo-sacerdote do deus Ptah, uma das principais divindades na cidade. Tutmósis faleceu entre o décimo sexto e vigésimo sétimo ano do governo de seu pai, sendo as causas de sua morte ainda desconhecidas. Além disso, nem se sabe com quanto anos ele morreu. Se ele tivesse assumido o trono, teria se tornado o faraó Tutmósis V. Quando Amenhotep IV se tornou faraó, herdou de seu pai e de seu avô Tutmósis IV um país bem extenso, bem gerido e organizado. 

“Quando Amenófis III sucedeu a seu pai, provavelmente já estava casado com a rainha Teye, sua esposa principal. A ascensão do jovem rei ao trono ocorreu numa época em que, graças as notáveis realizações – internas e externas – de aproximadamente dois séculos, o país se encontrava no auge do poder político, gozando de grande prosperidade econômica e desenvolvimento cultural. Além disso, o mundo passava por um período de paz, e o faraó e seu povo podiam desfrutar os vários prazeres e luxos que a vida lhes oferecia. Ao que parece, Amenófis III estava pouco interessado em manter seu poder no exterior, embora se esforçasse por conservar os Estados vassalos setentrionais e seus aliados através de generosas doações em ouro núbio. Pelo fim de seu reinado, como evidenciam as cartas de Tell elAmarna, a ausência de demonstrações militares encorajou os homens de iniciativa a conspirarem para reaver sua independência e a se revoltarem contra a autoridade egípcia”. (BAKR, 2010, p. 120).

"Do seu reinado se diz que correspondeu “ao máximo de esplendor da cultura egípcia, em todos os seus aspectos”. A riqueza acumulada durante quase três gerações, a rapina do Retenu e a apropriação das fontes de produção da Núbia viabilizaram um governo de grandes realizações. Em Karnak, a sua atividade construtora foi mais ampla que a de todos os seus antecessores, somadas". (DOBERSTEIN, 2010, p. 163). 

Vista área do complexo de Karnak, construído por ordem do faraó Amenhotep III, o qual ficou conhecido por suas grandiosas obras. Vários faraós durante seus governos foram ampliando Karnak, concedendo novos templos e outras construções. 

Após cerca de 30 anos de governo, Amenhotep III faleceu e seu filho Amenhotep IV assumiu o trono por volta de 1550 a.C. Pelo fato de não se saber quando precisamente Amenhotep IV nasceu, acredita-se que ele tenha assumido o trono entre as idades de 15 e 25 anos. Contudo, sabe-se que ao se tornar faraó, o mesmo já estava casado na época, pois era comum na sociedade egípcia, homens e mulheres se casarem cedo. Amenhotep IV casou-se com a princesa Nefertiti, a qual se tornou uma das rainhas mais conhecidas da história egípcia dinástica. 

O casamento com Nefertiti é curioso, pois geralmente era costume da realeza a prática do incesto, logo, os irmãos se casavam com suas irmãs, contudo, não se sabe por quais motivos Amenhotep IV não se casou com sua irmã Sat-Amon, mas se casou com Nefertiti, teria sido por questões políticas? Pois os casamentos eram arranjados pelos pais, e o fato de praticar-se o incesto estava ligado a condição de se preservar a linhagem real, sem "misturá-la" com o sangue de outras linhagens. 

Porém, Nefertiti não teria sido uma completa estranha, pesquisas realizadas na primeira década do século XXI apontam a possibilidade que a rainha fosse filha de Ay, o qual viria a ser um faraó anos depois, mas além desse fato, acredita-se que Ay fosse irmão da rainha Tiye, ou seja, Nefertiti seria prima em primeiro grau de Amenhotep IV, logo, o fato de se manter a linhagem real segura, ainda estava assegurado. 

Estátua retratando Amenhotep IV e Nefertiti. 

Quando Amenhotep IV assumiu o trono, durante os ritos de entronização, era comum os faraós adotarem cinco nomes reais, os quais eram escritos nos cartuchos que passariam a ser representados em muitas das suas imagens, ou em escritos reais que mencionassem sua pessoa. Tais nomes eram uma espécie de títulos que o faraó carregava de forma simbólica que legitimava sua autoridade política e religiosa. Os nomes que ele adotara, foram:
  • Nome de Hórus: Touro poderoso com as duas altas plumas.
  • Nome das Duas Senhoras: Grande é a sua realeza em Karnak.
  • Nome de Hórus de Ouro: Que leva as coroas de Hermontis. 
  • Nome da Cana e da Abelha: Perfeita são as evoluções de Rá: é o único (Rei do Alto e do Baixo Egito) que pertence a Rá.
  • Filho de Rá: Amenhotep divino regente de Tebas. 
Além destes títulos reais e obrigatórios, o faraó assim como seu pai também passou a usar epítetos, estando estes relacionados com a deusa Maat, a deusa da verdade e da justiça. Sendo assim, Amenhotep IV usava os epítetos de: "o que vive pela verdade" e "o Senhor da verdade". Posteriormente, quando passou a adotar o nome de Aquenaton, ele também passou adotar epítetos relacionados com o deus Aton, como "o filho de Aton". 

"Em seus primeiros cinco anos de reinado permaneceu fiel às tradições. Rendeu homenagens aos deuses tradicionais, especialmente a Amón. Assumiu integralmente o posto de primeiro profeta do deus tebano. No santuário de Karnak, na avenida que ligava o templo de Amón ao da deusa Mut, mandou executar diversas esfinges, com seu rosto no corpo de um carneiro, a encarnação de Amón". (DOBERSTEIN, 2010, p. 166). 


Contudo foi entre o quinto ou sexto ano de seu reinado, que Amenhotep IV decidiu dá início a sua revolução monoteísta, entrando em conflito contra o clero de Amon, o principal deus de Tebas (embora o país fosse politeísta, cada cidade possuía suas principais divindades, algo visto também entre os sumérios, indianos, gregos, fenícios, etc.), sendo que o clero de Amon detinha em Tebas grande influência não apenas religiosa, mas também política, econômica e social. De fato, os motivos para que Amenhotep IV tenha entrado em conflito com os sacerdotes de Amon não são claros, pois muitos documentos de seu governo foram destruídos ou se perderam no tempo, pois Amenhotep IV se tornou um herege. 

O culto ao Sol:

Para entendermos melhor o problema gerado pelo culto a Aton como único deus do Egito, precisamos conhecer um pouco de como funcionava a antiga religião egípcia. 

“Obcecada pela vida eterna e pela perpetuação da alma, a religião egípcia fascina por seu caráter místico. As pirâmides são o testemunho mais perene dessa busca pela eternidade. O Livro dos mortos abre as portas para a transcendência. E o culto dos faraós, materialização do divino, revela o respeito dos egípcios pela autoridade. Em tudo, as forças da natureza mostravam-se soberanas, personificadas como divindades, a começar pelo Sol, símbolo da vida. E ainda havia o Nilo na Terra”. (GRALHA, 2009, p. 8).

“Os egípcios pensavam o mundo a partir da sua experiência: viviam em um deserto, fertilizado pelas águas de um rio, o Nilo, que não recebia afluentes ou água de chuva. As cheias, que hoje sabemos, serem o resultado de chuvas na África tropical, eram para eles misteriosas. O céu sempre azul era dominado pelo Sol, que nascia e morria a cada dia, sem que as pessoas soubessem que isso era devido apenas ao movimento de rotação da Terra. Interpretavam o mundo como resultado de forças superiores. Os outros mistérios também eram associados a divindades, mas não havia dúvida de que acima de todas estava o Sol. Assim também ocorria na sociedade egípcia, pois o faraó reinava soberano, também divinizado. Não por acaso, o mito da criação veio da Cidade do Sol, Heliópolis”. (GRALHA, 2009, p. 10).

Amon
O fato de o Sol ser algo tão importante na religião egípcia fica evidente quando notamos a existência de quatro deuses solares, que embora alguns egiptólogos defendam que consistam no mesmo deus, apenas mudando o seu nome e algumas de suas características, tal fato também possui fundamento, pois vemos os nomes de Atum-Rá e Amon-Rá, como uma forma de juntar os dois deuses em um só. Sendo assim, Atum e são os deuses solares mais antigos conhecidos no Egito, e posteriormente surgiram Amon e Aton. No caso dos últimos dois deuses, seus cultos se tornaram mais influentes durante o período do Império Novo, pois diferente do que se pensa, não foi Amenhotep IV o primeiro a propor o culto a Aton, de fato, o culto a esse deus-solar já existia vários anos antes de Amenhotep IV decidir declará-lo como único deus dos egípcios. O Sol era considerado fonte da vida, pois em alguns mitos cosmogônicos Atum e Rá se apresentam como deuses criadores do mundo e de outros deuses, além disso, havia a própria ideia de que luz é vida, logo, acreditava-se que toda as noites, o deus Rá em sua viagem pelo submundo (o Sol nasce no leste e se põe no oeste, logo, os egípcios acreditavam que durante a noite ele fazia o caminho contrário pelo submundo, para poder retornar a aparecer no leste) era perseguido pela serpente Apep, a qual tentava matá-lo, e por fim ao dia. Cultuar o Sol era celebrar a criação, a vida, o renascimento, a esperança, a oportunidade, etc. Tais características são marcantes, pois os faraós a partir da VI Dinastia começaram a adotar o nome real de "Filho de Rá", numa analogia a importância do deus-sol, como forma dos faraós não se apresentarem apenas como uma divindade, mas também como perpetuadores da vida e das bençãos.

“Havia três modos de cultos no Egito antigo: oficial, popular e funerário. O culto oficial era realizado pelo faraó e pelo corpo de sacerdotes nos grandes templos e em diversas regiões do Egito. Era endereçado aos deuses do panteão egípcio. Os deuses locais tinham uma importância maior no culto. Dessa forma, na cidade de Mênfis, a tríade constituída pelo deus Ptah (deus dos artesãos, mas considerado criador nessa cidade), pela deusa Sekhmet (deusa solar de grande poder e responsável pelas doenças e pela cura) e pelo "filho" Nefertum deveria ter uma atenção maior. Já em Tebas, o deus Amon-Rá — visto aqui como um deus criador —, sua consorte, a deusa Mut (a mãe), e Khonsu, um deus de característica lunar, ganhariam mais destaque. Mas apenas poucas cidades tinham tríades divinas como essas”. (GRALHA, 2009, p. 15-16).

“O culto era realizado diariamente por um grupo de sacerdotes que possuía funções específicas no decorrer da cerimônia, como preparar as oferendas, em boa parte alimentos, e o cuidado com os materiais ritualísticos, por exemplo, o que denota uma hierarquia no segmento sacerdotal. Nessa prática religiosa, o templo era o principal local e poderia servir tanto para o culto aos deuses quanto para o culto ao faraó (nos templos em memória do faraó falecido)”. (GRALHA, 2009, p. 15).

Não se sabe ao certo quando o culto a Aton ou Aten surgiu, mas as pesquisas apontam que o seu culto teria se originado a partir do culto do deus Rá-Horakhyt (uma das personificações ou essências do deus Rá inspirada no deus Hórus, aludindo a passagem do sol pelo céu. Os egípcios costumavam atribuir várias características para alguns deuses, gerando até nomes alternativos para se referir mais especificamente a tais características, algo que ele chamavam de neter) em Heliópolis (On em egípcio antigo). Aton era descrito como sendo o disco solar, e em algumas das representações do deus Rá, este que possuía uma forma zoomórfica, tendo o corpo de homem e a cabeça de falcão, era retratado com um disco solar sobre a cabeça. 

No Império Médio (c. 2000-1780 a.C), essa característica do deus Rá começou a ganhar culto como parte dos simbolismos associados ao deus Rá, porém a divinização do disco solar começou a surgir de fato no Império Novo, durante o governo de Tutmósis IV, o avô de Amenhotep IV como já apresentado. Existem registros escritos e pictográficos onde o faraó agradece ou faz referência a Aton. 

Rá e a deusa Imentet. Pintura na tumba da rainha Nefertari, esposa de Ramsés II.

“Apesar de los antecedentes, recién con Tuthmosis IV se observan algunos ejemplos que muestran a Aton como manifestación de una divinidad personificada, que acompaña al faraón en la batalla. En el escarabajo conmemorativo de Tuthmosis IV, se registra: "el rey luchó con Aton ante él" y se destaca, además, que el objetivo de la conquista es "hacer que los extranjeros sean como el pueblo (los egipcios) para hacer servir a Aton para siempre". Evidentemente, el disco solar Aton adquiere aquí participación en una acción bélica, hecho que confirma no sólo la estrecha relación del disco solar con el rey, que ya aparece con Tuthmosis III, sino también la tendencia a identificar al disco solar como símbolo relacionado al império. El rey es representado con un tocado con un gran disco solar masacrando a un asiático . Además, en el motivo de uno de los paneles del carro de Tuthmosis IV, el rey está representado por una cartela semejante al disco solar, que tiene una cabeza de halcón y brazos, con los que da muerte a un enemigo. Ambas escenas son parte de la ceremonia de la muerte ritual del enemigo por el faraón”. (SINGER, 2003). 

O sucessor de Tutmósis IV, seu filho Amenhotep III pelo o que indica as pesquisas, também mantivera o culto a Aton, embora este ganhou maior destaque nos últimos anos de seu governo, mesmo assim encontra-se relatos que o culto entre as duas divindades solares teria coexistido de forma pacífica em Tebas, pois hieroglifos indicam uma associação entre Amon e Aton, algo antes não cogitado pelos egiptólogos, pois excetuando-se os dois faraós e algumas pessoas ligadas a estes, o culto a Aton não possuía muito espaço na capital, a qual era sede do culto a Amon. 


Busto de Tutmósis IV, hoje no Museu do Louvre.

“El culto del disco solar, Aton, se desarrolló rápidamente bajo Amenofis III, pero no amenazó seriamente la primacía de Amón. El "segundo profeta de Amón" en el reinado de Amenofis III se llamaba también "el servidor del dios Aton". Este texto muestra a Aton como divinidad personificada y señala como posible la existencia del culto al dios Aton en Tebas, junto al culto a Amón. El "Himno solar a Amón", compuesto durante el reinado de Amenofis III por los arquitectos del rey, Suty y Hor, contiene ideas y frases muy parecidas a aquellas encontradas en el "Himno a Aton" del reinado de Akhenaton. Evidentemente, las ideas expresadas en este último no fueron totalmente nuevas, ni ciertamente lo fueron las frases con las que esas ideas fueron expresadas". (SINGER, 2003).

Representação do deus-sol Aton. Sabe-se que houve um tempo que ele era representando de forma bem similar ao deus Rá, contudo, foi no governo de Tutmósis IV que começou a se firmar sua iconografia como disco solar.

“La existencia de títulos como "escriba del tesoro del templo de Aton" y "Mayordomo de la mansión del disco" (11) establecen la posibilidad de la construcción de una capilla a Aton, en o cerca del recinto del gran templo de Amón en Karnak (12). Un escarabajo de Amenofis III encontrado en Sedeinga, Nubia, menciona al disco solar como: "Aton, señor heliopolitano de los Dos Países" (13); epíteto que hace alusión al señorío de este dios en las dos partes de Egipto”. (SINGER, 2003).

“El rey es identificado con el disco cuando adopta el nombre de "el disco solar deslumbrante", aplicado a su palacio de Malkata, a una compañía militar y a su barca real (14). El rey es "el divino dios que emerge desde Aton" (15); expresión que revela la condición divina del rey y describe su nacimiento físico, como hijo del mismo dios. También, durante el reinado de Amenofis III, las acciones atribuidas normalmente al rey en su aspecto de "gobernante del mundo" son, ahora, aplicadas al disco solar. Aton es el "disco solar deslumbrante de todas las tierras", demostrando así una aproximación a la conocida imagen, de la época de El Amarna, de Aton como el "gobernante del mundo". Aton no se ha apropiado aún de las cartelas reales, como lo hará durante el reinado de Akhenaton (16), pero comparte epítetos con el rey”. (SINGER, 2003).

Essa características do culto oficial é importante para entender o porque da influência dos sacerdotes de Amon e a autoridade que o faraó dispunha sobre as práticas religiosas. Pois, o grande problema de Amenhotep IV não foi propriamente dar maior ênfase ao culto de Aton, já que de certa forma ele detinha autoridade para fazer isso, e tal fato já vinha sendo desenvolvido desde o reinado de seu avô, mas o problema foi ele renegar Amon e os demais deuses, tentando instaurar o monoteísmo ou a monolatria, como sugerem alguns historiadores. Neste caso, monolatria seria o culto a uma divindade-maior, mas sem renegar a existência de outros deuses.  

A partir do reinado de Amenhotep I (c. 1525-1504 a.C) ainda no início do Império Novo, o culto a Amon em Tebas começou a se desenvolver, e nos anos seguintes o clero de Amon foi ganhando terras, riquezas e poder político e social. Assim como visto em outras religiões, os templos recebiam oferendas que seriam ofertadas aos deuses, mas também recebiam doações em dinheiro, comida, tecidos, terras, etc. Alguns faraós alegavam que suas vitórias militares foram devidas graças a proteção de Amon, logo, doavam parte dos espólios das campanhas militares ao templo em Tebas, além disso, havia as procissões que levavam multidões a cidade, e muitos dos fiéis deixavam suas ofertas. Outro ponto significativo era a questão que os sacerdotes também podiam atuar em cargos administrativos, tendo acesso ao governo e a política. 


Como foi salientado, as causas para o enfrentamento de Amenhotep IV contra clero de Amon não são claras, as hipóteses sugerem motivações de caráter político, onde Amenhotep IV que possuiria ideias consideradas "radicais", não eram bem aceitas pela realeza e a administração do Estado, logo, ele teria promovido sua revolução religiosa a fim de diminuir a autoridade do clero de Amon na política e na religião, criando uma nova religião estatal, onde ele seria o sumo-sacerdote, ou seja, o principal representante da vontade de um deus, neste caso, Aton. 


Outras hipóteses sugerem que sua mudança se deu por motivos de fanatismo, onde o faraó havia se tornado um fanático pelo culto de Aton, e decidiu promover sua ideia ousada de instituí-lo como único deus. Outra alternativa sugere que Amenhotep IV usou o culto de Aton como forma de legitimar sua autoridade, pois supostamente ele teria problemas de saúde os quais levavam o povo a questionar se ele estaria apto a governar, isso também teria sido reforçado pelo fato que ele tivera apenas filhas com Nefertiti, tendo demorado vários anos até ter um filho varão, que assegura-se sua sucessão, e o direito de sua família ao trono. De qualquer forma, por mais, que não saibamos os motivos exatos, partamos para conhecer como tal processo se desenvolveu e algumas das mudanças que ele gerou. 


Amenhotep IV se torna Aquenaton: 


Como visto anteriormente, o culto a Aton não foi algo criado no governo de Amenhotep IV, mas foi um processo já iniciado há mais de trinta anos, que foi dado continuidade, chegando ao seu ápice no governo deste faraó. Embora nos primeiros cinco anos de seu governo, Amenhotep IV tenha mantido sua dedicação ao culto de Amon e de outros deuses, não significa que ele se mantivera de braços cruzados, neste tempo, em Tebas ele ordenou a abertura de uma nova pedreira em Gebel-El-Silsilah para extrair as pedras para se construir um templo a Aton no complexo em Karnak. 


Busto de Amenhotep IV ou Aquenaton.

“Se trataba de un modelo de templo solar a cielo abierto, seguramente inspirado en los antiquísimos santuarios de Heliópolis, que luego se reproduciría en la nueva ciudad de Akhet-Aten. Era básicamente un patio rectangular de unos 130 metros de ancho por 200 de largo, y estaba rodeado por un muro de 5 metros de altura. En el interior se erigían una serie de colosos adosados a su perímetro, que representaban al rey de un modo anómalo, como si sufriera graves trastornos endocrinos y en forma asexuada. Incluían los edificios del recinto una especie de palacio con «ventana de apariciones», especie de balcón protocolario desde donde Amen-Hotep IV y Nefert-ity entregaban recompensas a sus funcionarios, quizás simbolizando las propias bendiciones que el disco solar otorgaba a sus criaturas. Los textos nos hablan, además, de otros edificios, que llaman Rud-Menu y Teni-Menu, cuyo uso y significado no están claros. Completaba el conjunto la piedra Ben-Ben, especie de monolito, objeto material de culto solar”. (VALENTIM, ).

Devemos recordar que já no governo de Tutmósis IV e Amenhotep III o culto a Aton coexistia com o culto de Amon, então, dedicar um templo para esse deus não era algo ruim ou proibido, pois além dessa coexistência, a religião era politeísta, embora ao longo dos períodos da história egípcia antiga, houveram deuses que se tornaram principais para o Estado (Hórus, Rá, Osíris, Amon, Aton, etc.), mas o fato de se adorar mais um deus do que o outro não significa uma tendência monoteísta, mas uma predileção por tal deus, algo visto entre os vikings, onde alguns preferiam orar mais a Odin e outros para Thor, ou entre os gregos, onde em cada cidade-Estado, o deus padroeiro normalmente recebia mais culto do que os demais deuses. Mas, além de construir esse templo, o próprio faraó passou a usar títulos dados a Aton, com isso ele passou a se apresentar cada vez mais estando ligado ao deus pelo qual tinha grande adoração, algo visto também com outros faraós.

Além da construção do templo, o faraó também realizou no segundo ou terceiro ano de seu reinado uma procissão ao templo de Aton, como também aponta-se que foi a partir do terceiro ano de seu governo que Aton começou a ser apresentado apenas de forma abstrata, ou seja, na forma de disco solar, pois anteriormente, ele apresentava similaridade com a aparência do deus Hórus. Um dos responsáveis para isso foi o chefe dos escultores do faraó, chamado de Bek. Bek seria o responsável por introduzir um novo estilo artístico no Egito, algo que ficaria conhecido como "arte amarniana", em referência a cidade que Amenhotep mandaria construir.  


A nova arte que se gerava em seu governo é bastante singular, não apenas por tornar abstrato a forma do deus Aton, mas por apresentar de forma caricata a figura do faraó, mas também adotar uma visão mais "realista" e "natural" do mundo. Por exemplo, nessa nova fase artística, o faraó era retratado com orelhas grandes, rosto e cabeça alongados, seu corpo as vezes apresentava traços femininos (ancas largas), o que se sugere uma retratação andrógina (algo que seria visto na arte do renascimento na Itália), o faraó e sua família também eram retratados em cenas de comunhão e devoção a Aton. 


Aquenaton, Nefertiti e três de suas filhas, sendo iluminados pelos raios de Aton. Exemplo do novo estilo artístico desenvolvido em seu governo.

“De las fuentes estudiadas se puede deducir que el arte amarniano implicó, en algunos casos, una renovación y, en otros, una innovación plena de las normas y estilos artísticos. El arte de El Amarna puede ser caracterizado como "naturalista" y "realista". El naturalismo no implica un realismo absoluto o una fidelidad fotográfica, sino más bien un propósito excesivo de servir a la naturaleza, que en algunas ocasiones llega a la caricatura y a la deformación. Los retratos del rey, su familia y los altos funcionarios se diferenciaron notablemente de aquellos realizados durante las épocas anteriores, donde los rasgos personales quedaban cubiertos por el tipo idealizado que mejor podía servir a la eternidad. Durante el reinado de Akhenaton, la eternidad no tuvo un papel preponderante, ya que el arte trató de captar lo momentáneo y de destacar la línea, el ritmo y el dinamismo de las formas. Los frescos de dos de los palacios de El Amarna (40) reflejan el intenso amor a la naturaleza y el nuevo estilo artístico. En ellos se utilizan algunas técnicas que producen efectos, tales como los movimientos enérgicos, la sensación de fuerza y la vivacidad, pero todos ellos están inmersos en un conjunto de formas y líneas suaves y de colores tenues al servicio de la naturaliza”. (SINGER, 2003). 

Busto de Nefertiti.

No ano cinco de seu reinado, Amenhotep decidiu criar uma nova capital, a qual seria construída no Médio Egito, ao norte de Tebas, mas antes de se chegar a região do Alto Egito, onde se localizava o delta do Nilo. A cidade foi chamada de Aquetaton ("horizonte de Aton"). Essa nova cidade se tornaria não apenas a capital do país, mas o refúgio de Amenhotep para promover o desenvolvimento do culto a Aton, e sua reforma religiosa monoteísta. No sexto ano de seu reinado, já tendo adotado o nome de Aquenaton, ele decidiu se mudar com sua família e corte para a nova cidade. 

"No sexto ano de reinado, ele e sua família, juntamente com um grande séquito de funcionários, sacerdotes, soldados e artesãos, mudaramse para a nova residência, que chamou de Aquetaton (AkhetAton), (“Horizonte de Aton”), onde morou até sua morte, quatorze anos mais tarde. Mudou seu nome para Aquenaton (AkhenAton) ou “O que esta a serviço de Aton”, e concedeu a rainha o nome real de NeferNeferuAton, que significa “A beleza das belezas e Aton”". (BAKR, 2010, p. 60). 

A pequena cidade foi construída rapidamente. Após estabelecer as 14 estelas que demarcavam geograficamente os limites da cidade, Aquenaton reuniu um grande grupo de artesãos, pedreiros, construtores, arquitetos, etc., e os enviou para o local para erguer os edifícios, sendo os dois principais o palácio e o grande templo de Aton. Pelo fato de as obras terem se iniciado no quinto ano e já estarem prontas no sexto ano, acredita-se que a construção tenha levado pelo menos seis meses para ficar pronta, embora que nos anos seguintes novas obras foram realizadas, mas a fundação básica estava pronta para acolher o faraó e sua corte. Nas estelas de fundação, havia o registro que indicava aquele local como o lugar sagrado revelado por Aton para seu filho Aquenaton, para ali construir uma cidade e um templo em honra de seu pai. De fato, Aquenaton começou a se apresentar como filho de Aton, como o "governante do mundo", um dos epítetos dado ao deus. Em cada uma das estelas, constava a inscrição que o faraó estava fundado aquela cidade para o seu pai Aton. 


Localização da cidade de Aquetaton, hoje o local é chamado de Tell-el-Amarna. 

Aquetaton, o horizonte de Aton: 

Um dos fatores que levaram a rápida construção da cidade foi a preferência por usar tijolo ao invés de pedra, embora que nas obras seguintes, passou a se usar pedra para ampliar os templos e o palácio. Não obstante, o perímetro da cidade não era muito grande, e dividia-se em três zonas
  • Zona norte: Localizava-se o Palácio Norte, com seus espaçosos e belos jardins. Para nordeste desta estavam algumas tumbas de nobres. Havia também algumas casas de nobres. A zona norte parece ter sido um lugar mais reservado para a família real, havendo poucas casas próximas.
  • Zona central: Se encontrava o principal templo da cidade, o Grande Templo de Aton, uma grande área a céu aberto, pois diferente de outros templos solares, grande parte do templo de Aton não possuía teto, pois isso permitia que as pessoas estivessem em contato direto com a luz do seu deus. Havia também o Pequeno Templo de Aton, o Grande Palácio (era comum haver mais de um palácio na cidade), além de haver outros prédios religiosos e administrativos. Era nessa zona que se estendia uma larga rua, chamada de Estrada Real, onde o faraó e sua família costumava passar de carruagem, acenando para a multidão. Além disso, sabe-se que o faraó e a rainha também tinham o hábito de está presente nas celebrações e até mesmo dá alimentos para a população durante o culto.  A sudeste dos templos se localizava uma vila de operários que acabou originando um bairro popular.
  • Zona sul: Nessa zona ainda havia alguns prédios administrativos, e algumas casas de altos funcionários, como a casa do vizir Nakhtpaaten, a residência do general Ranefer, a residência de Panehesy, o sumo-sacerdote de Aton, a oficina do escultor Tutmósis, que possivelmente teria esculpido o busto da rainha Nefertiti, descoberto nesta localidade. Além dessas casas da elite, também existiam casas de pessoas menos abastadas. Salienta-se que a zona sul fosse a mais populosa. A sul deste subúrbio ficava o pequeno Palácio Maru-Aten (dedicado a sua filha mais velha que se tornou sua esposa), e a oeste deste, as tumbas do sul. 
Aquenaton também ordenou que sua Tumba Real fosse construída naquela região, tendo sido escavada a oeste da cidade, onde seria o seu local de enterro e da sua família. Ele preferiu ser sepultado próximo a cidade que criara e não ser sepultado no Vale dos Reis, como comumente vinham fazendo os faraós da XVIII Dinastia e continuaram a fazer os faraós de algumas dinastias seguintes. De fato, Aquenaton, Nefertiti e algumas das suas filhas foram sepultados neste local. 

Projeção computorizada retratando o Grande Templo e o Pequeno Templo de Aton, os prédios religiosos e administrativos, e em torno pode-se ver os bairros. 

“El Gran Templo de Aten, en su conjunto, comprendía un amplio recinto, con un santuario en un extremo. Una calzada de acceso ascendía progresivamente desde la entrada, a través de una serie de patios, hasta el altar mayor de santuario. Mesas de ofrendas, en piedra, flanqueaban la calzada de acceso, en su mayor parte destinadas al uso ceremonial. Otras mesas de ofrendas se colocaban en los patios y en el propio santuario, que tenía varias estatuas colosales de Ajenaten. Los patios de entrada denominados «Per-Hai» («Casa del jubileo») y «Gem-Aten» («Encuentro de Aten»). El «Per-Hai», estaba precedido por un pilono que comunicaba con un gran patio bordeado por dos columnatas laterales que se dirigían hacia un gran altar. El «Gem-Atem», estaba formado por una serie de pilonos que comunicaban sucesivos patios, con columnas y altares en una de las caras. Al fondo se encontraba el altar principal y al que sólo tenían acceso Ajenaten y Nefertiti, como los únicos intermediarios ante la divinidad”. (BEDMAN, 1995). 

Embora a região de Tell-el-Amarna seja hoje um local árido e seco, naquela época era um lugar bem mais agradável de se morar. Além dos palácios, as grandes casas possuíam jardins, havia plantações, árvores, grama, a cidade mantinha sua subsistência, sem precisar importar comida, salvos em casos de má colheita. Aquetaton se tornou a nova capital administrativa e religiosa do Egito, embora Tebas ainda mantivesse sua influência religiosa ligada ao culto de Amon. 

Nos anos seguintes a cidade continuaria a crescer, a arte amarniana se desenvolveria, tornando os palácios e outras construções luxuosas, com belas pinturas nas paredes e nos tetos; a pintura e a arquitetura como já salientado tomaram novos estilos, um estilo mais realista se aproximando da natureza e do cotidiano, algo que combinava com a simplicidade que Aquenaton procurou dá ao culto a Aton, o tornando mais fácil de ser exercido e assimilado. 


Embora que a retratação da família real em momentos de intimidade, foram vistos por alguns como algo ultrajante, pois não era comum o faraó e a família real exporem suas intimidades. Quando vemos as representações dos faraós, estes aparecem em cenas de caçada, em cenas de combate, lutando, subjugando inimigos; aparecem diante dos deuses, etc. Mas, mostrá-lo durante o cotidiano, era uma ofensa, pois além de ser o senhor do Egito, ele era filho dos deuses. 

“Aquenaton, como esteta que era, desaprovava as formas estilizadas da arte do retrato tradicional e insistia na adoção de um naturalismo livre, em que o artista procurasse representar o espaço e o tempo imediatamente perceptíveis, e não fixados na eternidade. Por isso permitiu que ele e sua família fossem representados em atitudes informais: comendo, brincando com as crianças ou abraçandoas. Não procurou esconder sua vida privada do conhecimento público; assim agindo, escandalizou seus contemporâneos, para quem essa informalidade depreciava sua condição de reideus”. (BAKR, 2010, p. 60-61). 

Aquenaton também aproveitou para difundir cada vez mais o culto a Aton até que passou a atacar o clero de Amon, dando início a uma fase conturbada de seu governo. 

O Atonismo:


"Além de proclamar Aton o único deus verdadeiro, Aquenaton injuriou as divindades mais antigas. Ordenou que o nome de Amon, em particular, fosse suprimido de todas as inscrições, até mesmo dos nomes próprios, como o de seu pai. Além disso, decretou a dissolução do clero e a dispersão dos bens dos templos. Foi com essa medida que Aquenaton provocou a mais violenta oposição, pois os templos eram sustentados por subvenções concedidas pelo governo em troca de bênçãos solenes aos empreendimentos estatais. Enquanto os tumultos se alastravam a sua volta, Aquenaton vivia na capital adorando seu deus único. Era a veneração do poder criador do Sol sob o nome de Aton". (BAKR, 2010, p. 60). 

Contudo, a ideia de privilegiar Aton com o "único deus" não foi uma criação de Aquenaton. Singer [2002] apontara que a ideia de designar um dos vários deuses como o mais importante não era novidade no Império Novo, ela lembra que ao longo da história egípcia anterior a esse período, Rá, Hórus, Osíris, Atum, Min e Amom, foram chamados de o "único deus" como forma de conotar sua importância para o país, sugerindo um culto estatal, onde aquele deus personificava o principal protetor do faraó e de seu império. Por exemplo, foi a partir da VI Dinastia que os faraós começaram a adotar o título de "Filho de Rá", antes disso, temos faraós se referindo como "Filho de Hórus". A faraó Hatshepsut declarou que era filha de Amon, que o deus haveria tomado a forma de Tutmósis I, o seu pai, e engravidou sua mãe, logo, a faraó se representava como uma autêntica semideusa. 

Singer [2002] aponta neste fato da religião egípcia a existência de um henoteísmo, termo no qual designa a crença em um único deus, mas não se descarta a existência de outros deuses. O henoteísmo, termo criado por Max Müller (1823-1900), se opõe ao monoteísmo, pois esse considera apenas a existência de um deus e renega que existam outros deuses. Logo, o Atonismo como ficou conhecida a religião de Aton, inicialmente foi um culto henoteísta como outros cultos que já existiam, mas sob o governo de Aquenaton, ele ganhou uma tendência monoteísta, algo claro quando se ler o Grande Hino a Aton, texto religioso inspirado no Grande Hino a Amon, sendo que no hino a Aton, Aquenaton apresenta o deus-sol como o único deus, sem nenhum outro igual, visivelmente apresentando um caráter monoteísta. 

Cópia do Grande Hino a Aton, descoberto na tumba do faraó Ay, o qual foi vizir de Aquenaton e Tutacâmon.  

Embora nesse hino delega-se a Aton como sendo o deus criador do universo, do mundo e dos demais seres, não se tem exatidão em se confirmar que o Atonismo foi totalmente monoteísta. Ou o Atonismo teria sido uma religião henoteísta, pois sabe-se que mesmo que Aton tenha se tornado o principal deus do país, as pessoas mesmo assim, ainda continuavam a cultuar os outros deuses. Singer [2002] aponta a existência de documentos e inscrições heliográficas falando de homenagens a outros deuses durante o reinado de Aquenaton, onde o Atonismo já havia sido decretado como religião oficial, ou pelo menos religião estatal (nesse caso, a religião representaria o governo, mas não o povo), algo que se tornou possível graças a algumas iniciativas realizadas no governo de Amenhotep III, as quais Aquenaton dera continuidade. Possivelmente o Atonismo tenha sido um culto monoteísta na concepção de Aquenaton e dos seus fiéis mais fervorosos, mas para o restante da população, o culto era de caráter henoteísta. 

Não obstante, a partir do ano 9 de seu governo, encontram-se registros do retorno do uso do nome do deus Rá. Curiosamente, os registros falam que Rá havia retornado como Aton, que ambos seriam o mesmo deus. Esse fato é interessante, pois Rá foi um dos primeiros deuses solares, considerado no Antigo Império, o rei dos deuses e pela cosmogonia da cidade de Heliópolis, o centro de seu culto, era dito que Rá era o criador do universo e dos outros deuses. 


Ora, se Aton no início era o disco solar que Rá usava, então não é estranho, dizer que Aton e Rá seriam o mesmo deus. Após o ano 9, Aquenaton também passou a usar o título de "Filho de Rá", e até mesmo seu nome oficial foi modificado para "Nefer-Kheperw-Ra Wa-en-Ra" ("Bela é a forma de Rá, a única de Rá"). 

No próprio Grande Hino a Aton, vemos a menção ao nome de Rá, e a ligação deste a Aton. Aqui podemos pensar que, parte da ideia do culto a Aton proposta por Aquenaton, seria resgatar as antigas práticas ritualísticas feitas a Rá na época do Antigo Império, ou seja, resgatar o culto ao deus-sol que era praticado há mil anos antes no país. De qualquer forma, mesmo havendo essa assimilação e explicação que Rá era Aton, e Aton era Rá, o nome Aton era o nome oficial usado. 


Além disso, tal união entre os dois deuses, ocorreu apenas durante o governo de Aquenanton a parti do ano 9 até o final de seu reinado, em outros momentos da história egípcia, Aton é considerado uma característica de Rá-Horakhty. Não obstante, o culto ao touro Mnévis, que estava associado a Rá, também foi adaptado ao culto de Aton, revelando ainda mais absorções realizadas por Aquenaton do culto de Rá.

Outra característica que aponta o monoteísmo do Atonismo, foi sua tentativa de mudar o culto funerário. Desde o início da civilização egípcia, havia deuses relacionados com o Mundo dos Mortos e a vida após a morte, entre estes deuses destacavam-se Anúbis e Osíris. Porém, se Aton era o único deus, como poder realizar o ritual funerário no qual havia orações, oferendas e referências a outros deuses relacionados com tal aspecto? A solução encontrada por Aquenaton foi retirar esses deuses, pegar seus epítetos, atribuí-los a Aton e modificar as práticas religiosas fúnebres e até mesmo a concepção de vida após a morte. Aqui notamos, que o Atonismo realmente mexeu profundamente com as estruturas religiosas egípcias, embora tenha existido brevemente na história deste povo.


Anúbis era conhecido por ser o deus relacionado a mumificação e encaminhar os mortos até o julgamento que era presidido por Osíris e outras divindades. Por isso, ele era conhecido também como "O que abre os caminhos". Por sua vez, Osíris que se tornara o juiz dos mortos, julgando a culpa de cada alma, como forma de determinar se você cairia no "inferno" ou iria para o paraíso, era conhecido entre alguns termos pelo de "O Senhor da Eternidade". Com Aquenaton, tais epítetos foram transferidos para Aton. O tribunal de Osíris foi abolido, e Anúbis foi esquecido. O morto agora se dirigia a uma terra no Além, onde vivia sob a luz de Aton, a qual se refletia como a grade felicidade, onde você passaria a viver ao lado do deus único. 


O uso da imagem de outros deuses nas pinturas nos sarcófagos, nas tumbas e até nos vasos canopos (recipientes em número de quatro, onde se depositavam alguns dos órgãos do morto) os quais tinham como tampa a face de um dos quatro filhos do deus Hórus, foi substituído. Aqui notamos que a própria iconografia relacionada como o ritualismo fúnebre, foi modificada para excluir a referência a estes deuses. Nas tumbas de Nefertiti, Aquenaton e de suas filhas, notamos a imagem de Aton, e a própria imagem deles. 

Acerca das características do culto, não se possui muitos detalhes, mas sabe-se que os templos construídos a Aton, fosse em Aquetaton, Mênfis e Heliópolis, eram grandes espaços retangulares a céu aberto. Não havia estátuas do deus para se fazer orações olhando para essa, ao invés disso, as pessoas iam ao templo e olhavam para o céu, onde se encontrava o seu grande deus na abóbada celeste, os iluminando com seus raios. No caso das oferendas ofertava-se frutas e flores, e se recitava orações próprias de Aton, ou trechos do seu hino. 

Pintura retratando Aquenaton ofertando oferendas a Aton.

No governo de Amenhotep III procurou resgatar a ideia de divinização do monarca, algo realizado com Hatshepsut, mas que foi comum há vários séculos, onde os faraós eram vistos como deuses. Para isso, ele criou monumentais templos como em Karnak e Luxor, além de mandar erigir enormes estátuas, como os colossos de Memnon, todos não apenas representando sua imagem, mas sua grandeza divina. Procurou também resgatar o culto a pessoa do faraó. Somando-se tais características, nota-se que Aquenaton e a população egípcia já tinham ciência do resgate de tais práticas, afinal, Amenhotep III governou por pelo menos 30 anos, tempo bastante para implantar sua política, a qual serviu de base para que seu filho desse continuidade e realiza-se suas próprias mudanças.

Aquenaton, Nefertiti e três de suas filhas em uma cena tipicamente retratada em Amarna, onde apresenta a família real iluminada por Aton, enquanto se encontram em um momento em família. 

"Durante su reinado, Akhenaton mantuvo - aunque para su proprio beneficio político - su papel tradicional como mediador entre los hombres y Aton. Su devoción a Aton, el culto de la monarquía y el carácter monumental de sus templos y colosos nos permitem señalar que, en parte, el Atonismo de Akhenaton fue un producto derivado del proceso de mayor centralización iniciado por Amenofis III. La creciente importancia del culto a Aton fue un aspecto de este proceso, ya que el disco solar, ahora símbolo del poder imperial, carecía de compromisos políticos y religiosos y era una manifestación más impersonal y universal del sol". (SINGER, 2002). 

O faraó era representado como o seu filho, e a única pessoa pela qual o deus expressava sua palavra, logo, o faraó era o único intermediário direto do deus, pois embora houvesse sacerdotes de Aton, o faraó era o único que realmente compreendia os sinais e a vontade de Aton. Isso contribuiu para centralizar o culto na pessoa do monarca, o transformando em um absolutismo religioso, mas diferente do que pretendera Aquenaton, não surtiu seu efeito a longo prazo. A morte do faraó, levou consigo todo o alicerce do Atonismo, pois tal religião não conseguira convencer as pessoas em poucos anos, e a própria corte amarniana não se mostrava unânime em aprovação, daí alguns egiptólogos sugerirem que Aquenaton tenha se tornado um fanático religioso.

Crise no governo e o problema da sucessão:

Embora tenha ordenado a construção de uma cidade, a construção de templos, estátuas, reformas de prédios, etc., o governo de Aquenaton o qual governou por cerca de 15 ou 17 anos entre 1350 a 1335 a.C, não foi um dos melhores governos da XVIII Dinastia, de fato toda a ordem e equilíbrio que marcaram os governos de Tutmósis IV e Amenhotep III começaram a ruir durante o reinado de Aquenaton. Sua intensa preocupação a questão religiosa de sua fé monoteísta, o levou a dar menor atenção a outras questões de Estado. Por exemplo, sabe-se que não houve campanhas militares durante seu governo, e se houve, se desconhece quando ocorreram e o resultado, porém, sabe-se que o império perdeu territórios na Ásia e na Núbia, sendo nesta última a perda de minas de ouro. Na Ásia temos os relatos de governantes solicitando ajuda para lutar contra os hititas.


“No calor de sua reforma religiosa, Akhenaton abandonara totalmente a política asiática da dinastia, ignorando os repetidos pedidos de socorro dos monarcas do Mitani e de príncipes fiéis da Síria- Palestina, ameaçados pelos hititas e por seu aliado sírio, Aziru, rei do Amurru, o qual ocupou em detrimento do Egito os portos fenícios, inclusive Biblos, centro tradicional do comércio egípcio na região. A Palestina teve suas cidades invadidas por nômades. Assim, ao terminar a XVIII dinastia o domínio dos egípcios na Ásia ocidental estava praticamente reduzido a zero”. (CARDOSO, 1985, p. 27-26). 

Na esfera econômica, o faraó retirou as doações dadas aos templos dos outros deuses e concentrou tudo para os templos de Aton, isso gerou grande insatisfação para o clero daqueles templos e para a população mais devota daqueles deuses. Sua tentativa de centralizar a economia em Aquetaton, também levou a problemas de caráter burocrático e técnico, pois o faraó demitiu vários funcionários de famílias que eram contrárias a suas medidas políticas ou eram grandes devotos de Amon, e no lugar, empossou novos funcionários, sendo alguns inexperientes para assumir tais cargos. Isso foi motivo de crítica pelo funcionalismo público, e se encontra relatos destas queixas. Singer [2002] aponta problemas de corrupção devido a essas mudanças na burocracia, e a falta de maior fiscalização e controle do governo central sobre os nomos (províncias).


Além desses problemas na política externa, na economia interna, havia o próprio descontentamento de várias camadas sociais acerca da imposição do Atonismo como já evidenciado, mas deixando a esfera pública e adentrado a privada, o faraó Aquenaton convivia com o problema da sua sucessão, a falta de um herdeiro homem. Nefertiti havia lhe dado seis filhas: Merit-Aton, Meket-Aton, Ankhsenpaaton, Nefer-Neferu-Aton, Nefer-Neferu-Ra e Setep-en-Ra. Nota-se no nome de quatro delas o uso do nome Aton, e nas duas últimas o nome de Rá, o que indica que as mais jovens tenham nascido depois do nono ano do reinado de seu pai, quando ele passou a usar o nome Rá em sua titulação real. 


Por volta do décimo segundo ou décimo terceiro ano do reinado de Aquenaton, ele se casou com sua filha mais velha, Meritaton ("A amada de Aton"), na tentativa de gerar um herdeiro varão. Contudo não temos certeza se ele chegou a ter um filho com ela, mas sabe-se que ela tivera duas filhas. A prática do incesto como já mencionado, não era proibida entre a realeza, mas normalmente os pais não se casavam com suas filhas. Novamente sem conseguir um herdeiro homem, por volta dessa época surgiu uma misteriosa pessoa chamada Semenkhare (Semenekh-Ka-Re) o qual consta nos registros reais como corregente de Aquenaton, ainda hoje não se sabe quem realmente foi esse faraó, já que com a morte de Aquenaton, Semenkhare assumiu o trono e casou-se como Meritaton e governou por cerca de três anos.


Possível estátua de Semenkhare. Praticamente não se conhece imagens desse faraó, e as poucas existentes são questionáveis se realmente eram dele. 

Sobre sua origem, ainda é tema de debate. Alguns sugerem que Semenkhare fosse um dos irmãos mais novos de Aquenaton; outra hipótese é que ele fosse genro do faraó, tendo se casado com Meritaton antes do que se supunha, isso gera o fato que o faraó teria se divorciado da sua filha, para essa se casar novamente? Uma terceira vertente cogitou que ele fosse filho do faraó com uma das esposas secundárias, mas faltam provas que embasem isso. Outros cogitaram que ele fosse o sumo-sacerdote Panehesy. Por fim, outra alternativa propunha que na realidade não se tratava-se de um homem, mas sim de uma mulher, mais especificamente a rainha Nefertiti a qual adotara o nome Semenkhare, pois esse faraó também adotara o título de Neferneferuaten, o mesmo título adotado por Nefertiti, isso gerou uma confusão, seriam a mesma pessoa?

Uns consideram que ela tenha morrido pouco tempo depois de seu marido e outros apontaram que ela se tornou faraó, adotando o novo nome e tendo governado por cerca de três anos, o mais breve reinado da XVIII Dinastia. Porém, hoje se descarta que Nefertiti tenha sido o faraó Semenkhare, pois os relatos apontam ele como um homem e casado como Meritaton e tendo tido uma filha ou duas com esta. 


A confusão se deve pelo fato que Semenkhare era uma espécie de nome-título e não um nome próprio, logo, além da rainha Nefertiti utilizar tal nome, houve um faraó que usou esse nome, embora não saibamos se ele era irmão de Aquenaton, seu genro, parente, etc. De qualquer forma ainda é uma questão em aberto, e quando este faleceu, pouco tempo depois, sua esposa também morreu, e a sucessão acabou indo para um menino entre oito e dez anos chamado Tutancáton (Tut-Ankh-Aton). 

Por muito tempo se debateu a verdadeira identidade de Tutancâmon (chamado inicialmente de Tutancáton), se este era um outro irmão de Aquenaton, se era um de seus genros, primo ou filho. Hoje sabe-se que ele foi o seu filho e genro, dúvida que ficou em aberto e foi confirmada com relatos de registros da época e com teste de DNA. 


Tutancâmon era filho de Aquenaton com a princesa Kiya, uma das esposas secundárias do faraó, chamada pelos títulos de "A dama" e "Grande Esposa amada do faraó". Possivelmente de origem asiática, teria nascido no Reino Mitanni e seguido na comitiva enviada ao rei Amenhotep III, e anos depois, Aquenaton a tomou como uma de suas esposas na tentativa de gerar um filho, que resultou em êxito. Pelo fato de Tutancâmon ser uma criança, Semenkhare foi escolhido como corregente de Aquenaton para governar em nome de seu filho até ele chegar a maturidade, porém como visto, Semenkhare faleceu e sem nomear um novo corregente, decidiram empossar o jovem Tutancáton como novo faraó.


Tutancáton casou-se com sua meia-irmã Ankhsenpaaton ("Ela vive para Aton"), mais conhecida pelo seu segundo nome, Ankhsenamon ("Ela vive para Amon"), as duas crianças eram os novos monarcas do Egito, e para auxiliá-los no governo estava o vizir Ay e o general Horemheb. Sabe-se que Tutancâmon o qual na tentativa de reaproximar-se do clero de Amon e abolir o Atonismo algo que parece que foi iniciado com Semenhkare, mudou seu nome e o nome de sua esposa, então mudaram a corte de Aquetaton, retornando para Tebas. 


Tutancâmon e Ankhsenamon.

Tutancâmon tivera um reinado breve vindo a falecer por volta de seus 18 ou 19 anos de motivos ainda misteriosos, teria morrido por causa de um acidente ou teria sido assassinado? Como não teve filhos, já que sua esposa teve dois abortos naturais, sendo os dois natimortos, meninas, o trono ficou vago, então o vizir Ay casou-se com Ankhsenamon e se tornou o novo faraó. 

Ay como apontam alguns egiptólogos seria tio-avô de Tutancâmon, outros egiptólogos descartam tal hipótese. Parente ou não, de qualquer forma, Ay era uma figura bastante presente no governo egípcio, pois servia ao Estado desde pelo menos o governo de Amenhotep III, passando pelos governos de Aquenaton e Semenkhare. Ay devido a idade avançada, governou por cerca de quatro anos e faleceu. O general Horemheb o qual não era de origem nobre, mas possuía grande influência e poder no país, assumiu o trono, se apresentando como sucessor de Ay. Ele chegou a se casar com Mutnedjmet, que se acredita ter sido irmã de Nefertiti. Pelo fato de ser da nobreza, isso assegurava sua posição como "novo nobre". 

Foi no governo de Horemheb que os expurgos ao Atonismo começaram de fato. Se antes, Semenkhare, Tutancâmon e Ay foram mais complacentes em ainda tolerar o culto a Aton, mas já tendo revogado a ideia monoteísta, Horemheb que era conservador em quesitos religiosos não pensou da mesma forma. Aquetaton aos poucos começou a ser abandonada desde que Tutancâmon a deixara há mais de uma década, a própria população começou a usar os tijolos das construções em outras obras, logo, sabe-se que algumas construções foram desmontadas e seu material reaproveitado em outros locais. Acredita-se que o faraó tenha ordenado que estátuas de Aquenaton fossem destruídas, assim como imagens dele e de sua família. 

Busto do faraó Horemheb.
Porém, Horemheb embora não tenha mandado destruir a cidade herege de Aquenaton, ordenou que o nome dos quatro faraós que o antecederam fossem removidos da cronologia oficial, que fossem riscados da História. De fato, quando pegamos o registro do reinado de Horemheb, este se apresentava como sucessor do governo de Amenhotep III, negligenciando os governos de Aquenaton, Semenkhare, Tutancâmon e Ay. Além dessa tentativa de ocultar o nome desses faraós e seus governos, Horemheb ordenou que imagens de Aton fossem destruídas e seu nome fosse apagado. Seu culto foi abolido, seus templos se tornaram templos de Amon-Rá, além de outras obras realizadas por estes faraós passaram a ser creditadas a Horemheb com exceção a Aquetaton. Após esse expurgo religioso, ele se dedicou a reformar a economia, o judiciário, a combater a corrupção, a retomar a política externa, a realizar campanhas militares. No final de seu reinado ele conseguiu amenizar os problemas do país. No fim da vida, não tendo tido filhos homens, nomeou um de seus generais de confiança, chamado Pi-Ramsés, que se tornou Ramsés I, dando início a XIX Dinastia. Os últimos vestígios do Atonismo foram apagados e o nome de Aquenaton ficou mal-visto na história egípcia. 

Considerações finais:

O Atonismo surgiu com Aquenaton, no sentido de quando se tornou uma religião monoteísta e estatal como apresentada e defendida pelo faraó, porém, como visto, o culto a Aton já era demasiadamente antigo, sendo um legado dos reinados de seu avô e pai, que alcançou o ápice e profunda mudança em Aquetaton. A reforma religiosa de Aquenaton como visto não ficou apenas na esfera religiosa, mas se embrenhou por aspectos políticos, sociais, culturais e ideológicos. 

Todo seu esforço de construir uma nova cidade, de mudar seu nome e adotar novos nomes para sua família, de se repensar a arte, as práticas religiosas, a filosofia de vida, são sinais de um homem convicto sobre suas pretensões e determinado a arriscar tudo por elas. De certa forma, podemos enxergar aqui um pouco de fanatismo religioso, mas por outro lado, seus atos poderiam ter sido realmente um "chamado de fé"? Uma revelação divina?

De qualquer forma é claro que a excessiva centralização do seu governo causou mais danos do que melhorias para o país, permitindo o crescimento da corrupção, mas ao mesmo tempo, delegando o monarca como o único alicerce do culto que ele profetizava, mas que para além da sua cidade, de seu refúgio, não conseguiu firmar raízes. O Cristianismo levou mais de três séculos para se firmar no Império Romano, e pelo menos cem anos para ser aceito em parte do Egito e da Núbia. O Islamismo encontrou grande oposição na Europa; o Budismo levou mais de um século para começar a se firmar na China, e assim foi com outras religiões. 

A mudança que Aquenaton propusera era algo muito a longo prazo que dependeria do esforço e dedicação de seus sucessores, mas estes não tardaram a procurar se reconciliar com a antiga fé, e pouco a pouco renegar sua herança religiosa. Aquenaton não foi pelo menos uma má pessoa, mas seu empenho na religião, o cegou para os problemas da nação, e sua reforma foi considerada uma grande heresia por seu povo, o que manchou seu nome e o nome de sua família.  

NOTA: Alguns pesquisadores sugerem que Aquenaton e Tutancâmon fossem portadores da Síndrome de Marfan, isso explicaria porque a aparência de Aquenaton era estranha, além de respaldar o diagnóstico que ambos possuíam consistência física fraca, algo atestado na análise de suas múmias.
NOTA 2: Além da hipótese da Síndrome de Marfan para explicar o porque da cabeça e do rosto alongado do faraó e de suas filhas, de acordo com os teóricos dos Antigos Astronautas, Aquenaton seria um ser híbrido, metade humano e metade extraterrestre. Tal hipótese é rala em fundamentos que a sustentem. 
NOTA 3: Em uma inscrição atribuída ao faraó Seti I, mas que data de seu governo, Aquenaton é considerado um herege e um traidor. 
NOTA 4: Alguns historiadores apontaram semelhanças entre ideias do Grande Hino de Atom com o Salmo 104, cogitando a hipótese de uma influência hebraica no culto proposto por Aquenaton, ou o contrário, uma influência do Atonismo sobre este. 
NOTA 5: Existe uma hipótese que sugere que Moisés na verdade foi Aquenaton. Mais existem grandes problemas em se sustentar tal hipótese. 
NOTA 6: Alguns egiptólogos sugerem que Aquenaton teria sido corregente de seu pai, tendo governado em corregência entre cinco ou nove anos, porém, ainda não há evidências conclusivas se realmente houve essa corregência. 
NOTA 7: A minissérie Rei Tut (2015) a qual romantiza a vida do faraó Tutancâmon, trazendo mais ficção do que história, aborda um pouco do problema religioso que o jovem faraó enfrentou em seu governo. Na minissérie ver-se constantemente a desavença entre o faraó e o sumo-sacerdote do Templo de Amon. Além disso, a minissérie retrata Ay e Horemheb como sendo conspiradores para usurpar o trono, embora não se saiba ao certo se eles foram aliados ou não. Além disso, a minissérie deixa a entender que Tutancâmon sempre suspeitou das segundas intenções de seu vizir e de seu general. 

Referências Bibliográficas:
BAKR, A. Abu. O Egito faraônico. In: MOKHTAR, Gamal (editor). História Geral da África - II: África Antiga. 2a ed, Brasília, UNESCO, 2010.
CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito Antigo. 4ed, São Paulo, Brasiliense, 1985. 
DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. O Egito antigo. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2010. 
SILIOTTI, Alberto. Egito. Barcelona, Ediciones Folio, S. A., 2006. 
SINGER, Graciela N. Gestoso. Atonismo e Imperialismo. Revista Davar Logos, v. 1, n. 2, 2002, p. 163-187. 
SINGERGraciela N. Gestoso. La iconografia de Aton en el Egipto de la dinastía XVIII y su relación con la ideología amarniana. Revista Transoxiana, n. 6, 2003. Disponível em: http://www.transoxiana.com.ar/0106/gestoso_iconografia_aton.html
VALENTÍN, Francisco Martín. El reinado de Amen-hotep IV y el final de la Dinastía XVIII. Alicante, Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 2005. Disponível em:http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/el-reinado-amenhotep-iv-y-el-final-de-la-dinasta-xviii-0/html/002baf96-82b2-11df-acc7-002185ce6064_2.html#IMG_0_.
BEDMAN, Teresa. El Império Nuevo: la Dinastía XVIIIAlicante, Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 2005 (1995). Disponível em: http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/el-imperio-nuevo---la-dinasta-xviii-0/html/001a9256-82b2-11df-acc7-002185ce6064_2.html.

Links relacionados: 
Hatchepsut - A rainha-faraó
A Dinastia das Pirâmides

5 comentários:

Sandman -.- disse...

" De acordo com os fragmentos que restaram da Aegyptiaca de Manetho, Osarsiph-Moisés, o líder eleito dos “leprosos” e “impuros” criou novas leis e costumes contrários ao Egito. Não resta dúvida que esses mandamentos imitam a maneira pela qual Aquenaton proibia a adoração a qualquer deus que não fosse a deidade simbolizada pelo disco solar Aton, ou Aten e, como Manetho declara, ativamente “destruía as imagens dos deuses”." http://a-vontade.blogspot.com.br/2013/10/egito-exodo-e-deus-parte-i-b-o-profeta.html?m=1

Leandro Vilar disse...

Sandman, existem algumas teorias que sugerem que o faraó que é mencionado no livro do Êxodo tenha sido Akhenaton. O problema são vários, primeiro começando pelo fato que no livro do Êxodo não se menciona o nome do faraó.

Segundo, não há relatos históricos do reinado de Aquenaton que fala de uma migração de hebreus para fora do país ou de pragas que assolaram o seu reinado.

O relato de Maneton não é totalmente preciso, no entanto, por ele ser considerado o "primeiro historiador egipcío", se dá credibilidade ao seu relato, mas deve se ter prudência, pois o próprio "Pai da História", Heródoto de Halicarnasso, errou ou equivocou-se em seus livros, e por muito tempo foi considerado um grande mentiroso, embora quanto a tal aspecto tenha sido injustiçado.

No entanto, como eu disse no começo, uma das hipóteses para a época do êxodo, teria se dado no reinado de Aquenaton.

Sandman -.- disse...

Sim, não é possível ter certeza, mas os argumentos parecem fortes. E há outros escritores, embora também não seja possível verificar a autenticidade. Mas não há outro meio de se verificar a história (ao menos uma tão antiga), se não por meio do que parece fazer sentido:

"De acordo com Diodoro, é assim que Hecateu apresenta a história do êxodo:

Quando, antigamente, uma peste devastou o Egito, as pessoas comuns atribuíram seus problemas a intervenção divina; pois na verdade viviam entre eles muitos estrangeiros de todos os tipos, praticando diversos tipos de religião e sacrifícios, e seus ritos tradicionais em honra dos deuses haviam caído em desuso.

Assim, ao serem expulsos do país, os estrangeiros são obrigados a encontrar um novo lar. Alguns, sob a liderança de Danaus e Cadmo, terminam por colonizar a Grécia, enquanto outro grupo, liderado por Moisés, coloniza a Judéia, ou seja, a Palestina, que na época se dizia ser “desabitada”. Depois eles fundaram a cidade de Jerusalém.



O Moisés de Apião

Embora não tenham havido ocorrências anteriores de sobrevivência da narrativa de Osarsiph-Moisés, existem várias versões posteriores a Manetho, algumas contendo variações interessantes da vida de Moisés. Dentre elas está o relato feito pelo gramático grego do primeiro século depois de Cristo, Apião de Alexandria. Ele deixou algumas afirmativas notáveis relativas a Moisés, o Egípcio, em sua própria Aegyptiaca, agora desaparecida; incluídas em seu Contra Apionem. De acordo com Apião:

já ouvi falar, dos antigos egípcios, que Moisés era de Heliópolis, e que ele se considerava responsável por seguir os costumes de seus ancestrais, e fazia suas preces ao ar livre, diante das muralhas da cidade; mas ele as limitava ao nascer do sol, que era favorável à situação de Heliópolis; ele também construiu pilares em vez de gnômons (obeliscos) […]"

Leandro Vilar disse...

Sim, você tem razão, os argumentos são fortes. Mas hoje em dia o estudo da História não se baseia apenas nas fontes escritas (embora haja doutores que ainda pensem assim), mas também em fontes arqueólogicas.

Não conheço mais a fundo esse debate sobre o Êxodo, mas sei que é problemático. Minha antiga professora de história Antiga I, já dizia que no campo da arqueologia, praticamente não há nada que sugira que o Êxodo ocorreu, pelo menos não como descrito na Bíblia.

É preciso levar em consideração que a Bíblia possui mitos. Não estou dizendo que o Êxodo seja um mito, mas não podemos acreditar piamente que ele ocorreu totalmente daquela forma.

Mesmo que Moisés tenha aberto o Mar Vermelho ou não, o que interessa a nós historiadores é como Moisés conseguiu reunir milhares de hebreus e promover a retirada deles do Egito? E porque nos anais egípcios isso não consta? Será que os faraós mandaram apagar tal tragédia de sua história? Ou os documentos que relatam essa história hoje estão perdidos?

Sandman -.- disse...

Esclarecendo que não sou historiador, apenas curioso rs. Esses relatos li no livro “TUTANCÂMON a verdade por trás do maior mistério da arqueologia” (título original: Mercy), de Andrew Collins e Chris Ogilvie-Herald, Editora Landscape, 2004. Não sei até onde esse livro é uma fonte confiável.

Talvez os faraós tenham apagado pois esse período remete ao momento em que o Faraó instituiu o monoteísmo no Egito, que então foi assolado por pragas. Segundo esse livro:

Tutankhaten (Tutancâmon) não devia ter mais de nove anos nessa época (..) o general Horemheb tornou-se Vice-Rei e Regente (...) Todas as referências ao temido deus Aton foram expurgadas das inscrições, e as estátuas de Aquenaton foram enterradas ou destruídas. Além disso, Horemheb mandou remover os nomes dos quatro reis de Amarna – Aquenaton, Smenkhkare, Tutancâmon e Aye – dos registros oficiais, e prolongou seu reinado para trás, divulgando que havia começado no ano em que o pai de Aquenaton, Amenhotep (Amenófis) III, deu início a uma co-regência com seu filho. (...) considerava adequado banir até mesmo Tutancâmon dos registros oficiais, mandou raspar à força de cinzel o nome do Rei da Estela da Restauração, substituindo-o pelo seu.

De qualquer maneira, o que acho realmente interessante, é essa possibilidade de Moisés ser egípcio, e a religiões abraâmicas, "pagãs" em essência.