Dando continuidade ao projeto iniciado em Ásia: berço de religiões: as religiões abraâmicas, nesse segundo texto conheceremos alguns aspectos da fecunda religiosidade indiana, que em vários termos parecem ser excêntricas e bizarras para o pensamento ocidental.
Outros textos dessa série são:
Outros textos dessa série são:
Religiões Indianas
Denomina-se
de religiões indianas as religiões ou tradições religiosas oriundas no
subcontinente indiano ou península indiana. Sendo algumas destas religiões
bastante antigas, possuindo milhares de anos de história, ao mesmo tempo
possuindo uma versatilidade de crenças. Se por um lado as religiões abraâmicas
embora possuam suas diferenças, mas ambas estão conectadas entre si por
questões bases que giram em torno de um único deus, por sua vez, as religiões
indianas profetizam uma gama de centenas ou milhares de divindades, algumas
mais importantes do que outras, assim como, possui aspectos do totemismo, do animismo, e concepções contraditórias entre si.
Vedismo:
1) Breve história
O Vedismo ou Religião Védica é considerada por alguns historiadores das religiões como a forma religiosa mais antiga da Índia que hoje se possui conhecimento em detalhe, datando de pelo menos dois mil anos antes de Cristo, pois por muito tempo os ritos védicos foram transmitidos oralmente até que alguns sacerdotes decidiram deixá-los registrados utilizando o alfabeto sânscrito, e assim surgiram os textos Vedas.
A história do Vedismo como de outras religiões se perde no tempo e se confunde com outros acontecimentos, e para alguns historiadores a religião védica começou a se formar propriamente com a chegada dos Arianos ou árias ("nobres") a Índia por volta do ano de 1500 a.C. Os arianos era um povo indo-europeu que por volta do terceiro milênio antes de Cristo se estabeleceram no planalto iraniano, no atual Irã. Como os arianos eram um povo bélico e seminômade decidiram invadir a Índia, região naturalmente mais agradável, pois o local onde eles viviam era de clima semiárido e a vida era difícil naquelas terras que em alguns pontos eram desérticas. No entanto, a Índia era uma imensa floresta tropical, abundante em rios, alimentos e recursos.
"No seu período comum, as tribos indo-iranianas designavam-se por meio de um temor que significava "(homem) nobre", airya em avéstico, ârya em sânscrito. Os arianos tinham iniciado a sua penetração no Nordeste da índia no começo do II milênio; quatro ou cinco séculos mais tarde, ocupavam a região dos "Sete Rios", sapta sindhavah, isto é, a bacia do alto Indo, o Pendjabe". (ELIADE, 1983, p. 20).
Ao atravessarem o que hoje são os territórios do Afeganistão e Paquistão, as tribos arianas adentraram o noroeste da Índia, a região chamada de Punjabe ou Pendjabe, conhecida pelo rio Indo, do qual original o termo hindu que passariam a designar o povo indiano. No entanto, em sua marcha guerreira para se apossar das férteis terras indianas, os arianos empreenderam uma longa conquista no que resultou em séculos de combate, pois as cidades indianas em alguns casos resistiram bravamente. E foi em meio a esse cenário beligerante que os Vedas começaram a serem escritos e a religião védica começou a ser estruturada em livros sagrados.
As invasões arianas no noroeste e norte da Índia, marcaram o início do Período Védico (ca. 1500 a.C - ca. 700 a.C) da história indiana. Nesse período as tribos arianas se miscigenariam com as tribos indianas da região do Punjabe, e nessas trocas culturais, a religião védica sofreria sincretismos com as práticas religiosas já existentes naquela região da Índia. É importante salientar que nessa época não existia ainda o hinduísmo, embora alguns dos deuses hindus já fossem cultuados por esse tempo. O vedismo se manteria até mais ou menos o século III a.C, quando seria assimilado pelo hinduísmo, embora que ainda hoje algumas práticas védicas podem ser vistas na religião hindu.
2) Aspectos religiosos
O vedismo era uma religião politeísta, realizava-se sacrifícios especialmente para o deus do fogo Agni. Era uma religião que possuía uma classe sacerdotal (bramana), possuía textos sagrados que eram os Vedas; uma religião com crenças naturais, sendo que seu embasamento se dava em torno da prática dos sacrifícios.
Antes de prosseguirmos para alguns aspectos do culto védico, é necessário conhecer alguns de seus deuses. Eliade [1978] menciona que um dos deuses védicos mais antigos conhecidos chamava-se Dyaus, o qual era o rei dos deuses e o deus do céu. Eliade assinala que quando os Vedas começaram a serem escritos por volta do século XVI a.C, Dyaus já estava em baixa popularidade, sendo substituído pelo deus Varuna como o novo rei dos deuses. De fato, o nome de Dyaus quase não é mencionado nos Vedas, e por sua vez o próprio Varuna também com o tempo perderia sua importância. Se desconhece por quais motivos e quando Varuna se tornou um deus (deva) mais importante do que Dyaus, todavia, Varuna tornou-se um deus que ora poderia ser benevolente, mas também poderia ser cruel.
"Os textos védicos apresentam Varuna como Deus Soberanos: ele reina sobre o mundo, os deuses (devas) e os homens. Ele "esticou a Terra como um açougueiro a uma pele, para que ela seja igual tapete ao Sol...". Pôs "o leite nas vacas, a inteligência nos corações, o fogo nas águas, o sol no céu, o soma sobre a montanha". (ELIADE, 1983, p. 25-26).
Inicialmente Varuna possuía atributos de deuses celestes, sendo identificado com a Noite, em oposição ao Dia representado pelo deus-sol Mitra. Também lhe foi atribuído a definição entre dia e noite (quantas horas cada um duraria), foi o responsável por criar as fases da lua e outros fenômenos celestes, todavia, posteriormente, Varuna deixou esse atributo celestial e se tornou um deus marítimo, sendo identificado como o soberano dos oceanos. Embora Varuna não foi um deus criador, ele foi um deus ordenador ou organizador. Era conhecido por ser um devoto seguidor do rta, algo como uma "ordem cósmica" que rege todas as ações do universo, ações divinas e mundanas.
"Proclama-se que a criação foi efetuada em conformidade com o rta, repete-se que os deuses agem segundo rta, que o rta governa tanto os ritmos cósmicos quanto a conduta moral. O mesmo princípio rege também o culto. "A sede do rta" está no mais alto céu ou no altar do fogo. Ora, Varuna foi educado na "casa" do rta e afirma-se que ele ama o rta e testemunha em favor do rta. É chamado de "Rei do rta"e diz-se que essa norma universal, identificada com a verdade, está "baseada" nele". (ELIADE, 1983, p. 26).
Pelo fato de Varuna se identificar como um "guardião" do rta, ele também agia como um juiz. Qualquer um que desobedece o rta seria punido, daí seu aspecto autoritário e as vezes cruel. Varuna era um hábil conhecedor do mâya ("poderes mágicos"), os quais poderiam ser utilizados para o bem ou para o mal. Se diz que Varuna não gostava dos pecadores, dos criminosos e dos ignorantes, e para se redimir de seus erros, sacríficos e libações deveriam ser prestados ao deus. Nesse caso, Varuna também era conhecido como o "deus dos laços" ou o "deus dos nós", pois tal metáfora referia-se a ligação de dependência entre as pessoas e ele. O nó nesse contexto simbolizava a liberdade ou o aprisionamento, a vida ou a morte.
Antes de prosseguirmos para alguns aspectos do culto védico, é necessário conhecer alguns de seus deuses. Eliade [1978] menciona que um dos deuses védicos mais antigos conhecidos chamava-se Dyaus, o qual era o rei dos deuses e o deus do céu. Eliade assinala que quando os Vedas começaram a serem escritos por volta do século XVI a.C, Dyaus já estava em baixa popularidade, sendo substituído pelo deus Varuna como o novo rei dos deuses. De fato, o nome de Dyaus quase não é mencionado nos Vedas, e por sua vez o próprio Varuna também com o tempo perderia sua importância. Se desconhece por quais motivos e quando Varuna se tornou um deus (deva) mais importante do que Dyaus, todavia, Varuna tornou-se um deus que ora poderia ser benevolente, mas também poderia ser cruel.
"Os textos védicos apresentam Varuna como Deus Soberanos: ele reina sobre o mundo, os deuses (devas) e os homens. Ele "esticou a Terra como um açougueiro a uma pele, para que ela seja igual tapete ao Sol...". Pôs "o leite nas vacas, a inteligência nos corações, o fogo nas águas, o sol no céu, o soma sobre a montanha". (ELIADE, 1983, p. 25-26).
O deus Varuna montando em makara. Pintura do final do século XVII. |
"Proclama-se que a criação foi efetuada em conformidade com o rta, repete-se que os deuses agem segundo rta, que o rta governa tanto os ritmos cósmicos quanto a conduta moral. O mesmo princípio rege também o culto. "A sede do rta" está no mais alto céu ou no altar do fogo. Ora, Varuna foi educado na "casa" do rta e afirma-se que ele ama o rta e testemunha em favor do rta. É chamado de "Rei do rta"e diz-se que essa norma universal, identificada com a verdade, está "baseada" nele". (ELIADE, 1983, p. 26).
Pelo fato de Varuna se identificar como um "guardião" do rta, ele também agia como um juiz. Qualquer um que desobedece o rta seria punido, daí seu aspecto autoritário e as vezes cruel. Varuna era um hábil conhecedor do mâya ("poderes mágicos"), os quais poderiam ser utilizados para o bem ou para o mal. Se diz que Varuna não gostava dos pecadores, dos criminosos e dos ignorantes, e para se redimir de seus erros, sacríficos e libações deveriam ser prestados ao deus. Nesse caso, Varuna também era conhecido como o "deus dos laços" ou o "deus dos nós", pois tal metáfora referia-se a ligação de dependência entre as pessoas e ele. O nó nesse contexto simbolizava a liberdade ou o aprisionamento, a vida ou a morte.
Embora Varuna fosse um deva ele também é chamado nos Vedas de asura, termo que designava tanto os deuses como outros seres divinos, mas posteriormente ganhou um tom pejorativo, passando a está associado a demônios e monstros. Em alguns dos Vedas e no Mahabarata, Varuna é identificado com os nagas, seres que poderiam assumir a forma humana ou a forma de serpente. Os nagas eram conhecidos por serem criaturas inteligentes e conhecedoras da magia e das artes ocultas. A cobra possui atributos mágicos na mitologia indiana.
Outros três deuses que devem ser mencionados nesse primeiro momento da religião védica chegada a Índia: Mitra, o qual possuía atributos de soberano ao lado de Varuna, representando seu complemento por ser um deus que preza pela ordem e o correto, mas sendo a antítese de Varuna, por ser mais tolerante que ele, e por representar o dia. Havia também Aryaman o deus que prezava pela segurança e harmonia dos arianos, também estava associado ao casamento. Nesse grupo o terceiro deus era Bhaga, o qual era o responsável pela riqueza e sua distribuição.
Todavia, nos Vedas os principais deuses mencionados não são esses citados anteriormente, mas sim, Indra, Agni e Soma. Esses três deuses são protagonistas de várias histórias contadas nos Vedas, sendo Indra o herói e guerreiro, Agni o mensageiro e sacerdote, por sua vez Soma possui uma conotação mais simbólica com a bebida sagrada soma, e tivera pouco valor cultualista. Tais atributos expressam alguns aspectos da cultura ariana a qual já se dividia em castas: a casta dos sacerdotes (brâhmana), guerreiros (ksatriya) e os produtores (vaisya). A casta dos guerreiros era a classe dominante, por sua vez os brâmanes como eram chamados os sacerdotes possuíam um status social diferenciado devido a sua função religiosa. Todavia, grande parte da população ariana pertencia a classe dos produtores. Tal sistemas de castas seria adotado e ampliado pela religião hinduísta séculos depois de forma a se consolidar profundamente na sociedade indiana até os dias de hoje.
Sobre Indra, esse se tornou o novo principal deus do vedismo, tornando-se o grande herói e guerreiro dos deuses védicos, mas além desse lado belicoso, Indra era o deus das tempestades, dos raios e das chuvas, a ele se associava a destruição (guerra e tempestades), mas também se associava a dádiva da vida (chuva e fertilidade). Os védicos oravam a Indra pedindo chuvas para suas plantações, mas também oravam por fertilidade no campo, nos animais e para os homens e mulheres. Na sociedade ariana védica, um homem ter muito filhos era sinal de uma benção divina, daí as famílias serem grandes naquele tempo, principalmente as famílias nobres. Existem lendas de reis que tiveram dezenas de filhos. No entanto, o grande marco de Indra no período védico se encontra nas páginas do Rig Veda onde narra-se seu confronto contra o monstruoso Vrtra, é nessa história que ele se tornou o grande herói de seu tempo.
"O mito central de Indra, que aliás é o mais importante mito do Rig Veda, narra a o seu combate vitorioso contra Vrtra, o dragão gigantesco que retinha as águas no "oco da montanha". Fortificado pelo soma, Indra abate a serpente com o seu vajra ("raio"), a arma forjada por Tvastr, parte-lhe a cabeça e libera as águas, que se espalham em direção ao mar "qual mugidoras vacas". (ELIADE, 1983, p. 31).
Vrtra geralmente é descrito como sendo uma gigantesca serpente ou dragão, mas em algumas representações iconográficas ele aparece na forma de um gigante assombroso. De qualquer forma, tal mito descreve a vitória da ordem sobre o iminente caos, é a vitória do "movimento" sobre a "resistência", a vitória da liberdade sobre a prisão, pois ao roubar as águas do mundo, Vrtra colocou em risco a vida de todos.
Após o período védico Indra embora tenha sido assimilado pelo panteão hindu, ele perde importância na religião hinduísta, embora continue a ser o deus das tempestades, trovões, raios e chuvas. No entanto, o seu amigo, o deus do fogo Agni ainda hoje mantêm um papel importante na religião hinduísta, não tão central como na religião védica, mas ainda assim considerável.
"O papel cultural do fogo doméstico já era importante na época indo-europeia. Trata-se, certamente, de um costume pré-histórico, amplamente atestado aliás em muitas sociedades primitivas. No Veda, o deus Agni representa a sacralidade do fogo no seu mais alto grau, mas ele não se deixa delimitar por essas hierofanias cósmicas e rituais. É filho de Dyaus, tal como o seu homólogo iraniano, Atar, é filho de Aúra-Masda. Ele "nasce" no Céu, de onde desce sob a forma de relâmpago, mas encontra-se também na água, na mata, nas plantas. É, além disso, identificado ao Sol". (ELIADE, 1983, p. 34).
Agni além de ser o deus do fogo, ele estava associado a luz, ao Sol, a ligação entre o Céu o qual era a morada dos deuses e a terra, o lar da humanidade. Tal ligações se fazia de duas formas: como luz e relâmpago, Agni desce do Céu para a terra, mas como a fumaça ele retorna ao mundo celeste. O fato do uso do fogo em vários dos sacrifícios e oblações védicos mostra o papel de Agni como o "mensageiro" dos deuses, pois é através das fumaça e das cinzas que as oferendas são "levadas" aos deuses. Tal prática foi vista também entre outros povos como os gregos, romanos e astecas.
"Eu canto Agni, o capelão, o Deus do sacrifício, o sacerdote, o fazedor de oblações que nos cumula de dádivas. Ele é eternamente jovem ("o Deus que não envelhece"), pois renasce a cada novo fogo. Como "senhor da casa" (grihaspati), Agni expulsa as trevas, afasta os demônios, protege contra as doenças e a feitiçaria. É por essa razão que as relações dos homens com Agni são mais íntimas do que com os outros deuses. É ele quem "dispensa, legando a quem os merece, os bens desejáveis". (ELIADE, 1983, p. 34).
Embora Agni tivesse um grande papel religioso no vedismo, ele mau aparece nos mitos e nos livros sagrados, contudo, sua presença era mais direta, pois quase todos os dias se faziam oferendas e sacrifícios, no entanto, todos os dias se acendia o fogo em casa para se cozinhar, aquecer ou iluminar, neste ponto, Agni era um deus bem mais próximo das pessoas do que outros deuses do panteão védico. Ainda hoje ele recebe culto, pois seu culto foi absorvido pelo hinduísmo. A prática de cremação hinduísta remonta os ritos védicos a Agni.
Outros três deuses que devem ser mencionados nesse primeiro momento da religião védica chegada a Índia: Mitra, o qual possuía atributos de soberano ao lado de Varuna, representando seu complemento por ser um deus que preza pela ordem e o correto, mas sendo a antítese de Varuna, por ser mais tolerante que ele, e por representar o dia. Havia também Aryaman o deus que prezava pela segurança e harmonia dos arianos, também estava associado ao casamento. Nesse grupo o terceiro deus era Bhaga, o qual era o responsável pela riqueza e sua distribuição.
Todavia, nos Vedas os principais deuses mencionados não são esses citados anteriormente, mas sim, Indra, Agni e Soma. Esses três deuses são protagonistas de várias histórias contadas nos Vedas, sendo Indra o herói e guerreiro, Agni o mensageiro e sacerdote, por sua vez Soma possui uma conotação mais simbólica com a bebida sagrada soma, e tivera pouco valor cultualista. Tais atributos expressam alguns aspectos da cultura ariana a qual já se dividia em castas: a casta dos sacerdotes (brâhmana), guerreiros (ksatriya) e os produtores (vaisya). A casta dos guerreiros era a classe dominante, por sua vez os brâmanes como eram chamados os sacerdotes possuíam um status social diferenciado devido a sua função religiosa. Todavia, grande parte da população ariana pertencia a classe dos produtores. Tal sistemas de castas seria adotado e ampliado pela religião hinduísta séculos depois de forma a se consolidar profundamente na sociedade indiana até os dias de hoje.
O heroico deus Indra montado em Airavata, sendo acompanhado de um guerreiro e um servo. |
"O mito central de Indra, que aliás é o mais importante mito do Rig Veda, narra a o seu combate vitorioso contra Vrtra, o dragão gigantesco que retinha as águas no "oco da montanha". Fortificado pelo soma, Indra abate a serpente com o seu vajra ("raio"), a arma forjada por Tvastr, parte-lhe a cabeça e libera as águas, que se espalham em direção ao mar "qual mugidoras vacas". (ELIADE, 1983, p. 31).
Vrtra geralmente é descrito como sendo uma gigantesca serpente ou dragão, mas em algumas representações iconográficas ele aparece na forma de um gigante assombroso. De qualquer forma, tal mito descreve a vitória da ordem sobre o iminente caos, é a vitória do "movimento" sobre a "resistência", a vitória da liberdade sobre a prisão, pois ao roubar as águas do mundo, Vrtra colocou em risco a vida de todos.
Pintura retratando o combate entre Indra e Vrtra, aqui retratado como um gigante. |
"O papel cultural do fogo doméstico já era importante na época indo-europeia. Trata-se, certamente, de um costume pré-histórico, amplamente atestado aliás em muitas sociedades primitivas. No Veda, o deus Agni representa a sacralidade do fogo no seu mais alto grau, mas ele não se deixa delimitar por essas hierofanias cósmicas e rituais. É filho de Dyaus, tal como o seu homólogo iraniano, Atar, é filho de Aúra-Masda. Ele "nasce" no Céu, de onde desce sob a forma de relâmpago, mas encontra-se também na água, na mata, nas plantas. É, além disso, identificado ao Sol". (ELIADE, 1983, p. 34).
O deus do fogo Agni. |
"Eu canto Agni, o capelão, o Deus do sacrifício, o sacerdote, o fazedor de oblações que nos cumula de dádivas. Ele é eternamente jovem ("o Deus que não envelhece"), pois renasce a cada novo fogo. Como "senhor da casa" (grihaspati), Agni expulsa as trevas, afasta os demônios, protege contra as doenças e a feitiçaria. É por essa razão que as relações dos homens com Agni são mais íntimas do que com os outros deuses. É ele quem "dispensa, legando a quem os merece, os bens desejáveis". (ELIADE, 1983, p. 34).
Embora Agni tivesse um grande papel religioso no vedismo, ele mau aparece nos mitos e nos livros sagrados, contudo, sua presença era mais direta, pois quase todos os dias se faziam oferendas e sacrifícios, no entanto, todos os dias se acendia o fogo em casa para se cozinhar, aquecer ou iluminar, neste ponto, Agni era um deus bem mais próximo das pessoas do que outros deuses do panteão védico. Ainda hoje ele recebe culto, pois seu culto foi absorvido pelo hinduísmo. A prática de cremação hinduísta remonta os ritos védicos a Agni.
No caso do deus Soma embora ele seja mencionado várias vezes principalmente no Rig Veda, ele não possui uma grande participação nos mitos ou nas práticas religiosas, sua importância advêm da bebida sagrada que leva o seu nome, bebida essa preparada e tomada em algumas práticas religiosas. A bebida soma é preparada a partir de plantas que nascem nas montanhas, todavia, os ingredientes mudaram ao longo do tempo, embora nos textos védicos se mencione que a planta também se chama-se soma, hoje a indagações que planta seria exatamente essa.
O preparo do soma era feito apenas pelos brâmanes (sacerdotes) e tal bebida era consumida apenas em ocasiões especiais, embora se diga que Indra a consumia diariamente. O soma era uma bebida ritualística, logo, daí não ser consumida diariamente, mas o seu consumo estava associado a algumas questões religiosas e mágicas. Dizia-se que beber soma lhe concedia força, coragem, energia, vigor sexual, e até mesmo curaria algumas enfermidades. No entanto, uma das características mágicas do soma seria o poder da longevidade. Os textos védicos falam que era a bebida da "não-morte" da "imortalidade", mas isso eram forças de expressão, contudo, os textos nos falam que tal bebida sagrada possuía essa conotação de prolongar a vida.
Mas deixando essa apresentação de alguns deuses, passamos para dois aspectos principais sobre o vedismo: os textos sagrados e os sacrifícios. Comecemos pelos textos sagrados. A palavra veda significa "conhecer", logo, os hinos escritos pelos brâmanes consistiram na copilação de tradições orais e mitos contados a vários anos os quais foram reunidos para formar esses livros sagrados os quais por sua vez influenciaram outras das religiões indianas, sendo que no hinduísmo, os vedas são considerados livros sagrados por essa religião.
Basicamente hoje os historiadores concordam que hajam apenas quatro conjuntos de Vedas, os quais foram escritos a partir de 1500 a.C e reescritos nos séculos seguintes. Os Vedas consistem num conjunto de dezenas de livros e centenas de hinos dividido em quatro grande obras como seguem em ordem cronológica, são:
- Rig Veda ou Rigveda (Livro dos Hinos): formado por 1.028 hinos, narra os mitos dos principais deuses do panteão védico como Indra, Agni, Soma, Varuna, Mitra entre outros. No entanto, sua grande importância não está apenas em sintetizar alguns mitos importantes para o vedismo, mas sua longa lista de descrição de sacrifícios e oferendas. O livro é dividido em 10 capítulos (mandalas), onde cada um é formado por centenas de hinos que contam distintos acontecimentos mitológicos, religiosos e até históricos, pois em algumas passagens há referências as guerras do Período Védico.
- Yajurveda (Livro dos Sacrifícios): Dividi-se em dois grupos de textos, o Krishna (também chamado de Yajurveda Negro) o qual é formado por quatro livros, e o Shukla (também chamado de Yajurveda Branco), formado de dois livros. O grande foco do Yajurverda é a descrição dos ritos, das liturgias e da realização das cerimônias, oferendas e sacrifícios. Na prática ele seria uma espécie de manual.
- Samaveda (Livro dos Cantos): Se o seu antecessor enfatiza na descrição de como os rituais devem ser realizados, nesse veda o foco está nos cantos ritualísticos, pois uma das características da religião védica é o uso de danças, música e encenações na realização de alguns ritos. O Samaveda era composto por vários hinos poéticos os quais eram recitados ou cantados, hoje não se conhece a totalidade desses cânticos, pois alguns se perderam na história e só se conhece menções a estes em outros textos.
- Atarvaveda (Livro das Fórmulas Mágicas): Consiste no mais novo dos quatro vedas, no qual o foco se dá em algumas fórmulas mágicas utilizadas para os ritos, para a medicina e para outras atividades e assuntos, narra também mitos, lendas, etc.
A tradição hindu diz que os Vedas foram compostos pelo sábio Vyasa, por volta do ano de 3102 a.C, contudo, alguns historiadores apontam que algumas das tradições e histórias contidas no Rigveda datem de 2500 a.C e 2000 a.C. Vyasa teria composto a maioria dos hinos contido nos quatro vedas, contudo, teria sido auxiliado por seus melhores discípulos para concluir essa vasta obra, lembrando que eles transmitiram tais saberes oralmente.
Todavia, a historiografia não encontra embasamento suficiente para dizer que Vyasa realmente tenha existido, além disso, assinala que pelo estudo do conteúdo dos vedas, tais livros foram escritos ao longo de séculos e por vários autores diferentes, é bem provável que cada um dos hinos possa pertencer a mais de um autor. Não obstante, os Vedas são considerados livros sagrados, livros de revelação (shruti), ou seja, eles foram inspirados pelos deuses a alguns homens chamados de rishi (sábios). Tais livros são sagrados tanto para os védicos e os atuais hindus, embora os jainistas e budistas reneguem várias de suas crenças.
Dando continuidade a alguns aspectos religiosos da religião védica, não havia templos ou santuários, os ritos eram realizados na casa do sacrificante, na qual um sacerdote se dirigia quando necessário, para poder presidir a cerimônia. Em outros casos, os ritos eram feitos ao ar livre, num terreno aberto, no qual era limpo para a realização da cerimônia. Pelo fato de haver grande ligação ao fogo, quase todos os ritos védicos estavam associados a queima de oferendas, logo, tanto em casa quanto ao ar livre, fogueiras eram acesas na ocasião. Um dos ritos mais comuns era o agnihotra ("oblação a fogo"), realizado no amanhecer e e no entardecer, onde se queimava leite para o deus Agni. Havia ritos que eram feitos diariamente, outros feitos na época das chuvas (monções), na época da colheita, nas fases da lua (especialmente lua nova e lua cheia), alguns eram feitos uma vez por ano como o agnisoma ("elogio a Agni") no qual durava três dias, e o soma era ofertado como oferenda e consumido.
"Os ritos podem ser classificados em duas categoriais: domésticos (grhya) e solenes (srauta). Os primeiros, efetuados pelo dono da casa (grhapati), são justificados pela tradição (smrti, a "memória"). Por outro lado, os ritos solenes são em geral cumpridos pelos oficiantes. A sua autoridade funda-se na revelação direta ("auditiva", sruti) da verdade eterna". (ELIADE, 1983, p. 42-43).
Dependendo do ritual poderá haver vários sacerdotes presentes. Dentre os sacerdotes podemos destacar os seguintes os quais possuíam distintas funções durante a liturgia. O hotr era o responsável por colocar as oferendas no fogo, posteriormente também seria o encarregado dos cantos ritualísticos. O adhvaryu era o responsável por acender as fogueiras e preparar os utensílios ritualísticos. O brahman, a categoria mais alta e respeitada no sacerdócio védico, em muitos casos eles presidiam os rituais sem interferir, no entanto, se algum erro fosse cometido ou alguma dúvida surgisse, eles eram consultados para solucionar aquela questão.
Um outro aspecto interessante sobre os rituais é que os sacerdotes que participavam recebiam donativos ou presentes por exercer seu papel litúrgico. Em geral a classe sacerdotal vivia de donativos, e no caso dos neófitos (novatos) estes inicialmente tinham que mendigar sua comida nos primeiros meses. Pelo fato dos brahman serem os mais importantes em status, eles recebiam metade dos donativos, e a outra metade era dividida com os demais sacerdotes. A maioria dos sacerdotes védicos viviam de forma simples. Ainda hoje os brâmanes hindus prezam por um estilo de vida humilde, apartado de "luxos" materiais
As oferendas dadas aos deuses normalmente consistiam em leite, manteiga, cereais e bolos, mas também se sacrificavam cabras, vacas (a vaca não era sagrada para os védicos), touros, carneiros, mas principalmente o cavalo, o qual dispunha de uma cerimônia própria chamada asvamedha ("sacrifício do cavalo"), o qual era feito apenas pelos reis, como forma de prestar homenagem e agradecimento após uma grande vitória (geralmente vitórias militares), então se escolhia o melhor cavalo e por um ano ele era tratado bem, até que passado esse um ano, ele seria sacrificado aos deuses. Outro sacrifício era o purusamedha ("sacrifício do homem"), o qual gera debates hoje em dia, pois se questiona se realmente seria um sacrifício humano de fato, onde homens ou mulheres eram sacrificados, ou como alguns textos sugerem, consistia num sacrifício simbólico, no qual a pessoa não era morta de verdade, mas apenas simbolicamente. No entanto, as oferendas com soma eram as mais importantes, pois a soma como já visto, representava uma bebida sagrada, compartilhada entre os deuses e os homens, uma forma de ligação ritualística entre o mundano e o celestial.
"Os ritos podem ser classificados em duas categoriais: domésticos (grhya) e solenes (srauta). Os primeiros, efetuados pelo dono da casa (grhapati), são justificados pela tradição (smrti, a "memória"). Por outro lado, os ritos solenes são em geral cumpridos pelos oficiantes. A sua autoridade funda-se na revelação direta ("auditiva", sruti) da verdade eterna". (ELIADE, 1983, p. 42-43).
Alguns ritos como o mahâvrata ("grande observância") era realizado com o acompanhamento de música instrumental e cantada, danças, encenação, diálogos, bebedeira, corrida de cavalos, etc. No caso do asvamedha ("sacrifício do cavalo") o rei e a rainha participavam das encenações litúrgicas que contavam com um grande número de pessoas que iam assistir tal importante rito, pois estava ligado a realeza.
"O tema essencial dos Vedas, a ideia central do Vedismo, é o valor do sacrifício. Como os mortos têm necessidade, para sobreviver, de ser alimentados com oferendas funerárias, os deuses também têm precisão de que, com a ajuda do fogo, se celebrem sacrifícios em seu louvor, e que lhes vertam o soma, licor da imortalidade". (CHALLAYE, 1981, p. 63).
Todavia, a historiografia não encontra embasamento suficiente para dizer que Vyasa realmente tenha existido, além disso, assinala que pelo estudo do conteúdo dos vedas, tais livros foram escritos ao longo de séculos e por vários autores diferentes, é bem provável que cada um dos hinos possa pertencer a mais de um autor. Não obstante, os Vedas são considerados livros sagrados, livros de revelação (shruti), ou seja, eles foram inspirados pelos deuses a alguns homens chamados de rishi (sábios). Tais livros são sagrados tanto para os védicos e os atuais hindus, embora os jainistas e budistas reneguem várias de suas crenças.
Duas páginas do Rigveda em sânscrito, de um manuscrito do século XIX. |
"Os ritos podem ser classificados em duas categoriais: domésticos (grhya) e solenes (srauta). Os primeiros, efetuados pelo dono da casa (grhapati), são justificados pela tradição (smrti, a "memória"). Por outro lado, os ritos solenes são em geral cumpridos pelos oficiantes. A sua autoridade funda-se na revelação direta ("auditiva", sruti) da verdade eterna". (ELIADE, 1983, p. 42-43).
Dependendo do ritual poderá haver vários sacerdotes presentes. Dentre os sacerdotes podemos destacar os seguintes os quais possuíam distintas funções durante a liturgia. O hotr era o responsável por colocar as oferendas no fogo, posteriormente também seria o encarregado dos cantos ritualísticos. O adhvaryu era o responsável por acender as fogueiras e preparar os utensílios ritualísticos. O brahman, a categoria mais alta e respeitada no sacerdócio védico, em muitos casos eles presidiam os rituais sem interferir, no entanto, se algum erro fosse cometido ou alguma dúvida surgisse, eles eram consultados para solucionar aquela questão.
Um outro aspecto interessante sobre os rituais é que os sacerdotes que participavam recebiam donativos ou presentes por exercer seu papel litúrgico. Em geral a classe sacerdotal vivia de donativos, e no caso dos neófitos (novatos) estes inicialmente tinham que mendigar sua comida nos primeiros meses. Pelo fato dos brahman serem os mais importantes em status, eles recebiam metade dos donativos, e a outra metade era dividida com os demais sacerdotes. A maioria dos sacerdotes védicos viviam de forma simples. Ainda hoje os brâmanes hindus prezam por um estilo de vida humilde, apartado de "luxos" materiais
As oferendas dadas aos deuses normalmente consistiam em leite, manteiga, cereais e bolos, mas também se sacrificavam cabras, vacas (a vaca não era sagrada para os védicos), touros, carneiros, mas principalmente o cavalo, o qual dispunha de uma cerimônia própria chamada asvamedha ("sacrifício do cavalo"), o qual era feito apenas pelos reis, como forma de prestar homenagem e agradecimento após uma grande vitória (geralmente vitórias militares), então se escolhia o melhor cavalo e por um ano ele era tratado bem, até que passado esse um ano, ele seria sacrificado aos deuses. Outro sacrifício era o purusamedha ("sacrifício do homem"), o qual gera debates hoje em dia, pois se questiona se realmente seria um sacrifício humano de fato, onde homens ou mulheres eram sacrificados, ou como alguns textos sugerem, consistia num sacrifício simbólico, no qual a pessoa não era morta de verdade, mas apenas simbolicamente. No entanto, as oferendas com soma eram as mais importantes, pois a soma como já visto, representava uma bebida sagrada, compartilhada entre os deuses e os homens, uma forma de ligação ritualística entre o mundano e o celestial.
"Os ritos podem ser classificados em duas categoriais: domésticos (grhya) e solenes (srauta). Os primeiros, efetuados pelo dono da casa (grhapati), são justificados pela tradição (smrti, a "memória"). Por outro lado, os ritos solenes são em geral cumpridos pelos oficiantes. A sua autoridade funda-se na revelação direta ("auditiva", sruti) da verdade eterna". (ELIADE, 1983, p. 42-43).
Alguns ritos como o mahâvrata ("grande observância") era realizado com o acompanhamento de música instrumental e cantada, danças, encenação, diálogos, bebedeira, corrida de cavalos, etc. No caso do asvamedha ("sacrifício do cavalo") o rei e a rainha participavam das encenações litúrgicas que contavam com um grande número de pessoas que iam assistir tal importante rito, pois estava ligado a realeza.
"O tema essencial dos Vedas, a ideia central do Vedismo, é o valor do sacrifício. Como os mortos têm necessidade, para sobreviver, de ser alimentados com oferendas funerárias, os deuses também têm precisão de que, com a ajuda do fogo, se celebrem sacrifícios em seu louvor, e que lhes vertam o soma, licor da imortalidade". (CHALLAYE, 1981, p. 63).
Além das oferendas e sacrifícios havia os sacramentos, os quais eram cerimônias mais particulares, como o casamento, funeral, consagração (samskâra) uma espécie de batismo e a introdução (upanayama) um rito de iniciação a vida religiosa. No caso dos casamentos, funerais e consagrações haviam festas.
No caso do upanayama, este era considerado um dos sacramentos mais importantes, pois além de ser a iniciação a vida religiosa também era visto como um "segundo nascimento". O menino nascia a primeira vez naturalmente, mas voltava a nascer agora uma "segunda vez". Nesse primeiro momento o neófito deveria seguir uma conduta ríspida, mendigar seu alimento diariamente, realizar os estudos védicos, manter a castidade, manter voto de pobreza e obediência, etc.
Uma das características centrais da religião védica o qual girava em torno dos rituais de oferenda e sacrifício era a noção de que tais ritos eram uma forma de simbolizar a "morte", a "vida" e o "renascimento". Realizava ritos na primavera pedindo por chuvas e um bom plantio, realizava-se ritos no amanhecer pedindo por um bom dia, no entanto, no entardecer agradecia-se pelo dia, e se pedia por um novo dia, etc. Os rituais que ocorriam uma vez ao ano, estavam associado a passagem do ano, algo parecido com o Ano Novo onde alguns agradecem pelo o que tiveram de bom no ano, e fazem promessas ou pedidos para novas realizações no ano que está por começar.
Realizavam-se ritos de passagem da vida para a pós-morte, de fato era prática cremar os corpos, algo mantido ainda por alguns hindus, daí o deus Agni também está associado aos ritos fúnebres. A alma iria para o Céu, viver ao lado de seus antepassados e dos deuses.
"O sacrifício mantém os deuses; o sacrifício criou os deuses. Assim, é o ato que criou o ser. [...]. O sacrifício, por intermédio dos deuses que ele mantém após havê-los criado, permite satisfazer os desejos humanos: sobrevivência, longevidade, riqueza, descendência masculina. A salvação para o homem, neste período, é a salvação pelo sacrifício". (CHALLAYE, 1981, p. 64).
Bramanismo:
1) Breve história
O bramanismo, brahmanismo ou religião bramânica consistiu numa adaptação da religião védica (alguns falam em evolução, mas usar esse termo para o estudo da religião é bastante complexo), por sua vez o bramanismo acabaria por influenciar bastante o hinduísmo. Tal religião surge em data incerta, mas se formar no seio do vedismo e se desenvolve quase que paralelamente a este. Todavia, além dos Vedas o bramanismo também possui outros dois conjuntos de textos sagrados, os Brâmanas os quais foram escritos entre os séculos IX a.C e VII a.C, e os Upanishads, os quais foram escritos talvez entre os séculos VI a.C e IV a.C. Alguns historiadores consideram que a elaboração destes livros consistam numa marca de ruptura final com a religião védica.
Por outro lado, a religião bramânica acabou por influenciar e ser incorporada pelo hinduísmo, e algumas de suas práticas foram também adotadas pelos jainismo e o budismo. O bramanismo é a primeira religião indiana cronologicamente falando, que propriamente apresenta as noções de reencarnação, samsara e karma, conceitos religiosos esses fundamentais na religiosidade indiana.
Por sua vez, alguns historiadores mencionam que o bramanismo seja sinônimo de hinduísmo, mas discordo de tal posicionamento, pois em alguns aspectos o bramanismo difere muito do hinduísmo, assim como o cristianismo e o islamismo possuem similaridades com o judaísmo, os dois não são sinônimos, são religiões diferentes, embora que cultuem o mesmo deus. O mesmo é válido para o bramanismo onde o foco está no culto ao Brâman ou bramã, já no hinduísmo também se mantém essa doutrina, mas o culto se dispersa entre as centenas de deuses. Na prática o bramanismo ainda existe hoje, mas tendo sido modificado dentro do hinduísmo.
2) Aspectos religiosos
O bramanismo foi a religião responsável por difundir entre os indianos a crença na reencarnação, no karma e na samsara. Por sua vez uma das bases dessa religião é o conceito de brâman (brahman).
O brâman representa o Princípio, Absoluto, o Eterno, a Verdade, o Infinito, nesse sentido, ele seria o Universo não em sua concepção física e astronômica, mas em sua concepção teológica. O brâman representa o Todo, o Plural, logo, se entende que a vida e a morte, a alegria e a tristeza, o prazer e a dor, o bem e o mal, etc., tudo se encontra no brâman, tudo faz parte do brâman, ele é o princípio e o fim de tudo que existe, existiu e existirá.
"No começo havia apenas o braman: foi ele que criou os deuses." - "Na verdade o imortal braman está em todos os lugares, à frente, atrás, à direita, à esquerda, no zênite, no nadir... Ele é Aquele em que são urdidos o céu, a terra, a atmosfera, o espírito também e todos os sentidos." - "Espuma, vagas, todos os aspectos, todas as aparências do mar não diferem do mar. Nenhuma diferença, outrossim, entre o universo e o braman." - "Na verdade, tudo é braman." (CHALLAYE, 1981, p. 67).
O brâman é o Um, o Único, mas também é o Universal, a Totalidade, o micro e o macro, o individual e o coletivo, o pessoal e o impessoal. Em algumas vertentes do bramanismo, o brâman é entendido como a essência do universo, e por sua vez foi associado a um Ser Primordial, um Ser Supremo, o Criador, o qual no hinduísmo foi chamado de Brahma. Mais a frente voltarei a falar de Brahma e assim se melhor entenderá essa ideia de unicidade e multiplicidade. No bramanismo e no vedismo esse Ser Supremo ora foi identificado com o gigante primordial Purusa o qual foi sacrificado pelos deuses (devas), os quais usaram seu corpo para criar o mundo. Essa história é contada no Purushameda. Ora foi identificado com o Prajâpati, que por sua vez refere-se a um só deus ou ao conjunto de deuses, mas o que eles têm em comum, é que são os criadores do universo.
Todavia, independente da concepção cosmogônica, a base do rito bramânico passa a se referir ao Prajâpati como o centro do culto bramânico, pois o Prajâpati não apenas representa o Universo, a Criação, mas também representa o Tempo (nesse caso representado pelo ano), e por sua vez passa a encarnar também as concepções do brâman. Nos Brâmanas se diz que Prajâpati criou o sacrifício como forma de se referir ao seu "sacrifício" para ter criado o universo, logo, o ato de realizar sacrifícios era uma forma de homenagear Prajâpati, assim como, o sacrifício também passa representar o próprio Prajâpati o qual utilizou o calor na criação, daí o fogo ser tão importante no rito bramânico quanto no védico.
"Essas tríplice identificação de Prajâpati com o Universo, o Tempo cíclico (o Ano) e o altar do fogo constitui a grande novidade da teoria bramânica do sacrifício. Ela marca o declínio da concepção que informava o ritual védico, e prepara as descobertas realizadas pelos autores dos Upanixades. A ideia fundamental é que, ao criar por "aquecimento"" e por "emissões" renovadas. Prajâpati se consome e acaba por esgotar-se. Os dois termos-chaves - tapas (ardor ascético) e visrj (emissão dispersada) - podem ter conotações sexuais indiretas ou subentendidas, pois a ascese e a sexualidade estão intimamente ligadas no pensamento religioso indiano". (ELIADE, 1983, p. 56-57).
Se no vedismo os sacrifícios eram feitos para os mais diversos deuses, no bramanismo tais sacrifícios individuais para cada deus perde importância, e os sacrifícios passam a serem feitos para o Prajâpati, isso não significa uma tendência monoteísta, pois os deuses ainda continuam a ser cultuados, mas deixam de ser o centro das atenções na liturgia bramânica. Os brâmanes passam a ser o centro da religião, pois sendo eles a classe sacerdotal mais alta, logo, o "conhecimento" está sob sua posse. Os brâmanes também passam a se tornar mais presentes nos ritos, diferente do que visto no vedismo.
"Através do sacrifício - isto é, pela atividade constante dos sacerdotes - o mundo manteve-se vivo, perfeitamente integrado e fértil. É uma nova aplicação da ideia arcaica que exige a repetição anual (ou periódica) da cosmogonia. É também a justificação do orgulho dos brâmanes, convencidos da importância decisiva dos ritos. Pois "o sol não nasceria se o sacerdote, na aurora, não oferecesse a oblação do fogo". (ELIADE, 1983, p. 57).
O sacrifício não apenas ganha um papel mais importante nas mãos dos sacerdotes, mas também para a população em geral, pois consiste numa forma de homenagear os deuses, mas uma forma de se conectar o seu âtman ("eu", "alma") com o brâman. Significa "nascer uma segunda vez" em cado ato sacrificial, algo visto no vedismo. No entanto, no bramanismo essa ideia de "renascimento" vai ganhar uma nova concepção com o conceito de reencarnação.
"Havendo percebido no braman o absoluto objetivo, e no atman o absoluto subjetivo, os pensadores hindus vão descobrir, ainda, uma verdade essencial: a identidade profunda do braman e do atman. O absoluto verdadeiro é o atman-braman". (CHALLAYE, 1981, p. 67).
No bramanismo se diz que os atos (karman) são a "força" que gera as mudanças no universo, os deuses, os homens, animais, vegetais e outras criaturas compartilham do karman, mas no caso dos homens esses atos serão determinantes para conduzir a um desenvolvimento espiritual. Os brâmanes principalmente nos Upanishades passam a reconhecer que não basta apenas realizar os sacrifícios para conseguir a salvação e se reconectar com o brâman, é necessário também meditar, refletir, estudar as escrituras e zelar pelos seus atos.
Se passa a adotar a lei de causa e efeito, logo, surge o princípio do karma, onde nossos atos irão repercutir nas nossas vidas futuras. A meta do ser humano é se livrar da samsara (roda das encarnações) e dessa forma alcançar o repouso eterno no Céu, através do moskha (libertação ou slavação). No entanto, enquanto o karma não for totalmente expiado, a alma humana continuará reencarnar várias e várias vezes no intuito que o âtman (alma) seja purificado. O karma pode ser bom ou ruim, quanto mais for ruim, maior é a necessidade de expiação através das reencarnações.
Os rishi (sábios) apontam que um dos motivos para o karma ruim advém da ignorância (avidyâ) o qual gera o karma negativo e prolonga a existência da samsara. Na prática, todos os humanos são pecadores e no dia a dia alguns de nossos mais simples atos podem repercutir em um karma negativo ou ruim. De fato, para o bramanismo não se consegue o moskha facilmente, isso consiste num longo caminho, por mais que se realizem caridade, privações, sacrifícios, oferendas, autoflagelação, etc., isso não lhe concede o moskha em uma vida, mas garante um karma bom. Todavia, os brâmanes lembram que isso deve ser feito de "coração" e com fé, e não deliberadamente por interesse, se não consiste numa mentira. O objetivo central daquele que pertence ao bramanismo é conciliar o âtman-brâman, ou seja, voltar a ser parte integrante do brâman, tanto física, quanto espiritualmente, mas principalmente espiritualmente.
Challaye [1981] assinala que na concepção do bramanismo a salvação (moskha) se daria através do conhecimento. Pois se o karma é gerado pela ignorância (avidyâ) o oposto da ignorância é o conhecimento e a sabedoria, logo, muitos brâmanes se dedicaram a esse caminho, e passaram a defender que não era apenas através dos sacrifícios que se alcançaria a redenção, mas era preciso estudar. Daí os Brâmanas e Upanishads se tornarem importantes. No entanto, também é válido ressalvar que por esse viés, também ligado a iniciação ao sacerdócio, os brâmanes procuraram concentrar a religião em suas mãos. Challaye diz que em oposição a isso surgiu o Jainismo e o Budismo, algo que será visto mais a frente.
No que diz respeito aos livros sagrados, o bramanismo adota todos os quatro conjunto de Vedas, mas os complementa com os Brâmanas e os Upanishads. Os Brâmanas consistem num conjunto de comentários sobre os Vedas, principalmente no que diz respeito a parte ritualística e litúrgica desses livros. Além de comentários, tais livros (cada Veda possui seus Brâmanas, logo, consiste num conjunto de textos) também assinalam interpretações e reinterpretações dos textos védicos.
Por sua vez os Upanishads são um conjunto de escritos que consistem em comentários dos Vedas, mas focam principalmente em debates filosóficos e religiosos sobre temas centrais contido nas escrituras védicas. Alguns hinduístas não consideram os Brâmanas e os Upanishads como textos revelados ou sagrados, mas tratados de estudo. De fato, tais conjuntos de livros marcam a base da doutrina bramânica.
No caso do upanayama, este era considerado um dos sacramentos mais importantes, pois além de ser a iniciação a vida religiosa também era visto como um "segundo nascimento". O menino nascia a primeira vez naturalmente, mas voltava a nascer agora uma "segunda vez". Nesse primeiro momento o neófito deveria seguir uma conduta ríspida, mendigar seu alimento diariamente, realizar os estudos védicos, manter a castidade, manter voto de pobreza e obediência, etc.
Uma das características centrais da religião védica o qual girava em torno dos rituais de oferenda e sacrifício era a noção de que tais ritos eram uma forma de simbolizar a "morte", a "vida" e o "renascimento". Realizava ritos na primavera pedindo por chuvas e um bom plantio, realizava-se ritos no amanhecer pedindo por um bom dia, no entanto, no entardecer agradecia-se pelo dia, e se pedia por um novo dia, etc. Os rituais que ocorriam uma vez ao ano, estavam associado a passagem do ano, algo parecido com o Ano Novo onde alguns agradecem pelo o que tiveram de bom no ano, e fazem promessas ou pedidos para novas realizações no ano que está por começar.
Realizavam-se ritos de passagem da vida para a pós-morte, de fato era prática cremar os corpos, algo mantido ainda por alguns hindus, daí o deus Agni também está associado aos ritos fúnebres. A alma iria para o Céu, viver ao lado de seus antepassados e dos deuses.
"O sacrifício mantém os deuses; o sacrifício criou os deuses. Assim, é o ato que criou o ser. [...]. O sacrifício, por intermédio dos deuses que ele mantém após havê-los criado, permite satisfazer os desejos humanos: sobrevivência, longevidade, riqueza, descendência masculina. A salvação para o homem, neste período, é a salvação pelo sacrifício". (CHALLAYE, 1981, p. 64).
Bramanismo:
1) Breve história
O bramanismo, brahmanismo ou religião bramânica consistiu numa adaptação da religião védica (alguns falam em evolução, mas usar esse termo para o estudo da religião é bastante complexo), por sua vez o bramanismo acabaria por influenciar bastante o hinduísmo. Tal religião surge em data incerta, mas se formar no seio do vedismo e se desenvolve quase que paralelamente a este. Todavia, além dos Vedas o bramanismo também possui outros dois conjuntos de textos sagrados, os Brâmanas os quais foram escritos entre os séculos IX a.C e VII a.C, e os Upanishads, os quais foram escritos talvez entre os séculos VI a.C e IV a.C. Alguns historiadores consideram que a elaboração destes livros consistam numa marca de ruptura final com a religião védica.
Por outro lado, a religião bramânica acabou por influenciar e ser incorporada pelo hinduísmo, e algumas de suas práticas foram também adotadas pelos jainismo e o budismo. O bramanismo é a primeira religião indiana cronologicamente falando, que propriamente apresenta as noções de reencarnação, samsara e karma, conceitos religiosos esses fundamentais na religiosidade indiana.
Por sua vez, alguns historiadores mencionam que o bramanismo seja sinônimo de hinduísmo, mas discordo de tal posicionamento, pois em alguns aspectos o bramanismo difere muito do hinduísmo, assim como o cristianismo e o islamismo possuem similaridades com o judaísmo, os dois não são sinônimos, são religiões diferentes, embora que cultuem o mesmo deus. O mesmo é válido para o bramanismo onde o foco está no culto ao Brâman ou bramã, já no hinduísmo também se mantém essa doutrina, mas o culto se dispersa entre as centenas de deuses. Na prática o bramanismo ainda existe hoje, mas tendo sido modificado dentro do hinduísmo.
2) Aspectos religiosos
O bramanismo foi a religião responsável por difundir entre os indianos a crença na reencarnação, no karma e na samsara. Por sua vez uma das bases dessa religião é o conceito de brâman (brahman).
O brâman representa o Princípio, Absoluto, o Eterno, a Verdade, o Infinito, nesse sentido, ele seria o Universo não em sua concepção física e astronômica, mas em sua concepção teológica. O brâman representa o Todo, o Plural, logo, se entende que a vida e a morte, a alegria e a tristeza, o prazer e a dor, o bem e o mal, etc., tudo se encontra no brâman, tudo faz parte do brâman, ele é o princípio e o fim de tudo que existe, existiu e existirá.
"No começo havia apenas o braman: foi ele que criou os deuses." - "Na verdade o imortal braman está em todos os lugares, à frente, atrás, à direita, à esquerda, no zênite, no nadir... Ele é Aquele em que são urdidos o céu, a terra, a atmosfera, o espírito também e todos os sentidos." - "Espuma, vagas, todos os aspectos, todas as aparências do mar não diferem do mar. Nenhuma diferença, outrossim, entre o universo e o braman." - "Na verdade, tudo é braman." (CHALLAYE, 1981, p. 67).
O brâman é o Um, o Único, mas também é o Universal, a Totalidade, o micro e o macro, o individual e o coletivo, o pessoal e o impessoal. Em algumas vertentes do bramanismo, o brâman é entendido como a essência do universo, e por sua vez foi associado a um Ser Primordial, um Ser Supremo, o Criador, o qual no hinduísmo foi chamado de Brahma. Mais a frente voltarei a falar de Brahma e assim se melhor entenderá essa ideia de unicidade e multiplicidade. No bramanismo e no vedismo esse Ser Supremo ora foi identificado com o gigante primordial Purusa o qual foi sacrificado pelos deuses (devas), os quais usaram seu corpo para criar o mundo. Essa história é contada no Purushameda. Ora foi identificado com o Prajâpati, que por sua vez refere-se a um só deus ou ao conjunto de deuses, mas o que eles têm em comum, é que são os criadores do universo.
Todavia, independente da concepção cosmogônica, a base do rito bramânico passa a se referir ao Prajâpati como o centro do culto bramânico, pois o Prajâpati não apenas representa o Universo, a Criação, mas também representa o Tempo (nesse caso representado pelo ano), e por sua vez passa a encarnar também as concepções do brâman. Nos Brâmanas se diz que Prajâpati criou o sacrifício como forma de se referir ao seu "sacrifício" para ter criado o universo, logo, o ato de realizar sacrifícios era uma forma de homenagear Prajâpati, assim como, o sacrifício também passa representar o próprio Prajâpati o qual utilizou o calor na criação, daí o fogo ser tão importante no rito bramânico quanto no védico.
"Essas tríplice identificação de Prajâpati com o Universo, o Tempo cíclico (o Ano) e o altar do fogo constitui a grande novidade da teoria bramânica do sacrifício. Ela marca o declínio da concepção que informava o ritual védico, e prepara as descobertas realizadas pelos autores dos Upanixades. A ideia fundamental é que, ao criar por "aquecimento"" e por "emissões" renovadas. Prajâpati se consome e acaba por esgotar-se. Os dois termos-chaves - tapas (ardor ascético) e visrj (emissão dispersada) - podem ter conotações sexuais indiretas ou subentendidas, pois a ascese e a sexualidade estão intimamente ligadas no pensamento religioso indiano". (ELIADE, 1983, p. 56-57).
Se no vedismo os sacrifícios eram feitos para os mais diversos deuses, no bramanismo tais sacrifícios individuais para cada deus perde importância, e os sacrifícios passam a serem feitos para o Prajâpati, isso não significa uma tendência monoteísta, pois os deuses ainda continuam a ser cultuados, mas deixam de ser o centro das atenções na liturgia bramânica. Os brâmanes passam a ser o centro da religião, pois sendo eles a classe sacerdotal mais alta, logo, o "conhecimento" está sob sua posse. Os brâmanes também passam a se tornar mais presentes nos ritos, diferente do que visto no vedismo.
"Através do sacrifício - isto é, pela atividade constante dos sacerdotes - o mundo manteve-se vivo, perfeitamente integrado e fértil. É uma nova aplicação da ideia arcaica que exige a repetição anual (ou periódica) da cosmogonia. É também a justificação do orgulho dos brâmanes, convencidos da importância decisiva dos ritos. Pois "o sol não nasceria se o sacerdote, na aurora, não oferecesse a oblação do fogo". (ELIADE, 1983, p. 57).
Um brâmane realizando um ritual do fogo. |
"Havendo percebido no braman o absoluto objetivo, e no atman o absoluto subjetivo, os pensadores hindus vão descobrir, ainda, uma verdade essencial: a identidade profunda do braman e do atman. O absoluto verdadeiro é o atman-braman". (CHALLAYE, 1981, p. 67).
No bramanismo se diz que os atos (karman) são a "força" que gera as mudanças no universo, os deuses, os homens, animais, vegetais e outras criaturas compartilham do karman, mas no caso dos homens esses atos serão determinantes para conduzir a um desenvolvimento espiritual. Os brâmanes principalmente nos Upanishades passam a reconhecer que não basta apenas realizar os sacrifícios para conseguir a salvação e se reconectar com o brâman, é necessário também meditar, refletir, estudar as escrituras e zelar pelos seus atos.
Se passa a adotar a lei de causa e efeito, logo, surge o princípio do karma, onde nossos atos irão repercutir nas nossas vidas futuras. A meta do ser humano é se livrar da samsara (roda das encarnações) e dessa forma alcançar o repouso eterno no Céu, através do moskha (libertação ou slavação). No entanto, enquanto o karma não for totalmente expiado, a alma humana continuará reencarnar várias e várias vezes no intuito que o âtman (alma) seja purificado. O karma pode ser bom ou ruim, quanto mais for ruim, maior é a necessidade de expiação através das reencarnações.
Pintura retratando a samsara. |
Challaye [1981] assinala que na concepção do bramanismo a salvação (moskha) se daria através do conhecimento. Pois se o karma é gerado pela ignorância (avidyâ) o oposto da ignorância é o conhecimento e a sabedoria, logo, muitos brâmanes se dedicaram a esse caminho, e passaram a defender que não era apenas através dos sacrifícios que se alcançaria a redenção, mas era preciso estudar. Daí os Brâmanas e Upanishads se tornarem importantes. No entanto, também é válido ressalvar que por esse viés, também ligado a iniciação ao sacerdócio, os brâmanes procuraram concentrar a religião em suas mãos. Challaye diz que em oposição a isso surgiu o Jainismo e o Budismo, algo que será visto mais a frente.
No que diz respeito aos livros sagrados, o bramanismo adota todos os quatro conjunto de Vedas, mas os complementa com os Brâmanas e os Upanishads. Os Brâmanas consistem num conjunto de comentários sobre os Vedas, principalmente no que diz respeito a parte ritualística e litúrgica desses livros. Além de comentários, tais livros (cada Veda possui seus Brâmanas, logo, consiste num conjunto de textos) também assinalam interpretações e reinterpretações dos textos védicos.
Por sua vez os Upanishads são um conjunto de escritos que consistem em comentários dos Vedas, mas focam principalmente em debates filosóficos e religiosos sobre temas centrais contido nas escrituras védicas. Alguns hinduístas não consideram os Brâmanas e os Upanishads como textos revelados ou sagrados, mas tratados de estudo. De fato, tais conjuntos de livros marcam a base da doutrina bramânica.
Hinduísmo:
1) Breve história
Classificar o hinduísmo como uma religião é visto por alguns historiadores e outros estudiosos como um problema, pois o hinduísmo possui uma grande diversidade de crenças, ritos e sincretismos. Alguns argumentam que ele na verdade de seria uma tradição religiosa indiana que englobou ao longo da História distintas crenças, ritos e ideologias até formar esse grande complexo religioso que hoje chamamos de hinduísmo. De fato, o hinduísmo conserva tradições do vedismo, bramanismo, jainismo, e outras crenças.
Classificar o hinduísmo como uma religião é visto por alguns historiadores e outros estudiosos como um problema, pois o hinduísmo possui uma grande diversidade de crenças, ritos e sincretismos. Alguns argumentam que ele na verdade de seria uma tradição religiosa indiana que englobou ao longo da História distintas crenças, ritos e ideologias até formar esse grande complexo religioso que hoje chamamos de hinduísmo. De fato, o hinduísmo conserva tradições do vedismo, bramanismo, jainismo, e outras crenças.
A
palavra hindu é de origem persa, e era utilizada para se
referir ao rio Indo, chamado em
sânscrito de Sindhu. Apenas séculos
depois que se tornou comum o emprego da palavra hindu para se referir aos
indianos, e a palavra hinduísta para se referir ao seguidor do hinduísmo.
O
hinduísmo ele não possui um fundador, não possui uma origem delimitada
cronologicamente com certeza, não possui um clero estruturado e organizado, não
possui um credo geral, não possui um único livro sagrado. Logo, a partir dessas
características nota-se do porque definir o hinduísmo como uma religião fechada
é problemático, embora alguns defendam tal posicionamento.
Atualmente o Hinduísmo é a terceira maior religião do mundo, sendo que mais de 900 milhões de indianos sejam hindus. Embora a Índia concentre o maior número de seguidores, existem hindus no Nepal, Sri Lanka, Paquistão, Malásia e em outros países. No passado a Indonésia, Vietnã, Laos, Mianmar e Tailândia concentravam muitos hindus, mas no caso da Indonésia o islão acabou prevalecendo e nos demais países mencionados, o budismo conquistou hegemonia.
2) Aspectos religiosos
Devido a versatilidade de crenças e ritos é difícil apresentar um relato que possa abranger de forma satisfatória algo que deveria ser feito em um livro, e não em uma postagem. Todavia, mesmo diante dessa premissa, optei em apresentar alguns aspectos gerais do hinduísmo, que pelo menos esboçam o que se poderia dizer ser sua essência, no entanto, como parte dessa essência já foi mencionada anteriormente no vedismo e no bramanismo, logo, não voltarei a dá muita atenção a tais conceitos, mas vou me focar em outras características próprias dessa religião.
O hinduísmo é a religião com o maior número de deuses, embora que na prática 33 deuses sejam os mais importantes, reconhecem-se milhares de divindades e alguns falam em milhões de divindades. Para o hindu embora o brâman seja representado pelo deus Brahma, o Criador, o brâman se manifesta de várias formas nos outros deuses, daí haver esses vasto politeísmo, mas não significa que todos os deuses recebam culto.
Na religião hindu existem duas trindades importantes que representam os principais deuses e deusas. A trindade masculina chamada de Trimurti, formada por Brahma, Vishnu e Shiva, que respectivamente representam o Criador, o Preservador e o Destruidor.
Na prática a Trimurti tem um papel mais filosófico e de estudo do que ritualístico e litúrgico, pois embora Brahma seja o Criador, ele é um dos deuses que menos recebe culto. Para os hindus Brahma criou o Universo, mas sua existência e personalidade está para além da compreensão humana, logo, o deus vive em Brahmaputra (o mais alto dos Céus).
Por sua vez, Vishnu e Shiva estão mais próximos da humanidade, onde Vishnu é o deus incumbido de proteger e manter a ordem no Universo, é o deus que zela pela bem-estar da humanidade, e esse zelo é demonstrado em seus Avatares. A tradição hindu narra que quando o mundo testemunhou grandes crises, Vishnu encarnou na Terra através de um dos seus Nove Avatares, incumbido de restabelecer o equilíbrio e a paz. A tradição diz que um Décimo Avatar ainda está por vir, e ele surgirá quando o mundo beirar um novo colapso.
Os Avatares de Vishnu são:
Os hindus também reconhecem que exista a samsara (roda das reencarnações), que o karma condiz com os atos bons ou ruins em cada vida, o que faz prolongar a existência na samsara.
Eles reconhecem a existência de "mundos celestes" ou "planos celestiais". Tal número varia de acordo com alguns dos livros sagrados, todavia, se diz que o mundo mais elevado é o Brahmaputra (também chamado de Brahmaloka ou Satyaloka), local onde residiria Brahma, o Criador. Por outro lado, também se reconhece a existência do Inferno, o qual é dividido em planos infernais, além de também haver alguns "mundos subterrâneos" e "mundos aquáticos", habitados por outras criaturas. Para o hindu dependendo de seu karma ele pode reencarnar em alguns destes "mundos", e se ele conseguir alcançar a libertação (moskha) ele irá para os "mundos celestes", mas pelo contrário, se seus crimes e pecados forem muito grandes, sua alma é enviada aos Infernos.
Os hindus reconhecem locais naturais como sendo sagrados, pois seriam relacionados aos deuses, por exemplo, o rio Ganges foi criado pela deusa Ganga no Céu, e com a ajuda de Shiva, o rio pôde descer a Terra sem destruí-la, pois suas águas eram muito poderosas. Algumas montanhas são consideradas como a morada espiritual dos deuses, lembrando que eles vivem nos "mundos celestes", embora desçam a terra para viver nesses locais. Se reconhecem algumas árvores como sendo também sagradas. O Monte Kailash no Tibete, China, é considerado a morada espiritual de Shiva.
Além destes locais sagrados, os hindus também mantém uma prática animista na qual reconhecem a sacralidade em alguns animais como os elefantes, cobras, macacos, ratos, crocodilos, pavões, águias, tigres, mas principalmente a vaca é mais conhecida por essa sacralidade.
A vaca simboliza a fertilidade mas também a vida, logo, os hindus não a matam, e também não consomem a sua carne, e isso também é válido para os bois, pois embora o boi não possua a mesma pureza que a vaca, ainda assim, ele é respeitado e poupado. As vacas e bois caminham livremente nas ruas da Índia, e em geral quando passam diante de uma casa, loja, prédio, etc., as pessoas oferecessem comida e/ou água. Em alguns casos, os animais adentram lojas, lanchonetes, shoppings, estabelecimentos públicos, quintais de casa, templos, isso não é visto como algo grave, mas pelo contrário, é considerado uma benção, pois aquele animal sagrado reconhece aquele local, um bom lugar para descansar. Maltratar uma vaca é considerado uma ofensa pública e um crime.
Embora os hindus não consumam a carne bovina, o leite e seus derivados como o queijo, manteiga e o iogurte são consumidos e são bastante usados em rituais, principalmente em rituais de purificação. Até a urina e as fezes também são utilizados nesses ritos. Alguns hindus acreditam que se tocarem uma vaca, eles estarão purificados para aquele dia. Existe também alguns festejos nos quais as vacas recebem culto e são enfeitadas com roupas e joias.
No entanto, é importante mencionar que embora grande parte da população indiana seja hindu, logo, reverencia as vacas, a parte da população que pertence a outras religiões não fazem isso. Em locais onde a maioria da população é muçulmana (a segunda religião mais populosa da Índia), a vaca não é reverenciada, e sua carne é consumida normalmente.
Outra característica geral importante do hinduísmo é o seus sistema de castas (varna). O sistema de castas hindu é um das primeiras formas de descriminação racial pela cor da pele, pois a palavra varna significa cor, logo, as castas mais altas originalmente eram referidas as pessoas brancas, e as mais baixas as pessoas negras, contudo, após a miscigenação, isso mudou, no entanto, as castas ainda se mantém não por causa da cor da pele, mas pela genealogia, onde famílias inteiras seguem a profissão de seus antepassados, não por vontade, mas em geral por obrigação, pois o sistema de castas hindu também corresponde a uma divisão social do trabalho. Pessoas de uma determinada castas não podem exercer ofícios que sejam próprios de uma outra casta, isso é visto como algo humilhante, anormal, vergonhoso e impuro.
Originalmente só haviam quatro castas:
A devoção dos hindus é bastante grande, não falo sobre aqueles que entraram para o sacerdócio ou seguem uma vida de ascetismo, mas em geral o povo hindu é religioso. Diariamente se realizam orações ou ritos em casa, na rua ou nos templos. Praticamente toda casa hindu possui um local reservado para um altar ou oratório, onde se encontram estátuas de deuses e outros objetos religiosos. As famílias em determinadas ocasiões se reúnem para rezarem juntas ou participarem de algum rito, no entanto, cada um costuma uma vez ou mais por dia a passar no altar ou ir até as estátuas fazer as suas preces.
Atualmente o Hinduísmo é a terceira maior religião do mundo, sendo que mais de 900 milhões de indianos sejam hindus. Embora a Índia concentre o maior número de seguidores, existem hindus no Nepal, Sri Lanka, Paquistão, Malásia e em outros países. No passado a Indonésia, Vietnã, Laos, Mianmar e Tailândia concentravam muitos hindus, mas no caso da Indonésia o islão acabou prevalecendo e nos demais países mencionados, o budismo conquistou hegemonia.
2) Aspectos religiosos
Devido a versatilidade de crenças e ritos é difícil apresentar um relato que possa abranger de forma satisfatória algo que deveria ser feito em um livro, e não em uma postagem. Todavia, mesmo diante dessa premissa, optei em apresentar alguns aspectos gerais do hinduísmo, que pelo menos esboçam o que se poderia dizer ser sua essência, no entanto, como parte dessa essência já foi mencionada anteriormente no vedismo e no bramanismo, logo, não voltarei a dá muita atenção a tais conceitos, mas vou me focar em outras características próprias dessa religião.
O hinduísmo é a religião com o maior número de deuses, embora que na prática 33 deuses sejam os mais importantes, reconhecem-se milhares de divindades e alguns falam em milhões de divindades. Para o hindu embora o brâman seja representado pelo deus Brahma, o Criador, o brâman se manifesta de várias formas nos outros deuses, daí haver esses vasto politeísmo, mas não significa que todos os deuses recebam culto.
“A multiplicidade do hinduísmo também se manifesta em seu conceito
de Deus. Em sua forma mais filosófica, o conceito hindu de divindade é panteísta. A divindade
não é um ser pessoal, mas uma força, uma energia que permeia tudo: os objetos inanimados,
as plantas, os animais e os homens. No extremo menos filosófico do espectro há
um conceito politeísta, que acredita num grande número de deuses. Quase todas as
aldeias têm a sua própria divindade local. A multiplicidade do hinduísmo também
se manifesta em seu conceito de Deus. Em sua forma mais filosófica, o conceito
hindu de divindade é panteísta. A divindade não é um ser pessoal, mas uma força, uma energia que
permeia tudo: os objetos inanimados, as plantas, os animais e os homens. No
extremo menos filosófico do espectro há um conceito politeísta, que
acredita num grande número de deuses. Quase todas as aldeias têm a sua própria
divindade local”. (GAARDER, 2000, p. 50).
Na religião hindu existem duas trindades importantes que representam os principais deuses e deusas. A trindade masculina chamada de Trimurti, formada por Brahma, Vishnu e Shiva, que respectivamente representam o Criador, o Preservador e o Destruidor.
Desenho representando os deuses da Trimurti: Brahma, Vishnu e Shiva. |
Por sua vez, Vishnu e Shiva estão mais próximos da humanidade, onde Vishnu é o deus incumbido de proteger e manter a ordem no Universo, é o deus que zela pela bem-estar da humanidade, e esse zelo é demonstrado em seus Avatares. A tradição hindu narra que quando o mundo testemunhou grandes crises, Vishnu encarnou na Terra através de um dos seus Nove Avatares, incumbido de restabelecer o equilíbrio e a paz. A tradição diz que um Décimo Avatar ainda está por vir, e ele surgirá quando o mundo beirar um novo colapso.
Os Avatares de Vishnu são:
- Matsya ou Peixe: O deus encarnou como um peixe durante a época do Dilúvio para salvar Manu (o Adão para o hinduísmo);
- Kurma ou Tartaruga: Na forma de uma tartaruga, Vishnu mergulhou as profundezas dos oceanos para resgatar relíquias sagradas vitais para manter a ordem do Cosmos.
- Varaha ou Javali: O poderoso demônio Hiranyâshka causou um novo dilúvio, para evitar que a vida fosse destruída novamente, Vishnu encarna na forma de um javali (pode ser apresentado como a forma de animal, ou de um homem com cabeça de javali e quatro braços) e assim matou Hiranyâshka e salvou o mundo novamente.
- Narasimha ou Homem-leão: Encarnando na forma de um homem com cabeça de leão, Vishnu decidiu por fim ao demônio Hiranyakshipu. O demônio era um rei poderoso, mas um grande pecador, causando muitos males ao seu reino e os reinos vizinhos, além disso, ele era um herege, e quando descobriu que seu primogênito Prahlâda, era um devoto seguidor de Vishnu aquilo o irritou bastante, a ponto do rei planejar a morte do filho. Vishnu sabendo desse vil ato, transformou-se num homem-leão e assim assassinou Hiranyakshipu em seu palácio.
- Vamana ou Anão: Durante uma guerra entre Indra e o asura Bali, o asura saiu vitorioso, logo, Indra horrorizado em ter perdido o seu império (lembre-se que no vedismo ele era o rei dos deuses) foi pedir ajuda de Vishnu, o qual nasceu como um anão brâmane. Vamana sabendo que Bali era um asura devoto decidiu usar a fé contra ele. Ao chegar ao poderoso demônio, Vamana lhe solicitou algumas terras onde pudesse morar, o demônio em respeito a ele ser um brâmane consentiu e disse que ele teria todas as terras que conseguisse percorrer com apenas três passos. Com dois saltos Vamana percorreu toda a extensão do império usurpado por Bali, no terceiro passo ele pulou sobre a cabeça do demônio e o jogou as profundezas dos Infernos, então restituiu o império de Indra.
- Parashurama: Conta-se que numa época remota a casta dos guerreiros (xátrias) quase chegou a exterminar a casta dos sacerdotes (brâmanes), sendo a casta sacerdotal a mais alta e nobre de todas, ela não poderia ser exterminada, então Vishnu surge como Parashurama, um brâmane guerreiro que empunhando um poderoso machado, realizou uma grande guerra na qual destruiu vinte uma vezes a casta dos guerreiros.
- Rama ou Ramachandra: O Sétimo Avatar e um dos mais famosos, encarnou pouco tempo depois de Parashurama no intuito de restabelecer a ordem sobre o mundo. Rama surge como herdeiro do rei Dasharatha, sendo o mais virtuoso e nobre de seus filhos, destinado a se tornar um rei complacente e benévolo.
- Krishna: Krishna embora seja um dos Avatares de Vishnu em alguns lugares ele é adorado como um deus (de fato existe um deus chamado Krishna no vedismo, e acredita que se trate do mesmo ser, mas sob novas interpretações). A história de Krishna é principalmente narrada no Bhagavad-Gita, no Bhagavata Purana e no Mahabharata. Esses poemas religiosos falam do nascimento sagrado de Krishna e como ele se tornou um poderoso guerreiro, um mulherengo, mas um homem sábio, honesto e honroso. Krishna combate demônios e reis tiranos.
- Buda: Muitos hindus acreditam que se trata de Siddharta Gautama o qual no século VI a.C, se tornou o Buda (o Iluminado). Algumas outras vertentes dizem que houve mais de um Buda, e Gautama não teria sido o Nono Avatar. Em caso de Gautama tenha sido de fato o Nono Avatar, ele veio ao mundo com a missão de reinserir a humanidade de volta ao caminho da religião e do amor.
- Kalki: Considerado por alguns como o último Avatar de Vishnu, ainda não veio ao mundo. Ele é descrito como um guerreiro que surgirá montando num cavalo branco, empunhando uma espada de fogo. Sua missão será matar todos os demônios e expurgar o Mal da Terra, e assim iniciar uma "nova era" de paz a Satyayuga.
Pintura retratando Vishnu cercado por seus dez Avatares. |
O culto a Vishnu originou a tradição do Vishnuísmo, na qual os seus adeptos cultuam apenas Vishnu e seus Avatares (especialmente Rama e Krishna). O vishnuísmo não se trata numa religião monoteísta, mas numa monolatria (culto específico a um deus de um panteão), ou seja, os vishnuítas embora cultuem Vishnu não renegam a existência dos demais deuses, e em alguns casos também prestam suas orações a outras divindades, mas para eles Vishnu é o principal deus, daí alguns vishnuístas se referirem a ele como Deva (Deus).
O terceiro membro da Trimurti trata-se de Shiva como mencionado, e assim como Vishnu, Shiva também recebe uma monolatria, o Shivaismo ou Xivaísmo. Nessa tradição, Shiva se torna o mais importante dos deuses hindus, sendo a encarnação final da Trimurti, de fato, alguns consideram o deus como sendo a essência da Trimurti, representando em si os aspectos dos outros deuses, pois o fator de destruição de Shiva só se dará no fim dos tempos, quando ele destruir o Universo, então Brahma criará um novo universo. Enquanto essa destruição não ocorre, Shiva é um deus que zela pelo equilíbrio, embora ele seja associado a destruição, ele não é um deus maléfico.
Se diz que o Ioga ou Yoga foi criado por ele como forma de disciplinar o corpo, a mente, o caráter e o espírito. Normalmente no Ocidente as pessoas procuram alguma das escolas de ioga para aprender disciplinar o corpo e a mente através dos exercícios físicos e respiratórios, e a meditação, no entanto, no Oriente, muitos procuram o ioga pelo seu lado espiritual e filosófico.
Além da Trimurti (trindade masculina) existe a Trivedi (trindade feminina) representada pelas esposas dos deuses da Trimurti, Sarasvati (esposa de Brahma), Lakhsimi (esposa de Vishnu) e Parvati (esposa de Shiva). Assim como a Trimurti, a Trivedi tem um caráter mais filosófico do que litúrgico propriamente. Além disso, ambas as trindades não devem ser confundidas com a Trindade do Cristianismo, pois representam aspectos diferentes.
A Tridevi representada por Lakshimi, Parvati e Sarasvati. |
Se a Trimurti é considerada por alguns como a emanação de três características do Brâman (Criação, Preservação e Destruição) representadas na forma de três deuses, que na prática seriam o mesmo, a Trivedi é considerada como a emanação de características da Mãe Divina (Shakti) ou Grande Deusa. No vedismo e hinduísmo existem poucas deusas, no entanto, os historiadores das religiões e mitólogos acreditam que as deusas existentes seriam manifestações de uma Deusa Mãe primordial, daí algumas deusas estarem associadas entre si
Sarasvati é a deusa das artes e dos saberes, representa o conhecimento, o pensamento, a sabedoria. Ela está associada aos artistas, artesãos, professores, estudantes, cientistas, etc. Lakhsimi é a deusa da prosperidade, das bonanças, da fertilidade, é a deusa que representa a riqueza, o bem-estar, a glória, esplendor, a grandeza, a alegria, etc.
Normalmente as pessoas oram a deusa pedindo por boa sorte, fartura, felicidade, saúde, proteção, fertilidade, etc. Parvati é a deusa do poder e do amor, representa a força, mas também a doçura, a paz, a amabilidade, algo que também se nota em sua manifestação como Uma (deusa da luz, da calma). No entanto, Parvati também se manifesta de outras formas mais sombrias como Kali (a deusa da morte) e Durga (a caçadora de demônios). No panteão feminino, as deusas Lakshimi, Parvati, Kali e Durga são as mais cultuadas, embora existam várias outras.
Normalmente as pessoas oram a deusa pedindo por boa sorte, fartura, felicidade, saúde, proteção, fertilidade, etc. Parvati é a deusa do poder e do amor, representa a força, mas também a doçura, a paz, a amabilidade, algo que também se nota em sua manifestação como Uma (deusa da luz, da calma). No entanto, Parvati também se manifesta de outras formas mais sombrias como Kali (a deusa da morte) e Durga (a caçadora de demônios). No panteão feminino, as deusas Lakshimi, Parvati, Kali e Durga são as mais cultuadas, embora existam várias outras.
Além desses deuses e deusas outras divindades importantes no hinduísmo são: Indra, Surya (deus-sol), Kama (deus do amor, da sensualidade e da sexualidade), Ganesha (o deus que transpõe obstáculos), Yama (deus da morte), Hanuman, Bhaga, Varuna, Agni, Kartiqueia (deus da guerra), Ganga (deusa do rio Ganges), Sati (deusa do casamento).
Estátua de Ganesha sendo carregada durante uma procissão. Ganesha é um dos deuses mais cultuados pelos hindus. |
“A maioria das aldeias tem seu templo dedicado a Vishnu ou a Shiva.
Esses deuses se concentram nas questões maiores, universais, e em geral são
homenageados nos grandes festivais. Num nível mais terra-a-terra, as pessoas
costumam visitar os pequenos templos dedicados a divindades menos importantes.
Embora não sejam tão poderosas como Vishnu ou Shiva, é mais fácil se aproximar
delas para assuntos de menor importância, tais como problemas pessoais. Os
deuses menores por vezes exercem influência em áreas especiais, por exemplo, em
certos tipos de doença”. (GAARDER, 2000, p. 52-53).
Os hindus também reconhecem que exista a samsara (roda das reencarnações), que o karma condiz com os atos bons ou ruins em cada vida, o que faz prolongar a existência na samsara.
“O hinduísmo não reconhece nenhum "destino cego"
nem divina providência. A responsabilidade pela vida do hinduísta no dia de hoje
— e por sua próxima encarnação — será sempre dele. O homem colhe aquilo que
semeou. Os resultados das ações — ou frutos de uma vida — derivam dessas ações
automaticamente. Poderíamos dizer que a transmigração está sujeita à lei da
causa e efeito”. (GAARDER, 2000, p. 46).
“O hinduísmo não possui uma doutrina clara e não ambígua sobre
a salvação que explique de que modo o homem pode escapar do interminável e
cansativo ciclo das reencarnações. Dentro do hinduísmo há uma grande quantidade
de movimentos e seitas com visões divergentes. Apesar disso, é possível
distinguir três caminhos diferentes para a graça, que exerceram papel relevante
na história da Índia — e continuam prevalecendo no hinduísmo moderno. São as
Vias do sacrifício, do conhecimento e da devoção. É importante não pensar que
essas vias sejam movimentos religiosos organizados. Trata-se, na verdade, de
três tendências principais dentro do hinduísmo. O caminho escolhido pode
depender do indivíduo. Mas um hinduísta também pode se inspirar nessas três vias”.
(GAARDER, 2000, p. 47).
Eles reconhecem a existência de "mundos celestes" ou "planos celestiais". Tal número varia de acordo com alguns dos livros sagrados, todavia, se diz que o mundo mais elevado é o Brahmaputra (também chamado de Brahmaloka ou Satyaloka), local onde residiria Brahma, o Criador. Por outro lado, também se reconhece a existência do Inferno, o qual é dividido em planos infernais, além de também haver alguns "mundos subterrâneos" e "mundos aquáticos", habitados por outras criaturas. Para o hindu dependendo de seu karma ele pode reencarnar em alguns destes "mundos", e se ele conseguir alcançar a libertação (moskha) ele irá para os "mundos celestes", mas pelo contrário, se seus crimes e pecados forem muito grandes, sua alma é enviada aos Infernos.
Os hindus reconhecem locais naturais como sendo sagrados, pois seriam relacionados aos deuses, por exemplo, o rio Ganges foi criado pela deusa Ganga no Céu, e com a ajuda de Shiva, o rio pôde descer a Terra sem destruí-la, pois suas águas eram muito poderosas. Algumas montanhas são consideradas como a morada espiritual dos deuses, lembrando que eles vivem nos "mundos celestes", embora desçam a terra para viver nesses locais. Se reconhecem algumas árvores como sendo também sagradas. O Monte Kailash no Tibete, China, é considerado a morada espiritual de Shiva.
Além destes locais sagrados, os hindus também mantém uma prática animista na qual reconhecem a sacralidade em alguns animais como os elefantes, cobras, macacos, ratos, crocodilos, pavões, águias, tigres, mas principalmente a vaca é mais conhecida por essa sacralidade.
“A vaca é um animal sagrado na Índia e é adorada durante certas
festas religiosas. Isso provavelmente se relaciona com um antigo culto de
fertilidade; nos Vedas há hinos à vaca, pois ela supre tudo o que é
necessário para sustentar a vida. A vaca se tornou um símbolo da vida, e não é
permitido matá-la. Muitos ocidentais têm uma visão bastante negativa desse
fato. Segundo eles, as vacas deveriam ser mortas para fornecer alimento à
legião de famintos da Índia. Entretanto, considerando o lugar que a vaca ocupa
na agricultura indiana, vemos também aspectos positivos: 70% da população vive do
cultivo da terra, e há uma grande falta de animais de tração num país em que o
trator é pouco difundido. Além disso, o excremento das vacas é útil não só como
fertilizante mas também como combustível”. (GAARDER, 2000, p. 45).
A vaca simboliza a fertilidade mas também a vida, logo, os hindus não a matam, e também não consomem a sua carne, e isso também é válido para os bois, pois embora o boi não possua a mesma pureza que a vaca, ainda assim, ele é respeitado e poupado. As vacas e bois caminham livremente nas ruas da Índia, e em geral quando passam diante de uma casa, loja, prédio, etc., as pessoas oferecessem comida e/ou água. Em alguns casos, os animais adentram lojas, lanchonetes, shoppings, estabelecimentos públicos, quintais de casa, templos, isso não é visto como algo grave, mas pelo contrário, é considerado uma benção, pois aquele animal sagrado reconhece aquele local, um bom lugar para descansar. Maltratar uma vaca é considerado uma ofensa pública e um crime.
Hindus oferecendo comida e água a uma das vacas, enquanto fazem uma oração. |
No entanto, é importante mencionar que embora grande parte da população indiana seja hindu, logo, reverencia as vacas, a parte da população que pertence a outras religiões não fazem isso. Em locais onde a maioria da população é muçulmana (a segunda religião mais populosa da Índia), a vaca não é reverenciada, e sua carne é consumida normalmente.
Outra característica geral importante do hinduísmo é o seus sistema de castas (varna). O sistema de castas hindu é um das primeiras formas de descriminação racial pela cor da pele, pois a palavra varna significa cor, logo, as castas mais altas originalmente eram referidas as pessoas brancas, e as mais baixas as pessoas negras, contudo, após a miscigenação, isso mudou, no entanto, as castas ainda se mantém não por causa da cor da pele, mas pela genealogia, onde famílias inteiras seguem a profissão de seus antepassados, não por vontade, mas em geral por obrigação, pois o sistema de castas hindu também corresponde a uma divisão social do trabalho. Pessoas de uma determinada castas não podem exercer ofícios que sejam próprios de uma outra casta, isso é visto como algo humilhante, anormal, vergonhoso e impuro.
Originalmente só haviam quatro castas:
- Brâmanes: sacerdotes
- Xátrias: guerreiros, nobres e governantes
- Vaixás: comerciantes
- Sudras: servos, camponeses, artesãos, operários, etc.
Com o desenvolvimento da sociedade, tais castas passaram a empregar outros ofícios e atividades: por exemplo, os brâmanes não apenas representam os sacerdotes, mas também incluem os filósofos e alguns professores voltados para o ensino religioso, pois por muito tempo os brâmanes foram os responsáveis pela instrução da sociedade. Na casta dos xátrias se inserem os militares, os resquícios da nobreza, mas agora se encontra os políticos e as pessoas que detêm algum cargo de chefia importante, relacionado ao Estado.
Na casta dos vaixás originalmente se incluíam os mais distintos tipos de comerciantes, mas hoje também se incluem os funcionários públicos, profissionais liberais, e outros tipos de profissões que exijam um grau maior de instrução. Por sua vez as profissões que exigem um grau de instrução baixa entram na casta dos sudras. De certa maneira o sistema de castas preza pelo trabalho "intelectual", pois os trabalhos "manuais" são vistos como inferiores. Embora a profissão de guerreiro seja um trabalho manual, a guerra é vista como algo sagrado e importante, logo, se diferencia nesse quesito. Não obstante, por mais que a agricultura seja uma profissão importante para a sociedade, mas por ser um trabalho manual, ela é vista como inferior.
Atualmente se reconhecem mais de 3 mil castas as quais a maioria consistem em subdivisões inseridas nestas quatro castas bases. Quanto a origem desse sistema não se sabe quando ele surgiu, mas acredita que tenha sido absorvido do vedismo o qual já apresentava também um sistema de castas. Segundo a religião hindu, Brahma foi quem criou o sistema de castas. Os brâmanes dizem que eles "nasceram" da boca do deus, os xátrias dos braços, os vaixás das pernas e o sudras dos pés.
As pessoas que não pertencem as castas, são marginalizadas, normalmente elas exercem ofícios ou atividades considerados "indignos" e "impuros", como varrer as ruas, catar o lixo, pedir esmolas, ser coveiro, açougueiro, curtidor, escavador, prostituta, ator de rua, trabalhador sem terra, trabalhador sem trabalho fixo, minerador, carregador, etc. Alguns criminosos dependendo de seus crimes podem ser banidos de sua casta e se unem a esse grupo marginalizado.
Os párias como são chamados os sem casta são os remanescentes da escravidão e do extremo empobrecimento de algumas populações que acabaram por serem marginalizadas. No século final do século XIX, o ativista Jyotirao Phule passou na usar o termo dalit para se referir a essa população pobre e marginalizada. Os dalit ainda hoje são chamados de "os intocáveis", pois se acredita que tocar num dalit a pessoa acaba se contaminando com sua "imundice", então é necessário se realizar um ritual de purificação.
“Cada casta tem suas próprias regras de conduta e de prática
religiosa, que determinam com quem a pessoa pode se casa, o que ela pode comer,
com quem pode se associar e que tipo de trabalho pode realizar. A base
religiosa desse sistema é a noção de pureza
e impureza.
O contraste entre o que é "limpo"
e o que é "impuro" permeia todo o hinduísmo. Para um brâmane, tudo o
que tenha a ver com as coisas corporais ou materiais é impuro. Se ele se tornou
impuro como resultado do nascimento, da morte ou do sexo — ou por meio do
contato com um indivíduo "sem casta", ou membro de uma casta inferior
—, há diversas maneiras pelas quais ele pode se purificar. O método tradicional
mais conhecido de purificação utiliza a água de um dos muitos rios sagrados da
Índia, como o Ganges”. (GAARDER, 2000, p. 44).
A devoção dos hindus é bastante grande, não falo sobre aqueles que entraram para o sacerdócio ou seguem uma vida de ascetismo, mas em geral o povo hindu é religioso. Diariamente se realizam orações ou ritos em casa, na rua ou nos templos. Praticamente toda casa hindu possui um local reservado para um altar ou oratório, onde se encontram estátuas de deuses e outros objetos religiosos. As famílias em determinadas ocasiões se reúnem para rezarem juntas ou participarem de algum rito, no entanto, cada um costuma uma vez ou mais por dia a passar no altar ou ir até as estátuas fazer as suas preces.
Uma família hindu reunida em casa para um rito a Shiva. |
“O culto pode variar de casa para casa, mas com frequência compreende
o sacrifício, a oração, a recitação de textos sagrados e a meditação. Antes de
iniciá-lo, é importante estar ritualmente limpo. Quase sempre, um banho
purificador é o primeiro passo. Prepara-se então o sacrifício, de acordo com
certas regras. Pode-se pôr no altar arroz, frutas ou flores. Feito isso, o adorador
se inclina até o chão, com as mãos unidas, diante das imagens divinas. É comum
repetir o nome do deus e recitar textos sagrados; porém, também é habitual a oração
espontânea, pessoal. Se foram postos frutos diante das imagens, estes serão
comidos pela família ou oferecidos às visitas que chegarem”. (GAARDER, 2000, p.
52).
Por mais que na Índia existam milhares de templos, em geral as pessoas oram em casa, mas as que vivem próximas aos templos costumam ir diariamente neles ou nos fim de semana. Nos templos as pessoas deixam suas oferendas (em geral flores e comidas, mas sem carne, pois a maioria dos hindus são vegetarianos), participam da limpeza dos templos, dos cantos e danças quando há, ouvem palestras ou recitações dos livros sagrados, alimentam os deuses oferendo comida a suas estátuas. Os hindus reconhecem que as estátuas não sejam os deuses, mas consistem numa manifestação de sua imagem.
Os templos são mantidos pelos brâmanes os quais em geral vivem de doações, pois muitos brâmanes pedem esmolas ou comida (no caso deles isso não é mal visto, pois consiste numa prática religiosa, não apenas praticar a caridade, mas também viver da caridade). Alguns templos são administrados pelo Estado ou pela comunidade local. Os hindus não tem costume de fazer doações em dinheiro como visto no cristianismo e no islamismo, normalmente se doa comida, roupas e utensílios para os sacerdotes que ali trabalham ou moram.
Na religiosidade hinduísta, os hindus procuram por em prática os ensinamentos do Dharma (Lei Divina), conceito esse também existente no vedismo, bramanismo, jainismo, budismo e silkhismo, embora em cada uma dessas religiões haja concepções diferentes para o dharma. Na prática o dharma consiste numa doutrina moral, filosófica e religiosa que dita normas, condutas e posturas a serem seguidos pela população no intuito de viverem de forma pacífica, justa, saudável, honesta, íntegra e complacente. Para alguns quanto mais se segue o dharma, menos karma ruim se produz. Em si se deve ter devoção (bakhti).
“Embora a vida religiosa na Índia seja variada e
multifacetada, a maioria dos indianos poderia concordar quanto a um darma comum,
ou seja, uma lei ou ética comum. Isso não implica uma igualdade entre as
pessoas. Darma significa que todas as pessoas têm responsabilidades para com
sua família, sua casta e a comunidade como um todo — e que essas responsabilidades,
desde o nascimento, variam de um indiano para outro. Tanto no contexto
religioso como no social, a homogeneidade que o hinduísmo apresenta está na divisão
do trabalho. Assim como o pássaro e o peixe obedecem a leis diferentes, o
membro de uma casta segue regras diferentes das que regem outra casta. Dessa forma,
o que é bom para um não é necessariamente bom para o outro. A boa moral
consiste em adotar os preceitos e deveres de sua própria casta”. (GAARDER,
2000, p. 53).
No que se refere aos livros sagrados do hinduísmo, os hindus adotam os Vedas e os Upanishads, os Brâmanas em geral ficam mais restritos aos brâmanes ou alguns estudiosos, os outros livros que se acrescentam nesta lista são: os Puranas um conjunto de dezenas de livros que abordam assuntos religiosos, históricos, filosóficos e mitológicos. Os Puranas fazem parte da literatura smriti ("para ser lembrado"), embora trate de religião, não são considerados livros sagrados como os Vedas. No entanto, os Tantras fazem parte da literatura shruti ("revelados"), os quais consistem numa coletânea de escritos religiosos que são considerados como inspirados pelo deus Shiva.
Ainda sobre a literatura smriti existem dois importantes livros, o Ramayana e o Mahabharata. Livros bastante populares na Índia, escritos em forma de poesia que abordam histórias, mitos e crenças.
O Ramayana (A viagem de Rama) narra através de 24 mil versos divididos em sete cantos ou livros (kanda), teria sido escrito pelo sábio Valmiki entre os anos de 500 a.C e 100 a.C, no qual conta a história do Sétimo Avatar de Vishnu, Rama. O poema conta que o rei Dasharatha o qual era casado com três mulheres Kousalya, Sumitra e Kaikeyi, por vários anos nenhuma de suas esposas lhe deu filhos, o rei temeu que fosse estéril, então rezou a Vishnu pedindo para ter filhos, o deus respondeu e suas esposas deram a luz a quatro filhos: Kousalya gerou o primeiro dos filhos, o qual foi chamado Rama; Kaikeyi gerou o segundo filho, Bharata, e por sua vez, Sumitra deu a luz a gêmeos, Lakshamana e Shatrughna.
Rama cresceu como um homem forte, belo, corajoso, educado, inteligente, valente, hábil arqueiro, e o exemplo de príncipe virtuoso, o povo lhe adorava. Ainda jovem em companhia do sábio Vishvamitra, realiza seu primeiro feito, derrota um demônio que assolava parte do reino de seu pai. Todavia, embora fosse bastante popular, isso atiçou a inveja e ciúmes da rainha Kaikeyi, a mais jovem e preferida das esposas do rei. No passado Dasharatha havia feito uma promessa a rainha, então ela decidiu cobrá-la, exigindo que o marido enviasse Rama para o exílio e nomeasse Bharata como seu herdeiro.
O rei sendo um homem devoto a sua palavra, a contra-gosto decide tomar a decisão, no entanto, Rama como sendo um homem complacente aceita o exílio sem contrariar a palavra de seu pai, e assim ele parte em companhia de sua esposa Sita e de seu irmão Lakshamana, e os três passam a morar 14 anos na floresta, vivendo como caçadores-coletores, e nesse período o rei-demônio Ravana acaba ficando encantado pela beleza de Sita e decide sequestrá-la, e assim o faz. Após o sumiço da esposa, Rama e Lakshamana partem a procura de ajuda, entre essa ganham o apoio do deus-macaco Hanunam, e posteriormente partem com um exército até o Reino de Lanka (atual Sri Lanka) para derrotar Ravana e resgatar Sita.
Pintura retratando Rama, Sita, Hanuman e Lakshamana. |
Por sua vez o Mahabharata (A grande dinastia dos Bharata) é um poema bem mais extenso, tendo mais de 70 mil versos divididos em 18 livros (parvas) e foi escrito em data incerta, pois segundo o livro no qual o autor se manifesta, sendo ele Vyasa, por esse fato o livro teria sido concebido por volta do ano 3100 a.C, data a qual alguns sugerem que Vyasa tenha vivido, tendo sido ele também contemporâneo de Krishna, o qual aparece nessa história. Segundo Vyasa o Mahabharata narra uma história real. Todavia, os historiadores acreditam que o livro tenha sido escrito entre os séculos VIII a.C e II a.C, mas assim como o Ramayana, ambos foram alterados nos séculos seguintes.
A história se inicia após os acontecimentos narrados, onde o sábio Vyasa já bastante idoso encontra o rei Janamejaya o qual pertence a Dinastia Bharata, o rei fica intrigado com o sábio, pois ele testemunhou a história de seus antepassados na grande luta entre os Bharata, tema do poema. Então Vyasa começa a narrar ao rei como foi essa história.
A disputa gira em torno do controle da cidade de Hastinapura, capital do Reino dos Kurus, e envolve de um lado os Pandava, os cinco filhos do falecido rei Pandu com suas duas esposas Kunti e Madri. Eles se chamavam Yudhistira, Arjuna, Bhima e os gêmeos Nakula e Sahadeva. Os cinco se casaram com a mesma mulher, chamada Draupadi, embora posteriormente tomaram outras esposas para si. Do outro lado dessa disputa familiar estava os Kauravas, representados pelo rei Duryodhana o qual era tio dos Pandava.
"O Mahabharata é a história de uma disputa dinástica que culmina numa aterradora batalha entre os dois ramos de uma mesma família dirigente indiana. O relato da luta entre os Kurus e os Pandavas elas terras férteis e ricas da confluência dos rios Ganges e Yamuna, perto de Délhi, é realçado por histórias paralelas que fornecem uma base social, moral e cosmológica ao clímax da batalha". (BUCK, 1973, p. 13).
"O Mahabharata é a história de uma disputa dinástica que culmina numa aterradora batalha entre os dois ramos de uma mesma família dirigente indiana. O relato da luta entre os Kurus e os Pandavas elas terras férteis e ricas da confluência dos rios Ganges e Yamuna, perto de Délhi, é realçado por histórias paralelas que fornecem uma base social, moral e cosmológica ao clímax da batalha". (BUCK, 1973, p. 13).
Pintura retratando os Pandava e Draupadi. |
O problema familiar se inicia quando Pandu falece, logo, Yudhistira era o herdeiro de direito do trono, mas o trono acaba sendo usurpado por seu tio o qual era o primogênito. A história conta que o rei Dhritarashtra era bastante velho e acabou ficando cego, ele era pai de Pandu e Duryodhana, no entanto, possuía predileção pelo filho mais novo, logo, renunciou ao trono e nomeou o seu caçula como herdeiro, algo que irritou Duryodhana sendo ele o primogênito, pela lei de sucessão ele deveria ser o herdeiro. Quando seu irmão falece, o trono passa a ser de Yudhistira, no entanto, Duryodhana ver nesse acontecimento a possibilidade de tomar o trono para si, então ele convida os sobrinhos para um banquete e uma festa em sua homenagem, e durante os festejos, ele joga dados com Yudhistira apostando todo o reino, e fazendo que ele jurasse cumprir com o resultado do jogo, Yudhistira acaba perdendo a aposta, e por consequência perde o reino.
Estando em desvantagem e correndo o risco de vida, os Pandava aceitam se retirar pacificamente do palácio do tio e acabam aceitando o exílio na floresta, exílio esse que dura longos doze anos. Passando esse tempo como prometido, eles decidem reunir forças com os inimigos dos Kauravas e confrontar seu tio e primos para recuperarem seu reino, e assim se inicia a grande guerra que culmina na Batalha de Kurukshetra (a planície dos Kurus). Ao longo do livro, os irmãos viajam por vários locais, e acabam conhecendo Krishna, o qual se torna bastante amigo de Arjuna. Além do avatar Krishna, outros deuses e divindades aparecem na história.
Krishna conduzindo a carruagem de Arjuna durante a guerra. |
Krishna acaba tomando partido dos Pandava e os ajuda na guerra contra seu tio e primos. Um dos momentos mais memoráveis da atuação dele ao lado de Arjuna é narrado no Bhagavad-Gita, capítulo que compreende o Mahabharata, o qual além de fazer parte dessa história (embora tenha sido inserido posteriormente ao texto original), é um capítulo que debate moral e religiosidade, que implica falar do dharma.
"O Mahabharata de ver compreendido como uma narrativa moral e filosófica, e não apenas histórica. Somente assim poderemos apreciar a significação do Bhagavad-Gita, o Cântico do Senhor, que é parte do Mahabharata, mas que, geralmente, aparece como excerto e é lido como uma obra religiosa à parte. Na Índia, o Mahabharata, como um todo, tem sido considerado há séculos uma obra religiosa, a ponto de um teórico poético medieval caracterizar seu principal sentimento (rasa) não como heroísmo, mas como serenidade (santi)". (BUCK, 1973, p. 17).
Jainismo:
1) Breve histórico
O jainismo ou jinismo surge pelo menos no que conhecemos hoje de suas práticas, no século VI a.C ou V a.C, tendo na pessoa de Vardhamana (599?-523? a.C) mais conhecido como Mahavira ("Grande herói") o seu líder e reformador. Alguns estudiosos acreditam que ele teria vivido entre 540 a.C e 470 a.C, todavia, Mahavira teria sido um contemporâneo de Buda, embora não saibamos se eles chegaram a se conhecer, pois não há relatos escritos sobre um possível encontro, pelo menos ainda não descobertos.
A tradição jainista diz que Mahavira foi o vigésimo quarto Tirthankara, também chamado de Jina ("Vencedor"). Os jainas acreditam que o tempo seja cíclico e eterno e que a cada era surgem 24 Tirthankaras, sendo que Mahavira foi o último destes, e desde então não surgiu outro Tirthankara, pois essa era ainda não terminou. No jainismo os Tirthankaras foram homens que conseguiram se libertar da samsara (roda das reencarnações) daí serem também chamados de vitoriosos (jina) por ter vencido esse difícil ciclo. Alcançando esse êxito eles se mostram como seres puros e elevados espiritualmente, os quais ainda antes de desencarnarem se dedicaram a instruir a população.
Mahavira viveu como um asceta, renunciando a vários prazeres mundanos e algumas condições de vida. Se diz que ele não usava roupas, que vivia na floresta, que era vegetariano; adotou votos de celibato e pobreza. Mahavira não pertencia a classe dos brâmanes, mas a classe dos xátrias, e contrariando sua família adotou o ascetismo como filosofia de vida e isso lhe teria rendido a posição de Tirthankara.
Sabe-se que o jainismo assim como o budismo foram rejeitados inicialmente, por se mostrarem opostos ao bramanismo e ao hinduísmo, de fato, na época ambas as religiões foram consideradas crenças heréticas, blasfêmias.
2) Aspectos religiosos
O jainismo prega a existência da reencarnação, do karma, da samsara, considera que todas as formas de vida sejam sagradas, logo, devem ser respeitada e evitar de matá-las. Por tal motivo os jainas são vegetarianos, todavia, eles reconhecem que cometem pecado ao matar as plantas, mas como necessitam se alimentar para manter o corpo físico, se come alimentos vegetais, pois as "plantas sentiriam menos dor ao morrer".
Os jainas também respaldam seu respeito aos animais, pois eles acreditam na metempsicose, ou seja, que a alma humana pode reencarnar no corpo de animais, logo, matar até mesmo um inseto, poderia dizer que você estaria matando algum parente seu. O respeito aos animais não significa em culto aos mesmos como os hindus fazem.
Os jainas consideram que o universo é infinito. De fato, para os jainas não importa se exista um deus ou deuses, para eles não interessa quem foi o deus que criou o Universo, quando isso aconteceu, porque aconteceu, quando surgiu a Terra e o ser humano, o que importa para os jainas é o melhoramento espiritual que os levará a libertação (moshka) da samsara, e por sua vez, a salvação eterna.
Os jainas acreditam que o universo é dividido em "cinco mundos", sendo o mais elevado chamado de Siddhashila, sendo habitado pelas almas que alcançaram o a libertação. Abaixo deste existem 30 céus que representam diferentes etapas do progresso espiritual, sendo o "segundo mundo", Deviloka. O terceiro mundo chamado de Madhyaloka representa o plano terreno no qual onde vivemos, é o mundo onde o Bem e o Mal se encontram juntos, onde o homem pode progredir ou retroceder. Abaixo deste ficam os infernos chamados de Adholoka, formado por sete infernos, onde os maus são torturados e punidos pelos seus atos hediondos, é também o lar de demônios e criaturas malignas. Abaixo do sétimo inferno se encontra o "quinto mundo", Nigoda, o qual seria a base do universo e o lar de criaturas inferiores espiritualmente ao mais baixo grau de evolução espiritual, sendo habitada por seres estranhos, primitivos e bestiais.
Como mencionado, o tempo é eterno e cíclico, quando ele completa um ciclo, uma nova era se inicia, e novos Tirthankaras reencarnam na Terra para instruir a humanidade. Se diz que a atual fase temporal é um tempo crítico, onde a humanidade está desviada do caminho da fé, e a violência e depravação proliferam em vários lugares.
O rito jainista se baseia em cinco votos (mahavratas):
1) Breve histórico:
O budismo surgiu no século VI a.C com a pregação de Siddharta Gautama (ca. 563-483 a.C) um príncipe que acabou renunciando a seu trono, e entrou para uma vida de ascetismo e anos depois alcançou o nirvana, tornando-se o Buda ("o desperto" ou "o iluminado").
Assim como o jainismo, o budismo também surgiu como uma oposição ao controle do bramanismo, isso repercutiu na não aceitação dessa nova religião em algumas partes da Índia. De fato, alguns dos discípulos de Buda acabaram viajando para outros países e por volta do século II d.C, o budismo tinha quase que sido totalmente banido da Índia. Hoje no país existem poucos budistas, sendo que a maioria vivem em países como China, Japão, Tailândia, Mianmar, Laos, Camboja, Vietnã, Bangladesh e Malásia.
Siddharta Gautama era filho do rei (rajá) Sudohodana e da rainha Maya. Ele nasceu em Lumbini, na época Índia, mas atualmente Nepal. Ele foi o primogênito, profetizado em um sonho que sua mãe teve. Um dos problemas de se estudar a vida de Buda é que ela se mistura entre o verídico e o lendário, e as vezes fica difícil saber o que foi real e lenda, além disso, alguns historiadores contestam quando Gautama teria nascido e se ele realmente existiu.
Gautama cresceu e vive como um príncipe, gozando de todas as regalias e luxos da nobreza indiana. Ele foi criado segundo os costumes da época e até religiosos, de fato, Siddharta era um hindu, acreditava nos vários deuses e divindades do hinduísmo. Por vários anos ele viveu no conforto e no fausto, chegando a maioridade casou-se com sua prima Yasodhara, com quem teve um único filho, chamado Rahula.
O budismo possui hoje várias escolas que interpretam de forma diferente os ensinamentos de Buda Gautama, além disso, algumas escolas surgiram em outros países como China, Japão, Mianmar, Malásia, Laos, etc. No entanto, focarei em apresentar os aspectos gerais da doutrina (dharma) budista e mencionar algumas das mais importantes escolas.
Buda em vida passou a pregar para todo mundo, sem descriminar ninguém por casta, sexo e cor da pele. Embora pertencesse a realeza e tivesse contato com muitos nobres e poderosos, Buda não concordava com o sistema de castas, pelo menos não diretamente. De início ele permitiu que apenas os homens se tornassem seus discípulos, os ordenando como monges, posteriormente abriu espaço para que as mulheres se tornassem monjas, embora na época em geral as mulheres não tinham participação efetiva na religião.
Buda instituiu uma "comunidade budista", ordenando as regras monásticas que os monges e monjas deveriam seguir, além disso, pessoas de qualquer classe poderiam se tornar monges, e detinham o direito de fazer pregação e ordenar novos monges. Não havia uma hierarquia centralizadora, Buda era reconhecido como o mestre maior, o grande mestre, mas abaixo dele, todos eram iguais. De fato, muitos monge budistas passaram a viajar sozinhos pela Índia e para fora desta, impelidos não por uma ordem dada por Buda, mas por um dever de pregar a paz, o amor e o caminho para a salvação.
O budismo se fundamenta na lei do karma, da reencarnação e da samsara. Basicamente como o sentido geral já foi apresentado nas outras religiões não voltarei apresentá-lo novamente. Todavia, o budismo em geral hoje não compartilha a noção de metempsicose do jainismo, embora houve épocas que algumas vertentes acreditavam nessa possibilidade. O budista acredita em planos celestiais e em infernos, e dependendo da escola, acredita-se que se pode reencarnar dependendo de seu karma em mundos celestes ou em mundos infernais.
Para o budista, assim como, o jaina, a salvação não é algo dado pelos deuses, mas é conquistada por cada um de nós. É dito que os deuses concederam o livre arbítrio aos homens, logo, é dever de cada um buscar sua própria salvação. Nesse aspecto a lei do karma é ainda mais reforçada, pois gera uma dependência maior para o ser humano, tanto na religião budista quanto jainista, pois no bramanismo e no hinduísmo, a salvação também é fornecida pelos deuses.
Por sua vez, no budismo não se prega o culto a outras divindades, mas a pessoa é livre para cultuar outros deuses, e em alguns templos se encontram imagens de deuses indianos, chineses, japoneses, etc. Não obstante, Buda não foi um deus, mas um homem que alcançou o bodhi e o nirvana, ele seria um homem santo, mas não uma divindade, no entanto, existem escolas budistas que pregam a divinização de Buda.
Para o budismo o universo é infinito, e o tempo é eterno e cíclico. Para os budistas não importa saber quem foi quem criou o universo, os mundos, os deuses, homens, animais, plantas, etc., a preocupação do budista não está no passado, mas em se planejar o futuro. Alguns falam que o budismo seria uma forma de "ateísmo religioso", por desconsiderar um papel dos deuses, mas o budismo e jainismo possuem uma visão agnóstica ou deísta, ou seja, no primeiro sentido, se considera que não é fácil compreender as divindades, que suas essências estariam para além da compressão humana; no segundo, sentido, reconhece-se que um deus ou deuses criaram tudo, mas eles cuidam de suas vidas, e a vida da humanidade é problema de cada um.
Para melhor compreender a doutrina búdica ou budista, conheçamos os seus pilares, de onde os quatro primeiros surgiram a partir do Sermão de Benares, no qual Buda pregou para seus antigos amigos ascetas. Nesse sermão ele falou sobre as Quatro Nobres Verdades:
Por fim, para encerrar essa parte sobre o budismo, comentarei brevemente num esquema algumas os principais ramos budistas:
1) Breve histórico
O jainismo ou jinismo surge pelo menos no que conhecemos hoje de suas práticas, no século VI a.C ou V a.C, tendo na pessoa de Vardhamana (599?-523? a.C) mais conhecido como Mahavira ("Grande herói") o seu líder e reformador. Alguns estudiosos acreditam que ele teria vivido entre 540 a.C e 470 a.C, todavia, Mahavira teria sido um contemporâneo de Buda, embora não saibamos se eles chegaram a se conhecer, pois não há relatos escritos sobre um possível encontro, pelo menos ainda não descobertos.
A tradição jainista diz que Mahavira foi o vigésimo quarto Tirthankara, também chamado de Jina ("Vencedor"). Os jainas acreditam que o tempo seja cíclico e eterno e que a cada era surgem 24 Tirthankaras, sendo que Mahavira foi o último destes, e desde então não surgiu outro Tirthankara, pois essa era ainda não terminou. No jainismo os Tirthankaras foram homens que conseguiram se libertar da samsara (roda das reencarnações) daí serem também chamados de vitoriosos (jina) por ter vencido esse difícil ciclo. Alcançando esse êxito eles se mostram como seres puros e elevados espiritualmente, os quais ainda antes de desencarnarem se dedicaram a instruir a população.
Mahavira viveu como um asceta, renunciando a vários prazeres mundanos e algumas condições de vida. Se diz que ele não usava roupas, que vivia na floresta, que era vegetariano; adotou votos de celibato e pobreza. Mahavira não pertencia a classe dos brâmanes, mas a classe dos xátrias, e contrariando sua família adotou o ascetismo como filosofia de vida e isso lhe teria rendido a posição de Tirthankara.
Sabe-se que o jainismo assim como o budismo foram rejeitados inicialmente, por se mostrarem opostos ao bramanismo e ao hinduísmo, de fato, na época ambas as religiões foram consideradas crenças heréticas, blasfêmias.
2) Aspectos religiosos
O jainismo prega a existência da reencarnação, do karma, da samsara, considera que todas as formas de vida sejam sagradas, logo, devem ser respeitada e evitar de matá-las. Por tal motivo os jainas são vegetarianos, todavia, eles reconhecem que cometem pecado ao matar as plantas, mas como necessitam se alimentar para manter o corpo físico, se come alimentos vegetais, pois as "plantas sentiriam menos dor ao morrer".
Os jainas também respaldam seu respeito aos animais, pois eles acreditam na metempsicose, ou seja, que a alma humana pode reencarnar no corpo de animais, logo, matar até mesmo um inseto, poderia dizer que você estaria matando algum parente seu. O respeito aos animais não significa em culto aos mesmos como os hindus fazem.
Os jainas consideram que o universo é infinito. De fato, para os jainas não importa se exista um deus ou deuses, para eles não interessa quem foi o deus que criou o Universo, quando isso aconteceu, porque aconteceu, quando surgiu a Terra e o ser humano, o que importa para os jainas é o melhoramento espiritual que os levará a libertação (moshka) da samsara, e por sua vez, a salvação eterna.
Os jainas acreditam que o universo é dividido em "cinco mundos", sendo o mais elevado chamado de Siddhashila, sendo habitado pelas almas que alcançaram o a libertação. Abaixo deste existem 30 céus que representam diferentes etapas do progresso espiritual, sendo o "segundo mundo", Deviloka. O terceiro mundo chamado de Madhyaloka representa o plano terreno no qual onde vivemos, é o mundo onde o Bem e o Mal se encontram juntos, onde o homem pode progredir ou retroceder. Abaixo deste ficam os infernos chamados de Adholoka, formado por sete infernos, onde os maus são torturados e punidos pelos seus atos hediondos, é também o lar de demônios e criaturas malignas. Abaixo do sétimo inferno se encontra o "quinto mundo", Nigoda, o qual seria a base do universo e o lar de criaturas inferiores espiritualmente ao mais baixo grau de evolução espiritual, sendo habitada por seres estranhos, primitivos e bestiais.
Como mencionado, o tempo é eterno e cíclico, quando ele completa um ciclo, uma nova era se inicia, e novos Tirthankaras reencarnam na Terra para instruir a humanidade. Se diz que a atual fase temporal é um tempo crítico, onde a humanidade está desviada do caminho da fé, e a violência e depravação proliferam em vários lugares.
O rito jainista se baseia em cinco votos (mahavratas):
- Não-violência (ahmisa);
- Não mentir (satya);
- Não roubar ou se apropriar do que não lhe foi dado ou oferecido (asteya);
- Não se apegar as posses materiais (aparigraha);
- Castidade (brahmacharya), opcional aos leigos, mas obrigatório aos clérigos.
Os cinco votos também são chamados de Anuvratas e são reforçados pelos Gunavratas que são três os quais basicamente dizem para se ter foco na vida, evitar a devassidão e o excesso dos prazeres mundanos, ou seja, manter o auto-controle e a moderação, por último se reforça a ideia de não causar mal ao próximo, seja ele humano, animal ou vegetal.
Em terceiro lugar vem os Siksavratas, que consistem em votos para o bom encaminhamento do espírito. meditar, adotar o ascetismo pelo menos por um dia, praticar caridade, evitar determinadas atividades que sejam consideradas perniciosas, devassas, vergonhosas, etc. Na prática tanto os leigos e os clérigos seguem esses três conjuntos de votos, no entanto, existem algumas especifidades no jainismo.
Por volta do século I d.C ocorreu um debate entre os jainas no que dizia ao uso de roupas. Mahavira vivia nu, pois argumentava que o ser humano nasce nu, e isso não seria uma vergonha. A vergonha da nudez e a libertinagem sexual foram criados por pensamentos pecaminosos de algumas pessoas, que acabaram por se difundir na sociedade. Viver nu era restaurar o estado original de pureza de pensamento.
A partir desse debate surgiu duas vertentes: os shvetambara ("vestidos de branco") e os digambara ("vestidos de vento" ou "vestido de céu"). Os primeiros compreendem atualmente o maior grupo os quais adotam as roupas, e não apenas roupas brancas, embora alguns sigam a risca tal escolha de cor. Por sua vez os digambara vivem nus, e ainda hoje há jainas que vivem dessa forma. A partir dessas duas divisões, subgrupos surgiram nos séculos seguintes, mas estas duas são as maiores.
Jainas shvetambara orando. |
Muitos dos jainas que seguem a vertente do digambara, são homens. Além disso, existem alguns jainas que ao saírem a rua e frequentar locais públicos e privados, no seu dia a dia, utilizam máscara ou vendas para cobrir a boca e o nariz, pois eles alegam que dessa forma aos respirarem não correm o risco de inspirar algum pequeno inseto como moscas e mosquitos, e dessa forma os poupa de serem mortos.
Os jainas realizam seus ritos em casa, mas costumam frequentar muito os seus templos e participar de peregrinações e outros festivais como:
Budismo:Os jainas realizam seus ritos em casa, mas costumam frequentar muito os seus templos e participar de peregrinações e outros festivais como:
- Mahavira Jayanti: Entre março e abril se celebra o nascimento de Mahavira, o reformador do jainismo. Estátuas são levadas em procissão, e as pessoas também comparecem aos templos para ouvir o culto.
- Parayushuna e Dashalakshanaparvan: Consiste na realização do jejum ritualístico ao longo de oito dias, pois Mahavira ensinou que o jejum deveria ser uma prática regular da vida de um jaina. Os shvetambara chamam esse festejo de Parayushuna, já os digambara chamam de Dashalakshanaparvan. Existem algumas diferenças de realização e organização entre as duas vertentes, mas em igual, realiza-se o jejum durante oito dias e ao término desse período, os jainas realizem uma confraternização nos templos pedindo o perdão para quem lhes ofendeu, assim como, dando perdão para quem tenha ofendido.
- Divali (Festival das Luzes): Consiste num dos mais importantes festejos da Índia, celebrado por hindus, jainas, silkhs e budistas. Embora sua origem remonte a significados diferentes para estas religiões, em comum se celebra nestas noites a vitória do Bem contra o Mal. Em todo o país centenas de milhões de velas, tochas, fogueiras, etc., são acesas para simbolizar a conquista da luz sobre as trevas. Para os jainas, tal data também celebra a libertação de Mahavira da samsara.
Nos templos os jainas costumam deixar oferendas vegetais como arroz, mel, flores, etc., as estátuas dos Tirthankaras e até de outras divindades, embora no geral os jainas não cultuem os deuses hindus. Além disso, há algumas vertentes do jainismo que são contrários a se oferecer oferendas as estátuas e até mesmo em se utilizá-las nos templos, e se realizar procissões com elas. Nos templos também se participam da realização de ritos e da leitura dos textos sagrados e outras atividades.
Fachada de um templo jaina em Ranakpur. |
No caso dos digambara eles expressam especial atenção ao culto do príncipe Bahubali, o qual foi o segundo dos cem filhos do primeiro Tirthankara Rishabha. A história conta que Bahubali o qual se desentedia muito com seu irmãos mais velho Bharat, chegou numa época em desistir da disputa pelo trono e decidiu seguir uma vida de ascetismo. Para os digambara o príncipe foi um exemplo a ser seguido. Na Índia existem grandes estátuas em honra a Bahubali.
Estátua gigante de Bahubali em Venur. Construída no início do século XVII. |
O jainismo também possui seus livros sagrados, eles são chamados de Ágamas ("Revelação"). Ágamas também é o nome dado a um conjunto de livros no hinduísmo e no budismo, embora abordem temas diferentes, mas no caso do jainismo credita-se que esse livro tenha sido escrito em parte por Mahavira e seus discípulos. No entanto, os Ágamas jainas são compostos por 46 livros, abordando distintos assuntos acerca da religião jaina. Os Ágamas instruem os jainas tanto acerca da história da sua religião, como sua cosmologia, mitologia, ritos, crenças, credo, vida monástica, conduta moral e cívica, etc.
Os historiadores salientam que a maioria dos livros teriam sido escritos entre os séculos V a.C e III a.C, mas alguns datam de épocas posteriores, pois abordam comentários, estudos e interpretações dos textos mais antigos. Tal fato também é ressalvado pela questão de alguns livros terem sido escritos em outras línguas (na Índia existem diferentes tipos de alfabetos e idiomas, embora o hindi seja o idioma predominante), as quais se tornaram mais comuns em determinadas épocas.
Fólio do Kalpasutra ("Livro dos sagrados preceitos"), cerca de 1400. |
1) Breve histórico:
O budismo surgiu no século VI a.C com a pregação de Siddharta Gautama (ca. 563-483 a.C) um príncipe que acabou renunciando a seu trono, e entrou para uma vida de ascetismo e anos depois alcançou o nirvana, tornando-se o Buda ("o desperto" ou "o iluminado").
Assim como o jainismo, o budismo também surgiu como uma oposição ao controle do bramanismo, isso repercutiu na não aceitação dessa nova religião em algumas partes da Índia. De fato, alguns dos discípulos de Buda acabaram viajando para outros países e por volta do século II d.C, o budismo tinha quase que sido totalmente banido da Índia. Hoje no país existem poucos budistas, sendo que a maioria vivem em países como China, Japão, Tailândia, Mianmar, Laos, Camboja, Vietnã, Bangladesh e Malásia.
Siddharta Gautama era filho do rei (rajá) Sudohodana e da rainha Maya. Ele nasceu em Lumbini, na época Índia, mas atualmente Nepal. Ele foi o primogênito, profetizado em um sonho que sua mãe teve. Um dos problemas de se estudar a vida de Buda é que ela se mistura entre o verídico e o lendário, e as vezes fica difícil saber o que foi real e lenda, além disso, alguns historiadores contestam quando Gautama teria nascido e se ele realmente existiu.
Gautama cresceu e vive como um príncipe, gozando de todas as regalias e luxos da nobreza indiana. Ele foi criado segundo os costumes da época e até religiosos, de fato, Siddharta era um hindu, acreditava nos vários deuses e divindades do hinduísmo. Por vários anos ele viveu no conforto e no fausto, chegando a maioridade casou-se com sua prima Yasodhara, com quem teve um único filho, chamado Rahula.
“O príncipe Sidarta cresceu no seio da fortuna e do luxo. O rajá
ouvira uma profecia de que seu filho ou se tornaria um poderoso governante ou
tomaria o caminho oposto e abandonaria o mundo por completo. Esta última opção
aconteceria se lhe fosse permitido testemunhai as carências e o sofrimento do
mundo. Para evitar que isso ocorresse, o rajá tentou proteger o filho contra o
mundo que ficava além das muralhas do palácio, ao mesmo tempo que o cercava de
delícias e diversões. Ainda jovem, Sidarta se casou com sua prima e mantinha
também um harém de lindas dançarinas”. (GAARDER, 2000, p. 55-56).
Por volta de seus 29 anos quando o seu filho ainda estava por nascer, Siddharta testemunhou sua revelação. Certo dia ele decidiu sair escondido do palácio e visitar uma cidade vizinha, até então ele passava grande parte do ano entre as muralhas dos palácios de seu pai, e quando ele ia a cidade antes de visitá-la, seu pai ordenava que a cidade fosse "limpa". O príncipe decidido a conhecer a realidade por trás daquela "maquiagem", saiu escondido em companhia de seu fiel servo Chana. Na cidade ele teve suas quatro revelações, as quais alguns sugerem que sejam uma metáfora ou uma lenda, todavia, as revelações foram:
- Velhice: Siddharta avistou um velho moribundo largado na rua. Ele questionou Chana de porque aquele homem está naquele estado, o servo respondeu que algumas pessoas acabam rejeitando os velhos. Além disso, ele também disse que muitos temem a velhice, pois é o prenúncio inevitável da morte.
- Doença: Em outra rua o príncipe se deparou com um leproso, era a primeira vez que havia visto tal doença. Chana lhe explicou o que era a lepra, e disse que todos os homens e mulheres estão sujeitos a contrair lepra e outras doenças.
- Morte: Em uma parte da cidade seguia um cortejo fúnebre, Chana diz que tudo que nasce um dia morrerá.
- Ascetismo: Gautama avistou um monge pedindo comida e esmolas, Chana respondeu que alguns monges vivem de caridade, e se abdicam dos prazeres mundanos. O príncipe intrigado com aquilo questionou o seu servo do porque aquilo, e o servo respondeu que alguns homens e mulheres decidem viver de forma rigorosa, pois assim eles resistem as tentações, pecados e as ilusões mundanas deste mundo. A verdadeira vida e felicidade não são terrenos.
Pintura representando as quatro revelações testemunhadas por Siddharta Gautama. |
Aterrorizado com aquilo o príncipe retornou ao palácio, descobrindo que até aquela época ele viveu num mundo de "fantasias" e "ilusões", que a vida era mais sofrível do que ele imaginava, que muitos padeciam de necessidades as quais ele nunca viu ou viveu. Gautama estava em conflito, desorientado, cheio de dúvidas, então ele decidiu procurar por respostas, buscar a verdade por trás do sofrimento do mundo e do significado da vida, então ele decidiu se tornar um asceta e vagar pela Índia atrás de respostas.
Por seis anos ele conviveu entre outros ascetas, praticando jejuns, abstinências, meditações, ioga, etc. No entanto, os anos se passavam e Gautama não enxergava nenhuma melhoria, nada daquilo havia respondido suas perguntas, então ele decidiu entrar em profunda meditação para descobrir respostas as suas indagações, ele se sentou sob a sombra de uma árvore e teria permanecido um mês por ali, até que alcançou a iluminação (bodhi). Alguns relatos dizem que durante esse tempo de profunda meditação, ele foi tentado pelo demônio Mara a desistir de alcançar o bodhi, pois Mara temia que Gautama se torna-se o novo Buda (algumas escolas budistas falam sobre a existência de outros Budas).
"Só e imóvel sob a
árvore, Sidharta vê suas infinitas encarnações anteriores e as de todas as
criaturas; abarca com um golpe de vista os inumeráveis mundos
do universo, depois, a concatenação de todas as causas e efeitos.
Intui ao amanhecer as quatro verdades sagradas. Já não é o príncipe Sidharta, é
o Buda". (BORGES, 1977, p. 14).
Aos 36 anos Siddharta Gautama alcançou o bodhi (iluminação), tornando-se o Buda. |
Após alcançar a iluminação, Gautama passou a se chamar de Buda. Se diz que por uma semana ou quatro semanas ele permaneceu no mesmo lugar, profundamente alegre por seu feito. Um naga teria vindo visitá-lo para protegê-lo de uma forte chuva, posteriormente o próprio deus Brahma se pronunciou a Buda e lhe teria sugerido a ensinar os outros o "caminho do meio" para se alcançar o bodhi e posteriormente o nirvana. Buda concordou com a sugestão do deus, e iniciou sua peregrinação, partindo para Benares (Varanasi), uma cidade a beira do Ganges, que consistia num centro religioso já naquela época.
Lá Buda encontrou alguns monges que haviam sido seus amigos nos anos que ele viveu com asceta. Na época do ascetismo, os monges haviam criticado Gautama por não ter aguentado principalmente os tortuosos jejuns, mas agora de volta como Buda, ele disse que descobriu o bodhi, seus amigos duvidaram daquilo, então Buda realizou seu primeiro sermão, e no fim deste os monges decidiram se tornar seus discípulos. Depois disso Buda retornou para casa e reencontrou seu pai, esposa, filho e demais familiares e amigos, ao mesmo tempo, aproveitou para lhe ensinar seus ensinamentos, em seguida ele dedicou os 44 anos seguintes a pregação. Buda desencarnou aos 80 anos, já velho e enfermo, mas contente por suas realizações.
Lá Buda encontrou alguns monges que haviam sido seus amigos nos anos que ele viveu com asceta. Na época do ascetismo, os monges haviam criticado Gautama por não ter aguentado principalmente os tortuosos jejuns, mas agora de volta como Buda, ele disse que descobriu o bodhi, seus amigos duvidaram daquilo, então Buda realizou seu primeiro sermão, e no fim deste os monges decidiram se tornar seus discípulos. Depois disso Buda retornou para casa e reencontrou seu pai, esposa, filho e demais familiares e amigos, ao mesmo tempo, aproveitou para lhe ensinar seus ensinamentos, em seguida ele dedicou os 44 anos seguintes a pregação. Buda desencarnou aos 80 anos, já velho e enfermo, mas contente por suas realizações.
2) Aspectos religiosos
O budismo possui hoje várias escolas que interpretam de forma diferente os ensinamentos de Buda Gautama, além disso, algumas escolas surgiram em outros países como China, Japão, Mianmar, Malásia, Laos, etc. No entanto, focarei em apresentar os aspectos gerais da doutrina (dharma) budista e mencionar algumas das mais importantes escolas.
Buda em vida passou a pregar para todo mundo, sem descriminar ninguém por casta, sexo e cor da pele. Embora pertencesse a realeza e tivesse contato com muitos nobres e poderosos, Buda não concordava com o sistema de castas, pelo menos não diretamente. De início ele permitiu que apenas os homens se tornassem seus discípulos, os ordenando como monges, posteriormente abriu espaço para que as mulheres se tornassem monjas, embora na época em geral as mulheres não tinham participação efetiva na religião.
Buda instituiu uma "comunidade budista", ordenando as regras monásticas que os monges e monjas deveriam seguir, além disso, pessoas de qualquer classe poderiam se tornar monges, e detinham o direito de fazer pregação e ordenar novos monges. Não havia uma hierarquia centralizadora, Buda era reconhecido como o mestre maior, o grande mestre, mas abaixo dele, todos eram iguais. De fato, muitos monge budistas passaram a viajar sozinhos pela Índia e para fora desta, impelidos não por uma ordem dada por Buda, mas por um dever de pregar a paz, o amor e o caminho para a salvação.
O budismo se fundamenta na lei do karma, da reencarnação e da samsara. Basicamente como o sentido geral já foi apresentado nas outras religiões não voltarei apresentá-lo novamente. Todavia, o budismo em geral hoje não compartilha a noção de metempsicose do jainismo, embora houve épocas que algumas vertentes acreditavam nessa possibilidade. O budista acredita em planos celestiais e em infernos, e dependendo da escola, acredita-se que se pode reencarnar dependendo de seu karma em mundos celestes ou em mundos infernais.
Para o budista, assim como, o jaina, a salvação não é algo dado pelos deuses, mas é conquistada por cada um de nós. É dito que os deuses concederam o livre arbítrio aos homens, logo, é dever de cada um buscar sua própria salvação. Nesse aspecto a lei do karma é ainda mais reforçada, pois gera uma dependência maior para o ser humano, tanto na religião budista quanto jainista, pois no bramanismo e no hinduísmo, a salvação também é fornecida pelos deuses.
Por sua vez, no budismo não se prega o culto a outras divindades, mas a pessoa é livre para cultuar outros deuses, e em alguns templos se encontram imagens de deuses indianos, chineses, japoneses, etc. Não obstante, Buda não foi um deus, mas um homem que alcançou o bodhi e o nirvana, ele seria um homem santo, mas não uma divindade, no entanto, existem escolas budistas que pregam a divinização de Buda.
“Apesar de os budistas venerarem as imagens do Buda queimando
incenso e pondo flores e outras oferendas diante delas, para o budista ortodoxo
isso não é propriamente uma adoração formal. Buda foi apenas o guia da
humanidade, foi o mestre "glorificado", e como já entrou no nirvana,
não pode ver nem recompensar as ações de um budista. Por isso, suas imagens não
devem ser adoradas; estão ali para lembrar os ensinamentos do Buda e auxiliar o
budista em sua meditação e em sua vida religiosa”. (GAARDER, 2000, p. 71).
Para o budismo o universo é infinito, e o tempo é eterno e cíclico. Para os budistas não importa saber quem foi quem criou o universo, os mundos, os deuses, homens, animais, plantas, etc., a preocupação do budista não está no passado, mas em se planejar o futuro. Alguns falam que o budismo seria uma forma de "ateísmo religioso", por desconsiderar um papel dos deuses, mas o budismo e jainismo possuem uma visão agnóstica ou deísta, ou seja, no primeiro sentido, se considera que não é fácil compreender as divindades, que suas essências estariam para além da compressão humana; no segundo, sentido, reconhece-se que um deus ou deuses criaram tudo, mas eles cuidam de suas vidas, e a vida da humanidade é problema de cada um.
Para melhor compreender a doutrina búdica ou budista, conheçamos os seus pilares, de onde os quatro primeiros surgiram a partir do Sermão de Benares, no qual Buda pregou para seus antigos amigos ascetas. Nesse sermão ele falou sobre as Quatro Nobres Verdades:
- A realidade do sofrimento (dukkha): O sofrimento é bastante real e se encontra sob diversas formas: "Nascer é sofrer, envelhecer é sofrer, morrer é sofrer, estar unido com aquilo de que não gostamos é sofrer, separarmo-nos daquilo que amamos é sofrer, não conseguir o que queremos é sofrer". O budismo diz que o sofrimento é algo comum dessa vida e é impossível vivê-la sem sofrer. A ideia é que o mundo não é perfeito, e a verdadeira felicidade não é terrena. Isso não significa que não haja felicidade terrena, ela existe, mas é apenas transitória, uma ilusão.
- A origem do sofrimento (samudaya): Buda dizia que o sofrimento se originava a partir do desejo (karman), principalmente os desejos físicos (comida, bebida, sexo, riqueza, poder, glória, ostentação, status social, etc.). Se fizermos um paralelo com o cristianismo católico, os Sete Pecados Capitais exprimem em parte essa ideia de desejo budista, essa ânsia pelos prazeres mundanos e a exaltação do ego. Logo, o sofrimento se origina quando esses desejos não são controlados, se tornam vícios, ou passam a ser a meta de vida de alguns.
- O sofrimento possui um fim (nirodha): As grandes revelações de Buda não foi dizer que o sofrimento era real e como se sofria, mas foi revelar que esse sofrimento possui um fim, e ensinar o caminho pelo qual devemos trilhar para chegar a este fim. Buda compartilhava uma ideia do bramanismo, de que o karma seria resultado também da ignorância, logo, combater essa ignorância consistia numa forma de caminhar para o fim do sofrimento.
- O caminho para o fim do sofrimento (magga): Buda diz que há uma forma para se libertar do sofrimento, se livrar da samsara e alcançar o nirvana ("apagado"). Esse caminho foi concebido a partir de oito vias ou sendas, os quais se tornaram referência para os budistas. Além disso, Buda ressalvava que cada um tem por dever próprio alcançar sua salvação, ao mesmo tempo, ele também salientara que era algo difícil, pois ele mesmo demorou várias reencarnações para se tornar Buda.
“Com base em sua própria experiência, Buda acreditava que o homem
deve evitar os extremos da vida. Não se deve viver nem no prazer extravagante,
nem na autonegação exagerada. Ambos os extremos acorrentam o homem ao mundo e,
assim, à "roda da vida". O caminho para dar fim ao sofrimento é o
"caminho do meio", e Buda o descreveu em oito partes”. (GAARDER,
2000, p. 60-61).
Os oito caminhos que Buda pregava, eram:
- Compreensão correta: significa está devidamente ciente quanto as Quatro Verdades;
- Pensamento correto: pensar de forma amorosa e pacífica, sem desejar o mal para ninguém, sem pensar em mesmo em praticar o mal. Pensar na bondade, na caridade, no amor ao próximo; pensar de forma positiva, coletiva e sábia. Se deve evitar pensamentos egoístas, maliciosos, gananciosos, invejosos, etc;
- Fala correta: não mentir, não xingar, não proferir calúnias, falsas acusações, incitar a desordem, violência e a maldade. A pessoa deve falar a verdade, deve falar de forma respeitosa, clara, conciliadora e objetiva. Diante de um discussão, se deve evitar em gritar, mas falar de forma conciliadora, objetiva e com firmeza e convicção;
- Ação correta: Viver de forma justa, sem praticar crimes, sem agir desonestamente, sem enganar, sem trapacear, sem mentir. Agir de forma que evite causar transtornos, problemas e sofrimento para familiares, amigos e outras pessoas, animais e plantas. Significa também em não matar, não utilizar drogas, não consumir bebidas alcoólicas, não trair, não ser promíscuo, não cometer adultério. Deve-se procurar uma vida de moderação;
- Meio de vida correto: Viver de forma harmoniosa, justa, honrosa, saudável, pacífica, calma, sábia, amigável, gentil, benevolente e caridosa. Nesse caso, evitar atividades que comprometam essas virtudes. Por exemplo, ser um soldado é algo complicado, pois em caso de guerra, terá que se matar; ser açougueiro significa ter que matar animais e esquartejar seus corpos para sua comercialização; fabricar armas, produzir e comercializar drogas, prostituição, contrabando, pirataria, etc., seriam alguns exemplos de meio de vida incorretos a prática budista.
- Esforço correto: Praticar a autodisciplina e o autoconhecimento, está ciente de que o caminho da salvação não é fácil, está ciente que muitos irão discordar de sua opinião e meio de vida, está ciente de que viver é difícil e que também é sofrer; está preparado para os desafios e problemas da vida;
- Atenção correta: buscar está atento para sua saúde, para o seu bem-estar, o bem-estar da sua família; está atento para seus pensamentos, opiniões e ideias, os quais não manifestem nada de pecaminoso, agressivo ou desleal, que contrarie os outros pensamentos. É está atento para suas atividades, para seu comportamento com os outros, para suas intenções e ações;
- Concentração correta: procurar por em prática os ensinamentos da doutrina, focar-se em segui-los, focar-se em estudar a doutrina, focar-se em procurar corrigir seus problemas, abster-se das tentações e vícios. Preocupar-se em manter a harmonia, paz, alegria e o amor consigo e ao próximo.
"Estas normas integram
um caminho do meio, equidistante da vida carnal e da vida ascética, dos
excessos do rigor e dos excessos da licenciosidade". (BORGES, 1977, p.
56).
O foco do budismo é se alcançar o nirvana, ou seja, libertar-se das amarras dos desejos que prendem os seres humanos a vida terrena, significar "apagar" o desejo, extinguir o sofrimento por tais causas, extirpar essa ilusão, e adentrar a verdadeira "realidade". Por um fim na samsara, romper com a necessidade de ficar continuamente reencarnando, pois ao se alcançar o nirvana, o espírito se encontra em um estado puro, perfeito, já não mais precisa de expiação, e agora poderá viver a vida eterna.
A doutrina budista pode ser seguida basicamente de duas formas: da maneira monástica, onde o homem e a mulher se torna um monge ou monja, e da maneira laica, onde não se converte a ordem religiosa, mas mantém os preceitos da religião, algo visto em várias outras religiões. No caso do sacerdócio esse é mais restrito aos seus praticantes, pois além de seguir os Oito Caminhos ou Senda Óctupla, os monges e monjas possuem um código de normas que devem ser seguidos e obedecidos, e isso varia de escola budista e até de país, mas em geral, os sacerdotes budistas fazem voto de celibato, voto de castidade, voto de pobreza e voto de obediência.
Monges budistas orando rezando pelo falecido rei Norodom Sihanouk, no Palácio Real em Phnom Penh, Camboja. |
Pedir esmolas e comida não é encarado como algo vergonhoso e degradante, mas é visto como uma atividade honrosa. Por sua vez, doar comida e esmolas aos monges é algo bem visto nos países onde o budismo é predominante, além disso, a comunidade costuma ajudar os templos, doando comida, roupas, dinheiro, etc. O Estado não mantém os templos, é a população que os mantém. Por sua vez os monges e monjas exercitam o sacerdócio, realizando cultos, festivais, cerimônias, lendo os textos sagrados, zelando pela paz. Houve casos de monges praticantes de artes marciais os quais chegaram a combater infratores para proteger os inocentes, mas sem matar seus adversários.
O rito budista varia de escola para escola e de país em país, mas em geral nos países mais budistas, as pessoas possuem uma estátua e um altar em casa, onde fazem suas preces e cerimônias, ou no caso de se morar perto de algum tempo, se vai aos templos fazer orações, levar oferendas, fazer pedidos, participar das cerimônias, etc. Cultua-se as estátuas de Buda e as relíquias sagradas, mas lembrando que algumas escolas são contrárias a essa forma de culto, ou idolatria.
O grande templo de Borobudur, Java, Indonésia. Consiste no maior templo budista do mundo. |
O budista se baseia também no princípio das "Três Joias" ou "Três Tesouros": procurar ajuda e conselhos no Buda, procurar orientação e conhecimento na doutrina búdica, procurar o acolhimento da comunidade búdica, seja ela monástica ou leiga, mas principalmente monástica.
No que diz respeito a livros sagrados, existem vários textos considerados sagrados ou inspirados. Na prática Buda não deixou nada escrito, embora soubesse ler e escrever. Os manuscritos começam a surgir séculos depois de sua morte e em distintos países. Challaye [1981] conta que os escritos mais conhecidos são o Tipitaka, o qual é dividido em três livros:
- Sutra Pitaka: o qual trata da doutrina, e teria sido escrito a partir dos ensinamentos de Ananda, primo de Buda e seu mais fiel discípulo.
- Vinaya Pitaka: aborda a vida e as regras monásticas.
- Abhidarma Pitaka: consiste num tratado filosófico e psicológico da doutrina.
Por fim, para encerrar essa parte sobre o budismo, comentarei brevemente num esquema algumas os principais ramos budistas:
- Hinayana ("pequeno veículo"): foi o termo dado as escolas antigas ou tradicionais, consistindo nas escolas mais antigas surgidas algumas décadas depois da morte de Buda. Na prática, as escolas do ramo Hinayana presavam pelo conservadorismo a doutrina original, renegando algumas modificações a doutrina. Atualmente a Escola Theravada é a principal representante desse ramo original. Nessas escolas Buda não é visto como uma divindade, e nem salvador, não recebe culto, e a salvação é dever de cada um, através de seu esforço.
- Mahayana ("grande veículo"): segundo a tradição surgiu no século II d.C quando o monge Nargajuna descobriu alguns escritos antigos até então desconhecidos, nos quais ensinavam outros ensinamentos. O ramo do Mahayana se difundiu em várias escolas principalmente na China, embora também se difundiu pela Mongólia, Coreias, Japão e Tailândia. No Mahayana prescreve-se outros meios para se alcançar a salvação. Nessas escolas Buda é visto como o salvador e até recebe veneração, acredita-se que se recitar mantras, praticar meditações, fazer oferendas e sacrifícios pode ajudar no desenvolvimento espiritual. O Mahayana também defende o estado de bodhisattva ("aquele que alcançou a iluminação"), alegando que as pessoas que alcançarem o bodhi, devem ter o dever de instruir os demais, assim como Buda fizera. O Mahayana preza por formas menos conservadoras vida, de rito, e a preza um aumento do companheirismo, da solidariedade. Os chamados Budismo Tibetano ou Lamaísmo, Budismo chinês e Zen budismo se desenvolveram com base nesse ramo, embora com o tempo desenvolveram características diferentes.
- Vajrayna ("caminho do diamante"): O ramo do vajrayna ou budismo tântrico surgiu a partir de algumas escolas mahayanas que passaram a dar maior ênfase ao esoterismo e a magia. De fato as escolas vajrayna ensinam que através da leitura de alguns textos litúrgicos e esotéricos, na recitação de alguns mantras, na realização de algumas cerimônias e ritos, isso conduza para um bom karma. Nessas escolas também se cultua outras divindades.
1) Breve histórico
Das religiões indianas mencionadas neste texto, o silkhismo é a mais jovem delas, tendo surgida no final do século XV e começo do XVI. O idealizador dessa nova fé foi o Guru Nanak (1469-1539) o qual passou a pregar na região do Punjab uma crença baseada no monoteísmo. Nanak era filho de Mehta Kalu e Mata Tripta, ele possuía uma irmã mais velha chamada Bibi Nanaki. Eles viviam em Lahore, na época Índia, mas hoje no Paquistão. Consistiam numa família hindu, logo, cultuavam os deuses do hinduísmo e seguiam os costumes hindus. No entanto, muitos muçulmanos viviam nessa época pela região, e o pai de Nanak trabalha para um nobre chamado Rai Bular Bullati.
Pintura retratando Guru Nanak. |
Durante a sua adolescência na qual ele viveu em Saltapur, em companhia de sua irmão e seu cunhado, Nanak passou a se dedicar ao estudo religioso, lendo os textos sagrados hindus, provavelmente também o Alcorão. Em 1487 ele se casou com Nanak Mata Sulakkhani, com que teve dois filhos, Sri Chand (1494-1529) e Lakhmi Chand (1497-1555). Cerca de nove anos depois deter casado e seus filhos já terem nascido, embora ainda fossem crianças, Nanak decidiu se dedicar ao estudo da espiritualidade, então começou a viajar com a família pela Índia, Paquistão, Afeganistão, Sri Lanka, Tibete e Arábia, em algumas das viagens, a realizou em companhia de amigos e discípulos que acabou fazendo pelo caminho, o fato esse que lhe rendeu o termo de guru ("mestre religioso"), logo, ele passou a ser conhecido como Guru Nanak, e passou a chamar seus seguidores de sikh (discípulo).
Suas viagens são divididas em cinco grandes jornadas chamadas de udasi, sendo que dessas cinco, quatro foram feitas apenas pela Índia, abrangendo também o Tibete e o Sri Lanka, apenas na quinta udasi é que ele viajou para as terras árabes.
Guru Nanak passou a pregar uma nova religião na qual ele dizia que não era nem o islamismo e nem o hinduísmo, mas sim a "verdadeira fé em Deus", pois o Senhor através de visões e sinais lhe revelou a verdade, mostrando que os homens acabaram se distanciando de Deus ao seguir os mandamentos equivocados de outras religiões.
Após a sua morte, seus filhos e discípulos deram continuidade a pregação dessa nova fé, no entanto, foi seu discípulo mais próximo, chamado Bhai Lehna (1504-1552) o qual se tornou seu sucessor oficial, passando a ser chamado de Angad (algo como o "outro eu"). Após o Guru Angad houve mais oito, totalizando Dez Gurus sikh. Desde o século XVIII não houve mais nenhum sikh digno de receber o título de grande guru.
Os Dez Gurus do sikhismo foram:
- Guru Nanak Dev Ji (1469-1539): fundador do sikhismo.
- Guru Angad (1504-1552): responsável por iniciar a escrita dos ensinamentos do Guru Nanak, utilizando o alfabeto gurumikhi ("o que veio da boca do Guru").
- Guru Amar Das (1479-1574): realizou algumas reformas pela liberdade feminina, como não tornando o uso do véu obrigatório.
- Guru Ran Das (1534-1581): comprou um terreno onde se construiu um tanque chamado Amritsar. O local inicialmente serviu como reservatório.
- Guru Arjun (1563-1606): ordenou a construção do templo Harmandir "Templo de Hari", hoje mais conhecido como "Templo de Ouro". Foi erguido dentro do tanque Amritsar. Arjan também foi o responsável por organizar os manuscritos sikhs e criar o livro sagrado chamado Guru Granth Sahib. Foi assassinado pelo imperador mogol Jahangir.
- Guru Hargobind (1595-1645): Adotou uma postura política e militar a fim de proteger os sikh principalmente dos mogóis, os quais governavam parte da Índia na época, sendo eles muçulmanos.
- Guru Har Rai (1630-1661): era neto de Hargobind, mas diferente de seu avô que se engajou na política, Har Rai preferiu se manter afastado das questões políticas e militares, embora manteve o exército criado por seu avô. Combateu a corrupção nas aldeias, destituindo os corruptos e elegendo homens mais honestos, realizou pregações pelo Punjab, investiu recursos para o estudo da medicina, algo que possuía interesse.
- Guru Har Krishan (1656-1664): filho de Har Rai sucedeu o pai ainda na infância, tendo governado por três anos. Har Krishan foi escolhido no lugar de seu irmão mais velho Ram Rai, o qual havia se debandado para o lado dos mogóis. O menino guru faleceu de varíola enquanto liderava uma expedição para tratar de um surto de varíola em Delhi.
- Guru Tegh Bahadur (1622-1676): era tio-avô de Har Krishan, ficou conhecido por ser um guerreiro, tendo participado de algumas das batalhas contra os mogóis, além disso, possuía interesse pelo esoterismo e a magia. Realizou várias viagens pelo Punjab e outras localidades da Índia, acabou entrando em conflito com o imperador mogol Aurangzeb, por se recusar a se converter ao islamismo. O imperador ordenou sua execução.
- Guru Gobind Singh (1666-1708): filho de Tegh Bahadur, tornando-se guerreiro, poeta, filósofo e um líder político. Sob seu governo conseguiu manter a ordem da comunidade sikh e reforçou o exército criando em 1699 a ordem dos Khalsa ("os puros"), a qual reformulou em alguns aspectos os costumes sikh. Participou de várias batalhas até o fim da vida.
2) Aspectos religiosos
Já foi dito que o sikhismo consiste numa mistura do islamismo e do hinduísmo, mas não é bem isso. O próprio Guru Nanak dizia que sua fé era autêntica (embora de fato exista algumas influências), onde ele "descobriu" o "verdadeiro caminho" para se reaproximar de Deus. No entanto Guru Nanak não negava que nas outras religiões houvessem condutas e princípios religiosos os quais deveriam ser tomados como exemplares.
No sikhismo se considera que exista apenas um deus verdadeiro, mas sua grandiosidade é tão imensa que o ser humano não consegue compreendê-la em seu todo. Nesse sentido, os sikhs não fazem representações de Deus, pois não se conhece sua verdadeira aparência. O deus cultuado pelos sikhs se assemelha em alguns aspectos ao deus dos judeus, cristãos e muçulmanos, embora não se trate da mesma divindade. No caso das similaridades, o deus dos sikh é o Criador de tudo e de todos, ele é onipresente, ele é o Salvador.
No sikhismo a lei do karma é adotada, mas com interpretações diferentes quanto a sua finalidade. O karma do sikhismo acredita que as pessoas possam reencarnar como animais ou plantas dependendo de seu desenvolvimento espiritual e do karma ruim, aqui se nota uma similaridade ao jainismo. Por outro lado, quanto a finalidade do karma, se no hinduísmo e jainismo se expressa através do moskha (libertação) para se assim viver nos Céus, e por sua vez no budismo é o nirvana, no qual se vive a "existência verdadeira", no sikhismo ao se por fim a samsara, o sikh volta a se unir a Deus, volta a viver ao seu lado. Deus é conhecido como Onak ("Universal").
A meta não é ascender aos mundos celestiais ou apenas se livrar do sofrimento, mas voltar a conviver com o Criador, o qual também é a fonte de toda a bondade e paz do universo. O sikh acredita que através das reencarnações nos são fornecidas possibilidades de poder expiar nosso egoísmo, egocentrismo e pecados, de forma a purificar nossas almas e assim possamos conseguir adentrar a Casa do Pai.
Para eles os homens viviam em harmonia com deus, mas eles deixaram que o egocentrismo (haumai) cresce-se em seus corações e isso os fez se distanciar de Deus, e o Senhor como punição lhes sentenciou as reencarnações. A samsara pode ser vista com um objetivo dual, ela é ao mesmo tempo o "instrumento" de punição, mas também a forma de salvação. Deus atenderá aqueles que o procurarem, mas aqueles que continuarem a rejeitá-lo, continuaram a sofrer em suas reencarnações. A ideia de Inferno não é considerada pelos sikhs, eles não reconhecem o misticismo e o sobrenatural, existe apenas a Terra é o Paraíso. O "inferno" está na própria Terra, que eles chamam de maya (ilusão).
Além do egocentrismo como causa do infortúnio do homem, o sikhismo reconhece o que ele considera os Cinco Males ou Cinco Ladrões (Panj Dosh). A ideia de ladrão vem no sentido que estes males roubam a pureza da alma, e por sua vez apartam a humanidade de Deus. Eles são:
- Kam: luxúria
- Krodh: raiva
- Lobh: ganância
- Moh: apego as coisas mundanas, ilusão, ignorância
- Hankaar: soberba
- Nam Japam: pensar sempre em Deus, tendo nele a figura de seu criador, salvador e senhor. Se opõe ao moh e ao hankaar.
- Kirt Karni: trabalhar e viver honestamente, e de forma pacífica e saudável. Se opõe ao kam, lobh e o krodh.
- Vand Chhakna: praticar a caridade, a fraternidade e a benevolência. Se opõe ao lobh, krodh e o hankaar.
O sikhismo discorda do sistema de castas do hinduísmo, na prática eles não seguem o sistema, mas possuem suas próprias formas de divisão social. Um dos motivos para se discordar das castas é que para os sikhs, Deus criou todos os homens e mulheres iguais, mas foi o próprio ser humano que criou as diferenças. Pelo fato dos sikhs não acreditarem que Brahma seja um deus verdadeiro, é inconcebível que as castas tenham um embasamento de origem religiosa.
Além desse reconhecimento contra as castas, o Guru Nanak também pregou o que foi chamado de "cozinha comunitária", onde se serviam refeições públicas a comunidade, mas principalmente aos pobres, como forma de por em prática os preceitos da fraternidade, amizade, caridade e generosidade.
Os sikhs seguem alguns hábitos curiosos, por exemplo, os homens devem sempre utilizar turbantes ou cobrir os cabelos, jamais devem cortar o cabelo e a barba, aqueles que o fazem, são chamados de patit (renegados), e são mal vistos na comunidade. Alguns homens ainda portam consigo sabres, as espadas que se tornaram símbolo para esse povo, embora em geral, nem todos os homens portem espadas consigo. As mulheres não precisam usar véu, mas usam um lenço para cobrir os cabelos.
Os sikhs presam muito pelo casamento e a instituição familiar, a vida de solteiro se não for no sacerdócio, não é algo bem quisto. Para eles a união, a fraternidade e amizade se iniciam no lar, e deste seguem para outros lugares. Com exceção dos grupos radicais, em geral os sikh são tolerantes com outras religiões e culturas, embora a maioria viva na Índia existem comunidades nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, etc.
Outro aspecto cultural dos sikh se encontra na ordem do Khalsa, instituída pelo décimo guru como já mencionado. O Khalsa reforça algumas práticas da moral e da religião sikh, embora nem todos os sikh sejam iniciados nessa ordem, eles podem utilizar seus símbolos. Os iniciados passam por uma cerimônia para adentrarem a essa ordem, e sendo aceito eles passam adotar novos nomes, onde se acrescenta no caso dos homens a palavra singh (leão) e para as mulheres, kaur (princesa), isso é uma forma de mostrar que eles pertencem a Ordem Khalsa, e que são sikhs.
O sikh iniciado segue cinco princípios, os chamado Cinco K (Panj Kakkaar):
Além desse reconhecimento contra as castas, o Guru Nanak também pregou o que foi chamado de "cozinha comunitária", onde se serviam refeições públicas a comunidade, mas principalmente aos pobres, como forma de por em prática os preceitos da fraternidade, amizade, caridade e generosidade.
Os sikhs seguem alguns hábitos curiosos, por exemplo, os homens devem sempre utilizar turbantes ou cobrir os cabelos, jamais devem cortar o cabelo e a barba, aqueles que o fazem, são chamados de patit (renegados), e são mal vistos na comunidade. Alguns homens ainda portam consigo sabres, as espadas que se tornaram símbolo para esse povo, embora em geral, nem todos os homens portem espadas consigo. As mulheres não precisam usar véu, mas usam um lenço para cobrir os cabelos.
Os sikhs presam muito pelo casamento e a instituição familiar, a vida de solteiro se não for no sacerdócio, não é algo bem quisto. Para eles a união, a fraternidade e amizade se iniciam no lar, e deste seguem para outros lugares. Com exceção dos grupos radicais, em geral os sikh são tolerantes com outras religiões e culturas, embora a maioria viva na Índia existem comunidades nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, etc.
Outro aspecto cultural dos sikh se encontra na ordem do Khalsa, instituída pelo décimo guru como já mencionado. O Khalsa reforça algumas práticas da moral e da religião sikh, embora nem todos os sikh sejam iniciados nessa ordem, eles podem utilizar seus símbolos. Os iniciados passam por uma cerimônia para adentrarem a essa ordem, e sendo aceito eles passam adotar novos nomes, onde se acrescenta no caso dos homens a palavra singh (leão) e para as mulheres, kaur (princesa), isso é uma forma de mostrar que eles pertencem a Ordem Khalsa, e que são sikhs.
O sikh iniciado segue cinco princípios, os chamado Cinco K (Panj Kakkaar):
- Kesh: cobrir a cabeça com um turbante (homens) ou um lenço (mulheres). Tal prática é considerada uma forma de respeito a Deus.
- Kanga: um pequeno pente de madeira utilizado simbolicamente diariamente para se pentear os cabelos e a barba. Simboliza a limpeza, pureza, disciplina e ordem.
- Kara: consiste numa pulseira de aço sem nenhum tipo de ornamento. Ele simboliza a união do sikh com sua comunidade e sua religião.
- Kaccha: consiste na roupa de baixo. No caso específico do homem trata-se de um calção que também pode ser utilizado como roupa de cima, por não se parecer necessariamente como uma cueca. Tanto para o homem quanto para a mulher com sua vestimenta feminina, simboliza a integridade, o respeito, o auto-controle.
- Kirpan: punhal ou uma pequena espada, mais usada apenas pelos homens, e na Índia, pois em outros países e passível de suspeita. Tal arma é utilizada para a proteção do indivíduo ou de outros. O kirpan simboliza a segurança, mas também a solidariedade, pois um sikh só deve usá-lo para se defender ou defender alguém em perigo, ele não deve tomar essa arma como agente para intenções agressivas.
Por sua vez o sikh que pertence ao Khalsa também deve seguir algumas restrições:
- Não comer nenhuma carne que não seja preparada segundo o corte muçulmano (trata-se aqui em um costume, mas não numa prática religiosa)
- Não fumar ou usar drogas;
- Não praticar fornicação e nem adultério;
- Não cortar os cabelos e a barba, e no caso das mulheres não fazer as sobrancelhas.
Sikhs do Khalsa participando de um desfile ligado as suas atividades. |
O Templo de Ouro em Amristar, Índia. Consiste no mais importante templo do sikhismo. Anualmente se faz peregrinações ao local. |
Um sikh fazendo a leitura do Guru Granht Sahib. Muito dos livros nos templos são manuscritos, sendo que o primeiro só foi impresso no século XIX. |
NOTA: O combate entre deuses e heróis contra serpentes e dragões é um tema recorrente em várias religiões em mitologias antigas. Na mitologia grega Zeus enfrentou o titã Tifão o qual possuía serpentes que brotavam de seus gigantescos braços; Apolo derrotou a serpente gigante Píton, e Hércules derrotou a Hidra de Lerna, um dragão de várias cabeças. Na mitologia escandinava Thor confrontou a terrível Serpente do Mundo, Jormungand. Em alguns dos poemas heroicos escandinavos há a história da luta do herói Sigurd (ou Siegrified) contra o dragão Fafnir. Na Babilônia, o deus Marduk confrontou o dragão Tiamat; para os antigos egípcios o deus-sol Rá todas as noites confrontava a serpente demoníaca Apófis. Os sumérios contavam história do duelo entre o deus Ninurta e o monstro Asag. Os iranianos contavam as histórias de seu valente herói Thraêtaona que confrontou a besta serpentífera Azhi-dahâka. Na religião/mitologia japonesa o deus Susanoo derrotou o terrível dragão de oito cabeças Yamata no Orochi. Também se pode mencionar a lenda cristã sobre a luta entre São Jorge e o dragão.
NOTA 2: Brahman é o nome de uma raça bovina. Por sua vez brahma é também o nome de uma raça de galináceos. Todavia, ambas as palavras não estão relacionadas ao conceito religioso de brâman.
NOTA 3: A cosmologia hindu concebe que a história do mundo está dividida em grandes eras (yugas), que juntas formam um ciclo do Manvatara que equivale a 4.320.000 milhões de anos. É dito que um Dia de Brahma é formado por 14 Mavantara ou Kalpa, o que totaliza um período de 4 bilhões 320 milhões de anos. No atual Manvatara que vivemos as yugas (eras) são respectivamente em ordem cronológica: Krita Yuga (1.728.000 anos), Tetra Yuga (1.296.000 anos), Dvâpara Yuga (864.000 anos) e o Kali Yuga (432.000 anos). Atualmente vivemos no período do Kali Yuga o qual se iniciou após a morte de Krishna no século XXXII a.C. Quando o Kali Yuga chegar ao fim, virá um período de transição chamado Sandhis, até que se inicie um novo ciclo do Mavantara.
NOTA 4: Há alguns seriados famosos baseados no Mahabharata, o primeiro que teve 94 episódios sendo exibidos de 1988 a 1990, inclusive foi exibido no Reino Unido pela BBC. O segundo intitulado Kahaani Hamaaray Mahabharata Ki, teve 75 episódios, sendo exibido de 2008 a 2009, e mais recentemente temos um novo seriado que estreou em 2013 e está atualmente em exibição.
NOTA 5: No caso do Ramayana também se produziu alguns seriados. O primeiro foi transmitido de 1987 a 1988, contendo 78 episódios. O segundo seriado foi exibido de 2008 a 2009, possuindo 300 episódios de 20 minutos, em comparação a 45 minutos dos outros seriados. O mais recente foi exibido de 2012 a 2013, tendo 56 episódios.
NOTA 6: Além de ser adaptado para a televisão, o Ramayana e o Mahabharata também possuem filmes e desenhos.
NOTA 7: O Lamaísmo ou budismo tibetano considera que os Dalai Lama sejam reencarnações de um Buda. Atualmente Tenzin Gyatso é o décimo quarto Dalai Lama.
NOTA 8: O Lamaísmo e a escola budista que possui a organização eclesiástica mais bem estruturada. O Dalai Lama além de ser um líder espiritual, também é o líder político do Tibete, embora o governo chinês e outras nações não reconheçam sua autoridade política sobre a província chinesa do Tibete.
Referências bibliográficas:
CHALLAYE, Félicien. As grandes religiões. Tradução de Alcântara Silveira. São Paulo, IBRASA, 1981. (Coleção Gnose - 1).
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas: da Idade da Pedra aos Mistérios de Elêusis, tomo I: Dos Vedas a Dioniso, vol. 2. Tradução Roberto Cortes de Lacerda. 2a ed, Rio de Janeiro, Zahar, 1983.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 4, São Paulo, Nova Cultural, 1998. p. 880.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 14, São Paulo, Nova Cultural, 1998. p. 3298.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 22, São Paulo, Nova Cultural, 1998. p. 5374.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 24, São Paulo, Nova Cultural, 1998. p. 5895.
PAYER, Alois. Buda. Tradução de Ivo Martinazzo. In: BRUNNER-TRAUT, Emma (org.). Os fundadores das grandes religiões. Petrópolis, Vozes, 1999.
NOTA 2: Brahman é o nome de uma raça bovina. Por sua vez brahma é também o nome de uma raça de galináceos. Todavia, ambas as palavras não estão relacionadas ao conceito religioso de brâman.
NOTA 3: A cosmologia hindu concebe que a história do mundo está dividida em grandes eras (yugas), que juntas formam um ciclo do Manvatara que equivale a 4.320.000 milhões de anos. É dito que um Dia de Brahma é formado por 14 Mavantara ou Kalpa, o que totaliza um período de 4 bilhões 320 milhões de anos. No atual Manvatara que vivemos as yugas (eras) são respectivamente em ordem cronológica: Krita Yuga (1.728.000 anos), Tetra Yuga (1.296.000 anos), Dvâpara Yuga (864.000 anos) e o Kali Yuga (432.000 anos). Atualmente vivemos no período do Kali Yuga o qual se iniciou após a morte de Krishna no século XXXII a.C. Quando o Kali Yuga chegar ao fim, virá um período de transição chamado Sandhis, até que se inicie um novo ciclo do Mavantara.
NOTA 4: Há alguns seriados famosos baseados no Mahabharata, o primeiro que teve 94 episódios sendo exibidos de 1988 a 1990, inclusive foi exibido no Reino Unido pela BBC. O segundo intitulado Kahaani Hamaaray Mahabharata Ki, teve 75 episódios, sendo exibido de 2008 a 2009, e mais recentemente temos um novo seriado que estreou em 2013 e está atualmente em exibição.
NOTA 5: No caso do Ramayana também se produziu alguns seriados. O primeiro foi transmitido de 1987 a 1988, contendo 78 episódios. O segundo seriado foi exibido de 2008 a 2009, possuindo 300 episódios de 20 minutos, em comparação a 45 minutos dos outros seriados. O mais recente foi exibido de 2012 a 2013, tendo 56 episódios.
NOTA 6: Além de ser adaptado para a televisão, o Ramayana e o Mahabharata também possuem filmes e desenhos.
NOTA 7: O Lamaísmo ou budismo tibetano considera que os Dalai Lama sejam reencarnações de um Buda. Atualmente Tenzin Gyatso é o décimo quarto Dalai Lama.
NOTA 8: O Lamaísmo e a escola budista que possui a organização eclesiástica mais bem estruturada. O Dalai Lama além de ser um líder espiritual, também é o líder político do Tibete, embora o governo chinês e outras nações não reconheçam sua autoridade política sobre a província chinesa do Tibete.
Referências bibliográficas:
AEGERTER, Emmanuel. As grandes religiões. Tradução de Yolanda Leite. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, 1957.
BORGES, José Luiz. Buda. Tradução de Alicia Jurado, São Paulo, Difel, 1977.
BUCK, William. Mahabharata. Tradução Carlos Afonso Malferrari. São Paulo, Círculo do Livro S.A, 1973. BORGES, José Luiz. Buda. Tradução de Alicia Jurado, São Paulo, Difel, 1977.
CHALLAYE, Félicien. As grandes religiões. Tradução de Alcântara Silveira. São Paulo, IBRASA, 1981. (Coleção Gnose - 1).
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas: da Idade da Pedra aos Mistérios de Elêusis, tomo I: Dos Vedas a Dioniso, vol. 2. Tradução Roberto Cortes de Lacerda. 2a ed, Rio de Janeiro, Zahar, 1983.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 4, São Paulo, Nova Cultural, 1998. p. 880.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 14, São Paulo, Nova Cultural, 1998. p. 3298.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 22, São Paulo, Nova Cultural, 1998. p. 5374.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 24, São Paulo, Nova Cultural, 1998. p. 5895.
PAYER, Alois. Buda. Tradução de Ivo Martinazzo. In: BRUNNER-TRAUT, Emma (org.). Os fundadores das grandes religiões. Petrópolis, Vozes, 1999.
WELLS, H. G. História Universal - volume II.
São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1966. (Capitulo XXIV, pp. 101-110).
ZIMMER, Heinrich. Mitos e símbolos na arte e civilização da Índia. Compilado por Jospeh Campbell. Tradução de Carmen Fischer. São Paulo, Palas Athena, 1989.
Links para download ou leitura das obras:
Mahabharata - online (hindi)
Mahabharata (inglês)
Mahabharata (português)
Vedas, Upanishads, Puranas, Bramanas - download (inglês)
Ramayana (inglês)
Ramayana (português)
Guru Granth Sahib Ji (inglês)
Buddhist sutra (inglês)
Tipitaka (inglês)
Jain Agamas (inglês)
LINKS:
Sociedade Budista do Brasil
Casa de Dharma
Centro de Estudos Budistas Nalanda
Diamond Way Buddhism
Dalai Lama - homepage
Sikhs
Shik Museum History
Jainworld
Heart of Hinduism
História das Religiões - Hinduísmo (dublado em português)
História das Religiões - Budismo (dublado em português)
ZIMMER, Heinrich. Mitos e símbolos na arte e civilização da Índia. Compilado por Jospeh Campbell. Tradução de Carmen Fischer. São Paulo, Palas Athena, 1989.
Links para download ou leitura das obras:
Mahabharata - online (hindi)
Mahabharata (inglês)
Mahabharata (português)
Vedas, Upanishads, Puranas, Bramanas - download (inglês)
Ramayana (inglês)
Ramayana (português)
Guru Granth Sahib Ji (inglês)
Buddhist sutra (inglês)
Tipitaka (inglês)
Jain Agamas (inglês)
LINKS:
Sociedade Budista do Brasil
Casa de Dharma
Centro de Estudos Budistas Nalanda
Diamond Way Buddhism
Dalai Lama - homepage
Sikhs
Shik Museum History
Jainworld
Heart of Hinduism
História das Religiões - Hinduísmo (dublado em português)
História das Religiões - Budismo (dublado em português)
Um comentário:
A quem interessar possa, existe o Ramayana completo em português para download gratuito no scribd (https://pt.scribd.com/doc/282698545/o-Ramayana-de-Valmiki) e também no slideshare (http://pt.slideshare.net/JoaoSiberio/o-ramayana-de-valmiki).
Postar um comentário