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Leandro Vilar

sábado, 22 de outubro de 2022

Maria Quitéria e a Guerra de Independência do Brasil

Durante a Guerra de Independência do Brasil (1822-1824), uma jovem baiana de vinte anos se disfarçou de homem e voluntariou-se para servir no Exército do Imperador. Maria Quitéria acabou mostrando valentia, honra e lealdade ao seu país, sendo mais tarde condecorada pelo próprio imperador D. Pedro I. No ano do bicentenário da independência, trago esse breve relato sobre a participação dessa soldado, que hoje é uma das heroínas da pátria. 

Maria Quitéria de Jesus nasceu em 27 de julho de 1792, no Sítio Licurizeiro, no distrito de São João das Itapororocas (atualmente em Feira de Santana), sendo a primogênita de Gonçalo Alves de Almeida e de Quitéria Maria de Jesus. O casal teve mais dois filhos, todavia, Quitéria faleceu quando a filha tinha apenas 9 anos de idade, levando Gonçalo casou-se com Eugênia Maria dos Santos e mudaram-se para a fazenda Serra da Agulha. Da nova união vieram mais filhos, mas Maria Quitéria se tornou responsável por ajudar a madrasta na criação dos enteados e filhos, além de que ajudava o pai no cuidado da propriedade rural. Posteriormente Eugênia faleceu e o Gonçalo casou-se uma terceira vez, contraindo matrimônio com Maria Rosa de Brito, a qual não gostava de Maria Quitéria e seus irmãos. Ela criticava a condição da adolescente ter muita liberdade, o que incluía caçar, cavalgar e ir participar das danças e festejos dos escravos. 

Representação iconográfica mais antiga que se conhece de Maria Quitéria de Jesus, feita por Augustus Earle para o livro Diário de uma viagem ao Brasil (1824) de Maria Graham. 

Não se sabe ao certo os motivos que levaram Maria Quitéria a se alistar no Exército voluntário. No ano de 1820 quando começou os dilemas envolvendo a independência brasileira, se desconhece até onde Maria Quitéria tinha conhecimento disso, já que vivia numa fazenda no interior. E pelo que indica seus biógrafos, ela nunca foi a escola, nem se quer seria alfabetizada. Todavia, a situação mudou em 1822 com a eclosão da guerra na Bahia, ainda em fevereiro daquele ano. O conflito duraria mais de um ano, embora esteve concentrado à Baia de Todos os Santos e os arredores de Salvador, ele se estendeu por outras localidades do Recôncavo, incluindo a Vila de Cachoeira, município onde Maria Quitéria vivia. 

A guerra começou em fevereiro e como o Brasil não dispunha de um exército próprio, pois a maior parte era formado por soldados portugueses ou luso-brasileiros leais a Coroa portuguesa, o príncipe Dom Pedro ordenou a convocação emergencial para formar o Exército Libertador. Assim, em diferentes capitanias começou-se um recrutamento voluntário massivo para se formar milícias e batalhões. No caso da Bahia, isso ocorreu em várias localidades, incluindo a Vila de Cachoeira, a qual inclusive se tornou um dos centros pró-independência, rebelando-se contra o jugo português.

Os recrutadores eram enviados às vilas e fazendas para buscarem homens de forma voluntária ou até forçada para servirem nas fileiras do novo exército. Um desses recrutadores visitou a fazenda Serra da Agulha, mas pela condição dos filhos de Gonçalo de Almeida serem crianças, não puderam se alistar. Sendo Maria Quitéria a mais velha de seus filhos, na época com seus 20 anos de idade. Se desconhece os detalhes de como Maria Quitéria tentou se alistar, mas pelo pouco que se sabe, ela fugiu de casa, indo pedir ajuda de sua irmã Teresa e do marido dela, o soldado José Cordeiro de Medeiros, o qual emprestou uma farda para a cunhada, a qual cortou os cabelos e se disfarçou de homem, partindo para Cachoeira. 

Ela se alistou no Regimento de Artilharia ainda em setembro, permanecendo ali por algumas semanas até que foi descoberta. Todavia, naquele tempo, já havia mulheres voluntárias ajudando na guerra, mesmo que não fossem soldados. Com isso, Maria Quitéria foi transferida para o Batalhão de Voluntários do Príncipe, chamado de Batalhão dos Periquitos devido a cor verde de seus uniformes. Ele era formado por agricultores e escravos, os quais foram voluntários ou recrutados a força. Vale ressalvar que os escravizados receberam a promessa de alforria caso ajudassem na vitória na guerra. 

Ingressando no novo batalhão, esse foi despachado em novembro de 1822 para atuar nas cercanias da Ilha da Maré, posição que manteve nos meses seguintes. A primeira batalha significativa enfrentada pelos Periquitos foi no conflito em Pituba e depois na batalha de Itapuã, no qual foi elogiada por seu desempenho e bravura, tendo capturado uma trincheira inimiga e feita vários prisioneiros. Posteriormente em janeiro de 1823 participou do conflito naval na foz do rio Paraguaçu, em que navios brasileiros e portugueses e confrontaram, enquanto a tropa terrestre impedia o desembarque inimigo. Além de Maria Quitéria, outras mulheres teriam lutado nessa batalha. Em reconhecimento ao seu valor apresentado nesses três conflitos, foi tornada 1a Cadete com distinção, em abril daquele ano. 

Em junho, o Batalhão dos Periquitos pressionava ao lado de outros batalhões e regimentos as defesas portuguesas em Salvador, forçando a rendição desses em 2 de julho de 1823. Nesse tempo, a fama da Cadete Maria Quitéria de Jesus já tinha se espalhado a ponto que o imperador D. Pedro I enviou uma carta convocando-a a ir ao Rio de Janeiro. 

Chegando à capital imperial, ela foi condecorada pelo imperador em 20 de agosto de 1823, recebendo a insígnia dos Cavaleiros da Imperial Ordem do Cruzeiro e uma pensão vitalícia de alferes. Retornou para casa e foi vivamente recebida pela família. Mais tarde ela se casou com Gabriel Pereira de Brito e seguiram a vida como agricultores. Eles tiveram apenas uma filha, Luísa Maria da Conceição. Após a morte do marido, Maria Quitéria não voltou a se casar, vivendo o restante da vida com sua filha na fazenda, depois mudando-se para Feira de Santana e Salvador, falecendo aos 61 anos. 

Retrato de Maria Quitéria em versão colorida, feita por Domenico Failutti, em 1920, com base no desenho de Augustus Earle. 

A rápida trajetória militar de Maria Quitéria impressionou na época, pois embora outras mulheres tenham lutado na Guerra de Independência, somente ela foi condecorada pelo imperador, tendo seu esforço reconhecido, embora que outras mulheres também tivessem merecido esse reconhecimento. No entanto, ainda em vida, embora tenha vivido de forma simples como agricultora, Maria Quitéria foi homenageada algumas vezes, para finalmente ser reconhecida como heroína da independência, tendo arriscado sua vida para assegurar a liberdade de seu país. 

NOTA: Na corte brasileira, Maria Quitéria conheceu além do imperador, a imperatriz, as princesas e outros nobres, a tutora Maria Graham, preceptora das princesas. Durante os três anos que morou no Brasil, ela escreveu diários e os publicou como livro. Uma das gravuras de seu livro é de Maria Quitéria, mulher que ela admirou na época que conheceu, apesar do seu jeito simples e meigo. 

NOTA 2: Em alguns estados existem ruas, avenidas, praças, escolas etc. em homenagem a Maria Quitéria. Estátuas também foram erigidas em sua memória.

NOTA 3: Devido a condição de ter se disfarçado de homem para ir à guerra, Maria Quitéria foi comparada a Joana d'Arc, sendo considerada sua versão brasileira. 

NOTA 4: Apesar de pouco se conhecer da sua história, Maria Quitéria foi tema de livros, tentativas de biografias e de documentários. 

NOTA 5: Maria Quitéria compõe o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

Referências bibliográficas: 

SCHUMAHER, Schuma (coord.). Maria Quitéria de Jesus. In: Dicionário Mulheres do Brasil. Rio de Janeiro, Zahar, 2000. 

SOUSA SILVA, Joaquim Norberto de. Brasileiras célebres. Brasília, Senado Federal, 1997. 

Link relacionado:

200 anos da Independência do Brasil

LINKS: 

Maria Quitéria: Honra e Glória (curta-metragem)

Mulheres na História #112: MARIA QUITÉRIA, a heroína da Independência do Brasil

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