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Leandro Vilar

sábado, 4 de fevereiro de 2023

O Barão Vermelho e os primórdios da guerra aérea

O piloto Manfred von Richthofen ficou conhecido como Barão Vermelho, tornando-se o primeiro grande Ás da História, tendo derrubado mais de cem aviões nos primórdios da guerra aérea, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O presente texto contou um pouco da sua breve carreira como piloto de guerra e o uso de aviões para fins bélicos. 

Introdução

A história da aviação começa propriamente no século XVIII quando a invenção dos aeróstatos (balões e dirigíveis), embora que antes disso existam protótipos e experimentos de criar aeronaves, mas nada foi efetivo. Por sua vez, no XIX tivemos o desenvolvimento de planadores até chegar aos aviões primitivos. Vale ressalvar que os aviões desenvolvidos entre 1860 e 1900 a maioria foram testes infrutíferos, pois poucos realmente funcionavam, e menos ainda conseguia se manter no ar. Por conta disso, alguns historiadores costumam considerar que a era dos aviões somente começou no século XX, quando tivemos modelos eficazes. 

Entre 1895 e 1905 uma variedade de planadores foram desenvolvidos para diversos testes no intuito de construir modelos eficientes. Esses planadores não costumavam possuir motores, valendo-se de catapultas ou outras formas de serem rebocados ou arremessados, então usariam as próprias correntes de ar para poder se manter voando. Alguns protótipos chegaram a fazer uso de motores simples, mas possuíam dificuldades de estabilidade, velocidade e sobretudo para pousar. Os Irmãos Wright (Wilbur e Orville) se destacaram no desenvolvimento de planadores entre 1900 e 1905, por sua vez, na França, muitos inventores estavam indo além desses planadores, um deles que ganhou destaque foi o brasileiro Alberto Santos Dumont, que em 1906 realizou um voo avaliado pelo Aéro-Clube da França, abordo do 14 bis. 

O sucesso do voo experimental de Santos Dumont, impulsionou outros inventores como Henri Farman, Gabriel Voisin, Louis Blériot, entre outros, a aperfeiçoarem suas máquinas e de 1907 a 1909, os aviões monoplanos (duas asas) e biplanos (quatro asas) foram desenvolvidos massivamente a ponto de que nesse período se tornou comum, na França e Estados Unidos, exibições áreas, torneios de invenções, competições de voos mais longos e rápidos, até mesmo viagens de longa distância, como a travessia do Canal da Mancha em 1909

A partir de 1910 começaram a surgir fábricas de aviões e a se realizar corridas aéreas. Os modelos de aeronave haviam se aperfeiçoado bastante nos últimos seis anos, condição essa que alguns inventores decidiram fazer testes para criação de aviões com o intuito militar, assim surgiam os aviões de guerra. Na época Santos Dumont foi um dos aviadores e inventores de aviões que se posicionou contrário ao uso deles para fins de guerra, posicionamento que manteve até o fim da vida. 

O primeiro protótipo de avião militar surgiu ainda em 1909 com o Blériot XI, uma aeronave ainda feita de madeira, baseada no modelo usado por Louis Blériot para atravessar o Canal da Mancha. A ideia inicial era equipar esse avião com algumas bombas. O projeto foi sendo desenvolvido e interessou os italianos os quais em 1911 tinham entrado em guerra com os turcos, na chamada Guerra Ítalo-Turca (1911-1912), foi um conflito que durou um ano, mas serviu de laboratório para o desenvolvimento de aviões de guerra. 

Naquela época os aviões militares não possuíam armamento, eles carregavam poucas bombas, atuando como bombardeios. Sendo assim, o capitão Giolio Gavotti, em 1 de novembro de 1911, realizou manualmente o lançamento de pequenas bombas sobre um base turca em Trípoli, na Líbia. Foi o primeiro registro histórico de um bombardeio aéreo. Até o fim da guerra, outros bombardeios foram realizados. No entanto, o feito motivou o desenvolvimento de aviões de guerra na Itália, Alemanha, França e Estados Unidos. Condição essa que em 1913, os mexicanos fizeram uso de bombardeios para atacar bases dos rebeldes durante a guerra revolucionária. O uso de aviões de guerra era um caminho sem volta. 

Com o advento da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha tratou de criar sua força aérea em 1914, chamada ainda de Fliegertruppe, equipada com aviões, dirigíveis e balões. Inicialmente tratava-se de uma força de reconhecimento, ainda não voltada para a guerra propriamente falando. A França e a Itália que já possuíam suas forças aéreas investiram no crescimento de seus veículos, pistas e no treinamento dos pilotos. Em 1914 os ataques aéreos ainda se resumiam a bombardeios, mas a realidade mudou no ano seguinte, quando surgiram os aviões equipados com metralhadoras, iniciando definitivamente a guerra aérea. O Vickers F.B.5 era um caça de origem britânica equipado com uma metralhadora Lewis de calibre .303. 

Manfred entra para a guerra

Manfred Albrecht von Richthofen nasceu em 1892, em Breslau, na Silésia, era o segundo de quatro filhos de Albrecht von Richthofen (1859-1920), um militar da cavalaria. Em 1901 a família mudou-se para a Polônia, onde Manfred cresceu. Já adolescente foi enviado junto ao seu irmão Lothar (1894-1922) para estudarem na Inglaterra, em Oxford. Os depois voltaram para a Alemanha e entraram na escola de oficiais da cavalaria, em 1911. 


Manfred von Richthofen usando uma medalha Pour le Mérite prussiana, em foto de 1917. 
Três anos depois eclodiu a guerra e os Richthofen foram enviados para essa, porém, devido a adoção da guerra de trincheira, a cavalaria se tornou uma força ineficaz, então os regimentos de cavalaria foram tirados da maior parte dos combates, com isso, os irmãos Richthofen foram designados a outras atividades secundárias, que não era ir para frente de batalha.

Todavia, em 1915, Manfred ao visitar um campo de pouso se encantou com os aviões que viu ali, decidindo tentar se tornar piloto. Ele solicitou transferência para a força aérea e essa foi aceita. Ele participou de expedições de reconhecimento em meados daquele ano, mas somente em outubro começou o curso de piloto, pois queria ir para a ação. Empolgado com a aviação, Manfred convenceu seu irmão Lothar a também pedir transferência, esse se interessou pela aviação e aceitou. Dessa forma os irmãos Richthofen se tornaram pilotos de caça. Nessa época Manfred conheceu o piloto Oswald Boelckle (1891-1916), o qual foi seu chefe e inspiração. 

Em março de 1916 Manfred foi designado como piloto de caça no Kampfgeschwader 2 (Esquadrão de Bombardeio 2), participando de missões de reconhecimento e bombardeio, nesse período os aviões abatidos por ele não foram contabilizados, pois caíram em locais que impossibilitavam confirmar a baixa, além disso, Manfred apresentou problemas para controlar o seu avião um Albatros C.III, a ideia de que ele teria sido um gênio da pilotagem aérea não é verdade. Manfred demorou alguns meses para poder aprender. Em 28 de outubro de 1916, Boelcke faleceu numa colisão aérea, o que abalou Manfred, pois ele viu o seu amigo morrer. 


Em 23 de novembro de 1916, Manfred conquistou sua primeira grande vitória ao matar o piloto major Lanoe Hawker, considerado o "Boelcke britânico, segundo Manfred dizia. A partir desse feito, suas vitórias aéreas foram aumentando no ano seguinte, lhe rendendo uma medalha de honra, a Pour le Mérite. Por sua vez, seu irmão Lothar optou em demorar mais tempo no treinamento, apenas ingressando nos combates aéreos em 1917. 

Surge o Barão Vermelho 

Enquanto ganhava fama como ás da aviação, o que lhe rendeu uma medalha de honra, Richthofen decidiu que seus aviões, na época ele ainda usava um Albatros G.III, um bombardeio pesado e não tão rápido, fosse pintado de vermelho. A ideia era proposital para ser chamativa. Richthofen que estavam orgulhoso e arrogante de suas vitórias e fama crescente como piloto de caça, queria que todos soubessem quando ele estivesse presente, dessa forma, seus inimigos ao avistarem um avião vermelho saberiam que o Barão Vermelho estava ali e deveria ser temido. 

Ilustração mostrando o Albatros D.III vermelho de Manfred von Richthofen. 

Em 6 de julho de 1917, após já ter abatido mais de quarenta aviões, Richthofen foi atingido por um piloto inglês durante o combate contra um esquadrão de caças F.E.2. Richthofen por pouco não morreu na ocasião, tendo conseguido manobrar o avião de forma que realizasse uma aterrissagem forçada. Porém, ele ficou ferido, tendo que permanecer semanas no hospital. 

Richthofen teve sorte em sobreviver a aquele acidente aéreo, pois na Primeira Guerra os índices de mortandade dos pilotos passavam dos 70%, e o valor poderia ser maior dependendo da experiência de pilotagem dele, das condições climáticas e do cenário de batalha. Além disso é preciso salientar que esses aviões não tinham paraquedas, alguns eram feitos de madeira, o que significava que uma bala facilmente perfurava a fuselagem; ventos fortes poderiam desestabiliza a aeronave; a metralhadora costumava ser fixa, logo, os pilotos tinham que ficar de frente para o inimigo com o bico apontado para eles, o que aumentava as chances de ser atingido e até de colisão. 

No entanto, enquanto esteve em recuperação, seu esquadrão o Jagdstaffel 11 ou Jasta 11 que ele comandava na época, passou para a liderança de seu irmão Lothar, que havia se mostrado um piloto exímio tanto quanto o irmão, apesar de ser conhecido por ações mais agressivas, já que Manfred optava por ataques mais cautelosos. 

Após se recuperar dos ferimentos e estar liberado para voltar a pilotar, Richthofen mudou de avião adotando o triplano Fokker Dr. I, mandando pintá-lo também de vermelho. Esse modelo se tornou o mais famoso por ele usado, já que ele pilotou um desse até o fim da sua vida. 

Réplica de triplano Fokker Dr. I, avião usado pelo Barão Vermelho. 

Voltando ao serviço, Richthofen seguiu quebrando recordes, o Barão Vermelho havia voltado com fúria. Em 1918 ele era um militar famoso em todo o país, referido como Der Rote Kammpfflieger (o piloto de caça vermelho), inclusive sua fama foi usada pela propaganda de guerra, mas isso teve um preço duplo: seus inimigos passaram a ambicionar caçá-lo e derrubá-lo. Apesar desse risco, Richthofen não se acovardou e manteve o uso de aviões vermelhos. 

Mas seu destino foi selado em 21 de abril de 1918, quando ele participava de uma missão no espaço aéreo da França, local onde travou várias batalhas. Naquele dia ele e seu esquadrão entraram em conflito com o Esquadrão 209 da Real Força Aérea do Reino Unido, naquela batalha Richthofen confrontou o piloto canadense Arthur "Roy" Brown (1893-1944). Durante a batalha após várias trocas de tiros e perseguições, Manfred von Richthofen foi alvejado no tórax, tendo perfurações nos pulmões e coração, morrendo imediatamente. A carreira avassaladora do temido Barão Vermelho havia chegado ao fim.

O avião de Richthofen foi confiscado por um esquadrão de australianos como troféu de guerra, por sua vez, seu corpo foi encaminhado para as tropas alemãs para poderem levá-lo a sua família. Por conta da guerra o corpo de Richthofen não foi levado para a Alemanha, tendo sido sepultado em Bertangles, perto de Amiens. Sua morte foi divulgada na Alemanha como a morte de um herói de guerra, já os ingleses e franceses celebravam o feito também, como tendo abatido até então um dos mais temidos pilotos de caça. 

Embora tenha falecido aos 25 anos, sua fama continuou. Manfred von Richthofen é ainda hoje considerado o maior ás da aviação da Primeira Guerra Mundial, tendo abatido 80 aviões confirmados e pelo menos mais 20 não confirmados. Seu irmão Lothar ainda continuou a lutar na guerra até o fim dessa, tendo conseguido 40 vitórias. 

NOTA: Embora o piloto Arthur "Roy" Brown seja creditado como o responsável por abater o Barão Vermelho, alguns historiadores militares levantaram hipóteses de que outro piloto teria sido o responsável por isso. 

NOTA 2: Richthofen foi condecorado em vida com vária medalhas, e recebeu algumas postumamente. 

NOTA 3: Durante a Segunda Guerra Mundial alguns esquadrões alemães foram nomeados em sua homenagem. 

NOTA 4: Von Richthofen era o título de seu pai, o qual era o Freiherr de Richthofen, porém, esse antigo título foi traduzido pelos ingleses e franceses como barão. Embora não tivesse uma equivalência nobiliárquica propriamente.

NOTA 5: Richthofen em 1917 por conta da propaganda de guerra foi incentivado a publicar suas memórias sobre a guerra, resultando numa autobiografia intitulada Der Rote Kemmpffieger, o apelido que recebeu na época. 

NOTA 6: Barão Vermelho é o nome de uma banda brasileira de rock surgida em 1981. Curiosamente Baron Rojo é o nome de uma banda espanhola de heavy metal que foi fundada em 1980. 

NOTA 7: Red Baron (1980) é o nome de um jogo de avião lançado para o Atari. Um remake aprimorado foi lançado em 1990 para computadores. 

NOTA 8: Um filme baseado na carreira de Richthofen, intitulado Red Baron foi lançado em 2008. 

NOTA 9: O mangá Hikotei Jidai (1992) de Hayao Miyazaki conta a história de um piloto de caça italiano que pilota um avião vermelho. A trama não possui conexão com o Barão Vermelho, mas a ideia de seu avião serviu de inspiração, inclusive o mangá se passa em 1920, época aproximada na qual o barão viveu. Esse mangá foi adaptado para filme sendo nomeado Porco Rosso (Kurenai no Buta), lançado ainda em 1992 pelo Studio Ghibli

NOTA 10: O número de aviões abatidos na Primeira Guerra não é exato, mas o que foi computado aponta para mais de mil aeronaves derrubadas, um número bastante grande para a época, ainda mais se considerarmos que foi a primeira guerra com batalhas aéreas. 

Referências bibliográficas:  

GIBBONS, Floyd. The Red Knight of Germany: the story of Baron von Richthofen. New York, Bantan Books, 1959. 

KILDUFF, Peter. Red Baron: the life and death of an ace. Ohio, David & Charles, 2008. 

MILLBROOKE, Anne Marie. Aviation History. S.l, Jeppsen Sanderson, 1999. 

WYNGARDEN, Gregn van. Early German Aces of World War 1. New York, Osprey, 2006. 

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