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Leandro Vilar

terça-feira, 14 de abril de 2020

Rudolf Diesel e o motor a diesel

No final do século XIX, o engenheiro mecânico alemão, Rudolf Diesel inventou seu próprio modelo de motor a combustão interna, o qual se tornou um primor tecnológico por sua versatilidade em ser potente, ter múltiplos usos, ser relativamente econômico e ser um dos primeiros motores a funcionar de forma eficiente utilizando-se biocombustível. O presente texto procurou contar um pouco da história desse importante engenho que até hoje é utilizado, embora os motores a combustão à base de gasolina e etanol predominem, os motores a base de óleo diesel não perderam seu espaço e mérito. 

Rudolf Diesel: 

Rudolf Diesel
Rudolf Diesel nasceu em Paris em 1858, sendo naturalizado alemão posteriormente. Ele era o segundo filho de Theodor Diesel e Elise Diesel. Seus pais migraram para a França atrás de oportunidades, indo morar em Paris em 1854. O casal teve três filhos. Theodor trabalhava com encadernação de livros, emprego que pagava pouco. Assim a família Diesel vivia com problemas de falta de dinheiro. Rudolf estudou numa escola protestante em Paris, e em 1870 com o advento da Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), os Diesel abandonaram Paris e mudaram-se para Londres, seguindo com outros imigrantes alemães que viviam na capital francesa. Após alguns meses na Inglaterra, Rudolf foi enviado a Augsburgo na Alemanha, para viver com seus tios Christopher e Barbara. Seu tio era professor de matemática no Königliche Kreis-Gewerbeschule (Faculdade Profissional de Royal County). (MOLLENHAUER; SCHREINER, 2010, p. 3). 

Em Augsburgo, Diesel descobriu a paixão pela engenharia, estando determinado a fazer o Curso de Engenharia. Em 1880 ele graduou-se em engenharia mecânica, conseguindo a oportunidade de emprego em ser ajudante de um de seus professores, o doutor Carl von Linde, que havia ido trabalhar em Paris, com isso, Diesel voltou para sua cidade natal, ajudando seu professor nos projetos dele. Diesel e Linde formaram uma parceria de cooperação de vários anos, produzindo peças, máquinas e aparelhos. Nesse tempo ele casou-se e teve três filhos. Finalmente em 1893, ele mudou-se com a família para Berlim, onde dedicou-se a criar seu próprio motor a combustão, projeto que ele já vinha trabalhando já algum tempo. (MOLLENHAUER; SCHREINER, 2010, p. 3). 

Diesel no começou do século XX, mudou-se para os Estados Unidos, a fim de tentar dar prosseguimento a seus inventos e a comercialização de seu motor. Porém, os Estados Unidos era dominado por motores a vapor e a combustão interna abastecidos por petróleo e gasolina. Diesel teve dificuldades em convencer empresários, fabricantes e engenheiros de usarem seu motor, o que rendeu prejuízos financeiros e sua saúde foi abatida. Anos depois de infrutífero sucesso comercial, Diesel viajou para a França e de lá sem sorte também, seguiu para a Inglaterra. Ele morreu misteriosamente enquanto atravessava de navio o Canal da Mancha em 1913. Seu corpo foi encontrado dias depois boiando. Não se sabe se ele foi morto, cometeu suicídio ou caiu da embarcação e não o viram. (MOLLENHAUER; SCHREINER, 2010, p. 6). 

O motor Diesel: 

Motores a combustão surgiram no século XVIII e existiam em vários modelos, sendo movidos por diferentes formas de combustível como petróleo, vapor, gás, gasolina e alguns tipos de óleos. Alguns já possuíam até ignição elétrica. Quando Diesel decidiu trabalhar com motores, estava decidido a criar um modelo compacto, potente e mais eficiente dos quais eram normalmente comercializados. Pois alguns motores eram usados em trens, embarcações e veículos pesados, sendo motores grandes, pesados e não necessariamente eficientes e potentes. 

Antes de falar do motor invetado por Rudolf Diesel, se faz necessário comentar brevemente como funciona um motor a combustão interna. Hoje em dia existem diferentes tipos de motor que funcionam dessa forma, mas na época de Diesel, o principal modelo era o desenvolvido pelo engenheiro alemão Nikolaus Otto (1854-1891), que aperfeiçoou patentes da época e lançou em 1866 um motor a combustão de quatro tempos, o que significava que ele funcionava com quatro cilindros e pistões. 


Representação de um motor a combustão interna de quatro tempos.
O motor de Otto ainda hoje é utilizado em veículos devido a sua fácil produção e facilidade de funcionamento. Basicamente ele gera energia mecânica através de um ciclo termodinâmico, onde mistura-se combustível com ar, comprimindo ambos dentro de um cilindro e depois eles entram em combustão quando são iniciados por uma ignição controlada. O resultado dessa pequena combustão interna que ocorre no cilindro, movimenta o pistão e as peças a ele conectadas, gerando potência para movimentar outras peças as quais juntas permitem que veículos ou máquinas funcionem. Os gases residuais dessa combustão são expelidos pelo escapamento. 

Explicado a grosso modo como um motor a combustão interna funciona, é preciso salientar que havia também motores a vapor, e até mesmo motores elétricos que usavam baterias, todavia, Diesel optou por trabalhar com a combustão interna. Na época ele estava procurando uma forma de aperfeiçoar os motores a vapor, utilizados nas locomotivas, navios e alguns automóveis e caminhões, e até para fazer funcionar maquinário. Assim, partindo do princípio básico de como um motor a combustão interna opera, onde injeta-se ar e combustível dentro de um cilindro para esses serem inflamados, gerando uma descarga de energia que movimenta as peças, Diesel manteve essa premissa basicamente sem alteração, as mudanças que ele propôs foi alterar algumas das etapas de como isso era feito. 

Ele começou a trabalhar em seu motor pelo menos em 1891 ou 1892, quando deu entrada numa patente de motor no Escritório Imperial de Patentes na Alemanha. Somente no ano seguinte sua patente foi validada sob a numeração DRP 67207, intitulada Método de trabalho e design de motores a combustão (Arbeitsverfahren und Ausführungsart für Verbrennungsmaschinen)

Patente do motor a combustão de Rudolf Diesel, 23 de fevereiro de 1893. 
Sobre seu motor, Diesel escreveu o seguinte: 

"O método de trabalho para motores de combustão caracterizados por ar puro ou outro gás (ou vapor) indiferente com um funcionamento de um pistão  para comprimir o ar puro com tanta intensidade em um cilindro que a temperatura gerada como resultado está muito acima da temperatura de ignição do combustível utilizado, pelo que, devido ao pistão de expulsão e à expansão do ar comprimido (ou gás) acionado como resultado, o combustível é fornecido gradualmente do ponto morto em diante que a combustão ocorre sem aumentar significativamente a pressão e a temperatura, após o término do fornecimento de combustível, a massa de gás no cilindro de trabalho se expande ainda mais". (MOLLENHAUER; SCHREINER, 2010, p. 3, tradução minha). 

Como dito anteriormente, o motor Diesel segue o princípio do motor Otto, a diferença está nas etapas de funcionamento. No motor Diesel, o combustível não é injetado ao mesmo tempo que o ar, onde primeiro o cilindro é preenchido com ar pressurizado e este é comprimido, e logo após ser comprimido, a bomba injetora, libera uma pequena quantidade de combustível que sofre reação com o ar comprimido e aquecido, e ambos são incendiados pela vela de ignição, gerando assim uma combustão ainda mais potente. Depois os gases residuais são expelidos pelo sistema de escapamento. Lendo pode parecer bem simples a ideia, mas na época foi uma inovação, pois o motor Diesel consumia menos combustível, além de gerar maior potência, o que gerava mais energia para o trabalho ser executado.


Esquema representando o funcionamento de um motor Diesel. 
Estando de posse de sua patente, Diesel conseguiu um contrato da empresa Krupp, para construir um motor protótipo, o qual foi concluído em julho de 1893, porém, durante os testes usando-se petróleo como combustível, o motor acabou explodindo. Assim, Diesel voltou para a prancheta de desenho e cálculo e teve que reelaborar a estrutura de seu motor. Somente em 1894 é que o segundo protótipo ficou pronto. Nesse período ele solicitou novas patentes de peças para seu motor. No ano de 1895 o segundo protótipo foi testado de forma eficiente várias vezes. (MOLLENHAUER; SCHREINER, 2010, p. 4). 


Réplica do segundo protótipo de motor Diesel, o primeiro a funcionar de forma eficaz. 
Em 1896, Diesel apresentou um terceiro protótipo já com algumas diferenças em relação aos anteriores, além de demonstrar melhor desempenho de funcionamento. Finalmente em 1897 é que seu motor foi reconhecido como sendo capaz de ser utilizado em máquinas, isso após quatro anos de testes. Um empresário canadense solicitou comprar alguns desses motores para mover seu maquinário fabril. No ano seguinte, Diesel mudou-se para os Estados Unidos, fechando acordo com algumas empresas para produzir seus motores. Os quais eram produzidos para operar maquinários essencialmente. Apesar desses acordos comerciais, nem sempre significou que os negócios deram certo. Pois Diesel perdeu dinheiro com investimentos ruins. (MOLLENHAUER; SCHREINER, 2010, p. 4). 

Além de operar maquinários, nos anos seguintes o motor Diesel ganhou novas utilidades. Os primeiros barcos comercializados com este motor, começaram a ser vendidos em 1903, as locomotivas a diesel surgiram apenas a partir de 1912, no ano seguinte surgiu tratores, mas somente em 1923, caminhões a diesel começaram a ser comercializados. Todavia, os carros a diesel somente surgiram na década de 1930, tendo como grande incentivador, o inventor e empreendedor Clessie Cummins (1888-1968) que adaptou um motor Diesel para seu carro e viajou de Los Angeles a Nova York em 1931, mostrando a eficiência do motor. Nos anos seguintes ele convenceu montadoras de automóveis a investir nestes motores. (MOLLENHAUER; SCHREINER, 2010, p. 8). 


Clessie Cummins usando um dos automóveis com motor a diesel. Na década de 1930 ele ajudou a incentivar a produção de automóveis com motor a diesel. 
O óleo a diesel e o biodiesel: 

O primeiro motor protótipo fabricado por Diesel, utilizou petróleo como combustível, no que resultou na explosão do mesmo. Então Diesel nos anos seguintes decidiu testar diferentes misturas para servirem de combustível para seu motor. 

Entre os anos de 1894 e 1897, Diesel testou misturas alternativas de petróleo até chegar em uma que viria dar a origem ao óleo diesel. Ele chegou a usar gasolina, mas essa não demonstrou-se adequada a combustão que ele queria. Porém, o óleo diesel, se revelou mais adequado. No caso, esse combustível é produzido a partir do refino do petróleo, apresentando altos índices de hidrocarbonetos, além de possuir grande quantidade de carbono e hidrogênio, e baixas quantidades de enxofre, nitrogênio e oxigênio. Em comparação com a gasolina, o óleo diesel tem maior poder de combustão. O óleo diesel oficialmente foi apresentado na World's Fair de Paris em 1911. (DEMIRBAS, 2007, p. 74). 


Três diferentes tipos de óleo diesel usados atualmente. No caso, o tipo de óleo diesel varia de acordo com sua utilidade. Locomotivas, aviões, navios e grandes maquinários usam um óleo mais potente do que usado em carros e motocicletas. Até mesmo caminhões, tratores e ônibus já usam um diesel diferente também. 
Todavia, até Diesel chegar a uma mistura adequada, vários tipos de óleo diesel foram feitos, porém, nesse ponto reside seu engenho e visionarismo em buscar combustíveis alternativos e até mesmo autossustentáveis. Embora seja evidente que Diesel provavelmente não teria a percepção de que o petróleo poderia um dia se tornar escasso, no entanto, ele sabia que esse produto era raro em alguns países, então isso o levou a procurar tipos alternativos de combustível. 

O primeiro teste relativamente bem sucedido dele, foi apresentado em 1900 na Exposição Mundial de Paris, onde a Companhia Otto exibiu um motor Diesel movido com uma mistura de óleo diesel e óleo de amendoim, sendo esse o primeiro registro oficial de biodiesel que apresentou teste prático. Na época os visitantes da feira não perceberam que aquele motor de exposição era movido a óleo vegetal, tendo ficado surpresos com isso. Entretanto, o uso de biodiesel não foi algo viável naquele momento, até porque o óleo de amendoim foi apenas usado em um motor pequeno de testes. Posteriormente Diesel fez testes usando óleo de soja, gordura animal e outros tipos de óleo vegetal, notando que eles sendo refinados e tratados, serviam para movimentar motores testes. Mas ainda não eram eficientes para serem usados em motores de veículos ou de maquinários, por não possuírem poder de combustão adequado para fazer os motores funcionarem de forma eficiente. (DEMIRBAS, 2007, p. 74). 

Entretanto, o uso de biodiesel naquele tempo não despertou o interesse da indústria, pois eram combustíveis pouco eficientes e deixavam resíduos no motor, que necessitavam limpeza regular, assim optou-se pela gasolina e o óleo diesel. Posteriormente a ideia de explorar o biodiesel foi abandonada, somente retornada após a década de 1970, época que ocorreu as crises do petróleo, e assim decidiu-se investir em combustíveis alternativos como o etanol, energia solar, energia eólica e o biodiesel. Atualmente o biodiesel é mais sofisticado e eficiente do que há um século. 

NOTA: As primeiras motocicletas comercializadas com motores a diesel, surgiram na década de 1980. 
NOTA 2: Aviões a diesel foram usados durante a Segunda Guerra Mundial. 
NOTA 3: O ator Vin Diesel não pertence a família Diesel, esse nome é artístico.
NOTA 4: Atualmente nos Estados Unidos, Brasil e outros países, o biodiesel é produzido principalmente a partir da soja.
NOTA 5: A Mercedes-Benz foi a primeira empresa de automóveis a adotar uso de biodiesel em alguns veículos da sua linha. 
NOTA 6: Resíduos de óleos usados para a fritura de alimentos podem ser utilizados para se fazer biodiesel. Atualmente restaurantes e lanchonetes em alguns países vendem o óleo de fritura usado para empresas que fabricam biodiesel. 
NOTA 7: Embora o biodiesel seja uma alternativa ao consumo de combustíveis fósseis, em alguns países existem leis que reduzem o acesso a tal combustível ou até mesmo o proíbe. E em geral o biodiesel é usado para completar a produção diesel, não sendo usado sozinho. 

Referências bibliográficas: 
DEMIRBAS, Ayhan. Biodisel: a realistc fuel alternative for Diesel Engines. Berlin: Springe Science, 2007. 
MOLLENHAUER, Klaus; SCHREINER, Klaus. History and Fundamental Principles of the Diesel Engines. In: MOLLENHAUER, Klaus; TSCHÖKE, Helmut (eds.). Handbook of Diesel Engines. Berlin: Springer, 2010, p. 3-30. 
RAMOS, Luiz Pereira [et. al]. Biodiesel. Revista Biotecnologia, Ciência e Desenvolvimento, n. 31, 2003, p. 28-37. 

sábado, 11 de abril de 2020

Américo Vespúcio e a origem do nome América

Hoje é comum falarmos em América do Norte, América Central, América do Sul e até América Latina. Todavia, por mais que o nome América remonte ao começo do século XVI, nem sempre ele foi regularmente utilizado. Até o século XVII não era incomum referir-se aos continentes americanos pelos nomes de Índias Ocidentais ou Novo Mundo. No entanto, embora Américo Vespúcio foi que emprestou o nome para nomear o novo continente, pois naquele momento não existiam a divisão em três, isso esteve envolto em certos equívocos e até mesmo em tornar Vespúcio o "descobridor das Américas", retirando tal feito creditado a Cristóvão Colombo. Fato esse, que falsas viagens atribuídas a este navegador surgiram para justificar que ele e não Colombo, chegou primeiro, e graças a isso, aquele "novo mundo" merecia ser nomeado em sua homenagem. 

Quem foi Américo Vespúcio?

Nascido em Florença em 9 de março de 1454, era o segundo filho do rico comerciante Nastagio Vespúcio e de Lisa di Giovanni Minni. Os Vespúcio eram uma família tradicional florentina que fez riqueza com o comércio de tecidos, especialmente de seda e lã. Alguns membros também assumiram cargos políticos, públicos e eclesiásticos, além de terem negócios marítimos com outros países. Américo teve uma educação humanista dirigida pelo seu tio Giorgio Antonio Vespúcio, o qual era homem importante em Florença e cheio de contatos. No ano de 1478, seu tio que possuía contato com os Médici, recebeu uma proposta de emprego de representá-los em negócios em Paris. Dessa forma, Giorgio convidou Américo para ser seu secretário, e assim viajaram para a França e depois para outras cidades italianas, permanecendo uns dois anos fora. (GOMES, 2012, p. 27).


Estátua de Américo Vespúcio na Galeria de Uffizi, em Florença. 

Por volta de 1480, Américo retornou a Florença, tentando estreitar os contatos com os Médici, a poderosa família de banqueiros que governava a república florentina. Nesse tempo, Vespúcio passou os anos seguintes agindo como comerciante, cobrador de dívidas, administrador, secretário, mediador de justiça e procurador de justiça. Oito anos depois, os Médici enviaram Vespúcio para a Espanha, mais especificamente Sevilha e depois outras cidades. Mas no caso de Sevilha, ele viajava para coletar informações comerciais e financeiras que interessavam os negócios dos Médici. Foi na época que morou alguns meses na Espanha, que Vespúcio começou a se interessar ainda mais pelo negócios ultramarítimos, vendo nestes um grande potencial de enriquecimento. Assim, no ano de 1492, ele reuniu suas economias e mudou-se para Sevilha, a fim de tentar a sorte no "negócio das Índias". (FÉRNADEZ-ARMESTO, 2006, p. 58). 

Ao se mudar para Sevilha, Américo Vespúcio contava com seus 38 anos de idade, tendo trocado negócios e trabalhos certos, pelo duvidoso. Quando finalmente ele se estabeleceu na Espanha, tomou conhecimento que o navegador Cristóvão Colombo (1451-1506), havia partido para ocidente em busca de uma rota marítima para às Índias, ou estava indo em busca de um novo continente, como sugerem outros estudos. Mas enquanto Colombo não retornou de sua expedição, Vespúcio começou a trabalhar como armador em Sevilha, equipando navios e tripulações para fazer expedições ou negócios. Nem sempre os investimentos davam certo, a ponto de Vespúcio ter perdido muito dinheiro em algumas ocasiões. (GOMES, 2012, p. 29)

Os anos se passaram, Colombo havia retornado para a Espanha, noticiando sua "descoberta" e viajado novamente. Interessado no êxito duplo de Colombo, Vespúcio começou a escrever cartas para o navegador, para tentar fazer contato e até mesmo tornar-se um de seus armadores. As negociações se deram entre 1495 e 1497 através de intermediários. No ano de 1498, Colombo realizou sua terceira viagem, retornando no ano seguinte, quando os Reis Católicos de Espanha, lhe removeram o monopólio das expedições às "Índias Ocidentais". Assim, vários outros armadores, investidores, navegantes, nobres, mercadores etc. estavam interessados em realizar suas próprias expedições. E entre as pessoas interessadas em realizar tais viagens estava o próprio Américo Vespúcio. (FÉRNADEZ-ARMESTO, 2006, p. 81). 

As viagens de Vespúcio (1499-1503):

Com o fim do monopólio de Colombo de somente ele poder comandar as expedições para o Novo Mundo, várias outras expedições começaram a ser armadas. No ano de 1499, Vespúcio partiu na expedição do capitão Alonso de Ojeda (1466-1516), rumo ao Ocidente. A expedição de Ojeda chegou ao Norte do que hoje é o Brasil e ao atual território da Venezuela. Eles chegaram a avistar a foz do rio Orinoco (atualmente na Venezuela). Após semanas de viagem, a expedição retornou e Vespúcio embora tenha adoecido durante a viagem, ainda assim ele a tomou como bastante exitosa, devido as descobertas que fizeram, aquilo atiçou sua vontade de querer retornar outras vezes. 


Retrato de Alonso de Ojeda, com que Vespúcio realizou sua primeira expedição ás Américas. 

Entre 1500 e 1501, Vespúcio mudou-se para Lisboa, capital portuguesa para participar de novas expedições. O motivo de ele ter deixado a Espanha, ainda é fator de controvérsia. De qualquer forma, quando ele chegou a Portugal, naquele momento, Vasco da Gama já havia retornado de sua expedição às Índias e Pedro Álvares Cabral já havia chegado ao Brasil. Neste caso, os portugueses tinham basicamente duas rotas de viagem: o caminho que seguia para suas colônias e feitorias na África e depois o "caminho das Índias" determinado por Gama, e a rota que levava a Terra de Santa Cruz (o vindouro Brasil). 

Sua expedição de volta ao Novo Mundo, ocorreu no ano de 1501, onde Vespúcio embarcou no navio capitaneado por Gaspar Lemos, cuja missão era mapear a costa da Terra de Santa Cruz. Logo, é creditado a Lemos a "descoberta" da Baía de Todos os Santos e da Baía de Guanabara, a qual ele achou que se tratava da foz de um grande rio, por isso que a nomeou Rio de Janeiro. A expedição de Lemos, na qual Vespúcio seguia viagem, retornou à Portugal em 1502. Todavia, sua visita ao Brasil ficou marcada na história, pois ele relatou as "descobertas" do capitão Lemos. (COARACY, 1988, p. 302-302). 

Ao retornar para Lisboa em 1502, ainda naquele mesmo ano, Vespúcio estava de volta a Sevilha, onde casou-se com Maria Cerezza. Segundo um dos documentos escritos por ele, chamado de Lettera (Carta), entre 1503 e 1504, ele teria voltado a servir aos portugueses, retornando ao Brasil numa expedição comandada pelo capitão Gonçalo Coelho, porém, tal relato é encarado por alguns historiadores como duvidoso, pois, naquele tempo surgiram falsificações creditadas a Vespúcio e outras pessoas, as quais relatavam viagens que ele teria feito, mas sabe-se que nunca realizou. 

A fama de grande navegador: 

Como navegador, Vespúcio não se destacou, pois as expedições que ele participou, não esteve no comando propriamente. Tampouco ele foi autor de descobertas de novas localidades ou povos. Todavia, no ano de 1503, em Paris começou a ser vendido um livro intitulado Mundus Novus, cuja autoria era atribuída a um tal Albericus Vespuccius. O livro consistia numa compilação de cartas e relatórios que Vespúcio teria escrito a um de seus patrocinadores, Pierfrancesco de Médici. Embora hajam controvérsias se realmente Vespúcio escreveu tal livro ou ele teria sido forjado, sabe-se que ele se tornou um sucesso imediato, sendo traduzido e publicado em outros países nos anos seguintes. 

“Em Florença enviaram à sua casa o fogo comunal, dando-lhe o título de "amplificador do globo"; em 5 anos, de 1503 a 1508, e em nove cidades, fizeram-se doze edições latinas do Mundus Novus e, no mesmo espaço de tempo, em sete cidades alemãs, doze edições germânicas . Em Antuérpia foi feita uma edição em holandês e outros arranjos nessa língua e em inglês”. (LEVILLIER, 1958, p. 104). 

Uma edição de 1903 do Mundus Novus de Américo Vespúcio, livro que ajudou a torná-lo famoso na Europa. 

Além da rápida popularidade que o livro obteve, a fama que ele gerou também foi veloz. Em 1505, Vespúcio foi naturalizado espanhol e no ano seguinte já trabalhava na diretoria da Casa de Contração em Sevilha, órgão responsável por administrar os negócios das Índias. E por volta dessa época foi publicado outro livro atribuído a autoria de Vespúcio chamado de Lettera, Carta a Sordini ou Quatro Viagens, a qual consistia num compilado baseado no diário de Vespúcio sobre quatro expedições que ele realizou entre 1497 e 1503, porém, sabe-se que somente duas dessas expedições ele participou com certeza. A nova publicação não foi um fenômeno como o livro anterior, mas fez relativo sucesso, sendo traduzida e publicada em outros países nos anos seguintes. Nessa obra, o autor relatou duas expedições espanholas e duas portuguesas, incluindo o fato que na segunda expedição portuguesa, ele teria ido supostamente para África. (FÉRNADEZ-ARMESTO, 2006, p. 126). 

E essa fama foi tão rápida que até mesmo começaram a dar maior importância a Vespúcio pelas supostas navegações que fez ao Novo Mundo, do que as expedições realizadas por Colombo, fato esse que um dos filhos de Colombo, comenta que estavam roubando o mérito de seu pai. 

No ano de 1508, o rei de Espanha nomeou Vespúcio como piloto-mor do reino, título honorífico e o encarregou de lecionar em escolas navais, para turmas especiais, principalmente sobre questões de posicionamento náutico. Ele manteve-se no cargo até o fim da vida, falecendo em 22 de fevereiro de 1512, aos 58 anos, sem deixar herdeiros. Seu testamento dedicou seus pertences, dinheiro e propriedades para sua esposa, mãe, irmãos, sobrinhos, amigos e para saudar antigas dívidas. Apesar da fama, ele não se tornou rico como sonhava, mas conseguiu marcar seu nome na História. (FÉRNADEZ-ARMESTO, 2006, p. 181-182). 

Surge o nome América: 

Devido a fama crescente de Vespúcio através da popularidade do livro Mundus Novus, e das honrarias que ele ganhou do governo espanhol e de outros países, sendo elogiado como navegador e até mesmo cartógrafo, isso levou o cartógrafo Martin Waldessemüller (c. 1470-1520) em seu livro Universalis Cosmographia (1507), a sugerir que o "novo mundo" fosse nomeado de América, seguindo a lógica que os nomes Europa, África e Ásia eram femininos. Porém, a escolha de América era uma forma de homenagear Américo Vespúcio, que na época era conhecido como um famoso navegador que teria feito várias viagens ao continente americano, e alguns boatos diziam que ele o teria descoberto e não Colombo. O próprio Waldessemüller considerava tal fato, apesar que anos depois mudou de ideia, reconhecendo que Colombo era o "verdadeiro descobridor". 

Detalhe do mapa-múndi de Waldessemüler para seu livro Universalis
Cosmographia
 (1507). Nesse mapa vemos a primeira menção ao nome América. 


A obra de Waldessemüller influenciou outros cartógrafos de diferentes países, que nos anos seguintes até mais ou menos 1520, publicaram mapas apresentando o nome América, como forma de se referir ao novo continente, o problema é que fora dos mapas e de alguns livros, o nome América não era usado comumente. As pessoas seguiam referindo-se como Novo Mundo, Índias Ocidentais, ou pelos nomes regionais que expressavam os domínios portugueses, espanhóis, franceses e ingleses. Nesse tempo Vespúcio já havia morrido, e embora seu livro ainda seguisse sendo publicado, o nome América não causou tanto impacto assim. 

Ele somente começou a ser usado no século XVIII propriamente, como forma de se referir ao continente. Mais tarde é que dividiram o continente americano em três partes. No entanto, já no século XVII, alguns estudiosos já contestavam o uso da palavra América, por considerarem oriunda de uma farsa construída para enaltecer a pessoa de Américo Vespúcio, homem que ficou famoso através de fraudes sobre várias viagens e pretensas descobertas que ele teria feito. Apesar de hoje em dia saber que vários relatos atribuídos a supostas viagens de Vespúcio, sejam falsos, e que haja dúvidas sobre o que ele escreveu no Mundus Novus, isso se foi ele quem escreveu aquele livro mesmo, ainda assim, o nome América permanece oficialmente. 

NOTA: O professor Roberto Levillier escreveu uma análise de várias edições do Mundus Novus, sobre seu conteúdo, a fama e importância da obra, apesar de sua controvérsia. 

Referências bibliográficas: 
COARACY, Vivaldo. Memórias da Cidade do Rio de Janeiro. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, 1988.  
GOMES, Plínio Freire. Américo antes da América. Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 7, n. 84, 2012, p. 26-29. 
FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe. Amerigo. The man who gave his name to America. London, Weidenfeld & Nicolson, 2006. 
LEVILLIER, Roberto. Mundus Novus. A carta de Vespúcio que revolucionou a geografia. Revista de História da USP, v. 16, n. 33, 1958, p. 103-148. 

sexta-feira, 3 de abril de 2020

O nome do pai: os patronímicos

No mundo, distantes povos e culturas possuem o hábito criar nomes, mas principalmente sobrenomes a partir da descendência masculina, em outras palavras, a linhagem paterna. Embora tal prática remonte desde a Antiguidade, ainda hoje é comumente utilizada. O presente texto é mais para um sentido de curiosidade do que a história dos patronímicos. Sendo assim, procurei apresentar os principais patronímicos mais comumente usados atualmente, separando-os por caso de país ou cultura. 

Brasil

No Brasil diferente de Portugal, o emprego das palavras Júnior, Filho, Neto e até mesmo Bisneto e Sobrinho é mais recorrente. De forma menos usual, encontra-se também o emprego das palavras segundo e terceiro para se referir ao filho e neto, já que tanto em Portugal quanto no Brasil, proibiu-se o uso dos numerais romanos para os nomes próprios. 

Embora os portugueses no passado tenham usado essas palavras para compor os patronímicos, com o tempo eles abandonaram tal uso. Porém, no Brasil isso continua bem comum.

Por exemplo: Luís José da Silva Júnior ou Luís José da Silva Filho. Por sua vez, se o nome completo dele for Luís José da Silva Neto, significa que seu pai chamava-se Luís, e o pai dele era Luís também. Essa é a lógica dos patronímicos brasileiros. 

Outro exemplo é Carlos Henrique Macedo Segundo para se referir ao filho, e Carlos Henrique Macedo Terceiro, para se referir ao neto. 

Curiosamente, no Brasil também possuímos o matronímicos como Filha, Neta e até Sobrinha. Por exemplo: Maria Assunção Oliveira Filha ou Maria Assunção Oliveira Neta, ou Maria Assunção Oliveira Sobrinha. 

O uso desses patronímicos no Brasil é tão comum, que em muitos casos o filho e o neto são chamados pelos familiares e amigos não por seus prenomes ou sobrenomes, mas simplesmente de Júnior, Filho ou Neto. 

Tradição ibérica

Durante o medievo em Portugal e nos reinos hispânicos (pois a Espanha formou-se no século XV), os patronímicos eram formados com o uso de sufixos como ez, z, iz, es. Assim, um Juan Martinez era Juan filho de Martin. Já Pedro Marques era Pedro filho de Marcos. Com o tempo esses patronímicos ibéricos acabaram se tornando sobrenomes de famílias como as famílias Gomes, Álvares, Fernandes, Lopes, Marquez, Núnez, Sanches, Soares etc. 

Atualmente esse costume foi abandonado. Os portugueses e espanhóis quando querem nomear o filho com o mesmo nome do pai, geralmente adotam a palavra Júnior ou a sigla Jr. Ou nem se quer usam ao sufixo ou termo para diferenciá-los, pois nos países de língua hispânica não há o hábito de usar as palavras hijo ou nieto para os sobrenomes. 

Itália

No caso da Itália o uso de patronímicos decaiu muito, mas geralmente ainda é feito com o uso da letra i. Sendo assim, nomes como Paolo Rossi (Paulo filho de Rosso) ou Marco Lorenzoni (Marco filho de Lorenzo), pois o i significa "filho de". Porém, é preciso sublinhar que nem todo nome terminado em i significa um patronímico, há casos como Lombardi (da Lombardia) e Castelli (do castelo), cujos sobrenomes são de origem geográfica. 

Irlanda

Os patronímicos irlandeses são famosos por usarem não sufixos, mas prefixos, no caso destacam-se o mc e mac para filho e o uso do o' para neto. Devido a migração de irlandeses para à Inglaterra, Escócia e Estados Unidos, não é incomum encontrar pessoas desses países tendo patronímicos irlandeses como sobrenomes. Sendo assim, Clint McJohn significa Clint "filho de John", ou Liam MacLiam, que significa Liam "filho de Liam". O patronímico irlandês era usado tanto quando o filho tinha o mesmo nome do pai, ou apenas para dizer quem era o pai dele. Condição essa que alguns desses patronímicos como McTurk, McArthur e McDonald se tornaram sobrenomes de família. 

Quanto ao uso do o' para se referir a neto, temos o exemplo de John O'Ryan, que corresponde a dizer que aquele era John "neto de Ryan". Da mesma forma que alguns patronímicos com mc e mac se tornaram sobrenomes, temos também patronímicos com o' que se tornaram sobrenomes como O'Callaghan, O'Brien, O'Donell

Países escandinavos

Países como Dinamarca, Noruega, Suécia e Islândia até hoje conservam a prática de adotar patronímicos como sendo sobrenomes oficiais. Tal costume remonta ao período medieval pelo menos. No caso, o patronímico é representado pelo uso dos sufixos son, søn e sen. Que significa "filho de". Sendo assim, por exemplo, o escritor e poeta Snorri Sturluson (1178-1241), possível autor da Edda em Prosa (séc. XIII), famoso livro sobre mitos nórdicos, seu sobrenome Sturluson significa "filho de Sturlu"Um homem chamado Hans Bjornsen, significa que era filho de Bjorn. 

As mulheres também recebem o nome do pai como sobrenome. Por exemplo, o navegador e colonizador viking, Eric, o Vermelho, tinha como um dos filhos, o navegador Leif Ericson. Por sua vez, sua filha era chamada de Freydis Ericdóttir. Pois o nome Ericdóttir significa "filha de Eric". Neste caso, para mulheres usa-se os sufixos dotter, dóttir ou datter.

No caso da Dinamarca, Suécia e Noruega até se encontram sobrenomes sem ser patronímicos, porém, na Islândia o costume ainda é mais comum. Muita gente lá não possui um sobrenome de família, mas é nomeado pelo nome do pai. Como Magnus Magnusson ou Hans Hanson. 

Curiosamente sobrenomes como Watson, Peterson, Grayson, Masterson, Johanson, etc. que são encontrados na Inglaterra, Estados Unidos e até na Escandinávia, sendo estes legados desse antigo costume patronímico. A diferença é que se tratam de sobrenomes de família, e não patronímicos comuns. Fato esse que a atriz e cantora Scarlet Johansson tem como sobrenome Johanson e não Johandóttir. Pois seu Johansson é um sobrenome, já que o pai dela chama-se Karsten Olaf Johansson

Tradição árabe

Entre os árabes o uso de patronímicos é bem comum, fazendo-se uso das expressões ibn, ibne ou bin para homens e bint para as mulheres. Dessa forma temos como exemplo o profeta Mohammed ibn Abdalá, que refere-se a Mohammed filho de Abdalá. Por sua vez, tomando o profeta como referência novamente, cito o exemplo de Fátima bint Mohammed, que era uma de suas filhas. 

Com a expansão árabe entre os séculos VIII ao XII, o costume de usar tais palavras para compor os nomes completos e sobrenomes foi levado a outros povos asiáticos e africanos que foram conquistados pelos árabes ou adotaram sua língua e costumes. 

Países eslavos e bálticos

Os patronímicos eslavos seguem um conceito similar ao caso escandinavo. Lá tanto filhos quanto filhas, costumam receber o nome do pai como sobrenome ou nome do meio. Para o caso masculino usam-se os sufixos ovicth, evitch e itch. Já para o caso feminino usa-se ievna, ovna e itchna

Tomemos como exemplo o famoso escritor Lev Tolstói (1828-1910), também conhecido como Leon ou Liev. Ele teve ao todo treze filhos. Apesar do sobrenome de sua família ser Tolstói, todos seus filhos e filhas receberam seu patronímico. Logo alguns de seus filhos chamavam-se Sergei Lvovich, Nikolai Lvovich, já algumas das suas filhas chamavam-se Maria Lvovna e Tatyna Lvovna

A famosa grã-duquesa Anastásia (1901-1918), chamava-se Anastásia Nikolaevna Romanov, pois seu pai era o czar Nicolau II. Já o famoso cosmonauta Iuri Gagarin (1934-1968), tinha como nome completo Iuri Alekseievitch Gagarin, poi seu pai chamava-se Aleksei. 

Na Rússia ainda é costume o patronímico seja o nome do meio, além de ser pronunciado apenas por familiares ou amigos próximos. Assim, ao invés de alguém ser chamado de Ivan, seria chamado de Ivanovitch, por se tratar de uma forma mais pessoal de tratamento


Tabela com os sufixos patronímicos dos países eslavos e bálticos.  

Normandia

Durante a época do Condado da Normandia e do Ducado da Normandia, na Idade Média, os normandos usavam a palavra fitz, fiz ou filz como sufixo para identificar o patronímico. Logo, uma pessoa era referida como Pierre FitzAlan (Pierre filho de Alan), ou Jaime Fizgilbert (Jaime filho de Gilbert). Com a conquista da Inglaterra por Guilherme, o Conquistador, rei normando, o costume foi levado aos ingleses, daí haver famílias inglesas adotando a prática normanda de nomear seus filhos com o nome do pai, usando-se os prefixos fitz e as suas variações. Na Idade Moderna a forma de emprego desses prefixos patronímicos foi abandonada, porém, alguns nomes surgido nessa época originaram famílias como os Fitzgerald

Estados Unidos

Embora os Estados Unidos tenha herdado patronímicos de origem escandinava, inglesa, irlandesa, alemã, francesa, italiana etc. Esses se difundiram como sobrenomes de família, não como patronímicos comumente usados. Inclusive os americanos fazem pouco uso de patronímicos, e quando fazem, geralmente usam a palavra Júnior ou a sigla Jr, para se referir aos filhos, como em John D. Rockfeller Jr. Quando eles querem nomear o neto, bisneto ou trineto, usa-se os numerais romanos. Como exemplo temos o senador John D. Rockfeller IV. 

França

O caso francês é curioso, pois muitos nomes hoje que usamos normalmente são originários de patronímicos, os quais foram concebidos para serem não sobrenomes necessariamente, mas prenomes mesmo. Por exemplo, na França da Baixa Idade Média (sécs. V-X), começaram a surgir os patronímicos, adicionando-se sufixos como ard, in, que originou nomes como Bernard (filho de Bern), Richard (filho de Rich), Gerard (filho de Ger), Martin (filho de Mart), ou prefixos como de, des, du e lu visto em nomes como Desmond, Despat e Desmarais. 

Roma Antiga

Entre os romanos havia o costume de nomear os filhos e filhas a partir do nome do patriarca da família ou com base no sobrenome da família. Por exemplo, o famoso Caio Júlio César, seu prenome era Caio, já Júlio e César eram seus sobrenomes, sendo que Júlio era seu patronímico, pois ele pertencia a família Júlia. Uma das suas tias chamava-se Júlia César. Aqui sublinho o fato que os romanos não empregavam prefixos ou sufixos, palavras ou numerais para designar os descendentes com o mesmo nome. Neste caso, Caio Júlio César tinha o mesmo nome que seu bisavô. 

Outro exemplo, temos o caso do imperador Caio Otávio, que pertencia a família Otávia, e sua irmã chamava-se Otávia. Já o general Marco Antônio pertencia a família Antônia. O imperador Cláudio pertencia a família Cláudia. Seus filhos e filhas chamavam-se Cláudio e Cláudia.