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Leandro Vilar

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Nikola Tesla, o gênio renegado

Tesla foi um dos maiores gênios da humanidade entre os séculos XIX e XX, homem de engenho estupendo, era uma mente inventiva a frente de seu tempo, desenvolvendo diversas tecnologias e até aprimorando outras. Apesar de sua genialidade, nem todos o admiravam, mas tinham inveja dele, por conta disso, Tesla ganhou inimigos que tentaram minar sua reputação e até prejudicaram seu trabalho. Neste texto conheceremos um pouco da história desse gênio que acabou sendo renegado e quase esquecido. 

Retrato de Nikola Tesla em 1890. 

Nascimento e juventude

Nikola Tesla nasceu em 10 de julho de 1856 no vilarejo de Smiljan, na época, parte do Império Austríaco, atualmente território da Croácia. Apesar disso, Tesla não era nem austríaco e nem croata, mas sérvio. Seu pai era Milutin Tesla (1819-1879), um padre ortodoxo que se casou com Duka Mandíc (1822-1892), filha de um padre também e descendente de uma família de artesãos e fabricantes de ferramentas. Tesla era o quarto filho de um total de cinco, sendo seu irmão mais velho chamado Dane, enquanto os demais filhos eram três mulheres de nome Milka, Angelina e Marica. Seu irmão mais velho morreu num acidente de cavalo, quando Tesla tinha cinco anos, fazendo conviver pouco com este e crescer ao lado das irmãs. (O'NEILL, 2007, p. 9).

Tesla foi estudar na escola local de Smiljan, sendo alfabetizado, aprendendo matemática básica e aspectos da doutrina ortodoxa. Em 1862 seu pai conseguiu um emprego como pároco em Gospic Lika, mudando-se com a família para lá. Tesla realizou seus estudos do ensino fundamental por lá. Já adolescente, em 1870 foi enviado para estudar o ensino médio em Karlovac, tendo conseguido ingressar no Ginásio Real Superior, onde as aulas eram lecionadas em alemão, o que ajudou Tesla a aprender outra língua. (O'NEILL, 2007, p. 19-23).

Ainda na infância e adolescência, Nikola Tesla mostrava uma grande curiosidade por investigar o mundo, explorar a natureza e fazer experimentos, desde coletar insetos, como brincar com objetos, água, fogo etc. Percebe-se que o menino desde cedo tinha o interesse por ciência. Hoje cogita-se que Tesla poderia ser considerado uma criança superdotada, conceito desconhecido naquele tempo. 

Durante o ensino médio ele passou a se interessar por matemática e física, desenvolvendo a pretensão de seguir carreira como engenheiro. Além disso, nesse tempo ele começou a ler os livros de Mark Twain (1835-1910), popular escritor americano de livros de aventura como Tom Sawyer (1876) e As Aventuras de Huckleberry Finn (1885). As obras dos dois meninos se aventurando pelo interior dos Estados Unidos, fascinaram o jovem Tesla pelos anos seguintes, tornando-se alguns de seus livros prediletos. (O'NEILL, 2007, p. 30).

Em 1873 ele concluiu a escola e voltou para casa, onde foi acometido de cólera e ficou gravemente doente por meses, chegando perto de morrer. Antes de isso acontecer, seu pai Milutin cogitava enviar o filho para o seminário, para que ele se tornasse padre, mas Tesla não tinha interesse na carreira do sacerdócio, assim, após se recuperar, seu pai decidiu atender o pedido do filho, o qual disse querer estudar engenharia. (O'NEILL, 2007, p. 31).

No ano de 1874, tendo melhorado da cólera, Tesla teria que se alistar no exército, mas ele não queria servir, então saiu de casa, indo para Tomingaj, passando a ajudar caçadores e lenhadores, vivendo aventuras pela floresta, enquanto ele disse que seguia lendo os livros de Twain, que lhe faziam companhia e bem-estar para sua mente. Tesla permaneceu vários meses ali até que em 1875 voltou para casa e de lá seguiu para cursar a faculdade de engenharia no Politécnico Austríaco em Graz, onde se destacou por ser um aluno pontual, assíduo e tirar excelentes notas, pelo menos no primeiro ano da faculdade, mas a realidade mudaria drasticamente. (SEIFER, 2001). 

Jovem sem-rumo

Tesla acabou se envolvendo com jogos de cartas e sinuca, onde jogava fazendo apostas, se tornando indisciplinado e perdendo dinheiro, o que o levou a perder sua bolsa de estudos. Seu pai sabendo disso, lhe cortou a mesada durante o terceiro ano da faculdade. Sem conseguir dinheiro e trabalho, Tesla abandonou o curso de engenharia em 1878, mas não voltou para casa, devido a vergonha de encarar sua família e dizer a eles que desistiu do curso por conta do vício em jogo e apostas. Assim, ele mudou-se para Maribor, conseguindo um emprego de desenhista e fazendo alguns "bicos", mas nessa época ele ainda tinha problemas com o jogo. (SEIFER, 2001). 

Seu pai viajou a Maribor para pedir que o filho voltasse para casa, mas ele se negou. Tempo depois teve um colapso nervoso e foi enviado para sua casa em 1879, no mesmo ano seu pai faleceu aos 60 anos. Naquela época Tesla tinha 23 anos, estava desempregado, não concluiu o curso de engenharia, tinha problemas com o vício em jogos de apostas e se recuperava de um colapso nervoso. Ainda naquele ano ele conseguiu o emprego como professor numa escola local, até que alguns tios compadecidos dele, lhe enviaram dinheiro para ele ir estudar na Universidade Carolina, porém, como ele não sabia tcheco, tampouco se recusou a estudar grego (que era disciplina obrigatória), Tesla não se matriculou, aproveitando o dinheiro dos tios, ele assistia aulas aleatórias na universidade, como as de física, matemática, engenharia e filosofia. Mas quando o dinheiro começou a escassear, ele mudou-se para Budapeste, indo atrás de emprego. (O'NEILL, 2007, p. 39-40). 

Em Budapeste ele passou a trabalhar na Central Telefônica de Budapeste, fundada por Tivadar Puskas (1844-1893), inventor húngaro que conseguiu subsídio do governo para instalar o telefone na capital. Inicialmente Tesla atuou como desenhista e no escritório, depois ele foi transferido para o cargo de eletricista, o qual lhe agradava mais, pois ali ele poderia interagir com as máquinas e aparelhos que lhe fascinavam. Graças ao seu bom desempenho como eletricista, em 1882, Puskas o enviou para trabalhar na Societè Eletcrique Edison, uma subsidiária francesa da Continental Edison Company, sediada em Paris. Na capital francesa ele passou a trabalhar com a instalação da rede elétrica de alguns bairros, o que o levou a trabalhar em projetos de aperfeiçoar o aparato elétrico, baseado nos inventos de Thomas Edison. (CARLSON, 2013, p. 63).

Os primeiros anos nos Estados Unidos

Thomas Alva Edison (1847-1931) já era um respeitado e rico empresário americano no final do século XIX, tendo criado empresas para fazer instalações elétricas nos Estados Unidos e em alguns países europeus como a França. Edison que ficou famoso por inventar uma lâmpada incandescente que era duradoura e poderia ser produzida em massa, despontava como o magnata da eletricidade, assim, para Tesla, o qual era interessado por eletricidade, trabalhar para a maior empresa do ramo naquele tempo, seria o sonho. 

No ano de 1884 o gerente de Tesla, o senhor Charles Batchelor foi transferido para a Edison Machine Works, em Nova York, ele solicitou que o jovem Nikola Tesla fosse junto, pois ele fez um excelente trabalho na filial francesa. Embora Tesla nunca tenha concluído a universidade por problemas envolvendo o vício em jogo, ele nunca foi um aluno de tirar notas ruins o incompetente para o curso. (CARLSON, 2013, p. 64).

Sede da Edison Machine Works, em Nova York, no ano de 1881. 

Mas a estadia de Tesla na Edison Machine Works foi breve. Ele trabalhou cerca de seis meses ali. Apesar de seu potencial e esforço, Tesla era considerado apenas como um eletricista acima da média, mesmo tendo trabalhado duro nesse período, consertando geradores e bobinas, fazendo instalações elétricas, com direito a trabalhar até mais de oito horas diárias e ao longo da madrugada. Não se sabe o motivo pelo qual ele pediu demissão exatamente, pois ele nunca o contou, mas possívelmente esteja associado com as bonificações nunca pagas, inclusive ele chegou a dizer que Edison teria prometido pagar 50 mil dólares por um conjunto de baterias que ele estava desenvolvendo, mas Edison disse que era apenas piada; sobrecarga de trabalho e o valor de ele não ser reconhecido.  (JONNES, 2004, p. 109-110).

Ainda no ano de 1885, Nikola Tesla decidiu patentear alguns de seus inventos, como alguns geradores que ele desenvolveu e o uso do sistema de iluminação de arco, além de outras invenções que ele desenvolveu nos últimos anos enquanto trabalhou nas empresas de Thomas Edison. A ideia que Tesla tinha era conseguir patrocinadores para investir em seus inventos e graças a ajuda do advogado de patentes Lemuel W. Serrell, ele conseguiu o contato de dois empresários interessados. 

Dessa forma os empresários Robert Lane e Benjamin Veill se interessaram pelos inventos de Tesla e acharam tudo aquilo promissor, então eles investiram capital e abriu uma empresa chamada Tesla Electric Light and Manufacturing, para ele projetar sistemas elétricos para ruas e fábricas. Não era exatamente o que Tesla queria, pois basicamente ele retomou o trabalho que fazia na empresa de Edison, a diferença que ele agora era o diretor da companhia, mesmo assim, ele gostava de trabalhar ao lado dos eletricistas e operários. Entretanto, Tesla acabou tendo problemas como seus sócios em 1886, ao notar que seu salário era demasiadamente baixo para seu cargo, além de que a promessa de ele receber parte das ações da empresa demorou a se realizar e quando ele as recebeu, o valor era mais baixo do que esperado. Tesla notando que Lane e Veill se aproveitaram dele, abandonou a companhia. (JONNES, 2004, p. 111-112).

Após sair da empresa que levava seu nome, a qual foi fechada em seguida, Tesla viveu meses difíceis entre 1886 e 1887, estando desempregado, sem endereço fixo, tendo que recorrer a pousadas e hospedagens baratas, tendo que passar fome algumas vezes. Por ser imigrante e falar um inglês ainda ruim e carregado de sotaque, Tesla teve dificuldades de arranjar emprego; além disso, ele não tinha amigos e nem familiares ali. Em seu diário ele relatou que viveu um ano fazendo trabalhos diários e quando surgiam. Para Tesla, aquele foi o pior ano de sua vida. Mas a realidade somente melhoraria um pouco em 1887. (O'NEILL, 2007, p. 54). 

Era inverno de 1887, Tesla ainda estava sem emprego fixo e trabalhava como escavador de valas, e ele aproveitava para conversar com os outros trabalhadores, falando de sua experiência como eletricista e até dizendo que havia patentes registradas, um capataz ouviu aquilo e contou ao seu chefe, o senhor Alfred K. Brown, o qual trabalhava para a Western Union Telegraph Companion, uma das maiores empresas de telégrafos do país e do mundo. Brown ouviu algumas ideias de Tesla, especialmente as sobre novas baterias, motores, geradores e o uso da corrente alternada, então ele decidiu investir capital nos projetos de Tesla, chamando seu amigo o advogado Charles F. Peck; assim, os dois montaram um laboratório para ele no sul da Fifth Avenue (atual West Broadway). Ironicamente o local ficava situado algumas quadras da Edison Machines Works, onde dois anos antes Tesla sugeriu a Edison investir na corrente alternada, mas ele se negou, dizendo que era muito perigosa e cara. (O'NEILL, 2007, p. 54). 

Até então a rede elétrica na maioria dos países era baseada na corrente contínua (CC), considerada mais segura e barata, inclusive amplamente difundida por Thomas Edison. Essa corrente opera com cargas positivas ou negativas, sem misturar elas. No entanto, a CC possui suas limitações, sendo recomendada principalmente para instalações de baixa tensão, pois quando se parte para a alta tensão ela se torna ineficiente e acaba saindo mais caro para compensar isso. Assim, Tesla apontava em seus estudos e experimentos que usinas de energia, usinas de transmissão, grandes geradores, motores e alternadores, deveriam fazer uso da corrente alternada (CA), pois era um processo mais eficiente, pois a corrente a cada tantos segundos alternava entre positivo e negativo, e não saia tão caro como Edison e outros apoiadores da CC alegavam. Todavia, essa disputa só iria piorar com o tempo, como será visto adiante. 

Patente EUA 381, 968 mostrando um motor de indução baseado na corrente alternada. A patente foi desenvolvida por Tesla e registrada em 1887. 

O início da Guerra das Correntes

O termo Guerra das Correntes refere-se a disputa comercial para se implantar nos Estados Unidos o uso de sistemas elétricos baseados na corrente alternada. Entretanto, no país vigorava os sistemas operantes em corrente contínua, os quais inclusive usavam as patentes de Thomas Edison, o que lhe garantia monopólio sobre a eletricidade do país. Logo, vendo que a CA se tornava uma ameaça, nem tanto por Tesla, que ainda seguia sendo um inventor desconhecido, mas sim por conta do empresário George Westinghouse (1846-1914), que atuava na indústria elétrica e vinha fazendo nos últimos anos campanha pela adoção da CA no país. 

O empresário George Westinghouse investiu no potencial de Tesla. 

No ano de 1888 o trabalho de Nikola Tesla começou a receber reconhecimento. Na época ele contava com seus 32 anos e foi convidado a palestrar sobre seus inventos e o uso da corrente alternada no Instituto Americano de Engenheiros Elétricos, em 16 de maio. Tratou-se da primeira palestra acadêmica de Tesla, em que ele finalmente estava diante de outros doutores e estudantes de engenharia elétrica e engenharia mecânica. Durante sua palestra, alguns dos presentes trabalhavam para a Westinghouse Electric & Manufacturing Company e esses ficaram entusiasmados com as patentes de Tesla e contataram o senhor Westinghouse, o qual se mostrou bastante interessado e fez negócio. (O'NEILL, 2007, p. 57). 

Tesla e seus sócios Brown e Peck fecharam acordo para produzir motores e transformadores polifásicos de corrente alternada para a empresa de Westinghouse que ofereceu 60 mil dólares por tudo. Além disso, ele contratou Tesla como consultor em 1888, lhe pagando um salário de 2 mil dólares por mês, valor bastante alto para o período. Assim, Tesla se mudou para Pittysburg para instalar um sistema de CA para mover os bondes elétricos da cidade, mas acabou não dando muito certo, tendo que se optar pelo uso da CC também. (CARLSON, 2013, p. 110-112). 

As notícias de que a Westinghouse Electric estava investindo na corrente alternada chegaram até Edison e seus sócios e isso provavelmente os irritou e deixou temerosos, pois em 1889 teve início a difusão de notícias em jornais e por boatos de que a CA era não apenas cara, mas instável e insegura, podendo causar curtos-circuitos e até incêndios. Edison e seus apoiadores dava início singelamente a Guerra das Correntes que somente pioraria com o tempo. Entretanto, esse conflito comercial não começou de imediato, apesar de seu anúncio em 1889, pois em 1890, o Banco Barings (1762-1995) entrou em crise em 1890 e quase faliu. Muitas das ações da Westinghouse Electric e parte do seu financiamento vinham desse tradicional banco britânico. Com isso, a empresa teve que cortar gastos e alguns dos projetos de Tesla foram paralisados, o que agradou Edison e os defensores da corrente contínua. (CARLSON, 2013, p. 130-131). 

A bobina de Tesla (1890-1891)

Nikola Tesla teve que encerrar vários projetos em parceria com George Westinghouse devido a crise bancária entre 1890 e 1891, mas depois disso alguns dos projetos foram retomados. Todavia, o dinheiro que ele ganhou entre 1887 e 1890 lhe concedeu segurança financeira. Seu alto salário e à venda de motores, geradores e outras máquinas o ajudou a construir um patrimônio financeiro que lhe deu segurança por vários anos, assim, ele decidiu se dedicar aos seus inventos. Um deles adveio de sua ida a Exposição Universal de Paris em 1889, ano que inclusive foi inaugurada a famosa Torre Eiffel. Lá ele tomou conhecimento dos trabalhos do físico alemão Heinrich Hertz (1857-1894) com o eletromagnetismo e as ondas de rádio, algo que deixou Tesla fascinado. 

Inspirado na bobina de Ruhmkorff, Tesla desenvolveu seu modelo, pois o anterior não suportava um sistema elétrico de carga alternada, levando-o ao superaquecimento e derretimento dos componentes internos. Assim, Tesla passou quase um ano trabalhando no projeto para desenvolver sua própria bobina, valendo-se de separar alguns componentes com uma camada de ar, a qual se aqueceria, mas não danificaria as peças. (CARLSON, 2013, p. 122).

Nikola Tesla testando uma bobina criada por ele. O intuito era mais para espetáculos para fascinar a plateia e atrair potenciais investidores. 

A bobina de Tesla como ficou conhecida inicialmente foi utilizada para exibições de descargas elétricas de alta tensão, pois ela consegue facilmente produzir pequenos raios visíveis ao olho humano, que é algo ainda hoje fascinante para muita gente. Por sua vez, Tesla aperfeiçoou o equipamento patenteando-o em 1891. Sua bobina deixou de ser meramente um experimento para poder ser usada na geração de energia de alta tensão, além de ter sido usada inicialmente para energizar transmissores de rádio e até na eletroterapia com versões compactas. (O'NEILL, 2007, p. 71). 

Porém, um dos planos de Tesla era criar torres de bobinas e fornecer energia elétrica sem fiação, usando-se o princípio do eletromagnetismo para isso. Ele chegou a investir tempo e dinheiro nisso, fazendo até experimentos públicos e dando palestras a respeito. Tesla estava confiante de que a tecnologia poderia ser melhorada a ponto de não se precisar mais de cabos, apenas se instalar estações geradoras com bobinas melhoradas, as quais forneceriam energia elétrica sem fio. Uma ideia bastante ousada e a frente de seu tempo. Atualmente o uso de fornecimento de energia elétrica sem fiação ainda é pouco explorado. Alguns celulares já estão aplicando essa tecnologia. 

A Exposição Universal de Chicago (1893)

Em 1892 Nikola Tesla foi eleito vice-presidente do Instituto Americano de Engenheiros Elétricos, cargo que manteve até 1894, tendo nesse período ganhado apoio de muita gente no instituto e o interesse de outros pelo país por suas ideias sobre corrente alternada, e agora sua obsessão de desenvolver uma tecnologia de transmissão energética sem fio, considerada fascinante por uns, mas para outros era tida como algo impossível. De fato, ambas as reações estavam certas. Realmente era algo estupendo, mas também impossível para ser concretizado de forma eficiente como Tesla sonhava. Apesar disso, ele seguiu insistindo no assunto. 

De qualquer forma, entre 1893 e 1894 ele estava investindo na difusão do uso do sistema polifásico, o qual utiliza três ou mais fases para conduzir energia elétrica numa corrente alternada. A ideia era promissora e estava dando certo, pois conseguia tornar o uso da CA em algo viável. Inclusive ainda hoje o sistema polifásico é utilizado na indústria e em instalações elétricas de alta tensão. 

Dessa forma, a Westinghouse Electric solicitou que Tesla apresenta-se seu novo projeto na Exposição Universal de 1893, que foi realizada em Chicago. Se na exposição de 1889, Nikola Tesla havia participado como espectador, agora ele estava apresentando alguns de seus inventos como suas bobinas, motores de indução, sistema elétrico sem fio e o sistema polifásico, que inclusive foi utilizado para iluminar toda a exposição que durou seis meses. (SEIFER, 2001, p. 120-121). 

Um dos experimentos mostrados por Tesla na exposição de Chicago foi o uso de um "ovo de Colombo" para apresentar os efeitos do eletromagnetismo gerado por um motor de indução de energia alternada. Um ovo feito de cobre e com bobinas no interior, ficava sobre uma plataforma eletromagnética que ao receber a energia, começava a girar no seu próprio eixo. O experimento foi uma sensação na época, inclusive a ideia de que objetos poderiam serem movidos por eletromagnetismo era algo ainda em início de estudo. 

O ovo de Colombo usado por Tesla em experimento eletromagnético durante a Exposição Universal de 1893, em Chicago. 

Ainda durante a exposição universal, Tesla mostrou outro de seus grandes inventos, um gerador a vapor de corrente alternada, também chamado de oscilador eletromecânico. Para ele a expectativa era que aquele gerador fosse uma solução para gerar grandes quantidades de energia para movimentar os circuitos elétricos de um sistema polifásico. A ideia era promissora, mas apresentava alguns problemas como grande barulho, além de causar muita vibração. Inclusive uma lenda urbana mais tarde promovida pelo próprio Tesla, disse que o tremor sentido em Nova York em 1898, foi causado por um dos geradores a vapor em fase de teste. (CARLSON, 2013, p. 181-183). 

Também no ano de 1893, Nikola Tesla prestou consultoria para a Companhia de Construção da Hidrelétrica das Cataratas do Niágara, sendo convidado pelo próprio presidente da empresa, Edward Dean Adams (1846-1931). Na época a hidrelétrica estava em construção e Adams pediu que Tesla lhe apresentasse o melhor projeto para construir os geradores e as instalações elétricas. Ele sugeriu adotar o sistema bifásico de corrente alternada já empregado pela Westinghouse Electric, sua parceira de negócios desde 1888. A ideia foi acatada, mas o irônico é que os direitos de transmissão da energia foram dados a General Electric, pertencente a Thomas Edison. (O'NEILL, 2007, p. 85-86). 

Experimentos com raio-x (1894-1896)

Um fato curioso é que no ano de 1894, Mark Twain, o escritor preferido de Tesla, foi visitar seu laboratório na Quinta Avenida. Tesla relatou que foi uma grande honra receber Twain, que por sua vez, ficou fascinado com os inventos tecnológicos do inventor sérvio. 

Fotografia de 1894 mostrando Mark Twain segurando um dos inventos de Tesla, enquanto esse o observa ao lado. 

Além da visita de Twain, o ano de 1894 foi marcado pelo início das pesquisas de Tesla sobre a radiação, nessa época o raio-x ainda não havia sido descoberto e a radiação era ainda mal compreendida. Apesar disso, Tesla como outros pesquisadores faziam uso dos tubos de Crookes para estudar os raios catódicos. Em 1895 o o físico alemão Wilhelm Röntgen (1845-1923) realizando estudos com o tubo de Crookes, veio a descobrir o raio-x. 

A notícia foi divulgada nos meses seguintes, Tesla sabendo agora sobre a descoberta, retomou suas próprias pesquisas, chegando a tirar um raio-x de uma de suas mãos. Entretanto, ele depois acabou abandonando o interesse devido ao risco dos experimentos, afinal, a radiação ainda era desconhecida, Henri Becquerel começou a estudá-la em 1896 e nos anos seguintes foi se descobrindo seus riscos à saúde. O próprio Tesla chegou a relatar em suas anotações que sofreu algumas pequenas queimaduras e mal-estar durante os experimentos com raio-x. (CHENEY, 2001, p. 134-136). 

The Nikola Tesla Company (1895)

Com o sucesso obtido em 1893 com a Exposição Universal de Chicago, Tesla ganhou vários pedidos de compra de motores, geradores e outros maquinários, além da venda de licenças de patentes e convites para se tornar sócio de empresas de energia elétrica. Um dos interessados foi Edward Dean Adams da hidrelétrica das Cataratas do Niágara. Adams investiu dinheiro ao lado dos dois sócios de Tesla, Brown e Peck, e depois outros investidores entraram em cena, assim, em 1895 foi fundada a Nikola Tesla Company com o intuito de desenvolver maquinário, aparelhos e patentes para o desenvolvimento da eletricidade. (CARLSON, 2013, p. 206). 

Todavia, a nova empresa sofreu um duro golpe naquele ano. O laboratório da Quinta Avenida pegou fogo, o incêndio foi tão intenso que quase todo o prédio ruiu. A maior parte dos inventos, aparelhos, maquinário, anotações e materiais foram perdidos. Inclusive muita coisa que Tesla havia usado na exposição universal foi destruído pelas chamas. 

O rádio controle (1898)

Interessado em conseguir acordos com as Forças Armadas, Tesla desenvolveu um dispositivo experimental controlado por ondas de rádio de curta distância. A ideia era produzir torpedos teleguiáveis por controle remoto, o que ajudaria bastante a Marinha. Ele chamou seu invento de telautomaton. Uma amostra feita com um barco controlado remotamente foi uma sensação em Nova York, mas para a infelicidade de Tesla, a Marinha e o Exército não tiveram interesse no invento. Ele ainda insistiu por mais algum tempo, mas a ideia foi abandonada. (CARLSON, 2003, p. 231). 

O protótipo de barco movido a rádio controle, criado por Tesla em 1898. 

O telautomaton foi o primeiro projeto de Tesla pensando no interesse militar e planejado para se tornar uma arma, pois o pequeno barco a controle remoto atuaria como um torpedo ou um barco-bomba. A ideia apesar de fantástica para a época acabou se concretizando mais tarde. Atualmente temos drones e mísseis teleguiados, mesmo que não usem sinais de rádio como proposto por Tesla, mas a ideia de serem armas operacionalizadas remotamente, segue o mesmo princípio. 

Laboratório no Colorado Spring (1899-1900)

Ainda interessado em aperfeiçoar sua tecnologia de condução elétrica sem fio, utilizando o ar como condutor elétrico, Tesla decidiu investir pesado nisso, para isso, ele resolveu construir um laboratório numa montanha, o local escolhido foi Colorado Springs, uma pequena cidade distante mais de dois mil quilômetros de Nova York. Todavia, ele não possuía dinheiro para isso, então foi pedir investimentos, o escolhido foi o milionário empresário John Jacob Astor IV. Tesla o conhecia, pois frequentava alguns de seus hotéis luxuosos. No caso, Astor ficou interessado e investiu 100 mil dólares para construir o laboratório de Tesla, o valor bastante alto para época, hoje passaria dos milhões. 

Laboratório de Tesla em Colorado Springs, 1899. 

Graças ao dinheiro de Astor IV, o laboratório foi construído rapidamente. Uma subestação de energia de El Paso, cidade próxima, forneceu a energia em corrente alternada para as pesquisas de Tesla. Ali ele construiu grandes bobinas, motores e geradores para projetar raios a fim de estudar a transmissão elétrica sem fio, mas também tentar criar um telégrafo sem rio, além de estudar ondas de rádio e outras coisas. Tesla estava tão obcecado com isso que chegou a dizer algumas vezes para alguns jornalistas que teria supostamente captado transmissões de rádio estranhas, que poderiam advir de fora do planeta. (SEIFER, 1998, p. 220-221). Na época, a ideia de vida inteligente em outros planetas estava em alta. Bastante lembrar que o livro Guerra dos Mundos (1897), tinha sido lançado dois anos antes. 

Os estudos de Tesla gerando milhares de megavolts foram conduzidos ao longo de meses a ponto de fritar os geradores da subestação de El Paso. Apesar desse contratempo, Tesla aproveitou em 1900 para voltar a Nova York. Ele precisava de mais dinheiro para um novo projeto ousado: construir uma torre para gerar energia sem fio, com intuito de iluminar parte da cidade de Nova York. 

A Torre de Wardenclyffe (1901-1906)

Em 1901 de volta a Nova York, Tesla se reuniu com potenciais investidores, permitindo que eles comprassem várias ações da sua empresa, assim como, vendeu direitos de uso de algumas de suas patentes e outras autorizações. Um dos seus principais investidores foi John Pierpont Morgan (1837-1913), rico banqueiro e empresário, conhecido por financiar muita coisa. O valor arrecadado foi maior do que o investido no laboratório no Colorado Springs. Assim, em posse de 150 mil dólares, Tesla comprou um terreno em Wardenclyffe, em Long Island, a alguns quilômetros de Nova York. (CARLSON, 2013, p. 314). 

A ideia de Tesla era que sua torre permitiria ser usada para transmissão de telégrafo sem fio, algo que ele pretendia ser inovador, mas seu concorrente o físico e inventor Guglielmo Marconi (1874-1937) conseguiu realizar uma transmissão a distância antes dele, transmitindo um sinal de Londres a Terra Nova no Canadá. Aquilo irritou Tesla como ele relatou em seus escritos, inclusive ele considerava Marconi um oportunista por ter copiado suas ideias. De qualquer forma, a torre que Tesla pretendia construir não serviria apenas para o telégrafo, mas para se tornar um condutor de energia elétrica de corrente alternada sem fio. (CARLSON, 2013, p. 315). 

A torre de Tesla em Wardenclyffe, em 1904. Um dos maiores fracassos de Tesla. 

A torre foi inaugurada em 1902, tendo mais de cinquenta metros de altura. Tesla se mudou com seu laboratório para lá, a fim de tornar a torre operacional o quanto antes. O problema é que embora Tesla fosse genial, em alguns casos suas ideias eram demasiadamente loucas. Ele tinha a pretensão de que até final de 1903 ele conseguiria fazer uma transmissão de energia sem fio através do Atlântico para a Europa. O problema é que isso era impossível e ainda hoje segue impossível. Com o término de 1903, somado a propaganda negativa feita por Thomas Edison contra a corrente alternada, Tesla começou a se ver em apuros novamente. 

Era o ano de 1904 e a torre ainda não estava operante. Tesla solicitou mais dinheiro para Morgan e outros investidores, mas esses começaram a negar, pois acreditavam que a ideia de transmitir energia elétrica sem fio ainda não era possível de ser feita. No ano de 1905 Tesla estava bastante endividado. O laboratório no Colorado Springs havia sido paralisado. Astor IV procurava por retorno de seu investimento alto. Além disso, Tesla havia contraído uma dívida elevada no Hotel Waldorf-Astoria. Soma-se a isso, que ainda em 1905, J. P. Morgan disse que não colocaria mais nenhum dinheiro no projeto da torre de Tesla, se não tivesse nenhum resultado eficiente. Para piorar a situação, sem conseguir investimentos para continuar com sua pesquisa e necessitando pagar as dívidas, Tesla vendeu a torre e o terreno de Wardenclyffe e voltou para Nova York. Inclusive nessa época ele passou mal e teve um colapso nervoso novamente, ficando acamado por algum tempo. (CARLSON, 2013, p. 317-320). 

A crise da Guerra das Correntes (1903)

O ano de 1903 foi problemático para a reputação de Nikola Tesla, o qual já vinha passando por problemas com seus projetos em Wardenclyffe. Naquele ano Thomas Edison agiu de forma bastante desleal e canalha. Anteriormente ele havia pedido para alguns funcionários eletrocutarem animais de rua como cães e gatos, mas também vacas e cavalos, mostrando que a corrente alternada era bastante perigosa porque concederia choques, pois a corrente contínua não causaria isso. A tortura e matança desses animais eram realizadas esporadicamente pelas praças e ruas de Nova York. Porém, o ápice dessa crueldade ocorreu no começo de 1903. 

Em 4 de janeiro de 1903 a equipe de Edison decidiu fazer um experimento com energia elétrica gerada por uma corrente alternada, mostrando os perigos da mesma. Eles iriam eletrocutar a elefanta de circo chamada Topsy (c. 1875-1903). Naquele tempo, já se cogitava matar Topsy, pois no ano anterior ela num ataque de fúria matou um espectador e já havia atacado alguns membros do circo. Logo, o dono do Luna Park, o qual Topsy pertencia, aceitou em troca de dinheiro, ceder a elefanta para o terrível teste. 

A elefanta Topsy foi eletrocutada até a morte em 1903, por conta da Guerra das Correntes. 

Uma equipe da Edison Manufactiring gravou a execução que ocorreu em Coney Island, o ato virou um curta-metragem intitulado Electrocuting an Elephant, que foi vendido na época. O vídeo pode ser achado facilmente hoje em dia. Na ocasião Topsy havia sido envenenada anteriormente, porém, o choque que ela recebeu foi tão alto, que ela morreu em menos de dois minutos. Houve protestos na época por conta do alto, mas como Topsy já havia sido condenada a morte, o caso foi abafado. No entanto, após esse ato cruel, a empresa de Edison parou de executar animais. 

A turbina de Tesla (1906)

Tentando se recuperar do fracasso da torre em Wardenclyffe, ele desenvolveu o projeto de uma turbina sem pás, que utilizaria gases para mover a turbina. Baseado na mecânica de fluídos, Tesla esperava aperfeiçoar essa tecnologia, com a qual ele trabalhou nela pelos anos seguintes, se tornando inclusive seu ganha pão até pelo menos 1922. Condição essa que seu projeto acabou até dando certo, levando-o a criar vários modelos, alguns foram utilizados em fábricas e hidrelétricas como a Hidrelétrica de Waterside em Nova York, onde foram instaladas turbinas de Tesla entre 1910 e 1911. (SEIFER, 1998, p. 397-398). 

Uma turbina de Tesla. 

Dívidas, Nobel esnobado e processos (1915)

A situação para Tesla piorava, mesmo tendo conseguido dinheiro e investimentos por conta de suas turbinas, Tesla ainda tinha várias dívidas. Além disso, seus investidores anteriores estavam mortos. Morgan morreu 1913, e seu filho se recusou a patrocinar Tesla, considerando suas ideias loucas. Westinghouse, que foi seu investidor por vários anos, faleceu em 1914. Astor IV não queria mais saber de Tesla após o fiasco no Colorado e em Long Island. Outros de seus apoiadores também haviam desistido de lhe dar dinheiro. 

A situação piorou um pouco, pelo menos em termos pessoais e emocionais, quando na premiação do Nobel de Física de 1915, não foi concedido a ele. Na época surgiu um boato que naquele ano o prêmio seria dado a Tesla e Edison, isso até chegou a ser noticiado em alguns jornais ingleses e americanos, mas a associação do Nobel desmentiu rapidamente isso. O prêmio foi dado para William Henry Brigg e seu filho William Lawrence, pelos seus estudos com estruturas de cristais a partir do uso do raio-X. Na época teve gente que achou ruim Tesla não ter vencido. Inclusive ele nunca ganhou nenhum prêmio Nobel, embora tenha sido indicado. (CHENEY, 2005, p. 240). 

Endividado e esnobado, Tesla tentou conseguir dinheiro processando o italiano Marconi, alegando que ele teria plagiado suas ideias quanto ao telégrafo sem fio. Todavia, os tribunais americanos consideraram as acusações infundadas. Marconi já havia apresentado uma patente do projeto em 1897, registrada outra em 1900 nos Estados Unidos, e em 1903 já estava trabalhando com comunicação a rádio. A tentativa de Tesla de conseguir algum dinheiro por isso falhou. Após tal acontecimento, ele começou a trabalhar em pequenos projetos para diferentes empresas. 

Os anos renegados (1918-1930)

Durante quase quinze anos Nikola Tesla passou a vida renegado por distintos fatores. Com o término da guerra, ele falhou em conseguir acordos com as Forças Armadas para comprar seus inventos, além disso, a crise financeira que havia se iniciada na década anterior ainda perdurava, Tesla contraiu dívidas de aluguel, conta de luz, conta de água, telefone, salários atrasados, diárias dos hotéis etc. Por conta disso, seu nome ficou sujo na praça, como costuma-se dizer. 

Somando-se a isso, ele perdeu oportunidades de negócios e voltou a ser renegado por seus opositores. Seu grande investidor, George Westinghouse faleceu em 1914, além de que sua empresa começou a não ganhar mais contratos e ficar financeiramente comprometida. Tesla também deixou de ser convidado regularmente para palestras e eventos. 

Entre 1919 e 1922 ele se mudou para Winconsin, onde conseguiu emprego na companhia Allis-Chamers, para aperfeiçoar sua turbina, motores e geradores. Foi um período de equilíbrio para suas finanças e sua saúde mental, já que não esteve totalmente isolado, apesar que mesmo com mais de 50 anos de idade, ele trabalhasse várias horas por dia. Porém, as tentativas de aperfeiçoar as turbinas como ele planejava não deram certo. Tesla vendeu os uso da patente e voltou para Nova York. (SEIFER, 1998, p. 398-399). 

Nessa época, Tesla desenvolveu grande apreço por pombos, passando-os a alimentá-los diariamente. Sua obsessão pelos pássaros foi tamanha que em 1923 ele foi convidado a se retirar do Hotel St. Regis, após um ano em estar morando ali, pois os hóspedes e funcionários reclamavam da aglomeração de pombos em torno da janela do quarto de Tesla e a sujeira que eles faziam ali. Embora tenha mudado de hotel, Tesla decidiu ir alimentar seus companheiros alados nos parques para evitar problemas como os estabelecimentos. Essa prática o acompanhou quase até o fim da vida. (O'NEILL, 2007, p. 349). 

Nesse período de isolamento em seus quartos de hotel, Tesla aparecia pouco publicamente, indo apenas a festas de alguns amigos quando era chamado, ou participava de alguma palestra, entrevista ou ia receber alguma premiação ou homenagem ocasionalmente, diferente da época em que toda semana ele tinha compromisso social. 

Em 1928 ele também chegou a projetar um avião biplano com hélices móveis, que permitiriam ele alçar voo como um helicóptero, porém, o projeto nunca foi construído e tinha alguns problemas aerodinâmicos. Tesla abandonou a ideia. Além disso, sua situação financeira piorou, obrigando-o a ter que fechar seu laboratório na Avenida Madison (o último que restava) e fechar seus escritórios. Somava-se a isso ter que despedir seus empregados. Sua empresa inclusive faliu. Tesla passou a sobreviver do dinheiro que recebia pelo uso de patentes e autorizações que ele concedeu nos últimos anos. (CHENEY, 2001, p. 249-252). 

Reconhecimento pela carreira (1931)

A realidade de Tesla mudou um pouco a partir das homenagens feitas para ele quando completou seus 75 anos. Em 1931 ele se tornou capa da famosa Revista Time, em seu número 3, volume XVIII, trazendo matérias que elogiavam sua grande contribuição para o desenvolvimento tecnológico da eletricidade e outros inventos. O que o tornava um grande cientista contemporâneo. Isso ajudou a mídia a voltar a ter interesse nele, após mais de uma década quase esquecido. 

Capa da Time de 1931 em celebração aos 75 anos de Nikola Tesla. 

Tesla aproveitou a publicidade que ganhou com a revista Time e passou a ser convidado a dar entrevistas e participar de eventos entre 1932 e 1933. Ele nesse período divulgou várias ideias, algumas tidas como loucas, a ponto de se questionar se o velho inventor estava mentalmente são. Para se ter noção, Tesla alegou estar desenvolvendo um motor que funcionaria a raios cósmicos, que estava trabalhando em receptores de rádio que permitissem captar frequências individuais, que ele estava estudando uma nova fonte de energia (embora nunca revelou propriamente qual seria); ele até salientou que estava estudando fotografia, pois achava que poderia desenvolver uma forma de criar uma câmera ocular para capturar os pensamentos. Embora algumas ideias até fazem sentido hoje, mas há noventa anos isso era surreal. E vale lembrar que Tesla já teve ideias questionáveis anteriormente como sugerir o uso de eletroterapia, indução eletromagnética para incentivar as ondas cerebrais a pensar, usar ozônio para diferentes finalidades. (CARLSON, 2003, p. 280-285). 

O raio da morte (1934)

Entre os inventos estranhos e questionáveis do velho Tesla, um que chamou atenção foi o suposto "raio da morte" como a imprensa se referiu na época, apesar que Tesla o chamasse de teleforça. O aparato nunca foi construído, era apenas um esboço de várias ideias envolvendo a concentração de uma grande quantidade de energia a qual aqueceria alguns metais como o mercúrio, e esse seria projetado por um cano na direção do alvo designado, disparando um feixe de energia concentrado e destrutivo. 

A ideia de se criar um raio da morte não era novidade, na literatura de ficção científica, o livro A Guerra dos Mundos (1898) de H. G. Wells havia mostrado trípodes marcianos disparando raios mortais. A ideia incentivou físicos e inventores de diferentes países a tentarem criar algo do tipo. Tesla foi apenas mais um dos interessados em criar essa hipotética máquina mortífera. Todavia, as Forças Armadas dos Estados Unidos, Reino Unido e de outros países não tiveram interesse, pois não era o único projeto do tipo e o que havia sido apresentado, todos falharam. Inclusive hoje em dia tal tecnologia nem existe. 

Ainda em 1934, Tesla seguiu dando entrevistas, apresentando ideias excêntricas. Ele também foi condecorado com a Medalha John Scott, concedida pelo Franklin Institute e a Prefeitura da Filadélfia, dada aos homens e mulheres que desenvolveram invenções que melhoravam a vida das pessoas. Depois disso Tesla ainda continuou a aparecer na mídia pelos três anos seguintes. 

Aposentadoria e morte (1943)

No ano de 1937, Nikola Tesla recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Leão Branco, concedida pelo embaixador da Checoslováquia e uma medalha de honra do embaixador da Iugoslávia. Foram as últimas condecorações que ele recebeu em vida. Ambos os presentes foram dados numa cerimônia solene no Hotel New Yorker, onde Tesla vivia desde 1934, graças a Westinghouse que decidiu pagar suas despesas e lhe fornecer um salário simbólico naquele ano. 

Todavia, em certa noite de 1937, ele estava passeando na rua, seguindo para ir a um parque que costumava passear, próximo do hotel, quando foi atropelado. Se desconhece a extensão dos ferimentos sofridos, mas ele fraturou algumas costelas. Com as dores que passou a sentir nos anos seguintes, isso reduziu seus passeios, obrigando-o a ficar mais tempo em seu quarto de hotel, raramente saindo do mesmo. Ainda mais pelo fato de que Tesla por alguns anos realizava suas refeições no próprio quarto, já não indo mais a restaurantes ou lanchonetes como antes. 

Notícia de jornal de 8 de janeiro de 1943, anunciando a morte de Tesla. 

Nikola Tesla morreu em 7 de janeiro de 1943, no quarto 3327, do Hotel New Yorker, aos 86 anos. A autopsia apontou que ele sofria de trombose, a qual afetou seu coração. Tesla era conhecido por não gostar de ir ao médico, tampouco se preocupar com sua saúde. Seu corpo foi achado por uma das camareiras do hotel, que tinha ido fazer a limpeza do quarto. 

No dia 10 de janeiro o prefeito de Nova York leu uma homenagem a Tesla, o qual viveu na cidade desde 1884, ausentando-se por poucos anos. O funeral ocorreu no dia 12, na Catedral de São João, o Divino. O corpo de Tesla foi cremado como havia sido pedido por ele. Nenhum familiar compareceu ao velório, já que ele praticamente não tinha contato com eles, no entanto, amigos, conhecidos e admiradores foram assistir as missas. 

Considerações finais

Nikola Tesla foi um homem curioso em vários aspectos. Dono de uma mente engenhosa, patenteou mais de 270 invenções em diferentes países, embora a maioria não lhe trouxe sucesso. Despontou como um visionário da tecnológica elétrica e áreas afins, apesar que lhe faltava experiência como empreendedorismo e política, o que prejudicou seus negócios e empresa. Ele também era poliglota e possuía uma memória fotográfica potente. Sobre sua criatividade, ele referia-se a ela como um dom, pois tinha visões ou sonhos das invenções que elaborava. 

Tesla era um homem alto, magro, pálido, de olhos claros e mãos grandes. Na época de sua fama, especialmente entre 1887 e 1920, era mais comum vê-lo sociabilizando, aparecendo sempre vestido de forma elegante aos eventos, feiras, palestras, universidades, restaurantes, festas etc. Ele era descrito como sendo sério, mas gentil e cortês. Não era um falador ou uma pessoa cômica. Gostava de falar de ciência, invenções, poesia, filosofia, música e restaurantes. 

Tinha uma vida dedicada ao trabalho, sendo metódico com seus horários, hábitos e compromissos. Costumava tomar café da manhã, almoçar e jantar sempre nos mesmos horários, assim como, sair para suas caminhadas de forma pontual ou quase isso, a única atividade física que fazia. Além disso, ele não ia ao médico, também não gostava de ir a clínicas e nem hospitais. 

Tesla era obcecado por suas pesquisas, fato esse que seus amigos e as pessoas que o conheceram relatavam que ele trabalhava várias horas por dia, incluindo de madrugada e pouco dormia. Tesla mesmo escreveu em seu diário e anotações que realmente não gostava de dormir, eventualmente tirava alguns cochilos para compensar as poucas horas de sono. 

Ele nunca se casou e não teve filhos, isso foi uma escolha própria, pois disse que vivia pelo seu trabalho, já que se tivesse esposa e filhos isso iria distrai-lo. Além disso, Tesla também tinha poucos amigos, vivendo a maior parte da vida sozinho em quartos de hotéis, colecionando dívidas por onde passava. Ele também nunca retornou ao seu país original, tampouco foi visitar sua família, escrevendo cartas esporadicamente para suas irmãs. 

Nikola Tesla também teve seus problemas. Fosse o vício em jogo durante sua vida de universitário, que o levou a perder sua bolsa de estudos e a mesada, levando-o por vergonha a abandonar o curso; ele também contraiu muitas dívidas, mesmo tendo ficado rico na década de 1890. Isso se deveu a má gestão de seu dinheiro, os altos gastos com seus laboratórios e experimentos, negócios que deram errado, pessoas que o engaram, mas também o fato de ele ter ganho a fama de ser mal pagador, tendo legado várias dívidas em hotéis, restaurantes e nos prédios alugados para seus laboratórios e escritórios. 

Além disso, Tesla não era a favor do feminismo, considerando um erro as mulheres quererem direitos iguais aos dos homens e adotarem hábitos e ofícios masculinos; ele não concordava com a Liga das Nações (a qual viria a se tornar a ONU), dizendo que era um erro; Tesla simpatizou com ideias eugênicas, chegando a comentar que isso poderia responder alguns problemas relacionados ao subdesenvolvimento de alguns povos e países; guardou rancor por Thomas Edison até o fim da vida deste, inclusive dedicou alguns comentários rudes em alguns jornais; como também tinha uma visão negativa sobre a religião, considerando-se mais um agnóstico (talvez ateu, ele nunca deixou isso claro). 

NOTA: Na Igreja Ortodoxa os padres não são obrigados ao voto de celibato, então eles podem se casar. Porém, uma vez feito o voto celibatário, esse é para o restante da vida, não podendo ser renunciado. 
NOTA 2: Em seus escritos Tesla dizia que alguns de seus inventos foram oriundos de sonhos que ele teve com máquinas, aparelhos e cálculos. 
NOTA 3: O filme A Guerra da Corrente (2017) mostra alguns momentos envolvendo a disputa entre Thomas Edison e George Westinghouse, além da participação de Nikola Tesla. 
NOTA 4: No jogo Red Dead Redemption 2 (2018) temos um inventor inspirado em Nikola Tesla. O qual inclusive possui inventos similares ao dele. Trata-se de uma homenagem ao gênio sérvio. 
NOTA 5: O jogo Evil West (2022) faz uso de tecnologia elétrica avançada para o final do século XIX. Um dos inventos tecnológicos é uma manopla elétrica, cuja parte da tecnologia é inspirada em invenções de Nikola Tesla. 
NOTA 6: A Tesla, Inc (2003) é uma empresa de automóveis elétricos que ganhou destaque nos últimos anos, sobretudo após ter sido comprada por Elon Musk
NOTA 7: O Museu Nikola Tesla foi fundado em 1952 e fica em Belgrado, na Sérvia. 

Referências bibliográficas:

CARLSON, W. Bernard. Tesla: Inventor of the Electrical Age. Princeton, Princeton University Press, 2013. 
CHENEY, Margaret. Tesla: Man of Out Time. New York, Simon & Schuster, 2001. 
JONNES, Jill. Empires of Light: Edison, Tesla, Westinghouse, and the Race to Electrify the World. [s.l, Random House, 2004. 
O'NEILL, James. Prodigal Genius: The Lifes of Nikola Tesla. San Diego, The Book Tree, 2007. 
SEIFER, Marc J. Wizard: The Life and Times of Nikola Tesla. [s.l], Citadel, 1998. 

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