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Leandro Vilar

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Nicolas Flamel e a lenda do alquimista prodigioso

Quando se falada Pedra Filosofal, mágico artefato o qual vários alquimistas ambicionaram criar, que suspostamente transformaria metais diversos em ouro e poderia produzir o elixir da longa vida ou da imortalidade, o nome de Nicolas Flamel costuma ser mencionado, já que é creditado a ele uma lenda na qual ele supostamente teria criado uma pedra filosofal. 

Retrato do século XVII imaginando como seria Nicolas Flamel. Na pintura ele é referido como filósofo, algo que nunca foi. 

Resumo de sua vida

Nicolas Flamel (c. 1330-1418) nasceu em Pontoise, uma aldeia nos arredores de Paris, tendo vivido na época da Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Pouco se sabe sobre suas origens e vida, mas ele pertencia a uma família da pequena burguesia. Ele por conta disso recebeu educação, tendo se tornando provavelmente na adolescência ou aos vinte e poucos anos, copista e escrivão, na Rua dos Escrivães em Paris, isso por volta da década de 1350, época onde um irmão mais novo seu, Jean Flamel também trabalhava. Mais tarde Flamel se tornou livreiro oficial, naquela época todo o livreiro em Paris era regulamentado pela Universidade de Paris, responsável pelo comércio de livros na cidade e em outras localidades do país. Era um trabalho sério e respeitado. Os livreiros tinham salário fixo e recebiam comissões pelas suas vendas. 

Ainda na década de 1368, Flamel comprou uma casa na Rua de Marivaux (atual Rua Nicolas Flamel). Onde viveu o restante da vida. Dessa forma, já com seus quarenta e poucos anos de idade, Nicolas Flamel pertencia a respeitada guilda de livreiros parisienses, os quais até faziam juramento para exercer essa profissão, além de trabalhar como escrivão. Por volta de 1370 casou-se com a viúva Pernelle, mulher que possuía uma boa condição financeira, em parte herdada da herança de seus dois maridos falecidos. Como ela já tinha tido filhos, desse casamento com Flamel, eles não tiveram herdeiros. 

Devido a fortuna de ambos que inclusive era mantida pelos aluguéis de imóveis que o casal possuía em Paris e nas aldeias vizinhas, Flamel e Pernelle começaram a fazer doações regulares a igrejas, hospitais, orfanatos e outras instituições. Sua esposa morreu de causas desconhecidas em 1397. Apesar disso, Flamel seguiu com seus atos de caridade e passou a financiar a reforma de igrejas e capelas, e até mandou construir algumas casas que deu para os pobres. As casas foram erguidas em 1407, como atesta gravações informando que foram construídas com dinheiro doado por Flamel. 

Nicolas Flamel faleceu de causas desconhecidas em 22 de março de 1418, sendo sepultado na Igreja de Saints-Jacques-la-Boucherie, que foi destruída em 1797 durante a Revolução Francesa (1789-1799). Sua esposa estava sepultada no Cemitério dos Inocentes, mas os restos mortais dela e dele foram levados para as catacumbas de Paris durante a revolução. Entretanto, a lápide do túmulo de Flamel resistiu a destruição e hoje se encontra exposta no Museu de Cluny. 

Lápide do túmulo de Nicolas Flamel, 1418. Exposta no Museu de Cluny. 

Flamel se torna alquimista após a morte

Embora seja hoje conhecido como um famoso alquimista, ironicamente Nicolas Flamel nunca estudou alquimia. Tal ideia surgiu de lendas urbanas oriundas mais de cem anos depois. Não se sabe quem iniciou essas lendas e por qual motivo, mas em meados do século XVI, Flamel era reputado entre o meio erudito e esotérico francês como tendo sido um respeitado alquimista medieval. Inclusive alguns livros alquímicos eram comercializados na época, dizendo-se que a autoria era de Flamel. 

Obras como o Livro de Flamel, O Sumário Filosófico, Saltério Químico, e o mais famoso de todos: O Livro das Figuras Hieroglíficas (1612), foram algumas das várias obras alquímicas creditadas ao mestre Nicolas Flamel, todavia, todas foram comprovadas serem uma farsa. Alguns desses livros eram de outros autores mais antigos, que tiveram o nome trocado pelo de Flamel. 

Frontispício do Livro das Figuras Hieroglíficas, tratado alquímico atribuído a Nicolas Flamel, mas ele jamais escreveu tal obra. 

No entanto, por qual motivo essa farsa foi criada? Nicolas Flamel não deixou filhos e seu testamento elegeu alguns parentes para ficar com sua herança. Além disso, ele em vida nunca foi dado a alquimia, nem tendo escrito a respeito. Algumas possíveis respostas estão associadas a sua riqueza e o ofício. Flamel foi um burguês relativamente rico, sendo dono de vários imóveis e gostava de fazer muita caridade, sendo publicamente conhecido por isso. Era comum no século XV e XVI na França, dizer que homens que ficaram ricos de forma misteriosa, estariam envolvidos ou em negócios ilícitos ou eram alquimistas. Além disso, como Flamel era livreiro, tinha contato com vários tipos de livros, incluindo obras de magia e alquimia, por conta disso, surgiu lendas dizendo que graças a sua profissão ele teve acesso a livros de alquimia, inclusive os raros e secretos, o que permitiu ele desenvolver seus estudos alquímicos e até ter criado uma pedra filosofal, isso justificaria a origem de seu dinheiro. 

O curioso é que se Flamel tivesse criado uma pedra filosofal, o que responderia a condição de ele ser rico, por que ele não produziu o tal elixir da imortalidade? Não há uma resposta para isso. As lendas falam que ele não soube criar o elixir, outros até sugeriram que ele realmente o inventou e fingiu a própria morte, por isso seus restos mortais não foram achados. Sendo que isso se deve ao fato que era comum esvaziar os túmulos nos cemitérios parisienses por falta de espaço. Logo, os restos mortais dele e da esposa foram levados para as catacumbas. 

Ainda nos séculos XVII e XVIII supostos livros e manuscritos atribuídos a Flamel ainda eram vendidos, nesse tempo, a fama de alquimista já tinha se consolidado após mais de duzentos anos de sua morte, fato esse que, em obras que abordavam alquimistas famosos, o nome de Flamel já constava, embora ele nunca tenha sido um alquimista de fato, mas na época tais lendas eram tomadas como reais. Dessa forma, desde então a fama de Nicolas Flamel como alquimista e suposto criador da pedra filosofal, perdura até hoje. Uma lenda muito bem elaborada e longeva. 

NOTA: Nicolas Flamel se tornou popular na cultura pop, sendo citado em livros, filmes, desenhos, músicas, quadrinhos, novelas, jogos etc. 
NOTA 2: No livro O Corcunda de Notre-Dame (1831) o padre Claude Frollo estuda alquimia, e ele estuda algumas das obras escritas por Flamel. 
NOTA 3: Em Harry Potter e a Pedra Filosofal (1997), a pedra existente na história dos livros foi criada por Flamel, o qual ainda estava vivo em 1990, tendo mais de seiscentos anos. 
NOTA 4: No mangá Fullmetal Alchemist (2001-2010), seus animes e filmes referem-se a Flamel através de um símbolo alquímico chamado "Cruz de Flamel". 
NOTA 5: O escritor Michael Scott escreveu a série de seis livros intitulada The Secrets of the Immortal Nicholas Flamel (2007-2012). 
NOTA 6: O mistério de Nicolas Flamel é tema de duas DLCs do jogo Assassin's Creed Unity (2014).
NOTA 7: O filme de terror As Above, So Below (2014) coloca uma equipe em busca da pedra filosofal de Flamel, escondida nas catacumbas de Paris, porém, eles descobrem que forças sombrias ali se escondem. 
NOTA 8: No filme Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (2022), Flamel aparece em alguns momentos, sendo um homem com mais de quinhentos anos. 
NOTA 9: No jogo Steelrising (2022) é dito que Flamel conseguiu criar uma pedra filosofal, mas sua alma ficou presa num limbo. Existe uma série de missões para desvendar isso. 

Referências bibliográficas

SIMON, H. Memorias de Flamel. Villaviciosa Odón, Editorial Mirach, 1998. 
WILKINS, Nigel. Nicolas Flamel: de oro y libros. Palma de Mallorca, José J. de Olañeta editor, 2001. 

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