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Leandro Vilar

segunda-feira, 5 de junho de 2023

A invenção do Velho Oeste

O Velho Oeste (Old West), ou Oeste Selvagem (Wild West), ou Faroeste (Far west) são termos usados para se referir a uma época da história dos Estados Unidos ocorrida no século XIX, relacionada ao processo de colonização da fronteira ocidental. Entretanto, muitos estereótipos sobre esse período surgiram na literatura do final do XIX, mas ganharam destaque mesmo através do cinema, dos quadrinhos e mais tarde nos videogames. Condição essa que em geral a ideia que temos do Velho Oeste é baseada mais na midiatização daquela época do que realmente ela foi de fato. 

O Arizona é um dos estados cuja paisagem influenciou a estética do imaginário do Velho Oeste. 

O Velho Oeste antes do Velho Oeste

O período do Velho Oeste costuma ser definido como a época que vai de 1860 a 1900, embora alguns historiadores até mesmo apontem datas alternativas como 1850 a 1910, outros ainda recuam para as décadas de 1830 e 1840, de qualquer forma, a datação mais comumente aceita abarca a segunda metade do século XIX, que representou o grande aumento da população que habitava aquelas terras, o fim dos limites da fronteira ocidental, a própria modernização daquelas terras, com a chegada da ferrovia, fábricas, telégrafo, correios etc. (UDALL, 2004). 

Entretanto, a exploração e colonização do oeste da América do Norte não foi um processo que teve início no século XIX, mas foi algo bem mais antigo. A historiografia estadunidense usa o conceito de fronteira (frontier) para abordar a expansão das fronteiras dos Estados Unidos. Sendo assim, ainda no período colonial tivemos expedições exploratórias de ingleses, franceses e espanhóis desbravando o interior do que viria a ser os Estados Unidos séculos depois. Condição essa que em territórios como o Texas, Novo México e Califórnia, quando os estadunidenses chegaram no XIX, parte da população indígena e de colonos ali, já falavam espanhol e eram católicos. (UDALL, 2004). 

Divisão dos domínios europeus no que viria a ser futuramente o Estados Unidos da América. Pelo mapa observa-se os EUA em 1789, em cinza os domínios explorados ou reivindicados pelos espanhóis. 

A ideia de que o centro e o oeste da América do Norte era totalmente desconhecido para os europeus antes do XIX, não é exata. Os estadunidenses antes de iniciarem sua marcha colonizadora tiveram contato com mapas e informações dos espanhóis e franceses, e até de povos indígenas que mantinham relações amistosas com eles. É evidente que muitas terras ainda não tinham sido mapeadas, mas algumas regiões já eram melhor conhecidas e até possuíam assentamentos e missões jesuíticas

Os ingleses no tempo das Treze Colônias chegaram a disputar terras na região central, norte e sul do continente contra os espanhóis, os franceses e diferentes povos indígenas. Esses conflitos foram importantes para assegurar as fronteiras de suas colônias, assim como, abrir caminho para a expansão posterior, condição essa que quando os EUA se formou em 1776, consolidando sua independência só em 1783, houve o investimentos privado e público para explorar o interior do país, dessa forma os estados do Tennessee, Kentucky, Ohio, Illinois, Indiana, Missouri, Arkansas, Alabama, Mississipi e Michigan, entre as décadas de 1780 e 1820 foram sendo anexados ao novo país. (ESCOTT, 2002). 

Essa anexação ocorreu de diferentes formas: invasão de terras, guerra, revisão de fronteiras e até mesmo a compra de territórios. Por exemplo, em 1803, o presidente Thomas Jefferson comprou por 50 milhões de dólares, milhares de hectares do território hispano-francês da Luisiana, o qual era muito maior do que o atual estado da Luisiana. Um detalhe é que vários povos indígenas viviam nessas terras, e eles foram vendidos e tudo como parte do pacote. (ESCOTT, 2002).

A compra desses milhares de hectares pelo governo federal estadunidense incentivou expedições de colonização, mas também de exploração e até científicas. Uma das expedições mais famosas do período foi liderada pelos militares e exploradores Meriwether Lewis (1744-1809) e William Clark (1770-1838), os quais partiram em 1804 para mapear os rios Missouri, Oregon, Colorado, Colúmbia, entre outros. Lewis e Clark junto aos seus funcionários e escravos, percorreram milhares de quilômetros chegando até a costa noroeste, onde fundaram o Forte Clastop, no atual estado do Oregon. (UDALL, 2004). 

Mapa com a rota da expedição de Lewis e Clark para desbravar o oeste selvagem. 

A partir da consolidação das terras no centro do continente, a expansão prosseguiu cada vez mais pelo interior do oeste até a costa do Oceano Pacífico. O Texas, antes território espanhol, foi subtraído do controle do México, havendo batalhas por conta disso, algo visto na Guerra Mexicana-Americana (1846-1848). O mercado de peles, a caça, a busca por minas de ouro e prata, a expansão das fazendas de algodão e gado, impulsionaram o desbravamento do interior do continente. O governo americano da época inclusive passou por cima de acordos com os mexicanos, invadindo suas terras, além de invadir vários territórios de nações indígenas.

Mapa dos Estados Unidos entre 1845 e 1846. Em laranja os territórios reivindicados pelo governo, os quais estavam em processo de colonização. 

A corrida do ouro na Califórnia (1848-1853) ajudou a impulsionar a migração para aquela região, ainda pertencente ao México. Muitos colonos sonhadores com a esperança de descobrirem veios de ouro ou minas, arriscaram suas vidas e até investiram todo seu dinheiro naquela difícil empreitada. A maior parte dos que foram não enriqueceram como esperavam, no entanto, a corrida do ouro californiana foi importante para a ocupação daquelas terras, mais tarde reivindicada pelos EUA. Inclusive foi um episódio histórico que influenciou bastante as narrativas sobre o Velho Oeste. (ESCOTT, 2002). 

A baía de San Francisco por volta de 1850, durante a corrida do ouro. Antes uma vila, em poucos anos tornou-se uma cidade com mais de cem mil habitantes por conta da procura por ouro. 

Sendo assim, na década de 1850 o processo de colonização dos EUA do Oeste Selvagem já estava em andamento há vários anos e foi se intensificando. Ele deu uma pausa por conta da Guerra Civil Americana (1861-1865), mas retornou de forma intensa, quando o governo cedeu terras aos veteranos de guerra e até concedeu incentivos fiscais para a construção de fazendas, vilas e assentamentos. O sistema ferroviário também teve grande papel nessa nova onda migratória. Escott (2002) aponta que entre 1840 e 1880, pelo menos 350 mil pessoas viajaram do Leste para o Oeste, de trem. A maior parte eram estadunidenses e ingleses, mas havia colonos de outras nacionalidades também. 

Entre 1860 e 1861 foi estabelecido o sistema de correios chamado Pony Express. Embora tenha durado pouco, foi o primeiro projeto de uma linha de correio de longa distância, partindo do Missouri para a Califórnia, percorrendo mais de 3 mil quilômetros. O projeto acabou sendo abandonado quando os correios passaram a usar o telégrafo e as ferrovias. Ainda assim, seu legado permaneceu na história estadunidense.  

A rota do Pony Express, operante entre 1860 e 1861, a mais extensa linha de correios a cavalo. 

O imaginário do caubói

A ideia que temos hoje do Velho Oeste como um local marginalizado com muitos bandidos, brigas no saloon, duelos no meio da rua, o xerife como principal autoridade local, ataques indígenas, bandos de bandoleiros assaltando diligências e trens, uma terra de perigos e sem lei, na verdade não é bem assim. De fato, houve problemas como esses, mas em muitos casos eles acabaram sendo exagerados pela ficção, no caso, a literatura e o teatro tiveram grande papel nisso. 

Na década de 1860 a literatura deu o ponta-pé para a construção do imaginário midiático do Velho Oeste com diversas publicações de contos e romances curtos chamadas popularmente de dime novel, que incluía uma série de temáticas, entre elas, aventuras pelo Velho Oeste, acompanhando exploradores, caubóis, caçadores, soldados, bandidos, indígenas etc. Tratava-se de uma literatura barata e com linguagem popular, o que facilitava o acesso da população. (WRIGHT, 2001). 

Seth Jones foi personagem famoso das dime novel sobre o Velho Oeste, que ajudou na formação da figura do caubói.  

As dime novel acabaram influenciando o teatro e o circo, em que artistas incorporavam algumas dessas tramas e personagens para seus espetáculos apresentados no saloon, restaurantes, bares, teatros e até ao ar livre. Foi através desse folhetim barato que surgiu a figura de um novo tipo de herói, um "herói americano" do mundo rural e da natureza, o caubói. (ESCOTT, 2002). 

Basicamente o caubói equivale ao vaqueiro, boiadeiro, campino, entre outros termos, os quais são usados para se referir ao empregado de uma fazenda de gado que era responsável por vigiar, proteger, conduzir, capturar e contar as vacas e cavalos. Essencialmente essa era a função do caubói. Porém, com a literatura, o circo e o teatro da segunda metade do século XIX, essa função foi transformada e ganhou novas características, tornando o caubói em um herói, mas também em um vilão. 

Caubóis capturando um touro fugitivo na pintura The Herd Quitter, C. M. Russel, 1897. 

O caubói que comumente vemos no cinema, quadrinhos, desenhos e jogos é a figura romanceada da profissão de vaqueiro. Fato esse que muitos caubóis da ficção nem se quer exerciam seus afazeres na fazenda, mas se tornavam cavaleiros andantes, em busca de aventura, justiça, riqueza, fama, vingança etc., outros caubóis acabavam passando para o lado do crime, tornando-se bandidos. Além dessa dicotomia entre mocinho e vilão, o caubói também agregou na sua figura características do caçador, do aventureiro, do cavaleiro, do explorador, do soldado, do pistoleiro. 

Nas produções artísticas vemos caubóis agindo como justiceiros, policiais, xerifes, alguém que procura combater os vilões que aterrorizam uma fazenda, cidade ou região. Normalmente esse caubói age de forma solitária ou forma um pequeno grupo para executar sua missão. Por outro lado, o caubói herói costuma combater vários caubóis vilões, além de lutar também contra soldados, indígenas, caçadores, e outros tipos de inimigos. Inclusive foi a midiatização que associou os caubóis como hábeis atiradores, apesar que nem sempre eles portassem armas de fogo consigo. (WRIGHT, 2001). 

Charles M. Russel e seus amigos. Pintura feita pelo próprio Russel, 1922. O autor retratou-se como um caubói, pois ele admirava essa figura e esse estilo de vida. 

Buffalo Bill e o Show do Oeste

William Frederick Cody (1846-1917) nasceu em Iowa e passou vários anos vivendo pela região central e oeste dos EUA. Tendo atuado como caçador de búfalos, algo que lhe rendeu o apelido de Buffalo Bill. Ele também chegou a trabalhar como batedor do Exército, carteiro do Pony Express, comerciante, condutor, entre outros ofícios. Em 1883, então com seus 37 anos, ele decidiu mudar de ramo e tornar-se produtor cultural. Assim, ele convidou alguns amigos e conhecidos e montou um espetáculo circense itinerário.

Retrato de Buffalo Bill em 1911, o empresário e produtor cultural que difundiu o Velho Oeste. 

Buffalo Bill acabou se tornando um empresário visionário, e a partir de 1883, à medida que foi ganhando dinheiro com seu show, ele foi o tornando maior e mais impactante. Em 1886 seu espetáculo intitulado Buffalo Bill's Wild West já era o mais famoso do país, chegando a possuir dezenas de empregados, as vezes até mais de cem pessoas participavam dos espetáculos, principalmente quando havia a simulação de batalhas e desfiles de cavalaria. Buffalo Bill se tornou famoso e um rico empresário e produtor cultural. (KASSON, 2001). 

Um cartaz do show de Buffalo Bill, no ano de 1890. 

A fama do espetáculo de Buffalo Bill foi tão rápida que em 1886 ele recebeu convite para ir se apresentar na Europa, fato esse que ele fez uma turnê com alguns shows entre 1887 e 1892, visitando Inglaterra, França, Alemanha e Itália. Anos depois ele realizou uma segunda turnê pela Europa entre os anos de 1902 e 1906. Tal fato mostra como a fama de seu show alcançou reconhecimento internacional, pois mesmo em países que ele não chegou a viajar, o conheciam através dos jornais. (KASSON, 2001). 

A companhia teatral Buffalo Bill's Wild West esteve em atividade por vinte anos, a ponto que se tornou um marco da história dos Estados Unidos. Buffalo Bill contratou atores e até transformou batedores, caçadores, caubóis, soldados etc., em atores, ensinando-os atuação circense e teatral. Ele investiu massivamente nos figurinos, objetos teatrais e até em cenários. Em alguns espetáculos ele chegou a representar soldados de outras nacionalidades como cossacos, turcos, árabes e mongóis. 

O show da companhia de Buffalo Bill era uma superprodução mesmo para os padrões da época. O espetáculo chegava a durar de 3 a 4 horas, havendo vários atos que incluíam encenações circenses, apresentação a cavalo, disputas de tiro a alvo, corridas, rodeios, encenações teatrais, simulação de batalhas, apresentações musicais e de dança, e alguns casos poderia ter desfiles de cavalaria. Era um espetáculo marcado pela ação com momentos de comédia, suspense e drama. (KASSON, 2001). 

Desfile de cavalaria indígena do Buffalo Bill's Wild West durante o Cummis Indian Congress and Wild West Show, em 1901. 

Bill contratou indígenas, tendo uma parceria famosa com o chefe Touro Sentado. Seu espetáculo também ficou conhecido por dar espaço para as mulheres, havendo caçadoras e atiradoras que se tornaram personagens famosas como Calamity Jane, que se tornou o estereótipo da mulher durona do Velho Oeste, hábil atiradora e caçadora, um exemplo de cowgirl. Apesar que realmente suas habilidades não eram falsas, pois ela foi uma desbravadora e caçadora, aproveitando isso para se tornar atriz mais tarde. 

Calamity Jane, uma das atrizes mais famosas do Buffalo Bill's Wild West. 

O Buffalo Bill's Wild West influenciou toda uma geração de espetáculos do Velho Oeste, os quais seguiram em atividade até pelo menos a década de 1920, quando entraram em declínio. Esses espetáculos foram imensamente importantes para criar as ideias que temos sobre o xerife, o caubói herói, o caubói vilão, o indígena ingênuo, o indígena cruel, o bandido, o pistoleiro, a donzela em perigo, a cowgirl, o chefe indígena, o minerador, o mercador, o empresário, o dono do saloon, as dançarinas de saloon, entre outros personagens ligados ao imaginário do Velho Oeste. E isso tudo foi reaproveitado pelo cinema. 

O cinema western

O primeiro filme de western a ser lançado foi Kit Carson (1903), um curta-metragem em preto e branco e mudo, no qual o protagonista que dá título a produção, é capturado por indígenas e deve escapar. O filme era baseado em Christopher "Kit" Carson (1809-1868), militar e explorador que ganhou fama de caubói. Ainda naquele ano foi lançado outro filme de western, intitulado The Great Train Robbery (1903), filme de 12 minutos, preto e branco, mudo, o qual apresentava um assalto a um trem. O filme foi produzido pelo Edison Studios, produtora cinematográfica de Thomas Edison. (NACHBAR, 1974). 

Dessa forma o cinema western seguiu desenvolvendo-se ainda cedo no século XX, sendo bastante influenciado pela estética e imaginário dos shows de faroeste, em especial o do Buffalo Bill, que seguiu operante até 1913. Todavia, o cinema de western somente começou a ganhar fama na década de 1920, quando as produções deixaram efetivamente de serem curta-metragem, tornando-se filmes de longa-metragem, além de melhor produzidos e até filmados em cenários ao ar livre. Nessa época destacaram-se filmes como The Covered Wagon (1923) e The Iron Horse (1924), o primeiro grande sucesso do diretor John Ford, que ficou conhecido por seus filmes de western. 

Na década de 1930 surgiu o primeiro grande ator dos filmes de faroeste, John Wayne (1907-1979), o qual dedicou sua carreira ao cinema western, atuando de por mais de quarenta anos nesse gênero cinematográfico, tendo feito mais de cinquenta filmes. No caso, Wayne foi a referência para muitos autores que entraram no cinema western, já que ele influenciou as gerações de 30, 40, 50, 60 e 70, atuando até o declínio desse gênero de filmes. 

Cartaz do filme The Big Trail (1930), estrelando John Wayne, em seu primeiro grande papel no cinema. 

Os filmes de faroeste contribuíram massivamente para criar todo o imaginário perigoso e selvagem associado ao Velho Oeste, mostrando aquela região como corriqueiramente hostil, cidades pequenas com apenas uma rua, bandos de salteadores atacando constantemente, indígenas ateando fogo em fazendas e casas, caubóis altos, brancos e fortes, destemidos a salvar quem precisasse. Uma terra sem-lei e segurança.

Na prática não foi bem assim. Como dito anteriormente, realmente houve problemas de criminalidade, mas na segunda metade do século XIX, quando estourou as novelas e shows sobre o Velho Oeste, a vida nos estados ocidentais dos EUA já era diferente do que os espetáculos apresentavam. A ferrovia, o telégrafo e a imprensa já existiam em todos os estados, em diferentes cidades. Algumas cidades possuíam mais de 50 mil ou 100 mil habitantes. A lei não era frágil assim. Muitas tribos hostis tinham sido exterminadas ou foram pacificadas à força ou na diplomacia. Assaltos a bancos e trens não eram regulares. Caubóis não bancavam cavaleiros andarilhos e justiceiros. 

Muitos caubóis da região sudoeste eram imigrantes mexicanos, logo, nada de serem altos, tendo olhos azuis ou serem muito brancos. Além disso, eles cuidavam do gado nas fazendas estadunidenses. Soma-se o fato de que camelos foram empregados no Velho Oeste, mas raramente aparecem nos filmes, quadrinhos e jogos da temática. Os caubóis em algumas regiões eram proibidos de portarem armamento para evitar brigas. Duelos tinham sido proibidos em várias localidades. A polícia era mais presente do que costuma aparecer nos filmes. 

O imaginário do Velho Oeste em outros países

O cinema western reuniu tudo que foi desenvolvido no século XIX sobre o Velho Oeste e o potencializou criando todo um gênero cinematográfico próprio, imaginário popular, cultura visual, cultura identitária, além de ter influenciado os quadrinhos, novelas, seriados, desenhos e videogames. E isso se espalhou para outros países. Por exemplo, no México do começo do XX tivemos filmes de faroeste, em que os caubóis eram chamados de charro, palavra local para aquele ofício. Todavia, foi entre as décadas de 1950 e 1970 que o western mexicano se popularizou, tendo sido produzidos dezenas de filmes, inclusive alguns cômicos. 

Cartaz do filme Ahi viene Martin Corona (1952) um dos western mexicanos de comédia mais famosos. 

Em 1946 o quadrinista belga Morris (1923-2001) inventou o personagem Lucky Luke, um atrapalhado caubói. A revista apresentava uma sátira as histórias de faroeste e se tornou bastante popular na Bélgica, França e outros países europeus e no próprio EUA, ganhando até desenho animado. A partir de 1955 o quadrinista francês René Goscinny (um dos criadores de Asterix) passou a roteirizar as histórias de Lucky Luke, acrescentando mais elementos cômicos. 

Lucky Luke foi o primeiro quadrinho não estadunidense sobre caubóis a se tornar bem sucedido. 

Com a rápida popularidade de Lucky Luke, os italianos que eram amantes do western, decidiram fazer algo do tipo. O roteirista Gian Luigi Bonelli e o desenhista Aurelio Gallepenni criaram em 1948 o caubói aventureiro Tex Willer, que inicialmente surgiu no formato de tirinhas, com histórias curtas. Nesse começo ele era um fora da lei, posteriormente tornou-se um Texas Ranger passando a combater os crimes e injustiças. Originalmente as revistas do Tex eram em preto e branco, costume italiano, mas depois ganharam edições coloridas. Diferente de Lucky Luke com seu tom mais engraçado e satírico, as histórias de Tex eram voltadas para um público juvenil e adulto, com mais aventura, ação, suspense e mistério, além de tramas mais sérias. 

Uma arte de Tex Willer, um dos caubóis mais famosos dos quadrinhos. 

Os italianos entre as décadas de 1940 e 1970 foram grandes entusiastas de filmes de Velho Oeste, ainda mais se lembrarmos que o próprio Buffalo Bill apresentou seu show no país em 1897. Sendo assim, durante a popularidade do cinema western dos anos 1950 e 1960, surgiu o cinema spaghetti western, um termo irônico para se referir aos faroestes produzidos na Itália. 

O cinema italiano criou cidades cinematográficas na Itália e na Espanha para as tomadas externas. Inclusive várias localidades do sul espanhol por conta do clima mais árido foram usadas para simular serem regiões dos Estados Unidos. Atores americanos famosos como Lee Van Cleef e Clint Eastwood foram contratados para estrearem os faroestes italianos, o qual teve como um dos principais diretores Sergio Leone (1929-1989), que dirigiu a trilogia: Por um punhado de dólares (1964), Por uns dólares a mais (1965), Três homens e um conflito (1966), estrelada por Clint Eastwood no papel do Pistoleiro Sem Nome

Cartaz italiano de Três homens e um conflito (1966). Em inglês o título foi traduzido para The Good the Bad and the Ugly. 

Além dos mexicanos e italianos, outros povos também produziram filmes de faroeste como os espanhóis, franceses, alemães, ingleses, finlandeses, gregos, australianos, indianos, chineses, japoneses, tailandeses, brasileiros entre outros, mostrando como o gênero cinematográfico do western difundiu mundialmente um imaginário que criou uma visão fictícia do que foi o Velho Oeste.

NOTA: Longe Ranger ou Cavaleiro Solitário é um caubói que usava uma máscara como um super-herói. Ele apareceu em radionovelas em 1933, depois foi para o cinema e os quadrinhos. 

NOTA 2: Os jogos Red Dead Redemption (2010) e Red Dead Redemption 2 (2018) são considerados os melhores jogos sobre faroeste. 

NOTA 3: O cinema western ficou tão popular que subgêneros surgiram, havendo filmes que abordam comédia, horror, drama, ficção científica, pornografia, fantasia, artes marciais, narcotráfico etc. 

Referências bibliográficas:

ESCOTT, John. The Wild West. Oxford, Oxford University Press, 2002.

KASSON, Joy S. Buffalo Bill's Wild West: celebrity, memory and popular history. S. l, Hill & Wang, 2001. 

NACHBAR, John G. Focus on the Western. Pretince Hall, s.e, 1974. 

UDALL, Stewart L. The Forgotten Founders: rethinking the history of Old West. Washington, Shearwater Books, 2004. 

WRIGHT, Will. The Wild West: the mythical cowboy & social theory. London, Sage Publications, 2001.  

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