Ronaldo Vainfas
Marina de Mello e Souza
Obs: Os grifos foram feitos por mim.
Introdução
Um dos maiores problemas da historiografia brasileira acerca
da escravidão é seu relativo desconhecimento da história e cultura africanas.
Desconhecimento injustificável que, no limite, implica considerar o africano
apenas em função da escravidão, reificando-o, e tanto mais grave quanto é hoje
a história cultural campo dos mais frequentados pela pesquisa historiográfica
no Brasil. É verdade que, talvez, nos últimos vinte anos, este quadro lacunoso
tem dado sinais de mudança, bastando citar, sem a preocupação de esgotar o
assunto, os trabalhos de João Reis
sobre a revolta dos malês na Bahia1,
o de Manolo Florentino sobre o
tráfico atlântico2, ou o de Robert
Slenes sobre a formação de uma “etnia
proto-banto” no sudeste brasileiro oitocentista3. Há, porém, muito ainda
por fazer nesta área de estudos.
A história do reino do Congo certamente tem muitas lições a
dar, quer para os interessados no estudo da África, quer para os estudiosos da
escravidão e da cultura negra na diáspora colonial. Afinal, a região do Congo-Angola foi daquelas que
mais forneceu africanos para o Brasil, especialmente para o sudeste,
posição assumida no século XVII e consolidada na virada do século XVIII para o
XIX.
Muito se escreveu, no âmbito da bibliografia etnológica e
antropológica, sobre a importância das religiosidades banto na chamada cultura
afro-brasileira e bastaria isto para estimular investigações mais sistemáticas
sobre a história da região. Mas a história do Congo revela, no entanto,
aspectos surpreendentes e não muito conhecidos de nossos historiadores, embora
sejam bem estudados por estudiosos estrangeiros, especialmente belgas e
norte-americanos e, em menor escala, franceses e portugueses. Referimo-nos ao
extraordinário processo de catolização levado a cabo no Congo, a partir de fins
do século XV, e ao “aportuguesamento” de suas instituições sociais e de governo,
a partir de inícios do século XVI, processos que não implicaram, porém, muito
pelo contrário, o aniquilamento das tradições
bakongo ali vigentes. Referimo-nos, em especial, à constituição da monarquia congolesa em moldes lusitanos,
réplica da portuguesa, e às complexas relações entre esta e o Estado português,
o que, sem dúvida, tem a ver com os interesses do tráfico atlântico.
De todo modo, a famosa “festa
de coroação de Reis Congo”, difundida no Brasil ao longo do século XIX, é a
ponta do iceberg de uma história que só se pode esclarecer com o
deslocamento no espaço e no tempo. Deslocamento rumo à África, ao antigo reino
do manicongo, e retorno ao
século XV, século da conversão do primeiro soberano congolês ao catolicismo.
Congo descoberto
Quando Diogo Cão
chegou à foz do rio Zaire em 1483 e contactou pela primeira vez o mani Nsoyo, chefe da localidade na qual
aportara, o Congo era um reino forte e estruturado, cuja chefia máxima cabia ao
Mani Congo. Formado
por grupos de etnia banto,
especialmente os bakongo, abrangia grande extensão da África
Centro-Ocidental e se compunha de diversas províncias. Algumas delas, como as
de Nsoyo, Mbata, Wandu e Nkusu, eram administradas por membros
de uma nobreza local que assumiam os cargos de chefia há gerações, sendo o
controle político mantido por uma mesma linhagem, enraizada no local. Outras
províncias eram administradas por chefes escolhidos pelo rei dentre a nobreza
que o cercava na capital.
A unidade do reino era mantida a partir do controle exercido
pelo Mani Congo, cercado por linhagens nobres que teciam alianças
principalmente por meio do casamento, mas era também fortalecida pelas relações
comerciais e políticas entre as diversas regiões. O centro de poder
localizava-se na capital, mbanza
Kongo, de onde o rei
administrava a confederação juntamente com um grupo de nobres que formavam o conselho real, composto
provavelmente por 12 membros, divididos em grupos com diferentes atribuições:
secretários reais, coletores de impostos, oficiais militares, juízes e
empregados pessoais. A centralização político-administrativa, ao mesmo tempo
que conferia estabilidade ao sistema, ensejava intensas e frequentes disputas
pelo poder.
A formação do reino parece datar do final do século XIV, a
partir da expansão de um núcleo localizado a noroeste de mbanza Kongo.
Os mitos de origem registrados no século XVII referem-se à conquista do
território por um grupo de estrangeiros, chefiados por Nimi a Lukeni, que teria
subjugado as aldeias da região do Congo e imposto a sua soberania pela supremacia
guerreira. Nos séculos XVI e XVII, após o contato com os portugueses, o direito
do rei coletar impostos e tributos estaria ideologicamente fundamentado na
conquista efetivada pelos antepassados das linhagens governantes, o que nem
sempre era aceito pacificamente.
A divisão fundamental na sociedade congolesa era entre as
cidades - mbanza - e
as comunidades de aldeia - lubata.
A tradição representava esta divisão como entre povos que vieram de fora e os
nativos, submetidos àqueles. Os estrangeiros seriam os membros da nobreza, os
habitantes da capital, os governantes das províncias indicados pelo rei, isto
é, os que ocupavam as posições superiores do reino. A lubata era
dominada pela mbanza, que podia requisitar parte do excedente aldeão.
Os chefes de aldeia
- nkuluntu - faziam a
ligação entre os setores, recebendo o excedente agrícola e repassando parte
deste para os representantes das cidades, reconhecidos como superiores
políticos. Nas comunidades rurais, a apropriação do excedente era justificada
pelo poder de mediação com o sobrenatural do kitomi, ou pelo privilégio do mais velho, o nkuluntu.
Como nelas a produção supria apenas as necessidades básicas, não havia um
acúmulo de bens que permitisse sinais exteriores de status para os
chefes. Enquanto nas aldeias os chefes não tinham controle sobre a produção,
baseada na estrutura familiar e na divisão sexual do trabalho, nas cidades eram
os nobres - as linhagens governantes - que controlavam a produção, fruto do
trabalho escravo no cultivo de terras controladas pela nobreza. As diferenças
básicas que distinguiam as cidades das aldeias eram a maior concentração da
população e a administração da produção por parte da nobreza, que se apropriava
de parte do trabalho escravo.
De todo modo, as características da escravidão existente no
Congo confirmam a tipologia elaborada por João Reis em artigo sobre a África
pré-colonial4. No reino do Congo havia, de um lado, a escravidão doméstica
ou de linhagem, na qual o cativeiro era resultante de sanções sociais ou
mesmo da captura em guerras, integrando-se o escravo à linhagem do senhor. Cativeiro
em que se destacavam as escravas concubinas, que geravam filhos para o clã
masculino, ao contrário dos casamentos entre linhagens, nos quais os filhos ficavam
ligados à família da mãe (mastrilinearidade). Mas ao lado da escravidão de linhagem,
mais amena e mitigada, existia o que João Reis chamou de escravidão ampliada
ou escravismo propriamente dito: um tipo de escravidão comercial ligada à
produção agrícola ou à exploração de minas, a qual seria consideravelmente
estimulada e desviada para o Atlântico após o contato com os portugueses.
São Salvador, nome atribuído a mbanza Kongo após a conversão dos reis congoleses ao
cristianismo em 1491, chegou a ter cerca de 60.000 habitantes no século XVII, sendo que de 9 a 12.000 desses
não estavam diretamente engajados na produção. Desde antes do contato com os
portugueses, até meados do século XVII, a capital foi um ímã que unia as
diferentes linhagens nobres, e a base da solidez do Congo, pois mesmo quando
eram travadas lutas sucessórias entre as chefias, tudo se resolvia em função da
centralização política em São Salvador, antiga mbanza Congo.
As diferentes linhagens sempre preferiam aderir ao grupo que
no momento dominasse a política da capital, a tentar a separação. Quando os
portugueses chegaram ao Congo, encontraram ali grandes mercados regionais, nos
quais produtos específicos a certas áreas como sal, metais, tecidos e derivados
de animais eram trocados por outros, e um sistema monetário, no qual conchas chamadas nzimbu,
coletadas na região da ilha de Luanda,
serviam de unidade básica. O estreitamento das relações com os portugueses
intensificou o comércio regional e o internacional e aumentou a importância dos
comerciantes, muitos deles não congoleses. O Congo não era uma nação voltada
para o comércio, exercido em grande parte pelos naturais de Loango, e
posteriormente controlado pelos portugueses de São Tomé e de Angola e
pelos holandeses. Mas eram o comércio,
principalmente de escravos, e o controle das minas, sempre aquém das expectativas,
os principais interesses dos portugueses no Congo quando ali chegou Diogo Cão.
Conversão e catolização
D. João II enviou Diogo Cão, no ano de 1485, em mais uma expedição marítima que foi dar no estuário do rio
Zaire. Instruídos para estabelecer contatos pacíficos e acompanhados de
intérpretes conhecedores de línguas africanas, os enviados do rei português
tomaram conhecimento da cidade real no interior do continente e para lá
enviaram emissários. Como estes demorassem a voltar, retidos na corte congolesa
pela curiosidade que despertou o que contavam, os navios portugueses,
recusando-se a esperar, zarparam sem eles, levando alguns reféns. Em Portugal
esses foram tratados como amigos e aprenderam um pouco dos hábitos, da religião
e da língua do reino. Conforme o prometido, nova expedição trouxe de volta os
congoleses capturados, agora “ladinos”, juntamente com uma embaixada e presentes
para o mani congo, retorno amplamente festejado 5. Disposto a abraçar a fé de Cristo, o mani congo enviou, em 1489, uma
embaixada para o rei português, que foi presenteado com tecidos de
palmeiras e objetos de marfim, formalizando seu desejo de se converter ao
cristianismo e pedindo o envio de clérigos, assim como de artesãos, mestres de
pedraria e carpintaria, trabalhadores da terra, burros e pastores. Junto com os
pedidos, deixou claro, segundo Rui de
Pina, cronista que registrou o evento, seu desejo de que doravante os dois
reinos se igualassem nos costumes e na maneira de viver, solicitando que alguns
jovens, enviados com a embaixada, fossem instruídos na fala, escrita e leitura
latinas, além dos mandamentos da fé católica. E, com efeito, durante todo ano
de 1490 os enviados do rei do Congo permaneceram em Portugal, aprendendo o
português, os mandamentos da fé católica e os costumes da sociedade portuguesa.
Em dezembro de 1490,
nova expedição foi enviada ao Congo, a qual,
em março de 1491,
chegou à foz do rio Zaire, por eles chamado de rio do Padrão por lá ter sido colocado um padrão indicador de que o
rei de Portugal havia sido o descobridor daquelas terras, em nome do seu reino
e de Cristo. A província de Nsoyo
(Sonho ou Sono nos relatos portugueses), na qual se encontrava a foz do rio Zaire,
era governada por um irmão da mãe do rei do Congo, o mais respeitado dentre os
chefes provinciais. Ao receber os portugueses, o chefe local mandou que todos viessem
recepcionar os enviados do rei de Portugal. Rui de Pina nos deixou um detalhado
relato desses primeiros contatos entre portugueses e congoleses, aludindo aos
festejos e reverências com que foram recebidos os portugueses e à pompa do mani
Nsoyo, que veio trazendo carapuça na cabeça com uma serpente “mui bem lavrada
d’agulha”. Registra o cronista - e isto se reveste de máxima importância -, que
as “mulheres dos fidalgos” locais se fartaram de saudar os estrangeiros,
dizendo que seus maridos haviam de fazer o melhor de si para o serviço del Rei
de Portugal, “a que eles chamavam Zampem-Apongo, que antr’eles quer
dizer Senhor do Mundo6.
Ao olhos dos congoleses, o rei português passava, pois, a
ser assimilado a Zambem-apongo,
divindade suprema dos povos banto,
senhor que reinava no mundo dos mortos, pois, vale dizer, a festa era também
para João da Silva, congolês batizado e embaixador do rei do Congo morto na
viagem. Senhor do Mundo, porque senhor dos mortos, o Zambem-apongo dos
congoleses foi entendido pelos observadores portugueses como sendo o rei de
Portugal, D.João II especificamente. Doravante, e por muito tempo, portugueses
e congoleses passariam a traduzir noções alheias para sua própria cultura a
partir de analogias que permitiam supor estarem tratando das mesmas coisas
quando na verdade sistemas culturais distintos permaneciam fundamentalmente
inalterados.
No dia seguinte a essa confraternização, o chefe congolês, provavelmente
associando as coisas extraordinárias trazidas pelos lusitanos à sua linguagem
cultural, pediu para ser batizado sem mais demora. Assim foi erigida uma igreja
de madeira, devidamente paramentada com os objetos trazidos de Portugal para
nela realizar o batismo do mani Nsoyo. Conta-nos Rui de Pina que, apesar de outros
nobres expressarem o desejo de serem batizados, o mani Nsoyo só permitiu que
ele e seu filho mais velho o fossem antes do rei do Congo, primazia que sua destacada
posição permitia, não permitindo aos “fidalgos de sua Casa” que sequer entrassem
na igreja.
O mani Nsoyo recebeu o nome de Manuel, tal qual o irmão da rainha
de Portugal, e seu filho chamou-se Antonio, inaugurando um padrão analógico que
regeria os primeiros tempos das relações entre os dois povos. Nessa altura, a narrativa
de Rui de Pina deixa bastante clara a relação imediatamente percebida pelos congoleses
entre fé e poder. O batismo foi reservado aos maiores do reino, numa certa
ordem de hierarquias. Principalmente não podia ser usufruído antes de que o rei
o recebesse, fato percebido pelo mani Nsoyo que respondeu negativamente aos nobres
que pediram para também serem batizados, justificando o seu próprio batismo antes
do Mani Congo por ser tio do rei e mais velho que ele.
Após a cerimônia do batismo, seguiram-se festejos, os padres
acompanharam o mani Nsoyo até sua casa em procissão com cruz erguida,
discursaram contra as idolatrias e superstições e Manuel mandou que todos os
ídolos e templos fossem
destruídos. Rezas e missas sucederam-se antes que seguisse a expedição para a capital
real, dispondo de 200 homens cedidos por Manuel para carregarem os presentes e
carga, além dos que levavam os mantimentos e garantiam a segurança.
Demorariam 23 dias para chegar à corte,
sendo recepcionados no caminho pelos chefes locais. Ao se aproximar de mbanza
Congo, a expedição foi recebida por um membro da família real que levou
presentes para o embaixador. O cronista descreve a recepção da embaixada
lusitana pelo rei congolês, usando terminologia familiar aos europeus e que
pareciam aos observadores aplicáveis à realidade com que se deparavam pela
primeira vez. Assim, o Mani Congo e os chefes que o cercavam foram
imediatamente identificados como o rei e sua corte; os nobres congoleses associados
aos fidalgos portugueses e os cargos administrativos e honoríficos foram chamados
pelos equivalentes europeus.
Conforme as descrições do evento, o Rei
ordenou que todos os fidalgos e toda a sua Corte saíssem com arcos, lanças, trombas,
timbales e muitos outros instrumentos que eles usavam, e quando os cristãos
adentraram a capital, foram recebidos com grandes estrondos e logo hospedados
em umas “casas grandes honradas e novas” providas em tudo do que pera eles
compria. E chegaram ante El-Rei “que estava em um terreiro de seus paços”, acompanhado
de grande multidão e posto em um estrado rico ao seu modo, nu da cinta pera
cima, com uma carapuça de pano de palma lavrada e muito alta, posta na cabeça,
ao ombro um rabo de cavalo guarnecido de prata, da cinta para baixo coberto com
uns panos de damasco presentados por El-Rei de Portugal e no braço esquerdo um
bracelete de marfim7.
Enquanto isso as pessoas festejavam,
levantando as mãos em direção ao mar e gritando em louvor a deus e ao rei
lusitano, ou pelo menos assim o entenderam aqueles que deixaram registro do
dia. Foram iniciados os trabalhos de construção de uma igreja, que seria
consagrada à Virgem Maria e demoraria um ano para ser levantada. Enquanto isso
os clérigos iam falar ao rei sobre as “maravilhosas obras de Deus, para que,
com sua agradável conversação, o conduzissem ainda mais à fé de Cristo”8. Este
não mais quis esperar pelas maravilhas do batismo e pediu para ser batizado
imediatamente, no que foi atendido. Preparou-se um cômodo, de uma casa escolhida,
ergueram-se altares, acenderam-se tochas e velas, prepararam-se bacias cheias
d’água, e aí o mani Congo foi batizado, tomando o nome do rei de Portugal e os
outros fidalgos, nomes de fidalgos da “Casa d’El-Rei de Portugal”, seguindo na linha
analógica predominante desde o começo das relações entre os dois povos.
O embaixador português foi, enfim, fartamente
presenteado e deixou no Congo quatro clérigos, os ornamentos da igreja usados
nos cultos e “um negro que conhecia as duas línguas e que, igualmente, era
experimentado nas letras de uma e da outra língua, negro que começou a ensinar
a muitos fidalgos e a seus filhos e a muitos homens honrados e virtuosos”9.
Idealmente a igreja deveria servir de
posto avançado no percurso da expansão portuguesa. O retorno da expedição
lusitana seguiu com uma embaixada do mani Congo
agradecendo os presentes e favores recebidos, comunicando seu batismo e intenção
de multiplicar os conversos (para o que pedia mais padres), oferecendo-se como súdito
em troca do apoio militar recebido e finalmente expressando sua intenção de
enviar um embaixador diretamente a Roma, a modo de prestar obediência ao chefe
maior da Igreja, mas deixando claro que devia a sua fé à ação do rei de Portugal.
E, com efeito, entrevendo boas possibilidades de comércio
com o reino do Congo e da expansão do catolicismo - as duas faces inseparáveis
da expansão ultramarina lusitana -, Portugal iniciou então uma intensa relação
comercial com o reino do Mani Congo capitaneada pela difusão da fé cristã. Morto
D. João I do Congo, e após uma luta
sucessória e fratricida na qual não faltaram tentativas, da parte de algumas
facções nobres, em remover o cristianismo de que haviam sido excluídos,
ascendeu ao trono D. Afonso I, o mais importante rei da história
luso-congolesa, chefe político e espiritual da catolização do reino do Congo.
Isto porque, na verdade, seu pai, D. João I, não obstante
convertido, logo abandonaria o cristianismo, pressionado por setores da nobreza
que não aceitavam a nova religião. Para eles, ela não se mostrou eficaz contra
os infortúnios que então assolavam o reino. Além disso, o rei e os nobres resistiam
a aceitar a monogamia imposta pelos padres, um dos temas mais polêmicos na
aceitação da nova religião, uma vez que a extensão da rede de solidariedades tecida
pelos casamentos era peça fundamental nas relações de poder tradicionais.
Com a morte de João I e a deflagração da luta sucessória,
subiu ao trono um outro filho seu que não seguia os preceitos do cristianismo,
apoiado pelos nobres defensores das tradições congolesas. Mas Afonso conquistou
o trono depois de lutas com seu irmão e reinou por trinta e sete anos, de 1506 a 1543, sendo as bases do cristianismo
no Congo estabelecidas em seu reinado. Era profundamente dedicado ao catolicismo,
impressionando os missionários com o seu saber e com a sua dedicação aos estudos10.
Seu filho Henrique chegou a ser
consagrado bispo (1518-1531), o que não foi visto com bons olhos pelo clero e
pela coroa portuguesa, pois dessa forma diminuía o controle exercido pelo Estado
por meio do monopólio da religião.
Mas não foi apenas o cristianismo que floresceu sob o
reinado de Afonso I. Antes de tudo, D. Afonso promoveu um autêntico
“aportuguesamento” das instituições políticas do reino, em consonância com D. Manuel,
rei de Portugal, que a isto o estimulou. Assim, a justiça do Estado passou a se
guiar pelas normas portuguesas, a partir da embaixada de Simão da Silva, portador do Regimento de 1512, e os antigos chefes
de linhagem das províncias passaram a intitular-se de condes, marqueses,
duques. Trata-se de matéria riquíssima que não temos condições de desenvolver
aqui, mas vale o registro de que, sob a inspiração política e institucional
portuguesa, o Estado congolês foi perdendo as características tradicionais de
confederação ou chefatura pluritribal para assumir, ainda que no plano das
instituições e da etiqueta política, aspectos da monarquia ocidental, centralizando-se
mais nitidamente - traço que sobreviveria ao reinado de Afonso I, perdurando
até o século XVIII, não obstante as dilacerantes crises políticas que o reino
atravessou no século XVII.
Por outro lado, Afonso I recebeu grande ajuda dos
portugueses para incrementar o comércio de cobre extraído em regiões ao norte
do Congo que, trazido para a capital, tornou-se um meio valioso com o qual o
rei podia adquirir mercadorias européias. Essas importações e o incremento no
comércio, ao aumentar a riqueza do rei, permitiram assegurar a lealdade de nobres
importantes, construindo a base de um longo e memorável reinado. Também o
comércio de escravos com os portugueses, em fase inicial de implantação,
tornou-se monopólio real com redes de comércio que chegavam a São Tomé, o
centro de todo tráfico da África ocidental, e até mesmo ao Benin11.
Quando o comércio de pessoas fugiu do controle do rei, com
mercadores desrespeitando as rotas estabelecidas e o monopólio real, Afonso I
escreveu ao rei português reclamando que até mesmo nobres congoleses estavam
sendo capturados em guerras interprovinciais para serem vendidos como escravos.
O comércio de escravos era antigo naquela região, mas as regras tradicionais
estavam sendo violadas. Não apenas prisioneiros de guerra ou pessoas
endividadas estavam sendo negociadas, mas as rotas tradicionais, controladas
pelos chefes locais, estavam sendo ignoradas em prol de novos caminhos que burlavam
o controle real.
Tudo isso ameaçava o poder real com a evasão de tributos que
lhe seriam devidos pelos privilégios tradicionais e o enriquecimento de chefes
e comerciantes abalava as bases de seu poder. Somando-se a isso, a região do Ndongo (futura Angola), começava
a atrair o interesse dos comerciantes portugueses que buscavam justamente fugir
aos monopólios existentes no Congo, concorrendo com o tráfico de escravos
controlado pelo rei congolês e pelos comerciantes autorizados pelo rei lusitano.
De todo modo, quando
os portugueses chegaram à foz do Zaire, o Congo, assim como outros reinos da
região, estava em processo de franca expansão, como os registros de guerras
frequentes atestam. A escravização das populações conquistadas permitia aos
reis ampliar sua riqueza pessoal assim como fortalecer exércitos e o corpo
administrativo composto por dependentes diretos, além de aumentar o volume de
tributos recebidos dos territórios ocupados.
Assim, a expansão permitia o acúmulo de riqueza e um reforço
da centralização política. Quando os portugueses chegaram àquela parte da
África, portanto, não só encontraram uma grande população cativa, como as
condições necessárias para sustentar um amplo mercado de escravos, no qual havia
espaço para os estrangeiros recém-chegados. No caso congolês, o próprio
processo de centralização e fortalecimento das cidades frente às aldeias estava
baseado na crescente existência de escravos, concentrados principalmente em mbanza
Kongo, cujo trabalho era apropriado pelos membros das linhagens nobres que,
assim, incrementavam sua riqueza, seu poder, seus sinais de status. Não só no
Congo, mas em vários estados das fundamentais na centralização e reforço das lealdades12.
Afonso I reinou nesse período, e apesar dos pr oblemas que
seu reinado enfrentou, expandiu as fronteiras do reino, fortaleceu a
centralização do poder real, desenvolveu a capital, disseminou o cristianismo e
a educação formal, valorizando sobremodo a leitura e a escrita. Não seria
exagero ver em seu reinado, sobretudo do ponto de vista religioso e
político-institucional, o processo que Serge
Gruzinski chamou de ocidentalização, estudando o México na mesma época13.
Lembrado até hoje como o mais poderoso rei da história do
Congo, Afonso I, esse defensor implacável da fé cristã, assemelha-se em muitos
aspectos ao ideal de rei missionário e cruzado, rei que combate os infiéis com
a ajuda de forças divinas, amplia e consolida as fronteiras da cristandade. As
bases do catolicismo congolês fincaram raízes profundas no seu reinado, que se
prolongou até quase meados do século XVI. Catolicismo que, não obstante, foi incapaz
de remover por completo as tradições religiosas locais, do que resultou um
complexo religioso original, híbrido, a um só tempo católico e banto.
Crise congolesa: Mbwila e a
fragmentação política
As relações luso-congolesas estabelecidas no reinado de
Afonso I entraram em lento, mas progressivo colapso a partir da segunda metade
do século XVI e, sobretudo no século XVII, após a morte de Álvaro II, em 1614. Na
verdade, não obstante a retórica da Coroa portuguesa de que o rei do Congo não
era vassalo de Portugal, senão um “irmão em armas de seus reis”, como dele
disse D. João IV, o fato é que Portugal sempre viu no Congo uma
possibilidade de expandir a fé católica e garantir o tráfico de escravos em
partes d’África.
Portugal atendeu muito pouco às reivindicações dos monarcas
congoleses, como se percebe na correspondência entre as duas Coroas no período,
e acabaria deslocando seus interesses no tráfico para Angola. A deterioração das relações luso-congolesas
só fez crescer no século XVII, a ponto de, no reinado de Garcia Afonso II (1641-1663), o Congo ter se aproximado dos holandeses,
que haviam tomado Luanda anos antes. Garcia
II desenvolveu, na verdade, uma política ambígua, cortejando e deixando-se
cortejar pelos batavos, porém, recusando a pressão holandesa para abandonar
o catolicismo romano. Desatendeu, por outro lado, as exigências do padroado da
Coroa Portuguesa, admitindo no reino capuchinhos italianos e espanhóis, embora
tenha ratificado um tratado que garantia importantes concessões territoriais a
Portugal na vizinha Angola14.
Apesar das cautelas de parte a parte, Congo e Portugal
seguiriam doravante caminhos distintos, quando não opostos, até o frontal embate de 1665. Referimo-nos à batalha
de Mbwila (Ambuíla), quando os congoleses foram derrotados pelos
portugueses, seguindo-se um período de guerras internas ligadas à sucessão
real. Portugueses e congoleses enfrentaram-se em Mbwila em relativa igualdade
numérica, mas, enquanto o exército congolês era formado principalmente por
camponeses recrutados, o exército português era composto em sua maioria por guerreiros imbangalas (jagas), povo
criado na tradição guerreira.
A guerra ocorreu em torno a uma disputa sucessória em
Mbwila, importante região do Ndembo,
estando os portugueses interessados em controlar o território que seria
passagem para as cobiçadas minas de ouro e prata. Na batalha morreram milhares
de congoleses, muitíssimos nobres e o rei
Antonio I teve sua cabeça cortada e enterrada em Luanda, enquanto sua coroa
e seu cetro, emblemas reais, foram remetidos a Lisboa à guisa de troféus. Junto
com o rei, haviam morrido os principais candidatos ao trono, abrindo-se então
um complicado processo sucessório que fortaleceu a posição de Nsoyo. Depois da batalha, São Salvador
(mbanza Congo) foi à ruína com as linhagens nobres fugindo das guerras
sucessórias para outras províncias.
De todo modo, a maioria dos autores que se detiveram na
história congolesa deste período atribuem a desestruturação do reino a causas
externas, localizando no aumento do número de escravos traficados, na intensificação
das guerras regionais e na alteração do equilíbrio entre os poderes tradicionais
os principais motivos das guerras civis que assolaram o Congo até o início do século
XVIII. John Thornton é de opinião
diferente, desvendando os mecanismos internos que levaram às guerras civis e ao
longo período de lutas sucessórias após a derrota de Mbwila. Com o enriquecimento
das linhagens governantes do Nsoyo, não só devido ao grande aumento do comércio
que passava por Mpinda, seu porto,
mas principalmente com o aumento da riqueza produzida na cidade devido à
concentração de escravos e tributos, surgiu uma alternativa de aliança entre as
linhagens em disputa, que não dependiam mais apenas da linhagem então reinante.
No seu entender, o poder centralizado do Congo foi destruído pelas rivalidades
entre Nsoyo e São Salvador - agudizadas no “período holandês” - , pela derrota
em Mbwila e pelas lutas entre as linhagens nobres.
Depois de Mbwila, toda a nobreza transferiu-se para as
províncias, que se tornaram mais autônomas e passaram a escolher seus administradores,
independentemente do poder central, pelo qual, no entanto, a disputa era
constante. Cada chefe local cercou-se de um grupo de auxiliares, reproduzindo
nas províncias a estrutura da corte real e escolhendo seu sucessor. As
rivalidades entre as linhagens provocaram guerras permanentes que empobreceram
a população em consequência de recrutamentos forçados, destruição de plantações
e escravização dos derrotados, vendidos para os comerciantes de Luanda ou para
a Loango dos mercadores. Nsoyo, a
mais forte província, cuja capital teve a população dobrada
entre 1645 e 1700, quando contava com cerca de 30.000 habitantes,
desenvolveu-se muito nesse período, beneficiando-se dos escravos trazidos de
São Salvador, em ruínas.
A intenção de Nsoyo era manter um rei fantoche no poder,
servindo aos interesses da nobreza local, e, para tal, apoiava algum pretendente
ao trono o suficiente para lá colocá-lo, mas não o suficiente para que se
fortalecesse no cargo. No entanto, a crise política, qualificada por alguns como
verdadeira “anarquia”, tomou conta do reino congolês. Entre 1665 e 1694, houve
nada menos do que 14 pretendentes à coroa do reino, alguns com sucesso, outros
nem tanto, e muitos deles assassinados. No final dos seiscentos, o Congo
possuía três reis, sendo D. Pedro IV
o mais poderoso deles, aparentemente, e talvez o único capaz de levar adiante
um projeto de reunificação congolês.
Kimpa Vita e a ressurreição
imaginária
Foi neste contexto de crise e fragmentação que irrompeu o antonianismo, movimento que, seja em
termos religiosos ou políticos, fornece-nos importantes pistas para compreender
as complexas relações entre catolicismo e monarquia na África banto.
A fundadora da
“seita” foi a jovem aristocrata Kimpa
Vita, nascida de família nobre congolesa na década de 1680, batizada Dona Beatriz, mulher que fora sacerdotisa
do culto de Marinda (nganga
marinda), embora educada no catolicismo. Kimpa Vita contava entre 18
e 20 anos quando, cerca de 1702-1703,
acometida de forte doença, disse ter falecido e depois ressuscitado como Santo Antônio. E seria como Santo Antônio que
Kimpa Vita pregaria às multidões do reino - daí o movimento ter ficado
conhecido como antonianismo -, seguindo o rastro de outras várias
profetisas que lhe precederam na mesma tarefa, como a Mafuta, em meio à crise que assolava o reino.
A pregação de Kimpa Vita possuía forte conotação política.
Preconizava o retorno da capital a São Salvador e a reunificação do reino,
chegando mesmo a envolver-se nas lutas facciosas da época. Melhor exemplo disso
ocorreu quando de sua chegada a São Salvador, onde encontrou Pedro Constantino da Silva, nobre militar
enviado por D. Pedro IV, a quem proclamou “Rei do Congo” em troca de sua adesão
ao antonianismo. Assegurou-se ainda, por meio de vários acordos, da aliança de
famílias nobres adversárias de D. Pedro, a exemplo dos grupos de Kimpanzu, especialmente da família Nóbrega, enraízada no
sul da província de Nsoyo.
As alianças estabelecidas por Kimpa Vita, metamorfoseada em
Santo Antônio, não eram, porém resultado de mero cálculo político. Ancoravam-se
numa cosmologia complexa e peculiar que, se formos resumir em poucas palavras,
vale seguir o que disse Ch. Boxer sobre o movimento: “uma modalidade remodelada
e completamente africanizada do cristianismo”15.
Com efeito, o movimento antoniano confirma, antes de tudo, o
êxito do processo de catolização do Congo inaugurado no século XV e
cristalizado sob o reinado de Afonso I na primeira metade do século XVI. O Deus
dos antonianos era, sem dúvida, o Deus cristão, o Deus dos missionários, com o
qual Kimpa Vita dizia jantar todas as sextas-feiras, após “morrer”, para “ressuscitar”
no dia seguinte. Santo Antônio, por outro lado, santo mui valorizado na missionação
realizada no Congo, era a persona assumida pela profetisa, por ela
chamado de “segundo Deus”. Africanizando o catolicismo, “a Santo Antônio congolesa”
dizia que Cristo nascera em São
Salvador, a verdadeira Belém, e recebera o batismo em Nsundi, a verdadeira
Nazareth. Afirmava ainda que a Virgem
Santíssima era negra, filha de uma escrava ou criada do Marquês de Nzimba Npanghi e que São Francisco pertencia ao clã do Marquês
de Vunda.
O catolicismo do
movimento antoniano era, portanto, muitíssimo original, implicando uma leitura
banto ou bakongo da mensagem cristã. Modelava-se, em vários aspectos, na ação pedagógica dos missionários, mas
condenava o clero oficial, sobretudo
os missionários estrangeiros, aos quais acusava de “haverem monopolizado a revelação e o segredo das riquezas para exclusiva
vantagem dos brancos” em prejuízo
dos “santos negros”. Rejeitou, igualmente, boa parte dos sacramentos católicos: o batismo, a confissão, o matrimônio, ao
menos no tocante à liturgia e aos
significados oficiais, abrindo caminho, no caso do matrimônio, para a restauração legitimada da poligamia.
Adaptou, ainda, certas orações católicas, a exemplo da Ave-Maria e sobretudo do
Salve Rainha. Proibiu, ainda, a veneração da cruz, esse grande nkisi
católico-bakongo, em razão de ter ela sido o instrumento da morte de Cristo. Kimpa Vita prometia a todos os que aderissem à sua pregação uma
próxima “idade de ouro”, e não apenas
no sentido figurado, pois dizia que as raízes das árvores derrubadas converter-se-iam em ouro e prata e que das
ruínas das cidades surgiriam minas
de pedras preciosas. Prometia, ainda, tornar fecundas as mulheres estéreis e outras mil bem-aventuranças,
granjeando imenso apoio popular. Não se escusava,
porém, de ameaçar os reticentes com as piores penas, incluindo a de transformá-los em animais.
Organizou para tanto uma verdadeira igreja antoniana, um clero, onde pontificavam outros
santos, como São João, e uma plêiade de sacerdotes denominada de “os antoninhos” que saíam a pregar a excelência da
nova igreja e o poder taumatúrgico e
apostólico “da Santo Antônio” que a chefiava. Kimpa Vita despertou obviamente a ira dos missionários capuchinhos
e das facções nobres adversárias do
antonianismo e postulantes do poder real. O próprio D. Pedro IV, de início cauteloso e hesitante em reprimir o
movimento, terminou por ceder às
pressões dos capuchinhos italianos, ordenando a prisão da profetisa e de São
João, “o anjo da guarda” da profetisa que os frades diziam ser seu amante.
O estopim ou pretexto que levou à
prisão de Kimpa Vita teria sido a acusação de que tinha um filho recém-nascido, cujo choro teria sido ouvido
enquanto ela o amamentava em
segredo, do que resultara o seu desmascaramento como “falso Santo Antônio”. Kimpa Vita foi presa,
arguida pelo capuchinho Bernardo Gallo16
e condenada a morrer na fogueira como
herege do catolicismo. A sentença foi
executada em 1708 e na fogueira
arderam Kimpa Vita e seu “anjo da guarda” – o Santo Antônio e o São João do catolicismo congolês.
Significados do antonianismo
O movimento dos antonianos tem sido tema dos mais polêmicos
na historiografia acerca do Congo, especialmente a partir dos anos 1960, debate
estimulado pelo processo de descolonização da África. O antonianismo foi, de um
lado, condenado por uma certa historiografia oficial portuguesa como heresia
obscena e diabólica, historiografia que muito espelhava o conservadorismo da
Igreja portuguesa e o próprio colonialismo dos tempos de Salazar17.
No pólo oposto, o antonianismo foi visto como uma espécie de
movimento precursor das guerras de independência africanas levadas a cabo nos
anos 60, posição obviamente extemporânea porque motivada mais pela bandeira da descolonização
do que pela contextualização do movimento em seu tempo. É o caso de Louis Jadin, grande estudioso do Congo,
que, escrevendo em 1968,
caracterizou o antonianismo como precursor das agitações político-religiosas
modernas na África18. É também o caso do clássico Georges Balandier, que considerou o movimento como o primeiro a indicar
o caminho, sob forma messiânica, “para o reino ideal da liberdade”, isto é,
como proto-nacionalismo congolês19.
E assim como esses, muitos outros seguiram semelhante linha
de interpretação, muito politizada na verdade, ainda que tenham dado contribuição
relevante, inclusive documental, para o estudo do movimento. Crítica antiga,
porém pertinente a este tipo de interpretação, encontramo-la no português Eduardo dos Santos que, escrevendo em 1970,
lembrou que o antonianismo havia pouco fora descoberto nos arquivos e que
nenhum movimento libertário congolês sequer conheceu a experiência antoniana de
séculos atrás. Sugere que o movimento deve ser interpretado como resultado do
tipo de missionação levado a cabo no Congo, a saber, uma catolização
superficial, habituada aos “batismos de carregação” (batismos em massa) e por
isso facilmente permeável a inovações extravagantes20.
Se Eduardo dos Santos acerta ao criticar os que vêem uma linha
evolutiva entre o antonianismo e a descolonização dos anos 60, é contudo muito
simplista ao atribuir o antonianismo às imperfeições da catequese praticada na África.
A historiografia mais recente, sobretudo a produzida a partir dos anos 1980, trilhou
caminhos muito distintos, imprimindo leitura histórico-antropológica no estudo
do antonianismo e procurando realçar, antes de tudo, os fenômenos de hibridismo
cultural e a resignificação do catolicismo pela cultura banto.
É o caso de António
Custódio Gonçalves21, cuja obra
procurou contestar todo e qualquer caráter anticolonialista no movimento dos
antonianos. Gonçalves desenvolveu interessante estudo sobre a simbolização
política no reino do Congo, desde a chefatura de mbanza Congo ao movimento
antoniano, passando evidentemente pelo processo de ocidentalização religiosa e
institucional levada a cabo na região. Nesse sentido, o movimento antoniano
seria, em vários aspectos, anti-ocidental, sem por isso ser anticolonial,
embora se tenha realmente apropriado de inúmeros elementos simbólicos do
catolicismo, reinventando-os à luz da cultura Bakongo. Gonçalves compreende o
movimento em termos de tensão entre matrilinearidade e patrilocalidade, entre
formalismos tradicionais e novos, tendendo, no limite, a pensar o antonianismo
como expressão simbólica da crise interna por que passava o reino do Congo nos
tempos de Kimpa Vita.
A profetisa encarnaria, assim, no entender de Gonçalves, uma
tentativa de restaurar as tradições Bakongo em face das profundas modificações
provocadas pela formação de um Estado à moda ocidental. Não resta dúvida que António
Gonçalves dá contribuição interessantíssima e original para o estudo do antonianismo,
e dela só fornecemos aqui uma visão superficial. Parece correto nosso autor ao
descartar a caracterização anticolonialista que muitos viram no antonianismo, especialmente
porque, no início do século XVIII, o reino do Congo não mais era objeto da
cobiça portuguesa (ele que, na verdade, nunca fora colônia propriamente dita) e
longe estava de despertar novas arremetidas européias, fenômeno sabidamente
posterior, datado do século XIX.
Desde a batalha de Mbwila, para não dizer que antes dela, os
portugueses se haviam concentrado em Angola e do Congo só esperavam que não
atalhasse seus interesses no tráfico de cativos através de Luanda. Por outro
lado, a caracterização do antonianismo como processo de luta (restauradora) da
“linhagem contra o Estado” corre o risco de simplificar o significado do
movimento ao reduzi-lo, no fundo, a uma tensão exclusivamente interna entre as
tradições aldeãs e as estruturas estatais herdadas do reinado de Afonso I, além
de priorizar em demasia a questão do simbolismo político no exame
da questão. O problema talvez resida em que, na época de
Kimpa Vita, nem o Estado congolês era forte como fora no século XVI, nem
tampouco o antonianismo parece ter preconizado um “retorno” radical às
tradições anteriores a 1491. O antonianismo, vale relembrar, foi um movimento
religioso de inspiração claramente católica e sua grande originalidade foi
“refazer” o legado da evangelização à moda local, reinventando o catolicismo,
no limite, como tradição tipicamente congolesa.
Apropriando-se, portanto, das mensagens, liturgias e dos
métodos missionários católicos como se fossem patrimônios da cultura Bakongo. Avanço
significativo na interpretação do antonianismo vê-se nas recentes contribuições
dos norte-americanos John Thornton e
Wyatt MacGaffey, aos quais nos referimos outras vezes no presente artigo,
apesar de ambos tenderem sutilmente a relacionar o antonianismo aos movimentos
anticolonialistas posteriores. De todo modo, à semelhança de António Gonçalves, Thornton e MacGaffey
são de opinião de que o antonianismo só pode ser compreendido na longuíssima
duração, remetendo-se-o ao processo de catolização do Congo nos séculos XV e
XVI e adotando-se uma postura etno-histórica na investigação. MacGaffey e
Thornton defendem que durante os primeiros 200 anos de contato entre congoleses
e europeus, houve o desenvolvimento de um catolicismo africano no qual os
missionários cristãos viam sua própria religião, e as populações congolesas, a
sua tradicional forma de reverenciar os deuses e de relacionar-se com o além.
Diálogo de surdos ou reinterpretação de mitologias e
símbolos a partir dos códigos culturais próprios, a conversão ao cristianismo
foi dada como fato pelos missionários e pela Santa Sé, da mesma forma que a
população e os líderes religiosos locais aceitavam as novas designações e ritos
como novas formas de lidar com crenças tradicionais. No entender de MacGaffey,
o acontecimento definidor da forma como os congoleses receberam os portugueses
e sua religião foi o retorno dos reféns em 1485. O rei e a corte demonstraram
enorme alegria com a volta dos reféns, “como se todos fossem mortos e ressuscitados”,
nas palavras de Rui de Pina. Diz MacGaffey que eles certamente foram vistos
como sobreviventes de uma iniciação excepcional aos poderes dos mortos, sendo o
batismo prometido pelos visitantes uma iniciação numa nova e mais poderosa
versão do culto dos espíritos locais22.
Na cosmogonia banto, o mundo se dividia em dois - o dos
vivos e o dos mortos. A comunicação entre os dois mundos era possível por meio
de ritos executados por especialistas, líderes religiosos que detinham o
conhecimento mágico requerido para tal contato: os itomi (plural de kitomi), sacerdotes da comunidade,
responsáveis pela fertilidade, guardiões das relações entre o homem e a
natureza e das instituições sociais mais
importantes como a família, além de legitimar a ordem política ao
entronizar o novo chefe; os nganga, que prestavam serviços
privados e trabalhavam com a ajuda de nkisi, objetos mágicos indispensáveis
à execução dos ritos religiosos, originadores da noção de fetiche; os ndoki,
feiticeiros especializados em ajudar seus clientes a prejudicar o próximo. Partindo,
como etno-historiador, da cosmologia congolesa contemporânea, na qual o mundo está divido em duas
partes, a dos vivos e a dos mortos, sendo a água a passagem entre os dois mundos, MacGaffey tenta entender aquele
acontecimento chave sob a ótica dos
congoleses23. Para os banto, os mortos têm a cor branca; requerem homenagens, presentes e obediência; podem conferir algum
de seu poder aos vivos, que devem
todos os seus dons a alguma forma de contato com eles e a iniciação requer um estágio de enclausuramento, como uma estadia
no mundo dos mortos24.
Dessa forma, o retorno dos reféns em 1485 teria sido visto
como uma volta do mundo dos mortos e
tudo que eles viram em Lisboa tornou-se imediatamente
alvo do mais intenso desejo, uma vez que dizia respeito ao reino da sabedoria, à fonte do poder, do
conhecimento, da riqueza. Os brancos
portugueses, vindos do mar, aparelhados de coisas nunca vistas e cuja eficácia foi logo comprovada,
ofereciam insistentemente sua orientação na
iniciação desse culto que parecia ser mais poderoso.
O mani Nsoyo, como depois o mani Congo, teriam interpretado os rituais oferecidos como uma
nova versão do culto que lhes era
familiar, um sistema cósmico sobre o qual os portugueses, por séculos, nada souberam. Seus batismos
cumpriram os requisitos de reclusão ritual,
sendo outras pessoas que não as diretamente envolvidas no culto proibidas
de ver os objetos e gestos sagrados.
Os brancos trouxeram novos objetos sagrados, novos ritos, que foram prontamente incorporados pelos chefes, que dessa
forma tiveram A linha de interpretação proposta por Thornton e MacGaffey talvez
nos ofereça a chave para o entendimento do fenômeno Kimpa Vita e o movimento
dos antonianos.
É certo que talvez haja certo exagero, sobretudo no caso de
Thornton, quanto às analogias - quando não homologias - estabelecidas entre o
catolicismo e a religiosidade banto. Convém não esquecer que muito do que se
sabe acerca dos congoleses na época dos primeiros contatos com os portugueses,
decorre do registro dos missionários e cronistas enviados nas expedições,
homens habituados a “traduzir” na sua própria linguagem cultural os traços de
culturas distintas que lhes pareciam passíveis de assimilação. A qualidade dos
registros posteriores não fugiu a essa regra, não obstante os congoleses tenham
produzido fontes escritas em profusão a partir de Afonso I. Não esqueçamos, neste
caso, que os “escribas” do reino congolês foram sistematicamente
aportuguesados, a par da catolização da religião e da conversão das
instituições sociais e políticas banto às tradições portuguesas.
De todo modo, se as diferenças estruturais entre os dois corpi
religiosos eram maiores do que as semelhanças supostas pelos dois autores
norte-americanos, e se talvez não seja exato supor ab origine que a
religião congolesa fosse uma religião revelada (traço clássico dos
chamados monoteísmos), as analogias e mesmo homologias religiosas detectadas
por Thornton e MacGaffey se tornaram realidade com o passar dos séculos. Catolização
da religiosidade banto e africanização do catolicismo configuraram os nós
imbricados de um mesmo processo - e os dois autores, neste ponto, o percebem e
descrevem muito bem.
Não lhes escapou, por outro lado, a associação verdadeiramente
oficial entre catolicismo e poder no reino do Congo, fenômeno, este sim, que
marcou a formação do reino e os conflitos entre chefaturas desde D. João I, o
pai de D. Afonso, e primeiro monarca católico do Congo. Tanto é que os dois
autores percebem no movimento liderado por Kimpa Vita uma reação “popular”,
embora inscrita nos marcos do catolicismo, contra o catolicismo oficial vigente
no reino. Reação popular e por isso talvez mais “africanizada” do catolicismo
ou, quando menos, hostil aos sacramentos, à cruz e aos missionários.
É sugestiva, portanto, a afirmação de MacGaffey de que “a
relativa democratização da religião” entre os antonianos ameaçava as
hierarquias existentes e as estruturas políticas e sociais das chefaturas,
propondo uma ordem política alternativa à vigente27. Ordem alternativa não somente
à fragmentação política de inícios do século XVIII, mas talvez à própria
estrutura da monarquia luso-católico congolesa erigida dois séculos antes. É
nesta linha de argumentação que se move, de certo modo, António Gonçalves,
embora este último radicalize a oposição em causa, ao caracterizá-la em termos
de linhagem versus Estado, africanizando quiçá em demasia o
antonianismo.
Thornton, por sua vez, localiza socialmente a gênese do
antonianismo no desconforto de toda uma geração de camponeses flagelada pela
guerra permanente e pela ameaça do tráfico atlântico. O movimento antoniano,
afirma Thornton, “nascido do desejo de paz dos camponeses do Congo”, teria
resultado numa poderosa e nova ideologia religiosa. Ideologia que combinava a
religião tradicional congolesa com a mensagem dos padres cristãos devidamente
“congolizada”. Catolicismo “congolizado”, mas nem por isso anti-cristão (apesar
de herege), insiste Thornton, pois no mínimo não se opunha à fé cristã tal como
ela fora capaz de ser adotada no Congo e integrada à estrutura social e
política do reino28.
Tem-se, portanto, um quadro em que o antonianismo se afigura
como movimento predominantemente popular, embora liderado por uma jovem aristocrata
congolesa e apoiado por facções nobres do reino. Movimento católico, embora a cosmologia
antoniana, sobretudo por africanizar, quando menos, o que há de mais sagrado no
cristianismo (a concepção do Cristo), indique tratar-se do “cristianismo africano”
de que fala Thornton. Um movimento em que, malgré
seu catolicismo, pulsavam tradições e crenças mui caras à religiosidade tradicional
dos banto, a saber, a crença no poder dos mortos. Kimpa Vita ancorou seu poder,
antes de tudo, na morte. Morrera e ressuscitara, encenando, num só ato, o
enredo que levara os reis congoleses a abraçar o cristianismo séculos antes. E
Kimpa Vita “reatualizava o mito” através do rito de sempre morrer às
sextas-feiras para voltar nos sábados, após jantar com Deus.
Encontrava o “Senhor do Mundo” bakongo, o governante dos
mortos, de que falava o cronista de antanho, realimentando com isso seu poder
espiritual de nganga. Mas não esqueçamos de que, Kimpa Vita, ao morrer e
ressucitar ad perpetuam, deixara de ser Kimpa Vita ou D. Beatriz para
ser Santo Antônio. Santo Antônio de Pádua ou de Lisboa, sem deixar de ser Santo
Antônio do Congo. O “segundo Deus”, dele dizia a profetisa, dizendo de si
mesma, portanto (porque ela era ele, se nos permitem), cuja
importância se revela nas imagens de marfim ou bronze cuja palavra em Kikongo significava “boa sorte”.
Kimpa Vita só adquiriu a importância máxima que chegou a ter
após retornar do “mundo dos mortos”, para onde ia e de onde vinha semanalmente.
Mas ia e vinha como Santo Antônio, na verdade. Quando voltou de vez a ser Kimpa
Vita, “a Santo Antônio congolesa” perdeu tudo, inclusive a vida. Bernardo da
Gallo, o capuchinho que a interrogou, registrou que, ao morrer na fogueira, “a
pobre Santo Antônio” não ressuscitaria jamais. Mas, fiel aos acontecimentos,
registrou também que os “antonianos” recolheram os fragmentos de seus ossos,
guardados como se relíquias fossem, e espalharam que Beatriz não havia desaparecido
senão sob uma de suas múltiplas formas.
NOTAS:
1 -
João Reis. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês
(1835). São Paulo, Brasiliense, 1986, 293 pp.
2 -
Manolo G. Florentino. Em costas negras: uma história do tráfico atlântico de
escravos entre a África e o Rio de Janeiro (sécs. XVIII-XIX). Rio de
Janeiro, Arquivo Nacional, 1995, 300 pp.
3 -
Robert Slenes. “Malungu, Ngoma vem: África coberta e descoberta no Brasil”.
Revista USP, vol.12, São Paulo, 1991-92, pp.48-67.
4 -
João Reis. “Notas sobre a escravidão na África pré-colonial”. Estudos
Afro-Asiáticos, n.14, Rio de Janeiro, pp. 5-21.
5 -
Rui de Pina. “Relação do Reino do Congo”. In: Radulet, Carmem. O cronista
Rui de Pina e a Relação do Reino do Congo. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa
da Moeda, 1992, p.101.
6 -
Idem, p.140.
7 -
Idem, p.145.
8 -
Idem, p.121.
9 -
Idem, p.129.
10 - John
Thornton. “The Development of an African Catholic Church in the Kingdom of
Kongo, 1491-1750”, Journal of African History, n.25, 1984, p.155.
11 - Wyatt
MacGaffey. “Dialogues of the deaf: europeans on the Atlantic coast of Africa”.
In: Stuart Schwartz, (org). Implicit Understandings. Cambridge,
Cambridge University Press, 1994, p.259; Kenny Mann. Kongo, Ndongo, West
Central Africa. New Jersey, Dillon Press, 1996, pp.51-53.
12 - John
Thornton. Africa and Africans in the Making of the Atlantic World, 1400-1680,
Chicago, The University of Chicago Press, p.108-109.
13 - Serge
Gruzinski, . La colonisation de l’imaginaire - l’ occidentalisation dans le
Méxique. Paris, Gallimard, 1988.
14 - Charles Boxer. Salvador de Sá e
a luta pelo Brasil e Angola. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1973,
pp.287 e segs.
15 - Charles Boxer. A Igreja e a
expansão ibérica. Lisboa, Edições 70, 1981, p.132.
16 - A principal fonte para o estudo do
antonianismo é a “Relação” de Bernardo da Gallo, capuchinho que arguiu Kimpas
Vita depois de presa. In: Bulletin de L’Institut Historique Belge de Rome,
fasc. XXXIII, Bruxelles/Rome, 1961.
17 - Adalberto de Postioma. “A heresia
do antonianismo”. Portugal em África. Lisboa, v.XIX:378-81, 1962.
18 - Louis Jadin. “Les sectes secrètes
au Congo (1703-1709)”. Cahiers des Religions Africaines, n.3, v.2:110-119,
1968.
19 - Georges Balandier. La vie
quotidienne au Kongo du XVIème au XVIIème siecle. Paris, Hachette, 1965, p.268.
20 - Eduardo dos Santos. “O
Antonianismo. Uma página da História do Antigo Reino do Congo”. Lisboa, Studia,
ns. 30/31:81-112.
21 - António Custódio Gonçalves. Kongo:
le lignage contre l’Etat. Évora, Univ. de Évora, 1985.
22 - Wyatt
MacGaffey. “Dialogues of the deaf...”, p.257; idem, Religion and Society in
Central Africa. Chicago, The University of Chicago Press, 1986, p.199.
23 - Idem, “The
West in Congolese Experience”. In: Ph. Curtin (org). Africa and the West.
Intelectual Responses to European Culture. Madison, The University of
Winsconsin Press, 1972.
24 - Idem, Religion
and Society..., pp.43 e segs.
25 - Idem,
“Dialogues of the deaf...”, p.260.
26 - John
Thornton. Africa and Africans in the Making of the Atlantic World... p.248.
27 - Wyatt
MacGaffey. Religion and Society..., p. 210.
28 - John
Thornton. The Kingdom of Kongo: Civil Wars and Transition, 1641-1718. Wisconsin Press, 1983, pp. 106-107.
Referências Bibliográficas:
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FONTE: VAINFAS, Ronaldo; SOUZA, Marina de Mello e. Catolização e poder no tempo do tráfico: o reino do Congo da conversão coroada ao movimento antoniano, séculos XV-XVIII. Revista Tempo, n. 6, 1998, p. 95-118. Disponível em: http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg6-7.pdf.
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