sexta-feira, 24 de maio de 2024

Quem foi Hades na mitologia grega?

Atualmente é comum vermos produções como Percy Jackson, God of War e Sangue de Zeus, retratando Hades como uma divindade sempre sombria e malévola, devido a ser o Senhor do Submundo ou Mundo dos Mortos. Por conta disso, Hades é representado como sendo frio, vilanesco, traiçoeiro, invejoso, sempre a estar relacionado com alguma tramoia para prejudicar os outros deuses e os heróis da trama. Entretanto, na mitologia grega esse deus era assim mesmo? Ele seria uma divindade realmente sombria e ardilosa, dada a conspirações e traições? 

Estátua representando Hades e Cérbero. 

Origem

Hades era um dos seis filhos dos titãs Cronos e Reia, sendo ele o segundo homem a ter nascido, o mais velho era Poseidon, e o caçula era Zeus. Já suas irmãs eram Hera, Deméter e Héstia. Temendo uma profecia que seria destronado por um dos filhos, Cronos começou a engolir seus filhos, porém, quando nasceu o mais jovem deles, Zeus, esse foi trocado por uma pedra e escondido numa caverna em Creta. Anos depois já adulto, Zeus castrou o pai e libertou seus irmãos.

Após isso iniciou-se uma guerra entre titãs e deuses conhecida como Titanomaquia (as vezes referida como Gigantomaquia). Durante essa guerra que durou por alguns anos, Hades e seus irmãos e irmãs confrontaram seu pai, tios e primos. Para poder derrotar os titãs, os três irmãos recorreram a ajuda dos Hecatônquiros, os quais eram três titãs com cem braços e cinquenta cabeças, chamados Briareu, Coto e Giges. Cada um deles concedeu um artefato mágico único. A Zeus deu-se os raios, a Poseidon foi entregue o tridente, e para Hades lhe deram o elmo da invisibilidade. Assim, de posse desses artefatos poderosos, os Olimpianos viraram a guerra ao seu favor, banindo os titãs inimigos para o Tártaro

Após a vitória na Titanomaquia, o governo do mundo foi dividido pelos três irmãos. A Zeus coube reinar no céu e na terra, a Poseidon lhe ficou os oceanos e mares, por fim, a Hades foi entregue o submundo, com suas riquezas, vastidões e mistérios. Depois disso os deuses seguiram para seus reinos e deram continuidade as suas vidas eternas. 

O deus do submundo

Hades foi incumbido de governar o submundo, que na Grécia Antiga era o mundo dos mortos, o que o tornou o deus dos mortos. Porém, além disso, o submundo é associado com as riquezas minerais por conta das minas, fato esse que se dizia que Hades era um dos deuses mais ricos de todos, por conta disso, os romanos o chamavam de Plutão ("o próspero"). Além de ser o senhor dos mortos, dos minerais e gemas preciosas, Hades tinha algumas obrigações: ele era responsável por manter o submundo em ordem, evitar que qualquer um entrasse facilmente em seus domínios, mas sobretudo, evitar que os mortos escapassem dali. 

No submundo também estava situado o tribunal dos juízes Éaco, Minos e Radamento, os quais julgavam os mortos por seus atos em vida. Nas profundezas do submundo se encontrava o Tártaro, a prisão de fogo, cercada por muralhas de bronze, onde estavam os titãs inimigos, assim como, outros seres e alguns humanos que cometeram crimes que abominaram os deuses. Por fim, no mundo de baixo também estava situado os Campos Elíseos, equivalente ao paraíso para os humanos (embora algumas versões desse mito associem esses campos na superfície e situados em ilhas). 

Dessa forma, por conta do submundo ser um local amplo, com distintas localidades, para onde iam todos os mortos e os imortais condenados a prisão eterna, Hades na prática era um dos deuses mais poderosos no sentido de governo, já que ele tinha funções importantes em assegurar que os mortos não escapassem, mas principalmente que os titãs não conseguissem deixar o Tártaro. Devido a essa importância o mundo dos mortos era normalmente referido como o Hades. 

O deus invisível e que não deve ser nomeado

Um dos epítetos de Hades era que ele era chamado de o "deus invisível", e isso se devia a condição de ele possuir um elmo da invisibilidade, um dos três artefatos feitos pelos Hecatônquiros. Com posse desse elmo, Hades conseguiu roubar as armas dos titãs, deixando-os os vulneráveis aos ataques de Zeus e Poseidon. Além disso, o deus chegou a emprestar esse elmo para Hermes e até Perseu.

Outro aspecto a ser sublinhado é que diferente de outros deuses que mudavam de forma ou se disfarçavam para viajar pelo mundo dos homens, Hades o fazia usando seu elmo. O motivo por conta disso não é claro, já que ele como um deus teria poder de também se disfarçar, mas optava em ficar invisível, isso acabou gerando outra característica associada a ele: o temor de se proferir seu nome. Pois como ele podia ficar invisível, Hades poderia estar ao seu lado, e caso você o maldissesse, ele o puniria. Vale lembrar que os deuses gregos não eram oniscientes. 

Além disso, havia a crença de que falar em Hades atrairia má sorte e a própria morte, pois ele era o deus dos mortos, por conta disso, ele era uma divindade importante, mas que não costumava ser cultuada. Existem poucos relatos de templos dedicados a ele, diferente de seus irmãos que recebiam mais culto. Mas isso se deve não por falta de respeito, mas pelo temor. Mas nem por isso os mitos relatam que Hades seria ressentido a tal ponto e castigaria a humanidade por conta de tal condição. 

Hades era mal na mitologia? 

Um dos atos malvados de Hades foi ter sequestrado Perséfone, sua sobrinha, a qual era filha de Deméter, a deusa da agricultura. Existem distintas variações do mito quanto aos detalhes, mas no geral, Hades apaixonou-se perdidamente por Perséfone, então decidiu a sequestrá-la, levando-a para seu reino, o que tomou Deméter em desespero. 

A deusa após alguns dias de busca, consegue descobrir o paradeiro da filha e pede ajuda a Zeus, esse determina que durante seis meses Perséfone viveria com Hades, o qual ela acabou se apaixonando e se casando (um exemplo de síndrome de Estocolmo), por sua vez, nos outros seis meses ela vivia em companhia da mãe. Assim, no período que ela estava com a mãe tínhamos a primavera e o verão, já nos meses que ela estava no submundo tínhamos o outono e o inverno.

Pintura num vaso representando Perséfone e Hades. Datada do século V a.C. 

Asclépio antes de se tornar o deus da medicina, ele era um renomado médico, sendo filho de Apolo. Porém, por estar evitando que as pessoas morressem de ferimentos simples e doenças comuns, isso irritou Hades, pois para ele era algo que quebrava o ciclo da vida e morte, então furioso ele foi conversar com Zeus, dizendo que Asclépio prejudicava tal ciclo, o deus matou o neto. Apolo se irritou com o pai e o tio, mas acabou sendo punido. Mais tarde Zeus tornou Asclépio num deus, mas impedindo-o de salvar a todos, pois deveria haver morte no mundo. 

Outro caso associado com uma atitude severa de Hades, deve-se a uma situação delicada. Teseu e Pirítoo fizeram uma aposta que conseguiriam sequestrar Perséfone e descem ao submundo, ali eles são convidados por Hades para um banquete, mas o deus descobre o plano traiçoeiro deles e os aprisiona, fazendo-os ficarem presos em suas cadeiras. Teseu é mais tarde libertado por Héracles, pois Hades assim permitiu, mas Pirítoo que foi o idealizador do plano de sequestro, não foi liberado, tendo que ficar preso pela eternidade ali. Sendo assim, a severidade de Hades é justificada como ato de punir o homem que planejava sequestrar sua esposa, ironicamente cometer o mesmo crime que o deus cometera. 

No entanto, em outras ocasiões Hades se mostrou bem mais altruísta. Ele ajudou o herói Perseu lhe emprestando o elmo da invisibilidade, permitiu que Héracles levasse Cérbero para cumprir um dos Doze Trabalhos, concordou com Perséfone em dar uma chance para Orfeu resgatar sua esposa morta, Eurídice (embora eles tenham falhado nisso por conta dela); permitiu que Odisseu entrasse no submundo para pedir os conselhos do vidente Tirésias e saísse sem problemas. 

Sendo assim, dos poucos mitos em que Hades aparece, basicamente ele não era uma divindade malvada. Excetuando-se o sequestro de Perséfone e a raiva por Asclépio, ele não possui outras histórias que mostrem atos criminosos ou cruéis, inclusive Hades aparece até sendo solidário com alguns dos heróis, ajudando-os. Porém, a condição de ele ser o deus do submundo e dos mortos levou a construção de um imaginário negativo sobre ele, tornando-o numa divindade sombria e ruim. 

Referências bibliográficas

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega, vol. I. Petrópolis, Vozes, 1986. 3v

GRIMAL, Pierre. Dicionário de mitologia grega. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998. 

MENARD, René. Mitologia grego-romana, vol. I. São Paulo, Opus, 1991. 

terça-feira, 14 de maio de 2024

As bruxas de Salem (1692)

Dentre os casos de bruxaria ocorridos nas Treze Colônias Inglesas na América do Norte, a perseguição e julgamento ocorridos na cidade de Salem, em Massachusetts, se tornou a mais sombriamente famosa por mobilizar quase toda população da cidade e localidades vizinhas, que levou ao julgamento arbitrário que condenou a pena de morte 19 pessoas, a maioria mulheres, mas alguns homens foram executados também por serem considerados cúmplices das supostas bruxas. O presente texto apresentou alguns aspectos desse processo criminal de caça às bruxas. 

Mártir de Salem ou Colina da Bruxa. Pintura de Thomas Salterwhite Noble, 1869. A pintura é uma homenagem as vítimas executadas em Salem em 1692.  

Introdução

A caça às bruxas teve início na Europa no século XV, quando o conceito de bruxa e bruxaria foi finalmente formalizado e oficializado por algumas bulas papais e livros, especialmente O Martelo das Bruxas (1487), o qual consistiu num manual de identificação e de como combater e caçar bruxas. Essa obra se tornou à base das perseguições e julgamentos por crime de bruxaria ao longo da Idade Moderna, a qual diferente do que se pensa, não foi no medievo em que a maioria das bruxas foram caçadas e mortas, mas foi nos séculos XVI e XVII em que isso ocorreu. 

Sendo assim, a caça às bruxas se espalhou por boa parte da Europa, englobando países católicos e protestantes, sendo empregada por alguns tribunais inquisitoriais, mas principalmente por tribunais civis. Em países como Inglaterra, Irlanda, Escócia, França e alguns Estados Alemães, houve caçadores de bruxas que se especializaram em procurar tais criminosas. Soma-se a isso a histeria pública inflada por boatos e o imaginário maléfico sobre a bruxaria, o que mobilizou ao longo de 300 anos, tribunais civis a caçarem bruxas. 

Consequentemente, a perseguição às bruxas acabou atravessando o Atlântico, sendo praticada em algumas colônias nas Américas, mesmo que em menor escala. Quando o caso das bruxas em Salem ocorreu no final do XVII, a caça às bruxas na Europa já estava em declínio, embora algumas mulheres ainda foram julgadas e executadas no XVIII. No entanto, percebe-se que os acontecimentos que serão apresentados a seguir, apesar de terem ocorrido num período de declínio dessa atividade opressiva, ainda assim, expressam parte do contexto daquela época, que envolvia forte fanatismo religioso. 

Antecedentes

Carol F. Karlsen (1998) comenta que acusações de bruxaria já tinha ocorrido pela Colônia de Massachusetts algumas décadas antes. A autora cita como exemplo um episódio ocorrido na cidade de Boston em 14 de maio de 1656, ocorreu o julgamento de uma mulher chamada Ann Hibbens, condenada a pena de morte pelo crime de bruxaria. Ela foi executada em 19 de junho. Naquele tempo não era mais comum queimar bruxas, na verdade, essa foi uma prática irregular, a maioria das mulheres condenadas à pena de morte por bruxaria costumavam serem enforcadas ou decapitadas. De qualquer forma, Karlsen salienta que depois do caso de Hibbens, outras nove mulheres e um homem foram executados por bruxaria nos anos seguintes.

Mas enquanto nas colônias britânicas o crime de bruxaria era algo ocasional, no Reino Unido a situação era bem mais agravante. As décadas de 1640 e 1650 foram marcadas por centenas de denúncias e execuções de supostas bruxas. Dois homens ficaram famosos como caçadores de bruxas, sendo eles: Matthew Hopkins e John Stearne, os quais alegavam terem sido os responsáveis por descobrir mais de uma centena de bruxas escondidas. Apesar dos exageros quanto as suas façanhas, ainda assim, os dois caçadores contribuíram para o aumento das perseguições às bruxas. (THOMAS, 1991, 365 e 371). 

Assim, retomando ao caso de Ann Hibbens, alguns dos colonos que foram seus vizinhos ou moradores da mesma cidade, vivenciaram a onda de perseguições à bruxaria na Inglaterra, levando consigo todo o imaginário e temor a respeito, o que ajudou a disseminá-lo pelas Treze Colônias, havendo maior incidência disso nas colônias do norte, as quais formavam a região da Nova Inglaterra, como apontado por Karlsen e outros historiadores. Os quais observaram que boa parte dos imigrantes que para lá foram, advieram de territórios que passaram por intensas perseguições as bruxas, o que influenciou tal paranoia nas colônias. (KARLSEN, 1998). 

Os primeiros indícios

Salem diferente de Boston, era uma vila com algumas centenas de habitantes, a maioria vivendo da agricultura e da pesca, embora houvesse mercadores e profissionais liberais e do governo. Atualmente Salem ainda segue como uma cidade pequena, tendo menos de 50 mil habitantes. Sendo assim, no final do XVII, a vila era um local pacato e devido a pequena população, isso contribuía para que todos se conhecessem, assim como, era mais fácil atos de paranoia se espalharem. (KARLSEN, 1998). 

Como aponta Francis Hill (2002, p. 257), os primeiros indícios de algo estranho começaram entre duas primas, chamadas Betty Parris e Abigail Williams, as quais passaram mal, tendo alucinações. Mais tarde, algumas amigas delas chamadas Ann Putman e Elizabeth Hubbard, alegaram terem se sentido mal após comerem um bolo misterioso feito por escravas chamadas Tituba, Sarah Good e Sarah Osborne. Tais escravas eram de origem indígena o afro-americana, havendo preconceito com as culturas e crenças religiosas dos povos dessas mulheres. 

O caso repercutiu ainda em fevereiro daquele ano, as escravas foram acusadas de terem feito um "bolo de bruxa", com o qual deram para as crianças e adolescentes comerem, fazendo-os terem alucinações e passarem mal. Durante a primeira semana de março, os magistrados John Harthorne e Jonathan Corwin interrogaram as escravas, Tituba, a qual pertencia a família Parris, confessou ter feito o tal "bolo de bruxa" para prejudicar as garotas. Durante seu interrogatório ela disse ter feito um pacto diabólico também, sinal que confirmava a bruxaria, algo descrito desde o século XIV. Ela foi condenada pelo crime de bruxaria junto as outras duas escravas, que foram consideradas suas cúmplices. (BOYER; NISSENBAUM, 2003, p. 15). 

Novas denúncias

No entanto, as três escravas condenadas à bruxaria, não foram executadas de imediato, mas foram para a prisão. Aparentemente o caso parecia estar resolvido, as bruxas foram identificadas, agora estavam presas e aguardavam sua sentença. Entretanto, o caso teve uma reviravolta. Os ataques de histeria e convulsões das meninas não pararam. Betty Parris então disse ao pai, o reverendo Samuel Parris que possivelmente a senhora Martha Cory teria a enfeitiçado. Ela era uma beata respeitada na vila, logo, a acusação chocou a todos, levando os magistrados a terem que solicitar ajuda. (BOYER; NISSENBAUM, 2003, p. 15). 

No dia 19 de março chegou a Salem o reverendo Deodat Lawson, responsável por investigar o caso de bruxaria. Segundo os relatos da época, Lawson não teve boas impressões logo de início. Uma adolescente de 17 anos chamada Mary Walcott tinha marcas de mordida nos braços, por sua vez, durante um jantar na casa do reverendo Parris, Abigail surtou e começou a espalhar a lenha da lareira pela sala. Posteriormente, Lawson foi visitar os Putman, e encontrou a sra. Putman e os outros filhos adoentados, enquanto Ann de 12 anos, apresentava comportamento estranho. Lawson então deu voz de prisão para Martha Cory. (BOYER; NISSENBAUM, 2003, p. 16). 

No dia 21 de março era foi examinada publicamente. Em algumas épocas o exame das bruxas as vezes ocorria em igrejas, tribunais ou praças, sendo aberto ao público. Os magistrados, pastores, inquisidores, enfim, faziam uma série de perguntas as suspeitas e até poderiam procurar por marcas ou sinais que atestassem que elas fossem bruxas, além de alguns casos espetá-las com agulhas para ver se sangravam, ou até mesmo ameaçá-las com tortura. (MAINKA, 2002).

Um julgamento de bruxaria em Salem. Ilustração de William A. Crafts, 1876. 

Durante o interrogatório de Martha Cory, as meninas "enfeitiçadas" foram levadas para assistir, e essas começaram a agir de forma histérica, alegando que os beliscões e mordidas que Cory fazia, as garotas estavam sentindo-as. O tribunal e o público consideraram aquilo prova cabal que Martha Cory era uma bruxa. Ela foi enviada para a prisão, mas para a surpresa da comunidade, novas denúncias ocorreram nos dias seguintes. (BOYER; NISSENBAUM, 2003, p. 16). 

A Sra. Putnam acusou Rebeca Nurse de ser bruxa junto a sua amiga, Dorcas Good (filha de Sarah Good). Ambas tinham respectivamente 17 e 14 anos. Mas isso era apenas o começo, ao longo dos meses de abril e de maio mais de trinta pessoas foram acusadas de bruxaria ou de serem cúmplices das bruxas, acobertando os crimes delas. Giles Cory, marido de Martha Cory foi acusado, o Sr. Putnam também foi acusado, pois alegou que ele sabia que a família tinha sido vítima de bruxaria, mas não denunciou nada; o casal John e Elizabeth Proctor, Mary e Philip English, entre vários outros foram acusados também.(HILL, 2002, p. 257). 

Entretanto, no dia 10 de maio a suposta bruxa Sarah Osborne foi encontrada morta na prisão. Na época alegou-se que ela faleceu de causas naturais. Até hoje não se sabe a causa de sua morte, se ela teria sido assassinada ou realmente adoeceu. (BOYER; NISSENBAUM, 2003, p. 15). Todavia, o risco de adoecer era grande e até comum. As prisões costumavam serem insalubres e os prisioneiros recebiam maus-tratos. Sendo assim, Sarah Osborne foi a primeira suposta bruxa de Salem a morrer. 

Acusações em massa não eram incomuns, devido a histeria pública, boatos e atos de vingança, era comum após ter uma primeira ou segunda denúncias, várias outras se sucederem, logo, dezenas de denúncias eram feitas nos dias ou semanas seguintes. Robert Mandrou (1979) comenta que em muitas denúncias, essas tinham início com boatos, em geral de cunho maldoso, motivado por ignorância, desavença, ódio, inveja, vingança etc. Não obstante, dizer que uma bruxa supostamente era aquela mulher que causava o mal, isso não era uma regra de fato. Houve vários casos de parteiras, advinhas, curandeiras etc., que foram denunciadas por supostamente serem bruxas. Porém, tais atividades não eram fruto da "magia negra" ou causariam algum dano.

Começam as execuções

Em meados de maio Sir William Phipps foi nomeado governador de Massachusetts, e ele tratou de resolver logo o problema do alarde que ocorria em Salem. Ele nomeou o deputado William Stoughton como juiz-chefe para liderar os julgamentos em Salem. Assim, o tribunal começou suas atividades no começo de junho. As bruxas confessas deveriam ser executadas, porém, as várias acusações deveriam ser julgadas ainda. De qualquer forma, em 10 de junho ocorreu a primeira execução de uma das condenadas, uma mulher chamada Bridget Bishop, foi enforcada em Gallows Hill. O local ficou conhecido popularmente como Colina da Bruxa, pois ali outras condenadas foram também enforcadas pelo crime de bruxaria. (BOYER; NISSENBAUM, 2003, p. 16). 

Localização da Colina das Bruxas onde as bruxas de Salem foram enforcadas. 

Dessa forma, Bridget Bishop se tornou a primeira bruxa de Salem a ser executada. Nas semanas seguintes os julgamentos continuaram e no dia 29 de junho cinco mulheres foram condenadas a pena de morte, sendo elas Sarah Good, Susannah Martin, Elizabeth Howe e Sarah Wildes. A quinta mulher tratava-se da adolescente Rebeca Nurse, incriminada pelos Putnam, no caso, chegou-se a considerar que se tratava de uma calúnia e ela chegou a ser absolvida pelo júri, mas o governador William Phipps que havia concordado com a absolvição de Nurse, voltou a atrás e manteve a execução. As cinco foram enforcadas em 19 de julho. (HILL, 2002, p. 258). 

No mês de agosto seis bruxas já tinham sido executadas, embora sete houvessem morrido, já que Sarah Osborne faleceu de "causas naturais" na prisão. Entretanto, em 5 de agosto novo julgamento ocorreu, dessa vez a novidade estava na condição que alguns homens seriam julgados. Em geral à caça às bruxas perseguiu e condenou mulheres, raramente bruxos eram sentenciados, e normalmente quando homens eram implicados ao crime de bruxaria, apareciam como cúmplices das bruxas, não sendo eles necessariamente acusados de serem bruxos. 

Assim, entre os julgados daquele dia estavam: George Burroughs, George Jacobs, John Willard e John Proctor. Além deles quatro, duas mulheres chamadas Elizabeth Proctor e Martha Carrier também foram julgadas. Destaca-se o fato que Burroughs era um reverendo (pastor), apesar disso, foi acusado de acobertar as ações de bruxas de seu sua igreja. Nem mesmo os clérigos se salvavam das acusações, mesmo que a maioria fossem falsas, pois esses tipos de julgamentos eram demasiadamente arbitrários, pautados no fanatismo, ignorância e não na justiça, ética e lógica. Por sua vez, Elizabeth estava grávida e sua pena foi adiada, mas ela acabou sendo perdoada. Os quatro foram enforcados no dia 19 de agosto. (BOYER; NISSENBAUM, 2003, p. 17). 

No mês de setembro várias acusadas foram enforcadas, incluindo Martha Cory e Dorcas Hoar (Good). Além das duas outros julgados foram: Mary Easty, Alice Parker, Ann Pudeator, Mary Bradbury, Margaret Scott, Wilmot Redd, Samuel Wardwell, Mary Parker, Abigail Falkner, Rebecca Eames, Mary Lacy, Ann Foster, Abigail Hobbs e Giles Cory. No entanto, nem todas foram executadas. (HILL, 2002, p. 259). 

Abigail Falkner estava grávida e teve a pena adiada (mais tarde ela foi absolvida), por sua vez, Eames, Lacy, Foster e Hobbs foram absolvidas, sendo decretadas inocentes. Já Giles Cory, marido de Martha Cory, alegou sua inocência, assim como, de sua esposa, porém, ele foi considerado cúmplice. Sua pena de morte foi ser esmagado com pedras no dia 19 de setembro. Sua esposa e as outras condenadas foram enforcadas três dias depois, sendo as últimas bruxas executadas. (HILL, 2002, p. 259). 

Ilustração retratando a execução do fazendeiro Giles Cory, marido da suposta bruxa Martha Cory. 

Considerações finais

No mês de outubro de 1692 a população da colônia refletia sobre o ocorrido em Salem, onde mais de 20 pessoas haviam sido condenadas a pena de morte por suposto envolvimento com bruxaria. Alguns boatos de possíveis bruxas escondidas em outras cidades e vilas se espalharam, além de alguns estudiosos escreverem ensaios criticando os julgamentos de Salem, apontando arbitrariedade, pois as acusações eram baseadas em boatos e na maioria das vezes não havia provas apresentadas que sustentassem as acusações. Assim, apontava-se que vários inocentes foram sentenciados a morte. No final do mês o governador Sir Williams Phipps suspendeu o tribunal geral responsável por julgar os crimes de bruxaria em Salem. (BOYER; NISSENBAUM, 2003, p. 18-19). 

Algumas das meninas vítimas de bruxaria ainda apresentaram ataques de histeria, mas se considerou que pudesse ser algum problema mental (até possível fingimento), já que todas as bruxas "identificadas" estavam mortas. Além disso, as meninas foram enviadas para outras localidades da colônia, não voltando a ter mais crises. Depois disso surgiram outras denúncias por Salem e em outras vilas e cidades da colônia, entretanto, como o tribunal geral havia sido desativado, o governador William Phipps recomendou cautela nas investigações, pois as queixas pelos julgamentos imparciais em Salem estavam afetando o governo dele. (ARONSON, 2003). 

Em 3 de janeiro de 1639 o juiz William Stoughton presidiu sessão de julgamento em Salem. Na ocasião três acusadas foram inocentadas. Anteriormente outras cinco acusações também foram descartadas. Isso fazia parte da nova política de Phipps em evitar uma onda de denúncias baseadas em rumores e desafetos. Condição essa que acusações julgadas em Boston e Charlestown naquele ano, terminaram sem nenhuma execução. As culpadas foram enviadas à prisão, permaneceram algumas semanas ou meses ali, depois foram libertadas sob pagamento de fiança. (ARONSON, 2003). 

Anos depois alguns moradores de Salem confessaram que as denúncias foram forjadas, alguns foram coagidos a fazerem aquilo, outros falaram que estavam brigados com determinadas pessoas e decidiram se vingar, inventando as acusações. Outras suspeitas surgiram a partir de rumores, os quais não foram averiguados devidamente. Vale ressalvar que em alguns casos houve surtos psicóticos, alucinação por ingestão de fungos (algo que poderia ocorrer em comida contaminada ou no uso de remédios ou chás) e ataque epiléptico, foram tomados como sendo atos de bruxaria. Mas em termos gerais o julgamento das bruxas de Salem em 1692 foi promovido à base de histeria pública e fanatismo religioso, fato esse que não foram apenas escravas e mulheres pobres acusadas e condenadas, mas mulheres da classe média e alta também foram vítimas dessa perseguição, inclusive gente ligada à igreja, os quais não tinham problemas na comunidade. Isso mostra como o fanatismo foi grave naquele contexto. (ARONSON, 2003). 

Por fim, dezenas de pessoas foram acusadas de bruxaria, ao todo 20 pessoas foram condenadas à pena de morte, incluindo alguns homens, que eram maridos das suspeitas. A maioria das execuções foram feitas por enforcamento na Gallows Hill, embora que Giles Cory foi executado por esmagamento, uma punição que serviu de intimidação a população. Além dessas execuções, Sarah Osborne, Roger Toothaker, Ann Foster, Lydia Dustin e um filho sem identificação de Sarah Good, morreram na prisão, enquanto aguardavam julgamento. 

Após a execução das últimas bruxas em 22 de outubro de 1692, não houve mais execuções em Salem, embora ocorreram outros julgamentos que resultaram na absolvição das acusadas. Apesar disso, o incidente em Salem entrou para a história dos Estados Unidos como um dos piores casos de fanatismo religioso associado com a bruxaria.

NOTA: A partir do século XIX vários escritores e poetas americanos escreveram contos, poemas e novelas fazendo referências aos acontecimentos relacionados a bruxaria em Salem. Ilustrações e pinturas também foram feitos. Posteriormente compositores e músicos fizeram o mesmo. No século XX surgiram filmes, novelas de rádio, documentários, episódios de seriados etc., sobre o assunto. 

NOTA 2: No conto The Dreams in the Witch House (1933) de H. P. Lovecraft, a casa mal-assombrada da trama é habitada por uma bruxa que escapou de Salem. Além desse conto, Lovecraft fez referências a Salem em outras narrativas. 

NOTA 3: O filme The Maid of Salem (1937) foi o primeiro filme a se referir a bruxaria em Salem. Embora traga uma história romanceada, com inspirações nos filmes de cavalaria e mosqueteiros. 

NOTA 4: No filme Abracadabra (1993), as três bruxas irmãs que foram ressuscitadas, tinham sido enforcadas durante as execuções em Salem. 

NOTA 5: No jogo de detetive Murdered: Soul Suspect (2013) a trama se passa em Salem e possui referência ao evento das bruxas. 

NOTA 6: No jogo Fallout 4 (2015) há o Museu da Bruxaria em Salem, uma referência a caça às bruxas vivenciada na cidade. 

NOTA 7: No jogo Little Hope (2020) a trama faz referência a perseguição às bruxas de Salem. 

Referências bibliográficas:

ARONSON, Marc. Witch-hunt: mysteries of Salem Trials. New York, Atheneum Books, 2003. 

BOYER, Paul; NISSENBAUM, Stephen. Salem Possessed: The social origins of Witchcraft. Cambridge, Harvard University Press, 2003. 

HILL, Frances. A Delusion of Satan: The Full Story of the Salem Witch Trials. Old Saybrook, Da Capo Press, 2002. 

KARLSEN, Carol F. The Devil in the shape of a Woman. Witchcraft in the Colonial New England. New York: W. W. Norton & Company, 1998. 

MAINKA, Peter Johann. A bruxaria nos tempos modernos: sintoma de crise na transição para a modernidade. História, Questões & Debates, n. 37, 2002, p. 111-142.

MANDROU, Robert. Magistrados e feiticeiros na França do século XVII. São Paulo, Editora Perspectiva S.A. 1979.

THOMAS, Keith. Religião e o Declínio da Magia: crenças populares na Inglaterra, séculos XVI e XVII. Tradução de Denise Bottmann e Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras. 

Link relacionado: 

A caça às bruxas: XV-XVIII

terça-feira, 7 de maio de 2024

200 anos da Nona Sinfonia

A Nona Sinfonia de Ludwig von Beethoven se tornou uma das composições da música clássica mais famosas do mundo e da História. Considerado por muitos como sua obra-prima, essa sinfonia tornou-se tema de filmes, canções, documentários, poemas, livros, estudos, e até mesmo alguns de seus trechos são tocados em filmes, desenhos, jogos, programas diversos. É possível que você já tenha ouvido algum trecho dessa composição e não sabia que se tratava dessa música. 

Ludwig von Beethoven (1770-1827) propôs sua nona sinfonia em 1817 a Phillharmonic Society of London, em 1818 ele começou a escrevê-la aos 48 anos, na época ele já era um compositor e músico renomado, apesar que vivesse depressivo quanto a sua surdez gradativa. Soma-se a isso outros problemas pessoais e passionais que atrasaram a conclusão da sinfonia, além do alcoolismo, condição que ele manteve-se isolado da vida pública. Por conta de estar ficando surdo, Beethoven começou a usar alguns aparelhos para tentar canalizar o som melhor, mesmo que na prática tais aparelhos consistissem em tubos colocados no ouvido e não adiantasse muito. Além disso, ele também deitava a cabeça no piano para sentir as vibrações. 

Pintura retratando Ludwig van Beethoven por volta de 1820, na época ele estava escrevendo a Nona Sinfonia. 

Mesmo estando perdendo a audição cada vez mais, Beethoven seguiu escrevendo sua última sinfonia. Para compô-la ele inspirou-se no poema Ode à Alegria (Ode die an Freude), escrito em 1785 pelo poeta e filósofo alemão Friedrich Schiller (1759-1805), um dos autores preferidos de Beethoven. Inclusive os planos para escrever uma música sobre esse poema que exaltava o valor da amizade, já tinham sido cogitados anos antes, mas Beethoven adiou os planos de composição por vários anos. 

Sendo assim, inspirado por tal poema, Beethoven decidiu colocar em sua sinfonia uma parte cantada, dessa forma, no quarto movimento, o coral cantaria uma música inspirada no poema de Schiller. Além dessa inspiração, Beethoven também se inspirou na obra de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), compositor pelo qual Beethoven considerava ser um mestre na música clássica. Logo, em alguns momentos da melodia e da tonalidade da composição, nota-se semelhanças com a obra de Mozart, uma homenagem prestada ao mesmo. 

A composição de nona sinfonia demorou alguns anos, fato esse que somente em 1824 Beethoven a concluiu. Seis anos após tê-la começado. Oficialmente a música é chamada de Sinfonia N. 9 em ré menor, op. 125, com coral. Todavia, ela acabou sendo mais conhecida como a Nona Sinfonia, a qual foi publicada doze anos após a Oitava Sinfonia (1812). 

Seu lançamento em 7 de maio de 1824 gerou grande comoção na época. A sinfonia foi apresentada no Teatro Kärtntnerthor em Viena, um dos mais famosos do país. Lembrando que a Áustria era considerada a referência mundial nos concertos e até em ópera por certo tempo. Aquela apresentação seria bastante especial, não apenas por ser o lançamento de uma sinfonia do famoso Ludwig von Beethoven, mas pela condição de ser a primeira sinfonia que ele lançava após doze anos. Além disso, Beethoven esteve presente no lançamento, já que desde então ele esteve vários anos afastado dos teatros e palcos devido aos seus problemas de saúde. 

Ilustração representando o Teatro Kärtntnerthor em 1830, seis anos após a Nona Sinfonia ser ali lançada. 

Ele apesar de ter seus 54 anos, aparentava ser bem mais velho devido aos problemas de saúde, além de que nesse tempo ele já estivesse surdo. Fato esse que ele foi convidado pelo maestro Michael Unlauf a ficar na tribuna, diante do palco, enquanto ele sentia a vibração da música, pois não conseguia ouvi-la. Segundo o relato da época, o velho compositor estava animado como uma criança diante de um espetáculo maravilhoso, ele gesticulava e balançava a cabeça, em alguns momentos atuava como maestro informalmente. 

A Nona Sinfonia é dividida em quatro movimentos e seu tempo de execução é estimado em 65 minutos (algumas versões são um pouco maiores). O primeiro movimento começa com um Allegro, já o segundo movimento intercala-se entre o Molto vivace e o Presto, sendo mais extenso que o movimento anterior. Na metade da sinfonia o terceiro movimento é o segundo mais extenso da composição, intercalando-se entre dois Adagios, dois Tempos e dois Adantes. Finalmente chegamos ao quarto movimento que é a parte mais famosa da sinfonia devido ao coral cuja letra foi inspirada no poema Ode à Alegria. O início dos quatro movimentos são bastante marcantes pelas suas melodias, pois costumam serem os momentos mais tocados além do coral. 

Letra do coral da Nona Sinfonia

Baixo

Ó, amigos, não nesse tom!

Em vez disso, cantemos algo mais delicioso

cantar e sons alegres

Alegre! Alegre!

Baixo. Quarteto e coro

Alegria, formosa centelha divina,

Filha do Elíseo,

Ébrios de fogo entramos

Em teu santuário celeste!

Tua magia volta a unir

O que o costume rigorosamente dividiu.

Todos os homens se irmanam

Ali onde teu doce voo se detém.

Quem já conseguiu o maior tesouro

De ser o amigo de um amigo;

Quem já conquistou uma mulher amável

Rejubile-se conosco!

Sim, mesmo que ele chama de uma alma

Sua própria alma em todo o mundo!

Mas aquele que falhou nisso

Que fique chorando sozinho!

Alegria bebem todos os seres

No seio da Natureza;

Todos os bons, todos os maus,

Seguem seu rastro de rosas.

Ela nos deu beijos e vinho e

Um amigo leal até a morte;

Deu força para a vida aos mais humildes

E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Tenor e coro

Alegremente, como seus sóis voem

Através do esplêndido espaço celeste

Se expressem, irmãos, em seus caminhos,

Alegremente como o herói diante da vitória.

Coro

Abracem-se milhões!

Enviem este beijo para todo o mundo!

Irmãos, além do céu estrelado

Mora um Pai Amado.

Milhões, vocês estão ajoelhados diante Dele?

Mundo, você percebe seu Criador?

Procure-o mais acima do Céu estrelado!

Sobre as estrelas onde Ele mora!

Uma página manuscrita do quarto movimento da Nona Sinfonia. 

Considerações finais:

Dizem que Beethoven ficou muito feliz na estreia de sinfonia e recebeu as felicitações e admirações nos meses seguintes. Isso o animou a escrever novas composições incluindo a Décima Sinfonia que acabou não sendo concluída. Entretanto, Beethoveen voltou a piorar de saúde entre 1826 e 1827, estando bastante magro, com fortes dores abdominais e até chegou a tossir sangue. Em 1827 ele ficou acamado por semanas até que faleceu no final de março aos 57 anos. Seu velório e funeral foi acompanhado por mais de 20 mil pessoas, já que ele era uma celebridade na época, o velho compositor que ficaria muito mais famoso após a morte. 

Suas composições continuariam a serem apresentadas e inspirarem gerações de músicos, a Nona Sinfonia gradativamente foi ganhando mais destaque e na década de 1860 a partir da publicação da edição de Breitkopf & Härtel (1864), lhe concedeu o status de sinfonia mais famosa dele. 

Em 19 de janeiro de 1972 a União Europeia adotou parte da Nona Sinfonia como música oficial da organização. O maestro Herbert von Karajan (1908-1989) foi o responsável por fazer a adaptação da sinfonia para se tornar o hino da UE, até hoje utilizado em cerimônias. 

NOTA: O filme Minha Amada Imortal (1994) mostra alguns momentos da composição de Beethoven para a Nona Sinfonia e sua estreia. 

NOTA 2: O empresário Norio Ohga (1930-2011) foi presidente da Sony (1982-1995), nessa época a empresa passou a fabricar CDs, disputando esse mercado com a Philipps. A empresa queria adotar o formato de 10 cm de diâmetro, o que diminuiria o espaço de armazenamento, mas seria mais barato, entretanto, Ohga era um fã de música clássica e exigiu que os CDs da empresa teriam que comportar o tempo de duração da Nona Sinfonia. A música possui em média 65 minutos, mas Ogha escolheu uma versão de 1951 que tinha 74 minutos. Assim, o CD passou para 12 cm de diâmetro, permitindo 80 minutos de gravação naquela época. 

Referências bibliográficas

COOK, Nicholas. Beethoven: Symphony No. 9. Cambridge Music Handbooks. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

HOPKINS, AntonyThe Nine Symphonies of Beethoven. London: Heinemann, 1981. 

Link: 

Nona Sinfonia apresentada no Teatro Municipal de São Paulo