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Leandro Vilar

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Machu Picchu: a cidade escondida dos Incas

Atualmente Machu Picchu é uma das atrações turísticas mais famosas no mundo, atraindo milhões de visitantes por ano. Embora hoje seja até mais fácil de se visitá-la, havendo linha de trem e ônibus para chegar até a montanha onde ela fica situada, no entanto, por séculos seu paradeiro era desconhecido. Somente em 1911 a cidade foi descoberta. Seu nome era conhecido pelos colonizadores espanhóis ainda no século XVI, mas eles nunca conseguiram localizá-la, tendo a cidade servido de refúgio para os incas que se recusaram a se submetera dominação espanhola. 

Introdução

O Incas foram um dos vários povos andinos que habitaram o que hoje é o território de Cuzco, no Peru. Eles teriam surgido em algum momento do século XII como uma tribo rural, vivendo ao lado de outras tribos. Entretanto se desconhece a história da ascensão desse povo, já que eles não conheciam a escrita, sendo essa inexistente para outros povos sul-americanos. Todavia, no começo do século XV, cerca de duzentos anos depois, os Incas já eram uma potência militar regional, e, em 1438, o Sapa Inca Pachacuti fundou um império, que cresceu por mais de um século. 

O Império Inca (1438-1533) era chamado de Tawantinsuyu ("os quatro cantos"), o qual em seu auge, englobou os atuais territórios do Peru, Equador, parte da Colômbia, Bolívia e Chile. O imperador era chamado de Sapa Inca, atuando numa monarquia teocrática, em que ele era representante dos deuses, sendo considerado sagrado; os incas eram um povo politeísta, agrícola e mercante; embora desconhecessem a escrita, possuíam um sistema de contagem e cálculo usando-se quipos. Eles também eram habilidosos na construção de terraços agrícolas, pontes e cidades de pedra. 

A sociedade inca era bastante estratificada, havendo a realeza, a nobreza, o clero, a plebe e os escravos. Os nobres e clérigos controlavam a política, a religião, a educação e o exército. O império inca governou sobre outros povos que foram subjugados, sendo estimado mais de 6 a 14 milhões de habitantes para eles. Apesar de sua expansão e prosperidade, revoltas ocorriam e os espanhóis as incentivaram para ganhar apoio, além de usarem sua astúcia e poderio bélico para assustar e manipular os últimos monarcas. 

Uma cidade na montanha

A cidade foi construída entre as décadas de 1420 e 1450 por ordem do primeiro imperador inca Pachacuti (1408-1474), erigida no topo do monte Machu Picchu (Montanha Velha), ao lado do monte Huaynu Picchu (Montanha Jovem), ambos situados no vale do rio Urubamba, considerado parte da região sagrada para os incas. Apesar de sua construção, ela não serviu de capital real como já foi considerado no passado, já que Pachacuti e os outros imperadores governavam a partir de Cuzco, de onde podiam comandar a política e seus exércitos nas guerras que levaram a expansão de seu império. Sendo assim, a cidade foi erigida como ponto de ocupação da região, a qual era habitada por tribos dos chancas, que foram subjugados pelos incas. Condição essa que existiam outras cidades vizinhas como Quente Marca e Pattalacta, além de vilarejos agrícolas que forneciam alimentos para a cidade. 

Ruínas da cidade de Machu Picchu. Ao fundo o monte Huaynu Picchu. 

Uma hipótese sugere que Machu Picchu possa ter sido uma "cidade troféu", construída para enaltecer a vitória militar de Pachacuti, por conta disso, sua localização e boa qualidade de suas edificações. Nesse quesito, o imperador em pessoa (não se sabe quantas vezes ele foi a essa cidade) ou outros nobres, disporiam de Machu Picchu como uma cidade reservada para seus interesses, lazer e até preces, já que montanhas eram sagradas na religião dos incas.  

Embora seja bela e famosa, Machu Picchu não era uma cidade grande, estimativas apontam que ela teria tido entre 300 a 1.000 habitantes, talvez um pouco mais do que isso. Apesar de ter sido uma cidade pequena, ela contava com templos, um palácio, mercado, praças, terraços, currais e oficinas. A cidade também possuía uma muralha, fosso, canais, ruas, estradas, escadarias e alguns túmulos. Sua construção foi um engenho árduo e admirável, já que se trata de uma cidade feita com pedras, a maioria transportada montanha acima pelos escravos ou no lombo das lhamas. Se desconhece quanto tempo as obras levaram para serem concluídas. 

Também se desconhece o papel político, econômico, social e religioso de Machu Picchu devido a inexistência de relatos escritos, o que existem são hipóteses. Mas por haver um palácio na cidade, os historiadores sugerem que nobres ali habitassem, talvez pudessem ser parentes do imperador (pois havia a prática de ele designar parentes seus para governar determinadas localidades) ou alguma família importante, designada para o governo daquela cidade. 

A descoberta de Machu Picchu

Não se sabe quando a cidade foi abandonada, as estimativas arqueológicas e históricas apontam que Machu Picchu ainda continuou a ser habitada após a conquista espanhola. Algumas datas foram sugeridas, variando de 1535 a 1570 como o tempo em que a cidade ainda era habitada. Essas datas são reforçadas pela condição de que o imperador rebelde Manco Capac II em 1539, fundou a cidade de Vilcabamba ao norte de Cuzco, na proximidade do rio Urubamba. A cidade permaneceu ocupada até 1572, embora que na prática os ditos quatro imperadores que ali viveram, não dispunham de autoridade como antes, já que o império havia perdido sua coesão. No entanto, devido a queda do império inca, parte da população ou se sujeitou aos novos governantes ou decidiu migrar para outros territórios para escapar da colonização. 

A ideia de que Machu Picchu fosse uma cidade escondida, na verdade se deve a uma interpretação dos arqueólogos, pois na prática, ela nunca foi escondida, já que havia estradas que conduziam a ela, além de que a cidade estava ligada a rede de comércio. Todavia, a condição de os espanhóis não a terem encontrado no tempo da colonização levou ao surgimento da lenda de ela ser uma "cidade secreta" ou uma "cidade perdida". 

Não se sabe ao certo se os espanhóis realmente chegaram a Machu Picchu, pois o explorador Baltasar de Ocampo, ainda no século XVI, em suas explorações disse ter visitado uma antiga cidade no alto de uma montanha e ali havia belas casas, ele disse que tal lugar era chamado de Pictos. Os historiadores e arqueólogos não possuem certeza se essa descrição seria uma referência a Machu Picchu, pois havia uma cidade chamada Victos. Embora essa não ficasse propriamente sobre uma montanha. 

Depois do relato de Ocampo não se conhece relatos que sugiram ser referências a Machu Picchu, pois ela como outras cidades incas acabaram sendo abandonadas em fins do XVI, após a queda de Vilcabamba, o último reduto da monarquia incaica. 

Com o abandono da cidade, a vegetação começou a tomar conta de suas edificações e ruas. Com o passar das décadas os telhados ruíram e algumas estruturas mais frágeis também. As estradas foram encobertas pela vegetação, pois deixaram de serem utilizadas. Todavia, as fazendas situadas no sopé da montanha ainda eram utilizadas como apontam documentos coloniais. 

Em 1865 o naturalista italiano Antonio Raimondi (1824-1890), o qual investigava o Peru, passou pela região de Machu Picchu, tendo avistado algumas ruínas em meio a vegetação, mas não chegou a explorar a localidade devido a ser de difícil acesso. Na época que Raimondi executou sua pesquisa científica para estudar a flora e a fauna, naquele tempo já existiam arqueólogos, historiadores, exploradores, aventureiros e caçadores de tesouros que percorriam o Peru, a Bolívia, o Equador e a Colômbia atrás de antigas cidades. Alguns iam pela ciência, outros pela aventura e a promessa de achar tesouros. 

Uma hipótese surgida na década retrasada sugere que o empresário alemão Augusto Berns, o qual fundou uma empresa de mineração no Peru, pode ter ordenado buscas em Machu Picchu e outros sítios arqueológicos da região, em busca de tesouros. Apesar da pesquisa ainda não ter confirmado essa teoria, no entanto, sabe-se que no ano de 1880 o explorador francês Charles Wiener (1854-1919) relatou ter avistado ruínas de uma cidade sobre o monte Machu Picchu, mas não foi até ali devido ao difícil acesso. 

Posteriormente surgiram relatos de aventureiros e alpinistas peruanos que escalaram o Monte Machu Picchu, atestando a existência de ruínas ali. No entanto, somente em 1911 o explorador estadunidense Hiram Bingham III (1875-1965) em expedição no Peru, estava pesquisando as últimas cidades dos incas, como Vilcabamba, quando se deparou com relatos sobre as ruínas de Machu Picchu, as quais já eram visitadas desde pelo menos o final do XIX, inclusive o agricultor Agustín Lizárraga (?-1912) havia visitado a cidade, incluindo uma expedição informal com amigos em 1902, em busca de terras para plantio (deve-se lembrar que havia fazendas em Machu Picchu). 

Bingham III sabendo da expedição daqueles agricultores peruanos, decidiu levar sua equipe e fazer o mesmo trajeto, tomando para si a fama como descobridor de Machu Picchu, algo que ele noticiou em 1911. Meses depois ele ganhou patrocínio da Universidade de Yale e do National Geographic Society e retornou ao Peru em 1912 para iniciar as escavações na cidade e recolhimento de artefatos. Ele permaneceu até 1915 realizando várias expedições à cidade e outras localidades peruanas, inclusive foi mais tarde acusado de contrabandear artefatos de forma ilegal. 

Machu Picchu em fotografia tirada por Harim Bingham III em 1912. 

Considerações finais

Gradativamente Machu Picchu foi ficando famosa, sendo noticiada como a "cidade perdida dos Incas" ou a "cidade secreta". Em 1913 um importante artigo da Revista National Geographic popularizou a "descoberta" de Harim Bingham III, e com isso, nas décadas seguintes outras expedições foram sendo feitas à antiga cidade. Até o final dos anos 1970 vários estudos foram realizados na cidade. 

Em 1981 a região se tornou Zona de Proteção Ecológica, em 1983 a UNESCO a inseriu na Lista de Patrimônio Mundial da Humanidade. Na década de 1990 a cidade se tornou atração turística, sendo aberta a visitação regularmente, tendo nos anos seguintes construídos uma estrutura com ferrovia, estradas e hotéis para facilitar o acesso a cidade. Desde então, Machu Picchu ainda continua a ser uma das mais famosas atrações turísticas do Peru e do mundo.

Referências bibliográficas: 

HALL, Amy Cox. Framing a lost city: Science, photography, and the making of Machu Picchu. Austin, University of Texas Press, 2017. 

MACHU Picchu: canto de piedra. Miraflores, Wust Ediciones, 2010. 

MANN, Elizabeth. Machu Picchu. London, Mikaya Press, 2000. 

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