O latim é uma das línguas mais versáteis e de expressividade na história humana. Mesmo que nos dias de hoje o latim seja tido como uma língua morta, pelo fato de não ser um idioma usado para a comunicação diária seja falada e escrita, mas é usado principalmente para questões de estudo como no direito, taxonomia, medicina, literatura etc., seu legado histórico é incontestável. E neste simples texto esbocei um pouco de sua história, falando a respeito da sua difusão na Antiguidade através da expansão de Roma, passando para comentar a respeito do surgimento de algumas das línguas neolatinas, além de enumerar dialetos surgidos a partir de tais línguas.
Língua nacional e dialeto:
Ao longo do texto usei várias vezes os termos língua e dialeto, logo se faz necessário explicar qual seria a diferença de ambos. Dialetos e línguas são idiomas, neste caso, idioma é entendido como um conjunto de diferentes tipos de linguagens, indo além da fala e da escrita. Sendo assim, dialetos podem não apenas serem falados, mas também escritos e até mesmo possuírem gramática e dicionários.
A palavra dialeto vem do grego diálektos, termo usado para se referir ao modo de falar. Neste caso na Grécia Antiga havia vários dialetos gregos sendo falados pela península, as ilhas e nas colônias. Posteriormente o conceito foi sendo melhor elaborado. Hoje em dia dialeto é empregado para se referir a uma variedade linguista regional ou local, podendo ser este dialeto uma variação de uma língua, de outro dialeto (subdialeto) ou até mesmo uma língua totalmente diferente. (MAURO; LODI, 1979, p. 79).
Por exemplo, o italiano surge do dialeto florentino, sendo que o florentino era um subdialeto do toscano. Por sua vez, o florentino possuía algumas peculiaridades com o napolitano e o corso, mas apresentava diferenças significativas do piemontês, do franco-provençal e do romanche. Todos estas línguas eram faladas na península itálica, em determinadas regiões, o que revela a característica do dialeto de ser uma linguagem restrita da determinadas áreas e comunidades. Inclusive uma mesma comunidade poderia falar vários dialetos, ou utilizar um deles para a fala e outro para a escrita.
Como veremos, na França e na Itália se desenvolveram dezenas de dialetos, alguns possuíam semelhanças com o francês e o italiano, mas outros eram bem diferentes. Em geral a diferença no dialeto se encontra principalmente no jeito de falar, não necessariamente no sotaque, mas no emprego das conjunções, tempos verbais, gírias, vícios de linguagem, estrangeirismos etc. Mas é preciso alertar para não confundir certas maneiras de falar como sendo dialetos. Alguns dialetos chegaram até mesmo a serem escritos como o galego-português e o provençal, tornando-se marcos para a literatura de suas regiões.
Mas em todos os casos, os dialetos eram falares regionais, restritos a determinadas cidades, províncias, territórios, comunidades etc. De fato as línguas neolatinas começaram como dialetos até finalmente suplantarem ou se sobressaírem diante de outros dialetos, passando a serem reconhecidos como língua nacional.
"Uma língua nacional é um idioma que responde a todas as necessidades de uma sociedade. Essas necessidades variam conforma a época, alterando-se fortemente os pesos relativos do discurso técnico, estético, religioso, legal etc". (ILARI, 2000, p. 215).
Seguindo a definição de Rodolfo Ilari, língua nacional consiste no idioma adotado para representar uma sociedade, povo, nação e país de forma a unificar a população em termos administrativos, políticos, literários, judiciais, econômicos, intelectuais etc. O francês, o espanhol e o italiano deixaram de ser dialetos nesse sentido, quando governantes, estudiosos, a Igreja etc., passaram a usar tais línguas para servirem de referência para seus reinos e territórios vizinhos.
O latim vulgar?
Ainda hoje encontramos pessoas defendendo que as línguas neolatinas: português, espanhol, francês, italiano, romeno, galego e catalão seriam oriundos do chamado "latim vulgar", o qual basicamente se trataria do latim falado pelo povo inculto. Tratava-se da língua falada pelos pobres e os de baixo nível de escolaridade, pois esse se diferenciaria do chamado "latim literário", a língua usada na escrita, principalmente na literatura, a qual era gramaticamente mais correta, inclusive mais poética e bela de se pronunciar. Todavia, na primeira metade do século XX, um dos maiores filólogos, linguistas e gramáticos do Brasil, o professor Serafim da Silva Neto (1917-1960), escreveu mais de vinte livros abordando a formação do latim, a origem e desenvolvimento de algumas línguas neolatinas, principalmente do português.
Quem tiver interesse em conhecer mais afundo o desenvolvimento da língua latina, recomendo ler o vasto trabalho de Serafim da Silva Neto, aqui apresentarei de forma breve, os pareceres do professor Serafim quanto ao conceito de latim vulgar. Para ele, o termo "latim vulgar" era um grande equivoco, uma invenção criada por volta do XIX por filólogos da época, no intuito de destacar o latim escrito do latim falado. Enquanto punham num pedestal a literatura romana, em contrapartida, escanteavam a língua falada. (SILVA NETO, 1957, p. 39-40).
Em seu livro História do latim vulgar (1957), de forma extensa ele apresentou obras e comentários de vários estudiosos dos séculos XIX e XX acerca da definição de latim vulgar, concordando com alguns deles, mas descordando da maioria. Para ele o grande erro de muitos filólogos desse período era se esquecer ou não levar em consideração que a língua naturalmente modifica-se, que ela se encontra em constante alteração e evolução, ao mesmo tempo em que para se estudar uma língua deve-se conhecê-la tanto no âmbito da fala quanto da escrita, principalmente da fala, se pensarmos que no mundo antigo, poucas pessoas sabiam escrever e ler.
"O latim falado no tempo de Énio não é o mesmo dos contemporâneos de Cícero, nem o desse tempo é idêntico ao de São Jerônimo. O francês de Villon não é o de Anatole France. O português de onde D. Dinis extraia as suas cantigas de amor e de amigo não é o de Camões, nem o deste é o mesmo de Herculano". (SILVA NETO, 1988, p. 13-14).
Para ele o "latim vulgar" era um termo acrônico e demasiadamente generalizante, pois se o "latim vulgar" se referiria ao falar das camadas sociais educadamente desfavorecidas, isso por si só é um problema. Uma pessoa pobre que mora na cidade, não fala da mesma forma que um camponês analfabeto. Assim como uma pessoa pobre, mas que é alfabetizado e tenha recebido alguma instrução, falará diferente. (SILVA NETO, 1957, p. 47-49).
A diferença apontada por Serafim da Silva não se refere ao fato de tais pessoas falarem outra língua, mas se expressarem de forma diferente usando o mesmo idioma. Dependendo do lugar e da época, o sotaque, as gírias, os vícios de linguagem, as expressões coloquiais, a forma de pronunciar as palavras muda. Para Serafim isso tudo seria a "língua do povo", mas nota-se que ela possui diversidade, e isso não é destacado ou considerado quando se emprega o termo "latim vulgar", o que sugere que tais diferenças não existiriam, e a única diferença existente estaria entre o latim falado pelos pobres, o falado pelos ricos e o escrito. (SILVA NETO, 1957, p. 22).
"Na conceituação do chamado latim "vulgar" - designação, como se sabe, mais do que imprópria - consiste o equívoco precisamente em que nós partimos do latim literário, tomando-o por base e ponto de referência. Na verdade, porém, devemos partir da língua falada, do latim coletivo, de onde se forjaram os vários latins individuais que constituem a língua literária e a língua falada que é o verdadeiro latim". (SILVA NETO, 1988, p. 108).
Nesse ponto, Serafim da Silva também alerta que a noção de "latim vulgar" seja quase anacrônica, pois se a língua se altera ao longo do tempo como ele salientou, significaria que o "latim vulgar" seria um monólito linguístico que não sofreu alterações ao longo dos séculos? Significa que o camponês do começo da república, falaria o mesmo latim de um camponês do final do império, tendo em mente que temos quase mil anos de distância entre ambos? Não obstante, esse tal "latim vulgar" englobaria o falar de todas as camadas pobres do vasto Império Romano, o qual possuía terras em três continentes? Essas são só algumas perguntas que Serafim fez para apresentar que o termo "latim vulgar" não é correto.
Entre os próprios romanos já havia a noção de que o latim falado não era o mesmo. Eles usavam a palavra sermo para se referir a fala, assim encontramos menções ao sermo cottidianus, usualis ou familiaris (fala cotidiana), sermo rusticus (fala do campo), sermo urbanitas (fala da cidade ou da elite), sermo peregrinus (fala do viajante/estrangeiro), sermo plebeius (fala da plebe), sermo provincialis (fala da província), sermo militaris ou castrensis (fala dos militares), sermo litterarius ou classicus (literatura latina) etc. Tais expressões eram usadas para designar as diferentes formas de como o latim era falado, mas nota-se que não se diferenciavam a partir de classes sociais como muitos teóricos apontavam.
"É de crer mesmo que os mais finos e nobres aristocratas empregassem, em determinadas circunstâncias, o sermo familiaris. Cabe aqui, como uma luva, aquela sutil observação de Schuchardt: "O mesmo homem serve-se de uma língua quando conversa com o escravo sobre as compras para a ceia, usa outra se convida, num bilhete, um amigo, ainda emprega outra se escreve ode em glorificação de um príncipe ou da amada". (SILVA NETO, 1957, p. 27).
Neste caso Serafim da Silva defendia que as línguas românicas surgiram do latim falado, fosse esse falado pelo comerciantes urbano, pelo camponês, pelo escravo, pelo soldado, pelo juiz, pelo político, pelo artista, pelo aristocrata, pelo nobre, pelo filósofo, pelo poeta, enfim, não foi o latim literário que originou as línguas neolatinas ou românicas, pois a língua escrita demora mais para sofrer alterações, enquanto a língua falada é mais versátil e mais receptível a estrangeirismos e alterações na fonética, na conjugação, na semântica etc.
"As línguas românicas são, basicamente, desenvolvimentos do latim: do latim língua transmitida, falada, coletiva, em suma. Esse é o fato fundamental; ao contrário, é acessório e até extra-linguístico, o fato de que, com a decadência político-social do Império, o nível da língua padrão tenha ido progressivamente decrescendo". (SILVA NETO, 1988, p. 108).
Assim, concluindo essa parte, as línguas neolatinas se desenvolveram a partir do latim, aqui não usando as expressões conservadoras e limitadores de "latim vulgar" e nem de "latim literário". O latim como qualquer outra língua era móvel e fluída. O sotaque de Roma não era igual ao sotaque na Sicília, ou na Hispânia ou na Gália. A forma como os legionários falavam na Dácia, no Egito, na Líbia, na Judeia, conteriam palavras, gírias, sotaques e expressões diferentes. Sem contar como veremos adiante que o próprio latim foi ao longo dos séculos sendo influenciado por várias línguas antes de originar novos idiomas.
"O latim representa, na essência, o dialeto de Roma imposto às mais distantes regiões". (SILVA NETO, 1957, p. 21).
A expansão do latim:
"A divisão adotada pela Glotologia (ciência que tem por objeto a origem, a classificação e o desenvolvimento da Linguagem), distribui as línguas até hoje faladas pela Espécie Humana, em grupos ou famílias". (QUEIROZ, 1976, p. 29).
O latim é uma língua de origem da família indo-europeia, uma das famílias linguísticas mais abrangentes do mundo, vários idiomas e dialetos se originaram entre a Índia e a Europa, por isso o termo indo-europeu, todavia, ao longo de séculos, línguas surgiram e outras se perderam. (QUEIROZ, 1976, p. 33). Das línguas indo-europeias faladas na Europa, destacam-se seis subgrupos:
O latim era a língua falada na região do Lácio ou Latium, assim seus habitantes eram chamados de lácios ou latinos. Essa pequena região por muito tempo não esboçou grande expressividade, na verdade desconhece-se em que período o latim surgiu, os documentos mais antigos escritos em latim que se conhece, datam do século VII a.C, época nos primórdios do Reino de Roma (753-508 a.C). Tal inscrição nomeada Fíbula Preneste, contém uma breve frase, na qual está escrita MANIOS MED FHEFHAKED NVMASIOI (Manius me fecit Numerio/Mânio me fez Númerio). Além dessa citação foram encontradas outras breves inscrições de período próximo, consistindo nos relatos escritos mais antigos que se conhece do latim. Inclusive se percebe como a grafia das das palavras e dos nomes próprios era diferente. (BASSETTO, 2013, p. 89).
Língua nacional e dialeto:
Ao longo do texto usei várias vezes os termos língua e dialeto, logo se faz necessário explicar qual seria a diferença de ambos. Dialetos e línguas são idiomas, neste caso, idioma é entendido como um conjunto de diferentes tipos de linguagens, indo além da fala e da escrita. Sendo assim, dialetos podem não apenas serem falados, mas também escritos e até mesmo possuírem gramática e dicionários.
A palavra dialeto vem do grego diálektos, termo usado para se referir ao modo de falar. Neste caso na Grécia Antiga havia vários dialetos gregos sendo falados pela península, as ilhas e nas colônias. Posteriormente o conceito foi sendo melhor elaborado. Hoje em dia dialeto é empregado para se referir a uma variedade linguista regional ou local, podendo ser este dialeto uma variação de uma língua, de outro dialeto (subdialeto) ou até mesmo uma língua totalmente diferente. (MAURO; LODI, 1979, p. 79).
Por exemplo, o italiano surge do dialeto florentino, sendo que o florentino era um subdialeto do toscano. Por sua vez, o florentino possuía algumas peculiaridades com o napolitano e o corso, mas apresentava diferenças significativas do piemontês, do franco-provençal e do romanche. Todos estas línguas eram faladas na península itálica, em determinadas regiões, o que revela a característica do dialeto de ser uma linguagem restrita da determinadas áreas e comunidades. Inclusive uma mesma comunidade poderia falar vários dialetos, ou utilizar um deles para a fala e outro para a escrita.
Como veremos, na França e na Itália se desenvolveram dezenas de dialetos, alguns possuíam semelhanças com o francês e o italiano, mas outros eram bem diferentes. Em geral a diferença no dialeto se encontra principalmente no jeito de falar, não necessariamente no sotaque, mas no emprego das conjunções, tempos verbais, gírias, vícios de linguagem, estrangeirismos etc. Mas é preciso alertar para não confundir certas maneiras de falar como sendo dialetos. Alguns dialetos chegaram até mesmo a serem escritos como o galego-português e o provençal, tornando-se marcos para a literatura de suas regiões.
Mas em todos os casos, os dialetos eram falares regionais, restritos a determinadas cidades, províncias, territórios, comunidades etc. De fato as línguas neolatinas começaram como dialetos até finalmente suplantarem ou se sobressaírem diante de outros dialetos, passando a serem reconhecidos como língua nacional.
"Uma língua nacional é um idioma que responde a todas as necessidades de uma sociedade. Essas necessidades variam conforma a época, alterando-se fortemente os pesos relativos do discurso técnico, estético, religioso, legal etc". (ILARI, 2000, p. 215).
Seguindo a definição de Rodolfo Ilari, língua nacional consiste no idioma adotado para representar uma sociedade, povo, nação e país de forma a unificar a população em termos administrativos, políticos, literários, judiciais, econômicos, intelectuais etc. O francês, o espanhol e o italiano deixaram de ser dialetos nesse sentido, quando governantes, estudiosos, a Igreja etc., passaram a usar tais línguas para servirem de referência para seus reinos e territórios vizinhos.
O latim vulgar?
Ainda hoje encontramos pessoas defendendo que as línguas neolatinas: português, espanhol, francês, italiano, romeno, galego e catalão seriam oriundos do chamado "latim vulgar", o qual basicamente se trataria do latim falado pelo povo inculto. Tratava-se da língua falada pelos pobres e os de baixo nível de escolaridade, pois esse se diferenciaria do chamado "latim literário", a língua usada na escrita, principalmente na literatura, a qual era gramaticamente mais correta, inclusive mais poética e bela de se pronunciar. Todavia, na primeira metade do século XX, um dos maiores filólogos, linguistas e gramáticos do Brasil, o professor Serafim da Silva Neto (1917-1960), escreveu mais de vinte livros abordando a formação do latim, a origem e desenvolvimento de algumas línguas neolatinas, principalmente do português.
Quem tiver interesse em conhecer mais afundo o desenvolvimento da língua latina, recomendo ler o vasto trabalho de Serafim da Silva Neto, aqui apresentarei de forma breve, os pareceres do professor Serafim quanto ao conceito de latim vulgar. Para ele, o termo "latim vulgar" era um grande equivoco, uma invenção criada por volta do XIX por filólogos da época, no intuito de destacar o latim escrito do latim falado. Enquanto punham num pedestal a literatura romana, em contrapartida, escanteavam a língua falada. (SILVA NETO, 1957, p. 39-40).
Em seu livro História do latim vulgar (1957), de forma extensa ele apresentou obras e comentários de vários estudiosos dos séculos XIX e XX acerca da definição de latim vulgar, concordando com alguns deles, mas descordando da maioria. Para ele o grande erro de muitos filólogos desse período era se esquecer ou não levar em consideração que a língua naturalmente modifica-se, que ela se encontra em constante alteração e evolução, ao mesmo tempo em que para se estudar uma língua deve-se conhecê-la tanto no âmbito da fala quanto da escrita, principalmente da fala, se pensarmos que no mundo antigo, poucas pessoas sabiam escrever e ler.
"O latim falado no tempo de Énio não é o mesmo dos contemporâneos de Cícero, nem o desse tempo é idêntico ao de São Jerônimo. O francês de Villon não é o de Anatole France. O português de onde D. Dinis extraia as suas cantigas de amor e de amigo não é o de Camões, nem o deste é o mesmo de Herculano". (SILVA NETO, 1988, p. 13-14).
Para ele o "latim vulgar" era um termo acrônico e demasiadamente generalizante, pois se o "latim vulgar" se referiria ao falar das camadas sociais educadamente desfavorecidas, isso por si só é um problema. Uma pessoa pobre que mora na cidade, não fala da mesma forma que um camponês analfabeto. Assim como uma pessoa pobre, mas que é alfabetizado e tenha recebido alguma instrução, falará diferente. (SILVA NETO, 1957, p. 47-49).
A diferença apontada por Serafim da Silva não se refere ao fato de tais pessoas falarem outra língua, mas se expressarem de forma diferente usando o mesmo idioma. Dependendo do lugar e da época, o sotaque, as gírias, os vícios de linguagem, as expressões coloquiais, a forma de pronunciar as palavras muda. Para Serafim isso tudo seria a "língua do povo", mas nota-se que ela possui diversidade, e isso não é destacado ou considerado quando se emprega o termo "latim vulgar", o que sugere que tais diferenças não existiriam, e a única diferença existente estaria entre o latim falado pelos pobres, o falado pelos ricos e o escrito. (SILVA NETO, 1957, p. 22).
"Na conceituação do chamado latim "vulgar" - designação, como se sabe, mais do que imprópria - consiste o equívoco precisamente em que nós partimos do latim literário, tomando-o por base e ponto de referência. Na verdade, porém, devemos partir da língua falada, do latim coletivo, de onde se forjaram os vários latins individuais que constituem a língua literária e a língua falada que é o verdadeiro latim". (SILVA NETO, 1988, p. 108).
Nesse ponto, Serafim da Silva também alerta que a noção de "latim vulgar" seja quase anacrônica, pois se a língua se altera ao longo do tempo como ele salientou, significaria que o "latim vulgar" seria um monólito linguístico que não sofreu alterações ao longo dos séculos? Significa que o camponês do começo da república, falaria o mesmo latim de um camponês do final do império, tendo em mente que temos quase mil anos de distância entre ambos? Não obstante, esse tal "latim vulgar" englobaria o falar de todas as camadas pobres do vasto Império Romano, o qual possuía terras em três continentes? Essas são só algumas perguntas que Serafim fez para apresentar que o termo "latim vulgar" não é correto.
Entre os próprios romanos já havia a noção de que o latim falado não era o mesmo. Eles usavam a palavra sermo para se referir a fala, assim encontramos menções ao sermo cottidianus, usualis ou familiaris (fala cotidiana), sermo rusticus (fala do campo), sermo urbanitas (fala da cidade ou da elite), sermo peregrinus (fala do viajante/estrangeiro), sermo plebeius (fala da plebe), sermo provincialis (fala da província), sermo militaris ou castrensis (fala dos militares), sermo litterarius ou classicus (literatura latina) etc. Tais expressões eram usadas para designar as diferentes formas de como o latim era falado, mas nota-se que não se diferenciavam a partir de classes sociais como muitos teóricos apontavam.
"É de crer mesmo que os mais finos e nobres aristocratas empregassem, em determinadas circunstâncias, o sermo familiaris. Cabe aqui, como uma luva, aquela sutil observação de Schuchardt: "O mesmo homem serve-se de uma língua quando conversa com o escravo sobre as compras para a ceia, usa outra se convida, num bilhete, um amigo, ainda emprega outra se escreve ode em glorificação de um príncipe ou da amada". (SILVA NETO, 1957, p. 27).
Neste caso Serafim da Silva defendia que as línguas românicas surgiram do latim falado, fosse esse falado pelo comerciantes urbano, pelo camponês, pelo escravo, pelo soldado, pelo juiz, pelo político, pelo artista, pelo aristocrata, pelo nobre, pelo filósofo, pelo poeta, enfim, não foi o latim literário que originou as línguas neolatinas ou românicas, pois a língua escrita demora mais para sofrer alterações, enquanto a língua falada é mais versátil e mais receptível a estrangeirismos e alterações na fonética, na conjugação, na semântica etc.
"As línguas românicas são, basicamente, desenvolvimentos do latim: do latim língua transmitida, falada, coletiva, em suma. Esse é o fato fundamental; ao contrário, é acessório e até extra-linguístico, o fato de que, com a decadência político-social do Império, o nível da língua padrão tenha ido progressivamente decrescendo". (SILVA NETO, 1988, p. 108).
Assim, concluindo essa parte, as línguas neolatinas se desenvolveram a partir do latim, aqui não usando as expressões conservadoras e limitadores de "latim vulgar" e nem de "latim literário". O latim como qualquer outra língua era móvel e fluída. O sotaque de Roma não era igual ao sotaque na Sicília, ou na Hispânia ou na Gália. A forma como os legionários falavam na Dácia, no Egito, na Líbia, na Judeia, conteriam palavras, gírias, sotaques e expressões diferentes. Sem contar como veremos adiante que o próprio latim foi ao longo dos séculos sendo influenciado por várias línguas antes de originar novos idiomas.
"O latim representa, na essência, o dialeto de Roma imposto às mais distantes regiões". (SILVA NETO, 1957, p. 21).
A expansão do latim:
"A divisão adotada pela Glotologia (ciência que tem por objeto a origem, a classificação e o desenvolvimento da Linguagem), distribui as línguas até hoje faladas pela Espécie Humana, em grupos ou famílias". (QUEIROZ, 1976, p. 29).
O latim é uma língua de origem da família indo-europeia, uma das famílias linguísticas mais abrangentes do mundo, vários idiomas e dialetos se originaram entre a Índia e a Europa, por isso o termo indo-europeu, todavia, ao longo de séculos, línguas surgiram e outras se perderam. (QUEIROZ, 1976, p. 33). Das línguas indo-europeias faladas na Europa, destacam-se seis subgrupos:
- Ramo itálico: latim, osco, úmbrio, samnita, sabélico, volsco, auruncos, picenos, mársico, messápico, piceno, falisco, nurágico, sículo etc.
- Ramo helênico: grego, dório, jônio, eólio, acaio, micênico etc.
- Ramo céltico: ibero, franco, bretão, gaulês etc.
- Ramo germânico: alemão, saxão, frísio, holandês, flamengo, inglês, nórdico etc.
- Ramo eslavo: russo, polonês, checo, servo-croata, búlgaro etc.
- Ramo lético: dialetos letões.
Línguas faladas na península itálica e territórios vizinhos antes do século III a.C, quando Roma iniciou sua expansão. |
O latim era a língua de camponeses e pastores de Roma e arredores, e somente ganharia destaque através do povo romano que se desenvolveria na região do Lácio. (SILVA NETO, 1957, p. 16).
"Seu domínio, a princípio, limitava-se ao N, pelo Tibre, a E pelos Apeninos, ao S pela região montanhosa dos volscos e a O pelo mar. Com o tempo, aí se ergueria Roma, que seria o centro linguístico mais importante do domínio". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 3513).
Durante a época do Reino de Roma (753-508 a.C), o domínio romano se limitou apenas ao Lácio, contudo os romanos mantinham contatos com os etruscos ao norte, que passaram a governar Roma no reinado dos últimos três reis (na tradição romana, houveram sete reis, sendo os três últimos de origem etrusca), os umbros a oeste, e os sabinos a sudoeste, contudo isso mudaria no século III a.C, no período da República (508-27 a.C).
Da língua etrusca conhece-se poucas influências, provavelmente houve muito mais devido ao longo contato dos romanos com os etruscos, mas com o passar dos séculos tais influências deixaram de ser visíveis. No entanto sabe-se que os romanos adotaram dos etruscos a tradição de terem um prenome, nome do meio e sobrenome. Além disso alguns nomes como Roma (Ruma) e Tibre (Thepre) podem ser de origem etrusca. (BASSETTO, 2013, p. 100).
"Até meados do IV século antes de Cristo, os romanos pouco haviam ampliado as fronteiras do antigo Lácio. Foi com a guerra contra os samnistas, iniciada em 326 a.C. e terminada com a decisiva batalha de Sentino (295 a.C), que começou a irresistível penetração romana na parte meridional da Península Itálica, concluída em 272 a.C., com a anexação de Tarento. Principia, então, o longo período das conquistas externas. Sucessivamente, vão sendo subjugados os territórios da Sicília (241 a.C), da Sardenha e da Córsega (238 a.C), da Ilíria (229 a.C), da cosa este e sul da Península Ibérica (218-197 a.C), dos reinos helenísticos do Oriente (200-168 a.C), da Gália Cisalpina (191 a.C), da Ligúria (154 a.C), de Cartago e Norte da África (146 a.C), da Macedônia e da Grécia (146 a.C), da Gália Narbonense (118 a.C), da Gália do Norte (50 a.C), da Mésia (29 a.C), do Noroeste da África (25 a.C), do resto da Península Ibérica (19 a.C), da Nórica (19 a.C), da Récia (15 a.C), da Panônia (10 d.C), do resto da Mauritânia (42 d.C), da Bretanha (43 d.C), da Trácia (46 d.C), da Dácia (107 d.C), da Arábia Petréia, da Armênia e da Mesopotâmia (107 d.C)". (CUNHA, 1994, p. 11-12).
Junto a expansão territorial de Roma, o latim foi sendo levado a outras terras. Antes das grandes expansões do século III a.C, o latim já havia sido influenciado pelo etrusco, o umbro, o osco, o sabélico, o grego e outros idiomas e dialetos da península itálica. Merece destaque aqui comentar brevemente a respeito do grego. No ano de 272 a.C, o sul da Itália o qual contava com colônias gregas, foi anexado a república romana. Estudiosos gregos como o poeta Lívio Andrônico encontrou emprego em Roma. Segundo a história conhecida, foi Andrônico o responsável por inaugurar um novo estilo literário na língua latina. Baseado na poesia homérica e no teatro grego, Andrônico e outros poetas gregos e romanos, começaram a traduzir obras do grego para o latim e até mesmo adaptar a métrica e a narrativa grega para a língua latina. Isso levou ao surgimento do chamado sermo litterarius. (BASSETTO, 2013, p. 90).
Não obstante, quando a expansão começou a se dirigir para fora da Itália, o latim começou a entrar em contato com idiomas de outras origens. Por exemplo, ao chegar ao sul da França e a Península Ibérica, o latim fez contato com línguas de origem celta como o galês e o bretão, línguas de origem germânica como o godo, o vândalo, alano, suevo etc., idiomas africanos do norte da África como o berbere e o egípcio. Idiomas asiáticos como o hebreu, persa, sírio etc.
Pelo fato do império romano se estender sobre três continentes, dezenas de línguas e idiomas tiveram contatos com o latim, porém foi apenas na Europa que o latim conseguiu sobreviver a Queda de Roma, vindo a originar outros idiomas. Bruno Bassetto (2013, p. 103-106) comenta que a latinização não foi uma imposição do governo romano, exceto para o caso administrativo, pois as populações dominadas lhe era permitido conservar seus idiomas, religiões, costumes e até mesmo direitos políticos.
A latinização ou romanização se deu segundo Bassetto (2013) sob quatro frentes: a via militar, a colonização, a administração e o comércio. A primeira via, a militar foi uma das mais comuns. Roma para sustentar sua glória necessitava conquistar terras para manter a entrada de recursos e a circulação destes, logo, as legiões eram enviadas para vários cantos da Europa, África e Ásia. Era através dos soldados que o latim chegava ao contato dos povos estrangeiros que estavam sob ataque dos romanos ou eram protegidos por eles. Esse sermo castrensis foi em alguns locais o principal vetor de latinização. Mas além das campanhas, os romanos também ergueram fortificações e fundaram colônias militares para os veteranos, os quais recebiam terras em recompensa aos seus anos de serviço. Além destas colônias militares, havia as colônias civis.
"Dadas as primeiras conquistas, quando os romanos removiam a população vencida, eram instaladas colônias civis para atender às demandas de terras por parte dos plebeus. Com a expansão do Império, essas colônias se multiplicaram em todas as províncias. Podiam ser "romanas", constituídas por cidadãos com todos os direitos (ius suffraggi e ius honorum) ou "latinas", daqueles que só tinham o ius latinum". (BASSETTO, 2013, p. 105).
Posteriormente Roma começou a criar províncias, englobando vastos territórios com várias vilas e cidades. Com isso a administração tornava-se romana e o latim a língua oficial da política. Ao mesmo tempo em que romanos imigravam para tais terras ou a medida que tais províncias aderiam aos costumes romanos, o latim consequentemente ia sendo adotado. No entanto, em algumas províncias orientais isso não ocorreu. Por exemplo, Grécia, Macedônia, Egito, Judeia, Síria e a Ásia Menor mantiveram o grego como principal língua. No caso da Ásia e do Egito o motivo se devia a colonização grega e ao império de Alexandre, o Grande o qual difundiu a língua grega por aquelas terras.
O comércio foi outra via para a difusão do latim. Antes dos romanos chegarem a conquistar determinadas terras, eles já empreendiam comércio com os povos locais a bastante tempo, e dependendo do mercado, os comerciantes passavam a aprender latim para negociar com os romanos. Mas depois que tais lugares eram conquistados, o latim se difundia mais rápido em alguns casos.
Por tais vias o latim se espalhou e com o tempo levou ao surgimento das línguas românicas a partir do romance ou romanço, termos usados para se referir a idiomas oriundos do latim, já que em algumas épocas, os domínios romanos eram conhecidos como România (terra dos romanos).
O latim na Península Itálica:
Por mais que a península Itálica seja a terra natal do latim sua hegemonia como língua nacional durou até o século V. Com o fim do império romano ocidental, o latim começou a sofrer uma série de influências linguísticas locais, regionais e estrangeiras com a migração de povos germânicos como os lombardos, alamanos, godos etc., até que na Idade Média tínhamos uma península cheia de dialetos, a maioria oriundos do latim, do reto-romanço e do romanço-itálico. Neste caso, os filólogos italianos em geral dividem os dialetos italianos em quatro grupos, as vezes inserem-se mais grupos.
No norte temos os dialetos galo-itálicos, os dialetos réticos e os dialetos vênetos. No centro da península predominou os dialetos toscanos, os dialetos centro-meridionais e os dialetos sardos (referentes a ilha da Sardenha). Cada grupo desenvolveu particularidades próprias, embora que os dialetos toscanos sejam aparentados dos dialetos centro-meridionais, por sua vez, os dialetos do norte da península tenham em comum influência de dialetos e línguas celtas, germanas e ilírias.
"Assim, na planície do rio Pó, o substrato lígure ao oeste, celta ao centro e vêneto (ilírico) ao leste, com o superstrato, germânico, sobretudo lombardo, são os fundamentos étnicos que caracterizam os atuais dialetos chamados "alto-itálico" ou "setentrionais" ou ainda "galo-itálicos"; compreendem quatro grupos bastante diferenciados entre si: piemonteses, lombardos, lígures e emiliano-romanholos. A denominação "galo-itálicos" é de Bernardino Biondelli (1804-1886) e foi aceita por Ascoli e outros linguistas". (BASSETTO, 2013, p. 196).
"Os dialetos vênetos têm características diferentes em relação ao galo-itálicos como a ausência de /ü/ e do /ö/ e a conservação de vogais finais, com isso aproximando-se do toscano. Apresentam várias subdivisões, como o veneziano, o veronês, o paduano, o feltrino etc., devendo-se incluir as variantes istrianas de caráter arcaico, faladas em pequenos territórios da Península da Ístria". (BASSETTO, 2013, p. 196-197).
"Os dialetos centro-meridionais se dividem em três blocos, se excluirmos os dialetos toscanos, que formam um grupo à parte: a) os falares das Marcas, da Úmbria e Salentina, Calábria e Sicília. Trata-se de uma grande variedade dialetal, mas que tem várias características comuns. [...]. Os dialetos toscanos, divididos em quatro grupos (florentino, pisano-pistoiense, senense e aretino), são particularmente interessantes por seu caráter conservador e por incluir o florentino, base da língua literária italiana. Ligam-se aos dialetos toscanos as variedades da ilha da Córsega, divididos em dois grupos pela cadeia de montanhas que que atravessa a ilha de noroeste e sudeste: o cismontano, ao nordeste, e o ultramontano, a sudeste". (BASSETO, 2013, p. 197).
"Em 1873, ao publicar seu Saggi Ladini, Graziadio Ascoli chamou a atenção para as semelhanças fonéticas existentes entre alguns dialetos distribuídos por regiões descontínuas da Itália do norte e sul da Suíça, e atribuiu essa semelhança a uma antiga unidade baseada na província romana da Récia, que ocupava, no período de maior expansão do Império Romano, um território correspondente grosso modo à atual Suíça Oriental. Como província linguística, a Récia sofreu sua principal perda territorial no século V com a invasão dos alamanos, mas mesmo depois das grandes migrações de povos na Alta Idade Média o reto-romance foi-se retraindo, pela pressão contínua que exerceram os dialetos alemães ao norte e os italianos ao sul". (ILARI, 2000, p. 189).
"Com uma história política pouco ligada a Itália continental, a Sardenha teve poucos contactos com os dialetos italianos; o latim vulgar da Sardenha desenvolveu falares caracterizados por uma fonética fortemente conservadora. É a esses dialetos, encarados como um sistema à parte, que se faz referência, genericamente, ao falar em "sardo". As principais variedades do sardo são (de norte a sul): o galurês, o sassarês, o logudorês e o campidanês". (ILARI, 2000, p. 187).
No caso da língua italiana essa se originou a partir de um dos dialetos toscanos, no caso o florentino, idioma falado na antiga República de Florença. A partir do florentino o italiano se desenvolveu.
a) italiano
A região da Toscana fica situada quase que no centro da península, localizando-se ao norte do Lácio e de Roma. A cidade mais importante da Toscana e sua capital política, econômica e cultural foi Florença, a qual tornou-se uma república no século XII. Na época que Florença se constituiu-se num Estado independente, o dialeto toscano local já havia ganho variedades na fala, passando a compor o grupo toscano. No entanto, a história do italiano somente começa dois séculos depois.
Em 1321 o poeta Dante Alighieri (1265-1321) concluiu sua obra máxima, a Divina Comédia. Na época o latim ainda era a língua literária e culta, muitos escritores e estudiosos escreviam em latim, embora falassem distintos dialetos de originários do romanço. No entanto Dante fazia parte de um movimento literário da época o dolce stillo nuovo, o qual procurava valorizar o vernáculo em detrimento do latim, embora tomasse grande influência da poesia latina clássica. Assim, a língua que Dante falava no dia a dia era o florentino, e dessa forma ele escolheu o florentino para ser o idioma no qual escreveria sua comédia. Além do florentino, Dante também usou neologismos e variações de palavras advindas do próprio latim e do provençal, duas línguas que admirava. (BASSETTO, 2013, p. 198).
A obra de Dante Alighieri ganhou grande expressividade ainda no século XIV, sendo elogiada pelo poeta e escritor Giovanni Boccaccio (1313-1375) e o poeta, tradutor e humanista Francisco Petrarca (1304-1374). No século XV época na qual Florença tornava-se a capital do Renascimento, escritores, filósofos, intelectuais e demais artistas consideravam que o trabalho literário destes três grandes poetas consistiam na fundação literária da língua italiana. Inclusive, grandes nomes da época como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Nicolau Maquiavel escreviam em florentino, o qual começou a despontar como a língua escrita e intelectual da península. (MAURO; LODI, 1979, p. 29-31).
"Desse modo, a língua literária italiana teve sua gênese característica, diferente dos demais no campo românico; nasceu de fatores meramente literários, não da supremacia política e cultura de um dialeto, como o francês e o castelhano, nem por ser a língua da chancelaria de um reino, como o catalão, nem a variante culta, poética e literária internacional, como o antigo provençal". (BASSETTO, 2013, p. 199).
A medida que Florença ganhou reconhecimento peninsular devido ao Renascimento, o florentino sofreu mudanças e originou o italiano. Todavia, a língua italiana somente imperou na Itália a partir do final do século XIX, antes disso os dialetos regionais e locais ainda eram comumente falados. De todas as línguas neolatinas, o italiano foi o último a conquistar hegemonia e torna-se um idioma nacional. O grande fator disso foi a falta de hegemonia política e cultural na península que por séculos permaneceu dividida em vários Estados independentes e alguns vassalos. Sem contar que os franceses e espanhóis reivindicaram territórios na península em distintos momentos. O próprio Napoleão chegou a fazer isso.
Algumas palavras nos dialetos italianos:
Latim: tempus / nudum / patreum / matreum
Toscano: tempo / nudo / padre / madre
Italiano: tempo / nudo / padre / madre
Piemontês téimp / nüu / pèr / mar
Napolitano: tièmb / annùr / pàt / mat
O latim na Península Ibérica:
Na Península Ibérica surgiram quatro línguas oriundas do latim: o português, o espanhol, o galego e o catalão, mas antes disso tivemos outras línguas hoje extintas, como o romanço hispânico ou romanço ibérico, o romanço lusitano e o galego-português. Mas até essas línguas surgirem na Idade Média, o latim foi alterado incontáveis vezes ao longo de séculos. Aqui veremos um pouco desse processo.
"Os romanos chegara à Península Ibérica no século III a.C, por ocasião da 2a Guerra Púnica, mas só conseguiram dominá-la por completo, ao fim de longas e cruentas lutas, em 19 a.C, quando Augusto venceu a resistência dos altivos povos das Astúrias e da Cantábria". (CUNHA, 1994, p. 15).
Quando os romanos chegaram a península Ibérica a região era habitada por vários povos, alguns ainda hoje desconhecidos ou pouco conhecidos. Entre as população nativas estavam celtas, lígures, iberos, aquitânicos etc., porém, tínhamos povos estrangeiros que já estavam ali estabelecidos a certo tempo, como os gregos e cartagineses. Após os romanos expulsarem os cartagineses, começou a assimilação daquele território e como visto, foi um processo demorado. A Ibéria foi dividida em duas províncias chamadas de Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior. No ano de 27 a.C a península foi dividida em três províncias: Bética, Terracoense e Lusitânia.
O latim continuou a se difundir pela Ibéria, principalmente nas províncias da Bética e de Tarraconensis. A Lusitânia foi uma região na qual o latim demorou a se disseminar por estar mais afastada de Roma, e pela forte resistências das comunidades locais. Inclusive as últimas terras conquistadas pelos romanos foram na Lusitânia e no noroeste de Tarraconensis.
Nessa época, a península que já estava em processo de romanização contava com vários povos: lusitanos, celtiberos, vascões, célticos, galaicos, vetões, oretanos, ástures, lacetanos etc. Basicamente cada um destes povos falava seu idioma ou dialeto. Porém, no século I d.C, o latim já estava difundido por praticamente toda a península. E ele continuaria a ser não apenas a língua administrativa, literária e política, mas o principal idioma a ser falado no cotidiano por mais quatrocentos anos pelo menos. No século IV, o imperador Diocleciano voltou a dividir a Ibéria em cinco províncias: Lusitânia, Bética, Tarraconensis e agora Galécia e Cartaginense.
No começo do século V d.C, a situação da península começou a ganhar novos contornos. O Império Romano visivelmente estava enfraquecido ao ponto que já não conseguia mais barrar o avanço dos chamados "povos bárbaros", os quais começaram a penetrar no império atrás de riquezas e terras. Alguns destes povos os vândalos, suevos, alanos e visigodos, migraram para a Península Ibérica nesse período.
"No ano de 409 invadiram a Espanha os Alanos, Vândalos e Suevos, que três anos antes tinham devastado a Gália sob comando de Radagásio. Em 411 distribuíram-se por diversas regiões da Península, ocupando os Alanos a Lusitânia e a Cartaginense, os Vândalos e os Suevos a Galiza, e a tribo vândala dos Silingos a Bética. Essa ocupação, porém, não foi plena, nem sequer nas províncias preferidas pelos invasores; e fora dela permaneceram grandes extensões de território em posse dos hispano-romanos, e cidades de outras povoações fortificadas, onde a população se mantinha isenta do novo jugo". (SILVA NETO, 1988, p. 317).
Todavia, mesmo com essa ocupação germânica na península, com exceção dos suevos que fundaram um reino que durou mais de cem anos, os alanos e vândalos ficaram poucos anos, tendo sido expulsos pelos romanos e os visigodos. No caso dos visigodos eles compreendiam a dissidência que migrou para o oeste, enquanto a dissidência que migrou para o leste ficou conhecida como ostrogodos. Os godos já mantinham contato com os romanos há alguns séculos, inclusive os que se estabeleceram na Península Ibérica nos idos do século V, já estavam romanizados e cristianizados.
Dessa forma, os romanos e visigodos conseguiram restabelecer a ordem nas províncias ibéricas com exceção do Reino Suevo. Ainda assim, pelo fato dos visigodos já falarem latim, sua língua pouco contribuiu para alterar o latim na época, embora existam palavras godas no latim, mas isso resultado de contatos anteriores. Entre algumas palavras de origem goda que foram assimiladas a língua latina e depois para as línguas românicas estão: bando, elmo, espora, guarda, guerra, rapar, trégua, garbo, mofo, roca, taco, roupa, sítio, fato, estaca, brotar, luva, ganso, agasalhar, aia, íngreme etc. (CUNHA, 1994, p. 19).
Quanto a língua dos alanos, dos vândalos e suevos praticamente nada se sabe se tenha influenciado algo, já que os suevos adotaram o latim em seu reino, e os vândalos e alanos ficaram poucos anos até serem expulsos.
No século VI e VII quando os reis visigodos começaram a serem convertidos ao cristianismo católico, pois antes eram cristãos arianos, nessa época o latim ainda era usado para a escrita e administração em alguns casos, mas na fala, já não se comunicava-se com o latim propriamente, exceto o chamado latim bárbaro, designação dada pelos romanos para se referir a forma grosseira que os "povos bárbaros" falavam latim. Todavia, a língua que estava em voga à época era o romanço hispânico ou romanço ibérico. O qual consistia num idioma desenvolvido a partir do latim e a influência das línguas regionais. (SILVA NETO, 1988, p. 318-319).
Esse romanço continuaria a ser usado por mais dois séculos pelo menos, talvez mais, pois é difícil definir o tempo que uma língua esteve em voga. No começo do século VIII uma nova leva de invasores traria profundas mudanças a península e seus povos romanizados, dessa vez tratava-se de um povo advindo da Ásia e que havia se misturado com os berberes africanos, estes eram os árabes, os quais ficaram mais conhecidos como mouros ou sarracenos.
"Os árabes, sírios e berberes que invadem a Península não trazem mulheres: casam com hispana-godas, têm escravas galegas e bascas. Entre os muçulmanos permanecem muitos hispano-godos, os moçárabes, conservadores do saber isidoriano: uns conseguem certa autonomia; os mais exaltados sofrem perseguições e martírio; outros se islamizam; mas todos influem na Espanha moura, onde se fala romance ao lado do árabe". (CUNHA, 1994, p. 20).
Os árabes permaneceriam na península por quase oitocentos anos. E tão longeva convivência legou várias trocas culturais e centenas de palavras. Os hispano-godos (naquele tempo não eram mais chamados de romanos) que conviviam com os árabes passaram a adotar palavras de sua língua, levando a uma mistura de romanço com árabe, no que originou a língua moçárabe, falada é praticamente todo território dominado pelos árabes. Foi a partir dessa língua que várias palavras acabaram chegando ao português e espanhol. Para mencionar algumas temos: alfange, alcaide, alfres, algarada, aljava, arrebatar, atalaia, ronda, açafrão, açúcar, laranja, azul, escarlate, jasmim, xadrez, limão, alface, alecrim, alfafa, alcachofra, álcool, algodão, almondega, berinjela, alfaiate, almoxarife, almocreve, califa, emir, tambor, alaúde, algoritmo, cifre, álgebra etc. (CUNHA, 1994, p. 20-21).
Da língua etrusca conhece-se poucas influências, provavelmente houve muito mais devido ao longo contato dos romanos com os etruscos, mas com o passar dos séculos tais influências deixaram de ser visíveis. No entanto sabe-se que os romanos adotaram dos etruscos a tradição de terem um prenome, nome do meio e sobrenome. Além disso alguns nomes como Roma (Ruma) e Tibre (Thepre) podem ser de origem etrusca. (BASSETTO, 2013, p. 100).
"Até meados do IV século antes de Cristo, os romanos pouco haviam ampliado as fronteiras do antigo Lácio. Foi com a guerra contra os samnistas, iniciada em 326 a.C. e terminada com a decisiva batalha de Sentino (295 a.C), que começou a irresistível penetração romana na parte meridional da Península Itálica, concluída em 272 a.C., com a anexação de Tarento. Principia, então, o longo período das conquistas externas. Sucessivamente, vão sendo subjugados os territórios da Sicília (241 a.C), da Sardenha e da Córsega (238 a.C), da Ilíria (229 a.C), da cosa este e sul da Península Ibérica (218-197 a.C), dos reinos helenísticos do Oriente (200-168 a.C), da Gália Cisalpina (191 a.C), da Ligúria (154 a.C), de Cartago e Norte da África (146 a.C), da Macedônia e da Grécia (146 a.C), da Gália Narbonense (118 a.C), da Gália do Norte (50 a.C), da Mésia (29 a.C), do Noroeste da África (25 a.C), do resto da Península Ibérica (19 a.C), da Nórica (19 a.C), da Récia (15 a.C), da Panônia (10 d.C), do resto da Mauritânia (42 d.C), da Bretanha (43 d.C), da Trácia (46 d.C), da Dácia (107 d.C), da Arábia Petréia, da Armênia e da Mesopotâmia (107 d.C)". (CUNHA, 1994, p. 11-12).
Junto a expansão territorial de Roma, o latim foi sendo levado a outras terras. Antes das grandes expansões do século III a.C, o latim já havia sido influenciado pelo etrusco, o umbro, o osco, o sabélico, o grego e outros idiomas e dialetos da península itálica. Merece destaque aqui comentar brevemente a respeito do grego. No ano de 272 a.C, o sul da Itália o qual contava com colônias gregas, foi anexado a república romana. Estudiosos gregos como o poeta Lívio Andrônico encontrou emprego em Roma. Segundo a história conhecida, foi Andrônico o responsável por inaugurar um novo estilo literário na língua latina. Baseado na poesia homérica e no teatro grego, Andrônico e outros poetas gregos e romanos, começaram a traduzir obras do grego para o latim e até mesmo adaptar a métrica e a narrativa grega para a língua latina. Isso levou ao surgimento do chamado sermo litterarius. (BASSETTO, 2013, p. 90).
Não obstante, quando a expansão começou a se dirigir para fora da Itália, o latim começou a entrar em contato com idiomas de outras origens. Por exemplo, ao chegar ao sul da França e a Península Ibérica, o latim fez contato com línguas de origem celta como o galês e o bretão, línguas de origem germânica como o godo, o vândalo, alano, suevo etc., idiomas africanos do norte da África como o berbere e o egípcio. Idiomas asiáticos como o hebreu, persa, sírio etc.
Mapa da máxima extensão do Império Romano, algo ocorrido no ano de 117 d.C. |
A latinização ou romanização se deu segundo Bassetto (2013) sob quatro frentes: a via militar, a colonização, a administração e o comércio. A primeira via, a militar foi uma das mais comuns. Roma para sustentar sua glória necessitava conquistar terras para manter a entrada de recursos e a circulação destes, logo, as legiões eram enviadas para vários cantos da Europa, África e Ásia. Era através dos soldados que o latim chegava ao contato dos povos estrangeiros que estavam sob ataque dos romanos ou eram protegidos por eles. Esse sermo castrensis foi em alguns locais o principal vetor de latinização. Mas além das campanhas, os romanos também ergueram fortificações e fundaram colônias militares para os veteranos, os quais recebiam terras em recompensa aos seus anos de serviço. Além destas colônias militares, havia as colônias civis.
"Dadas as primeiras conquistas, quando os romanos removiam a população vencida, eram instaladas colônias civis para atender às demandas de terras por parte dos plebeus. Com a expansão do Império, essas colônias se multiplicaram em todas as províncias. Podiam ser "romanas", constituídas por cidadãos com todos os direitos (ius suffraggi e ius honorum) ou "latinas", daqueles que só tinham o ius latinum". (BASSETTO, 2013, p. 105).
Posteriormente Roma começou a criar províncias, englobando vastos territórios com várias vilas e cidades. Com isso a administração tornava-se romana e o latim a língua oficial da política. Ao mesmo tempo em que romanos imigravam para tais terras ou a medida que tais províncias aderiam aos costumes romanos, o latim consequentemente ia sendo adotado. No entanto, em algumas províncias orientais isso não ocorreu. Por exemplo, Grécia, Macedônia, Egito, Judeia, Síria e a Ásia Menor mantiveram o grego como principal língua. No caso da Ásia e do Egito o motivo se devia a colonização grega e ao império de Alexandre, o Grande o qual difundiu a língua grega por aquelas terras.
O comércio foi outra via para a difusão do latim. Antes dos romanos chegarem a conquistar determinadas terras, eles já empreendiam comércio com os povos locais a bastante tempo, e dependendo do mercado, os comerciantes passavam a aprender latim para negociar com os romanos. Mas depois que tais lugares eram conquistados, o latim se difundia mais rápido em alguns casos.
Por tais vias o latim se espalhou e com o tempo levou ao surgimento das línguas românicas a partir do romance ou romanço, termos usados para se referir a idiomas oriundos do latim, já que em algumas épocas, os domínios romanos eram conhecidos como România (terra dos romanos).
O latim na Península Itálica:
Por mais que a península Itálica seja a terra natal do latim sua hegemonia como língua nacional durou até o século V. Com o fim do império romano ocidental, o latim começou a sofrer uma série de influências linguísticas locais, regionais e estrangeiras com a migração de povos germânicos como os lombardos, alamanos, godos etc., até que na Idade Média tínhamos uma península cheia de dialetos, a maioria oriundos do latim, do reto-romanço e do romanço-itálico. Neste caso, os filólogos italianos em geral dividem os dialetos italianos em quatro grupos, as vezes inserem-se mais grupos.
No norte temos os dialetos galo-itálicos, os dialetos réticos e os dialetos vênetos. No centro da península predominou os dialetos toscanos, os dialetos centro-meridionais e os dialetos sardos (referentes a ilha da Sardenha). Cada grupo desenvolveu particularidades próprias, embora que os dialetos toscanos sejam aparentados dos dialetos centro-meridionais, por sua vez, os dialetos do norte da península tenham em comum influência de dialetos e línguas celtas, germanas e ilírias.
"Assim, na planície do rio Pó, o substrato lígure ao oeste, celta ao centro e vêneto (ilírico) ao leste, com o superstrato, germânico, sobretudo lombardo, são os fundamentos étnicos que caracterizam os atuais dialetos chamados "alto-itálico" ou "setentrionais" ou ainda "galo-itálicos"; compreendem quatro grupos bastante diferenciados entre si: piemonteses, lombardos, lígures e emiliano-romanholos. A denominação "galo-itálicos" é de Bernardino Biondelli (1804-1886) e foi aceita por Ascoli e outros linguistas". (BASSETTO, 2013, p. 196).
"Os dialetos vênetos têm características diferentes em relação ao galo-itálicos como a ausência de /ü/ e do /ö/ e a conservação de vogais finais, com isso aproximando-se do toscano. Apresentam várias subdivisões, como o veneziano, o veronês, o paduano, o feltrino etc., devendo-se incluir as variantes istrianas de caráter arcaico, faladas em pequenos territórios da Península da Ístria". (BASSETTO, 2013, p. 196-197).
"Os dialetos centro-meridionais se dividem em três blocos, se excluirmos os dialetos toscanos, que formam um grupo à parte: a) os falares das Marcas, da Úmbria e Salentina, Calábria e Sicília. Trata-se de uma grande variedade dialetal, mas que tem várias características comuns. [...]. Os dialetos toscanos, divididos em quatro grupos (florentino, pisano-pistoiense, senense e aretino), são particularmente interessantes por seu caráter conservador e por incluir o florentino, base da língua literária italiana. Ligam-se aos dialetos toscanos as variedades da ilha da Córsega, divididos em dois grupos pela cadeia de montanhas que que atravessa a ilha de noroeste e sudeste: o cismontano, ao nordeste, e o ultramontano, a sudeste". (BASSETO, 2013, p. 197).
"Em 1873, ao publicar seu Saggi Ladini, Graziadio Ascoli chamou a atenção para as semelhanças fonéticas existentes entre alguns dialetos distribuídos por regiões descontínuas da Itália do norte e sul da Suíça, e atribuiu essa semelhança a uma antiga unidade baseada na província romana da Récia, que ocupava, no período de maior expansão do Império Romano, um território correspondente grosso modo à atual Suíça Oriental. Como província linguística, a Récia sofreu sua principal perda territorial no século V com a invasão dos alamanos, mas mesmo depois das grandes migrações de povos na Alta Idade Média o reto-romance foi-se retraindo, pela pressão contínua que exerceram os dialetos alemães ao norte e os italianos ao sul". (ILARI, 2000, p. 189).
"Com uma história política pouco ligada a Itália continental, a Sardenha teve poucos contactos com os dialetos italianos; o latim vulgar da Sardenha desenvolveu falares caracterizados por uma fonética fortemente conservadora. É a esses dialetos, encarados como um sistema à parte, que se faz referência, genericamente, ao falar em "sardo". As principais variedades do sardo são (de norte a sul): o galurês, o sassarês, o logudorês e o campidanês". (ILARI, 2000, p. 187).
No caso da língua italiana essa se originou a partir de um dos dialetos toscanos, no caso o florentino, idioma falado na antiga República de Florença. A partir do florentino o italiano se desenvolveu.
a) italiano
A região da Toscana fica situada quase que no centro da península, localizando-se ao norte do Lácio e de Roma. A cidade mais importante da Toscana e sua capital política, econômica e cultural foi Florença, a qual tornou-se uma república no século XII. Na época que Florença se constituiu-se num Estado independente, o dialeto toscano local já havia ganho variedades na fala, passando a compor o grupo toscano. No entanto, a história do italiano somente começa dois séculos depois.
Em 1321 o poeta Dante Alighieri (1265-1321) concluiu sua obra máxima, a Divina Comédia. Na época o latim ainda era a língua literária e culta, muitos escritores e estudiosos escreviam em latim, embora falassem distintos dialetos de originários do romanço. No entanto Dante fazia parte de um movimento literário da época o dolce stillo nuovo, o qual procurava valorizar o vernáculo em detrimento do latim, embora tomasse grande influência da poesia latina clássica. Assim, a língua que Dante falava no dia a dia era o florentino, e dessa forma ele escolheu o florentino para ser o idioma no qual escreveria sua comédia. Além do florentino, Dante também usou neologismos e variações de palavras advindas do próprio latim e do provençal, duas línguas que admirava. (BASSETTO, 2013, p. 198).
A obra de Dante Alighieri ganhou grande expressividade ainda no século XIV, sendo elogiada pelo poeta e escritor Giovanni Boccaccio (1313-1375) e o poeta, tradutor e humanista Francisco Petrarca (1304-1374). No século XV época na qual Florença tornava-se a capital do Renascimento, escritores, filósofos, intelectuais e demais artistas consideravam que o trabalho literário destes três grandes poetas consistiam na fundação literária da língua italiana. Inclusive, grandes nomes da época como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Nicolau Maquiavel escreviam em florentino, o qual começou a despontar como a língua escrita e intelectual da península. (MAURO; LODI, 1979, p. 29-31).
"Desse modo, a língua literária italiana teve sua gênese característica, diferente dos demais no campo românico; nasceu de fatores meramente literários, não da supremacia política e cultura de um dialeto, como o francês e o castelhano, nem por ser a língua da chancelaria de um reino, como o catalão, nem a variante culta, poética e literária internacional, como o antigo provençal". (BASSETTO, 2013, p. 199).
A medida que Florença ganhou reconhecimento peninsular devido ao Renascimento, o florentino sofreu mudanças e originou o italiano. Todavia, a língua italiana somente imperou na Itália a partir do final do século XIX, antes disso os dialetos regionais e locais ainda eram comumente falados. De todas as línguas neolatinas, o italiano foi o último a conquistar hegemonia e torna-se um idioma nacional. O grande fator disso foi a falta de hegemonia política e cultural na península que por séculos permaneceu dividida em vários Estados independentes e alguns vassalos. Sem contar que os franceses e espanhóis reivindicaram territórios na península em distintos momentos. O próprio Napoleão chegou a fazer isso.
Algumas palavras nos dialetos italianos:
Latim: tempus / nudum / patreum / matreum
Toscano: tempo / nudo / padre / madre
Italiano: tempo / nudo / padre / madre
Piemontês téimp / nüu / pèr / mar
Napolitano: tièmb / annùr / pàt / mat
O latim na Península Ibérica:
Na Península Ibérica surgiram quatro línguas oriundas do latim: o português, o espanhol, o galego e o catalão, mas antes disso tivemos outras línguas hoje extintas, como o romanço hispânico ou romanço ibérico, o romanço lusitano e o galego-português. Mas até essas línguas surgirem na Idade Média, o latim foi alterado incontáveis vezes ao longo de séculos. Aqui veremos um pouco desse processo.
"Os romanos chegara à Península Ibérica no século III a.C, por ocasião da 2a Guerra Púnica, mas só conseguiram dominá-la por completo, ao fim de longas e cruentas lutas, em 19 a.C, quando Augusto venceu a resistência dos altivos povos das Astúrias e da Cantábria". (CUNHA, 1994, p. 15).
Quando os romanos chegaram a península Ibérica a região era habitada por vários povos, alguns ainda hoje desconhecidos ou pouco conhecidos. Entre as população nativas estavam celtas, lígures, iberos, aquitânicos etc., porém, tínhamos povos estrangeiros que já estavam ali estabelecidos a certo tempo, como os gregos e cartagineses. Após os romanos expulsarem os cartagineses, começou a assimilação daquele território e como visto, foi um processo demorado. A Ibéria foi dividida em duas províncias chamadas de Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior. No ano de 27 a.C a península foi dividida em três províncias: Bética, Terracoense e Lusitânia.
Divisão da Península Ibérica em três províncias romanas a partir do ano de 27 a.C. |
Nessa época, a península que já estava em processo de romanização contava com vários povos: lusitanos, celtiberos, vascões, célticos, galaicos, vetões, oretanos, ástures, lacetanos etc. Basicamente cada um destes povos falava seu idioma ou dialeto. Porém, no século I d.C, o latim já estava difundido por praticamente toda a península. E ele continuaria a ser não apenas a língua administrativa, literária e política, mas o principal idioma a ser falado no cotidiano por mais quatrocentos anos pelo menos. No século IV, o imperador Diocleciano voltou a dividir a Ibéria em cinco províncias: Lusitânia, Bética, Tarraconensis e agora Galécia e Cartaginense.
No começo do século V d.C, a situação da península começou a ganhar novos contornos. O Império Romano visivelmente estava enfraquecido ao ponto que já não conseguia mais barrar o avanço dos chamados "povos bárbaros", os quais começaram a penetrar no império atrás de riquezas e terras. Alguns destes povos os vândalos, suevos, alanos e visigodos, migraram para a Península Ibérica nesse período.
"No ano de 409 invadiram a Espanha os Alanos, Vândalos e Suevos, que três anos antes tinham devastado a Gália sob comando de Radagásio. Em 411 distribuíram-se por diversas regiões da Península, ocupando os Alanos a Lusitânia e a Cartaginense, os Vândalos e os Suevos a Galiza, e a tribo vândala dos Silingos a Bética. Essa ocupação, porém, não foi plena, nem sequer nas províncias preferidas pelos invasores; e fora dela permaneceram grandes extensões de território em posse dos hispano-romanos, e cidades de outras povoações fortificadas, onde a população se mantinha isenta do novo jugo". (SILVA NETO, 1988, p. 317).
Todavia, mesmo com essa ocupação germânica na península, com exceção dos suevos que fundaram um reino que durou mais de cem anos, os alanos e vândalos ficaram poucos anos, tendo sido expulsos pelos romanos e os visigodos. No caso dos visigodos eles compreendiam a dissidência que migrou para o oeste, enquanto a dissidência que migrou para o leste ficou conhecida como ostrogodos. Os godos já mantinham contato com os romanos há alguns séculos, inclusive os que se estabeleceram na Península Ibérica nos idos do século V, já estavam romanizados e cristianizados.
Península Ibérica dividida após a invasão de povos germânicos. Os alanos e vândalos permaneceram pouco tempo até serem expulsos pelos visigodos. Os suevos ainda resistiram por mais de cem anos. |
Quanto a língua dos alanos, dos vândalos e suevos praticamente nada se sabe se tenha influenciado algo, já que os suevos adotaram o latim em seu reino, e os vândalos e alanos ficaram poucos anos até serem expulsos.
No século VI e VII quando os reis visigodos começaram a serem convertidos ao cristianismo católico, pois antes eram cristãos arianos, nessa época o latim ainda era usado para a escrita e administração em alguns casos, mas na fala, já não se comunicava-se com o latim propriamente, exceto o chamado latim bárbaro, designação dada pelos romanos para se referir a forma grosseira que os "povos bárbaros" falavam latim. Todavia, a língua que estava em voga à época era o romanço hispânico ou romanço ibérico. O qual consistia num idioma desenvolvido a partir do latim e a influência das línguas regionais. (SILVA NETO, 1988, p. 318-319).
Esse romanço continuaria a ser usado por mais dois séculos pelo menos, talvez mais, pois é difícil definir o tempo que uma língua esteve em voga. No começo do século VIII uma nova leva de invasores traria profundas mudanças a península e seus povos romanizados, dessa vez tratava-se de um povo advindo da Ásia e que havia se misturado com os berberes africanos, estes eram os árabes, os quais ficaram mais conhecidos como mouros ou sarracenos.
"Os árabes, sírios e berberes que invadem a Península não trazem mulheres: casam com hispana-godas, têm escravas galegas e bascas. Entre os muçulmanos permanecem muitos hispano-godos, os moçárabes, conservadores do saber isidoriano: uns conseguem certa autonomia; os mais exaltados sofrem perseguições e martírio; outros se islamizam; mas todos influem na Espanha moura, onde se fala romance ao lado do árabe". (CUNHA, 1994, p. 20).
Os árabes permaneceriam na península por quase oitocentos anos. E tão longeva convivência legou várias trocas culturais e centenas de palavras. Os hispano-godos (naquele tempo não eram mais chamados de romanos) que conviviam com os árabes passaram a adotar palavras de sua língua, levando a uma mistura de romanço com árabe, no que originou a língua moçárabe, falada é praticamente todo território dominado pelos árabes. Foi a partir dessa língua que várias palavras acabaram chegando ao português e espanhol. Para mencionar algumas temos: alfange, alcaide, alfres, algarada, aljava, arrebatar, atalaia, ronda, açafrão, açúcar, laranja, azul, escarlate, jasmim, xadrez, limão, alface, alecrim, alfafa, alcachofra, álcool, algodão, almondega, berinjela, alfaiate, almoxarife, almocreve, califa, emir, tambor, alaúde, algoritmo, cifre, álgebra etc. (CUNHA, 1994, p. 20-21).
Os Reinos Taifas consistiam os domínios árabes na Península Ibérica, em fins do século XI. |
Devido a rápida e massiva expansão islâmica na península a cristandade se viu acuada. Ainda no século VIII iniciou-se timidamente tentativas de expulsar os árabes, mas apenas no século XI em diante é que o processo da Reconquista ganhou mais força. A partir do processo da Reconquista quando os reinos cristãos começaram a se recompor e se fortificar, três línguas se destacariam na ocasião: o galego-português, o castelhano e o catalão.
a) Castelhano
No começo do século IX, havia um território chamado Condado de Castela (Castilla em castelhano), o qual era politicamente subordinado ao Reino de Leão ou Reino das Astúrias. A região chamava-se assim devido aos vários castelos que possuía, reflexo da guerra contra os árabes. Cada um desses pequenos Estados incrustados no centro da península, desenvolveram seus próprios dialetos com base no romanço, surgindo o leonês, o castelhano, o navarro, o aragonês etc. Castela continuaria como um Estado vassalo pouco expressivo por mais duzentos anos até que no século XI, começou a despontar a aliança cristã para retomar a península. No ano de 1037, Leão e Castela se aliaram para expulsar os mouros de Toledo, importante cidade governada pelos árabes por muito anos. Posteriormente em 1085, Rodrigo Dias de Vivar, conhecido pela alcunha de El Cid, o qual tornou-se o primeiro grande herói da Reconquista, impulsionando a guerra contra os árabes.
A partir desse conflito, Castela deixou de ser um condado vassalo ao Reino de Leão e tornou-se um reino independente, com isso o dialeto castelhano ainda em formação começou a se expandir pela península. No século XIII o castelhano já era um dialeto literário, inclusive obras de origem latina e árabe haviam sido traduzidas para esse dialeto. O rei Afonso X, o Sábio (1252-1284) chegou a escrever algumas obras como as Cantigas de Santa Maria e um tratado de xadrez. O castelhano não apenas despontava como um dialeto falado, mas agora escrito. Tal fato lhe concederia força para resistir e suplantar outros idiomas falados na península. (BASSETTO, 2013, p. 236).
Nos dois séculos seguintes com a expansão de Castela sobre a península até finalmente culminar em 1492 na expulsão dos mouros de Granada e a unificação dos reinos hispânicos sob o governo dos Reis Católicos, o castelhano passava a ser a língua oficial do novo reino unificado, agora chamado de Espanha. Ainda assim, o castelhano o qual passou a ser referido posteriormente como espanhol, ainda levou pelo menos um século para se consolidar, pois os outros dialetos hispânicos ainda continuaram a ser falados.
Estados ibéricos no século XII. Nessa época o castelhano, o português, o galego e o catalão começaram a se constituir como idiomas próprios. |
A história do galego-português começa junta por volta do século VIII ou IX, na época do Condado Portucalense e do Reino da Galiza. O romanço lusitano (variação do romanço hispânico) falado na região. Devido a proximidade entre os dois territórios, os dialetos em comum se misturaram ao romanço e por sua vez por volta do século IX ou X surgiu o galego-português, dialeto ancestral do atual galego e português. O dialeto unificado perdurou até o século XII ou XIII, quando finalmente Portugal conquistou sua emancipação do Reino da Galiza em 1139, com o rei Afonso I. A partir dessa cisão territorial, os laços culturais e linguísticos foram cortados. (SILVA NETO, 1988, p. 349-350).
Ambos os dialetos ainda manteriam certa proximidade por mais algumas décadas, mas a partir do século XIII, a cisão linguística se iniciou. O português começou a ganhar um caminho próprio e o mesmo ocorreu com o galego. A hegemonia portuguesa em se manter um reino intacto garantiu também a integridade da sua língua.
Devido pelo fato de grande parte da Lusitânia ter sido ocupada pelos árabes, o contato da língua moçárabe com a população dessa área foi bem maior do que a população que vivia no norte, especialmente na Galiza. Sendo assim, nota-se uma vasta quantidade de palavras de origem árabe na língua portuguesa, mas não na língua galega. Em contrapartida o galego pouco tomou influência do castelhano, ainda hoje se conservando mais próximo do português. (BASSETTO, 2013, p. 241).
Por outro lado, a Galiza era economicamente mais próspera do Portugal no início do XII, inclusive a corte galega ainda servia de modelo para a corte lusa, além do fato que a literatura galega da época através da poesia do trovadorismo foi bastante influente. Os poetas portugueses ainda continuaram a compor poemas em galego-português mesmo na época que ambas as línguas haviam se separado. (SPINA, 2008, p. 42).
c) catalão
O catalão foi a última língua ibérica a se formalizar, deixando de ser um dos vários dialetos falados na península. Enquanto o castelhano se desenvolveu na região central da península, e o galego-português na porção ocidental, o catalão se desenvolveu na porção oriental, a partir do Alicante até a fronteira com a França, além de influir também sobre as ilhas Baleares. Suas origens são pouco conhecidas.
"Quanto à etimologia de "catalão e "Catalunha" na realidade ela nos é desconhecida. A primeira atestação é de 1114; poucos anos depois, Catalania, Catalanicus e Catalanensis aparecem no Liber Maiolichinus, poema do autor italiano, escrito em baixo latim". (BASSETTO, 2013, p. 228).
Bruno Bassetto (2013) comenta que as primeiras menções escritas ao termo catalão e Catalunha consta em relatos italianos, por sua vez, os árabes consideravam a população da Catalunha de origem franca, e os chamavam genericamente de francos.
"Historicamente, a Catalunha começou a diferenciar-se das outras regiões ibéricas, quando Carlos Magno reconquistou Barcelona aos árabes em 801, entregando a região a um sobrinho, fato que aproximou o nascente romance regional aos falares do sul da França". (BASSETTO, 2013, p. 229).
Graças a intervenção do rei franco Carlos Magno em reconquistar a região oriental da península, o Condado da Barcelona como ficou conhecido resistiu as tentativas de conquista árabe por séculos, embora que somente por volta do século X ou XI começa a se delinear o dialeto catalão, sendo que este possui influência do castelhano e do provençal (dialeto do sul da França). O moçárabe não teve grande influência nessa língua. Não obstante, assim como ocorreu com Portugal e Galiza, a Catalunha soube manter sua independência e isso contribuiu para a integridade da sua língua.
Algumas palavras nas línguas neolatinas ibéricas:
Latim: caballu / mulier / salve / caeruleus / ignis
Português: cavalo / mulher / bem-vindo / azul / fogo
Espanhol: caballo / mujer / bienvenido / azul / fuego
Galego: caballo / muller / benvindo / azul / lume
Catalão: cavall / dona / benvingut / blau / foc
O latim na Gália:
No caso da Gália, é preciso dizer que na Antiguidade a região era dividida em duas partes de acordo com a visão romana: a Gália Cisalpina que compreendia os Alpes e o norte da Itália, cuja região os romanos já mantinham contato a bastante tempo; e a Gália Transalpina, ao norte dos Alpes, que hoje a grosso modo corresponde a França. Os romanos começaram a se enveredar mais regularmente ao território da Gália Transalpina a partir do século II a.C., para socorrer cidades gregas como Marselha, na época assoladas por ataques de tribos gaulesas, embora a conquista da Gália somente foi concretizada mais de cem anos depois com Júlio César durante as Guerras Gálicas (58-52 a.C).
Após a importante vitória de César sobre as tribos gaulesas, Roma pôde expandir seus domínios até a Bretanha e as fronteiras da Germânia. Por mais que em termos administrativos, judiciários e literários o latim era a língua corrente, em termos de fala, os gauleses mantiveram seus dialetos por vários séculos. O próprio latim foi mais influente na região sul, devido a colonização mais tardia, por sua vez, o norte da Gália demorou a ser romanizado e latinizado.
Na Idade Média nota-se claramente uma divisão linguística na região. Com isso os filólogos propuseram os termos langue d'oil, langue d'oc e franco-provençal. Tais terminologias são usadas para dividir os vários dialetos galos em três grandes grupos. O langue d'oil refere-se aos dialetos do Norte, o langue d'oc aos dialetos do sul e o franco-provençal aos dialetos do leste. Embora estes grupos tenham sofrido influência do latim, os dialetos do sul são os mais próximos do latim e do galo-romanço.
"Os dialetos da langue d'oil ocupam o norte da França e a Bélgica de fala neolatina, acima de uma linha que via, aproximadamente, do estuário do rio Garonne até o monte Jura. A área da langue d'oil era ocupada, no passado, por uma série de dialetos com características próprias, mas a situação se alterou fortemente nos últimos séculos pelo prestígio crescente do dialeto de Paris, cuja expansão e transformação em língua nacional provocou a absorção dos dialetos vizinhos". (ILARI, 2000, p. 178-179).
A região norte manteve uma forte resistência a expansão da latinização, assim como, a maioria dos dialetos de origem celta e gaulesa perduraram por muito tempo, além do fato que a proximidade com a Germânia permitiu o avanço de tribos germânicas que trouxeram seus dialetos, daí o fato de que o francês o qual pertence ao grupo do norte, possui forte influência das línguas germânicas, algo não visto no português, espanhol, italiano e romeno, mesmo que estas línguas tenham tido contato com povos germânicos, principalmente os godos.
No caso do sul, a langue d'oc devido a colonização romana mais tardia, notou-se o surgimento de dialetos neolatinos advindos do galo-romanço, os principais foram o provençal e o ocitano. Além destes podemos citar o aquitano, o bearnês e o gascão, o qual para alguns filólogos se apresentava como o dialeto mais dispare do grupo langue d'oc. (ILARI, 2000, p. 182).
Acerca do provençal se faz necessário dizer que ele surgiu por volta do século VIII ou I, como sendo um dialeto advindo do galo-romanço. O provençal ganhou tanta difusão que se tornou não apenas o idioma falado, mas até mesmo escrito. A administração e a justiça de Provença e em terras vizinhas usaram o provençal até pelo menos o século XIII, quando o latim medieval voltou a ser a língua escrita predominante, embora que em termos de fala, o provençal ainda continuava sendo falado, pois o francês somente se firmou três séculos depois. (BASSETTO, 2013, p. 211-213).
A influência do provençal foi tamanha que ele ainda levou ao surgimento de um novo grupo de dialetos, o chamado franco-provençal.
"A área de dialetos franco-provençais compreende: (i) na França: o monte Jura, a Savóia e as regiões de Grenoble e Lyon; (ii) todo o território da chamada "Suíça Francesa" (Suisse Romande); e (iii) na Itália, alguns vales alpinos com certa extensão (principalmente os de Aosta, de Lanzo e do rio Orco. [...]. Os dialetos franco-provençais são falados numa região em que as comunicações são particularmente difíceis, e são bastante semelhantes entre si nos dois lados dos Alpes; essa semelhança - surpreendente quando se pensa que os Alpes constituem um dos mais formidáveis obstáculos naturais para as comunicações humanas - mostra que divisas da geografia física não se transformam automaticamente em divisas linguísticas". (ILARI, 2000, p. 183).
a) o francês
Enquanto na península Ibérica dos vários dialetos, quatro conseguiram se constituir em línguas, na Gália e na península Itálica dos vários dialetos existentes, apenas dois conseguiram predominar. Vimos o caso do italiano, agora vejamos o caso do francês.
O francês originou-se da língua frâncica, idioma falado pelos Francos, tribo germânica migrada da Frísia, região hoje que engloba a Holanda e parte da costa da Alemanha. Os francos foram uma das tribos germânicas mais poderosas a ponto de submeter o governo galo-romano aos seus interesses e estabelecer um reino no século V. O frâncico o qual possui variações regionais demorou trezentos anos para se espalhar pelo restante da Gália e chegar a outros territórios, embora não tenha se tornado a língua dominante, pois os vários dialetos da Gália ainda continuaram a existir por séculos. (BASSETTO, 2013, p. 223).
Todavia, a história do francês antigo somente começou muito tempo depois. Uma variedade do frâncico falado em Paris no século IX, seria o antepassado do francês antigo. No século IX a partir das iniciativas do imperador Carlos Magno, a cultura romana voltou a proliferar na corte, pois Carlos Magno até então rei dos francos e dos lombardos, no ano 800 havia se tornado imperador dos romanos. Carlos Magno que era um cristão devoto, um rei embora analfabeto que somente sabia escrever o próprio nome, ainda assim era um homem que gostava de debater filosofia, história, artes e ciências. Em seu reinado ele investiu na alfabetização da nobreza e contratou professores de outros países, com isso o latim voltou a se disseminar na corte franca. Além disso, o latim ainda existia na sua forma de latim bárbaro, falando em alguns lugares do reino.
Não obstante o francês antigo se formaria a partir dessa influência do frâncico e do galo-romanço na futura língua nacional, embora tal trajetória foi demorada. O chamado francês antigo surgiu por volta do século XI, sendo a Canção de Rolando, importante gesta de cavalaria uma das obras mais antigas conhecidas nessa língua. Mas embora o francês começasse a despontar com não apenas a língua de Paris e sua cercania, mas começava a adentrar a literatura, grande parte da França não falava francês, inclusive a própria administração e justiça não eram escritos em francês, podendo ser escritos em latim medieval, em provençal, occitano ou em outros dialetos.
No século XV motivado pelo movimento nacionalista e centralizador resultado da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) o francês caminhava cada vez mais próximo de se tornar a língua nacional da França. No século XVI, no ano de 1539 o rei Francisco I emitiu o decreto Villers-Cotterêts o qual instituía que toda a justiça francesa deveria adotar exclusivamente o francês como língua oficial, abolindo o uso de outros idiomas. Tal decreto foi um passo importante para a unificação do francês como língua nacional. (BASSETTO, 2013, p. 224).
No século II d.C com a máxima expansão territorial alcançada pelo Império Romano, durante o reinado de Trajano (98-117), as antigas regiões da Panônia e da Dalmácia e Dácia foram efetivamente conquistadas por Roma. Devido a ligação com a Itália e a Grécia, aquelas terras foram rapidamente romanizadas em pouco tempo devido a massiva colonização imposta pelos imperadores, colonização tanto militar quanto civil no intuito de barrar o avanço de povos bárbaros de origem germânica e eslava. Contudo a Dácia, região que hoje compreende Romênia, Moldávia, parte da Hungria e outros territórios, escapou do controle romano no ano de 270, quando o imperador Aureliano ordenou a retirada das legiões daquela província devido aos ataques dos sármatas e visigodos, ainda assim, a população já estava parcialmente romanizada.
Mas enquanto a Dácia teve que ser abandonada, o restante dos Bálcãs continuava sob jugo romano mesmo com invasões dos visigodos e dos hunos no século V. Mas com a Queda de Roma (476) não significou que o sudeste europeu esteve totalmente fora da influência romana. O Império Bizantino ainda continuou a controlar alguns daqueles territórios e até mesmo a manter contatos comerciais e políticos.
"O abandono precoce da região por Roma teve consideráveis consequências culturais e linguísticas. Enquanto as línguas românicas do Ocidente mantinham contato permanente com o latim medieval da Igreja, das escolas, da administração e dos documentos oficiais, o romeno permaneceu no âmbito da cultura bizantino-eslava, cuja língua oficial e religiosa era inicialmente o grego. Depois, com a constituição dos principados eslavos, passou-se a usar o eslavo antigo e o médio búlgaro; esse eslavo então empregado foi denominado também "paleoeslavo" ou "antigo eslavo eclesiástico", escrito com o alfabeto cirílico". (BASSETTO, 2013, p. 189).
Embora o romanço-romeno ou romanço-oriental tenha existido por pouco tempo entre os séculos VI e IX, por mais que o grego, o eslavo e o búlgaro tenham predominado no sudeste europeu, o romanço-romeno originou quatro dialetos: daco-romeno falado principalmente na Romênia e parte da Moldávia; o macedo-romeno falado na Macedônia, Albânia e Grécia; o megleno-romeno falado em alguns locais da Grécia; e o ístro-romeno, falado na península da Ístria, na Croácia. Com exceção do daco-romeno que se proliferou por um território mais vasto, os demais dialetos estão restritos a pequenas áreas dos países mencionados. Não obstante, foi a partir do daco-romeno que surgiria a língua romena, mas isso somente ocorreu séculos depois. (ILARI, 2000, p. 198).
a) o romeno
O atual país hoje chamado Romênia é algo recente, oriundo a partir da segunda metade do século XIX. Por séculos as principais regiões da Romênia, a Valáquia e a Transilvânia ou foram Estados vassalos dos húngaros, búlgaros e otomanos, ou foram principados independentes. Nestes territórios desde o século XI falava-se húngaro, búlgaro, eslavo, alemão, grego e turco em algumas épocas, e dialetos como o transilvaniano e o valaquiano. O daco-romeno, dialeto oriundo do romanço-romeno era bem restrito a determinadas regiões, mas a situação começou a mudar no século XV.
"Os primeiros textos em romeno remontam à Renascença, mais precisamente ao período da Reforma, e são traduções de textos sagrados; nesse período, com a imprensa, chegou à Romênia o alfabeto latino, que foi usado juntamente com o alfabeto corrente entre os clérigos e letrados da região, o cirílico. Mas para a definição de um padrão literário e nacional será preciso esperar até o século XVII, período que em que foi completada a tradução da Bíblia em Bucareste". (ILARI, 2000, p. 225).
"A partir da metade do século XIV, durante cerca de dois séculos, o eslavo foi a língua oficial das chancelarias e da Igreja nos territórios romenos, o que impediu o romeno de firmar-se como língua escrita. Somente em 1521, aparece o primeiro documento escrito em romeno, ainda assim com a introdução e a saudação final em eslavo". (BASSETTO, 2013, p. 190).
Das línguas neolatinas o romeno foi a última a se formalizar, tendo seu processo se iniciado por volta do século XIV, mas efetivamente somente reconhecido no XVII, embora que o romeno apenas se tornou língua oficial no XIX, quando a Romênia se constituiu em Estado independente.
Mapa com a distribuição de línguas e dialetos neolatinos na Europa. |
Algumas palavras em latim e nas línguas neolatinas:
Latim: caseus/formaticus / ruber / mare / canis / salve (bonun diem)
Italiano: formaggio / rosso / mare / cane / buongiorno
Francês: fromage / rouge / mer / chien / bonjour
Espanhol: queso / rojo / mar / perro / buenos dias/buen día
Catalão: formatge / vermell / mar / gos / bon dia
Galego: queixo / vermelho / mar / can / bo día
Português: queijo / vermelho / mar / cachorro / bom dia
Romeno: brânză / roșu / mare / câine / bună ziua
Dialetos neolatinos:
Latim: caseus/formaticus / ruber / mare / canis / salve (bonun diem)
Italiano: formaggio / rosso / mare / cane / buongiorno
Francês: fromage / rouge / mer / chien / bonjour
Espanhol: queso / rojo / mar / perro / buenos dias/buen día
Catalão: formatge / vermell / mar / gos / bon dia
Galego: queixo / vermelho / mar / can / bo día
Português: queijo / vermelho / mar / cachorro / bom dia
Romeno: brânză / roșu / mare / câine / bună ziua
Dialetos neolatinos:
Todavia, além das língua neolatinas, surgiram uma enorme variedade de dialetos, muitos já mencionados anteriormente. Ainda hoje boa parte desses dialetos são falados na Espanha, França, Suíça e Itália.
- Dialetos na Itália: Lombardo, Piemontês, Toscano, Liguriano, Emiliano-Romagnolo, Marchigiano, Umbriano, Abruziano, Apuliano, Napolitano, Lucaniano, Calabriano, Siciliano, Friulano, Ladino-dolomita (reto-romanço) etc.
- Dialetos na ilha da Sardenha: Logudoriano, Campidanese, Sassariano, Galariano.
- Dialetos na França: Occitano, Provençal, Gascão, Béarnês, Auvernês, Limousin, Vivaro-Alpina, Picardo, Normando, Borgonhês, Valão, Galo, Loreno, Pictavo-Sântone, Angevin, Poitevin, Champenois, Franco-condado, Franco-provençal, Wallon etc.
- Dialetos na ilha da Córsega: Corso e Toscano.
- Dialetos na Espanha: Aragonês, Valenciano, Andalusiano, Leonês, Asturiano, Extremaduro.
- Dialeto em Portugal: Mirandês.
- Dialetos na Suíça: Romanche, Baixo Engadino, Alto Engadino, Sobremirano, Subselvano, Sobresselvano.
- Dialetos nos Bálcãs: Daco-romeno (Romênia, Moldávia, Sérvia), Isto-romeno (Croácia), Aromeno ou macedo-romeno (Grécia, Macedônia, Sérvia, Albânia), Megleno-romeno (Grécia e Macedônia), Moldavo (Moldávia e Sérvia), Valaco e Transilvano (Romênia).
As línguas neolatinas no mundo:
O português, espanhol e o francês foram as principais línguas neolatinas a se espalharem pelo mundo. O italiano ainda chegou a ser falado em alguns países africanos no século XIX, mas sua expansão internacional foi efêmera. Já o romeno, o galego e o catalão não chegaram a se espalhar para fora da Europa. O português foi a primeira língua a iniciar uma jornada para fora da Europa, a partir de 1415 os portugueses conquistaram a cidade árabe-berbere de Ceuta, dando início a Era das Grandes Navegações. Espanha, Inglaterra e França vieram em seguida. Pelo fato de se tratar de uma história longa, não comentarei aqui, pois demandaria um texto próprio para falar da expansão das línguas neolatinas no mundo. (MORAIS-BARBOSA, 1969, p. 107).
Entretanto com a colonização portuguesa, espanhola, francesa e inglesa surgiram as línguas crioulas nas Américas, África e Ásia, línguas essas oriundas da união do português, espanhol, francês e inglês com idiomas nativos. Pelo fato do inglês não ser uma língua românica, a deixei de fora, apresentando apenas as línguas crioulas de origem românica.
O português, espanhol e o francês foram as principais línguas neolatinas a se espalharem pelo mundo. O italiano ainda chegou a ser falado em alguns países africanos no século XIX, mas sua expansão internacional foi efêmera. Já o romeno, o galego e o catalão não chegaram a se espalhar para fora da Europa. O português foi a primeira língua a iniciar uma jornada para fora da Europa, a partir de 1415 os portugueses conquistaram a cidade árabe-berbere de Ceuta, dando início a Era das Grandes Navegações. Espanha, Inglaterra e França vieram em seguida. Pelo fato de se tratar de uma história longa, não comentarei aqui, pois demandaria um texto próprio para falar da expansão das línguas neolatinas no mundo. (MORAIS-BARBOSA, 1969, p. 107).
Entretanto com a colonização portuguesa, espanhola, francesa e inglesa surgiram as línguas crioulas nas Américas, África e Ásia, línguas essas oriundas da união do português, espanhol, francês e inglês com idiomas nativos. Pelo fato do inglês não ser uma língua românica, a deixei de fora, apresentando apenas as línguas crioulas de origem românica.
- Crioulos afro-portugueses:
- Crioulo cabo-verdiano: Crioulo de Brava, Fogo, Santiago, Maio, Boa Vista, Sal, São Nicolau, São Vicente e Santo Antão. Devido ao fato de Cabo Verde ser um país insular, cada ilha desenvolveu suas próprias variações. Sendo assim, o crioulo cabo-verdiano possuí vários dialetos.
- Crioulo de Guiné-Bissau: Casamança
- Crioulo de São Tomé e Príncipe: São Tomense (ou Forro), Angolar, Principense, Fá d'Ambó (ou Annobonense). Devido a ser um país insular, isso contribuiu para que em cada ilha desenvolve-se seus dialetos.
- Crioulo afro-franco:
- Crioulo Bourbonnais: conjunto de dialetos falados no Arquipélago de Maurício, Seychelles e nas Mascarenhas. É formado a partir do francês com idiomas locais e até mesmo com o inglês.
- Crioulos americanos:
- Crioulo haitiano: de origem francesa é o mais falado atualmente.
- Palenquero: de origem espanhola é falado na Colômbia.
- Papiamento: de origem espanhola é falado em parte do Caribe.
- Crioulo antilhano: de origem francesa e com vários dialetos.
- Crioulo da Guiana-Francesa
- Lanc-Patúa (Amapá, Brasil)
- Crioulos luso-asiáticos:
- Dialetos na Índia: Diu (Língua dos Velhos), Damão (Língua de Casa), Bombaim, Korlai, Quilom, Tellichery, Cananor, Coramandel, Cochim, Mangolare, Bangladesh (também falado em Bangladesh). São dialetos em via de extinção.
- Dialetos no Sri Lanka: Trincomalee, Mannar e Puttalam. Também em vias de extinção.
- Papiá, língua cristã, papiá da Malásia ou Kristang (Malásia e Cingapura): em via de extinção.
- Patuá macaense ou Crioulo Macaense (Macau, China): em via de extinção.
- Crioulos espanhol-asiáticos:
- Chabacano (Filipinas)
- Chamorro (Ilhas Guam)
- Tagalo (Filipinas)
As línguas neolatinas faladas no mundo. Espanhol = verde; Português = laranja; Francês = azul; Italiano = amarelo; Romeno = vermelho. O galego e o catalão não foram levados em consideração. |
Todavia, essa lista não é precisa, pois possa haver existido outros dialetos hoje desconhecidos. Sem contar que alguns dialetos atuais em via de extinção já possam estar extintos, mas ainda não se sabe.
- Romanço hispânico ou ibero-romanço (Espanha)
- Romanço português ou romanço-lusitano
- Galo-romanço (sul da França)
- Ítalo-romanço ou romanço-itálico
- Reto-romanço (Sul da Suíça e norte da Itália)
- Romanço-romeno ou romanço-oriental (Dácia e Bálcãs)
- Galego-português (Portugal e Galiza)
- Francês antigo: influenciado pelo latim, o gaulês e o frâncico
- Florentino arcaico (Florença, Itália)
- Dalmácio (Croácia): mistura de latim com dácio
- Vegliota (Croácia)
- Ragusano (Croácia)
- Panônio (Hungria)
- Língua geral setentrional (Brasil): mistura do português com o tupi
- Língua geral meridional (Brasil): mistura do português com o tupi
- Romanço moçárabe (Espanha e Portugal): mistura do romanço hispânico e lusitano com a língua árabe.
- Ladino ou judeu-espanhol: mistura do hebraico com o espanhol.
- Portugis (Indonésia): mistura do malaio com o português.
- Crioulo de Java (Indonésia)
- Crioulo de Flores (Indonésia)
- Crioulo de Bidau (Timor-Leste)
- Kristang (Japão): mistura de japonês com português.
- Crioulo da Luisiana (Estados Unidos): mistura do francês com inglês e expressões indígenas e africanas.
Considerações finais:
Todas as línguas neolatinas são oriundas dos romanços, os quais por sua vez são oriundos do chamado "latim vulgar", o qual na prática é um termo complicado de ser usado, pois como mencionado, o que foi considerado latim vulgar dizia respeito a vários setores da sociedade e não necessariamente a plebe inculta como muitos alegam. De qualquer forma, as línguas neolatinas são todas oriundas de meados da Idade Média, começando a surgir na Baixa Idade Média.
Com exceção do romeno que somente surge pelo que parece no século XIV ou XV, o italiano, o francês, o espanhol, o português, o catalão e o galego começaram a surgir por volta do século XII e XIII, no entanto, somente a partir do século XV é que muitos filólogos começam a considerar tais idiomas como línguas e não dialetos.
No caso do português, do galego e do catalão estes graças a hegemonia política de seus reinos, conseguiram se firmar rapidamente como línguas nacionais antes do século XV. Todavia o francês, o italiano e o romeno apenas começaram a serem reconhecidos como línguas nacionais do século XV em diante, mas em termos oficiais bem mais tardiamente. Neste caso o italiano e o romeno passam a ser falados pela maioria da população apenas na segunda metade do XIX.
Não obstante, devido a essa falta de hegemonia na Espanha, mas principalmente na França e Itália, a existência de vários dialetos românicos ainda continuaram a existir ao lado das línguas nacionais e ainda hoje são falados, mesmo que em pequenos territórios e por poucos milhares ou centenas de habitantes.
No que se refere as influências estrangeiras, vimos que o espanhol e o português sofreram grande influência da língua árabe, absorvendo centenas de palavras. O catalão e o galego absorveram algumas palavras, mas em pouca quantidade. Não obstante, o espanhol, o português, o galego, o catalão e o italiano possuem traços irrisórios de línguas celtas e germânicas, em compensação o francês e o romeno possuem traços germânicos mais presentes, e no caso do romeno temos influência do eslavo, búlgaro e do grego.
O catalão por sua proximidade com a França, absorveu várias influências dos dialetos franceses do sul como o provençal, o gascão e o bearnês, daí notarmos elementos germânicos nessa língua. Dialetos italianos do norte absorveram influências gaulesas e germânicas, mas pelo fato do italiano originar-se na Toscana, no centro da península, não absorveu grandes influências das línguas germânicas, mas nota-se elementos do provençal em sua formação.
Com exceção do romeno que somente surge pelo que parece no século XIV ou XV, o italiano, o francês, o espanhol, o português, o catalão e o galego começaram a surgir por volta do século XII e XIII, no entanto, somente a partir do século XV é que muitos filólogos começam a considerar tais idiomas como línguas e não dialetos.
No caso do português, do galego e do catalão estes graças a hegemonia política de seus reinos, conseguiram se firmar rapidamente como línguas nacionais antes do século XV. Todavia o francês, o italiano e o romeno apenas começaram a serem reconhecidos como línguas nacionais do século XV em diante, mas em termos oficiais bem mais tardiamente. Neste caso o italiano e o romeno passam a ser falados pela maioria da população apenas na segunda metade do XIX.
Não obstante, devido a essa falta de hegemonia na Espanha, mas principalmente na França e Itália, a existência de vários dialetos românicos ainda continuaram a existir ao lado das línguas nacionais e ainda hoje são falados, mesmo que em pequenos territórios e por poucos milhares ou centenas de habitantes.
No que se refere as influências estrangeiras, vimos que o espanhol e o português sofreram grande influência da língua árabe, absorvendo centenas de palavras. O catalão e o galego absorveram algumas palavras, mas em pouca quantidade. Não obstante, o espanhol, o português, o galego, o catalão e o italiano possuem traços irrisórios de línguas celtas e germânicas, em compensação o francês e o romeno possuem traços germânicos mais presentes, e no caso do romeno temos influência do eslavo, búlgaro e do grego.
O catalão por sua proximidade com a França, absorveu várias influências dos dialetos franceses do sul como o provençal, o gascão e o bearnês, daí notarmos elementos germânicos nessa língua. Dialetos italianos do norte absorveram influências gaulesas e germânicas, mas pelo fato do italiano originar-se na Toscana, no centro da península, não absorveu grandes influências das línguas germânicas, mas nota-se elementos do provençal em sua formação.
NOTA: As línguas neolatinas ou românicas também podem ser chamadas de: romanços, romances ou novilatinas.
NOTA 2: Entre os séculos II e III surgiu o latim imperial, como uma variação do latim clássico, mas este predominou no meio literário, até mais ou menos o século V.
NOTA 3: Os dialetos suíços de origem neolatina são chamados de Romanche, Retorromanche, Retorromânico, Rético e Grisão.
NOTA 4: O chamado português brasileiro é considerado por alguns como um dialeto, mas em geral os filólogos não o consideram um dialeto, mas uma variante da língua portuguesa devido ao Acordo Ortográfico de 1990 que unificou as variantes linguísticas dos países lusófonos. O português brasileiro não seria um dialeto por esse ponto, mas uma variante. Todavia, no Brasil e em Portugal existem dialetos portugueses restritos ao jeito de falar como uso de expressões, conjugações, gírias, entoação, estrangeirismos etc., já que na escrita eles seguem a norma culta.
NOTA 2: Entre os séculos II e III surgiu o latim imperial, como uma variação do latim clássico, mas este predominou no meio literário, até mais ou menos o século V.
NOTA 3: Os dialetos suíços de origem neolatina são chamados de Romanche, Retorromanche, Retorromânico, Rético e Grisão.
NOTA 4: O chamado português brasileiro é considerado por alguns como um dialeto, mas em geral os filólogos não o consideram um dialeto, mas uma variante da língua portuguesa devido ao Acordo Ortográfico de 1990 que unificou as variantes linguísticas dos países lusófonos. O português brasileiro não seria um dialeto por esse ponto, mas uma variante. Todavia, no Brasil e em Portugal existem dialetos portugueses restritos ao jeito de falar como uso de expressões, conjugações, gírias, entoação, estrangeirismos etc., já que na escrita eles seguem a norma culta.
Referências Bibliográficas:
BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos Filologia Românica, vol. 1. 2a ed. São Paulo, Edusp, 2013. 2v
CUNHA, Cleso Ferreira da. Gramática da língua portuguesa. Brasília, FAE, 1994.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 14. São Paulo, Nova Cultural, 1998. 24v
ILARI, Rodolfo. Linguística Românica. São Paulo, Editora Ática, 2000.
SILVA NETO, Serafim da.
MAURO, Tullio De; LODI, Mario. Lingua e dialetti. Roma, Editori Riuniti, 1979.
MORAIS-BARBOSA, Jorge. A língua portuguesa no mundo. Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1969.
QUEIROZ, Herminio Aureo de. Fontes e Evolução da Língua: notas históricas sobre o latim e o português. Olinda, FUNESO, 1976.
SILVA NETO, Serafim da. História do latim vulgar. Rio de Janeiro, Livraria Acadêmica, 1957. (Biblioteca Brasileira de Filologia).
SILVA NETO, Serafim da. História da língua portuguesa. 5a ed. Rio de Janeiro, Presença, 1988. (Coleção Linguagem, 11).
SPINA, Segismundo (org.). História da língua portuguesa. Cotia, SP, Ateliê Editorial, 2008.
Sobre as mudanças na ortografia da língua portuguesa:BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos Filologia Românica, vol. 1. 2a ed. São Paulo, Edusp, 2013. 2v
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http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?typePag=novaortografia
http://www.atica.com.br/novaortografia/index_.htm
http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/
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