De
núcleo de povoamento à praça de guerra: a Colônia do Sacramento
de 1735 a 1777
Paulo
César Possamai
Obs: As imagens colocadas aqui foram escolhidas por mim, para complementar algumas informações da obra do autor. Não obstante, os grifos em negrito também foram feitos por mim. As informações e opiniões aqui apresentadas são de inteira responsabilidade do autor.
A
fundação da Colônia do Sacramento na margem norte do Rio da Prata conjugava os
interesses dos comerciantes do Rio de Janeiro, interessados na retomada do intenso
comércio com Buenos Aires existente na época da União Ibérica, assim como da
Coroa portuguesa, que desejava expandir seus domínios até o Rio da Prata.
Os
principais elementos responsáveis pelo desenvolvimento da rede contrabandista eram
os portugueses. A relativa proximidade do Prata com os portos brasileiros e a
facilidade da obtenção de escravos em suas feitorias na África foram os
principais fatores da preponderância comercial
dos luso-brasileiros em Buenos Aires durante a União Ibérica.1 Essas vantagens
levaram os portugueses a investir num entreposto no Prata.
Em
1677, o Príncipe Regente D. Pedro instruiu secretamente o tenente-general Jorge
Soares de Macedo a visitar Paranaguá para determinar o valor de supostas minas
e prata e de lá passar ao Rio da Prata, onde deveria erguer uma fortificação na
ilha de São Gabriel.2 Macedo optou pela viagem marítima, mas o mau tempo fez
malograr a expedição por três vezes. Entrementes D. Manuel Lobo foi escolhido por
D. Pedro para comandar a nova fundação.
D.
Manuel Lobo tomou posse do governo do Rio de Janeiro em 9 de maio de 1679, dando
logo início à preparação da expedição que viria a fundar uma fortaleza às margens
do Rio da Prata. Em janeiro de 1680, D. Manuel Lobo chegou ao Prata, onde fundou
a fortaleza do Santíssimo Sacramento em frente às ilhas de São Gabriel.
Contudo, a expedição não pôde resistir ao ataque combinado das forças coloniais
espanholas e dos exércitos indígenas das missões jesuíticas, grupos para os
quais a presença portuguesa no Prata constituía uma grande ameaça.
A
destruição de Sacramento, levada a cabo oito meses após sua fundação, irritou
profundamente o Príncipe Regente que, sob ameaça de guerra, forçou a Coroa
espanhola a restituir-lhe a posse do território conquistado no Tratado
Provisional de 1681. A fraqueza da Espanha obrigada a ceder por meio da
diplomacia o que seus vassalos na América haviam conquistado pelas armas
voltaria a se repetir em 1715 e ainda em 1763, refletindo a contradição que podia
haver entre os interesses dos colonos e os da metrópole.
Foram
bastante difíceis os primeiros anos que se seguiram ao restabelecimento dos
portugueses na Colônia, em 1682, quando as restrições do governo de Buenos
Aires, que procurava impedir o contrabando e a exploração do gado selvagem que
abundava na campanha, se somaram à corrupção generalizada que marcou o governo
de Cristóvão Ornelas de Abreu (1683-1689). A situação melhorou
consideravelmente sob as administrações de Francisco Naper de Lencastre
(1689-1699) e de seu sucessor, Sebastião da Veiga Cabral (1699-1705), com o
incremento da política de povoamento e uma intensa exploração das riquezas
pecuárias da Banda Oriental.3
A
Guerra da Sucessão Espanhola colocaria Portugal e Espanha em campos opostos na
Europa, resultando na irrupção das hostilidades no Prata e no abandono da Colônia
aos castelhanos em 1705. A guerra terminou com a assinatura dos tratados de
Utrecht, nos quais Felipe V teve de fazer várias concessões a fim de obter o
reconhecimento das nações europeias à ascensão dos Bourbon ao trono espanhol.
O
tratado de paz com Portugal, assinado em 1715, assegurou aos portugueses a
devolução do território da Colônia do Sacramento. A partir de então, a Coroa
portuguesa iniciou uma verdadeira política de povoamento na região, enviando
sessenta casais da província de Trás-os-Montes, em 1718, para dar início à agricultura
e desenvolver a criação de gado, assim como garantir uma guarnição militar permanente.
As constantes deserções dos soldados que serviam em Sacramento levaram o
Conselho Ultramarino a defender o envio de
casais, argumentando que “à experiência de tantos desertores será melhor
que vão casais porque não é tão fácil largarem suas mulheres e filhos e irem
viver em reino estranho”.4
Da
mesma forma que o uso do
sistema de degredo, a política de implementar a colonização através dos casais
estava intimamente ligada à instituição militar. Cedo os povoadores foram
enquadrados no sistema militar, pois antes mesmo que chegassem ao seu local de
destino, a Coroa já enviara trezentas armas para a formação de “algumas
companhias de ordenança dos mesmos casais que ajudem a defesa da dita praça”.5
A
notícia da entrega da “Colônia do Sacramento e seu território”, segundo os
termos do Tratado de Utrecht, não foi bem recebida em Buenos Aires. O cabildo
escreveu ao rei que a devolução da Colônia aos lusos resultaria num gravíssimo
prejuízo à Coroa espanhola e aos habitantes das províncias de Buenos Aires,
Paraguai e Tucumã, assim como aos índios das missões jesuíticas. Dizia
que todos necessitavam da caça do gado selvagem que vivia na Banda Oriental,
uma vez que a contínua exploração e a seca haviam extinguido o gado na campanha
bonaerense.6 Para o governador de Buenos Aires, o território da Colônia, não
delimitado pelo Tratado de Utrecht, era somente o coberto pela artilharia da
praça.
Segundo
ele, se antes os portugueses tinham o usufruto da campanha, o mesmo não passava
de roubo, o que seria evitado com o povoamento da margem norte do Rio da Prata
pelos espanhóis.7 Na tomada de posse, o governador Manuel Gomes Barbosa expôs o
que os portugueses entendiam como sendo o território da Colônia: “tanto para a
parte do norte, por onde se continua atualmente o domínio de Portugal, como
para a parte do leste, e foz do Rio da Prata”.8
Por
isso pediu aos comissários espanhóis a retirada da guarda do rio San Juan,
situada a cinco léguas de Sacramento. Recebeu uma negativa com base no
argumento de que o território da Colônia do Sacramento se restringia ao alcance
de um tiro de canhão disparado da fortaleza, ideia do governador de Buenos
Aires aprovada pela Coroa espanhola. Seguindo as ordens de Lisboa, Gomes
Barbosa fez registrar seu protesto contra a limitação imposta pelos espanhóis e
deu início às obras de reconstrução da fortaleza.
Se
os primeiros tempos ainda foram difíceis, devido aos problemas de abastecimento
que marcaram o governo de Manuel Gomes Barbosa (1716-1722), a situação mudaria
radicalmente com a chegada do seu sucessor. A junção do apoio decidido da Coroa
à grande capacidade administrativa do governador Antônio Pedro de Vasconcelos
(1722-1749) foram os fatores responsáveis por um período de grande desenvolvimento
que pode ser considerado como o apogeu da presença portuguesa no Rio da Prata.
Porém,
a prosperidade dos habitantes da Colônia do Sacramento preocupava a Coroa
espanhola, lesada pelo intenso contrabando, enquanto os colonos e os índios das
missões conviviam a contragosto com a concorrência portuguesa na exploração do
gado selvagem. A tensão permanente, alimentada pelos frequentes conflitos com
os espanhóis e indígenas na campanha, chegaria ao auge em outubro de 1735,
quando as tropas castelhanas apareceram em frente aos muros da Colônia do
Sacramento, iniciando um sítio que duraria dois longos anos até que a paz
voltasse às margens do Rio da Prata, em setembro de 1737.
Portão da antiga Fortaleza do Santíssimo Sacramento. Somente o portão e parte da muralha ainda hoje encontram-se de pé. |
O
início das hostilidades no Prata foi a consequência de uma série de tensões
que, na Europa e na América, opunham os interesses dos espanhóis aos dos
portugueses; o pretexto para iniciá-las foi um pequeno incidente diplomático
ocorrido em Madri. Em um domingo de carnaval, 20 de fevereiro de 1735, os
criados do embaixador português na corte espanhola, Pedro Álvares Cabral,
Senhor de Belmonte, libertaram um homem que estava sendo conduzido preso, por
soldados, pelas ruas de Madri, dando-lhe acolhida na casa do embaixador.
Dois
dias após, cem soldados invadiram o palácio do Senhor de Belmonte, prendendo
todas as pessoas que lá encontraram. Embora Pedro Álvares Cabral protestasse contra
a violência, de nada adiantou sua intervenção. A chegada da notícia desse
incidente a Lisboa provocou a divisão dos conselheiros de D. João V entre os
que propunham uma conciliação e os que exigiam uma represália imediata. O
segundo grupo venceu e, a 13 de março, sessenta soldados e três oficiais
ocuparam todas as entradas da casa do embaixador espanhol, Marquês de
Capecelatro, prendendo doze criados seus que foram levados à cadeia do
Limoeiro.9. O
incidente diplomático que quase originou um conflito bélico entre as Coroas
ibéricas na Europa e foi responsável pela irrupção da guerra no Prata, foi na
verdade o estopim da tensão no relacionamento luso-espanhol que vinha
estremecendo desde 1733.
O
casamento dos príncipes herdeiros de Portugal e Espanha com as infantas
espanhola e portuguesa, combinado em 1725 e realizado quatro anos após na
fronteira luso-espanhola, fora pactuado num momento de irritação contra a corte
francesa, que desfizera os ajustes para o casamento do delfim da França com a
infanta de Espanha e não correspondia a um desejo sincero de maior aproximação
com Portugal, de quem Filipe V guardava ressentimentos desde a Guerra da
Sucessão Espanhola. Por outro lado, o príncipe das Astúrias era alvo constante
das intrigas de Isabel Farnésio, a segunda esposa de Filipe V. Enquanto Isabel
era a principal interessada em impedir que Felipe V cumprisse sua intenção de
abdicar, D. João V manifestava a esperança de que a ascensão de seu genro ao
trono espanhol aumentaria sua influência na corte de Madri.
Jaime
Cortesão sustenta a hipótese de que a intimidade que o embaixador português mantinha
com os príncipes e seu envolvimento entre os partidários da abdicação de Felipe
V foram os fatores responsáveis pela antipatia que Isabel Farnésio e seu valido,
o primeiro ministro D. José Patiño, lhe devotavam.10. Além
das intrigas da corte, a situação internacional também contribuiu para o fim da
harmonia que existiu, entre 1725 e 1733, entre as duas Coroas ibéricas. Em
1733, D. José Patiño negociou uma aliança
franco-espanhola que ia contra os interesses portugueses, pois, por meio desse
pacto, a França comprometia-se a ajudar a Espanha a conquistar os reinos de
Nápoles e Sicília (que então pertenciam à Áustria, aliada de Portugal) para o
príncipe Carlos, filho de Felipe V e Isabel Farnésio.11
A
reviravolta da política de alianças elaborada pela diplomacia espanhola agradou
sobremaneira aos tradicionais inimigos dos habitantes da Colônia, os jesuítas e
o cabildo de Buenos Aires que, em 15 de abril de 1733, escreveu ao rei
queixando-se dos “excesos cometidos en los ganados vacunos de la otra banda por
los portugueses de la Colonia”.12 Patiño aproveitou o momento e, com a dupla
finalidade de agradar os portenhos e hostilizar os portugueses, inteirou o novo
governador do Rio da Prata, D. Miguel de Salcedo, das queixas do cabildo de
Buenos Aires, ordenando-lhe que durante seu governo se informasse dos novos
caminhos abertos pelos portugueses para o Brasil e destruísse todos os
estabelecimentos, quintas, estâncias e animais que os portugueses possuíssem
fora da área coberta pela artilharia dos muros de Sacramento, solicitando a
ajuda dos índios missioneiros se fosse necessário.
Devia
ainda impedir todo o comércio entre portugueses e espanhóis e limitar a
navegação dos lusitanos, no Rio da Prata, às rotas estritamente necessárias
para a ligação da Colônia aos demais domínios portugueses.13 Assim que chegou a
Buenos Aires, em março de 1734, Salcedo empenhou-se em cumprir as ordens recebidas.
Na repressão ao contrabando, ordenou a substituição dos antigos fiscais reais,
sendo que alguns deles foram presos e tiveram seus bens confiscados.14
Ainda
em março do mesmo ano, Salcedo escreveu ao governador Antônio Pedro de
Vasconcelos informando-lhe da “expresa orden del Rey mi amo para arreglar, y
demarcar los limites de esa Colonia”. Vasconcelos respondeu-lhe que “se achava
sem as instruções ou poderes de S. Majestade, para entrar nesta conferência”.
Salcedo insistiu no assunto em outras duas cartas, enquanto Vasconcelos continuava
a alegar a sua falta de competência para determinar os limites do território da
Colônia do Sacramento.15. Entretanto,
em 18 de abril de 1735, D. José Patiño comunicou ao governador Salcedo que o
rei resolvera “que sin esperar a que formalmente se declare la guerra con los
Portugueses, y solo en virtud de esta orden, se sorprenda, tome y ataque la
ciudad y Colonia del
Sacramento”.16
Entre
os preparativos para o ataque a Sacramento, o governador Salcedo ordenara a
saída dos portugueses e ingleses de Buenos Aires. Mais de trinta ingleses
conseguiram burlar a vigilância dos espanhóis e passaram para a Colônia, onde
foram bem recebidos pelo governador Vasconcelos, que os juntou à tripulação do
bergantim real, que teve como missão dar caça aos transportes e comunicações
que os espanhóis faziam entre as duas margens do Rio da Prata.17. Enquanto
isso, na Europa, os governos de Lisboa e Madri iniciavam os preparativos para a
guerra. Em cumprimento aos tratados de aliança com Portugal, em junho, entrou
no Tejo uma esquadra inglesa composta de trinta navios e mais de doze mil
homens. Ao mesmo tempo, a Coroa ordenou ao governador Antônio Pedro de
Vasconcelos que se prevenisse contra qualquer ataque espanhol, aviso
desnecessário, já que o mesmo sabia do que se passava em Buenos Aires através das
informações fornecidas pelos espanhóis que visitavam a Colônia e pelos espiões
que mantinha naquela cidade.18
Na
campanha, o bloqueio hispano-indígena foi estreitando aos poucos os movimentos
dos portugueses e, em 30 de maio de 1735, o comerciante José Meira da Rocha
escrevia que “está isto tão miserável que nem sequer lenha nos deixam os
castelhanos tirar da campanha, tomando para seu poder todos os carros e
escravos que a vão buscar, e mandando dizer ao depois aqui vergonhosíssimas
graças e chascos”.19. Em 29 de julho iniciou-se o bloqueio naval, quando um navio que saía carregado
da Colônia com destino à Bahia foi apresado pelos espanhóis.20 A tensão
cotidiana degenerou em pânico em outubro, quando um destacamento espanhol
avançou sobre os arredores de Colônia, destruindo as quintas dos povoadores e
pondo em retirada a cavalaria portuguesa.
As
tensões manifestaram-se então contra as autoridades portuguesas, pois começou a
circular a notícia de que embora o governador soubesse da possibilidade de um
ataque espanhol, não providenciara a evacuação dos colonos, que viram suas
lavouras destruídas e o gado apresado pelo inimigo, tendo de se retirar para a
fortaleza às pressas sem poderem salvar os alimentos que seriam necessários durante
o longo cerco.21. De
fato, embora o governador Vasconcelos tivesse sido avisado dos preparativos de
guerra de D. Miguel de Salcedo, os espiões que mantinha em Buenos Aires
asseguraram-lhe que o mesmo tinha falta de gente e via-se desprevenido para um
ataque. Para o governador da Colônia, os preparativos dos espanhóis tinham a
finalidade de fazer os portugueses abandonarem as estâncias, pois ele não
acreditava no rompimento das hostilidades sem uma formal declaração de guerra
na Europa.22
Embora
não houvesse ordenado a evacuação da campanha, o que seria ceder às pressões
espanholas de não sair do espaço coberto pela artilharia, assim que recebeu o
aviso de Lisboa, o governador Vasconcelos deu ordem para que se reforçasse a
muralha, ainda inconclusa. Os trabalhos de fortificação continuaram sem parar
nos domingos ou dias santos, com a participação de toda a população, inclusive dos
meninos da escola, que executavam o serviço cantando como uma forma de suavizar
o trabalho.
Ao
mesmo tempo, o governador enviou ao arrabalde de Veras 120 cavaleiros
destinados a impedir o avanço dos castelhanos,23 medida que se revelou
insuficiente, pois um destacamento de 500 soldados espanhóis pôs em retirada a
cavalaria portuguesa, dando início à destruição das quintas dos arrabaldes.24. Em
22 de outubro de 1735, o governador Vasconcelos ordenou uma mostra para
verificar quantos dos moradores eram destros no tiro. O mesmo queixou-se de que
dentre os muitos moradores, só aprovou cento e vinte, os quais repartiu em
quatro companhias destinadas à defesa da área litorânea, designando um oficial
para que os exercitasse no manejo das armas.25
O ataque dos espanhóis mobilizou todos os segmentos da população da Colônia para acudir à defesa da praça. Os civis foram agrupados em companhias que preservavam a divisão dos grupos sociais e dos elementos que se destacavam nesses grupos. O escrivão da Fazenda Real, Caetano do Couto Veloso, formou um destacamento com os seus dez escravos enquanto os comerciantes formaram uma companhia sob as ordens do seu companheiro de ofício, José Meira da Rocha.
O ataque dos espanhóis mobilizou todos os segmentos da população da Colônia para acudir à defesa da praça. Os civis foram agrupados em companhias que preservavam a divisão dos grupos sociais e dos elementos que se destacavam nesses grupos. O escrivão da Fazenda Real, Caetano do Couto Veloso, formou um destacamento com os seus dez escravos enquanto os comerciantes formaram uma companhia sob as ordens do seu companheiro de ofício, José Meira da Rocha.
De
28 de novembro até 9 de dezembro de 1735, os espanhóis bombardearam a Colônia
do Sacramento causando “horroroso estrago nas propriedades da povoação”, segundo
o alferes Silvestre Ferreira da Silva, um dos cronistas do cerco.26 O
bombardeio abriu uma brecha de duzentos palmos na muralha, e mesmo que ela
fosse constantemente reparada pelos defensores durante a noite, o governador de
Buenos Aires exigiu a rendição da praça.27 Diante da negativa do governador da
Colônia, as tropas espanholas começaram a organizar-se para o assalto. Porém
uma bala da artilharia portuguesa atingiu o centro da formação inimiga,
causando uma grande confusão que desbaratou o assalto à praça sitiada.28
Em 6 de janeiro de 1736 chegaram os reforços que se concentravam no Rio de Janeiro, somando homens recrutados naquela capitania, em Minas Gerais e na Bahia.29 A expedição de socorro garantiu a supremacia naval aos portugueses, ocasionando a retirada do governador de Buenos Aires, que levou consigo a infantaria e a cavalaria, deixando quinhentos cavaleiros no campo de bloqueio a fim de impedir a saída dos portugueses do recinto fortificado. A morte do jesuíta que comandava os índios missioneiros aumentou a deserção entre eles, que por fim também foram mandados para casa.30
Em 6 de janeiro de 1736 chegaram os reforços que se concentravam no Rio de Janeiro, somando homens recrutados naquela capitania, em Minas Gerais e na Bahia.29 A expedição de socorro garantiu a supremacia naval aos portugueses, ocasionando a retirada do governador de Buenos Aires, que levou consigo a infantaria e a cavalaria, deixando quinhentos cavaleiros no campo de bloqueio a fim de impedir a saída dos portugueses do recinto fortificado. A morte do jesuíta que comandava os índios missioneiros aumentou a deserção entre eles, que por fim também foram mandados para casa.30
Porém,
se a chegada da expedição de socorro diminuiu a pressão dos espanhóis sobre a
Colônia do Sacramento, surgiram diversos atritos entre os moradores e os
recém-chegados. O recrutamento forçado trazia diversos problemas; o principal
era a dificuldade em manter a disciplina entre homens sem treinamento militar.
Mal desembarcado o destacamento da Bahia, “começaram os soldados com distúrbios
e desgostos a inquietar a praça.
Mostravam
que da guerra não tinham experiência, menos sofrimento para os trabalhos de um
sítio rigoroso. Sabiam melhor contender com os domésticos que disputar com os
estranhos”, segundo Simão Pereira de Sá.31 Parece mesmo que os baianos
trouxeram mais problemas que auxílio e, por fim, o governador Vasconcelos
resolveu desembaraçar-se deles mandando-os embarcar para Laguna a fim de buscar
carne para o sustento da praça, de onde o destacamento saía “mal quisto com o
povo por alguns insultos cometidos aos paisanos”.32
As
tropas desembarcadas deveriam substituir os civis que defendiam a praça. Mas
nem sempre a substituição deu-se sem problemas. Devido à sua elevada posição
social na Colônia, o comerciante José Meira da Rocha recebeu o comando de uma
companhia que incluía comerciantes e soldados. Meira da Rocha não deixou de
registrar que durante os cinco meses em que comandou este grupamento teve de ter
grande paciência para aturar a falta de disciplina dos seus subordinados, que
pediam para almoçar e voltavam à tardinha ou pediam para jantar e só voltavam
no dia seguinte.
Caso
se negasse a dar permissão para as suas saídas, iam queixar-se ao governador, que
me não podiam aturar com impertinências e medos demasiados, que sempre queria
ter ali a gente amarrada, e a trabalhar nos parapeitos, e que o melhor seria
entregar a bateria a outrem e juntamente que ora queria estar sempre atirar ao
inimigo, ora não queria, trocando as melhores ocasiões para as piores e, para
dizer tudo, fizeram-me meio doido.33
O
governador, por sua vez, tentava apaziguar os ânimos, recusando-se a castigar a
falta de disciplina dos soldados e ordenanças, dizendo-lhe que “não estávamos
em ocasião disso, e que sofresse eu 21 homens que também ele sofria toda a
praça”.34 As tensões entre os dois grupos manifestavam-se através do pouco caso
com que os soldados tratavam a autoridade de Meira da Rocha, ausentando-se por
longas horas dos seus postos e também através de queixas ao governador.
José
Meira da Rocha estava consciente de que os atritos que tinha com seus
subordinados eram consequência do seu empenho em cumprir bem sua missão, pois
comentou que, no tempo em que comandava a bateria, mantinha todo o equipamento
limpo e em ordem, com os canhões sempre carregados e apontados para o inimigo. A
situação mudou completamente depois que o capitão Antônio Carvalho e sua companhia
ocuparam o posto que anteriormente comandava, o qual descreve então como “mui
diverso, por
estar a artilharia uma descarregada, e outra desapontada, e tudo sujo e
miserável, que certamente paga Sua Majestade soldo a homens que eles lhes
deviam pagar a água que bebem no seu reino”.35
Segundo
Meira da Rocha, assim que o governador viu o estado em que se encontrava a
bateria, deixada a cargo dos reforços vindos do Rio de Janeiro, ordenou ao próprio
e aos demais comerciantes que, assim que ouvissem o sino anunciar um ataque
inimigo, acorressem à mesma bateria para cuidar da artilharia. Porém, para
Meira da Rocha tal cuidado não seria de grande utilidade, já que “na bateria ninguém
hoje poderá parar em caso de assalto por estarem as pessoas nela a peito
descoberto, por que como os parapeitos eram de surrões de couro cru cheios de
terra, e neles não houve cuidado, apodreceu o couro, e a terra caiu ao mar”.36
Porém,
a atuação mais importante dos comerciantes não era a sua participação ativa na
defesa da praça, mas sim, a de fornecer empréstimos que possibilitassem ao governador
Vasconcelos realizar o pagamento das tropas. Segundo Simão Pereira de Sá: “A
guarnição aflita e cansada, sobre a queixa de mal paga, violentamente obedecia,
e servia com repugnância”. Esta situação foi remediada pelo oferecimento, ao
governador, por “Domingos Alvarez Calheiros, José da Meira, e outros
mercadores, cabedal bastante com que se fez pagamento geral às tropas,
contentando assim a aqueles que pelas queixas se podiam fazer rebeldes aos
superiores, traidores à pátria”.37
Em
situação de perigo intenso como a guerra, os escravos eram armados e serviam
sob o comando dos seus senhores, como foi o caso dos cativos do escrivão da
Fazenda Real em Colônia, Caetano do Couto
Veloso que, com seu filho e dez escravos de sua propriedade, apresentaram-se ao
governador para ajudar a reconstruir a muralha, que as chuvas haviam arruinado.
Couto Veloso recebeu a incumbência de defender um setor dos muros com “dez
negros armados de espingardas, e chuços”. Mais tarde, foi transferido para o
porto, onde continuou o serviço com “os seus dez escravos que a todas as
funções o acompanhavam fazendo rondas e sentinelas por toda aquela parte”. Os
escravos continuavam a ter os piores serviços, mesmo em tempo de guerra, pois o
governador mandou que o escrivão juntasse seus homens à forças do capitão Pedro
Lobo “compostas de sessenta homens pretos” para que, numa perigosa expedição,
saíssem do recinto fortificado para demolir o que restava das construções
extramuros, a fim de fornecer madeiras para a confecção de plataformas para a
artilharia.38
Silvestre
Ferreira da Silva relacionou os negros que ajudaram a guarnecer a praça, sem identificar
se eram escravos, ou não. Nos baluartes de Santo Antônio e no de São João
estavam a postos “alguns pretos de préstimo para o manejo da lança e da
artilharia do dito baluarte”. Na bateria de Santa Rita, quatro negros cuidavam
da artilharia e na bateria de São Pedro de Alcântara, estão relacionados mais sete
negros. Curiosamente, Ferreira da Silva omitiu a presença dos escravos na
defesa da zona portuária, a qual foi encarregado de defender, referindo-se
somente a “cem homens avulsos”,39 enquanto Simão Pereira de Sá escrevia que “a
mais parte da mencionada Marinha, guarnecia uma numerosa companhia de escravos
a cargo de Silvestre Ferreira da Silva”.40
Gravura da Fortaleza do Santíssimo Sacramento em 1731. |
Nessa
companhia encontravam-se os cativos do escrivão da Colônia, pois Sá
acrescentava que nela serviam de oficiais, Caetano do Couto Veloso, Pedro Lobo
Botelho e Clemente da Silva Pais. Os espanhóis procuraram tirar vantagem da
presença dos escravos entre os defensores de Colônia, oferecendo-lhes a
liberdade, caso desertassem e passassem para os domínios do Rei Católico.
O
governador Antônio Pedro Vasconcelos também buscou favorecer a deserção entre
as fileiras inimigas, porém não prometia nada aos escravos, dizendo que “não
disputa aos escravos a fuga do domínio de seus senhores, por ser contra a moral
cristã”.41 Provavelmente os portugueses não deixaram de se utilizar da contrapropaganda,
como fizeram durante o cerco de 1705, quando o governador Sebastião da Veiga Cabral
mandou espalhar o boato de que o governador de Buenos Aires queria reduzir toda
a população sitiada à condição de prisioneiros e se apoderar dos seus escravos,
escravizando também os negros e mulatos livres.42
O
pequeno espaço físico ocupado pelas fortificações, que tornava difícil o
cotidiano dos moradores, piorou com a chegada dos reforços, pois os mantimentos
não eram suficientes para todos. O início do inverno também causou o aumento de
doenças, especialmente dos soldados que vinham de regiões com clima tropical.43
São inúmeros os relatos de doenças entre os sitiados, geralmente causadas pela
fome, ingestão de alimentos estragados, disseminação do escorbuto, por falta de
alimentos frescos, e mesmo pelo clima frio do inverno, ao qual muitos soldados
que vinham da costa brasileira não estavam acostumados. O alferes Silvestre
Ferreira da Silva registrou que: “Assim o experimentou naqueles meses de
inverno toda a povoação da Colônia, em que a fome (como fera que tudo atropela)
nos obrigou a comer cavalos, cães, gatos e outros imundos animais, que
procurava a necessidade”.44
Simão
Pereira de Sá descreveu na sua característica linguagem barroca a terrível
situação da praça sitiada: Era tão lamentável, e geral a falta de mantimentos
na praça que a nenhuma espécie de animal imundo perdoava a fome, escogitando
[sic] a necessidade admiráveis viandas das ervas agrestes, que incultamente,
produzia a terra; valia uma galinha quatro mil réis, e como ainda na extremidade
era barata a exorbitância, apareciam poucas para os enfermos da mesma fome.
Convalesciam
os doentes de queixas graves com carne salgada, e corrupta. Eram os ratos
preciosa venatória para os mais mimosos na criação. Custava o gato a meio peso
castelhano. O quarto de cão a oitenta réis. De algumas estrebarias violentamente
tiravam as bestas e sem igualdade nos quinhões, cada um levava o seu pedaço à
força de armas, ficando mais lucrado o que era mais valente.45. Entretanto,
novos reforços se faziam necessários, pois a notícia de que a Coroa espanhola
preparava duas naus para aumentar as suas forças no Prata fizera D. João V ordenar
a ida de uma frota em socorro a Colônia.46 A 25 de março de 1736, zarpavam de
Lisboa duas naus de 60 peças e uma fragata de 54, sob o comando do coronel Luís
de Abreu Prego que, com o pretexto de acompanhar a frota mercante do Rio de
Janeiro, destinavam-se a reforçar a presença naval de Portugal no Rio da Prata.
Seguia
com o coronel Prego o mestre de campo André Ribeiro Coutinho, considerado um
dos mais brilhantes oficiais portugueses, com larga experiência no Estado da
Índia. Posteriormente, acrescentar-se-iam mais duas fragatas, que deveriam
acompanhar a frota da Bahia, a qual zarpou em 21 de agosto. Os navios de guerra
seguiam com uma tripulação maior do que a necessária, à qual se acrescentaria
um destacamento a ser retirado da guarnição do Rio de Janeiro. Com relação à
atuação que se esperava da frota, D. João V dava preferência à tomada de
Montevidéu, mas também ordenava a fortificação da margem sul da barra do Rio
Grande de São Pedro.47
Na
altura das ilhas Canárias, os navios de guerra comandados por Prego se
adiantaram aos navios mercantes da frota e seguiram para o Rio de Janeiro, para
onde a Coroa já havia mandado um navio com ordem para que o governador Gomes
Freire de Andrade seguisse para o Rio de Janeiro, onde deveria assumir o
governo da capitania.48 O brigadeiro José da Silva Pais, governador interino do
Rio, desde 12 de março de 1735, fora encarregado de armar alguns navios leves
para se juntarem aos reforços que em breve chegariam de Lisboa, devendo
incorporar-se à expedição de socorro para comandar as operações terrestres
contra os espanhóis.49
A
situação em Sacramento era tão crítica que quando chegaram remessas de
alimentos nos navios de socorro, não se sabia como cozinhá-las, pois não havia
madeira disponível, e por isso “já não há casa que tenha porta interior, nem
coisa de madeira que se não tenha queimado e muitos comprando carros para o
mesmo efeito”.50 Além do problema ocasionado pela falta de lenha, havia a
circunstância de que a maior parte dos mantimentos recebidos era composta de
farinha de mandioca e carne salgada, alimentos impróprios para serem consumidos
pelos doentes, que ao invés de melhorarem, morriam por causa da dieta que lhes
era imposta pelas circunstâncias.51
O
pedido do brigadeiro José da Silva Pais ao governador do Rio de Janeiro, Gomes
Freire de Andrada, de que se colocasse fim aos abusos nos gastos com os remédios,
que já passavam de três mil cruzados, parece sugerir que houve super
faturamento no valor dos mesmos.52 Porém, os crescentes gastos com a saúde
também se relacionam ao aumento do número de doentes. Silva
Pais liberou os reforços do Rio de Janeiro do desconto a que eram submetidos
para a assistência do hospital, pois embora esta fosse disposição do regimento
do Rio, a guarnição de Sacramento não era obrigada a contribuir com as despesas
do hospital, através do desconto do seu soldo. Contudo, os militares cariocas
não deixaram de reclamar que no hospital de Sacramento “morrem muitos soldados
à míngua, por não terem um caldo de galinha e são tratados como se pode, e
[portanto] não devem dar o vintém e eles o que lhe toca”. 53
Enquanto
Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais enviavam seus reforços por via marítima, a
capitania de São Paulo foi encarregada de atacar as missões jesuíticas para
forçar a retirada das tropas indígenas do cerco à Colônia. Em 17 de agosto de
1736, em nome de Sua Majestade, o secretário Antônio Guedes Pereira escrevia ao
Conde de Sarzedas, governador de São Paulo, para que convidasse os sertanistas
da cidade a invadirem os domínios castelhanos, serviço que seria pago com
mercês, honrarias e a promessa de que “dos índios que tomarem se poderão
servir, com esta distinção, que se forem gentios ficarão seus escravos, e se
forem cristãos, ficarão prisioneiros de guerra, mas com a obrigação de os
servirem”.54
Embora
entre os sitiados existisse a esperança de que dois mil paulistas viessem por
terra para forçar os espanhóis a levantarem o cerco,55 o certo é que tudo não
passava de boato ditado pelo desespero ou mesmo conscientemente criado para
elevar o moral da população. Os reforços de São Paulo, na verdade, não passavam
de 180 homens chefiados por Cristóvão Pereira de Abreu, sertanista que tinha grandes
interesses na exploração do gado sulino. Essa
expedição não passou do Rio Grande de São Pedro, pois Pereira de Abreu tinha
poucos homens, mal armados, e temia que a guarnição de Montevidéu lhe impedisse
o acesso à Colônia. O sertanista criticou a estratégia portuguesa de concentrar
os esforços numa ofensiva marítima, dizendo que “se admira muito de que todas
as forças se oponham no mar e nenhuma por terra por onde com muito pouco já se
teria concluído tudo”.56
Mesmo
que os paulistas não tivessem entrado em luta direta com os espanhóis,
contribuíram para a manutenção de Sacramento, através do envio de carne e peixe
e do apoio que deram à fortificação do Rio Grande de São Pedro, iniciado em
fevereiro de 1737, por ordem do brigadeiro José da Silva Pais, como alternativa
às fracassadas tentativas de tomar Montevidéu e fortificar Maldonado. Com
o objetivo de aliviar a falta de alimentos na Colônia do Sacramento, ordenou-se
a evacuação da população civil. No navio que comandava o bloqueio a Montevidéu,
Silva Pais escreveu a Gomes Freire, em 24 de setembro de 1736, dizendo-lhe que:
“escrevo à Colônia hoje mande logo para baixo parte das embarcações que foram
com mantimentos e lhe recomendo muito mande nelas o maior número de bocas
inúteis pode ter naquela praça, para assim poderem chegar a mais algum tempo os
mantimentos”.57
Alguns
dos casais que se retiraram de Sacramento foram enviados ao Rio de Janeiro,
onde encaminharam pedido de ajuda para o pagamento da passagem e da
alimentação, alegando não terem “coisa alguma de seu, que todo o seu cabedal,
se algum tinham, ficou na dita praça onde gastaram enquanto acharam o que
comprar para alimentos”.58 Para receber ajuda de custo da Fazenda Real os
casais tinham de provar serem pobres; terem feito parte do grupo que, em 1718,
começou o povoamento da Colônia, a pedido do rei; e terem-se retirado dela sob
ordem do governador Vasconcelos. Dos casais que fizeram o pedido, em dezembro
de 1736, só receberam a ajuda de custo de meio tostão por dia, cada um, enquanto
durasse o sítio da Colônia, Inácio Gonçalves, José de Almeida e Joana Maria,
por apresentarem todos os requisitos necessários.59
Enquanto
alguns casais seguiram para o Rio de Janeiro, outros foram mandados para o Rio
Grande, a fim de dar início ao povoamento da região a partir de 1737, ano em
que também os comerciantes abandonaram a praça, como vemos na carta em que, do
Rio de Janeiro, Meira da Rocha escreveu ao comerciante lisboeta Francisco
Pinheiro: "Meu senhor, depois de me haver na Nova Colônia desenganado claramente
de que os portugueses naquela paragem já não haviam de aliviar a praça nem
fazer mais do que aturar as afrontas castelhanas, resolvi-me e mais os outros
comissários dela a largarmos-la em poder dos militares que somente nela se
acham, por que também as famílias paisanas de crianças e mulherio a
desampararam, embarcando-se uns para este Brasil, e outros para o porto de São
Pedro ou Rio Grande onde de presente se acham os socorros que desta haviam ido
como também da Bahia e Pernambuco para a mesma Colônia, em cuja praça não pararam
por terem os castelhanos à vista".60
Os
que não seguiram diretamente para o Rio Grande de São Pedro foram para lá
enviados sem muita demora. Em 1738, Gomes Freire remeteu para Rio Grande muitos
casais que anteriormente haviam sido evacuados da Colônia do Sacramento com
destino ao Rio de Janeiro e Laguna.61 A paz voltou ao Prata em primeiro de
setembro de 1737, quando chegou a Sacramento a nau de guerra “Boa Viagem” com a
notícia da assinatura do armistício, em 16 de março do mesmo ano, em Paris, pelos
representantes das Coroas portuguesa e espanhola, ordenando a cessação das
hostilidades e a manutenção do status quo.
Com
o armistício de 1737, inicia-se uma nova fase da história da Colônia do Sacramento.
Como bem observou Rego Monteiro, “terminou o período áureo da Colônia do
Sacramento, jamais voltaram a ter seus arredores aquela riqueza de produção,
que fazia dela a cobiça espanhola”.62 De fato, de 1737 a 1777, o cotidiano dos
habitantes de Sacramento foi marcado pelo bloqueio constante a que os espanhóis
submeteram o povoado, o que levou o historiador uruguaio Aníbal M. Riverós Tula
a compará-lo à também estratégica posição de Gibraltar,63 possessão inglesa na
costa sul da Espanha.
A
comparação da situação da Colônia do Sacramento com a de Gibraltar não escapou
aos contemporâneos. Martinho de Mendonça de Pina e de Proença, que governou
interinamente a capitania de Minas Gerais, durante o cerco à Colônia de
Sacramento, previa grandes problemas em manter duas fortalezas tão distantes
entre si como Colônia e Rio Grande, sendo “necessário sustentar presídios, como
Inglaterra a Gibraltar”.64 Na correspondência trocada com o general Gomes
Freire de Andrada, Martinho de Mendonça de Pina e de Proença mostrava sua
preocupação com a manutenção de uma praça mantida sob bloqueio contínuo, que
também comparou a Mazagão, praça-forte portuguesa situada na costa atlântica do
Marrocos.65
Efetivamente,
a partir de então, a situação da Colônia tornou-se parecida com a das
possessões portuguesas na costa marroquina, onde, segundo Boxer, “as guarnições
das praças só controlavam o terreno à volta das muralhas, até onde alcançava o
canhão. Nesse terreno, cultivavam os cereais, vegetais, frutas e pastoreavam os
cavalos e o gado”.66 O padre jesuíta Florián Paucke, que visitou a Colônia do Sacramento
em 1749, observou que o gado era recolhido à praça durante a noite, para evitar
que fosse apresado pelos espanhóis,67 o que também acontecia em Mazagão, onde
um dos portões chamava-se “porta dos bois”, justamente por ser utilizado para
conduzir o gado para as pastagens do campo vizinho.68
Francisco
Millau, na sua Descripción del Río de la Plata, de 1772, descreve a existência
de uma forte paliçada construída pelos espanhóis que, de uma praia a outra,
confinava os portugueses na península ocupada pela Colônia do Sacramento. No
cordão de isolamento ficava sempre de prontidão um destacamento de tropa que
fazia parte da guarnição de Buenos Aires.69
Porém,
tanto Paucke como Millau acentuam que o caráter militar da Colônia do Sacramento
não excluía a intensa atividade comercial que ali se realizava. Mais uma vez,
podemos traçar um paralelo com Mazagão que, durante o período filipino, foi um
centro de comércio muito visitado pelos mercadores europeus, “atraídos pela
segurança do porto, pela inexistência de barreiras alfandegárias na entrada das mercadorias
e pela facilidade dada pelas autoridades no trato com os comerciantes mouros e
judeus”.70
De
fato, se os espanhóis conseguiram conter a expansão portuguesa no atual
território uruguaio, não conseguiram acabar com o contrabando em definitivo.
Paucke assim descreveu o bloqueio que os espanhóis
impunham ao povoado: Parece-me
que os Portugueses vivem tão apertados e são tão sitiados pelos espanhóis, como
o são, atualmente, os judeus, em nossos países. Eu mesmo vi os sentinelas ao
redor da cidade; a mim me pareceu que ela estivesse bloqueada
ininterruptamente. É possível que, a partir do lado da terra, se possa fazer
penetrar algo, se – bem entendido – os sentinelas não forem ladrões ou intermediários.
Eu não sei se ocorre tal coisa, mas é provável que sim.71
De
fato, o campo de bloqueio espanhol, ao invés de impedir, contribuiu para o
desenvolvimento do contrabando entre os súditos de Portugal e Espanha. A
limitação do uso da campanha ao pequeno espaço permitido pelo campo de bloqueio
impediu a retomada da produção agrícola e pecuária por parte dos habitantes da
Colônia do Sacramento, que tiveram que buscar o abastecimento entre os
espanhóis. A
procura por gêneros alimentícios em Buenos Aires justificava a presença
constante de embarcações portuguesas na cidade que, na maioria das vezes,
transportavam mercadorias de contrabando.
Também
era frequente a passagem de suprimentos e contrabando, através da guarnição
responsável pela manutenção do campo de bloqueio. Segundo Fabrício Prado: “Tal
momento marca uma inflexão da estratégia lusitana. A Colônia do Sacramento, a
partir de então, assumia a constituição de um porto comercial sem um entorno
agrícola e uma possível moeda de troca por territórios de Espanha”.72
A
história da Colônia do Sacramento apresenta diversas facetas que foram
diferentemente realçadas pelos historiadores, de acordo com as suas próprias
interpretações. Centro de contrabandistas, mas também posto avançado da
fronteira, Sacramento é um tema fascinante pela sua história sui generis, no interior
do quadro do sistema colonial da América portuguesa, onde a riqueza estava na
agricultura, ou nas minas, e as invasões estrangeiras constituíram-se em
episódios isolados e inconstantes, ao contrário do que se dava na Colônia do
Sacramento.
A
conturbada história da Colônia, principalmente depois de 1735, apresenta
características específicas que a aproximam do cotidiano vivido pelos
habitantes das praças-fortes portuguesas na Índia e no Marrocos, pois lá, como
no Rio da Prata, as feitorias e cidades fortificadas, que inicialmente se
destinavam a controlar e proteger o comércio, não conseguiram expandir seu
domínio pelo interior, onde encontraram forte oposição dos sultões e
imperadores muçulmanos e, a partir de fins do século XVII na Índia, da temida
confederação Marata.73 Capistrano de Abreu não deixou de traçar um paralelo
entre as experiências colonizadoras dos portugueses no Prata e no Oriente, ao
enaltecer a figura do governador Antônio Pedro de Vasconcelos durante o cerco
promovido pelos espanhóis, comentando que o mesmo “resistiu com um esforço e
heroísmo que lembra algumas das mais belas páginas da história portuguesa na
Índia”.74
Heroísmo
e fidelidade, mas também deserção, desespero e fome, foram sentimentos que
marcaram a vida dos habitantes da Colônia, esse pequeno povoado onde a rede de
tensões cotidianas não se restringia aos atritos intraclasses dos moradores,
mas incluía as dificuldades de relacionamento com os habitantes dos arredores,
os indígenas minuanos, charruas e guaranis e principalmente com os espanhóis, inimigos
tradicionais dos portugueses. Essas características do cotidiano em Sacramento
faziam com que o povoado fosse um temido local de degredo, imagem que os raros
períodos de paz e a fertilidade da terra conseguiram apagar por alguns
momentos.
Notas
1 CANABRAVA, Alice
Piffer. O comércio português no Rio da Prata (1580-1640). Belo Horizonte:
Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1984.
2 RODRÍGUEZ, Mauro.
Dom Pedro of Braganza and Colônia do Sacramento, 1680-1705. Hispanic American Historical
Review, Durham,
vol. XXXVIII, nº 2, p. 187-188, May, 1958.
3 “Banda Oriental”
era o nome dado pelos espanhóis ao território situado na margem leste do rio
Uruguai, região hoje dividida pela República Oriental do Uruguai e pelo estado
do Rio Grande do Sul.
4 Consulta do
Conselho Ultramarino de 21 de janeiro de 1726. IHGB, Arq. 1.1.21, f. 344v-346.
5 Registro de uma
carta régia dirigida ao governador do Rio de Janeiro, 4 de março de 1718. In:
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. XXXIX. p. 369-370.
6 Campaña del
Brasil. Buenos Aires: Archivo General de la Nación, 1931. p. 452-453.
7 Idem, p. 453-457.
8 MONTEIRO, Jonathas
da Costa Rego. A Colônia do Sacramento (1680-1777). Porto Alegre: Globo, 1937,
v. 2, p. 58-59.
9 CORTESÃO, Jaime.
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Rio de Janeiro: Instituto Rio
Branco, 1950, parte I, tomo II. p. 59-63.
10 Idem, p. 63-66.
11 Idem, p. 64.
12 Campaña del
Brasil. Op. cit., p. 501.
13 Manuscritos da
Coleção de Angelis. Tratado de Madrid – Antecedentes: Colônia do Sacramento
(1669-1749). Rio de Janeiro:
Instituto
Rio Branco, 1954. p. 244-252.
14 LISANTI, Luís
(Org.) Negócios Coloniais. Brasília: Ministério da Fazenda; São Paulo: Visão
Editorial, 1973, vol. 4, p.
376-377.
15 SYLVA, Silvestre
Ferreira da. Relação do Sítio da Nova Colônia do Sacramento. Porto Alegre:
Arcano 17, 1993. p. 28-31.
16 Campaña del
Brasil. Op. cit., 1931. p. 505.
17 Noticia Práctica
del sitio de la Nueva Colonia del Sacramento y demás operaciones de los
enemigos desde el mes de septiembre hasta el 18 de diciembre de 1735, siendo
Gobernador de aquella Plaza Antonio Pedro de Vasconcellos. Revista Histórica,
Montevideo, 1916, tomo VII, nº. 22. p. 607-608.
18 CORTESÃO, Jaime
Cortesão. Op. cit., p. 68-69.
19 LISANTI, Luís
(Org.). Op. cit., vol. 4, p. 385.
20 SYLVA, Silvestre
Ferreira da. Op. cit., p. 41.
21 “Sistema entre un
Portuguez y un jenobes dentro de la colonia del Sacramiento hablaron sobre el
lamentable estado de ella y sus moradores...”. Archivo Regional de Colonia.
Reg. 217, 38, T5, doc. 4, f. 35-36.
22 Idem, f. 36.
23 “Noticia Práctica
del sitio de la Nueva Colonia del Sacramento…”. Op. cit., p. 606-607.
24 RIVEROS TULA,
Anibal M. Historia de la Colonia del Sacramento, 1680-1830. Apartado de la
Revista del Instituto Histórico
y
Geográfico del Uruguay, Montevideo, tomo XXII, 1959, p. 169-170.
25 “Certificados
referentes a los servicios y méritos funcionales de Caetano de Couto
Vellozo...”. Archivo Regional de Colonia. Reg. 217, 38 T5, doc. 3, f. 23.
26 SYLVA, Silvestre
Ferreira da. Op. cit., p 84.
27 “Já era uma
convenção da guerra de assédio que a recusa de se render, depois de aberta uma
brecha, eximia os atacantes
da
obrigação de oferecer mercê ou se abster de saquear. Na era da artilharia essa
convenção tornou-se absoluta”. KEEGAN, John. Uma história da guerra. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995. p. 333.
28 SYLVA, Silvestre
Ferreira da. Op. cit., p. 90.
29 “A primeira
expedição de socorro, sob o comando do sargento-mor Tomás Gomes da Silva,
deixou o Rio em 15 de dezembro de 1735. Compunha-se de seis embarcações e
levava trezentos e sessenta marinheiros, duzentos e cinquenta infantes, quarenta
e dois Dragões das tropas de Minas Gerais e trinta e cinco artilheiros. Ao lado
dos militares seguiam ainda oitenta e seis prisioneiros e vinte e cinco índios,
o que sugere que o sistema de recrutamento compulsório aplicado à população masculina
do Rio foi insuficiente para completar o número de soldados necessários,
tendo-se de recorrer aos prisioneiros. Na Bahia, o vice-rei, conde de Galveias,
tratou de organizar uma expedição de socorro que saiu de Salvador, a bordo de
dois navios, em 31 de dezembro de 1735. Compunha-se de um destacamento de
duzentos soldados, retirados dos dois Terços que guarneciam a cidade, aos quais
se acrescentaram três capitães de infantaria e um de artilharia, três alferes,
seis sargentos e cinquenta artilheiros. Os reforços foram divididos em quatro
companhias: duas de sessenta soldados cada e uma de oitenta, enquanto outra
reunia os cinquenta artilheiros.” POSSAMAI, Paulo. A vida quotidiana na Colônia
do Sacramento. Lisboa: Livros do Brasil, 2006. p. 179.
30 MONTEIRO, Jonathas
da Costa Rego. Op. cit., p. 231-242.
31 SÁ, Simão Pereira
de Sá. História Topográfica e Bélica da Nova Colônia do Sacramento do Rio da
Prata. Porto Alegre: Arcano 17, 1993. p. 96.
32 Idem, p. 110.
33 LISANTI, Luís
(Org.). Op. cit., vol. 4, p. 395.
34 Idem.
35 Idem.
36 Idem.
37 SÁ, Simão Pereira
de. Op. cit., p. 75.
38 “Certificados
referentes a los servicios y méritos funcionales de Caetano de Couto
Vellozo...”. Archivo Regional de Colonia. Reg. 217, 38 T5, doc. 3, f. 20-27.
39 SYLVA, Silvestre
Ferreira da Silva. Op. cit., p. 51-66.
40 SÁ, Simão Pereira
de. Op. cit., p. 79.
41 SYLVA, Silvestre
Ferreira da. Op. cit., p. 72-75.
42 “Y cuando se hizo
de nuestra parte llamada, se alegro mucho la gente, y lo tenian a milagro,
deseando se concluyesen los ajustes, y viendo, que no se convenían los
Gobernadores, se alborotaron amagando, que se pasarían a nuestro Campo; que
para aquietarlos, les dijo su Gobernador Portugues, que el Gobernador de
Buenos-Ayres, los quería llevar a todos prisioneros, y que a los Mulatos de la
Bahia, los harían esclavos; que al oìr esto dijeron, que querían pelear hasta
morir”. Cf. Relación del sitio, toma, y desalojo de La Colonia, nombrada el
Sacramento, en que se hallaban los Portugueses desde el año 1680 em el Rio de
La Plata a vista de las Islas de S. Gabriel”. Revista del Instituto Histórico y
Geográfico del Uruguay, Montevidéu, 1928, tomo VI, nº. 1 p. 205.
43 “A este tempo, em
que a guarnição estava entrada na estação do mais rigoroso frio, que é naquele
país nos meses de maio até setembro, começaram os soldados dos destacamentos,
proximamente vindos, a experimentar a falta dos ares pátrios, perdendo
inteiramente a saúde, naqueles que por frigidíssimos se lhe mostravam
estranhos; por cujo motivo picavam já as doenças a toda a guarnição, sem as
poder reparar remédio algum”. SYLVA, Silvestre Ferreira da. Op. cit., p. 95.
44 Idem, p. 96.
45 SÁ, Simão Pereira
de. Op. cit., p. 105.
46 Idem, p. 107.
47 BARRETO,
Abeillard. A Expedição de Silva Pais e o Rio Grande de São Pedro. In: História
Naval Brasileira, Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, Serviço de
Documentação Geral da Marinha, 1975, vol. 2, tomo 2. p. 9-17.
48 Gomes Freire
chegou ao Rio em 20 de maio de 1736; de lá manteve intensa correspondência com
Martinho Mendonça, a cujo cargo ficara o governo interino de Minas Gerais. Cf.
Carta de Gomes Freire a Martinho de Mendonça, 21 de maio de 1736. Revista do
Archivo Publico Mineiro, vol. II. p. 239.
49 BARRETO,
Abeillard. Op. cit., p. 12-16.
50 Carta de Abreu
Prego a Gomes Freire, 4 de Janeiro de 1737. Revista do IHGRS, nº. 104, p. 349.
51 Carta de
Vasconcelos a Abreu Prego, 11 de fevereiro de 1737. Revista do IHGRS, nº. 99,
p. 87.
52 Carta de Silva
Pais a Gomes Freire, 4 de janeiro de 1737. Revista do IHGRS, nº. 104, p. 393.
53 Registro de uma
proposta do comissário da expedição a Silva Pais, 11 de novembro de 1736. Anais
do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, vol. 1, p. 37.
54 “Registro de hum
bando sobre darsse guerra ao gentio ou indios q. estão agregados ao castilhano
por estes fazerem operação a povoação da Collonia e o mais que nelle se declara
&ª”. Revista do Arquivo Municipal. São Paulo, 1939, vol. LXI, p. 131-132.
55 “Sistema entre un
Portuguez y un jenobes...”. Archivo Regional de Colonia. Reg. 217, T5, doc. 4,
f. 38.
56 “Carta de
Cristóvão Pereira de Abreu, para Gomes Fr.e de Andrada, datada do Rio Grande em
2 de Novembro de 1736”.
In:
ALVES, Artur da Motta (comp.). Documentos sobre a Colônia do Sacramento e o Rio
Grande de São Pedro. Revista do IHGRS, Porto Alegre, IV trimestre de 1946, nº.
104, p. 360.
57 “Carta do
Brigadeiro Jose da Silva Paes, datada de 24 de Setembro de 1736, para o Gn.l
Gomes Freire de Andrada”. In: ALVES, Artur da Motta (comp.). Op. cit., p. 388.
58 Registro da
Provisão que fizeram os casais vindos de Colonia. Rio de Janeiro, 10 de
dezembro de 1736. ANRJ. cód. 60, vol. 20, f. 146.
59 Idem, f. 146v.
60 LISANTI, Luís
(Org.). Op. cit., vol. 3, p. 617-618.
61 Memória dos
serviços prestados pelo mestre de campo André Ribeiro Coutinho (1740). In: “Inventário
de Castro e Almeida”. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 1936, vol.
L, doc. n.º 16.839, p. 328.
62 MONTEIRO, Jonathas
da Costa Rego. Op. cit., vol. 1, p. 331.
63 RIVEROS TULA,
Anibal M. Op. cit., p. 149.
64 Carta de Martinho
de Mendonça para Gomes Freire, 26/12/1736. Revista do Archivo Publico Mineiro,
Belo Horizonte, 1911, p. 372.
65 Carta de Martinho
de Mendonça a Gomes Freire de Andrade, 18 de julho de 1737. Revista do Arquivo
Público Mineiro, vol. II, p. 446.
66 BOXER, C. R. A
mulher na expansão ultramarina ibérica. Lisboa: Horizonte, 1977. p. 33
67 Apud BARROS-LÉMEZ,
Alvaro. V Centenario en el Río de la Plata. Montevidéu: Monte Sexto, 1992, p.
76.
68 FARINHA, António
Dias. História de Mazagão durante o Período Filipino. Lisboa: Centro de Estudos
Históricos Ultramarinos, 1970, p. 67.
69 MILLAU, Francisco.
Descripción de la Provincia del Río de la Plata. Buenos Aires: Espasa – Calpe,
1947, p. 112.
70 FARINHA, António
Dias. Op. cit., p. 55.
71 Apud BARROS-LÉMEZ,
Alvaro. Op. cit., p. 76. No original: “A mí me parece que los Portugueses viven
tan estrechados y son mantenidos por los Españoles tan entre barreras como
actualmente los judíos en nuestros países. Yo mismo he visto los centinelas en
derredor de la ciudad; me pareció como si la ciudad estuviere bloqueada de
continuo. No es posible que desde el lado de la tierra pueda colarse alguna
cosa si – bien entendido – los centinelas no son pillos e intermediarios. Yo no
sé si tal cosa ocurre pero es probable sea así”. Tradução do editor.
72 PRADO, Fabrício. A
Colônia do Sacramento, o extremo sul da América portuguesa. Porto Alegre: F. P.
Prado, 2002. p. 53.
73 ROSSA, Walter.
Cidades Indo-Portuguesas. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos
Descobrimentos Portugueses, 1997. p. 96-97.
74 CAPISTRANO DE
ABREU, João. Sobre a Colônia do Sacramento. In: SÁ, Simão Pereira de. Historia
Topographica e Bellica da Nova Colonia do Sacramento do Rio da Prata. Rio de
Janeiro: Leuzinger, 1900. p. XXVIII.
Referências
bibliográficas
Fontes
impressas:
BARROS-LÉMEZ,
Álvaro (comp.). V Centenario en el Río de la Plata: Pioneros, Adelantados,
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Campaña
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Luís (Org.). Negócios Coloniais (uma correspondência comercial do século
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