O processo de extinção de plantas e animais pode ser de ordem natural, ocasionado por mudanças na própria natureza que afetam o clima, a vegetação, a temperatura, a geografia, a população de presas ou predadores etc. Por outro lado, a extinção também pode ser causada por conta da intervenção humana através da caça predatória, o desmatamento, a poluição, incêndios, empobrecimento do solo, aquecimento global etc. Nesse caso, um animal que acabou infelizmente se tornando referência a extinção promovida pelo ser humano mediante à caça predatória, foi o dodô, pequena ave nativa de uma ilha pouco conhecida hoje em dia, em que ele apenas existia ali.
Um dodô rodeado por araras e patos selvagens. Roelant Sawery, c. 1626. O quadro é conhecido também como dodô de Edward. |
Localização da República das Ilhas Maurícias. |
Em 1598, data-se os relatos mais antigos que se tem sobre essas aves. Um deles escrito pelo almirante Wybrand van Warwyck, relatou sobre a existência dessas aves em abundância pela ilha, mas ele as chamou de walghvogel (pássaro sem gosto) por conta de sua carne ser pouco saborosa. Outro relato posterior também apontou essa característica, em que narrava que era preferível assar os pombos e papagaios que haviam em abundância ali, do que comer os dodôs, os quais eram tidos como uma carne de qualidade inferior.
Outros nomes foram dados a essa ave, porém, em 1628 numa carta do marinheiro inglês Emmanuel Altham, o qual passou por aquela ilha, ele se referiu aquelas aves pelo nome de dodo, dizendo que era uma palavra dada pelos portugueses. Mais tarde o historiador inglês Thomas Herbert num relato sobre a descoberta de Maurício, também usou o termo dodo e doodars. Ambos acabaram se popularizando naquele século.
Ao centro um dodô, rodeado por aves indianas. Pintura de Ustad Mansur, c. 1625. |
A maior parte das descrições sobre os dodôs advêm de viajantes holandeses, por conta de se tratar de uma colônia da Companhia das Índias Orientais. Além das descrições, também tivemos pinturas e desenhos.
Embora os primeiros holandeses que passaram a colonizar a ilha não apreciaram a carne dos dodôs, a fome quando apertava, o jeito era caçá-los. Por serem aves dóceis, alguns dodôs foram capturados e domesticados, havendo aviários em que eles eram engordados.
Apesar de ter havido um processo de domesticação dos dodôs, isso não lhe salvou da extinção. Eles foram caçados de forma predatória, seu ecossistema também sofreu interferências pesadas. Os holandeses estabeleceram fazendas em Maurício, inclusive chegaram a plantar canaviais. Além disso, cães e gatos que foram levados por eles, passaram a atacar essas aves, comendo os ovos e matando os filhotes.
Se desconhece o comportamento natural dessas aves, o processo de acasalamento, o tempo que levavam para colocar ovos e chocá-los. Mas segundo os relatos deixados pelos colonizadores holandeses, os dodôs fêmeas colocavam apenas um ovo por vez. Tal condição prejudicava sua reprodução em cativeiro e a manutenção da população frente ao aumento da caça, pois há relatos de que várias aves chegavam a serem abatidas para se fazer banquetes, principalmente para os marinheiros e escravos, já que os oficiais, funcionários da companhia e pessoas de melhor estirpe, comiam carnes de primeira qualidade.
Um dodô pintado por Jacob Hoefnagel, c. 1610. A pintura foi baseada no exemplar que pertencia ao imperador Rodolfo II do Sacro Império Romano-Germânico. |
A partir da década de 1640 o número de dodôs selvagens começou a cair consideravelmente, condição essa que os relatos de avistamento e caça desse animal também caiu drasticamente. Fato esse que se cogitou que a ave teria sido extinta no final dos anos 1660, porém, estudos revelaram que possívelmente os últimos dodôs podem ter sumido no final do século XVII, não havendo uma data precisa para determinar isso. Todavia, os holandeses abandonaram a ilha em 1710, e em 1715 os franceses se apossaram dela, ao iniciar sua colonização, já não havia mais relatos de dodôs em Maurício.
No século XX o dodô se tornou referência quanto aos perigos da caça predatória e do desequilíbrio ecológico, que podem levar a fauna a extinção. Dessa forma, em cerca de um século, toda a população de centenas de aves chegou ao fim. Restando apenas as pinturas, gravuras, ossos e as descrições sobre essa ave peculiar, que somente existia num único lugar do mundo.
NOTA: A pintura Dodô de Edward foi uma homenagem de Sawery ao dodô empalhado pertencente ao antiquarista George Edward.
NOTA 2: Um dodô aparece no livro Alice no País das Maravilhas (1871).
NOTA 3: O poeta Hilaire Belloc escreveu um pequeno poeta sobre os dodôs em seu livro The Bad Child's Book of Beasts (1896).
NOTA 4: No jogo Ark: Survival Evolded (2015) aparecem dodôs em vários mapas.
NOTA 5: O dodô se tornou símbolo da República das Ilhas Maurícias, aparecendo em bandeiras, brasões, moedas, selos etc.
NOTA 6: O dodô branco teria sido um erro de interpretação do pintor Roalent Savery, que pintou a ave dessa forma, influenciando outros artistas. O problema é que em todas as descrições dadas, nenhuma relatou dodôs brancos. Inclusive nem se sabe se haveria o caso de albinismo nessa espécie.
Referências bibliográficas:
CHEKE, Anthony S; HUME, J. P. Lost Land of the Dodo: an Ecological History of Mauritius, Réunion & Rodrigues. New Haven/London: T. & A. D. Poyser, 2008.
FULLER, Errol. Dodo – From Extinction To Icon. Londres: HarperCollins, 2002.
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