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Leandro Vilar

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Hashima: a ilha fantasma

No mar do Japão existe uma pequena ilha bastante curiosa por ela estar abandonada. Ali é possível avistar prédios e outras edificações em ruínas, o que a torna uma cidade-fantasma. O presente texto contou um pouco da história do povoamento dessa ilha, a qual foi povoada por interesses fabris, tornando-se uma cidade fabril, mas com a falência de suas minas, a cidade foi desativada, e a população teve que deixar a ilha, desde então suas ruínas foram largadas as intempéries do mar, e hoje o local é uma atração turística. 

Fotografia aérea da ilha de Hashima e sua cidade-fantasma.

A ilha de Hashima pertence ao território da província de Nagasaki, sendo conhecida a mais de duzentos anos, mas não foi habitada até o final do século XIX. Por volta de 1810 descobriu-se uma mina de carvão na ilha, mas na época o Japão ainda estava sob governo do Xogunato Tokugawa (1603-1868), o qual ainda conservava características feudais na política, administração, economia e cultura. Logo, aquela fonte de carvão foi ignorada num primeiro momento, somente décadas depois é que Hashima interessaria os japoneses propriamente.

Com a queda do xogunato em 1868, em meio ao processo turbulento de guerra civil do começo da Restauração Meiji, o Japão começou a se industrializar e se internacionalizar. As mudanças da modernidade finalmente começavam a chegar num país que ainda saía de um sistema feudal. Dessa forma, fábricas e ferroviais começaram a serem construídas nos anos seguintes ao término do xogunato, e naquela época, o carvão era a principal fonte de energia da industrialização. 

Ainda em 1869 uma empresa britânica iniciou a extração de carvão na ilha Takashima, com o sucesso obtido, anos depois passou-se a se procurar novas minas, então lembrou-se que em Hashima havia carvão também, entretanto, a ilha pertencia a Família Fukahori, embora o local fosse inutilizado, os Fukahori por anos se negaram a ceder aos interesses de empresas estrangeiras e nacionais. Somente em 1897 quando a Mitsukawa, depois renomeada para Mitsubishi, ofereceu 100 mil yenes pela ilha, os Fukahori decidiram vender Hashima. 

No final do século XIX a Mitsubishi Corporation ainda não produzia carros, mas possuía negócios na área da construção naval e carvoaria, condição essa que em 1881 a empresa havia comprado as minas de Takashima, e agora comprava as minas de Hashima. 

Localização da ilha de Hashima e outras ilhas na província de Nagasaki. 

A exploração carvoeira em Hashima foi intensificada nos primeiros anos do século XX, que coincidiram com a Guerra Russo-japonesa (1904-1905) em que houve uma aceleração na indústria bélica e de transporte. Profundos túneis foram escavados na ilha e um acampamento operário foi montado, já que a ilha fica 15 km de distância da cidade de Nagasaki. No entanto, devido a falta de direitos trabalhistas e segurança do trabalho, centenas morreram durante as escavações dos túneis. 

A produção de carvão era bastante alta e lucrativa, em anos prósperos, as minas de Hashima chegavam a produzir 150 mil toneladas de carvão, condição essa que se investiu no aumento da mão de obra, incluindo o direito dos trabalhadores levarem suas famílias e passarem a morar regularmente na ilha.

Cartão Postal da fábrica de carvão da ilha de Hashima. 1910. 

Por volta de 1916 começou a se construir pequenos prédios de concreto para acomodar a crescente população fabril da ilha, além de que essas estruturas seriam mais resistentes a ventanias e tempestades. Na década de 1940 a população da ilha já passava dos 3 mil habitantes, levando a Mitsubishi a ter que construir uma escola, hospital, lojas, praças, piscina etc., como forma de conceder aspectos de uma cidade para seus moradores. A maioria eram as famílias dos funcionários da companhia, o que incluía funcionários de diferentes cargos e ofícios.

Com o advento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), prisioneiros coreanos e chineses foram levados para trabalho forçado nas minas de carvão em Hashima. Relatórios posteriores apontam que centenas deles viveram e morreram na ilha devido as péssimas condições de trabalho. 

Muitas das construções abandonadas que hoje se veem em Hashima começaram a surgir na década de 1950, período que a população da ilha passou dos 5 mil habitantes, atingindo seu valor máximo. Apesar desse pico populacional, nos anos 1960 a produção de carvão entrou em declínio, pois o petróleo despontava como principal fonte de energia no mundo, e consequentemente no próprio Japão, por conta disso, minas de carvão começaram a serem desativadas, pois esse produto deixou de ser altamente lucrativo. 

Moradores da cidade operária de Hashima. Foto tirada entre os anos 1950 e 1960. Na imagem podemos ver várias mulheres e algumas crianças em suas atividades cotidianas. 

No caso de Hashima, sua produção se estendeu até 1974, mas decaindo gradativamente, além de que a população da ilha também foi diminuindo, pois parte dos operários e suas famílias foram enviados para outras fábricas ou foram demitidos. Finalmente no ano de 1974 as minas foram fechadas. A Mitsubihsi não decidiu fazer nada de imediato com a ilha, deixando-a abandonada. O que a tornou uma ilha fantasma. 

A Mitsubishi manteve a ilha de Hashima como sua propriedade até 2002, quando a doou a prefeitura de Takashima. No ano de 2005, Takashima foi englobada a jurisdição da província de Nagasaki, que em 2008 iniciou as visitas turísticas à ilha, embora isso permaneceu de forma irregular nos anos seguintes. Nesses quase 30 anos que a ilha ficou como propriedade inutilizada da Mitsubishi, seus prédios começaram a ficar em ruínas, e a situação das edificações somente piorou nas décadas seguintes.

Foto do complexo residencial de Hashima. 

No ano de 2015 a UNESCO tombou a ilha de Hashima como patrimônio histórico da humanidade, por seu legado para o desenvolvimento do Japão, marcado por alegrias e tragédias. Desde então, a cidade-fantasma compõe um conjunto de edificações industriais desenvolvidos durante a Era Meiji (1869-1914). Após os tempos mais graves da pandemia de covid-19 em 2020 e 2021, a ilha ficou fechada para visitação, mas retomou suas visitas, além disso, é possível fazer um tour virtual por alguns dos lugares da ilha. 

NOTA: De 1897 a 1974 as minas de carvão de Hashima produziram mais de 16,5 milhões de toneladas de carvão como apontam os dados de produção da empresa. 

NOTA 2: Se desconhece o número exato de mortos nas minas e em acidentes de trabalho, mas o valor passa de mais de mil pessoas, como apontam alguns dados a respeito. 

NOTA 3: Devido ao formato da ilha lembrar um navio de guerra contemporâneo, Hashima também é chamada de ilha Gunkajima (ilha navio de guerra). 

NOTA 4: Algumas cenas do filme 007 - Operação Skyfall (2012) foram gravadas em Hashima. 

NOTA 5: Alguns filmes de terror japoneses e coreanos foram filmados na ilha. 

Referências:

BURKE-GAFFNEY, Brian: Hashima: The Ghost Island. Cabinet, issue 7, 2002. 

MCCURRY, Justin. Battleship island - a symbol of Japan's progress or reminder of its dark history? The Guardian, 3 jul 2015. 

LINKS:

Tour virtual Hashima Island

Hashima island short documentary

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