ALEXANDER FLEMING (1881-1955)
Da descoberta da penicilina (1928) ao Prémio Nobel (1945)
Ana Leonor Pereira
João Rui Pita
Obs: O presente texto é apenas uma parte do artigo original, o qual optei em reduzir sua apresentação aqui para focar na vida de Fleming e criação da penicilina. Além disso, as poucas imagens aqui contidas foram escolhidas por mim para ilustrar o trabalhado dos autores, já que no artigo original não constam imagens.
Introdução
A descoberta da penicilina por
Alexander Fleming, em 1928, é um dos acontecimentos mais marcantes da história
da ciência, da medicina e da farmácia do século XX. Se conjugarmos a inovação
científica com os benefícios ao nível da saúde pública e, consequentemente, os ganhos
no plano da economia civilizacional, podemos afirmar que a descoberta da
penicilina foi a conquista mais relevante da história da ciência novecentista.
A penicilina não foi mais um fármaco
novo nem mais um acontecimento científico isolado2. A descoberta da penicilina
abriu o caminho a novos investimentos científicos no domínio da antibioterapia
e consequentemente à descoberta de novos antibióticos3; estimulou a investigação
científica neste domínio; suscitou estudos clínicos sistemáticos; desencadeou
novos investimentos técnicos e tecnológicos com vista à produção industrial de
antibióticos; motivou estudos no domínio da tecnologia farmacêutica; esteve na
base de novos desafios e investimentos económicos a nível industrial; ampliou o
mercado dos medicamentos a nível do comércio grossista e nas farmácias; colocou
novos desafios aos médicos; acima de tudo, proporcionou a cura de patologias infecciosas
para as quais não havia qualquer terapêutica medicamentosa eficaz e, nesta
medida, reflectiu-se na estatística demográfica com a diminuição dos óbitos em
todos os níveis etários.
Portanto, a penicilina não pode nem
deve ser encarada unicamente como mais uma descoberta científica, mas antes
como aquela descoberta que desencadeou alterações profundas no tratamento de
doenças infecciosas, proporcionou o investimento científico no estudo de outros
antibióticos e teve profundas implicações sócio-demográficas e económicas. À
luz do que expusemos, compreende-se que a abordagem histórica da penicilina
implica uma enorme complexidade de factores e de condicionantes. Pode falar-se
de uma história da penicilina antes da sua descoberta por Fleming4 e de uma
história da penicilina após a descoberta do antibiótico pelo cientista escocês
e, como é óbvio, da história da penicilina protagonizada por Fleming.
Após a sua produção industrial, nos
anos 40, a penicilina transformou-se num fármaco imprescindível no arsenal
terapêutico de tal modo que é corrente falar-se da história dos medicamentos
antes e depois da aplicação da penicilina — o primeiro antibiótico. E, também, da
história da farmácia e da medicina antes e depois da penicilina. Mas, ainda, da
história das doenças humanas antes e depois da penicilina e portanto até da
história do corpo saudável e doente, antes e depois da penicilina. Uma das
aplicações mais interessantes da penicilina foi no combate à sífilis5, uma
doença que denunciava a necessidade de reforçar os alicerces científicos da
higiene pública, não apenas no plano curativo mas também ao nível preventivo6.
A penicilina salvou, e continua a
salvar, milhões de vidas, por isso se encontra entre “os grandes medicamentos
do século XX”7 e entre os “medicamentos que modificaram o mundo”8. Em 2003
passaram 75 anos sobre a descoberta da penicilina. Em 2004 completaram-se 75 anos
sobre a publicação dos primeiros resultados científicos da descoberta da
penicilina. Em 2005 celebra-se o cinquentenário do falecimento Alexander
Fleming. A notoriedade do cientista, o valor da descoberta e as repercussões
sócio-económicas-civilizacionais são razões nobres para apresentarmos uma breve
abordagem histórica da descoberta da penicilina, incluindo o início da sua
comercialização e expansão pelo mundo, isto é, grosso modo, na segunda metade
dos anos 40 do século XX9.
O presente estudo apoia-se nalgumas
conclusões de pesquisas transversais que temos desenvolvido no Grupo de
História e Sociologia da Ciência do Centro de Estudos Interdisciplinares do
Século XX da Universidade de Coimbra, CEIS20, nos projectos findos sobre a recepção
da penicilina em Portugal e sobre a recepção de Fleming em Portugal, e nos
projectos em curso sobre a história da farmácia em Portugal na primeira metade
do século XX e sobre a história ecológico-institucional do corpo10.
Alexander Fleming: de Lochfield para
Londres com 14 anos
Alexander Fleming nasceu a 6 de Agosto
de 1881, na Quinta de Lochfield, em Darvel, na Escócia11. Foi o terceiro filho
do segundo casamento do seu Pai, Hugh Fleming, com Grace Morton. Alexander
Fleming tinha sete irmãos, quatro do primeiro matrimónio e três do segundo casamento
do seu Pai. Quando Alexander Fleming tinha sete anos ficou órfão do Pai.
Frequentou a escola em Loudoun Moor, perto de Lochfield; aos 10 anos de idade
mudou para uma Escola de maiores dimensões, perto de Darvel e dois anos depois
transitou para a academia de Kilmarnock.
Em 1895, Alexander Fleming enceta uma
nova fase da existência com a sua ida para Londres, a capital, onde alguns dos
seus irmãos já residiam. Um deles, Thomas, estudou medicina e enveredou pela
oftalmologia12. Aos 16 anos de idade, Alexander Fleming completou os estudos na
Escola Técnica conseguindo de seguida emprego na companhia de navegação
American Line, onde desempenhou funções administrativas (contabilidade, registo
de carga de navios, registo de documentação diversa, etc.). Em 1900 Alexander
Fleming e outro irmão, John, alistaram-se no London Scottish Regiment estando
em causa a guerra com os Boers. Alexander permaneceu alistado no exército
durante cerca de dois anos e embora não tenha sido chamado para a frente de
combate notabilizou-se em actividades desportivas como a natação e o pólo aquático.
Entretanto os irmãos Fleming receberam uma herança do tio John, irmão do Pai, o
que permitiu que Alexander deixasse o emprego na companhia de navegação e
preparasse a sua entrada no curso de medicina.
O curso de medicina dos vinte aos vinte
e cinco anos
Em 1901, aos vinte anos, A. Fleming
inicia a realização do seu sonho de ser médico. Fez os seus estudos de medicina
em Londres, na Escola Médica afecta ao Hospital de St. Mary, tendo sido aluno
brilhante e não demonstrando uma especial inclinação por alguma área em
particular. Enquanto aluno de medicina participou em actividades culturais
complementares como, por exemplo, o teatro e demonstrou especial interesse
pelas actividades desportivas, tendo-se distinguido no pólo aquático e, também,
no tiro.
O início da carreira científica em 1906
Em 1906, Fleming formou-se em medicina
e começou a trabalhar no serviço do prestigiado bacteriologista e patologista
Almroth Wright — o Serviço de Inoculação — o famoso “Inoculation Department”
fundado em 1902. Recorde-se que este cientista britânico procurou encontrar, embora
sem êxito, uma vacina contra a febre tifóide no exército britânico na Índia e
na África do Sul. Fleming foi fortemente marcado pela figura e pelo trabalho de
Wright. Deve lembrar-se, também, que a questão da inibição bacteriana e o
tratamento de doenças infecciosas constituía uma preocupação de vários
cientistas, desde a escola francesa liderada por Pasteur e continuada pelos
seus discípulos, até à escola alemão tutelada por Koch e continuada pelos seus
discípulos.
Em 1909, Fleming fez provas para
cirurgião tendo, desde essa data, a possibilidade de exercer cirurgia. Contudo,
a motivação que sentia pelo trabalho de investigação laboratorial, e, em
particular, pela bacteriologia, levou-o a continuar as pesquisas laboratoriais
cujos resultados veio a publicar ao longo da sua vida na forma de livro e em
revistas como Practitionner, The Lancet, British Medical Journal, British
Journal of Experimental Pathology, St Mary’s Hospital Gazette, American Journal
of Clinical Pathology, Gazette des Hôpitaux, Annales de l’Institut Pasteur, The
Biochemical Journal, etc. Alguns dos trabalhos de Fleming foram realizados em
colaboração, sendo de sublinhar as publicações conjuntas com L. Colebrook, S.R.
Douglas, A.E. Wright, A.B. Porteous, F.J. Clemenger, V.D. Allison, Ian H.
Maclean, K.B. Rogers, C. Smith, J.R. May, A. Voureka, I.R.H. Kramer e W.H.
Hughes.
De acordo com o seu perfil, Fleming
continuou a desenvolver intensa actividade social tornando-se membro do Chelsea
Arts Club, praticando com frequência tiro e natação e jogando vários jogos de
cartas e ainda bilhar e xadrez. Aquando da Primeira Guerra Mundial, Almroth
Wright propôs ao governo britânico que o seu serviço fizesse a preparação de
vacinas contra a febre tifóide e que estudasse as feridas de guerra para evitar
as infecções. Assim, Fleming e outros colegas investigadores foram enviados para
Boulogne-sur-Mer onde instalaram um laboratório, tendo estudado um leque
variado de microorganismos. A sua presença e os seus trabalhos de pesquisa
permitiram actuar de modo mais profundo e eficaz sobre, por exemplo, os
ferimentos de guerra. Fleming torna-se, de facto, a maior autoridade mundial em
matéria de feridas de guerra. Da sua investigação resultou a publicação de
artigos científicos.
Em 1915, em plena Guerra Mundial,
Alexander Fleming contraiu matrimónio com Sara MacElroy, jovem enfermeira
irlandesa. Em 1919, regressou ao serviço de Almroth Wright dando continuidade
aos seus trabalhos de investigação e, mais tarde, em 1921 assumiu o cargo de
vicedirector do Serviço de Inoculação.
A descoberta da penicilina em 1928
A destruição das bactérias, a inibição
da sua proliferação, numa palavra, o combate às bactérias responsáveis por
inúmeras patologias infecciosas humanas constituiu a paixão científica de
sempre de Alexander Fleming. Nas palavras do próprio: “a destruição das
bactérias pelos leucócitos tinha-me interessado profundamente”13. Fleming
reportava-se às pesquisas anteriores à descoberta da penicilina pois aquele
problema motivou-o desde muito cedo. Durante a Primeira Guerra, Fleming avaliou
o poder antibacteriano dos leucócitos contidos nos exsudatos de feridas.
No período pós-Guerra continuou
interessado no estudo dos antisépticos e leucócitos, sendo de sublinhar a
descrição que fez da lisozima, em 1922. Segundo Fleming tratava-se de um
“poderoso fermento anti-bacteriano que se produz naturalmente nos tecidos
humanos e secreções”14. No discurso que proferiu aquando da atribuição do
Prémio Nobel, Fleming sublinhou isso mesmo dizendo que “a penicilina não foi o
primeiro antibiótico que descobri. Em 1922 descrevi a lisozima, uma potente
enzima antibacteriana possuidora de um efeito lítico extraordinário sobre algumas
bactérias”15
Em Setembro de 1928, Alexander Fleming
trabalhava “sobre a variação das colónias estafilocócicas como consequência de
uma comunicação do Professor Bigger, que tinha demonstrado que podiam
produzir-se colónias de aspecto sumamente diferente partindo da cultura pura de
um estafilococo piogéneo ordinário”16, conforme referiu mais tarde a propósito da
descoberta da penicilina.
Certo dia, de regresso ao laboratório,
Fleming observou novamente umas caixas de Petri que havia deixado cultivadas
com estafilococos e verificou que nelas se havia desenvolvido um fungo.
Constatou que até uma distância relativamente afastada dos fungos não havia
proliferação de estafilococos. Cerca de dezasseis anos mais tarde, Fleming reconstruía
o momento inaugural da sua descoberta: “Verdade é que todo o bacteriologista
tem visto, não uma mas muitas vezes, placas de cultura contaminadas com fungos,
também é provável que alguns bacteriologistas tenham observado alterações
semelhantes às apontadas mais acima, mas sem ter um interesse especial pelas
substâncias anti-bacterianas de ocorrência normal, se tenham limitado a afastar
as referidas culturas”17.
Aos 47 anos, Alexander Fleming em suas pesquisas bacteriológicas em seu laboratório na Universidade Hospital Santa Maria, em Londres, descobriu a penicilina. |
Por um lado, Fleming reconhecia o papel
do acaso na descoberta científica e, por outro lado, implicitamente sublinhava
que a observação genial do investigador marcava a diferença entre descobrir e
não descobrir. Posteriormente, Fleming investigou e observou que outras
bactérias patogénicas eram inibidas pela presença do fungo como, por exemplo,
os estreptococos, os pneumococos, os gonococos, os meningococos e os bacilos da
difteria e da gangrena gasosa. Solicitou, então, a colegas a caracterização do
fungo que foi inicialmente designado por Penicillium rubrum e algum tempo
depois Penicillium notatum.
Em 1929 publicou um artigo intitulado
“On the antibacterial action of cultures of a penicillium with special
reference to their use in the isolation of B. influenzæ” na revista British
Journal of Experimental Pathology18, onde descrevia a sua investigação e
publicava os seus resultados. Deste modo, a penicilina entrava nos circuitos
científicos. De tal modo se avaliavam os elevados benefícios da penicilina que
em 1932 Fleming sublinhava que o fármaco podia ser utilizado nos seguintes
casos: “i) Para o isolamento de bactérias não sensíveis de entre um grande
número de organismos sensíveis; ii) Para a demonstração de certas inibições
bacterianas; iii)para o tratamento de infecções por organismos sensíveis”19
sendo esta última aplicação a mais importante para a saúde humana.
Para se poder avaliar o extraordinário
da descoberta da penicilina, o Editorial do Jornal do Médico, dizia em 1950: “O
Prof. Chain, também galardoado com o Prémio Nobel pelos seus estudos sobre a
penicilina, juntamente com Fleming e Florey, fez notar que teria sido absolutamente
impossível planificar uma investigação tendente a descobrir aquele antibiótico,
porque ninguém tinha em vista a sua existência. O ‘Penicillium notatum’ apareceu
por acaso numa das culturas que Fleming guardava no seu laboratório. Centenas
de variedades de ‘Penicillium’ foram examinadas até hoje, mas só o ‘Penicillium
notatum’ é capaz de dar penicilina. Mais ainda: há sessenta espécies deste
bolor — e só uma delas, a que se deparou a Fleming, produz penicilina”20.
Início do primeiro artigo de Fleming abordando a descoberta da penicilina. |
Um problema a resolver: a produção
industrial da penicilina
A partir de 1929, a penicilina parecia
ter caído no esquecimento. Ao receber o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia,
em Dezembro de 1945, Alexander Fleming sublinhou esta questão dizendo: “Referi
a penicilina em um ou dois artigos até 1936, mas poucos prestaram atenção à
mesma. Somente dez anos depois, quando a introdução da sulfonamida modificou por
completo o pensamento médico no que toca à quimioterapia das infecções
bacterianas e desde que Dubos21 mostrou que um agente antibacteriano potente, a
gramicidina, era produzida por certas bactérias que os meus coparticipantes
neste Prémio Nobel, o doutor Chain e Sir Howard Florey, decidiram estudá-la”22.
Na verdade, a comunidade científica internacional fez poucas referências à
penicilina, embora Fleming tenha publicado sobre o assunto até finais dos anos
30(23).
Todavia, a questão da inibição da
proliferação microbiana constituía uma área de investigação relevante pois
havia a consciência de que doenças infecciosas que faziam perigar a saúde
privada e também a saúde pública teriam de ser combatidas não só com medidas
preventivas adequadas, mas também com profilaxia e tratamento medicamentoso, na
senda dos trabalhos capitais realizados por Louis Pasteur (1822-1895), Robert
Koch (1843-1919) e suas escolas de microbiologistas. Por exemplo, os trabalhos
de Paul Erlich (1845-1915) que descobriu o salvarsan (1910) e depois o
neo-salvarsan (1912) medicamento destinado ao tratamento da sífilis e os seus
estudos sobre teorias de antigénios e anticorpos. Mais tarde, em 1935, Gerard
Domagk (1895-1964) introduz derivados do prontosil na terapêutica medicamentosa
antibacteriana, tendo-se iniciado, assim, a sulfamidoterapia24 uma primeira
grande família importante no combate à infecções microbianas25.
Em 1939, dois cientistas da
Universidade de Oxford, Howard Florey26 e Ernst Chain27, e respectivos grupos
de investigação, começaram a desenvolver estudos sobre as propriedades antibacterianas
de produtos naturais, incluindo a penicilina que se tornou, de facto, num dos seus
alvos de investigação preferencial28.
Homenagem com uma amostra de Penicillium notatum, concedida ao professor Alexander Fleming em 1935. |
Entretanto, no contexto da Segunda
Guerra Mundial, Florey e Chain mostravam-se muito interessados em estudar
exaustivamente a penicilina. Começaram por repetir as experiências de Fleming e
depois aplicaram-se na purificação da penicilina e em trabalhos de
experimentação animal. Em 1940 publicaram, em colaboração com outros
cientistas, um artigo onde demonstraram a validade das propriedades da
penicilina, depois de a terem ensaiado em animais. Faltava a experimentação em
seres humanos. O primeiro foi um polícia cuja morte seria inevitável sem a
penicilina; seguiram-se outros doentes em 1941 e, com algumas contrariedades e
novos problemas emergentes, Florey e Chain demonstravam os benefícios da
utilização da penicilina em seres humanos29.
O passou seguinte era o problema
da produção de penicilina em larga escala para que pudessem ser confirmados os
estudos pioneiros pois a penicilina que se produzia era a uma escala reduzida.
Além do reconhecimento do valor terapêutico da penicilina no tratamento de
doenças infecciosas, havia um outro problema prioritário a resolver, o da determinação
da sua estrutura química. E esta questão ocupou fortemente investigadores e
norteamericanos30.
Howard Florey e o seu colega Norman
Heatley deslocaram-se aos Estados Unidos da América no Verão de 1941 e
conseguiram nalgumas instituições um bom acolhimento para o prosseguimento das
pesquisas e acima de tudo da produção em larga escala da penicilina,
destacando-se as negociações realizadas no Northern Regional Research
Laboratory em Illinois31. Foram também importantes outros contactos
estabelecidos por Florey, por exemplo, com o Presidente do Comité de
Investigação Médica do Gabinete de Investigação e Desenvolvimento Científico.
Igualmente capitais para a produção de
penicilina em larga escala foram os incentivos dados à indústria farmacêutica
para desenvolver a investigação científica neste domínio e para produzir penicilina
em larga escala. No mesmo sentido é de referir o trabalho desenvolvido pelo
Gabinete de Produção de Guerra para obter maior quantidade de penicilina.
Conscientes do valor da penicilina como arma de guerra a ser utilizada na
rectaguarda do exército, “um dos maiores objectivos era ter uma quantidade
adequada à mão para a invasão da Europa no dia D”32.
Entretanto, em Oxford prosseguiam as
investigações possíveis e os tratamentos com êxito em vários doentes. Em 1942,
Fleming injectou penicilina num amigo à beira da morte, salvando-o. Esta
penicilina havia sido solicitada por Fleming a Florey e Chain que a enviaram.
Esta aplicação da penicilina teve um
enorme impacto na imprensa que sublinhou o valor do fármaco. A produção e os
ensaios da penicilina em seres humanos continuaram nos Estados Unidos da
América, tendo o exército dos E.U.A.33 funcionado como um enorme balão de
ensaio. Na verdade, no decurso da Segunda Guerra Mundial, a penicilina foi
utilizada em massa no exército americano com resultados altamente positivos,
exerceram a função de “escolas de terapêutica pela penicilina”34. Contudo, a
penicilina foi considerada “uma descoberta puramente britânica”35.
No segundo semestre de 1943, a
penicilina começou a ser produzida em larga escala. Inicialmente foi
administrada sob a forma injectável36. As indústrias farmacêuticas
pioneiras nos Estados Unidos foram: Abbott Laboratories; Hoffmann-La Roche;
Lederle Laboratories; Eli Lilly and Company; Merck and Company; Davis and
Company; Schenley Laboratories; E.R. Squibb and Sons; Upjohn Company; Winthrop
Chemical Company; Reichel Laboratories37. Desde
os anos 50 até ao presente foi grande o investimento na penicilina, não só do
ponto de vista químico-farmacêutico e clínico, mas também a nível do marketing
e da sua comercialização38.
O mito de Fleming e a atribuição do
Prémio Nobel
Terminada a Segunda Guerra, Fleming
percorreu vários países sendo recebido com as maiores honras e distinções, por
parte de diversas instituições tanto oficiais como privadas, científicas, académicas,
industriais e comerciais. O Rei Jorge concedeu-lhe o título de Sir, foi
agraciado com a medalha de John Scott pelos Estados Unidos da América,
distinguido com a Legião de Honra pela França, com o Cameron Prize pela
Universidade de Edimburgo, com a Medalha do pontificado do Papa Pio XII e foi
Doutor Honoris Causa por várias Universidades39.
De certo modo encetava-se, assim, o chamado mito de Fleming. Em Nova York os produtores de penicilina deram um banquete em honra de Fleming “para homenagear e agradecer (…) àquele que foi escolhido pela Providência para descobrir e revelar ao mundo a existência e as propriedades da arma mais poderosa que o homem possui hoje para lutar contra a doença”40. Ainda em 1944, a cientista portuguesa e farmacêutica Maria Serpa dos Santos considerava-o “como o maior entre os maiores dos seus congéneres”41.
De certo modo encetava-se, assim, o chamado mito de Fleming. Em Nova York os produtores de penicilina deram um banquete em honra de Fleming “para homenagear e agradecer (…) àquele que foi escolhido pela Providência para descobrir e revelar ao mundo a existência e as propriedades da arma mais poderosa que o homem possui hoje para lutar contra a doença”40. Ainda em 1944, a cientista portuguesa e farmacêutica Maria Serpa dos Santos considerava-o “como o maior entre os maiores dos seus congéneres”41.
Em 1945 foi atribuído a Alexander
Fleming, Howard Florey e Boris Chain o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia
pela descoberta e aplicação da penicilina. O reconhecimento público do valor da
obra de Alexander Fleming tornou-se num processo de heroificação que o elevava
à categoria máxima de benfeitor da Humanidade por colocar a ciência ao serviço
da saúde e da vida, bem supremo entre todos os bens.
A imprensa portuguesa deu relevo à
atribuição do Prémio Nobel a Alexander Fleming. Vejamos alguns exemplos: o
Diário Popular de 26 de Outubro de 1945 anuncia a atribuição do prémio a
Fleming, mas também a Ernst Boris Chain. Acrescenta, aliás, alguns comentários
de Chain publicados na imprensa internacional: “Duvido. Isso é uma
brincadeira?” . Depois de lhe terem garantido que a notícia era certa, Chain
disse: “Lamento ser tão céptico. Há alguns dias um amigo chamou-me para dizer
que o meu nome aparecia numa lista da Gestapo. Duvidei disso porque nunca me
intrometi na política em toda a minha vida. Quando a lista foi publicada, o meu
nome aparecia de facto entre os nomes de Chamberlain e de Churchill”42.
Os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina em 1945. Na ocasião Fleming dividiu a premiação com Florey e Chain, os quais também realizaram pesquisas com a penicilina. |
O Diário de Lisboa noticiou na primeira
página a atribuição do Prémio a Fleming, transcrevendo, como aconteceu noutros
jornais a frase de Fleming: ““‘É uma coisa muito agradável e é uma honra que
todos desejam’’“43. Em O Comércio do Porto, noticia-se a atribuição do prémio
com o seguinte título: “Alexander Fleming, que descobriu a ‘penicilina’,
recebeu com o maior agrado a notícia de lhe ter sido atribuído o ‘Prémio
Nobel’”44. Ao lado desta notícia encontra-se uma outra com o seguinte título:
“A penicilina pode aplicar-se, também, ao tratamento da varíola e das infecções
dentárias”45. Em O Primeiro de Janeiro noticia-se a atribuição do galardão, na
primeira página, com o seguinte título: “o Prémio Nobel da medicina ‘sir’
Alexander Fleming declarou-se agradado pela honra recebida”46, sublinhando-se,
também, o cepticismo de Chain. Igualmente na primeira página, aparece uma
notícia semelhante no jornal Novidades47; uma pequena notícia foi dada no Diário
da Manhã48 com o título “Fleming vai receber o Prémio Nobel da Medicina”.
De facto, o prémio foi atribuído a três
cientistas, Fleming, Florey e Chain, mas em muitos jornais e revistas
internacionais ou portugueses apenas aparece ou se destaca o nome de Fleming, o
que se compreende pelo mito de Fleming e ao mesmo tempo se inscreve na
construção da própria narrativa mítica. Em 1947, na obra francesa Thérapeutique
par la penicilline, na nota introdutória, A. Lemierre, elogia as propriedades
terapêuticas da penicilina e acrescenta que os médicos franceses prestam uma
homenagem contínua a Alexander Fleming com “a sua admiração e reconhecimento”49.
Outros exemplos da identificação de Fleming como benfeitor da Humanidade e da
construção do mito do herói descobridor podem ser vistos em obras de divulgação
biográfica de Fleming como a obra da autoria de Beverley Birch, que tem como
sub-título Alexander Fleming. O bacteriologista que descobriu a penicilina, um
fármaco que salvou milhões de vidas50.
Alexander Fleming recebendo do rei Gustavo V da Suécia a premiação do Prêmio Nobel em 1945. |
Deve sublinhar-se que os resultados
práticos da utilização da penicilina eram bem visíveis e rapidamente notórios
tanto para os especialistas como para o público. As provas científicas juntamente
com os efeitos imediatos da sua utilização fizeram da penicilina um autêntico
milagre da natureza51, a droga milagrosa, assim representada praticamente desde
finais da Segunda Grande Guerra.
Em 1946 Alexander Fleming assumiu a
liderança do Serviço de Inoculação do Hospital de St.Mary e em 1947 o mesmo
Serviço passou a ter a designação de Wright-Fleming. A 28 de Setembro de 1949
faleceu a esposa de Fleming, de quem teve um filho. Tratou-se de um golpe profundo
na vida do cientista que afectou a dinâmica científica a que havia habituado os
seus colaboradores e colegas. Em 1953 contraiu novo matrimónio com Amália Voureka,
uma cientista de origem grega que foi recebida por Fleming para prosseguir
investigação científica no seu laboratório. No dia 11 de Março de 1955, perto
de completar 74 anos, Alexander Fleming faleceu na sequência de um ataque
cardíaco. As exéquias fúnebres tiveram as mais altas honras e as suas cinzas
foram depositadas na catedral de St.Paul. Nestes últimos dez anos após o Prémio
Nobel, portanto entre 1945 e 1955, o mito de Fleming ganhou a sua máxima
expressão, tendo o próprio dado um forte contributo para isso52.
Conclusão
A descoberta da penicilina a sua
transformação em medicamento e produção industrial, põe fim ao ciclo iniciado
com as descobertas microbianas na segunda metade do século XIX, tendo como
representantes maiores Pasteur e Koch. Com efeito, na segunda metade do século XIX
e nos primeiros anos do século XX, muitos cientistas investiram na descoberta e
isolamento de microorganismos responsáveis por várias doenças graves a nível da
saúde privada e pública.
Esse conhecimento apelava ao combate da
proliferação dos microorganismos, o que passava por medidas preventivas (de
natureza social e medicamentosa) ou por medidas curativas. As descobertas
microbianas abriam um vasto campo de estudo sobre medicação antibioterápica. Nesta
medida entende-se que a penicilina encerra um ciclo. Mas, simultaneamente, abre
um novo ciclo: o das descobertas científicas no domínio dos antibióticos. De
facto, a descoberta da penicilina marca o início da antibioterapia moderna.
A história da ciência novecentista foi
marcada pela descoberta da penicilina (1928) por Alexander Fleming. Em meados
da década de 40 do século XX, estando ainda em curso a 2ª Guerra Mundial, a
penicilina revelou todo o seu potencial médico graças ao trabalho sistemático de
vários cientistas, entre os quais Ernst Boris Chain e Howard Florey. Tanto os
problemas do foro interno da investigação científica como os problemas da
produção industrial foram sendo ultrapassados. Em Outubro de 1945, depois do
termo da 2ª Guerra Mundial, Alexander Fleming, Ernst Boris Chain e Howard
Florey receberam o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia.
Entre 1945 e 1955 o chamado mito de
Fleming ganha corpo e os nomes de Chain e de Florey caíram no esquecimento
público, ainda que a história da ciência e da saúde tenha sempre reconhecido o
seu valor. Integrando a dinâmica internacional também a comunidade científica portuguesa
desenvolveu trabalhos de pesquisa e de divulgação sobre a penicilina. Por seu
turno, a imprensa diária e periódica para o grande público exerceu uma
interessante função educativa ao nível da cultura
científica-médico-farmacêutica. É neste registo que entendemos a divulgação que
a imprensa fez de um Fleming cientista-herói a que a Humanidade devia prestar
culto. Através da narrativa do mito de Fleming que se reproduzia de jornal em
jornal sem fronteiras linguísticas ou geopolíticas, o mundo cumpria o seu dever
perante tão elevado benefício.
NOTAS:
NOTAS:
1
O presente artigo insere-se no projecto de investigação Público e Privado:
História Ecológico-Institucional do Corpo (1900-1950). O caso português
financiado pela FCT/POCTI/HAR/49941/2002 (Investigadora Responsável, Profª
Doutora Ana Leonor Pereira) em curso no Grupo de História e Sociologia da
Ciência do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de
Coimbra, CEIS20 em articulação com o projecto História da Farmácia em Portugal
(1900-1950). I./ HISTOFAR, projectos em curso no CEIS20 / Universidade de
Coimbra.
2
Entre os estudos recentes sobre a penicilina, sublinhamos LAX, 2004. Veja-se,
também, WAINWRIGHT, 2002: 529-538.
3
Sobre a história dos antibióticos veja-se a síntese WEATHERALL, 1990: 161-186.
Veja-se, também, WAINWRIGHT, 1992 e PARASCANDOLA, 1980. Nesta obra são
publicados estudos sobre a recepção da penicilina em diversos países, como os
Estados Unidos da América, Suiça, Japão, bem como sobre a investigação
antibiótica em
diversos países.
4
Para a história da pré-história dos antibióticos teríamos que referir os
trabalhos de Pasteur e Joubert em 1877, as tentativas de Emmerich e Loew, em
1899, entre outros autores. Veja-se, por exemplo, CHAST, 1995: 236.
5
Cf. ANJO, 1948. Nesta obra o autor exalta as propriedades da penicilina no
tratamento da sífilis.
6
No caso da sífilis a aplicação da penicilina tinha a ver com a terapêutica
curativa e neste plano a sua eficácia era
evidente.
7 Cf. SCHALCHLI, 2000: 4-9.
8 Cf. National Geographic, Maio, 2005, rubrica
intitulada “The World by Numbers”. O
historiador da farmácia John Swann refere como “medicamentos que modificaram o
mundo” os seguintes: ópio, vacina antivariólica, salvarsan, insulina,
penicilina, enovid e talidomida.
9 Veja-se,
por exemplo, o que é dito por ESCANDE, 2000: 23-36; neste artigo o autor refere
que o papel de Fleming na descoberta dos antibióticos é de pouca importância e
que “se for preciso nomear como pais da descoberta fundamental dos antibióticos, a história só
deverá reter dois nomes: René Dubos, em Nova York, e Howard Florey, em Oxford”
(p. 24). Entre alguns cientistas e historiadores da ciência, sobretudo de
língua francesa, esta questão tem sido
destacada. Tenha-se presente que os nacionalismos
atravessam toda a história da ciência e da técnica.
10
No Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de
Coimbra/CEIS20 foi desenvolvido um projecto sobre a recepção da penicilina e de
Fleming em Portugal: Fleming em Portuga. Integrado neste projecto de trabalho
foi premiado o Licº Paulo Jorge Granja com o Programa Gulbenkian de Estímulo à
Investigação (1998) com o projecto específico O fármaco do século XX: a
penicilina. A introdução da penicilina e dos antibióticos em Portugal, estando
no prelo a publicação de uma obra sobre a temática em questão. Entre 2003 e
2005 desenrolou-se no GHSC/ CEIS20 o projecto de investigação História da
Farmácia em Portugal (1900-1950). O caso português financiado pela FCT
(POCTI/HAR/49941/2002). Entre comunicações apresentadas em reuniões científicas
e publicações científicas mais directamente relacionadas com o presente artigo
assinalem-se: João Rui Pita; Paulo Granja; Ana Leonor Pereira, A introdução da
penicilina em Portugal, comunicação apresentada sob a forma de poster no “1º
Congresso Luso-Brasileiro de História da Ciência e da Técnica”, realizado em
Évora e Aveiro, pelo Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência da
Universidade de Évora e pelo Centro de Estudos de História e Filosofia da
Ciência e da Técnica da Universidade de Aveiro, nos dias 23 a 27 de Outubro de
2000. João Rui Pita; Ana Leonor Pereira, Progressos da farmácia e da medicina.
I. De Galeno a Fleming, Conferência proferida no “Colóquio sobre a ciência:
débito ao passado e perspectivas de futuro”, realizado no dia 2 de Março de
2000 no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. Ana Leonor Pereira;
João Rui Pita, Fleming na imprensa portuguesa nos anos 40 e 50 do século XX,
Comunicação apresentada no Colóquio Saúde Cultura e Sociedade — Fontes
portuguesas, realizado em Coimbra a 6 de Março de 2001, no auditório da sede da
Secção Regional de Coimbra da Ordem dos Farmacêuticos e organizado pelo Grupo
de História e Sociologia da Ciência do CEIS 20. João Rui Pita, Fleming e a
descoberta da penicilina, conferência proferida na sede de Coimbra da
Associação Nacional das Farmácias no dia 10 de Dezembro de 2004. Ana Leonor
Pereira, João Rui Pita, Alexandre Fleming na imprensa portuguesa, comunicação
apresentada no II Congresso Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos, realizado
no Porto, na Universidade Fernando Pessoa, em 17 e 18 de Março de 2005.
Relativamente a publicações assinalem-se, PITA; GRANJA; PEREIRA, 2000: 213-214;
PITA; PEREIRA; GRANJA, 2001: 193- 198; PEREIRA, PITA, 2005: 432-437. Veja-se o
mesmo texto editado em CD-Rom.
11
Para um estudo biográfico de Alexander Fleming ver a obra de MAUROIS, 1959a. A
tradução inglesa foi feita por Gerard Hopkins, e editada em Londres por
Jonathan Cape, em 1959; foi traduzida por Gerard Hopkins e teve uma introdução
de Robert Cruickshank.
12
Outros dois irmãos de Alexander Fleming, John e Robert entusiasmados por um
médico que apoiou o seu irmão Thomas na formação oftalmológica enveredaram pela
óptica e pelo fabrico de óculos. Cf. MAUROIS, 1959a: 19.
13 Palavras
do próprio FLEMING, 1944a: 5.
14
FLEMING, 1944: 5.
15
Alexander Fleming, “Penicilina. Discurso de (…) al recibir el premio Nobel de
medicina y fisiologia, el 11 de diciembre de 1945”. In: ROJAS, 1994: 72.
16 FLEMING, 1944a: 5.
17 FLEMING, 1944a: 5.
18 Cf. FLEMING, 1929: 226-236. Veja-se FLEMING, 1944b: 8-10.
19
Cf. FLEMING, 1944b: 8. O autor refere o artigo publicado em 1932 no Journal of
Pathology and Bacteriology.
20 Cf.
A.P., 1950: 367.
21
Anotação nossa. Sobre as relações de saber e poder entre René Dubos e Alexander
Fleming veja-se o artigo de
ESCANDE, 2000: 23-36. René Dubos
(1901-1982) nasceu em França, foi engenheiro do Instituto Nacional de Agronomia,
tendo depois fixado residência em Itália e posteriormente nos Estados Unidos da
América em 1924. Naturalizou-se americano em 1938 e faleceu em Nova York.
22
Alexander Fleming, “Penicilina. Discurso de (…) al recibir el premio Nobel de
medicina y fisiologia, el 11 de diciembre de 1945”. In: ROJAS, 1994: 86.
23 Cf.
CHAST,1995: 236.
24
A descoberta das sulfamidas constitui, também, um dos marcos mais relevantes da
história da terapêutica medicamentosa do século XX.
25
Cf. PITA,2000: 223. Veja-se, também de PITA; PEREIRA, 2002: 259.
26
Howard Florey (1898-1968), cientista médico australiano que se fixou em Oxford
onde desenvolveu notável trabalho de investigação.
27
Ernst Boris Chain (1906-1979), bioquímico judeu nascido na Alemanha, fixado na
Inglaterra desde 1933, tendo-se naturalizado inglês.
28
Muitos detalhes sobre a descoberta da penicilina e o início da sua produção em
série podem ser vistos, por exemplo, em CHAST, 1995 que cita a obra de Gwyn
MacFarlane, Fleming, 1881-1955, l’homme et le mythe, Belin, Paris, 1984. Muito
se tem escrito sobre as razões pelas quais a penicilina ficou esquecida durante
cerca de dez anos. Também nesta matéria o historiador tem de estar atento às
relações de saberes e poderes entre escolas e entre cientistas a nível
internacional e dentro das comunidades nacionais.
29 Cf. M.E.FLOREY, 1944: 11-15.
30 Cf. CHAIN,1948: 83-91.
31
Este Laboratório de Investigação da Região Norte do Departamento de Agricultura
tinha um forte sector dedicado à fermentação que foi de capital importância
para a produção da penicilina em larga escala.
32
Cf. PARASCANDOLA, 2001: 3-13.
33
Veja-se acerca dos estudos da penicilina no decurso da Segunda Guerra Mundial o
estudo de ADAMS,1991.
34
Cf. LYONS, 1944: 110-112.
35
Cf. CHAIN; FLOREY, 1944a: 3.
36
Uma questão que se levantava era a das unidades de penicilina, assunto que, por
si só, é motivo de interessante estudo relacionado com a quantificação e
mensurabilidade da penicilina.
37 Cf.
DENO; ROWE; BRODIE, 1959: 21.
38
O nosso estudo incide somente nos anos 40 do século XX e debruçámo-nos apenas
sobre os primeiros trabalhos de investigação científica. Após os anos 50
levantam-se novas questões à problemática da história da penicilina.
39
Deve sublinhar-se que também Florey e Chain foram distinguidos com diversos
galardões.
40
Cf. MAUROIS, 1959a: 221.
41
Cf. SANTOS,1944: 506.
42
Cf. DIÁRIO POPULAR, 1945: 5.
43 Cf.
DIÁRIO DE LISBOA, 1945: 1.
44
Cf. O COMÉRCIO DO PORTO, 1945: 6.
45
Cf. O COMÉRCIO DO PORTO, 1945: 6.
46
Cf. O PRIMEIRO DE JANEIRO, 1945: 1.
47
Cf. NOVIDADES, 1945: 1.
48
Cf. DIÁRIO DA MANHÃ, 1945: 5.
49
Cf. LEMIERRE, 1947.
50
Cf. BIRCH, 1990. Esta obra insere-se na colecção “Cientistas que transformaram
o Mundo”.
51
Cf. WAINWRIGHT, 1992.
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