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Leandro Vilar

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O dodô e a extinção pela caça

O processo de extinção de plantas e animais pode ser de ordem natural, ocasionado por mudanças na própria natureza que afetam o clima, a vegetação, a temperatura, a geografia, a população de presas ou predadores etc. Por outro lado, a extinção também pode ser causada por conta da intervenção humana através da caça predatória, o desmatamento, a poluição, incêndios, empobrecimento do solo, aquecimento global etc. Nesse caso, um animal que acabou infelizmente se tornando referência a extinção promovida pelo ser humano mediante à caça predatória, foi o dodô, pequena ave nativa de uma ilha pouco conhecida hoje em dia, em que ele apenas existia ali. 

Um dodô rodeado por araras e patos selvagens. Roelant Sawery, c. 1626. O quadro é conhecido também como dodô de Edward.  

Os dodôs eram nativos da ilha Maurício ou Maurícia compreende o arquipélago da República das Ilhas Maurícias, localizado ao leste de Madagascar no Oceano Índico. Essa ilha entre outras do arquipélago já havia sido visitadas anteriormente pelos árabes, na Idade Média. No caso, se desconhece quando os primeiros humanos passaram por elas. No século XVI os portugueses passaram por esse arquipélago, mas não se interessaram em explorá-lo e colonizá-lo, por sua vez, na década de 1580, os holandeses (ou neerlandeses que é o termo mais correto), chegaram a ilha Maurício e a nomearam com esse nome em homenagem ao príncipe Maurício de Nassau (não confundir com João Maurício de Nassau-Siegen, que governo o Brasil holandês), mais tarde, no ano de 1598, quando uma pequena colônia foi ali estabelecida. 

Localização da República das Ilhas Maurícias. 

O dodô (Raphus cucullatus) habitavam a ilha Maurício, sendo aves terrestres, as quais não conseguiam voar. Eles chegaram a grosso modo serem comparados a galinhas, só que bem maiores, pois tinham até 1 metro de altura e pesavam em torno de 10kg a 20kg. Além de serem comparadas a galinhas, os dodôs também foram comparados a faisões, avestruzes, albatrozes e abutres, mas hoje sabe-se que eles eram aparentados dos pombos, sendo seu parente mais próximo era o solitário-de-rodrigues (Pezophaps solitaria), o qual habitava a ilha de Rodrigues, sendo ele menor do que um dodô e se parecia mais com uma galinha selvagem. No entanto, ele também foi extinto devido a caça predatória. 

Em 1598, data-se os relatos mais antigos que se tem sobre essas aves. Um deles escrito pelo almirante Wybrand van Warwyck, relatou sobre a existência dessas aves em abundância pela ilha, mas ele as chamou de walghvogel (pássaro sem gosto) por conta de sua carne ser pouco saborosa. Outro relato posterior também apontou essa característica, em que narrava que era preferível assar os pombos e papagaios que haviam em abundância ali, do que comer os dodôs, os quais eram tidos como uma carne de qualidade inferior. 

Outros nomes foram dados a essa ave, porém, em 1628 numa carta do marinheiro inglês Emmanuel Altham, o qual passou por aquela ilha, ele se referiu aquelas aves pelo nome de dodo, dizendo que era uma palavra dada pelos portugueses. Mais tarde o historiador inglês Thomas Herbert num relato sobre a descoberta de Maurício, também usou o termo dodo e doodars. Ambos acabaram se popularizando naquele século. 

Ao centro um dodô, rodeado por aves indianas. Pintura de Ustad Mansur, c. 1625. 

Os dodôs foram escritos tendo a plumagem em tons de cinza e castanho, possuíam pernas fortes, traseiro largo e arredondado, tendo as penas da cauda em formato de nó. A cabeça tinha penas ralas ou ausentes. Seu bico poderia ser de cor amarela, preta ou até verde (segundo alguns relatos). As asas poderiam apresentar tons mais claros em relação ao restante do corpo. 

A maior parte das descrições sobre os dodôs advêm de viajantes holandeses, por conta de se tratar de uma colônia da Companhia das Índias Orientais. Além das descrições, também tivemos pinturas e desenhos.

Embora os primeiros holandeses que passaram a colonizar a ilha não apreciaram a carne dos dodôs, a fome quando apertava, o jeito era caçá-los. Por serem aves dóceis, alguns dodôs foram capturados e domesticados, havendo aviários em que eles eram engordados. 

Apesar de ter havido um processo de domesticação dos dodôs, isso não lhe salvou da extinção. Eles foram caçados de forma predatória, seu ecossistema também sofreu interferências pesadas. Os holandeses estabeleceram fazendas em Maurício, inclusive chegaram a plantar canaviais. Além disso, cães e gatos que foram levados por eles, passaram a atacar essas aves, comendo os ovos e matando os filhotes. 

Se desconhece o comportamento natural dessas aves, o processo de acasalamento, o tempo que levavam para colocar ovos e chocá-los. Mas segundo os relatos deixados pelos colonizadores holandeses, os dodôs fêmeas colocavam apenas um ovo por vez. Tal condição prejudicava sua reprodução em cativeiro e a manutenção da população frente ao aumento da caça, pois há relatos de que várias aves chegavam a serem abatidas para se fazer banquetes, principalmente para os marinheiros e escravos, já que os oficiais, funcionários da companhia e pessoas de melhor estirpe, comiam carnes de primeira qualidade. 

Um dodô pintado por Jacob Hoefnagel, c. 1610. A pintura foi baseada no exemplar que pertencia ao imperador Rodolfo II do Sacro Império Romano-Germânico. 

Dodôs também foram capturados por conta de seu exotismo, sendo levados para a Europa e a Ásia, dados como presentes para antiquaristas, burgueses e nobres. Os quais mantinham essas aves em zoológicos pessoais ou em fazendas. Alguns chegaram a serem empalhados, por conta disso, temos relatos que descreviam essas aves empalhadas em salões ou antiquários. 

A partir da década de 1640 o número de dodôs selvagens começou a cair consideravelmente, condição essa que os relatos de avistamento e caça desse animal também caiu drasticamente. Fato esse que se cogitou que a ave teria sido extinta no final dos anos 1660, porém, estudos revelaram que possívelmente os últimos dodôs podem ter sumido no final do século XVII, não havendo uma data precisa para determinar isso. Todavia, os holandeses abandonaram a ilha em 1710, e em 1715 os franceses se apossaram dela, ao iniciar sua colonização, já não havia mais relatos de dodôs em Maurício. 

No século XX o dodô se tornou referência quanto aos perigos da caça predatória e do desequilíbrio ecológico, que podem levar a fauna a extinção. Dessa forma, em cerca de um século, toda a população de centenas de aves chegou ao fim. Restando apenas as pinturas, gravuras, ossos e as descrições sobre essa ave peculiar, que somente existia num único lugar do mundo. 

NOTA: A pintura Dodô de Edward foi uma homenagem de Sawery ao dodô empalhado pertencente ao antiquarista George Edward

NOTA 2: Um dodô aparece no livro Alice no País das Maravilhas (1871). 

NOTA 3: O poeta Hilaire Belloc escreveu um pequeno poeta sobre os dodôs em seu livro The Bad Child's Book of Beasts (1896). 

NOTA 4: No jogo Ark: Survival Evolded (2015) aparecem dodôs em vários mapas. 

NOTA 5: O dodô se tornou símbolo da República das Ilhas Maurícias, aparecendo em bandeiras, brasões, moedas, selos etc. 

NOTA 6: O dodô branco teria sido um erro de interpretação do pintor Roalent Savery, que pintou a ave dessa forma, influenciando outros artistas. O problema é que em todas as descrições dadas, nenhuma relatou dodôs brancos. Inclusive nem se sabe se haveria o caso de albinismo nessa espécie. 

Referências bibliográficas: 

CHEKE, Anthony S; HUME, J. P. Lost Land of the Dodo: an Ecological History of Mauritius, Réunion & Rodrigues. New Haven/London: T. & A. D. Poyser, 2008. 

FULLER, Errol. Dodo – From Extinction To Icon. Londres: HarperCollins, 2002. 

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