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Leandro Vilar

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

A mandrágora: uma planta mágica

Uma das plantas mais famosas associadas a práticas mágicas e lendas é a mandrágora, cujo seu uso remonta aos tempos antigos, assim como, lendas a ela associadas. A ideia de que a mandrágora sempre foi considerada uma planta que gritaria, não é tão antiga, além disso, dependendo da época, lugar e do referencial, os usos dados a mandrágora poderiam ser benéficos ou maléficos. 

A planta

Mandrágora consiste num gênero botânico que possui algumas espécies, sendo nativas da Eurásia. A mais comum é a Mandragora officinarum (chamada no passado de Atropo mandragora). Em geral as mandrágoras são plantas perenes, de folhas em formato de sino, cuja aparência lembra a folhagem da couve. São plantas de dimensões pequenas e rasteira, tendo belas flores, normalmente em tons de lilás. Seus frutos são do tipo baga, possuindo coloração amarela, verde, laranja e vermelha. 

Exemplar de mandrágora. 

Embora as folhas, flores e frutos da mandrágora sejam usados desde a Antiguidade para fins medicinais ou mágicos. Entretanto, a parte mais famosa dessa planta consiste em sua raiz. As mandrágoras possuem raízes que lembram a mandioca, a macaxeira, a batata, a cenoura. Entretanto, em alguns casos as raízes da mandrágora se assemelhavam ao formato humano, por isso, o surgimento das lendas e seu papel na magia. Porém, a ideia de que toda raiz teria um formato humanoide é errada. Isso a ficção e as lendas popularizaram ao extremo. Em muitos casos as raízes dessa planta não tem essa aparência. 

Na Europa medieval surgiu a lenda de que mandrágoras se originariam do sêmen de homens enforcados, por isso, suas raízes terem forma humanoide. Além disso, outras lendas diziam que as raízes de mandrágora gritariam ao serem arrancadas da terra, assim para uma pessoa evitar morrer, usava-se um cachorro, o qual era preso a planta e ao correr ele arrancaria a raiz, recebendo toda a carga do grito, vindo a morrer. Depois disso a pessoa poderia recolher a raiz em segurança. 

Pintura medieval representando um homem tapando os ouvidos, enquanto usa um cachorro para arrancar a raiz de uma mandrágora. Para o animal não fugir, ele é enganado com uma tigela de comida. 

Elementos mágicos

O uso da mandrágora para fins medicinais e mágicos gira entorno da ambiguidade. Desde a Idade Antiga há relatos entre os gregos, romanos, egípcios, persas, hebreus, árabes e outros povos falando bem ou mal dessa planta. Uns apontavam que suas raízes, frutos e folhas eram tóxicos, sendo utilizados para o preparo de venenos. Outros comentam que até a ingestão dessas partes poderia causar vômitos, diarreia e outros problemas de saúde. Porém, devido as lendas surgidas sobre essa planta, especialmente suas raízes, há relatos que recomendavam seu uso para prepará-lo de medicamentos. 

O uso medicinal poderia advir da condição de que algumas substâncias da mandrágora empregadas em baixa dosagem ajudavam a aliviar algumas dores. O problema é que acertar a dosagem era a questão, fato esse que os remédios feitos com essa planta tendiam a gerar efeitos colaterais como dores, náuseas, tontura, febre, alucinação e convulsões. Em altas doses poderia levar até a morte. Na prática não há um uso seguro da raiz, folhas e frutos da mandrágora para fins medicinais, pois suas propriedades químicas podem causar alucinações se ingeridas ou absorvidas pela pele e suas mucosas através de pastas ou unguentos. Por conta disso, praticantes de magia faziam uso dessa planta para terem visões. (CAMPOS, 2014, p. 6).

Os gregos, romanos, egípcios, hebreus e chineses receitavam o consumo de mandrágora para tratar de problemas de fertilidade, esterilidade, mas também outras doenças variáveis. Sobre isso, Guerrino (1959, p. 5) escreveu que o médico Hipócrates (460-370 a.C) dizia que em pequenas doses ela servia de calmante, já o filósofo Aristóteles (384-322 a.C) escreveu que seu consumo poderia causar entorpecimento ou sono, a depender da dosagem ministrada. Plínio, o Velho (23-79 a.C) relatou o uso de mandrágora misturada com azeite e vinho para tratar dores nos olhos. Celso a recomendava para tratar dores de cabeça, no quadril, no fígado, no baço; falta de ar (dispneia), ulcerações, inflamações uterinas etc. Nota-se por esses dois exemplos como não havia um consenso para os usos medicinais da mandrágora, pois por ser tratada como planta mágica lhe era atribuída uma suposta utilidade para muitos problemas de saúde. (GUERRINO, 1959, p. 5-6). 

Raízes de mandrágora num manuscrito grego do século VII. 

A planta também poderia ser utilizada para preparo de poções do amor e até como contraveneno. Ironicamente sabe-se do emprego de mandrágora para fins de envenenamento. O general romano Cipião, o Africano teria mandado envenenar com mandrágora o vinho dos cartagineses, gerando alucinações e náuseas nos soldados que o consumiram. Apesar de haver dúvidas se ele teria obtido sucesso nesse intento, realmente sabe-se que esses são efeitos colaterais causados pela ingestão de extrato de raiz de mandrágora. (GUERRINO, 1959, p. 4).

A recomendação da mandrágora como sonífero é algo que marcou diferentes épocas. Aristóteles citou isso, depois Oribásio (325-403), Isidoro de Sevilha (c. 560-636), Avicena (c. 980-1037), entre outros eruditos receitavam a ingestão de raiz de mandrágora misturada ao vinho ou numa poção para ajudar a dormir. (GUERRINO, 1959, p. 6).

No período medieval a mandrágora foi difundida em vários países europeus, havendo relatos positivos e negativos sobre ela. No caso dos séculos XII ao XV, é comum a abundância de relatos associando a mandrágora com a feitiçaria e a bruxaria, condições que a tornavam algo no mínimo suspeito. Neste caso, a planta, em especial sua raiz, era utilizada para diferentes tipos de poções, mas geralmente eram poções associadas com a fertilidade e o amor, sendo recomendada como afrodisíaco. (CAMPOS, 2014, p. 6).

Pedaços de raiz de mandrágora foram usados na Idade Média como amuleto de sorte e até para combater a infertilidade feminina e masculina, pois ao invés de se ingerir tal substância devido a sua nocividade, algumas pessoas optavam pela crença mágica dos amuletos de proteção e fertilidade. (GUERRINO, 1959, p. 4).

Pintura de 1500 mostrando as supostas versões masculina e feminina das raízes de mandrágora. 

De acordo com alguns estudiosos dos séculos XV e XVI, para a eficácia das poções e unguentos de mandrágora ser maior, deveria se observar se a raiz seria masculina ou feminina. Isso se dava especialmente no contexto de preparo de poções voltadas para fins de fertilidade e de amor. 

Referências bibliográficas:

CAMPOS, Luciana de. Mandrágora: a planta das bruxas. Notícias Asgardianas, vol. 6, 2014, p. 4-9. 

GUERRINO, Antonio Alberto. Historia de la mandragora. Medicina & Historia, fascículo LIV, 1959, p. 4-15.

NOTA: No livro Harry Potter e a Câmara Secreta (1998), mandrágoras realmente gritam quando são removidas da terra. No caso das adultas elas podem matar uma pessoa, mas as bebês causam desmaio. O momento se tornou icônico no filme. 

NOTA 2: Nicolau Maquiavel escreveu uma peça cômica chamada A Mandrágora (1524), a qual ele satiriza a sociedade florentina. 

NOTA 3: No jogo Odin Sphere (2008) existem diferentes tipos de mandrágoras, que são raízes que se movem. Elas possuem distintas propriedades mágicas, sendo usadas para o fabrico de poções e até no preparo de alimentos. 

NOTA 4: Em diferentes jogos as mandrágoras são utilizadas para o preparo de poções. 

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