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Leandro Vilar

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Insulae: os apartamentos da Roma Antiga

Durante a história da Roma Antiga, especialmente nos períodos da República e do Império, a construção das insulae ou ínsulas. Tais habitações consistiam no que hoje nos referimos como apartamentos de poucos andares. Ao longo da história romana as ínsulas consistiram em prédios que variavam dos três aos quatros andares, embora houve casos de edificações mais altas. Todavia, como será mostrado adiante, tais habitações eram moradias destinadas aos mais pobres, a especulação imobiliária, careciam de conforto e segurança, em alguns casos formavam cortiços. Todavia, a maior parte da população em Roma e nas grandes cidades do império, viviam nesses edifícios. 

Ruínas de uma ínsula, em Óstia. 

O surgimento das ínsulas é incerto, mas teria surgido por volta do século IV a.C, durante o período da República Romana (509 a.C - 27 a.C), quando Roma tornou-se uma cidade populosa, não havendo mais espaço para casas pequenas, o que levou os governantes e arquitetos a decidirem ordenar a construção de edifícios. No caso, a palavra insulae significa ilha em latim, o termo foi adotado como forma de se referir àqueles prédios que se destacavam na paisagem urbana de Roma. Embora uma analogia mais racional teria sido compará-los com torres, mas os romanos optaram por ilhas, pois havia casos em que quadras e distritos eram formados por tais prédios, e isso gerava a ideia de ser uma "ilha de prédios" em meio a cidade. (DELAINE, 2018, p. 317). 

O conceito de ínsula criado pelos romanos, introduziu algumas noções até hoje encontradas em distintas partes do mundo: habitações de baixo custo, aluguel, cômodos pequenos, misto de prédio residencial com comercial e os cortiços. Todas essas características foram desenvolvidas pelos romanos ao longo de séculos. 

Representação de uma ínsula com comércio. Além disso, nota-se que os apartamentos mais superiores, eram menores. 

As ínsulas eram as residências das classes baixas da Roma Antiga, chamadas de plebe. O que incluía uma variedade de ofícios e até mesmo os escravos, os quais acompanhavam seus amos, compartilhando do mesmo teto. Neste ponto, não se pode considerar que todos os plebes seriam pobres, num sentido mais amplo da palavra. Havia plebeus que eram donos de lojas e oficinas e possuíam escravos. 

À medida que a população de Roma e outras grandes cidades, ia crescendo, mais ínsulas eram construídas. Homens ricos como Marco Licínio Crasso (114-53 a.C), fizeram muita fortuna sendo especuladores imobiliários, comprando ínsulas precárias ou que tinham sido avariadas por incêndios ou outro sinistro, e assim, eles as compravam abaixo do valor de mercado, mandavam reformar e subiam o aluguel. No caso, a maior parte da plebe morava de aluguel. 

Ao longo da História as ínsulas mudaram de designer, possuindo dois, três, quatro, cinco, seis andares ou mais, embora que em determinadas épocas, decretos determinavam que tais prédios tivessem tantos metros de altura e se limitassem aos três ou quatro andares. O imperador Augusto (27 a.C - 19 d.C) determinou por decreto que os prédios tivessem 70 pés romanos de altura, ou 21 metros. Durante o reinado do imperador Trajano (98-117), o tamanho das ínsulas foi reduzido para os 60 pés romanos, ou 18 metros de altura. (DA COSTA, 2018, p. 7). 

Tais edifícios eram construídos com madeira, barro, tijolos, pedras e mais tardiamente com concreto. Porém, o uso dos recursos dependia dos construtor, se ele queria gastar ou não com tais obras, já que não havia uma legislação específica ditando os materiais a serem empregados, salvo em alguns períodos por decreto imperial ou do governador. Algumas ínsulas poderiam serem apenas prédios com poucos apartamentos (cenaculum), possuindo dois a três andares, mas outros formavam cortiços, possuindo pátio interno com fonte, tanque para lavar roupas, corredores, escadas, varandas, lojas, etc. No entanto, não havia banheiros. Mas essa disposição variava com o construtor, e obviamente encarecia o aluguel também. (STRICKLAND, 2010, p. 49).

Representação de uma ínsula como uma espécie de cortiço. 

Além disso, diferente de hoje em que os apartamentos mais caros são os dos andares superiores, na Roma Antiga, era o contrário que ocorria. Os apartamentos mais altos costumavam serem em algumas épocas feitos de madeira e barro, e eram pequenos, para não sobrecarregar a estrutura. Por outro lado, os apartamentos inferiores eram maiores e alguns poderiam ter uma loja, o que o encarecia também. Também havia a questão de ter que subir escadas, sendo que naquela época não havia elevadores. (ALDRETE, 2004, p. 79). 

Por conta desse problema envolvendo o uso de materiais de baixa qualidade ou inflamáveis, o imperador Nero (54-68) após o grande incêndio do ano de 64, expediu decreto ordenando evitar usar madeira e barro na reconstrução das ínsulas, optar por teto de laje, ampliar os pátios, pórticos e a distância de uma ínsula da outra, e até reformular as paredes. Dessa forma, poderia se evitar que em caso de incêndio as chamas não se alastrassem tanto e a estrutura não desabasse de imediato. (DA COSTA, 2018, p. 7). 

Quanto a organização das ínsulas, vimos que elas poderiam ser apenas residenciais ou mistas, a respeito, Da Costa (2018, p. 9) escreveu que havia as ínsulas:

  • Casa com átrio e sem comércio
  • Casa com átrio e com comércio, em que havia as lojas, e os apartamentos no térreo ficavam nos fundos das lojas.
  • Ala de comércio independente, ou seja, no térreo ficam apenas as lojas e oficinas, e os apartamentos começavam a partir do primeiro andar. 
  • Habitação com pátio e comércio, seria a forma de cortiço. 

Mas como era a divisão interna dos apartamentos, os chamados cenaculum? Sobre isso, DeLaine (2018, p. 320), que tais apartamentos eram divididos em três cômodos básicos: o medianum (sala de jantar e cozinha), o exedra (sala de estar) e o cubiculum (quarto). No caso, o medianum costumava ser o cômodo mais extenso e mais ventilado, por conta de ali se acender o fogo, inclusive servindo como dormitório também se fosse o caso. O exedra também serviria de dormitório a depender da necessidade, mas ele não precisava ter janelas. Inclusive alguns quartos também não tinham janelas. Alguns apartamentos pequenos não traziam essa divisão, havendo apenas o medianum. Por outro lado, foi detectado casos de ínsulas "mais chiques", em que alguns apartamentos continham balcão ou varanda (pergolae). 

Mas quais seriam as atividades comerciais executadas nas dependências das ínsulas? DeLaine (2018, p. 321-322) explica que havia lojas de roupas e tecidos, ferramentas, objetos, grãos, padarias, tavernas, oficinas de calçados, de roupas, acessórios, equipamentos, escritórios, banheiros públicos etc. Isso variava de bairro e cidade. 

Representação de uma ínsula com comércio.

NOTA: Crasso foi considerado um dos homens mais ricos da Roma Antiga, sendo dono de fazendas, lojas e ínsulas, além de ter outros negócios. Ele também foi político e comandante militar. Caçou Espártaco e sua rebelião de gladiadores e escravos e foi aliado de Júlio César e Pompeu no Primeiro Triunvirato.

Referências bibliográficas:

ALDRETE, Gregory S. Daily Life in the Roman City. London, Greenwood Press, 2004. 

DA COSTA, Éllen Cristina. Insula romana: habitação coletiva na Roma Imperial. V Enaparq, Salvador, 2018. 

DELAINE, Janet. Insulae. In: HOLLERAN, Claire; CLARIDGE, Amanda (eds.). A Companion to the City of Rome. Exete, Willey Blackwell, 2018, p. 317-322. 

STRICKLAND, Michael Harold. Roman building materials, construction methods, and architecture: the identity of an empire. Thesis (Master of Arts History), Clemson University, 2010. 

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