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Leandro Vilar

terça-feira, 9 de março de 2021

Fontes escritas para se estudar o Brasil holandês

Listas bibliográficas sobre o Brasil holandês já foram escritas de forma extensiva, principalmente pelo historiador José Honório Rodrigues (1913-1987) em seus livros Civilização Holandesa no Brasil (1940) e Historiografia e bibliografia do domínio holandês no Brasil (1949). Posteriormente temos outros autores que escreveram a respeito, mas de forma menos detalhada, em livros que abordam fontes sobre o período colonial brasileiro.

No tocante as fontes sobre o Brasil holandês a maior parte delas têm origem em correspondências e documentos administrativos. São cartas, requerimentos, instruções, ordens, relatórios, despachos, avisos, decretos, etc. Um volumoso acervo documental cuja a maior parte não foi transcrita e nem traduzida, apesar do empenho de historiadores como Alfredo Carvalho, José Hygino, Souto Maior, entre outros, em terem traduzido vários documentos holandeses, entre o final do XIX e começo do XX, ainda há trabalho a ser feito.

De qualquer forma o presente texto teve a proposta de apresentar algumas das principais fontes escritas primárias e secundárias sobre o Brasil holandês, especialmente as fontes que foram traduzidas, e que consistem em diários de viagem, relatórios, listas, crônicas militares, crônicas históricas e obras de história natural.

Dessa forma dividi essas fontes por datação e categoria para facilitar a leitura. Aos leitores interessados por estes livros, quase todos estão disponíveis online, sejam nas edições do século XVII, XIX ou começo do XX. Ou o leitor pode procurar em sebos ou livrarias pelas edições mais recentes. 

1) Fontes primárias

a) Primeira invasão (1624-1625)

  • Motivos porque a companhia das Índias Ocidentais deve tentar tirar ao Rei da Espanha a terra do Brasil (1624). Escrito por Jan Andries Moerbeeck e apresentado ao governo holandês, esse relato apresenta 21 motivos para que a WIC investisse em invadir o Brasil e tomar o controle de seus engenhos. O documento realmente obtive êxito na época, e uma primeira ação foi realizada naquele ano.
  • Jornada dos Vassalos da Coroa de Portugal, para se recuperar a cidade do Salvador, na Bahia de Todos os Santos; tomada pelos Holandeses, a oito de maio de 1624, & recuperada a primeiro de maio de 1625 (1625). Escrito pelo jesuíta Bartolomeu Guerreiro (1564-1642), é um dos poucos documentos que se possui sobre essa primeira tentativa dos holandeses em conquistar territórios no Brasil.
  • Lista de tudo que o Brasil pode produzir anualmente (1625). Esse relatório econômico de origem anônima, foi escrito pelos holandeses, como outro motivo para incentivar a WIC a invadir o Brasil. O relatório é curto, possuindo somente duas páginas, citando que entre o Rio Grande e a Bahia haveria 137 engenhos, em seguida ele apresenta alguns valores sobre a produção e o valor de venda do açúcar.

b) Período da conquista (1630-1637)

  • Memória oferecida ao Conselho Político de Pernambuco por Adriaen Verdonck em 1630. Escrito pelo belga Adriaen Verdonck, que morava em Pernambuco, suas memórias são informações sobre Pernambuco, Alagoas, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande do Norte, informando sua geografia, natureza, lugares e engenhos, ofertadas aos holandeses em sinal de amizade. Já que Verdonck passou a trabalhar para a companhia.
  • Relaçam breve e verdadeira da memorável victoria, que ouve o Capitão-mor da Capitania da Paraíba Antonio de Albuquerque, dos Rebeldes de Olanda, que são vinte naus de guerra, e vinte e sete lanchas: pretenderão occupar esta praça de sua Magestade, trazendo nelas pera o efeito dous mil homens de guerra escolhidos, a fora a gente do mar (1632). Escrito a partir do testemunho do frei beneditino Paulo do Rosário (?-1655), o qual relatou a primeira tentativa da WIC para se conquistar a Capitania da Paraíba, batalha ocorrida em dezembro de 1631.
  • Relatório sobre a Capitania da Paraíba (1635). Escrito pelo conselheiro Servaes Carpentier, que foi o primeiro governador da Paraíba, entre 1635 e 1636. Carpentier redigiu breve relatório apresentando a cidade de Filipeia de Nossa Senhora das Neves (atual João Pessoa), agricultura, pecuária, engenhos, fortes e aldeias indígenas.
  • História ou Anais dos Feitos da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais desde seu começo até o fim do ano de 1636 (1644). Nesse volumoso trabalho escrito por um dos diretores da WIC, Johannes de Laet (1581-1649), o autor redigiu a história da companhia desde sua fundação em 1621, passando pela invasão a Salvador em 1624, e depois retornando as campanhas de conquista entre 1630 e 1636.
  • Memorias diárias de la Guerra del Brasil, por discurso de nueve anos, empeçando desde M. DC. XXX (1654). Essa crônica militar foi redigida a partir da vivência de Duarte de Albuquerque Coelho (1591-1658), quarto capitão donatário de Pernambuco, em sua fracassada tentativa de recuperar sua capitania. Coelho escreveu pormenores do processo de conquista holandesa, de 1630 até 1639, já com a chegada de Nassau. Devido a problemas judiciais e de licença, seu livro somente foi publicado muitos anos depois.
  • Diário de um soldado da Companhia das Índias Ocidentais (1677). Escrito por Ambrósio Richshoffer, um jovem estraburguês que aos 17 anos se alistou na WIC, servindo no Brasil entre 1630 e 1632. Richshoffer relatou algumas de suas experiências como soldado, atuando em Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande do Norte. Seu diário somente foi publicado em sua velhice.

c) Governo nassoviano (1638-1644)

  • Breve discurso sobre o estado das quatro capitanias conquistadas no Brasil, de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande, situadas na parte setentrional do Brasil. (1638). Publicado no início do governo de Nassau, esse relatório apresentou aos diretores, conselheiros e acionistas da WIC, uma visão geral e básica de como se encontrava o domínio holandês no Brasil, após oito anos de guerras para assegurar quatro capitanias. Muito provavelmente foi redigido pelo conselheiro Adriaen van der Dussen, que é um dos três nomes que assinou o documento. Neste relatório são apresentadas informações geográficas, breves descrições sobre as cidades, vilas, aldeias e freguesias, os colonos, escravos e indígenas, costumes, religião, guerra, etc.
  • Descrição geral da Capitania da Paraíba (1639), consiste num relatório redigido por Elias Herckmans, terceiro governador holandês da Paraíba, governando de 1636 a 1639. Nesse importante relato, o autor escreveu sobre a geografia, natureza, engenhos, fazendas, a cidade de Frederica (atual João Pessoa) e os costumes dos indígenas.
  • Relatório sobre o Estado das Capitanias conquistadas no Brasil, apresentado pelo Senhor Adriaen van der Dussen ao Conselho dos XIX na Câmara de Amsterdã (1640). A obra possui características similares as vistas no Breve discurso, inclusive tendo sido escrita em 1639 e publicada no ano seguinte. A diferença é que Dussen acrescentou e omitiu alguns dados a mais.
  • História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do ilustríssimo João Maurício, Conde de Nassau etc. (1647). Apesar de publicado após o governo de Nassau, esse livro aborda os oito anos de seu mandato, tendo sido escrito pelo filósofo e cronista Gaspar Barléus (1584-1648). O livro aborda temas sobre história, economia, cultura, fauna, flora, produção do açúcar, descrições sobre as capitanias, além de enaltecer a figura de Maurício de Nassau. A obra também contou com ilustrações na época, algumas desenhadas por Franz Post.

c) Crise da WIC e a guerra de restauração (1645-1654)

  • Sucesso dela Guerra de Portugueses levantados em Pernambuco contra Holandeses, como por carta do mestre-de-campo Martim Soarez e André Vidal de Negreiros (1646). Consiste num relato redigido pelo governador-geral do Brasil, Antônio Telles de Silva, com base nas cartas de Soarez e Negreiros, informando sobre o início da insurreição pernambucana.
  • A bolsa do Brasil (1647). Consiste num “panfleto” crítico de origem anônima, escrito em holandês, o qual denunciava a corrupção da WIC no Brasil. Além de informar sobre os funcionários corruptos, desvio de verba e renda, também citava os principais senhores de engenho que mais deviam a companhia e outros credores. Provavelmente o manifesto foi escrito por algum funcionário das finanças, que decidiu escancarar esse problema financeiro.
  • O machadão do Brasil (1647). Consiste num diálogo entre dois homens ficcionais, de autoria anônima, em que Kees Jansx Schott, que morava no Brasil, conversa com o recém-chegado caixeiro-viajante Jan Maet. No diálogo Schott expõe de forma levemente sarcástica a corrupção na colônia holandesa.
  • Diário ou Breve Discurso acerca da Rebelião dos pérfidos desígnios dos portugueses do Brasil (1647). De autoria anônima e redigido por um curioso como informa no início do documento, trata-se de um relatório diário dos acontecimentos da guerra de restauração entre os anos de 1645 e 1647, citando informações sobre Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande do Norte. O autor provavelmente deveria morar em Recife, pois refere-se a vários momentos a chegada de navios. Além disso, é possível que tivesse contato com gente do governo ou ele mesmo seria um funcionário da companhia. 
  • O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade na Restauração de Pernambuco (1648). Nessa crônica redigida pelo frei Manuel Calado (1584-1654), o qual vivenciou o Brasil holandês, seu relato cobre principalmente o início da insurreição pernambucana, entre os anos de 1645 e 1647, embora ele remeta-se a alguns acontecimentos anteriores daquele período. O livro também tem um teor panegírico voltado a João Fernandes Vieira, um dos líderes da restauração.
  • História Natural do Brasil (1648). Consiste num livro sobre história natural redigido pelo naturalista, matemático e astrônomo Georg Marcgraf (1610-1644) e o médico e naturalista Guilherme Piso (1611-1678). Ambos viveram no Brasil durante o governo de Nassau, realizando expedições pelas capitanias ocupadas pelos holandeses. Marcgraf faleceu antes de concluir o livro, o qual foi terminado por Piso. A obra é um marco para os estudos sobre medicina natural, zoologia e botânica.
  • Diário ou Narração Histórica de Matheus van den Broeck (1651). Redigido pelo conselheiro Broeck, que também atuou como governador da Capitania do Ceará entre 1649 e 1654. Seu diário centra-se em comentar aspectos do início da insurreição pernambucana.
  • História das últimas lutas no Brasil entre os Holandeses e Portugueses (1651). Foi escrito em francês por Pierre Moreau, que atuou entre 1646 e 1648 como secretário do conselheiro Michel Van Goch. Apesar de sua publicação anos depois, o livro cobre os eventos da guerra de restauração no período que Moreau viveu no Recife a trabalho. Todavia, ele não inseriu datas em seu relato, o que dificulta identificar alguns dos acontecimentos
  • Relação da Viagem ao País dos Tapuias (1651). Trata-se de um documento que hoje chamaríamos de etnográfico, embora consista mais nas impressões e estranhezas de seu autor para os costumes indígenas. Ele foi escrito por Roulox Baro, o qual trabalhou como intérprete para a WIC, principalmente em território rio-grandense. Nessa obra baseada em seus anos de convivência com tribos chamadas genericamente de tapuias pelos holandeses, ele deixou suas impressões sobre aqueles povos.
  • Relação diária do sítio e tomada da forte praça do Recife, recuperação das capitanias de Itamaracá, Paraíba, Rio Grande, Ceará, e a ilha de Fernão de Noronha (1654). Essa relação de menos de quarenta páginas foi escrita pelo general Francisco Barreto de Meneses, que depois se tornou governador de Pernambuco e governador-geral do Brasil. Meneses relatou os acontecimentos referentes ao ano de saída da WIC do Brasil.
  • Memorável viagem marítima e terrestre pelo Brasil (1682). Escrito ao longo de anos pelo explorador Johan Nieuhof (1618-1672) que esteve a serviço da WIC, o qual viveu no Brasil entre 1640 e 1649. Seu longo livro aborda temas sobre história, geografia e fauna e flora. Alguns dos capítulos são dedicados apenas a natureza brasileira. No tocante a narrativa histórica, Nieuhof começou seus relatos ainda no governo de Nassau, prosseguindo até abril de 1647, quando a guerra de restauração já havia tido início. Seu livro somente foi publicado postumamente.  
  • Diário de Henri Haecxs, membro do Alto Conselho no Brasil (1645-1654). Nesse documento pessoal, o conselheiro Haecxs expressou suas impressões sobre suas viagens ao Brasil e o tempo que ficou a serviço ali, pois ele não permaneceu os nove anos contínuos vivendo na colônia. Em muitos momentos seu diário limita-se a relatar a monotonia dos 40 a 45 dias de viagem da Holanda para Pernambuco, e outras ocasiões ele comenta seus aborrecimentos, curiosidades, seus afazeres como conselheiro e a realidade do declínio da WIC no Brasil e as ameaças constantes dos insurretos.
  •  Diário de Pieter Hansen. Redigido pelo dinamarquês Pieter Hansen, o qual serviu na WIC no Brasil, por dez anos, seu diário aborda sua viagem a Holanda, e a vida no Brasil entre 1644 e 1654, em que ele serviu principalmente em Pernambuco e Rio Grande do Norte. O diário também aborda outros momentos de sua vida, ao retornar para casa. Todavia, essa obra não foi publicada em seu tempo, e no Brasil foi publicada com o título de Viagem ao Brasil (1644-1654) em 2016.

 2) Fontes secundárias

  • Nova Lusitânia, História da Guerra Brasílica (1675). Consiste num estudo do governador Francisco de Brito Freire (c. 1625-1692). Embora tenha participado de algumas batalhas durante o Brasil holandês, sua crônica militar é resultado da consulta a outros autores do período, tratando-se de um livro que procurou apresentar os principais acontecimentos daquele período, indo de 1630 a 1655.
  • Castrioto Lusitano ou, História da guerra entre o Brasil e a Holanda, durante os anos de 1624 a 1654, terminada pela gloriosa restauração de Pernambuco e das capitanias confinantes: obra em que se descrevem os heroicos feitos do ilustre João Fernandes Vieira, e dos valorosos capitães que com ele conquistaram a independência nacional (1679), escrito pelo frei beneditino Rafael de Jesus (1614-1693) o qual foi nomeado cronista-mor do reino de Portugal, a obra consiste numa crônica militar baseada em fontes primárias, a qual narra os principais acontecimentos do domínio holandês de 1624 a 1654, além de servir também de panegírico a João Fernandes Vieira, ambas informações elucidadas no longo subtítulo do livro.
  • História da Guerra de Pernambuco (1681). Outra crônica militar sobre o Brasil holandês, dessa vez escrita por Diogo Lopes Santiago, o qual se baseou principalmente nos relatos de Manuel Calado.







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