A Nona Sinfonia de Ludwig von Beethoven se tornou uma das composições da música clássica mais famosas do mundo e da História. Considerado por muitos como sua obra-prima, essa sinfonia tornou-se tema de filmes, canções, documentários, poemas, livros, estudos, e até mesmo alguns de seus trechos são tocados em filmes, desenhos, jogos, programas diversos. É possível que você já tenha ouvido algum trecho dessa composição e não sabia que se tratava dessa música.
Ludwig von Beethoven (1770-1827) propôs sua nona sinfonia em 1817 a Phillharmonic Society of London, em 1818 ele começou a escrevê-la aos 48 anos, na época ele já era um compositor e músico renomado, apesar que vivesse depressivo quanto a sua surdez gradativa. Soma-se a isso outros problemas pessoais e passionais que atrasaram a conclusão da sinfonia, além do alcoolismo, condição que ele manteve-se isolado da vida pública. Por conta de estar ficando surdo, Beethoven começou a usar alguns aparelhos para tentar canalizar o som melhor, mesmo que na prática tais aparelhos consistissem em tubos colocados no ouvido e não adiantasse muito. Além disso, ele também deitava a cabeça no piano para sentir as vibrações.
Pintura retratando Ludwig van Beethoven por volta de 1820, na época ele estava escrevendo a Nona Sinfonia. |
Mesmo estando perdendo a audição cada vez mais, Beethoven seguiu escrevendo sua última sinfonia. Para compô-la ele inspirou-se no poema Ode à Alegria (Ode die an Freude), escrito em 1785 pelo poeta e filósofo alemão Friedrich Schiller (1759-1805), um dos autores preferidos de Beethoven. Inclusive os planos para escrever uma música sobre esse poema que exaltava o valor da amizade, já tinham sido cogitados anos antes, mas Beethoven adiou os planos de composição por vários anos.
Sendo assim, inspirado por tal poema, Beethoven decidiu colocar em sua sinfonia uma parte cantada, dessa forma, no quarto movimento, o coral cantaria uma música inspirada no poema de Schiller. Além dessa inspiração, Beethoven também se inspirou na obra de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), compositor pelo qual Beethoven considerava ser um mestre na música clássica. Logo, em alguns momentos da melodia e da tonalidade da composição, nota-se semelhanças com a obra de Mozart, uma homenagem prestada ao mesmo.
A composição de nona sinfonia demorou alguns anos, fato esse que somente em 1824 Beethoven a concluiu. Seis anos após tê-la começado. Oficialmente a música é chamada de Sinfonia N. 9 em ré menor, op. 125, com coral. Todavia, ela acabou sendo mais conhecida como a Nona Sinfonia, a qual foi publicada doze anos após a Oitava Sinfonia (1812).
Seu lançamento em 7 de maio de 1824 gerou grande comoção na época. A sinfonia foi apresentada no Teatro Kärtntnerthor em Viena, um dos mais famosos do país. Lembrando que a Áustria era considerada a referência mundial nos concertos e até em ópera por certo tempo. Aquela apresentação seria bastante especial, não apenas por ser o lançamento de uma sinfonia do famoso Ludwig von Beethoven, mas pela condição de ser a primeira sinfonia que ele lançava após doze anos. Além disso, Beethoven esteve presente no lançamento, já que desde então ele esteve vários anos afastado dos teatros e palcos devido aos seus problemas de saúde.
Ilustração representando o Teatro Kärtntnerthor em 1830, seis anos após a Nona Sinfonia ser ali lançada. |
A Nona Sinfonia é dividida em quatro movimentos e seu tempo de execução é estimado em 65 minutos (algumas versões são um pouco maiores). O primeiro movimento começa com um Allegro, já o segundo movimento intercala-se entre o Molto vivace e o Presto, sendo mais extenso que o movimento anterior. Na metade da sinfonia o terceiro movimento é o segundo mais extenso da composição, intercalando-se entre dois Adagios, dois Tempos e dois Adantes. Finalmente chegamos ao quarto movimento que é a parte mais famosa da sinfonia devido ao coral cuja letra foi inspirada no poema Ode à Alegria. O início dos quatro movimentos são bastante marcantes pelas suas melodias, pois costumam serem os momentos mais tocados além do coral.
Letra do coral da Nona Sinfonia
Baixo
Ó,
amigos, não nesse tom!
Em
vez disso, cantemos algo mais delicioso
cantar
e sons alegres
Alegre!
Alegre!
Baixo.
Quarteto e coro
Alegria,
formosa centelha divina,
Filha
do Elíseo,
Ébrios
de fogo entramos
Em
teu santuário celeste!
Tua
magia volta a unir
O
que o costume rigorosamente dividiu.
Todos
os homens se irmanam
Ali
onde teu doce voo se detém.
Quem
já conseguiu o maior tesouro
De
ser o amigo de um amigo;
Quem
já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se
conosco!
Sim,
mesmo que ele chama de uma alma
Sua
própria alma em todo o mundo!
Mas
aquele que falhou nisso
Que
fique chorando sozinho!
Alegria
bebem todos os seres
No
seio da Natureza;
Todos
os bons, todos os maus,
Seguem
seu rastro de rosas.
Ela
nos deu beijos e vinho e
Um
amigo leal até a morte;
Deu
força para a vida aos mais humildes
E
ao querubim que se ergue diante de Deus!
Tenor
e coro
Alegremente,
como seus sóis voem
Através
do esplêndido espaço celeste
Se
expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente
como o herói diante da vitória.
Coro
Abracem-se
milhões!
Enviem
este beijo para todo o mundo!
Irmãos,
além do céu estrelado
Mora
um Pai Amado.
Milhões,
vocês estão ajoelhados diante Dele?
Mundo,
você percebe seu Criador?
Procure-o
mais acima do Céu estrelado!
Sobre
as estrelas onde Ele mora!
Uma página manuscrita do quarto movimento da Nona Sinfonia. |
Considerações finais:
Dizem que Beethoven ficou muito feliz na estreia de sinfonia e recebeu as felicitações e admirações nos meses seguintes. Isso o animou a escrever novas composições incluindo a Décima Sinfonia que acabou não sendo concluída. Entretanto, Beethoveen voltou a piorar de saúde entre 1826 e 1827, estando bastante magro, com fortes dores abdominais e até chegou a tossir sangue. Em 1827 ele ficou acamado por semanas até que faleceu no final de março aos 57 anos. Seu velório e funeral foi acompanhado por mais de 20 mil pessoas, já que ele era uma celebridade na época, o velho compositor que ficaria muito mais famoso após a morte.
Suas composições continuariam a serem apresentadas e inspirarem gerações de músicos, a Nona Sinfonia gradativamente foi ganhando mais destaque e na década de 1860 a partir da publicação da edição de Breitkopf & Härtel (1864), lhe concedeu o status de sinfonia mais famosa dele.
Em 19 de janeiro de 1972 a União Europeia adotou parte da Nona Sinfonia como música oficial da organização. O maestro Herbert von Karajan (1908-1989) foi o responsável por fazer a adaptação da sinfonia para se tornar o hino da UE, até hoje utilizado em cerimônias.
NOTA: O filme Minha Amada Imortal (1994) mostra alguns momentos da composição de Beethoven para a Nona Sinfonia e sua estreia.
NOTA 2: O empresário Norio Ohga (1930-2011) foi presidente da Sony (1982-1995), nessa época a empresa passou a fabricar CDs, disputando esse mercado com a Philipps. A empresa queria adotar o formato de 10 cm de diâmetro, o que diminuiria o espaço de armazenamento, mas seria mais barato, entretanto, Ohga era um fã de música clássica e exigiu que os CDs da empresa teriam que comportar o tempo de duração da Nona Sinfonia. A música possui em média 65 minutos, mas Ogha escolheu uma versão de 1951 que tinha 74 minutos. Assim, o CD passou para 12 cm de diâmetro, permitindo 80 minutos de gravação naquela época.
Referências bibliográficas
COOK,
Nicholas. Beethoven: Symphony No. 9. Cambridge Music Handbooks. Cambridge:
Cambridge University Press, 1993.
HOPKINS, Antony. The
Nine Symphonies of Beethoven. London: Heinemann, 1981.
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