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Leandro Vilar

domingo, 13 de fevereiro de 2022

100 anos da Semana de Arte Moderna

Em fevereiro de 1922 ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo três dias de eventos, os quais ficaram conhecidos como a Semana de Arte Moderna de São Paulo, que se tornou um marco para a oficialização do modernismo na arte brasileira e o início desse movimento nas décadas seguintes, apresentando novos conceitos, visões e críticas. O evento na época reuniu grandes nomes da literatura, música e pintura, além de ter gerado algumas polêmicas com suas críticas sociais e culturais. O presente texto consiste numa singela homenagem a Semana de 22. 

O Modernismo:

Para entender o motivo pelo qual a Semana de Arte Moderna ocorreu é preciso saber qual crítica artística ela fazia e o que foi o Modernismo. No caso, ele tratou-se de um movimento artístico e cultural surgido na transição do século XIX para o XX, na Europa, o qual buscava abordar novos temas e estilos. Salienta-se que o modernismo englobou o campo das artes plásticas, escultura, arquitetura, literatura, música e teatro, logo, diferentes estilos coexistiam naquele período como o Romantismo, o Parnasianismo, o Arcadismo, no entanto, o Impressionismo e o Simbolismo, influenciaram diretamente o Modernismo. 

Quando o modernismo começou a surgir na década de 1890, os artistas procuraram romper com antigas temáticas como: motivos religiosos cristãos, mitologia greco-romana, neoclassicismo, paisagens românticas, bucolismo (pinturas do campo), idealismo, pessimismo romântico, etc. Essa ruptura foi gradativa ainda na passagem do século XIX para o XX, mas depois tornou-se bem acentuada.

Os artistas modernistas como se referiam, diziam que era hora de aceitar os "tempos modernos", dessa forma, temas como urbanismo, industrialização, nacionalismo, cultura popular, cotidiano, temas sociais e políticos, traços e formas mais simples ou abstratos, imagens bizarras ou estranhas, objetos comuns, humor e sátira, etc. passaram a serem adotados. 

Essa ruptura inicialmente gradativa, depois total, abriu caminho também para uma série de outros estilos e movimentos artísticos, os quais surgiram no começo do século XX como o Cubismo, Expressionismo, o Surrealismo, o Dadaísmo, o Futurismo, o Fauvismo, entre outros, os quais juntos passaram a serem chamados de arte moderna

O Modernismo chega ao Brasil:

Anos antes da Semana de 1922, o modernismo já tinha chegado ao Brasil, embora ainda não tivesse visibilidade e fosse criticado por ser um estilo rebelde e tido como algo inferior. A primeira grande polêmica do tipo ocorreu com a pintora Anita Malfatti (1889-1964), a qual estudou arte na Alemanha e nos Estados Unidos, dedicando-se ao estilo do Expressionismo, conhecido por suas figuras tortas, traços fortes e emotivos. Ao retornar ao Brasil em 1917, Malfatti montou uma exposição para final daquele ano, porém, a crítica da época ficou horrorizada com suas pinturas. O Expressionismo ainda era coisa nova no país e foi tomado como algo de mau gosto. O famoso escritor Monteiro Lobato (1882-1947), na época criticou negativamente a exposição de Malfatti, considerando-a anormal e fruto de loucura e insensatez. (MORAES, 1988, p. 223).

A boba. Anita Malfatti, 1915-1916. Um dos quadros expostos em 1917. 

Após a recepção negativa de sua exposição, o poeta Oswald de Andrade (1890-1954) saiu em defesa de Anita, rebatendo a crítica ferrenha e insensata de Lobato, lembrando ao escritor que a arte é um campo de possibilidades, invenções, criações, sonhos e delírios. No caso da pintura, essa não precisa expressar a realidade como se fosse uma fotografia. O pintor pode colocar na tela suas distorções que desejar. (MORAES, 1988, p. 223). A fala de Andrade baseava-se bastante em pinturas como o cubismo de Picasso, o expressionismo de Munch e o futurismo de Marinetti. Pintores que tinham desenvolvido suas "escolas" e estavam ganhando fama. 

A crítica positiva de Oswald de Andrade concedeu a Anita Malfatti em prosseguir na sua carreira como pintora, e ela esteve na Semana de Arte Moderna. Mas vejamos outros artistas e obras que se manifestaram antes do evento de 1922. Ainda no ano de 1917, o poeta Mário de Andrade (1893-1945) publicou o livro de poemas Há uma gota de sangue em cada poema, como uma crítica a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Aqui vale relembrar que os modernistas tratavam de acontecimentos históricos de seu período, tecendo críticas. No livro, Andrade que assinou com o pseudônimo de Mario Sobral, apresenta um tom pacifista e contrário a guerra. Naquele mesmo ano o artista Paulo Menotti del Picchia (1892-1988) publicou o livro de poemas Juca Mulato (1917), obra que ganhou boa recepção de público e crítica, por contar as reflexões e incômodos de um pobre homem mestiço do campo. 

Outra obra significativa foi o livro de poesia Carnaval (1919) de Manuel Bandeira (1886-1968), com um tom satírico, o autor atacou os conservadores artísticos, em destaque para o poema Os sapos, que foi uma sátira aos poetas parnasianistas, ainda presos a uma linguagem rebuscada, de métrica e rimas rígidas e minimalistas, de descrições enfadonhas e temas considerados chatos. Evidentemente que os parnasianistas detestaram a sátira de Bandeira e isso gerou rebuliço em comentários nos jornais e revistas. 

Capa do livro Carnaval (1919), uma sátira poética modernista de Manuel Bandeira. 

Entretanto, somente no ano de 1921 foi que a situação modernista começou a andar mais rápido. Anteriormente alguns pintores e poetas tinham publicado algumas obras, mas que não ganhavam destaque nacional. Por outro lado, poetas como Oswald de Andrade, ao lado de jornalistas e colunistas, produziam matérias defendendo a arte moderna. No entanto, naquele ano ocorreu importante reunião entre alguns artistas, realizada no Belvedere Trianon, no Parque Trianon, na cidade de São Paulo, local de encontro da elite. Na ocasião, uma festa foi ali celebrada para se comemorar o lançamento do livro de poemas As Máscaras (1921) de Del Picchia. Obra que fez novamente sucesso. Naquele mesmo ano o pintor Di Cavalcanti (1897-1976) lançou sua série de gravuras intitulada Fantoches da Meia-Noite

Gravuras Fantoches da Meia-Noite (1921) de Di Cavalcanti. 

Na ocasião, Oswald de Andrade aproveitou para discursar sobre o modernismo e propôs um grande evento para o próximo ano. De fato, ele foi um dos principais idealizadores de Semana de Arte Moderna. Ele ao lado de Mário de Andrade, Del Picchia, Anita Malfatti, Di Cavalcanti além da presença de jornalistas e políticos, promoveram o evento que causaria repercussão em 1922. 

A Semana de Arte Moderna: 

Embora seja referida como semana, o evento contou com apenas três dias de atividades, exposições e apresentações, sendo realizado nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, embora as exposições seguiram até o dia 18. Mesmo tendo um caráter breve, ainda assim, ele foi impactante, algo que seus idealizadores e organizadores ambicionavam desde o início: causar impacto para mostrar que a arte moderna havia chegado no Brasil, e tinha vindo para ficar de vez. 

Tendo se formado a ideia de uma semana de arte, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Rubens Borba de Moraes, Paulo Prado, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, entre outros colaboradores, procuraram o apoio do advogado e escritor René Thollier (1882-1968), o qual possuía contato com o governador de São Paulo, Washington Luís (1869-1957), o qual se interessou pela proposta da semana de arte, e autorizou ceder o Theatro Municipal de São Paulo para sua execução. 

O Theatro Municipal de São Paulo, onde foi celebrada a Semana de Arte Moderna há 100 anos. 

O evento contou com uma divulgação massiva da imprensa, já que alguns dos idealizadores escreviam para revistas e jornais, além de haver muitos jornalistas envolvido também nos bastidores de promoção da semana de arte. Com isso, os jornais paulistanos e cariocas, abundaram em notícias a respeito. Todavia, é preciso salientar que apesar da ampla divulgação deste evento, a Semana de Arte Moderna foi essencialmente um evento das elites, as quais muitos iam por curiosidade em saber o que era a tal "arte moderna", condição essa, que em algumas das exposições e palestras, houve vaias por parte da plateia. 

"Na programação, além das exposições de arte, estavam previstas três apresentações, que ocorreriam nos dias 13, 15 e 17, com recitais de piano, leituras de poemas e fragmentos de romances, bem como leituras de propostas estéticas. No palco, iriam se apresentar Oswald e Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho, Villa-Lobos, Graça Aranha, entre outros. No hall, seriam exibidos trabalhos de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Zina Aita, Ferrignac, John Graz, Oswaldo Goeldi, Victor Brecheret". (FONSECA, 2013, p. 13)

No primeiro dia de evento, a abertura ocorreu à noite, contando com uma palestra do escritor Graça Aranha (1868-1931), declamações dos poemas Os Condenados de Oswald de Andrade, Ode ao Burguês de Mário de Andrade, Os sapos de Manuel Bandeira. Também houve um discurso do pinto Menotti del Pichia, elogiando a mulher moderna. No hall e corredores do teatro, pinturas e esculturas estavam em exibição. Mas no caso da palestra, discurso e do recital poético, os artistas chegaram a serem vaiados em dados momentos. 

O escritor e diplomata Graça Aranha realizou a palestra de abertura da Semana de Arte Moderna.

Todavia, apesar das vaias, os artistas não desistiram do evento. E no caso das exposições, essas que também foram alvo de vaias e insultos, contou com vários envolvidos, até mesmo mais do que a quantidade e escritores e poetas que se apresentaram. 

"O catálogo, idealizado por Di Cavalcanti, registra a participação dos arquitetos Antonio Moya e Georg Prsirembel; dos escultores Victor Brecheret e Wilhelm Haerberg; e dos pintores e desenhistas Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, João Fernando (Yan) de Almeida Prado, Ignácio da Costa Ferreira (Ferrignac) e Vicente do Rego Monteiro. O discutível modernismo das obras expostas e a confusão estilística em que se debatem seus autores traduzem-se nos títulos equivocados de algumas pinturas e desenhos, tais como, Impressão Divisionista (Anita Malfatti), Impressões (Zina Aita), Natureza Dadaísta (Ferrignac) ou Cubismo (Vicente do Rego Monteiro)". (AJZENBERG, 2002, p. 26). 

O segundo dia do evento ocorreu na quarta-feira dia 15, que contou também com vaias. 

“Mas a grande noite foi a do dia 15, aberta por Menotti del Picchia que fez um discurso de teor justamente futurista. A confusão começou quando Menotti passou a apresentar os escritores que declamariam trechos de suas obras. Debaixo de uma “viva vaia” (título de um famoso poema concreto de Augusto de Campos) realizaram-se os espetáculos da Semana de Arte Moderna de 1922”. (NASCIMENTO, 2015, p. 382). 

A declamação dos poemas foi interrompida várias vezes por conta das vaias e barulho da plateia, principalmente dirigidas a poemas que criticavam a arte tradicional brasileira do período. Outras vaias se davam a respeito da qualidade das obras, criticadas como sendo de mal gosto e não deveriam ser dignas de serem chamadas de poesia. 

O terceiro e último dia de apresentações foi o mais leve no quesito de balburdia da plateia. Na ocasião a grande atração da noite era o concerto do maestro e compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959) já era famoso na época da semana de arte, sendo reconhecido como um renomado compositor de música clássica, por conta disso, um misto de curiosidade despertou na plateia: como Villa-Lobos faria músicas modernistas? No caso, o autor pegou temas da cultura popular brasileiro e até ritmos como o samba, seresta, choro, ciranda, entre outros, e os adaptou para o concerto, mostrando que a música clássica poderia ser reinventada. 

Cartaz anunciando o concerto de Villa-Lobos no último dia a Semana de Arte Moderna. 

Apesar da engenhosidade, até mesmo o renomado maestro não esteve isento de críticas negativas. Ao entrar no palco usando sapato e sandália, devido a um calo, o público tomou aquilo como afronta e o vaiou. Além disso, houve vaias acerca de algumas composições apresentadas, por serem consideradas de "baixo valor artístico". No entanto, o terceiro dia não contou com tantos protestos como nos dias anteriores, e a Semana de Arte Moderna chegou ao fim. 

O Modernismo após a Semana de Arte: 

Mesmo entre os artistas, houve opiniões contrárias a Semana de Arte Moderna. Os escritores Carlos Drummond de Andrade e Rodrigo Melo Franco de Andrade, escreveram que a semana não foi tudo isso que estavam a divulgar nos jornais e revistas, tendo se tratado mais de um evento sensacionalista. Por outro lado, os trabalhos de Anita Malfatti e Victor Brecheret, foram bastante criticados negativamente. Sublinha-se que no caso de Anita, ela por ser uma das poucas mulheres artistas do grupo, o machismo contribuiu para isso. (AJZENBERG, 2002, p. 27). 

Apesar de algumas críticas negativas, ainda assim, o impacto causado pelo evento foi satisfatório e ele não terminou com a semana de arte. Naquele mesmo ano, Mário de Andrade publicou um livro de poemas intitulado Pauliceia Desvairada (1922), obra de versos livres e versos brancos, em homenagem a sua cidade natal, São Paulo. A falta de métrica e rimas, além de alguns poemas conterem um tom dramático e sombrio, não agradaram os leitores, e a obra de Andrade foi vaiada durante o evento, em que ele leu alguns dos poemas. Nas revistas, críticos literários alegavam uma que o livro era uma homenagem de mal gosto aquela importante cidade. (FONSECA, 2013, p. 13). 

Em maio foi lançado em São Paulo a revista de arte Klaxon (buzina), usada para se divulgar o trabalho de poetas, escritores e outros artistas, em que se publicava poemas, críticas, notas, palestras, notícias, etc. Artistas que participaram da semana de arte escreveram poemas ou matérias para a Klaxon que foi publicada mensalmente até janeiro de 1923. (MILLIET, 1992, p. 200). 

Edição 3 da revista Klaxon, de agosto de 1922. 

Em 1923 Oswald de Andrade viajou para França, morando alguns meses lá e na Suíça. Neste tempo ele cuidou de assuntos particulares envolvendo a guarda de seu filho com uma francesa, mas aproveitou para se aproximar dos aristas modernos franceses. Com isso, ele começou a escrever poemas e o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, publicado no jornal Correio da Manhã, em 18 de março de 1924. A obra trata-se de um poema ufanista e que faz referência a história e cultura do Brasil, em que Andrade num tom poético exaltava o país. A ideia do manifesto era mostrar como a poesia moderna poderia ser feita, além de anunciar seu livro Pau-Brasil (1924). O poema influenciou a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973), na época, namorada de Oswald de Andrade. A pintora passou a pintar quadros coloridos com temática tropical brasileira. Outros artistas também seguiram a tendência. (CARDOSO, 2015, p. 341). 

Todavia, o manifesto de Oswald de Andrade levou ao surgimento de concorrentes. O primeiro foi o Movimento Verde-Amarelismo (1926-1929), liderado por Plínio Salgado, artista e político de vertente fascista, fundador do Integralismo; Menotti del Pichia, o qual participou da semana de arte, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. O novo movimento tinha um tom mais político, nacionalista e patriótico, pois seus autores acusavam Oswald de promover um "nacionalismo afrancesado", porém, o verde-amarelismo se apresentava como os verdadeiros patriotas brasileiros, valorizando não apenas a flora, mas os indígenas, a língua tupi e a fauna brasileira, com destaque a anta, animal escolhido como símbolo do movimento, que levou a origem da "Escola da Anta". No ano de 1929 eles lançaram o Manifesto Nhengaçu Verde-Amarelo, para reafirmar seu movimento. 

Ainda em 1926, outro manifesto foi publicado, chamado de Manifesto Regionalista (1926), escrito pelo famoso sociólogo Gilberto Freyre - o qual era também artista plástico como hobby. O regionalismo defendido por Freyre criticava o eurocentrismo e o "paulocentrismo", pois a maior parte dos artistas modernos eram do estado de São Paulo, procurando defender os valores culturais de outra parte do Brasil, no caso, a região Nordeste. Com isso, Freyre reuniu artistas de Pernambuco como João Cabral, Antonio de Queiroz, Lucas Amado, o alagoano Graciliano Ramos (autor do clássico Vidas Secas) e os paraibanos José Lins do Rego (autor da série sobre os engenhos de açúcar) e José Américo de Almeida (político e autor de A Bagaceira). Todavia, o manifesto de Freyre foi criticado por acabar focando-se na cultura e história pernambucana, seu estado de origem. 

Em reação aos novos manifestos modernistas, Oswald de Andrade escreveu novo trabalho, intitulado Manifesto Antropófago (1928), na Revista de Antropofagia, a qual ele ajudou a criar. O novo manifesto apresentava um tom mais filosófico e político em relação ao anterior, além da tentativa de Oswald de se afastar do eurocentrismo do qual foi acusado anteriormente, por conta disso, a antropofagia que ele se referia significava se "alimentar das influências culturais e artísticas estrangeiras", uma alusão ao ritual antropofágico de alguns povos indígenas, e assim produzir a arte brasileira. O novo manifesto foi melhor aceito por vários artistas, incluindo alguns opositores de Oswald, como o integralista Plínio Salgado. (NASCIMENTO, 2015, p. 386-388). 

No caso da Revista de Antropofagia (1928-1929), essa foi criada por Oswald de Andrade, o escritor Alcântara Machado e o poeta e diplomata Raul Bopp, os dois dirigiram a revista em suas dez primeiras edições, as quais contaram com artigos e poemas de Oswald, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Pedro Nava, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Menotti del Pichia, entre outros. A partir de 1929 a revista passou a ser dirigida pelo escritor e antigo secretário da revista, Geraldo Ferraz

Capa da primeira edição da Revista de Antropofagia, em maio de 1928. 

A primeira edição da Revista de Antropofagia entre suas várias matérias, trouxe alguns desenhos e gravuras, mas a imagem mais famosa foi uma representação em preto e branco do quadro Abaporu de Tarsila do Amaral, na época, esposa de Oswald de Andrade. A pintura tornou-se símbolo do movimento antropofágico, pois a palavra abaporu significa "homem que come carne humana", uma alusão a antropofagia. 

Abaporu, Tarsila do Amaral, 1928. 

Data também do ano de 1928 a publicação de dois importantes livros da literatura moderna brasileira. O primeiro é Macunaíma de Mário de Andrade, uma sátira a cultura e sociedade brasileira, apresentando um herói nada convencional, por ser pilantra, trapaceiro, mentiroso e preguiçoso. O livro teve influência direta dos ideais dos manifestos do pau-brasil e da antropofagia, pois nessa obra, Mário de Andrade realizou extenso estudo linguístico de termos antigos e até um estudo folclórico para compor a trama. 

Já o segundo livro trata-se de A Bagaceira de José Américo de Almeida, um romance mais realista, influenciado pelo movimento regionalista de Gilberto Freyre, em que Almeida abordou o drama de sobreviventes da seca nordestina. Seu livro tornou-se um marco para a literatura regionalistas sobre a seca, influenciando outros autores como Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz. 

Considerações finais:

A Semana de Arte Moderna de 1922 realmente conseguiu, mesmo debaixo de polêmicas e controvérsias, apresentar a arte moderna ao Brasil. E nos oito anos seguintes, vários artistas produziram suas obras e redigiram revistas, jornais e manifestos defendendo o modernismo. 

Isso tudo culminou na segunda fase do modernismo brasileiro, a chamada Geração de 30, a qual se desenvolveu ao longo da ditadura de Vargas (1930-1945), reunindo artistas da primeira fase e novos expoentes como Vinícius de Moraes, Rachel de Queiroz, Candido Portinari, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Jorge Amado, Cecília Meireles, Érico Veríssimo, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa,  entre vários outros. 

NOTA: O Belvedere Trianon ou Palácio Trianon, foi demolido em 1951. No lugar foi construído o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Todavia, o Parque Trianon ainda existe. 

NOTA 2: Alguns jornais noticiaram que semana de arte foi idealizada por Graça Aranha, um equívoco devido ao fato de ele ter sido convidado para fazer a abertura do evento. 

NOTA 3: Manuel Bandeira não participou da semana de arte, pois estava doente de tuberculose. Já Tarsila do Amaral também não compareceu, pois estava viajando pela Europa. 

Referências bibliográficas:

AJZENBERG, Elza. A Semana de Arte Moderna de 1922. Revista Cultura e Extensão da USP, vol. 7, 2002, p. 25-29. 

CARDOSO, Rafael. Modernismo e contexto político: a recepção da arte moderna no Correio do Amanhã (1924-1937). Revista de História, São Paulo, n. 172, 2015, p. 335-365. 

FONSECA, Maria Augusta. Rebeldia e Semeadura (aspectos da Semana de 22). Remate de Males, Campinas, v. 33, n. 1-2, 2013, p. 11-22. 

MILLIET, Sérgio. Uma semana de arte moderna em São Paulo: a jovem literatura brasileira. Rev. Inst. Est. Bras, n. 34, 1992, p. 199-210. 

MORAES, Eduardo Jardim de. Modernismo Revisitado. Estudos Históricos, vol. 1, n. 2, 1988, p. 220-238. 

NASCIMENTO, Evando. A Semana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo Brasileiro: atualização cultural e primitivismo artístico. Gragoatá, Niterói, n. 39, 2015, p. 376-391. 

LINKS: 

Manifesto da Poesia do Pau-Brasil

Manifesto Regionalista (1926)

Edição 1 da Revista de Antropofagia (1928)

Manifesto Nhengaçu Verde-Amarelo (1929)


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