Alguns dos livros que compõe o Antigo Testamento possuem relatos históricos, descrevendo mesmo que de forma resumida, o governo de vários reis, enfatizando uma história política e militar. Tais relatos se referem tanto a monarcas de Israel e Judá, como também a soberanos de povos vizinhos que direta ou indiretamente tiveram influência nos reinos hebraicos.
Faraós
Poucos faraós são citados no Antigo Testamento, curiosamente o mais famoso e importante deles não tem seu nome revelado, sendo simplesmente chamado de Faraó. Alguns historiadores sugeriram que ele teria sido Ramsés II, que teria reinado entre 1279 e 1213 a.C. O problema disso é que o governo dos Juízes de Israel teria durado pelo menos quatrocentos anos, sendo que o primeiro rei israelita assumiu o trono por volta de 1030, tendo sido Saul.
Sendo assim, se Ramsés II teria sido o tal Faraó que confrontou Moisés e Aarão, significa que as datas estariam erradas. Além disso, há outro problema: nas crônicas do governo de Ramsés II não há relatos sobre uma saída massiva de hebreus do Egito. Logo, o tal Faraó pode ter sido um monarca anterior, ainda não identificado, ou relato bíblico não é tão exato assim, podendo inclusive ter mesclado elementos lendários e acontecimentos históricos de diferentes épocas. Os faraós são citados principalmente em Gênesis, Êxodo, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, I Macabeu, Isaías, Jeremias e Ezequiel.
- Faraó da época de Abraão - antes de 1800 a.C
- Faraó da época de José - antes de 1600 a.C
- Faraó da juventude de Moisés - antes de 1400 a.C ou 1200 a.C
- Faraó da velhice de Moisés - antes de 1400 a.C ou 1200 a.C
- Faraó sogro de Merede - antes de 1100 a.C
- Faraó cunhado de Hadade - antes de 1000 a.C
- Psusenés II - 959-945 a.C - possível sogro de Salomão
- Sisaque I - 945-924 a.C - invadiu o Reino de Judá
- Taharqa - 690-664 a.C - confrontou o rei assírio Senaqueribe
- Necao ou Neco II - 610-595 a.C - confrontou o rei Josias de Judá
- Apriés ou Hofra - 589-570 a.C - confrontou Nabucodonosor II
- Ptolomeu VI - 180-145 a.C - sogro de Alexandre Balas
O chamado Faraó do Êxodo, caso haja precisão nos eventos relatados, teria sido mais de um monarca, como apontam alguns historiadores e teólogos. Pois de acordo com a Bíblia, Moisés tinha 80 anos quando Deus o chamou para iniciar a missão de libertação dos hebreus. Entretanto, quando criança, Moisés foi adotado pela filha de um faraó. Logo, não teria como ser o mesmo homem, a não ser que ele tivesse mais de 100 anos ou a idade de Moisés esteja errada. Quantos as hipóteses de quem teriam sido os faraós do livro do Êxodo, vários são os candidatos: Pepi I, Amós I, Tutmés II, Tutmés III, Aquenaton, Seti I, Ramsés I, Ramsés II, entre outros.
Apesar que Ramsés II seja o preferido por conta das menções às cidades construídas por ele, embora não seja uma segurança que ele tenha sido o "faraó do Êxodo", pois o relato pode ter sido atualizado por algum cronista, como ocorreu em outros livros bíblicos. Além disso, Ramsés II faleceu com quase noventa anos, logo, ele não poderia ser o mesmo faraó da infância de Moisés.
Reis de Israel
De acordo com os livros bíblicos, a realeza de Israel começou com Saul, escolhido por Deus para essa missão, até porque anteriormente o território era governado por chefes tribais e possuía a figura dos juízes como governantes auxiliares. Após a morte de Salomão o reino de Israel sofreu uma cisão, surgindo o Reino de Judá, governado por outras casas reais. Essa parte da história é vista nos livros de I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Amós, Osaías, Miquéias e Isaías.
- Saul - c. 1030 - c. 1010 a.C.
- Davi - c. 1010 - c. 970/960 a.C.
- Salomão - c. 970/960 - c. 931 a.C.
- Jeroboão I - 931-910 a.C
- Nadab - 910-909 a.C.
- Baasa - 909-886 a.C.
- Ela - 886-885 a.C.
- Zambri - 885 a.C.
- Amri - 885-874 a.C.
- Acab - 874-853 a.C.
- Ocozias - 853-852 a.C.
- Jorão - 852-841 a.C.
- Jeú - 841-814 a.C.
- Joacaz - 814-798 a.C.
- Joás - 798-783 a.C.
- Jeroboão II - 783-743 a.C.
- Zacarias - 743 a.C.
- Seleum - 743 a.C.
- Menaém - 743-738 a.C.
- Faceias - 738-737 a.C.
- Faceia - 737-732 a.C.
- Oseias - 732-724 a.C.
Reis de Judá
O Reino de Judá surgiu após a morte de Salomão, quando os territórios do sul de Israel (incluindo a Palestina) se rebelaram contra o governo de Jeroboão I, levando a separação territorial e o surgimento de novas casas reais. Esse reino foi conquistado pelos exércitos babilônicos de Nabucodonosor II. Esses soberanos são apresentados principalmente nos livros de II Reis e II Crônicas. Mas alguns deles voltam a serem mencionados em alguns dos livros dos Profetas Menores.
- Roboão - 931-913 a.C.
- Abiam - 913-911 a.C.
- Asa - 911-870 a.C.
- Josafá - 870-848 a.C.
- Jorão - 848-841 a.C.
- Ocazias - 848 a.C.
- Atalaia - 841-835 a.C.
- Joás - 835-796 a.C.
- Amasias - 796-781 a.C.
- Ozias (Azarias) - 781-740 a.C.
- Joatão - 740-736 a.C.
- Acaz - 736–716 a.C.
- Ezequias - 716-687 a.C.
- Manassés - 687–642 a.C.
- Amon - 642–640 a.C.
- Josias - 640–609 a.C
- Joacaz - 609 a.C
- Joaquim - 609–598 a.C
- Joaquin - 598 -597 a.C
- Zedequias - 597–587/586 a.C
Reis Assírios
Os domínios da Assíria que compreendiam o norte da antiga Mesopotâmia, ou atualmente o norte do Iraque e territórios vizinhos, existiram por séculos. Entretanto, no século VIII a.C, Salmanaser V e Sargão II conquistaram o Reino de Israel, subjugando ao seu poder. Além disso, Senaqueribe chegou a ordenar a invasão do Reino de Judá, mas não obteve sucesso em conquistá-lo totalmente, mas manteve ocupado parte de seu território. Esses monarcas são citados em II Reis, II Crônicas, Esdras e Isaías.
- Salmanaser V - 727-722 a.C
- Sargão II - 722-705 a.C
- Senaqueribe - 705-681 a.C
- Assaradão - 681-669 a.C
- Assurbanipal - 669-627 a.C
O livro de Tobias inclui Nabucodonosor II como rei assírio e governando a partir de Nínive, mas são dados incorretos. A cidade de Nínive foi destruída e saqueada em 612 a.C pelo pai de Nabudoconosor, e esse somente começou a governar anos depois, cuja capital era a Babilônia. Além de que ele nunca usou o título de rei assírio.
Reis Babilônios
A Babilônia era uma cidade com mais de três mil anos de história, tendo sido uma cidade-Estado depois um reino e império. Na Bíblia enfatiza-se bastante a época dos séculos VII a.C e VI, a.c que marcaram o período do exílio dos hebreus naquele reino. Esse período é referido como Império Neobabilônio, que marcaria o fim da autonomia desse povo, já que seus domínios seriam conquistados pelos persas. Os monarcas desse reino são mencionados em II Reis, II Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Daniel. Nabucodonosor II também é mencionado em Jeremias.
- Nabucodonosor II - 604-562 a.C
- Evil-Merodaque - 562-560 a.C
- Nabonido - 556-539 a.C
- Belsazar ou Baltazar - 556-539 a.C (corregente de seu pai Nabonido)
Os livros bíblicos não citam os usurpadores Neriglissar (560-556 a.C) e Labasi-Maruque (556 a.C). Além disso, o livro de Daniel diz que com a morte de Belsazar (ou Baltazar), a Babilônia foi governada pelo rei Dario, o Medo. Todavia, historicamente quem assumiu o governo foi Ciro, o Grande. Provavelmente o tal Dario fosse algum governador.
Reis Persas
A Pérsia foi um vasto império que surgiu no século VI a.C, formado a partir das conquistas promovidas pelo rei Ciro II, que mais tarde ficou conhecido como Ciro, o Grande. Foi durante seu longo reinado que a Babilônia foi conquistada e os judeus foram libertados de seu cativeiro, sendo autorizado o retorno deles para Israel e Judá. Alguns dos sucessores de Ciro, como Xerxes e Artaxerxes mantiveram a política de permitir os judeus reconstruírem suas cidades. Dos reis persas que governaram nos séculos VI e V, apenas quatro são mencionados na Bíblia, aparecendo principalmente nos livros de Esdras, Neemias, Tobias, Judite e Ester. Sendo eles:
- Ciro II, o Grande (559-530 a.C) - fundou o império persa
- Dario I, o Grande (522-486 a.C) - invadiu a Grécia e falhou
- Xerxes I (486-465 a.C) - invadiu a Grécia e falhou
- Artaxerxes I (465-424 a.C)
O filho de Ciro II, Cambises II (530-522 a.C) e o usurpador Esmérdis (522 a.C) não são citados nos relatos bíblicos.
Além disso, no livro de Ester, o rei persa é chamado de Assuero, o qual costuma ser associado como sendo Xerxes, mas alguns historiadores e teólogos apontam que poderia ter sido Artaxerxes devido a alguns acontecimentos citados nesse livro. O problema é que o nome de Ester não consta como rainha de nenhum desses monarcas, o que abre margem para questionar se ela existiu de fato, ou se existiu não teria sido uma rainha, talvez uma concubina, ou ela teria tido outro nome entre os persas.
Reis da Macedônia
Esses monarcas são citados apenas no livro I Macabeu, para se referir a origem do Helenismo, quando a cultura grega foi difundida para o Oriente Médio, sobretudo por conta do império de Alexandre, o Grande. Assim, os antigos reinos de Israel e Judá foram helenizados, adotando a língua grega e costumes daquele povo, algo que gerou conflitos séculos depois, como narrado nesse livro bíblico.
- Felipe II da Macedônia - 359-336 a.C - conquistou a Grécia
- Alexandre, o Grande - 336-323 a.C - conquistou o Império Persa
- Felipe V da Macedônia - 221-179 a.C
- Perseu da Macedônia - 179-168 a.C - rendeu-se aos romanos
Reis Selêucidas
Após a morte de Alexandre, o Grande em 323 a.C, seu império foi usurpado de seu herdeiro legítimo, Alexandre IV, sendo dividido entre os generais veteranos. Nesse caso, os domínios que compreendiam boa parte do antigo Império Pérsia da época de Dario III, foram herdados pelo general Seleuco I. Assim, os domínios selêucidas foram mantidos pelos séculos seguintes, incluindo os territórios da Judeia. Fato esse que no século II a.C, Matatias, Judas Macabeu, Jônatas e Simão confrontaram os selêucidas por anos para tentar libertar as terras dos judeus. Essa história é narrada nos livros I Macabeu e II Macabeu.
- Antíoco III - 223-187 a.C - promoveu a tolerância religiosa com os judeus
- Antíoco IV - 175-164 a.C - ordenou perseguições ao Judaísmo
- Antíoco V - 164-161 a.C
- Demétrio I - 161-150 a.C - mandou matar Judas Macabeu
- Alexandre Balas - 150-145 a.C - negociou com Jônatas
- Demétrio II - 145-138 a.C - usurpou o trono de Balas
- Antíoco VI - 144-142 a.C - eleito herdeiro oficial de Balas
- Diódoto Trifão - 142-138 a.C - protetor de Antíoco VI
- Antíoco VII - 138-129 a.C - governou no lugar do irmão Demétrio II
- Demétrio II - 129-125 a.C - retornou da prisão na Pártia
Reis da Judéia (ou Reis Herodianos)
Na época do Império Romano, os territórios de Israel e da Palestina compreendiam as províncias da Judeia, Síria e Arábia Pétrea. Neste caso, temos menções a Dinastia Herodiana, iniciada com Herodes, o Grande que teve vários filhos e filhas, cujos alguns dos seus descendentes foram monarcas, mas a maioria viveu como nobres, e alguns atuaram como governadores (tetrarcas). Os primeiros Herodes são citados nos Quatro Evangelhos e os demais em Atos dos Apóstolos.
- Herodes, o Grande - 37-4 a.C
- Herodes Arquelau - 4 a.C - 6 d.C (sucedido por governadores romanos)
- Herodes Agripa I - 41-44 (rompeu com os romanos)
- Herodes Agripa II - 48-92/100 (rei vassalo dos romanos)
Existe um debate entre os historiadores e teólogos se teria sido Herodes, o Grande ou Herodes Arquelau que teria ordenado o censo que levou José a voltar para Belém, acarretando nesse processo a condição de Maria dar à luz a Jesus durante a viagem. A ideia de que Jesus teria nascido no ano 1 d.C, é questionada por historiadores e até teólogos, os quais apontam que ele poderia ter nascido nos últimos anos do reinado de Herodes, o Grande. Vale ressalvar que a divisão temporal Antes de Cristo e Depois de Cristo somente foi adotada séculos depois desses eventos.
Imperadores Romanos
Os monarcas de Roma são normalmente chamados pelo título de César, embora que no Evangelho de Lucas temos a menção ao nome do imperador Tibério, em Atos dos Apóstolos cita-se o imperador Cláudio. Todavia, a partir da época de alguns eventos ocorridos nos séculos I a.C e I d.C, é possível identificar os reinados desses imperadores. Por exemplo, o governo de Herodes, o Grande, que governou sob o reinado de Augusto; a gestão de Pôncio Pilatos durante o governo de Tibério; a expulsão dos judeus de Roma, durante o governo de Cláudio; a visita de Paulo à Roma durante o governo de Nero.
- Augusto - 27 a.C - 14 d.C
- Tibério - 14-37
- Cláudio - 41-54
- Nero - 54-68
O imperador Calígula (37-41) não é citado na Bíblia.
Outros reis mencionados:
Nos livros de Gênesis, Êxodo, Números, Josué, Rute, Juízes, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, citam reis de Jerusalém, Moab, Amon, Edom, Sidônia (Fenícia), Cananéia, Filistéia etc., porém, o reinado desses monarcas é de difícil identificação por falta de evidências históricas e arqueológicas, além de haver a questão de que alguns supostos reis desses povos poderiam ter sido governadores ou chefes tribais, não soberanos de fato.
Sabe-se que Moisés, Josué, Saul e Davi lutaram contra vários reis de povos vizinhos, a maioria nem se quer tem o nome citado, o que dificulta sua identificação. Por exemplo, no relato de Josué 12:9-24 é citado que Josué venceu 31 monarcas. Seus nomes não são citados, embora nesse mesmo capítulo cite-se Siom, rei dos Amorreus e Og, rei de Basã. Além disso, os locais dos quais os 31 reis governavam, eram pequenos territórios que lembrariam a condição de eles parecerem mais chefes ou governadores, como comentado anteriormente.
Melquisedeque, que viveu na época de Abraão, era o rei de Salém, cidade não identificada com clareza, embora algumas hipóteses sugerem que ela poderia estar situada em terras nas quais Jerusalém hoje se encontra. Ainda na época de Abraão recordamos a condição de que havia cidades pecadoras como Sodoma e Gomorra, que eram governadas por reis cujos nomes não são citados.
A Rainha de Sabá que foi visitar o rei Salomão, é outra monarca da qual nada se sabe. Biblicamente ela aparece poucas vezes e teria vindo de um reino ao sul de Jerusalém, situado em algum lugar da península arábica. Outras tradições apontam que a rainha se tornou uma das esposas de Salomão e até deu origem a realeza da Etiópia.
NOTA: O rei Ezequias de Judá é citado no livro de Isaías.
NOTA 2: Os reis Manassés, Josias, Joaquim e Joaquin são mencionados no livro de Jeremias. Inclusive algumas menções são indiretas, pois referem-se a acontecimentos ocorridos durante seus reinados.
NOTA 3: Os reis Joaquim, Joaquin e Nabucodonosor são citados também nos livros de Baruc, Ezequiel e Daniel.
NOTA 4: No livro de Ezequiel é mencionado um rei de Tiro que era inimigo de Judá, e foi atacado por vários anos pelos exércitos de Nabucodonosor. O nome do monarca não é citado, mas os historiadores apontam que possa ter sido Hirão II, pois em seu reinado a cidade de Tiro foi destruída pelos babilônios.
NOTA 5: No livro de Ezequiel, Magog é referido como um reino bárbaro e governado pelo rei Gog, que também era príncipe de Meseque e Tubal. Porém, em outros livros bíblicos Magog, Meseque e Tubal são nomes de alguns homens, não o nome de lugares. Existem dúvidas se Gog realmente teria sido um governante real ou apenas um monarca fictício para servir de exemplo para o relato de Ezequiel. Exemplo esse reaproveitado no livro de Apocalipse.
NOTA 6: No livro de Daniel é citado brevemente o rei Astiages (610-540 a.C) último monarca dos Medos, que foi destronado por Ciro, o Grande.
NOTA 7: Alguns Herodes citados no Novo Testamento não foram reis, mas governadores (tetrarcas) como o caso do pai e tio de Salomé, os quais ambos se chamavam Herodes. Neste caso, ela é lembrada por ter mandado matar o profeta João Batista.
NOTA 8: Herodes Agripa II na prática era um governador (tetrarca) que usava o título de rei em caráter simbólico, pois ele era vassalo dos imperadores romanos. Sendo assim, seu longo governo que vai de 48 até sua morte em 92 ou 100, deve ser visto como um mandato de governador.
Fonte:
Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista e ampliada. 12a reimpressão [2017]. São Paulo, Paulus, 2002.
Referências bibliográficas:
FREEDMAN, David Noel (ed.). The Anchor Yale Bible Dictionary. New York, Doubleday, 1992.
KASCHEL, Werner; ZIMMER, Rudi. Dicionário da Bíblia Almeida. 2a ed. Baueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
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