domingo, 15 de dezembro de 2019

Alexander Fleming (1881-1955): Da descoberta da penicilina (1928) ao Prémio Nobel (1945)

ALEXANDER FLEMING (1881-1955)
Da descoberta da penicilina (1928) ao Prémio Nobel (1945)


Ana Leonor Pereira
João Rui Pita


Obs: O presente texto é apenas uma parte do artigo original, o qual optei em reduzir sua apresentação aqui para focar na vida de Fleming e criação da penicilina. Além disso, as poucas imagens aqui contidas foram escolhidas por mim para ilustrar o trabalhado dos autores, já que no artigo original não constam imagens. 

Introdução

A descoberta da penicilina por Alexander Fleming, em 1928, é um dos acontecimentos mais marcantes da história da ciência, da medicina e da farmácia do século XX. Se conjugarmos a inovação científica com os benefícios ao nível da saúde pública e, consequentemente, os ganhos no plano da economia civilizacional, podemos afirmar que a descoberta da penicilina foi a conquista mais relevante da história da ciência novecentista.

A penicilina não foi mais um fármaco novo nem mais um acontecimento científico isolado2. A descoberta da penicilina abriu o caminho a novos investimentos científicos no domínio da antibioterapia e consequentemente à descoberta de novos antibióticos3; estimulou a investigação científica neste domínio; suscitou estudos clínicos sistemáticos; desencadeou novos investimentos técnicos e tecnológicos com vista à produção industrial de antibióticos; motivou estudos no domínio da tecnologia farmacêutica; esteve na base de novos desafios e investimentos económicos a nível industrial; ampliou o mercado dos medicamentos a nível do comércio grossista e nas farmácias; colocou novos desafios aos médicos; acima de tudo, proporcionou a cura de patologias infecciosas para as quais não havia qualquer terapêutica medicamentosa eficaz e, nesta medida, reflectiu-se na estatística demográfica com a diminuição dos óbitos em todos os níveis etários.

Portanto, a penicilina não pode nem deve ser encarada unicamente como mais uma descoberta científica, mas antes como aquela descoberta que desencadeou alterações profundas no tratamento de doenças infecciosas, proporcionou o investimento científico no estudo de outros antibióticos e teve profundas implicações sócio-demográficas e económicas. À luz do que expusemos, compreende-se que a abordagem histórica da penicilina implica uma enorme complexidade de factores e de condicionantes. Pode falar-se de uma história da penicilina antes da sua descoberta por Fleming4 e de uma história da penicilina após a descoberta do antibiótico pelo cientista escocês e, como é óbvio, da história da penicilina protagonizada por Fleming.

Após a sua produção industrial, nos anos 40, a penicilina transformou-se num fármaco imprescindível no arsenal terapêutico de tal modo que é corrente falar-se da história dos medicamentos antes e depois da aplicação da penicilina — o primeiro antibiótico. E, também, da história da farmácia e da medicina antes e depois da penicilina. Mas, ainda, da história das doenças humanas antes e depois da penicilina e portanto até da história do corpo saudável e doente, antes e depois da penicilina. Uma das aplicações mais interessantes da penicilina foi no combate à sífilis5, uma doença que denunciava a necessidade de reforçar os alicerces científicos da higiene pública, não apenas no plano curativo mas também ao nível preventivo6.

A penicilina salvou, e continua a salvar, milhões de vidas, por isso se encontra entre “os grandes medicamentos do século XX”7 e entre os “medicamentos que modificaram o mundo”8. Em 2003 passaram 75 anos sobre a descoberta da penicilina. Em 2004 completaram-se 75 anos sobre a publicação dos primeiros resultados científicos da descoberta da penicilina. Em 2005 celebra-se o cinquentenário do falecimento Alexander Fleming. A notoriedade do cientista, o valor da descoberta e as repercussões sócio-económicas-civilizacionais são razões nobres para apresentarmos uma breve abordagem histórica da descoberta da penicilina, incluindo o início da sua comercialização e expansão pelo mundo, isto é, grosso modo, na segunda metade dos anos 40 do século XX9. 

O presente estudo apoia-se nalgumas conclusões de pesquisas transversais que temos desenvolvido no Grupo de História e Sociologia da Ciência do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra, CEIS20, nos projectos findos sobre a recepção da penicilina em Portugal e sobre a recepção de Fleming em Portugal, e nos projectos em curso sobre a história da farmácia em Portugal na primeira metade do século XX e sobre a história ecológico-institucional do corpo10.

Alexander Fleming: de Lochfield para Londres com 14 anos

Alexander Fleming nasceu a 6 de Agosto de 1881, na Quinta de Lochfield, em Darvel, na Escócia11. Foi o terceiro filho do segundo casamento do seu Pai, Hugh Fleming, com Grace Morton. Alexander Fleming tinha sete irmãos, quatro do primeiro matrimónio e três do segundo casamento do seu Pai. Quando Alexander Fleming tinha sete anos ficou órfão do Pai. Frequentou a escola em Loudoun Moor, perto de Lochfield; aos 10 anos de idade mudou para uma Escola de maiores dimensões, perto de Darvel e dois anos depois transitou para a academia de Kilmarnock.

Em 1895, Alexander Fleming enceta uma nova fase da existência com a sua ida para Londres, a capital, onde alguns dos seus irmãos já residiam. Um deles, Thomas, estudou medicina e enveredou pela oftalmologia12. Aos 16 anos de idade, Alexander Fleming completou os estudos na Escola Técnica conseguindo de seguida emprego na companhia de navegação American Line, onde desempenhou funções administrativas (contabilidade, registo de carga de navios, registo de documentação diversa, etc.). Em 1900 Alexander Fleming e outro irmão, John, alistaram-se no London Scottish Regiment estando em causa a guerra com os Boers. Alexander permaneceu alistado no exército durante cerca de dois anos e embora não tenha sido chamado para a frente de combate notabilizou-se em actividades desportivas como a natação e o pólo aquático. Entretanto os irmãos Fleming receberam uma herança do tio John, irmão do Pai, o que permitiu que Alexander deixasse o emprego na companhia de navegação e preparasse a sua entrada no curso de medicina.

O curso de medicina dos vinte aos vinte e cinco anos

Em 1901, aos vinte anos, A. Fleming inicia a realização do seu sonho de ser médico. Fez os seus estudos de medicina em Londres, na Escola Médica afecta ao Hospital de St. Mary, tendo sido aluno brilhante e não demonstrando uma especial inclinação por alguma área em particular. Enquanto aluno de medicina participou em actividades culturais complementares como, por exemplo, o teatro e demonstrou especial interesse pelas actividades desportivas, tendo-se distinguido no pólo aquático e, também, no tiro.

O início da carreira científica em 1906

Em 1906, Fleming formou-se em medicina e começou a trabalhar no serviço do prestigiado bacteriologista e patologista Almroth Wright — o Serviço de Inoculação — o famoso “Inoculation Department” fundado em 1902. Recorde-se que este cientista britânico procurou encontrar, embora sem êxito, uma vacina contra a febre tifóide no exército britânico na Índia e na África do Sul. Fleming foi fortemente marcado pela figura e pelo trabalho de Wright. Deve lembrar-se, também, que a questão da inibição bacteriana e o tratamento de doenças infecciosas constituía uma preocupação de vários cientistas, desde a escola francesa liderada por Pasteur e continuada pelos seus discípulos, até à escola alemão tutelada por Koch e continuada pelos seus discípulos.

Em 1909, Fleming fez provas para cirurgião tendo, desde essa data, a possibilidade de exercer cirurgia. Contudo, a motivação que sentia pelo trabalho de investigação laboratorial, e, em particular, pela bacteriologia, levou-o a continuar as pesquisas laboratoriais cujos resultados veio a publicar ao longo da sua vida na forma de livro e em revistas como Practitionner, The Lancet, British Medical Journal, British Journal of Experimental Pathology, St Mary’s Hospital Gazette, American Journal of Clinical Pathology, Gazette des Hôpitaux, Annales de l’Institut Pasteur, The Biochemical Journal, etc. Alguns dos trabalhos de Fleming foram realizados em colaboração, sendo de sublinhar as publicações conjuntas com L. Colebrook, S.R. Douglas, A.E. Wright, A.B. Porteous, F.J. Clemenger, V.D. Allison, Ian H. Maclean, K.B. Rogers, C. Smith, J.R. May, A. Voureka, I.R.H. Kramer e W.H. Hughes.

De acordo com o seu perfil, Fleming continuou a desenvolver intensa actividade social tornando-se membro do Chelsea Arts Club, praticando com frequência tiro e natação e jogando vários jogos de cartas e ainda bilhar e xadrez. Aquando da Primeira Guerra Mundial, Almroth Wright propôs ao governo britânico que o seu serviço fizesse a preparação de vacinas contra a febre tifóide e que estudasse as feridas de guerra para evitar as infecções. Assim, Fleming e outros colegas investigadores foram enviados para Boulogne-sur-Mer onde instalaram um laboratório, tendo estudado um leque variado de microorganismos. A sua presença e os seus trabalhos de pesquisa permitiram actuar de modo mais profundo e eficaz sobre, por exemplo, os ferimentos de guerra. Fleming torna-se, de facto, a maior autoridade mundial em matéria de feridas de guerra. Da sua investigação resultou a publicação de artigos científicos.

Em 1915, em plena Guerra Mundial, Alexander Fleming contraiu matrimónio com Sara MacElroy, jovem enfermeira irlandesa. Em 1919, regressou ao serviço de Almroth Wright dando continuidade aos seus trabalhos de investigação e, mais tarde, em 1921 assumiu o cargo de vicedirector do Serviço de Inoculação.

A descoberta da penicilina em 1928

A destruição das bactérias, a inibição da sua proliferação, numa palavra, o combate às bactérias responsáveis por inúmeras patologias infecciosas humanas constituiu a paixão científica de sempre de Alexander Fleming. Nas palavras do próprio: “a destruição das bactérias pelos leucócitos tinha-me interessado profundamente”13. Fleming reportava-se às pesquisas anteriores à descoberta da penicilina pois aquele problema motivou-o desde muito cedo. Durante a Primeira Guerra, Fleming avaliou o poder antibacteriano dos leucócitos contidos nos exsudatos de feridas.

No período pós-Guerra continuou interessado no estudo dos antisépticos e leucócitos, sendo de sublinhar a descrição que fez da lisozima, em 1922. Segundo Fleming tratava-se de um “poderoso fermento anti-bacteriano que se produz naturalmente nos tecidos humanos e secreções”14. No discurso que proferiu aquando da atribuição do Prémio Nobel, Fleming sublinhou isso mesmo dizendo que “a penicilina não foi o primeiro antibiótico que descobri. Em 1922 descrevi a lisozima, uma potente enzima antibacteriana possuidora de um efeito lítico extraordinário sobre algumas bactérias”15

Em Setembro de 1928, Alexander Fleming trabalhava “sobre a variação das colónias estafilocócicas como consequência de uma comunicação do Professor Bigger, que tinha demonstrado que podiam produzir-se colónias de aspecto sumamente diferente partindo da cultura pura de um estafilococo piogéneo ordinário”16, conforme referiu mais tarde a propósito da descoberta da penicilina.

Aos 47 anos, Alexander Fleming em suas pesquisas bacteriológicas em seu laboratório na Universidade Hospital Santa Maria, em Londres, descobriu a penicilina. 
Certo dia, de regresso ao laboratório, Fleming observou novamente umas caixas de Petri que havia deixado cultivadas com estafilococos e verificou que nelas se havia desenvolvido um fungo. Constatou que até uma distância relativamente afastada dos fungos não havia proliferação de estafilococos. Cerca de dezasseis anos mais tarde, Fleming reconstruía o momento inaugural da sua descoberta: “Verdade é que todo o bacteriologista tem visto, não uma mas muitas vezes, placas de cultura contaminadas com fungos, também é provável que alguns bacteriologistas tenham observado alterações semelhantes às apontadas mais acima, mas sem ter um interesse especial pelas substâncias anti-bacterianas de ocorrência normal, se tenham limitado a afastar as referidas culturas”17.

Por um lado, Fleming reconhecia o papel do acaso na descoberta científica e, por outro lado, implicitamente sublinhava que a observação genial do investigador marcava a diferença entre descobrir e não descobrir. Posteriormente, Fleming investigou e observou que outras bactérias patogénicas eram inibidas pela presença do fungo como, por exemplo, os estreptococos, os pneumococos, os gonococos, os meningococos e os bacilos da difteria e da gangrena gasosa. Solicitou, então, a colegas a caracterização do fungo que foi inicialmente designado por Penicillium rubrum e algum tempo depois Penicillium notatum.

Em 1929 publicou um artigo intitulado “On the antibacterial action of cultures of a penicillium with special reference to their use in the isolation of B. influenzæ” na revista British Journal of Experimental Pathology18, onde descrevia a sua investigação e publicava os seus resultados. Deste modo, a penicilina entrava nos circuitos científicos. De tal modo se avaliavam os elevados benefícios da penicilina que em 1932 Fleming sublinhava que o fármaco podia ser utilizado nos seguintes casos: “i) Para o isolamento de bactérias não sensíveis de entre um grande número de organismos sensíveis; ii) Para a demonstração de certas inibições bacterianas; iii)para o tratamento de infecções por organismos sensíveis”19 sendo esta última aplicação a mais importante para a saúde humana.

Início do primeiro artigo de Fleming abordando a descoberta da penicilina. 
Para se poder avaliar o extraordinário da descoberta da penicilina, o Editorial do Jornal do Médico, dizia em 1950: “O Prof. Chain, também galardoado com o Prémio Nobel pelos seus estudos sobre a penicilina, juntamente com Fleming e Florey, fez notar que teria sido absolutamente impossível planificar uma investigação tendente a descobrir aquele antibiótico, porque ninguém tinha em vista a sua existência. O ‘Penicillium notatum’ apareceu por acaso numa das culturas que Fleming guardava no seu laboratório. Centenas de variedades de ‘Penicillium’ foram examinadas até hoje, mas só o ‘Penicillium notatum’ é capaz de dar penicilina. Mais ainda: há sessenta espécies deste bolor — e só uma delas, a que se deparou a Fleming, produz penicilina”20.

Um problema a resolver: a produção industrial da penicilina

A partir de 1929, a penicilina parecia ter caído no esquecimento. Ao receber o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia, em Dezembro de 1945, Alexander Fleming sublinhou esta questão dizendo: “Referi a penicilina em um ou dois artigos até 1936, mas poucos prestaram atenção à mesma. Somente dez anos depois, quando a introdução da sulfonamida modificou por completo o pensamento médico no que toca à quimioterapia das infecções bacterianas e desde que Dubos21 mostrou que um agente antibacteriano potente, a gramicidina, era produzida por certas bactérias que os meus coparticipantes neste Prémio Nobel, o doutor Chain e Sir Howard Florey, decidiram estudá-la”22. Na verdade, a comunidade científica internacional fez poucas referências à penicilina, embora Fleming tenha publicado sobre o assunto até finais dos anos 30(23).

Todavia, a questão da inibição da proliferação microbiana constituía uma área de investigação relevante pois havia a consciência de que doenças infecciosas que faziam perigar a saúde privada e também a saúde pública teriam de ser combatidas não só com medidas preventivas adequadas, mas também com profilaxia e tratamento medicamentoso, na senda dos trabalhos capitais realizados por Louis Pasteur (1822-1895), Robert Koch (1843-1919) e suas escolas de microbiologistas. Por exemplo, os trabalhos de Paul Erlich (1845-1915) que descobriu o salvarsan (1910) e depois o neo-salvarsan (1912) medicamento destinado ao tratamento da sífilis e os seus estudos sobre teorias de antigénios e anticorpos. Mais tarde, em 1935, Gerard Domagk (1895-1964) introduz derivados do prontosil na terapêutica medicamentosa antibacteriana, tendo-se iniciado, assim, a sulfamidoterapia24 uma primeira grande família importante no combate à infecções microbianas25.

Homenagem com uma amostra de Penicillium notatum, concedida ao professor Alexander Fleming em 1935. 
Em 1939, dois cientistas da Universidade de Oxford, Howard Florey26 e Ernst Chain27, e respectivos grupos de investigação, começaram a desenvolver estudos sobre as propriedades antibacterianas de produtos naturais, incluindo a penicilina que se tornou, de facto, num dos seus alvos de investigação preferencial28.

Entretanto, no contexto da Segunda Guerra Mundial, Florey e Chain mostravam-se muito interessados em estudar exaustivamente a penicilina. Começaram por repetir as experiências de Fleming e depois aplicaram-se na purificação da penicilina e em trabalhos de experimentação animal. Em 1940 publicaram, em colaboração com outros cientistas, um artigo onde demonstraram a validade das propriedades da penicilina, depois de a terem ensaiado em animais. Faltava a experimentação em seres humanos. O primeiro foi um polícia cuja morte seria inevitável sem a penicilina; seguiram-se outros doentes em 1941 e, com algumas contrariedades e novos problemas emergentes, Florey e Chain demonstravam os benefícios da utilização da penicilina em seres humanos29. 

O passou seguinte era o problema da produção de penicilina em larga escala para que pudessem ser confirmados os estudos pioneiros pois a penicilina que se produzia era a uma escala reduzida. Além do reconhecimento do valor terapêutico da penicilina no tratamento de doenças infecciosas, havia um outro problema prioritário a resolver, o da determinação da sua estrutura química. E esta questão ocupou fortemente investigadores e norteamericanos30.

Howard Florey e o seu colega Norman Heatley deslocaram-se aos Estados Unidos da América no Verão de 1941 e conseguiram nalgumas instituições um bom acolhimento para o prosseguimento das pesquisas e acima de tudo da produção em larga escala da penicilina, destacando-se as negociações realizadas no Northern Regional Research Laboratory em Illinois31. Foram também importantes outros contactos estabelecidos por Florey, por exemplo, com o Presidente do Comité de Investigação Médica do Gabinete de Investigação e Desenvolvimento Científico.

Igualmente capitais para a produção de penicilina em larga escala foram os incentivos dados à indústria farmacêutica para desenvolver a investigação científica neste domínio e para produzir penicilina em larga escala. No mesmo sentido é de referir o trabalho desenvolvido pelo Gabinete de Produção de Guerra para obter maior quantidade de penicilina. Conscientes do valor da penicilina como arma de guerra a ser utilizada na rectaguarda do exército, “um dos maiores objectivos era ter uma quantidade adequada à mão para a invasão da Europa no dia D”32.

Entretanto, em Oxford prosseguiam as investigações possíveis e os tratamentos com êxito em vários doentes. Em 1942, Fleming injectou penicilina num amigo à beira da morte, salvando-o. Esta penicilina havia sido solicitada por Fleming a Florey e Chain que a enviaram. Esta  aplicação da penicilina teve um enorme impacto na imprensa que sublinhou o valor do fármaco. A produção e os ensaios da penicilina em seres humanos continuaram nos Estados Unidos da América, tendo o exército dos E.U.A.33 funcionado como um enorme balão de ensaio. Na verdade, no decurso da Segunda Guerra Mundial, a penicilina foi utilizada em massa no exército americano com resultados altamente positivos, exerceram a função de “escolas de terapêutica pela penicilina”34. Contudo, a penicilina foi considerada “uma descoberta puramente britânica”35.

No segundo semestre de 1943, a penicilina começou a ser produzida em larga escala. Inicialmente foi administrada sob a forma injectável36. As indústrias farmacêuticas pioneiras nos Estados Unidos foram: Abbott Laboratories; Hoffmann-La Roche; Lederle Laboratories; Eli Lilly and Company; Merck and Company; Davis and Company; Schenley Laboratories; E.R. Squibb and Sons; Upjohn Company; Winthrop Chemical Company; Reichel Laboratories37. Desde os anos 50 até ao presente foi grande o investimento na penicilina, não só do ponto de vista químico-farmacêutico e clínico, mas também a nível do marketing e da sua comercialização38.

O mito de Fleming e a atribuição do Prémio Nobel

Terminada a Segunda Guerra, Fleming percorreu vários países sendo recebido com as maiores honras e distinções, por parte de diversas instituições tanto oficiais como privadas, científicas, académicas, industriais e comerciais. O Rei Jorge concedeu-lhe o título de Sir, foi agraciado com a medalha de John Scott pelos Estados Unidos da América, distinguido com a Legião de Honra pela França, com o Cameron Prize pela Universidade de Edimburgo, com a Medalha do pontificado do Papa Pio XII e foi Doutor Honoris Causa por várias Universidades39. 

De certo modo encetava-se, assim, o chamado mito de Fleming. Em Nova York os produtores de penicilina deram um banquete em honra de Fleming “para homenagear e agradecer (…) àquele que foi escolhido pela Providência para descobrir e revelar ao mundo a existência e as propriedades da arma mais poderosa que o homem possui hoje para lutar contra a doença”40. Ainda em 1944, a cientista portuguesa e farmacêutica Maria Serpa dos Santos considerava-o “como o maior entre os maiores dos seus congéneres”41.

Em 1945 foi atribuído a Alexander Fleming, Howard Florey e Boris Chain o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia pela descoberta e aplicação da penicilina. O reconhecimento público do valor da obra de Alexander Fleming tornou-se num processo de heroificação que o elevava à categoria máxima de benfeitor da Humanidade por colocar a ciência ao serviço da saúde e da vida, bem supremo entre todos os bens.

Os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina em 1945. Na ocasião Fleming dividiu a premiação com Florey e Chain, os quais também realizaram pesquisas com a penicilina. 
A imprensa portuguesa deu relevo à atribuição do Prémio Nobel a Alexander Fleming. Vejamos alguns exemplos: o Diário Popular de 26 de Outubro de 1945 anuncia a atribuição do prémio a Fleming, mas também a Ernst Boris Chain. Acrescenta, aliás, alguns comentários de Chain publicados na imprensa internacional: “Duvido. Isso é uma brincadeira?” . Depois de lhe terem garantido que a notícia era certa, Chain disse: “Lamento ser tão céptico. Há alguns dias um amigo chamou-me para dizer que o meu nome aparecia numa lista da Gestapo. Duvidei disso porque nunca me intrometi na política em toda a minha vida. Quando a lista foi publicada, o meu nome aparecia de facto entre os nomes de Chamberlain e de Churchill”42.

O Diário de Lisboa noticiou na primeira página a atribuição do Prémio a Fleming, transcrevendo, como aconteceu noutros jornais a frase de Fleming: ““‘É uma coisa muito agradável e é uma honra que todos desejam’’“43. Em O Comércio do Porto, noticia-se a atribuição do prémio com o seguinte título: “Alexander Fleming, que descobriu a ‘penicilina’, recebeu com o maior agrado a notícia de lhe ter sido atribuído o ‘Prémio Nobel’”44. Ao lado desta notícia encontra-se uma outra com o seguinte título: “A penicilina pode aplicar-se, também, ao tratamento da varíola e das infecções dentárias”45. Em O Primeiro de Janeiro noticia-se a atribuição do galardão, na primeira página, com o seguinte título: “o Prémio Nobel da medicina ‘sir’ Alexander Fleming declarou-se agradado pela honra recebida”46, sublinhando-se, também, o cepticismo de Chain. Igualmente na primeira página, aparece uma notícia semelhante no jornal Novidades47; uma pequena notícia foi dada no Diário da Manhã48 com o título “Fleming vai receber o Prémio Nobel da Medicina”.

Alexander Fleming recebendo do rei Gustavo V da Suécia a premiação do Prêmio Nobel em 1945. 
De facto, o prémio foi atribuído a três cientistas, Fleming, Florey e Chain, mas em muitos jornais e revistas internacionais ou portugueses apenas aparece ou se destaca o nome de Fleming, o que se compreende pelo mito de Fleming e ao mesmo tempo se inscreve na construção da própria narrativa mítica. Em 1947, na obra francesa Thérapeutique par la penicilline, na nota introdutória, A. Lemierre, elogia as propriedades terapêuticas da penicilina e acrescenta que os médicos franceses prestam uma homenagem contínua a Alexander Fleming com “a sua admiração e reconhecimento”49. Outros exemplos da identificação de Fleming como benfeitor da Humanidade e da construção do mito do herói descobridor podem ser vistos em obras de divulgação biográfica de Fleming como a obra da autoria de Beverley Birch, que tem como sub-título Alexander Fleming. O bacteriologista que descobriu a penicilina, um fármaco que salvou milhões de vidas50.

Deve sublinhar-se que os resultados práticos da utilização da penicilina eram bem visíveis e rapidamente notórios tanto para os especialistas como para o público. As provas científicas juntamente com os efeitos imediatos da sua utilização fizeram da penicilina um autêntico milagre da natureza51, a droga milagrosa, assim representada praticamente desde finais da Segunda Grande Guerra.

Em 1946 Alexander Fleming assumiu a liderança do Serviço de Inoculação do Hospital de St.Mary e em 1947 o mesmo Serviço passou a ter a designação de Wright-Fleming. A 28 de Setembro de 1949 faleceu a esposa de Fleming, de quem teve um filho. Tratou-se de um golpe profundo na vida do cientista que afectou a dinâmica científica a que havia habituado os seus colaboradores e colegas. Em 1953 contraiu novo matrimónio com Amália Voureka, uma cientista de origem grega que foi recebida por Fleming para prosseguir investigação científica no seu laboratório. No dia 11 de Março de 1955, perto de completar 74 anos, Alexander Fleming faleceu na sequência de um ataque cardíaco. As exéquias fúnebres tiveram as mais altas honras e as suas cinzas foram depositadas na catedral de St.Paul. Nestes últimos dez anos após o Prémio Nobel, portanto entre 1945 e 1955, o mito de Fleming ganhou a sua máxima expressão, tendo o próprio dado um forte contributo para isso52.

Conclusão

A descoberta da penicilina a sua transformação em medicamento e produção industrial, põe fim ao ciclo iniciado com as descobertas microbianas na segunda metade do século XIX, tendo como representantes maiores Pasteur e Koch. Com efeito, na segunda metade do século XIX e nos primeiros anos do século XX, muitos cientistas investiram na descoberta e isolamento de microorganismos responsáveis por várias doenças graves a nível da saúde privada e pública.

Esse conhecimento apelava ao combate da proliferação dos microorganismos, o que passava por medidas preventivas (de natureza social e medicamentosa) ou por medidas curativas. As descobertas microbianas abriam um vasto campo de estudo sobre medicação antibioterápica. Nesta medida entende-se que a penicilina encerra um ciclo. Mas, simultaneamente, abre um novo ciclo: o das descobertas científicas no domínio dos antibióticos. De facto, a descoberta da penicilina marca o início da antibioterapia moderna.

A história da ciência novecentista foi marcada pela descoberta da penicilina (1928) por Alexander Fleming. Em meados da década de 40 do século XX, estando ainda em curso a 2ª Guerra Mundial, a penicilina revelou todo o seu potencial médico graças ao trabalho sistemático de vários cientistas, entre os quais Ernst Boris Chain e Howard Florey. Tanto os problemas do foro interno da investigação científica como os problemas da produção industrial foram sendo ultrapassados. Em Outubro de 1945, depois do termo da 2ª Guerra Mundial, Alexander Fleming, Ernst Boris Chain e Howard Florey receberam o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia.

Entre 1945 e 1955 o chamado mito de Fleming ganha corpo e os nomes de Chain e de Florey caíram no esquecimento público, ainda que a história da ciência e da saúde tenha sempre reconhecido o seu valor. Integrando a dinâmica internacional também a comunidade científica portuguesa desenvolveu trabalhos de pesquisa e de divulgação sobre a penicilina. Por seu turno, a imprensa diária e periódica para o grande público exerceu uma interessante função educativa ao nível da cultura científica-médico-farmacêutica. É neste registo que entendemos a divulgação que a imprensa fez de um Fleming cientista-herói a que a Humanidade devia prestar culto. Através da narrativa do mito de Fleming que se reproduzia de jornal em jornal sem fronteiras linguísticas ou geopolíticas, o mundo cumpria o seu dever perante tão elevado benefício.

NOTAS: 
1 O presente artigo insere-se no projecto de investigação Público e Privado: História Ecológico-Institucional do Corpo (1900-1950). O caso português financiado pela FCT/POCTI/HAR/49941/2002 (Investigadora Responsável, Profª Doutora Ana Leonor Pereira) em curso no Grupo de História e Sociologia da Ciência do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra, CEIS20 em articulação com o projecto História da Farmácia em Portugal (1900-1950). I./ HISTOFAR, projectos em curso no CEIS20 / Universidade de Coimbra.
2 Entre os estudos recentes sobre a penicilina, sublinhamos LAX, 2004. Veja-se, também, WAINWRIGHT, 2002: 529-538.
3 Sobre a história dos antibióticos veja-se a síntese WEATHERALL, 1990: 161-186. Veja-se, também, WAINWRIGHT, 1992 e PARASCANDOLA, 1980. Nesta obra são publicados estudos sobre a recepção da penicilina em diversos países, como os Estados Unidos da América, Suiça, Japão, bem como sobre a investigação antibiótica em
diversos países.
4 Para a história da pré-história dos antibióticos teríamos que referir os trabalhos de Pasteur e Joubert em 1877, as tentativas de Emmerich e Loew, em 1899, entre outros autores. Veja-se, por exemplo, CHAST, 1995: 236.
5 Cf. ANJO, 1948. Nesta obra o autor exalta as propriedades da penicilina no tratamento da sífilis.
6 No caso da sífilis a aplicação da penicilina tinha a ver com a terapêutica curativa e neste plano a sua eficácia era
evidente.
7 Cf. SCHALCHLI, 2000: 4-9.
8 Cf. National Geographic, Maio, 2005, rubrica intitulada “The World by Numbers”. O historiador da farmácia John Swann refere como “medicamentos que modificaram o mundo” os seguintes: ópio, vacina antivariólica, salvarsan, insulina, penicilina, enovid e talidomida.
9 Veja-se, por exemplo, o que é dito por ESCANDE, 2000: 23-36; neste artigo o autor refere que o papel de Fleming na descoberta dos antibióticos é de pouca importância e que “se for preciso nomear como pais da descoberta  fundamental dos antibióticos, a história só deverá reter dois nomes: René Dubos, em Nova York, e Howard Florey, em Oxford” (p. 24). Entre alguns cientistas e historiadores da ciência, sobretudo de língua francesa, esta questão tem sido
destacada. Tenha-se presente que os nacionalismos atravessam toda a história da ciência e da técnica.
10 No Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra/CEIS20 foi desenvolvido um projecto sobre a recepção da penicilina e de Fleming em Portugal: Fleming em Portuga. Integrado neste projecto de trabalho foi premiado o Licº Paulo Jorge Granja com o Programa Gulbenkian de Estímulo à Investigação (1998) com o projecto específico O fármaco do século XX: a penicilina. A introdução da penicilina e dos antibióticos em Portugal, estando no prelo a publicação de uma obra sobre a temática em questão. Entre 2003 e 2005 desenrolou-se no GHSC/ CEIS20 o projecto de investigação História da Farmácia em Portugal (1900-1950). O caso português financiado pela FCT (POCTI/HAR/49941/2002). Entre comunicações apresentadas em reuniões científicas e publicações científicas mais directamente relacionadas com o presente artigo assinalem-se: João Rui Pita; Paulo Granja; Ana Leonor Pereira, A introdução da penicilina em Portugal, comunicação apresentada sob a forma de poster no “1º Congresso Luso-Brasileiro de História da Ciência e da Técnica”, realizado em Évora e Aveiro, pelo Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Évora e pelo Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência e da Técnica da Universidade de Aveiro, nos dias 23 a 27 de Outubro de 2000. João Rui Pita; Ana Leonor Pereira, Progressos da farmácia e da medicina. I. De Galeno a Fleming, Conferência proferida no “Colóquio sobre a ciência: débito ao passado e perspectivas de futuro”, realizado no dia 2 de Março de 2000 no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. Ana Leonor Pereira; João Rui Pita, Fleming na imprensa portuguesa nos anos 40 e 50 do século XX, Comunicação apresentada no Colóquio Saúde Cultura e Sociedade — Fontes portuguesas, realizado em Coimbra a 6 de Março de 2001, no auditório da sede da Secção Regional de Coimbra da Ordem dos Farmacêuticos e organizado pelo Grupo de História e Sociologia da Ciência do CEIS 20. João Rui Pita, Fleming e a descoberta da penicilina, conferência proferida na sede de Coimbra da Associação Nacional das Farmácias no dia 10 de Dezembro de 2004. Ana Leonor Pereira, João Rui Pita, Alexandre Fleming na imprensa portuguesa, comunicação apresentada no II Congresso Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos, realizado no Porto, na Universidade Fernando Pessoa, em 17 e 18 de Março de 2005. Relativamente a publicações assinalem-se, PITA; GRANJA; PEREIRA, 2000: 213-214; PITA; PEREIRA; GRANJA, 2001: 193- 198; PEREIRA, PITA, 2005: 432-437. Veja-se o mesmo texto editado em CD-Rom.
11 Para um estudo biográfico de Alexander Fleming ver a obra de MAUROIS, 1959a. A tradução inglesa foi feita por Gerard Hopkins, e editada em Londres por Jonathan Cape, em 1959; foi traduzida por Gerard Hopkins e teve uma introdução de Robert Cruickshank.
12 Outros dois irmãos de Alexander Fleming, John e Robert entusiasmados por um médico que apoiou o seu irmão Thomas na formação oftalmológica enveredaram pela óptica e pelo fabrico de óculos. Cf. MAUROIS, 1959a: 19.
13 Palavras do próprio FLEMING, 1944a: 5.
14 FLEMING, 1944: 5.
15 Alexander Fleming, “Penicilina. Discurso de (…) al recibir el premio Nobel de medicina y fisiologia, el 11 de diciembre de 1945”. In: ROJAS, 1994: 72.
16 FLEMING, 1944a: 5.
17 FLEMING, 1944a: 5.
18 Cf. FLEMING, 1929: 226-236. Veja-se FLEMING, 1944b: 8-10.
19 Cf. FLEMING, 1944b: 8. O autor refere o artigo publicado em 1932 no Journal of Pathology and Bacteriology.
20 Cf. A.P., 1950: 367.
21 Anotação nossa. Sobre as relações de saber e poder entre René Dubos e Alexander Fleming veja-se o artigo de
ESCANDE, 2000: 23-36. René Dubos (1901-1982) nasceu em França, foi engenheiro do Instituto Nacional de Agronomia, tendo depois fixado residência em Itália e posteriormente nos Estados Unidos da América em 1924. Naturalizou-se americano em 1938 e faleceu em Nova York.
22 Alexander Fleming, “Penicilina. Discurso de (…) al recibir el premio Nobel de medicina y fisiologia, el 11 de diciembre de 1945”. In: ROJAS, 1994: 86.
23 Cf. CHAST,1995: 236.
24 A descoberta das sulfamidas constitui, também, um dos marcos mais relevantes da história da terapêutica medicamentosa do século XX.
25 Cf. PITA,2000: 223. Veja-se, também de PITA; PEREIRA, 2002: 259.
26 Howard Florey (1898-1968), cientista médico australiano que se fixou em Oxford onde desenvolveu notável trabalho de investigação.
27 Ernst Boris Chain (1906-1979), bioquímico judeu nascido na Alemanha, fixado na Inglaterra desde 1933, tendo-se naturalizado inglês.
28 Muitos detalhes sobre a descoberta da penicilina e o início da sua produção em série podem ser vistos, por exemplo, em CHAST, 1995 que cita a obra de Gwyn MacFarlane, Fleming, 1881-1955, l’homme et le mythe, Belin, Paris, 1984. Muito se tem escrito sobre as razões pelas quais a penicilina ficou esquecida durante cerca de dez anos. Também nesta matéria o historiador tem de estar atento às relações de saberes e poderes entre escolas e entre cientistas a nível internacional e dentro das comunidades nacionais.
29 Cf. M.E.FLOREY, 1944: 11-15.
30 Cf. CHAIN,1948: 83-91.
31 Este Laboratório de Investigação da Região Norte do Departamento de Agricultura tinha um forte sector dedicado à fermentação que foi de capital importância para a produção da penicilina em larga escala.
32 Cf. PARASCANDOLA, 2001: 3-13.
33 Veja-se acerca dos estudos da penicilina no decurso da Segunda Guerra Mundial o estudo de ADAMS,1991.
34 Cf. LYONS, 1944: 110-112.
35 Cf. CHAIN; FLOREY, 1944a: 3.
36 Uma questão que se levantava era a das unidades de penicilina, assunto que, por si só, é motivo de interessante estudo relacionado com a quantificação e mensurabilidade da penicilina.
37 Cf. DENO; ROWE; BRODIE, 1959: 21.
38 O nosso estudo incide somente nos anos 40 do século XX e debruçámo-nos apenas sobre os primeiros trabalhos de investigação científica. Após os anos 50 levantam-se novas questões à problemática da história da penicilina.
39 Deve sublinhar-se que também Florey e Chain foram distinguidos com diversos galardões.
40 Cf. MAUROIS, 1959a: 221.
41 Cf. SANTOS,1944: 506.
42 Cf. DIÁRIO POPULAR, 1945: 5.
43 Cf. DIÁRIO DE LISBOA, 1945: 1.
44 Cf. O COMÉRCIO DO PORTO, 1945: 6.
45 Cf. O COMÉRCIO DO PORTO, 1945: 6.
46 Cf. O PRIMEIRO DE JANEIRO, 1945: 1.
47 Cf. NOVIDADES, 1945: 1.
48 Cf. DIÁRIO DA MANHÃ, 1945: 5.
49 Cf. LEMIERRE, 1947.
50 Cf. BIRCH, 1990. Esta obra insere-se na colecção “Cientistas que transformaram o Mundo”.
51 Cf. WAINWRIGHT, 1992.

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