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Leandro Vilar

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Os Drăculești: a verdadeira Casa do Dragão

A Dinastia dos Drăculești governou a Valáquia por mais de duzentos anos de forma irregular, vivenciando crises, conspirações, golpes de estado, traições e guerras. O nome da família originou-se de Vlad II Dracul, também conhecido como Vlad, o Dragão, por conta disso os Drăculești eram conhecidos como a Casa do Dragão. O presente texto é um resumo político-militar dos governantes dessa dinastia, que embora fossem parentes, isso não impediu que conspirassem para se trair, matar e usurpar o trono valaquiano. 

Antecedentes

O Principado da Valáquia surgiu propriamente no século XIV, embora sua formação tenha iniciado no século anterior, a partir da luta de alguns voivodes (príncipes). A Valáquia formalmente nunca se constituiu como um país independente, mas um Estado vassalo, de início era subordinado ao Império Búlgaro, mas conquistou sua independência, mas os tempos de autonomia foram curtos, e a Valáquia se tornou subordinada ao Império Húngaro, e posteriormente passou a ser vassala também ao Império Otomano

Em linhas gerais, a Valáquia que hoje compreende boa parte do território norte da atual Romênia, foi uma região fronteiriça situada num enclave político-militar bastante conturbado, pois marcava a fronteira entre os domínios húngaros e otomanos, dois impérios em pé de guerra ao longo de séculos. Condição essa que a Valáquia nunca foi assimilada totalmente, pois estrategicamente era favorável mantê-la sob um governo semiautônomo, usando seu território e população como "muro" contra os inimigos. 

A primeira dinastia a governar com força a Valáquia foi a Casa Bassarabe, iniciada com o voivoda Bassarabe I, o Fundador, o qual governou a Valáquia de 1324 a 1352, tendo libertada do domínio húngaro. Apesar dessa vitória política importante, seu sucessor Nicolau Alexandre (1352-1364) voltou a se submeter aos húngaros, tornando-se novamente seu vassalo, prática mantida pelos voivodes seguintes. As histórias de rompimento e retorno de vassalagem foram algo comum na história valáquiana, repetindo-se várias e várias vezes como será visto adiante. (BRACKOB, 2018). 

Durante o reinado de Radu I, que governou de 1377 e 1383, seu governo foi marcado por estabilidade e prosperidade, além da construção de várias igrejas. Radu I havia sucedido seu irmão Ladislau I, ambos eram bisnetos de Bassarabe I. Radu casou-se duas vezes tendo três filhos: Dan, Mircea e Staico. Por Dan ser o mais velho, ele sucedeu o pai, iniciando um reinado turbulento por se envolver em conflitos militares com os húngaros, otomanos e búlgaros. Dan I governou apenas por três anos, sendo morto em guerra, com isso ele foi sucedido por seu irmão Mircea I, considerado um dos maiores voivodes da Casa Bassarebe. 

Lembrado como Mircea, o Velho, mas também chamado de Mircea, o Grande, ele governou de 1386 a 1395, depois governou de 1397 a 1418. Em seu longo reinado, Mircea I  conseguiu manter a paz com os húngaros, fortaleceu a política, o exército, a economia e as leis do principado. Promoveu obras de pontes, estradas, portos, fortes e igrejas. Mircea até manteve uma relação amistosa com os turcos, mas tendo se negado a cumprir pagar tributo, ele foi preso em 1395, ficando quase dois anos em prisão. Nesse meio tempo de sua ausência o trono valaquiano foi ocupado por Vlad I. Mircea I conseguiu ser libertado e voltou para a Valáquia, então reuniu-se com os húngaros e passou a atacar os otomanos, tentando expulsá-los da Europa. (BRACKOB, 2018). 

Retrato de Mircea I, o Grande. 

Mircea I, o Grande faleceu na velhice aos 63 anos, ele teve vários filhos e filhas, sendo seu sucessor direto, Miguel I (1418-1420), o qual acabou envolvendo-se em nova guerra contra os otomanos, embora fosse para proteger a Valáquia, a Transilvânia e a Moldávia. Miguel I acabou falecendo em combate com seus irmãos, sendo sucedido por seu irmão Radu II, o Calvo

O novo voivoda teve problemas após a morte de seu irmão, que ocasionou perda de território, destruição e muitas mortes. Isso gerou uma instabilidade política e margem para um golpe de estado, que foi executado por Dan, primo de Radu II. Dessa forma, Radu foi derrubado do trono e Dan II o assumiu graças a fazer acordo com os otomanos, aceitando a vassalagem desses para se manter no poder. O trono valaquiano passou a ser disputado por alguns anos entre Radu II (o governante de direito) e Dan II (o usurpador). (BRACKOB, 2018). 

Radu II morreu de causas desconhecidas em 1427 (possívelmente foi assassinado a mando de seu rival), assim, Dan II pôde governar de forma mais tranquila, embora que os otomanos se mostraram traiçoeiros, traindo o acordo feito com ele. Dan II morreu em combate em 1431. Nesse ponto, Alexandre I assumiu o trono valáquio. Ele era o terceiro filho de Mircea I. (BRACKOB, 2018). 

Vlad II Dracul

Vlad II era o quarto filho de Mircea I e Maria Tolmay. Ele nasceu em 1400, e por anos ficou à sombra dos irmãos Miguel, Radu e Alexandre, os quais cada um governaram por direito devido a serem seus irmãos mais velhos. Todavia, Vlad II era um homem ambicioso. Em 1431 ele entrou para a Ordem do Dragão, uma ordem de cavalaria fundada pelo rei Sigismundo da Hungria em 1408, para reunir vassalos leais para lutarem por seu império e a cristandade. Se desconhece como deu o processo de convocação de Vlad, embora saiba-se que ele tinha seus contatos na corte húngara e alemã. De qualquer forma, Vlad passou a ostentar o nome de Vlad Dracul, em que dracul significava dragão, uma referência a ordem que pertencia. Por conta disso ele fundou a Casa Drăculești, ou Casa do Dragão. (SZWYDKY, 2012). 

Representação de Vlad II Dracul. 

Com a morte de seu irmão Alexandre I, ocorrida em 1436 por motivos desconhecidos, Vlad II ascendeu finalmente ao trono. Ele tinha 35 anos na época. Sua subida ao trono foi bastante aguardada, já que como dito, ele passou anos ambicionando isso. De início, Vlad II governou com segurança por alguns anos, até que um novo inimigo surgiu. Na região vizinha da Transilvânia, um cavaleiro afamado chamado João Corvino (c. 1387-1456), galgava posições importantes no exército e na corte a cada vitória obtida. Por volta de 1441, Corvino foi eleito voivoda da Transilvânia, e ele tinha interesse na Valáquia, além de contar com prestígio na corte húngara, para iniciar guerra contra os turcos, na chamada Longa Campanha (1442-1444). (HENTEA, 2007). 

João Corvino numa ilustração para a Crônica Húngara, 1488. 

Vlad II sabia que os húngaros apesar de serem seus aliados, nunca foram de extrema confiança. Por conta disso, em 1442, Vlad viajou para os domínios turcos, levando dois de seus filhos: Vlad e Radu. Ambos eram crianças na época, e esses foram dados como reféns ao sultão Murade II (1404-1451). Enquanto Vlad II esteve fora para buscar ajuda do sultão, ele deixou seu filho mais velho, Mircea II, como regente, e foi nesse momento que João Corvino decidiu agir. Ele enviou um pequeno exército para derrubar o regente, conseguindo obter isso em setembro de 1442, empossando Bassarabe II (filho de Dan II) como voivoda da Valáquia. (BOLOVANTREPTOW, 1997). 

O ato muito bem orquestrado, foi um duro golpe para Vlad II Dracul. Mircea II conseguiu escapar, evitando de ser assassinado, mas ele se seu pai haviam perdido o governo valáquio. No ano de 1443, Vlad recebeu a notícia do ocorrido, com isso, optou em permanecer no domínio turco para formalizar a aliança com Murade II. Mas a situação somente pioraria para os Drăculești. 

Ainda em 1443 o novo rei da Hungria e da Polônia, Vladislau I (1424-1444), decidiu realizar uma cruzada contra os otomanos. Na época, o jovem monarca com seus 19 anos de idade, bastante imaturo, era aconselhado por João Corvino, o ambicioso cavaleiro, envolvido na conspiração que usurpou o trono valáquio da Casa Drăculești. Pela condição de Vlad II pertencer a Ordem do Dragão e ter feito juramento em servir a realeza húngara, Vladislau I exigiu dele que cumprisse esse juramento, mas Vlad relutou em fazer isso, pois os húngaros haviam o traído, e naquele momento ele estava sob proteção dos otomanos, Vlad estava em uma situação bastante delicada, entre a cruz ortodoxa e o crescente muçulmano. (HENTEA, 2007). 

Aconselhado pelo papa Eugênio IV, Vlad Dracul enviou seu filho Mircea II em seu lugar, representando seu juramento à Ordem do Dragão. Isso serviu para apaziguar os ânimos, embora o rei húngaro e os nobres valáquios não gostaram daqui. Por outro lado, Vlad II manteve sua palavra ao sultão Murade II que não levantaria a espada contra ele. 

O que deveria ser uma grande cruzada contra os otomanos, acabou sendo desastrosa. Corvino que era tido como gênio militar, fracassou em organizar a estratégia. O jovem rei Vladislau I empolgado em ir ao campo de batalha, morreu na Batalha de Varna (10 de novembro de 1444), na Bulgária, local onde se travou o conflito para forçar os turcos a recuarem. Mircea II aproveitou o comando de uma tropa para recuperar alguns territórios e abri caminho para o retorno de seu pai. (TREPTOW, 2000). 

Com o trono húngaro vago, Corvino desmoralizado e culpado pela campanha desastrosa na Bulgária, Vlad II e Mircea II aproveitaram para derrubar Bassarabe II ainda naquele ano. Com isso, pai e filho governaram conjuntamente, mesmo sabendo que problemas maiores estavam pela frente. Vlad era visto como um traidor pela corte húngara e a nobreza valáquia, pois não cumpriu seu juramento, além de ter se aliado aos otomanos; por sua vez, seu filho havia lutado contra os otomanos, o que prejudicava seu acordo com o sultão Murade II. 

E a situação somente piorou. Em 1446 numa emboscada feita por alguns boiardos (nobres) incentivados por João Corvino, capturaram Mircea II, torturaram ele, o cegaram e o enterraram vivo. Vlad II ainda sobreviveu por mais um ano, tendo tentado escapar, mais foi encurralado num pântano e ali foi assassinado. No lugar deles os boiardos empossaram Ladislau II, irmão de Bassarabe II, o antigo usurpador. (BOLOVANTREPTOW, 1997). 

Vlad III Drácula 

Quando Vlad II e Mircea II foram assassinados, Vlad (1431-1476) e Radu (1435-1475) ainda viviam na corte otomana, sob proteção do sultão Murade II. Os irmãos na época eram adolescentes, apesar disso, Vlad que era conhecido por seu comportamento temperamental e rebelde, sentiu a necessidade de vingar a morte do seu pai e irmão mais velho. Ele conseguiu apoio do sultão para levar uma tropa para invadir a Valáquia em segredo, aproveitando que o usurpador Ladislau II estava em campanha com João Corvino na Bulgária, enfrentando os otomanos. Dessa forma, o jovem Vlad III, na época com seus 16 ou 17 anos, viajou até Târgovişte, a capital valáquia, e reivindicou o direito ao trono, usurpado da Casa Drăculești pela Casa Danilesti. No entanto, a reivindicação não deu certo, embora Vlad III tenha sido reconhecido como voivoda legítimo, Ladislau II ao saber disso, retornou para a capital com seu exército, mas poupou Vlad III de ser executado, banindo-o para o exílio. (SZWYDKY, 2012). 

Retrato de Vlad III Drácula. 

A luta de Vlad somente tinha iniciado e foi conturbada. Após perder o trono em 1448, Vlad III viveu os anos seguintes na Moldóvia sob proteção de Bogdan II, talvez um parente de sua mãe ou amigo de seu pai, não se sabe ao certo. Mas a realidade mudou em 1451, pois naquele ano Bogdan II e Murade II, os dois protetores de Vlad, faleceram. (CAZACU, 1990).

Com a ajuda de Estêvão (1433-1504), filho de Bogdan II, Vlad fugiu com seu amigo para a Hungria, escapando dos inimigos de seu protetor. Ali os dois se tornaram vassalos do rei Vladislau II e de João Corvino, que agia como regente do monarca. A contragosto, Vlad teve que se submeter ao velho inimigo de sua família. 

Em 1456 com seus 25 anos de idade, Vlad III adotou o epíteto de Draculea ou Drácula, que significava "filho do dragão", uma referência ao seu pai, Vlad II, o Dragão. Com isso, ele viajou para a Valáquia, indo assumir o trono após o assassinato de Ladislau II, o qual vivenciava uma crise política e havia perdido o prestígio de seus suseranos húngaros. Dessa forma teve início ao reinado de Vlad Drácula, o qual tratou de consolidar sua autoridade, mesmo que fosse necessário usar a força e a violência, já que ele levou a cabo sua vingança, parada desde 1448. Crônicas difamatórias chegaram a falar que Vlad mandou matar milhares de pessoas, mas hoje os historiadores consideram tais valores exagerados, mas é fato que ele realmente efetuou sua vingança. Apesar disso sua fama de cruel surgiu, fazendo o ganhar a alcunha de Vlad, o Empalador (Vlad Tepes em romeno). (HENTEA, 2007). 

Após finalizar sua vingança, Vlad decidiu recuperar o apoio da nobreza valáquia e fazer cumprir seus juramentos aos húngaros, de quem era vassalo. Mas para isso, ele teve que trair antigos aliados, os turcos-otomanos. Na época que Vlad III governava, seu irmão Radu vivia na corte do sultão Mehmed II, o conquistador de Constantinopla, os três haviam crescidos juntos na infância e começo da adolescência. 

Retrato do sultão Mehmed II. 

Por conta desses laços de amizade, Mehmed II esperava que Vlad cooperasse com ele, mas Drácula tinha outras intenções. Ele começou a parar de pagar tributos aos otomanos e não mais enviar os meninos para o recrutamento forçado. O sultão foi relevando isso até que em 1461, após afrontas seguidas de Vlad em descumprir os acordos e até atacar territórios otomanos, Mehmed II decretou Drácula traidor, então ele marchou com seu exército, invadindo a Valáquia em 1462. Vlad III fugiu para a Hungria, na sua ausência, o sultão nomeou Radu III como novo voivoda da Valáquia, tornando-se seu príncipe vassalo. (TREPTOW, 2000). 

O retorno de Drácula 

Com a fuga de Vlad III, esse foi buscar ajuda dos húngaros, mas acabou sendo preso. A Valáquia foi reocupada pelas tropas otomanas e os acordos com os húngaros foram suspensos novamente. O novo voivoda, Radu III, o Belo ou Radu, o Justo, foi entronado como governante legítimo, já que era o terceiro filho de Vlad Dracul. Radu III graças a proteção e auspícios do sultão Mehmed II, governou com relativa tranquilidade por alguns anos, mas a década de 1470 foi caótica. O voivoda Estêvão III, o Grande da Moldóvia invadiu terras da Valáquia, além de que, Matias Corvino (filho de João Corvino) também ambicionava recuperar o controle valaquiano, afinal, a Valáquia era território importante para manter os otomanos longe das fronteiras húngaras, mas ela de posse do inimigo, permitiria que os exércitos otomanos atravessassem facilmente aquele território para poder atacar a Hungria. Para piorar a situação, os mongóis voltaram a atacar a Moldóvia, Hungria e a Romênia. E para concluir toda essa trama bélica, Radu foi desafiado por Bassarabe Laiotã, um novo usurpador. (ENGEL, 2001). 

A guerra entre Radu e Bassarabe durou de 1473 a 1475, resultando na vitória de Bassarabe III, o qual mandou matar seu rival. Em resposta, Matias Corvino mandou enviar Vlad Drácula à Valáquia. Não se sabe ao certo os motivos para Corvino fazer isso, já que Drácula estava sob sua custódia como preso político. Provavelmente Corvino temesse que Bassarabe não soubesse lhe dar com os otomanos, e isso favorecesse a queda da Valáquia. Por sua vez, Vlad III sabia como guerrear e conhecia as táticas de batalha dos turcos, era um aliado mais promissor nesse sentido. (ENGEL, 2001). 

Enquanto Drácula viajava para depor o usurpador Bassarabe III, seu antigo amigo Estêvão III, seguia guerreando contra Mehmed II, tendo vencido se exército na importante Batalha de Valea Alba-Razboieni na Moldávia (atualmente território romeno), no dia 26 de julho de 1476. Isso pressionou a retirada das tropas otomanas da Moldávia e consequentemente da Valáquia também. Vlad aproveitou isso para fortalecer sua condição e retorno. Na época ele tinha seus 44 anos, e passou mais de uma década em prisão política. (HENTEA, 2007). 

Bassarabe III contou com o apoio a nobreza, tendo sua vida poupada, então Vlad dirigiu sua atenção para a guerra travada pelo exército de Corvino contra Mehmed. Ele reuniu um exército e partiu para a campanha, tendo falecido em local incerto em dezembro de 1476. Embora algumas fontes sugiram que ele teria morrido em janeiro de 1477. Bassarabe III reassumiu o trono e depois foi deposto por seu sobrinho Bassarabe IV. (TREPTOW, 2000). 

Herdeiros bastardos: Mircea III e Vlad IV

Com a morte de Vlad Drácula em 1476 e a derrubada de Bassarabe III, o então voivoda Bassarabe IV seguiu governando de 1477 pelos anos seguintes até que em 1480 ele foi confrontado por um dos filhos bastardos de Vlad II, que se autointilulou Mircea III (?-1480). Se desconhece quem teria sido sua mãe e sua história, mas por conta de ser bastardo, ele foi ofuscado pelos filhos legítimos de Vlad II. No entanto, vendo que seus irmãos estavam todos mortos, ele decidiu buscar ajuda do voivoda Estêvão III, prometendo apoio irrestrito em sua campanha contra os turcos. O príncipe que havia sido amigo de Vlad III, aceitou apoiar Mircea III na disputa pelo trono valáquio. (TREPTOW, 2000). 

Sabe-se que ele chegou a tomar temporariamente por alguns meses o controle da Valáquia, mas foi derrotado e morto por ordem de Bassarabe IV. Alguns historiadores contestam se Mircea III realmente governou de fato ou apenas por reivindicação não reconhecida.

Estêvão III, o Grande foi amigo de Vlad III e protetor de Mircea III e Vlad IV. 

O outro filho bastardo de Vlad II foi Vlad IV (1425-1495), ele era mais novo que Vlad III e Radu III, mas por conta de ter sido gerado com uma cortesã, seu pai o renunciou ao direito de ser seu sucessor, optando por nomear Mircea II como regente. Por sua vez, Vlad IV foi enviado para um mosteiro, onde entrou para a vida monástica, por conta disso seu cognome de O Monge (Calugarul em romeno). (TREPTOW, 2000). 

Vlad IV chegou a almejar o trono valáquio em alguns momentos, mas não teve chances de confrontar seus irmãos Vlad III e Radu III para a disputa. Ele teve que aguardar isso por décadas. Finalmente em 1481, seguindo a mesma estratégia de Mircea III, ele foi buscar apoio político e militar de Estêvão III. Com isso ele desafiou com um pequeno exército o domínio de Bassarabe IV, reivindicando o título de voivoda. A vitória foi temporária, pois a proclamação não foi mantida, somente no ano seguinte, graças a intervenção dos exércitos de Estêvão III, Bassarabe IV teve que fugir, mas acabou sendo traído por alguns boiardos e assassinado. Assim, Vlad IV aos 57 anos pode assumir o trono valáquio. (ENGEL, 2001). 

Seu reinado em idade tardia foi singularmente longevo, algo atípico na história romena. Vlad IV conseguiu governar por doze anos. Durante seu reinado ele reconstruiu a capital, mandou construir igrejas e escolas, além de fazer outras obras públicas; assegurou a união do país, manteve as boas relações com os moldávios, húngaros e até os otomanos, fazendo acordos políticos de cooperação por debaixo dos panos.

Ele casou-se duas vezes, tendo cinco filhos. Ele teve uma filha, dada em casamento político, mas seu sucessor imediato seria seu filho Vlad (c. 1460-1488), mas o jovem faleceu de causas desconhecidas. Mas Vlad IV teve outros três filhos, os quais cada um viria a assumir o trono valáquio. 

Disputa dos herdeiros

A partir desse ponto da história valaquiana, informações sobre os voivodes Drăculești, são cada vez mais escassas, tanto pela condição de ter havido poucas fontes, assim como, devido ao fato desse material permanecer em romeno, não tendo sido traduzido. Por conta disso, os leitores perceberão que as informações apresentadas serão breves. 

Com a morte de Vlad, o Monge ele foi sucedido por seu segundo filho, chamado Radu IV, o Grande, que governou por nove anos (um reinado também longevo para os padrões locais). Pouco se conhece do reinado desse príncipe, mas ele manteve a política de seu pai, garantindo a estabilidade do reino, mantendo as alianças e tributos aos moldávios, húngaros e otomanos. Até fez acordos com os poloneses. Radu IV também ficou lembrado por seu mecenato com a Igreja Ortodoxa, tendo mando reformar e construir mosteiros e igrejas, o que o deixou bem quisto diante do clero. Além disso, ele realizou uma série de casamentos políticos de suas filhas e filhos para consolidar alianças com os boiardos. (GEORGESCU, 1991). 

Ícone representando Radu IV, o Grande como protetor da fé cristã. 

Radu IV acabou adoecendo e faleceu em 1508. Se desconhece exatamente a doença que o acometia, mas ele padeceu por semanas. Ele tinha 46 anos na época. Seu sucessor seria seu filho mais velho, mas o trono foi usurpado por um primo seu, Mihnea I. 

Mihnea I (1462-1510) foi um filho de Vlad Drácula, no caso, praticamente nada se sabe sobre seu passado. Drácula foi casado duas ou três vezes, mas Mihnea teria sido filho dele com sua primeira esposa, Cneajna Bathory. Se desconhece como foi a infância e adolescência de Mihnea, mas ele parece ter mantido contato regular com o pai durante o cativeiro dele na Hungria. Após a morte de Drácula em 1476, Mihnea então com seus 14 anos, tentou ganhar apoiou da nobreza para reivindicar seu direito ao trono, mas os Bassarabe ignoraram isso. Mihnea viveu ignorado até por sua família. (FLORESCUMCNALLY, 1989).

Todavia, com a morte de seu tio Radu IV, Mihnea voltou a reivindicar o trono, alegando que ele era o herdeiro por direito, pois seus tios eram bastardos. Logo, seus filhos não tinham direito de fato ao trono. De qualquer forma, ele conseguiu o apoio dos boiardos e foi empossado voivoda. Mas seu governo foi marcado pelo terror como relatam cronistas da época. Mihnea herdou a crueldade do pai, fato esse que lhe rendeu o epíteto de Mihnea, o Mau ou o Malvado(FLORESCUMCNALLY, 1989).

Mihnea I, o Mau, filho de Vlad Drácula. 

Não se sabe até onde as histórias da sua crueldade foram verdadeiras ou exageros de seus opositores, mas é fato que Mihnea I entre 1508 e 1509, irritou muita gente a ponto da nobreza se virar contra ele, forçando a fugir. Ele para tentar despistar seus inimigos que buscavam vingança, empossou seu filho Mircea IV em seu lugar, mas esse era um governante fantoche. Mircea sabia dos perigos que o pai enfrentava por ter agido de má fé e com crueldade, então para evitar que a situação piorasse para seu lado, Mircea abdicou do trono em 1510. Por sua vez, Mihnea, o Mau continuava ser perseguido, vindo a morrer meses depois em Sibiu, ainda naquele ano. (FLORESCUMCNALLY, 1989).

Os boiardos e representantes otomanos decidiram empossar Vlad V (1488-1512), irmão de Radu IV, como novo voivoda. Mircea IV após a morte do pai, optou se afastar da disputa política. O novo príncipe tinha 22 anos na época e estava também numa situação difícil: ele precisava reforçar sua aliança com os húngaros e os otomanos, porém, havia o problema que parte dos boiardos estavam revoltados com sua família, mesmo que ele não tivesse culpa nos crimes cometidos por seu tio. Entretanto, o nome Drăculești havia perdido prestigío. Fato esse que a família Craiovesti, a qual havia se tornado inimiga de Mihnea, planejou um golpe de estado, apoiando o usurpador Bassarabe V. Vlad V chegou a confrontá-lo em batalha próximo a Bucareste, mas foi capturado e decapitado. Dessa forma, a linhagem dos Drăculești novamente perdia o poder frente uma traição interna. (GEORGESCU, 1991).

Os usurpadores

Bassarabe V governou por nove anos, realizando um bom e próspero reinado. Como seu filho Teodósio ainda era adolescente, ele ficou sob regência da mãe, a princesa Milica da Sérvia. Porém, esse era o ano de 1521, então um dos filhos de Vlad V, chamado Dragomiro, decidiu aproveitar o período de regência e usurpar o trono. Se desconhece como Dragomiro conseguiu apoio militar e político, mas ele montou um pequeno exército, com o qual ameaçou a capital. Seu governo é questionado por alguns historiadores, pois ele ficou um pouco mais de um mês no poder, até que foi derrotado por tropas otomanas de Nicopólis, que eram leais a Casa Bassarabe. Dragomiro morreu em combate ainda naquele ano. De todos os Drăculești que foram usurpadores, ele teve a campanha e o governo mais curto. (GEORGESCU, 1991).

No entanto, a paz para Teodósio e sua mãe não seria longa. Um ano depois, outro Drăculești decidiu tomar o trono valáquio, dessa vez foi um filho bastardo de Radu IV, o qual era chamado Radu V, tomou o controle da Valáquia em janeiro de 1522 permanecendo no poder até o ano seguinte, tendo resistido as derrotas sofridas pelo exército de Mohammed Bei, governador de Nicopólis e aliado da Casa Bassarabe. 

Entretanto o ano de 1523 foi marcado por uma batalha de usurpadores. Radu V foi desafio por Ladislau III (neto de Ladislau II) e por Radu VI (outro filho bastardo de Radu IV). Nota-se que nessa disputa pelo trono valáquio tivemos dois irmãos com o mesmo nome, lutando para saber quem seria o voivoda definitivo. A luta entre os três se estendeu, embora que Radu VI acabou sendo assassinado em 1524, mas a disputa pelo trono continuou até 1525, quando Ladislau III foi morto e Radu V pôde governar sem ameaças. (GEORGESCU, 1991).

O governo de Radu V foi conturbado, pois a guerra contra o irmão e Ladislau III enfraqueceu a autoridade política no país, além de que o fato de os três usurpadores terem derrubado Teodósio e Milica, levou a Casa Bassarabe a reunir seus vassalos para contra-atacar. Então um golpe de estado foi planejado por alguns boiardos e comandantes militares. Radu V foi morto no começo de 1529, sendo sucedido por Bassarabe VI, um governante fantoche que ficou menos de um mês no poder, quando foi deposto por Moise, um dos boiardos conspiradores. (GIURESCU, 2007).

Porém, a luta pelo controle da Valáquia somente iria ser retomada, pois uma nova leva de Drăculești decidiram agir para tomar o trono. O primeiro deles foi Vlad VI (c. 1508-1532), o qual valendo-se da insatisfação da nobreza com o governo de Moise, Vlad VI alisou-se aos inimigos dele e aos otomanos contrários a ele, ganhando apoio militar e político, declarando guerra. Moise perdeu a batalha e escapou para a Transilvânia, dessa forma Vlad VI governou por dois anos, até que morreu afogado de forma suspeita. Os motivos de seu afogamento ainda são incertos, não se sabendo se foi acidental ou intencional. Por conta disso ele recebeu a infame alcunha de Inecatul (o afogado). (GIURESCU, 2007).

Como Vlad VI não havia deixado filhos, ele foi sucedido por seu primo Vlad VII Vintila (1508-1535), o qual não teve problemas para assumir o trono, por conta da ligação familiar. O novo voivoda perseguiu os antigos inimigos da sua família, firmou nova aliança com imperador Fernando I do Sacro Império, da Áustria e Hungria. Vlad Vintila conseguiu governar por três anos quando foi desafiado por seu irmão Radu Paise, que aliado aos otomanos e outros inimigos de Vlad Vintila, iniciou uma guerra, levando a morte do seu irmão. Aqui temos um caso de briga entre irmãos pelo poder. Radu Paise era o mais novo usurpador, assumindo o trono valáquio com o nome de Radu VII, tendo governado por dez anos, outro governo singular por ter sido longo. (GIURESCU, 2007).

O voivoda Radu VII Paise e seu filho Marco. 

Radu VII realizou um bom governo e resistiu a três tentativas de golpe de estado, promovidas por boiardos de famílias inimigas. Ele também assegurou o bom relacionamento com os húngaros e os otomanos por alguns anos. Perto do fim da vida, os filhos de Radu VII morreram jovens de causas desconhecidas, incluindo seu herdeiro imediato, o príncipe Marco. Embora ele tivesse outros filhos, esses eram crianças, dessa forma o trono foi assumido por seu irmão Mircea V, o Pastor (1508-1559). (GIURESCU, 2007).

O novo voivoda era um pecuarista, criador de ovelhas e carneiros, por conta disso, o epíteto de Pastor. Ao assumir o trono, Mircea V realizou um governo tranquilo por sete anos até que passou a enfrentar problemas com usurpadores. O primeiro usurpador foi um primo seu chamado Radu VIII, que conseguiu o apoio austríaco e um exército de mercenários, invadindo a Valáquia e desafiando seu Mircea V, em 1552, esse acabou sendo derrotado, mas fugiu para a Moldávia, onde passou quase um ano, para poder retornar a Valáquia com o apoio do voivoda Alexandre IV da Moldávia. (GEORGESCU, 1991).

O exército de Radu VIII foi derrotado, com isso ele fugiu do país, ganhando a alcunha de O Covarde. Radu VIII não voltou mais a desafiar Mircea V, exilando-se. No entanto, Mircea, O Pastor teve um novo governo curto, pois seu aliado, o voivoda Alexandre IV se desentendeu com ele, e o traiu, expulsando-o da Valáquia. Mircea e a família se exilaram em Istambul, indo buscar ajuda do sultão Solimão, o Magnífico. Por sua vez, os moldávios entronaram Patrascu I (?-1557), um dos filhos de Radu VII, o qual detinha direito ao trono. (GIURESCU, 2007).

Seu governo foi marcado pela boa governança, o que lhe rendeu a alcunha de O Bom. Patrascu restituiu terras e direitos dos boiardos que foram afetados durante o governo de Vlad VII. Além disso, ele manteve a boa política com os húngaros, austríacos, moldávios e cooperou com os otomanos em lutas na Transilvânia. Patrascu, o Bom deixou vários filhos, mas esses não assumiram o trono valáquio na sua sucessão, pois após sua morte suspeita, em que acredita-se que ele tenha sido assassinado, Mircea V retornou a Valáquia e reassumiu o governo. 

Com o falecimento de Mircea, o Pastor aos 51 anos por motivos desconhecidos, seu herdeiro, o príncipe Pedro, ainda era menor de idade, então ele ficou sob a regência da mãe até 1564, quando passou a governar sozinho, o problema é que sua mãe Chiajna acabou gerando desafetos nos anos de regência, condição essa que alguns inimigos da família atentaram contra eles, mas o pior de tudo foi o desafeto gerado com os otomanos. Pedro I, o Jovem ainda viajou a Istambul para prestar homenagens e lealdade ao sultão Selim II, mas era tarde, em 1658, o sultão declarou ele e sua família como ingratos e os enviou para o exílio na Síria. Onde faleceu no ano seguinte. (GEORGESCU, 1991).

O trono valáquio foi sucedido por Alexandre II (1529-1577), bisneto de Vlad Drácula, que vivia com a família na Transilvânia. Usando o velho discurso de que ele pertencia a linhagem legítima dos Drăculești, já que não descendia de um bastardo como outros de seus antecessores e parentes, Alexandre II conseguiu ser reconhecido como voivoda de direito, além de ter a sorte de não ter grandes desafiantes na época, exceto um nobre chamado Vanila que o desafiou por alguns meses, mas foi derrotado. Além disso, para não cometer o mesmo erro de seu antecessor, Alexandre II tratou logo de início em prestar vassalagem ao sultão Selim II. Vale lembrar que desde o século XV a Valáquia era um estado vassalo do Império Otomano, embora que alguns voivodes tentaram acabar com isso como no caso de Vlad Drácula. (BOLOVANTREPTOW, 1997). 

Seu governo foi breve, marcado por algumas intrigas contra as famílias que não queriam outro Drăculești, além de que Alexandre II acabou se compromentendo em tentar conquistar o trono da Moldóvia, o que levou ele fazer guerra contra o principado vizinho, enfraquecendo sua retaguarda ante tramoias. Ele morreu em 1577 aos 48 anos, de causas desconhecidas. Seu herdeiro era um menino chamado Mihnea, o qual tinha 13 anos e ficou sob a regência da mãe, uma nobre italiana chamada Catarina Salvaresso

Os primeiros anos da regência de Salvaresso e Mihnea II foram tranquilos, mas 1583, Pedro II (1557-1590), filho de Patrascu, o Bom, tentou tomar o poder, executando um golpe de estado. Novamente a história se repete, em que temos um descendente de um voivoda que não teve direito ao trono, mas passados alguns anos, ele decide usurpar o poder, mesmo que significasse fazer guerra com algum parente seu. (GIURESCU, 2007).

Pedro II era conhecido por ser muito rico, por conta disso ele conseguiu realizar um acordo com o sultão Murade III. Não se sabe os termos negociados, mas o sultão ofereceu um exército para Pedro II poder invadir a Valáquia e depor seu primo e a mãe dele. Com isso, ele passou a governar de 1583 a 1585, nesse breve reinado, ele tratou de construir uma fundição, uma fábrica de armas e novos palácios. Todavia, Mihnea II e sua mãe Catarina ofereçam muito dinheiro para o sultão e outros nobres para poderem depor Pedro II. Cronistas da época falam que os dois chegaram a penhorar as propriedades da família para poder comprar ajuda. Mas todo esse investimento deu certo.

Pedro II foi derrotado e expulso da Valáquia, vindo a ser assassinado cinco anos depois. Mihnea II conseguiu governar até 1591, quando foi traído por seus aliados que encontraram alguém mais rico. Assim, ele foi deposto por decreto do sultão Murade III. A contragosto, Mihnea deixou a Valáquia com sua família, mas converteu-se ao Islão e passou a trabalhar no governo turco em Nicopólis. Por tal condição ele ficou conhecido como Mihnea, o Turco(GIURESCU, 2007).

Últimos governantes

Com a deposição de Mihnea II, ele ainda tentou reunir apoio para reaver o trono, mas não obteve sucesso. Ele foi sucedido por dois governantes fantoches: Estêvão, o Surdo (1591-1592) e Alexandre III, o Mau (1592-1593), mas devido a incompetência desses voivodes, eles perderam o prestígio diante da corte otomana, e isso abriu espaço para um novo pretendente ao trono valaquiano, Miguel II (1558-1601). Ele era um dos filhos de Petrascu, o Bom e agora reivindicava para si o direito ao trono. Mas diferente de seu pai e irmãos, ele era um homem de armas, gostava de guerra, por conta disso, ele ganhou o epíteto de O Valente ou O Bravo. (HENTEA, 2007). 

Retrato de Miguel II, o Valente. 

Miguel, o Valente logo cedo prestou juramento aos otomanos, chegando a participar de campanhas deles. Durante seu governo de sete anos (valor acima da média), ele participou de várias batalhas, inclusive aproveitando a instabilidade da época para conquistar a Transilvânia em 1599 e a Moldávia em 1600. Mas essas conquistas duraram apenas alguns meses, pois em 1600 ele perdeu o controle sobre os territórios anexados, devido a rebelião ocorrida nos mesmos. Enquanto procurava por apoio militar entre os alemães, ele foi assassinado em 1601. No seu lugar o sucedeu seu filho Nicolau Petrascu (c. 1580-1627) que havia sido nomeado corregente desde 1599, mas foi deposto logo em seguida e enviado ao exílio. (HENTEA, 2007). 

O governo Valáquio foi sucedido pelo nobre Simion Movila, apoiado pelos poloneses e outros aliados. Seu governo foi breve, pois um desafiante surgiu, seu nome era Radu IX Mihnea (1586-1626), filho bastardo de Mihnea II. Radu conseguiu confrontar Simion em 1602, derrotando numa batalha, fazendo-o fugir, mas sua vitória foi curta, pois os boiardos não estavam ao lado dele e apoiaram Radu Serban (?-1620). Sem poder fazer frente a falta de apoio político e militar, Mihnea renunciou ao trono. (BOLOVANTREPTOW, 1997). 

Representação de Radu IX Mihnea e a data de seu primeiro governo de 1611 a 1616. 

Radu X Serban governou até 1611, sendo naquele ano confrontado novamente por Radu IX, dessa vez, ele perdeu a disputa e fugiu. Radu IX Mihnea pôde finalmente governar por alguns anos até ser desafiado em 1616, quando foi derrotado e teve que se retirar para o exílio. Ele somente voltou a Valáquia em 1619, conseguindo derrotar seus inimigos e reassumiu o poder em 1620, permanecendo na frente do governo até 1623 quando morreu de motivos desconhecidos. Mas ele legou o trono para seu filho Alexandre V Coconul (1611-1632). (BOLOVANTREPTOW, 1997). 

Alexandre V era referido como o "Pequeno Príncipe" ou "Jovem Príncipe", pois tinha 12 anos quando assumiu o trono. Apesar disso, ele contou com a ajuda de parentes e conselheiros, conseguindo governar até 1627, quando foi deposto por Alexandre IV Ilias, antigo inimigo de pai. Dessa forma acabava a linhagem de voivodes dos Drăculești, que governaram a Valáquia. Curiosamente Alexandre V era tetraneto de Vlad Drácula, o mais famoso dos Drăculești. 

Voivodes da Casa Drăculești

Primeira Geração: formada pelos filhos de Vlad II

  1. Vlad II Dracul (1436-1442, 1444-1447)
  2. Mircea II, o Jovem (1442, 1444-1446)
  3. Vlad III Drácula (1448, 1456-1462, 1476)
  4. Radu III, O Belo (1462-1473, 1474, 1475)
  5. Mircea III (1480)
  6. Vlad IV, o Monge (1481, 1482-1495)
Segunda Geração: formada pelos filhos de Vlad III e Vlad IV
  1. Radu IV, o Grande (1495-1508)
  2. Mihnea I, o Mau (1508-1509)
  3. Mircea IV (1509-1510)
  4. Vlad V (1510-1512)
Terceira Geração: formada pelos filhos de Radu IV e Vlad V
  1. Dragomiro (1521-1521)
  2. Radu V (1522, 1524, 1525-1529)
  3. Radu VI (1523-1524)
  4. Vlad VI, o Afogado (1530-1532)
  5. Vlad VII Vintila (1532-1535)
  6. Radu VII Paise (1535-1545)
  7. Mircea V, o Pastor (1545-1552, 1553-1554, 1557-1559)
  8. Radu VIII, o Covarde (1552-1553)
Quarta Geração: formada pelos filhos de Radu VII e Mircea V
  1. Patrascu I, o Bom (1554-1557)
  2. Pedro I, o Jovem (1564-1568)
  3. Alexandre II Mircea (1568-1577)
Quinta Geração: formada pelos filhos de Patruscu I e Alexandre II
  1. Pedro II, o de Brincos (1582-1585)
  2. Mihnea II, o Turco (1585-1591)
Sexta Geração: formada pelos filhos de Pedro II e Mihnea II
  1. Miguel II, o Bravo (1593-1600)
  2. Nicolau Petrasco (1599-1600)
  3. Radu IX Mihnea (1602, 1611-1616, 1620-1623)
Sétima Geração: formada pelo filho de Radu IX
  1. Alexandre V Coconul (1623-1627)
NOTA: Drăculești com o reinado mais longevo e de forma contínua foi Radu VII, que reinou por 10 anos. Por sua vez, Dragomiro teve o governo mais curto, durando um pouco mais de um mês. 
NOTA 2: Miguel II, o Valente foi o voivoda Drăculești com o maior território, pois por seis meses ele governou conjuntamente a Valáquia, a Transilvânia e a Moldávia. Em termos atuais ele teria governado sobre a Romênia e a Moldávia. 
NOTA 3: A Família Drăculești adveio da Casa Bassarabe, por sua vez, a Família Danesti que foi sua rival ao longo dos anos, pertencia também a mesma ascendência, sendo primos seus. 
NOTA 4: O voivoda Mihnea III (1613-1660) alegava ser filho bastardo de Radu IX, o que o tornaria um Drăculești. Todavia, os historiadores contestam essa informação, por falta de evidências. 
NOTA 5: Embora o nome Draculea significa "filho do dragão", com o tempo outro sentido foi dado a palavra, passando a significar "filho do diabo". No caso, a palavra dracul que significava dragão, passou a significar também diabo. 
NOTA 6: Alguns aspectos da vida de Vlad Drácula e Radu III são contados na segunda temporada da série Rise of Empires: Ottoman. Na qual apresenta os irmãos vivendo na corte otomana, e mais tarde em 1462 temos a guerra entre Vlad e Mehmed. 

Referências bibliográficas: 

BOLOVAN, Ioan; TREPTOW, Kurt W. A History of Romania. 3a ed. Iasi: Center for Romanian Studies, 1997. 

BRACKOB, A. K. Mircea the Old. Las Vegas: Center of Romanian Studies, 2018. 

CAZACU, Matei. The reign of Dracula in 1448. In: TREPTOW, Kurt W. Dracula: Essays on the Life and Times of Vlad Țepeș. East European Monographs, Distributed by Columbia University Press, 1991. p. 53–61.

ENGEL, Pál. The Realm of St Sthepan: a history of medieval Hungary, 895-1526. London: I. B. Tauris Publishers, 2001. 

FLORESCU, Radu R; MCNALLY, Raymond T. Dracula, Prince of Many Faces: His Life and his Times. S. l, Back Bay Books, 1989.

GEORGESCU, Vlad. The Romanians: a history. Translated by Alexandra Bley-Vroman. Columbus, Ohio State University Press, 1991. 

GIURESCU, Constantin C. The History of Romanians, vol. 2. Bucursti: BIC ALL, 2007. 

HENTEA, Calin. Brief romanian military history. Translator Cristina Bordianu. Lanham, Scarecrow Press, Inc. 2007. 

SZWYDKY, Lissette Lopez. Vlad III Dracula (1431-1476). In: MATHESON, Lister M (ed.). Icons of the Middle Ages: rulers, writers, rebels, and saints, vol. 2. California, Greenwood, 2012. 2v, p. 547-580. 

TREPTOW, Kurt W. Vlad III Dracula: The Life and Times of the Historical Dracula. The Center of Romanian Studies. 2000. 

Links relacionados:

Vlad Tepes: o homem que inspirou o Conde Drácula

O bombardeio de Constantinopla: a queda do Império Bizantino

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Hashima: a ilha fantasma

No mar do Japão existe uma pequena ilha bastante curiosa por ela estar abandonada. Ali é possível avistar prédios e outras edificações em ruínas, o que a torna uma cidade-fantasma. O presente texto contou um pouco da história do povoamento dessa ilha, a qual foi povoada por interesses fabris, tornando-se uma cidade fabril, mas com a falência de suas minas, a cidade foi desativada, e a população teve que deixar a ilha, desde então suas ruínas foram largadas as intempéries do mar, e hoje o local é uma atração turística. 

Fotografia aérea da ilha de Hashima e sua cidade-fantasma.

A ilha de Hashima pertence ao território da província de Nagasaki, sendo conhecida a mais de duzentos anos, mas não foi habitada até o final do século XIX. Por volta de 1810 descobriu-se uma mina de carvão na ilha, mas na época o Japão ainda estava sob governo do Xogunato Tokugawa (1603-1868), o qual ainda conservava características feudais na política, administração, economia e cultura. Logo, aquela fonte de carvão foi ignorada num primeiro momento, somente décadas depois é que Hashima interessaria os japoneses propriamente.

Com a queda do xogunato em 1868, em meio ao processo turbulento de guerra civil do começo da Restauração Meiji, o Japão começou a se industrializar e se internacionalizar. As mudanças da modernidade finalmente começavam a chegar num país que ainda saía de um sistema feudal. Dessa forma, fábricas e ferroviais começaram a serem construídas nos anos seguintes ao término do xogunato, e naquela época, o carvão era a principal fonte de energia da industrialização. 

Ainda em 1869 uma empresa britânica iniciou a extração de carvão na ilha Takashima, com o sucesso obtido, anos depois passou-se a se procurar novas minas, então lembrou-se que em Hashima havia carvão também, entretanto, a ilha pertencia a Família Fukahori, embora o local fosse inutilizado, os Fukahori por anos se negaram a ceder aos interesses de empresas estrangeiras e nacionais. Somente em 1897 quando a Mitsukawa, depois renomeada para Mitsubishi, ofereceu 100 mil yenes pela ilha, os Fukahori decidiram vender Hashima. 

No final do século XIX a Mitsubishi Corporation ainda não produzia carros, mas possuía negócios na área da construção naval e carvoaria, condição essa que em 1881 a empresa havia comprado as minas de Takashima, e agora comprava as minas de Hashima. 

Localização da ilha de Hashima e outras ilhas na província de Nagasaki. 

A exploração carvoeira em Hashima foi intensificada nos primeiros anos do século XX, que coincidiram com a Guerra Russo-japonesa (1904-1905) em que houve uma aceleração na indústria bélica e de transporte. Profundos túneis foram escavados na ilha e um acampamento operário foi montado, já que a ilha fica 15 km de distância da cidade de Nagasaki. No entanto, devido a falta de direitos trabalhistas e segurança do trabalho, centenas morreram durante as escavações dos túneis. 

A produção de carvão era bastante alta e lucrativa, em anos prósperos, as minas de Hashima chegavam a produzir 150 mil toneladas de carvão, condição essa que se investiu no aumento da mão de obra, incluindo o direito dos trabalhadores levarem suas famílias e passarem a morar regularmente na ilha.

Cartão Postal da fábrica de carvão da ilha de Hashima. 1910. 

Por volta de 1916 começou a se construir pequenos prédios de concreto para acomodar a crescente população fabril da ilha, além de que essas estruturas seriam mais resistentes a ventanias e tempestades. Na década de 1940 a população da ilha já passava dos 3 mil habitantes, levando a Mitsubishi a ter que construir uma escola, hospital, lojas, praças, piscina etc., como forma de conceder aspectos de uma cidade para seus moradores. A maioria eram as famílias dos funcionários da companhia, o que incluía funcionários de diferentes cargos e ofícios.

Com o advento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), prisioneiros coreanos e chineses foram levados para trabalho forçado nas minas de carvão em Hashima. Relatórios posteriores apontam que centenas deles viveram e morreram na ilha devido as péssimas condições de trabalho. 

Muitas das construções abandonadas que hoje se veem em Hashima começaram a surgir na década de 1950, período que a população da ilha passou dos 5 mil habitantes, atingindo seu valor máximo. Apesar desse pico populacional, nos anos 1960 a produção de carvão entrou em declínio, pois o petróleo despontava como principal fonte de energia no mundo, e consequentemente no próprio Japão, por conta disso, minas de carvão começaram a serem desativadas, pois esse produto deixou de ser altamente lucrativo. 

Moradores da cidade operária de Hashima. Foto tirada entre os anos 1950 e 1960. Na imagem podemos ver várias mulheres e algumas crianças em suas atividades cotidianas. 

No caso de Hashima, sua produção se estendeu até 1974, mas decaindo gradativamente, além de que a população da ilha também foi diminuindo, pois parte dos operários e suas famílias foram enviados para outras fábricas ou foram demitidos. Finalmente no ano de 1974 as minas foram fechadas. A Mitsubihsi não decidiu fazer nada de imediato com a ilha, deixando-a abandonada. O que a tornou uma ilha fantasma. 

A Mitsubishi manteve a ilha de Hashima como sua propriedade até 2002, quando a doou a prefeitura de Takashima. No ano de 2005, Takashima foi englobada a jurisdição da província de Nagasaki, que em 2008 iniciou as visitas turísticas à ilha, embora isso permaneceu de forma irregular nos anos seguintes. Nesses quase 30 anos que a ilha ficou como propriedade inutilizada da Mitsubishi, seus prédios começaram a ficar em ruínas, e a situação das edificações somente piorou nas décadas seguintes.

Foto do complexo residencial de Hashima. 

No ano de 2015 a UNESCO tombou a ilha de Hashima como patrimônio histórico da humanidade, por seu legado para o desenvolvimento do Japão, marcado por alegrias e tragédias. Desde então, a cidade-fantasma compõe um conjunto de edificações industriais desenvolvidos durante a Era Meiji (1869-1914). Após os tempos mais graves da pandemia de covid-19 em 2020 e 2021, a ilha ficou fechada para visitação, mas retomou suas visitas, além disso, é possível fazer um tour virtual por alguns dos lugares da ilha. 

NOTA: De 1897 a 1974 as minas de carvão de Hashima produziram mais de 16,5 milhões de toneladas de carvão como apontam os dados de produção da empresa. 

NOTA 2: Se desconhece o número exato de mortos nas minas e em acidentes de trabalho, mas o valor passa de mais de mil pessoas, como apontam alguns dados a respeito. 

NOTA 3: Devido ao formato da ilha lembrar um navio de guerra contemporâneo, Hashima também é chamada de ilha Gunkajima (ilha navio de guerra). 

NOTA 4: Algumas cenas do filme 007 - Operação Skyfall (2012) foram gravadas em Hashima. 

NOTA 5: Alguns filmes de terror japoneses e coreanos foram filmados na ilha. 

Referências:

BURKE-GAFFNEY, Brian: Hashima: The Ghost Island. Cabinet, issue 7, 2002. 

MCCURRY, Justin. Battleship island - a symbol of Japan's progress or reminder of its dark history? The Guardian, 3 jul 2015. 

LINKS:

Tour virtual Hashima Island

Hashima island short documentary

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O dodô e a extinção pela caça

O processo de extinção de plantas e animais pode ser de ordem natural, ocasionado por mudanças na própria natureza que afetam o clima, a vegetação, a temperatura, a geografia, a população de presas ou predadores etc. Por outro lado, a extinção também pode ser causada por conta da intervenção humana através da caça predatória, o desmatamento, a poluição, incêndios, empobrecimento do solo, aquecimento global etc. Nesse caso, um animal que acabou infelizmente se tornando referência a extinção promovida pelo ser humano mediante à caça predatória, foi o dodô, pequena ave nativa de uma ilha pouco conhecida hoje em dia, em que ele apenas existia ali. 

Um dodô rodeado por araras e patos selvagens. Roelant Sawery, c. 1626. O quadro é conhecido também como dodô de Edward.  

Os dodôs eram nativos da ilha Maurício ou Maurícia compreende o arquipélago da República das Ilhas Maurícias, localizado ao leste de Madagascar no Oceano Índico. Essa ilha entre outras do arquipélago já havia sido visitadas anteriormente pelos árabes, na Idade Média. No caso, se desconhece quando os primeiros humanos passaram por elas. No século XVI os portugueses passaram por esse arquipélago, mas não se interessaram em explorá-lo e colonizá-lo, por sua vez, na década de 1580, os holandeses (ou neerlandeses que é o termo mais correto), chegaram a ilha Maurício e a nomearam com esse nome em homenagem ao príncipe Maurício de Nassau (não confundir com João Maurício de Nassau-Siegen, que governo o Brasil holandês), mais tarde, no ano de 1598, quando uma pequena colônia foi ali estabelecida. 

Localização da República das Ilhas Maurícias. 

O dodô (Raphus cucullatus) habitavam a ilha Maurício, sendo aves terrestres, as quais não conseguiam voar. Eles chegaram a grosso modo serem comparados a galinhas, só que bem maiores, pois tinham até 1 metro de altura e pesavam em torno de 10kg a 20kg. Além de serem comparadas a galinhas, os dodôs também foram comparados a faisões, avestruzes, albatrozes e abutres, mas hoje sabe-se que eles eram aparentados dos pombos, sendo seu parente mais próximo era o solitário-de-rodrigues (Pezophaps solitaria), o qual habitava a ilha de Rodrigues, sendo ele menor do que um dodô e se parecia mais com uma galinha selvagem. No entanto, ele também foi extinto devido a caça predatória. 

Em 1598, data-se os relatos mais antigos que se tem sobre essas aves. Um deles escrito pelo almirante Wybrand van Warwyck, relatou sobre a existência dessas aves em abundância pela ilha, mas ele as chamou de walghvogel (pássaro sem gosto) por conta de sua carne ser pouco saborosa. Outro relato posterior também apontou essa característica, em que narrava que era preferível assar os pombos e papagaios que haviam em abundância ali, do que comer os dodôs, os quais eram tidos como uma carne de qualidade inferior. 

Outros nomes foram dados a essa ave, porém, em 1628 numa carta do marinheiro inglês Emmanuel Altham, o qual passou por aquela ilha, ele se referiu aquelas aves pelo nome de dodo, dizendo que era uma palavra dada pelos portugueses. Mais tarde o historiador inglês Thomas Herbert num relato sobre a descoberta de Maurício, também usou o termo dodo e doodars. Ambos acabaram se popularizando naquele século. 

Ao centro um dodô, rodeado por aves indianas. Pintura de Ustad Mansur, c. 1625. 

Os dodôs foram escritos tendo a plumagem em tons de cinza e castanho, possuíam pernas fortes, traseiro largo e arredondado, tendo as penas da cauda em formato de nó. A cabeça tinha penas ralas ou ausentes. Seu bico poderia ser de cor amarela, preta ou até verde (segundo alguns relatos). As asas poderiam apresentar tons mais claros em relação ao restante do corpo. 

A maior parte das descrições sobre os dodôs advêm de viajantes holandeses, por conta de se tratar de uma colônia da Companhia das Índias Orientais. Além das descrições, também tivemos pinturas e desenhos.

Embora os primeiros holandeses que passaram a colonizar a ilha não apreciaram a carne dos dodôs, a fome quando apertava, o jeito era caçá-los. Por serem aves dóceis, alguns dodôs foram capturados e domesticados, havendo aviários em que eles eram engordados. 

Apesar de ter havido um processo de domesticação dos dodôs, isso não lhe salvou da extinção. Eles foram caçados de forma predatória, seu ecossistema também sofreu interferências pesadas. Os holandeses estabeleceram fazendas em Maurício, inclusive chegaram a plantar canaviais. Além disso, cães e gatos que foram levados por eles, passaram a atacar essas aves, comendo os ovos e matando os filhotes. 

Se desconhece o comportamento natural dessas aves, o processo de acasalamento, o tempo que levavam para colocar ovos e chocá-los. Mas segundo os relatos deixados pelos colonizadores holandeses, os dodôs fêmeas colocavam apenas um ovo por vez. Tal condição prejudicava sua reprodução em cativeiro e a manutenção da população frente ao aumento da caça, pois há relatos de que várias aves chegavam a serem abatidas para se fazer banquetes, principalmente para os marinheiros e escravos, já que os oficiais, funcionários da companhia e pessoas de melhor estirpe, comiam carnes de primeira qualidade. 

Um dodô pintado por Jacob Hoefnagel, c. 1610. A pintura foi baseada no exemplar que pertencia ao imperador Rodolfo II do Sacro Império Romano-Germânico. 

Dodôs também foram capturados por conta de seu exotismo, sendo levados para a Europa e a Ásia, dados como presentes para antiquaristas, burgueses e nobres. Os quais mantinham essas aves em zoológicos pessoais ou em fazendas. Alguns chegaram a serem empalhados, por conta disso, temos relatos que descreviam essas aves empalhadas em salões ou antiquários. 

A partir da década de 1640 o número de dodôs selvagens começou a cair consideravelmente, condição essa que os relatos de avistamento e caça desse animal também caiu drasticamente. Fato esse que se cogitou que a ave teria sido extinta no final dos anos 1660, porém, estudos revelaram que possívelmente os últimos dodôs podem ter sumido no final do século XVII, não havendo uma data precisa para determinar isso. Todavia, os holandeses abandonaram a ilha em 1710, e em 1715 os franceses se apossaram dela, ao iniciar sua colonização, já não havia mais relatos de dodôs em Maurício. 

No século XX o dodô se tornou referência quanto aos perigos da caça predatória e do desequilíbrio ecológico, que podem levar a fauna a extinção. Dessa forma, em cerca de um século, toda a população de centenas de aves chegou ao fim. Restando apenas as pinturas, gravuras, ossos e as descrições sobre essa ave peculiar, que somente existia num único lugar do mundo. 

NOTA: A pintura Dodô de Edward foi uma homenagem de Sawery ao dodô empalhado pertencente ao antiquarista George Edward

NOTA 2: Um dodô aparece no livro Alice no País das Maravilhas (1871). 

NOTA 3: O poeta Hilaire Belloc escreveu um pequeno poeta sobre os dodôs em seu livro The Bad Child's Book of Beasts (1896). 

NOTA 4: No jogo Ark: Survival Evolded (2015) aparecem dodôs em vários mapas. 

NOTA 5: O dodô se tornou símbolo da República das Ilhas Maurícias, aparecendo em bandeiras, brasões, moedas, selos etc. 

NOTA 6: O dodô branco teria sido um erro de interpretação do pintor Roalent Savery, que pintou a ave dessa forma, influenciando outros artistas. O problema é que em todas as descrições dadas, nenhuma relatou dodôs brancos. Inclusive nem se sabe se haveria o caso de albinismo nessa espécie. 

Referências bibliográficas: 

CHEKE, Anthony S; HUME, J. P. Lost Land of the Dodo: an Ecological History of Mauritius, Réunion & Rodrigues. New Haven/London: T. & A. D. Poyser, 2008. 

FULLER, Errol. Dodo – From Extinction To Icon. Londres: HarperCollins, 2002.