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Leandro Vilar

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Os Triângulos do Holocausto: marcas da condenação

Durante o Governo Nazista (1933-1945), foi aplicado a hedionda política dos campos de concentração e de extermínio. Em alguns desses campos os prisioneiros eram sentenciados a condições desumanas para o trabalho forçado ou escravo; porém, nos campos de extermínio, eles aguardavam sua morte, nas câmaras de gás. Todavia, engana-se quem pensa que somente os judeus foram exterminados no chamado Holocausto. De fato, eles foram as maiores vítimas, mas outros grupos, por diferentes motivos também sofreram nas mãos cruéis do governo nazista. O presente texto aborda de forma simples o sistema de classificação de presos e seus motivos para terem sido presos e até condenados a morte, pois a política nazista era de extermínio para quem eles julgavam serem raças inferiores ou ameaças ao regime. 

Cartaz de 1936 mostrando os triângulos e suas variações. A cor marrom acabou desbotando, tornando-se preta.  

Os prisioneiros nos campos de concentração e extermínio recebiam um código que era tatuado em seus braços e gravado em suas roupas, no entanto, para facilitar o seu transporte e fiscalização, eles usavam nos uniformes de presidiário, as insígnias coloridas, em que cada cor significava o tipo de preso. A insígnia poderia vir na lapela, ou na manga direita, e menos usualmente até nas calças. Algumas vezes ela era usada na forma de estrela. 

Quando os prisioneiros eram oriundos de outros países e levados para cumprir pena ou serem executados em outra localidade, seus triângulos recebiam letras indicando se eram da Polônia (P), França (F), Bélgica (B), Húngaros (U), Checos (T), Espanhóis (S), Italianos (I), Ciganos (Z), Países Baixos (N), Rússia (R), etc. 

Os triângulos também possuíam algumas diferenças. Por exemplo, os que recebiam uma linha acima do triângulo, significava que era um preso que havia escapado e foi recapturado. O triângulo acompanhado de um círculo preto identificava os detentos oriundos de batalhões penais (strafkompanie). O círculo vermelho identificava os presos que haviam tentado fugir. A braçadeira marrom era usada pelos presos especiais (embora nem sempre era claro o motivo de ele ser especial). 

Amarelo:

Os triângulos amarelos representavam os judeus, havendo variações caso o indivíduo fosse mestiço, ele seria identificado com um triângulo amarelo junto a um triângulo preto. Já os judeus puros eram identificados com triângulos inteiros ou estrelas. Quando um triângulo de outra cor vinha unido a um de cor amarela, significava que o preso era um judeu, mas também era classificado em outra categoria. 

Prisioneiros judeus de origem neerlandesa, em fotografia de 1941, no campo de concentração de Bunchenwald, na Alemanha. 

Vermelho: 

Essa cor era utilizada para se identificar os presos políticos, os quais poderiam ser oriundos de partidos de esquerda como o comunismo, socialismo, socialdemocratas, anarquistas, mas também poderiam ser oriundos de partidos de direita, sendo liberais, conservadores, etc. Os maçons as vezes também eram incluídos nessa categoria. Além disso, desertores, traidores e espiões estrangeiros, também eram classificados nessa categoria, recebendo um triângulo vermelho em pé. 

Uniforme de um preso político de origem francesa. 

Verde:

A cor identificava os criminosos comuns, os quais eram conduzidos aos campos de concentração para o trabalho forçado. Não necessariamente seriam punidos com a pena de morte, mas poderiam ficarem presos por alguns meses ou anos. Tais criminosos englobavam qualquer pessoa que foi capturada pela polícia e decidiu-se puni-la mais severamente. Em alguns casos, alguns desses detentos agiam como espiões para os guardas, no intuito de ter redução de sua pena. 


Neste exemplo acima temos o código numérico de identificação do preso, o triângulo verde identificando que foi preso por um crime comum, porém, o triângulo amarelo assinala sua ascendência judia. Além disso, o traço verde e o círculo vermelho apontam que esse detento teria fugido e foi capturado. O círculo preto indica que ele teria estado num batalhão penal. 

Azul: 

A cor azul identificava os prisioneiros estrangeiros que se tornavam presos de guerra, sendo conduzidos aos campos de concentração, podendo serem executados ou não. O azul era usado para identificar os estrangeiros que não fossem de origem judia ou cigana. Em alguns casos para identificar a proveniência dos prisioneiros, usava-se a letra inicial do nome de seu país.  

Roxo: 

Essa cor foi usada para identificar principalmente membros das Testemunhas de Jeová, os quais foram perseguidos pelos nazistas pela principal condição de se recusarem ao alistamento militar obrigatório, e também por se manifestarem contrários a política nazista. A cor roxa também incluiu raramente em alguns casos, pessoas católicas e protestantes, as quais usaram a fé como motivo para não se alistar e se posicionar contra o regime nazista, embora que os nazistas fossem apoiados por igrejas cristãs. 

O triângulo roxo usado para identificar testemunhas de Jeová. 

Rosa:

A cor já naquele tempo era usada pra se referir-se aos homossexuais. Para a ideologia nazista a homossexualidade era considerada um distúrbio, uma doença. O governo chegou a investir em tratamentos alternativos em busca de uma "cura gay". Sendo que nestes tratamentos antiéticos, prisioneiros eram usados como cobaias. Por outro lado, os que não eram enviados aos laboratórios, ficavam presos. Em alguns casos os bissexuais, lésbicas, pedófilos e zoófilos eram também incluídos nessa categoria. 

Fotografia mostrando prisioneiros homossexuais. A cor dos triângulos foi destacada na foto. 

Marrom:

A cor marrom era usada para identificar especificamente os ciganos, considerados pelos nazistas como uma "raça" degenerada. Na Europa, comunidades ciganas se espalharam por vários países, sobretudo se concentrando no leste europeu. Os ciganos além de serem vistos como degenerados, eram também considerados apátridas, desonrados e marginais. 

Preto:

A cor preta identificava uma categoria ampla de indivíduos, considerados párias sociais, chamados de "associais", que no linguajar nazista remetia-se a aqueles que eram contra a "ordem social" do regime. No caso, incluíam-se mendigos, alcoólatras, drogados, vadios, prostitutas, apostadores, vândalos, grevistas, etc. Mas também poderia incluir pessoas que simplesmente se manifestavam contra a guerra e o governo, não tomando uma posição política ou religiosa para isso. Em alguns casos, os ciganos eram incluídos nessa categoria. Algumas lésbicas e transexuais também foram incluídos nessa categoria e até mesmo pessoas com problemas mentais e físicos.

Ciganos portando o triângulo preto, no campo de concentração de Dachau, na Alemanha, em 1938. 

NOTA: Além dos judeus, ciganos e homossexuais, os nazistas consideravam os negros, indígenas e deficientes como indivíduos impuros e inferiores, devendo serem eliminados também. Vale ressaltar que pessoas negras que chegaram a servir como soldados para o Reich, eram vistas apenas como algo descartável, assim como, os prisioneiros de guerra, que em alguns casos atuavam em batalhões penais. 

NOTA 2: Nem sempre as lésbicas eram enviadas aos campos de concentração, fato esse que a maior parte dos homossexuais condenados eram homens. A condição se devia que as lésbicas eram forçadas a passar por um tratamento "educacional" para se tornarem héteras e poderem se casar e terem filhos. O governo nazista incentivou em várias ocasiões que os cidadãos arianos tivessem mais filhos para aumentar a dita "raça superior". 

NOTA 3: Os prisioneiros nos campos de concentração morriam não apenas nas câmaras de gás ou por fuzilamento, mas devido a problemas de saúde e desnutrição. Em alguns casos a desnutrição era proposital para que os prisioneiros fossem definhando aos poucos. No caso das doenças, em algumas ocasiões não se fornecia suporte médico. E quando o prisioneiro era considerado demasiadamente fraco de saúde, poderia ser executado. Houve casos de detentos que também foram abandonados em locais durante o inverno para morrerem de frio. 

NOTA 4: O número de mortos no Holocausto foi de milhões de vida. De acordo com a Enciclopédia do Holocausto temos 6 milhões de judeus, 5 milhões de civis soviéticos, 3 milhões de prisioneiros de guerra, 1,8 milhão de poloneses, 312 mil sérvios, 250 mil deficientes, 250 mil ciganos, 70 mil criminosos comuns e "associais", 1.900 testemunhas de Jeová, e um número indeterminado de presos políticos, homossexuais entre outros detentos. No entanto, alguns estudiosos apontam valores entre 5 a 15 mil homossexuais executados, e um valor bem superior de ciganos, podendo ter passado de 1 milhão de vítimas, considerando pessoas de ascendência cigana. Já os presos políticos teriam passado de 200 mil vítimas. 

Referências bibliográficas:

FINKELSTEIN, Norman G. A indústria do Holocausto. São Paulo, Editora Record, 2001. 

LIPSTADT, Deborah. Denying the Holocaust. The Growing Assault on Truth and Memory. s. l. Plume, 1994.

WEISS, John. Ideology of Death: Why the Holocaust in Germany. s.l. Ivan R. Dee Publisher, 1997. 

Referências da Internet: 

Holocaust Encyclopedia

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