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Leandro Vilar

quinta-feira, 6 de junho de 2024

80 anos do Dia D

Uma das operações mais cruciais durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi chamada de Operação Neptuno, popularmente conhecida como Dia D, uma referência a ser algo decisivo. Essa missão tripla marcou o início da Operação Overlord para se ocupar a região da Normandia no noroeste da França, empurrando as forças nazistas de volta as fronteiras. Milhares morreram na ocasião, porém, o sucesso das tropas aliadas foi essencial para o enfraquecimento das defesas nazistas na França, prejudicando a estratégia alemã nos meses seguintes. O presente texto abordou alguns aspectos especificamente da invasão ocorridas nas praias áridas e frias da Normandia, numa terça-feira 6 de junho de 1944

Desembarque das tropas Aliadas após a conquista da Praia de Omaha. 

O impasse

A guerra já durava por quatro anos e não havia expectativas de terminar. A entrada dos Estados Unidos no conflito em 1942, tida como a esperança de pôr fim as planos do Eixo, não surtiu o efeito esperado. Mais de um ano havia passado, e a guerra seguia ferrenha no Atlântico, Europa, Mediterrâneo, norte da África e no Pacífico. Em meados de 1943 as forças Aliadas começaram a planejar uma investida para tentar se recuperar território ocupado pelas forças nazistas na França. O ataque iniciaria com uma movimentação naval e aérea, no que viria a se tornar a Operação Overlord para se libertar a Normandia, território crucial para forçar o recuo das tropas alemãs. 

Para evitar vazamento de informações, vários informes falsos foram criados e disseminados, especialmente a chamada "Operação Guarda-Costas", um estratagema para distrair a inteligência alemã do real objetivo dos Aliados que era atacar a Muralha do Atlântico, nome dado a uma série de defesas costeiras que iam da fronteira da Espanha com a França, subindo pela costa francesa, belga, holandesa, alemã, dinamarquesa e norueguesa. As defesas consistiam em casamatas, bunkers, canhões, metralhadoras, cercas de arame farpado, bloqueios, minas, trincheiras, muros etc. (DARMAN, 2012). 

Mapa da Muralha do Atlântico.

Apesar da tentativa de se evitar vazamento de informações, ainda assim, os nazistas conseguiram obter informações de que os Aliados pretendiam realizar um ataque costeiro, então em 1944 o ditador Adolf Hitler incumbiu o renomado marechal-de-campo Erwin Rommel (1891-1944), para comandar as forças de defesa da Muralha do Atlântico, reforçando seu contingente, armamento e suprimentos numa clara medida de precaução, pois sabia-se que havia planos de um ataque naval. Felizmente, o local e data de tal ataque conseguiu manter-se em sigilo. (DARMAN, 2012). 

Durante a Conferência de Trident, em Washington D.C, em maio de 1943, foi definido o plano de uma grande invasão naval na França. Naquele momento, os Estados Unidos e o Reino Unido tomaram a dianteira para preparar os planos de invasão, já que entre os Aliados, os dois possuíam as maiores e mais poderosas marinhas. O comando da chamada Operação Neptuno foi incumbido ao general americano Dwight D. Eisenhower (1890-1969), comandante do Quartel-General Supremo das Forças Aliadas Expedicionárias e o general Bernard Montgomery (1887-1976), comandante do 21o Grupo do Exército Britânico. (DARMAN, 2012). 

Preparativos para a invasão

Foi decidido que a invasão naval ocorreria na França. Quatro localidades foram cogitadas: Bretanha, Cotentin, Normandia e Pas-de-Calais. As duas primeiras opções foram rejeitadas por se tratarem de penínsulas, o que facilitaria emboscadas e a criação de bloqueios que barrassem as forças terrestres que seguiriam após o desembarque. Por sua vez, Pas-de-Calais é um departamento importante e geograficamente próximo da Inglaterra, um alvo em potencial, logo, seria reforçado ao máximo, assim, optou-se pelo litoral da Normandia. (DARMAN, 2012). 

A costa da Normandia é vasta, irregular, possuindo praias arenosas e desertas, fozes de rios, pequenas falésias, falta de portos naturais, águas revoltas, arrecifes, além de que os portos existentes estavam ocupados e defendidos pesadamente por tropas alemãs. Soma-se a isso que as praias desertas eram guardas por casamatas com canhões e metralhadoras, parte da linha de defesa da Muralha do Atlântico. Dessa forma, na falta de conseguir um bom local para aportar, o jeito seria fazer uso de uma missão anfíbia e aérea, pois parte das tropas chegaram a Normandia por paraquedas. No entanto, o grosso do exército seria desembarcado. (DARMAN, 2012). 

Rotas das forças Aliadas para o desembarque na Normandia, em 6 de junho de 1944. 

Inicialmente a invasão contaria com três divisões, mas Eisenhower e Montgomery solicitaram mais tropas, além de quererem contar com apoio aéreo também, pois a proposta inicial era um ataque naval para desembarcar as tropas terrestres. Assim, os planos previstos para ocorrerem em maio, foram adiados em um mês para conseguir realocar-se as tropas. Assim, foram convocadas 39 divisões, sendo 22 americanas, doze inglesas, três canadenses, uma polonesa e uma francesa. As tropas compunham forças navais, terrestres, contabilizando cerca de 1 milhão de homens envolvidos, a maior força composta para uma invasão naval da História. (DARMAN, 2012). 

Após meses de preparativos e um mês de adiamento por conta de condições climáticas inapropriadas e o atraso da chegada das últimas tropas, o ataque foi agendado para 6 de junho. Ele possuía alvos que receberam os codinomes Omaha, Utah, Sword, Gold e Juno. Todas essas praias apesar de serem desertas, pois não recebiam banhistas, no entanto, possuíam guarnições, casamatas, trincheiras, canhões e metralhadoras, pois faziam parte da estrutura defensiva da Muralha do Atlântico. (DARMAN, 2012). 

Mapa das cinco praias atacadas no Dia D. 

O Dia D

A Praia de Utah ficava situada na Península de Contetin, entre os rios Douve e Vire, os objetivos principais era formar um bloqueio na entrada da península e cercar o porto de Cherboug. A maioria das tropas eram americanas formadas pela 4a Divisão de Infantaria, o 70o Batalhão de Blindados, as 82a e 101a divisões de paraquedistas. No caso, os paraquedistas foram enviados a 1h30 da madrugada, pois dariam suporte as tropas que viriam por mar, algo que começou as 6h30 com o desembarque da infantaria e dos blindados. As forças que defendiam o território de Utah foram subjugadas em poucas horas. (BALKOSKI, 2005). 

Soldados americanos desembarcando na Praia de Utah. 

As forças anfíbias eram formadas por 21 soldados, os quais receberam apoio de mais 14 mil soldados que vieram em aviões ou saltaram de paraquedas. A força alemã naquela localidade era entorno de 13 mil soldados. Os Aliados tiveram mais de 3 mil mortos entre suas baixas, mas conseguiram subjugar as defesas alemãs, capturando as pequenas cidades de Pouppeville, La Madeleine e Manche. Um dos comandantes encarregados era Theodore Roosevelt Jr, filho do ex-presidente dos Estados Unidos. (BALKOSKI, 2005). 

A Praia de Omaha compreendia uma extensão de oito quilômetros entre as cidades de Sainte-Honorine-des-Pertes e Vierville-sur-mer, sua missão principal era assegurar aquele território para conectar-se as tropas em Utah e as tropas em Gold, de forma que conseguissem ocupar a Baía do Sena. O desembarque em Omaha é bastante memorável, pois ocorreu diante de um paredão de casamatas e bunkers equipados com canhões e metralhadoras. Devido a extensão do território, o mesmo foi subdividido em oito setores nomeados pelos codinomes Charlie, Dog, Easy e Fox, contando com a atuação da 29a Divisão de Infantaria Americana, a 1a Divisão de Infantaria Americana, a 9a Divisão de Rangers entre outras. O detalhe é que somente essas três divisões eram formadas por soldados de elite e veteranos de guerra, o que foi crucial para combater a 352a Divisão de Infantaria Alemã. (BALKOSKI, 2004). 

Os oito setores em que a Praia de Omaha estava dividida para a operação de invasão. 

As forças Aliadas eram formadas por 43.250 soldados, 2 encouraçados, 3 cruzadores, 12 contratorpedeiros e mais de 100 embarcações utilizadas no desembarque dos soldados. Por sua vez, as forças alemães eram compostas 7.800 soldados divididos em 8 bunkers e 35 casamatas. Apesar do menor número das forças nazistas, ainda assim, o desembarque foi um massacre sem igual. Muitos soldados Aliados morreram ainda dentro das embarcações ou logo após as pontes abaixarem. Outros nem chegaram a sair da água e conseguir atingir terra firme. Relatos da época fala de homens orando, chorando, murmurando, tremendo de medo, tendo urinado nas calças. O número de mortos nesse desembarque arriscado é estimado entre 2 a 3 mil mortos, além de que muito mais faleceu nos combates seguintes para tomar controle daquele território. (BALKOSKI, 2004). 

Soldados desembarcando na Praia de Omaha. 

O número de mortos para o lado Aliado é estimado por volta de 4 mil mortes, enquanto os alemães perderam entorno de 1.200 homens. A alta taxa de baixas para o lado dos Aliados deveu-se a estratégia suicida de desembarcar a infantaria logo em frente ao fogo cruzado, mesmo que isso tenha servido de distração para os paraquedistas e as outras tropas poderem atacar pelos flancos. (BALKOSKI, 2004). 

A Praia de Gold ficava na parte central da área da invasão, situada entre Port-en-Bessin e La Revière. Devido a falésias arenosas, o desembarque teve que ser realocado alguns metros para poder contornar aquele obstáculo do terreno. As principais tropas de invasão era britânicas, embora holandeses, poloneses e soldados de outras nacionalidades também participaram. A missão das tropas ali era assegurar o território costeiro, conectar-se com as tropas em Omaha e Juno, capturar o porto de Port-en-Bessin e a cidade de Bayeux. (TREW, 2004). 

A força invasora possuía mais de 24 mil soldados, a maioria de origem britânica, indo confrontar tropas alemãs da 352a Infantaria e da 716a Infantaria. Devido ao contingente alemão estar em desvantagem, foi rapidamente subjugado em poucas horas. A vitória na Praia de Gold foi quase avassaladora, abrindo caminho rapidamente pelo interior até seus alvos principais e tendo um número de baixas estimado em 350 mortos. (TREW, 2004). 

Tropas britânicas desembarcando na Praia de Gold. 

A Praia de Sword era bastante longa como a de Omaha, possuindo 8 km de extensão, estando situada entre Saint-Aubin-sur-Mer e Ouistreham. A maioria dos soldados eram das divisões britânicas da marinha e da aeronautica, já que alguns paraquedistas atuaram nessa invasão. Os objetivos do ataque pela Sword era ocupar a ponte do rio Orne, o Canal de Caen, além de destruir a artilharia alemã pelo caminho, especialmente em Merville-Franceville-Plage. Além dos britânicos, franceses, poloneses e noruegueses atuaram nessa batalha. (FORD, 2004). 

A invasão por Sword foi marcante devido a grande quantidade de tanques de guerras desembarcado por sua costa, foram 223 ao todo. Os quais acompanhavam mais de 23 mil soldados. Por sua vez, as forças alemãs contavam com mais de 9 mil soldados e mais de 120 tanques. Apesar do contingente militar superior dos Aliados a conquista dos alvos demorou várias horas para se realizar devido a lentidão da mobilização das tropas e a defesa acirrada dos alemãs. Ainda assim, ao final daquele dia, Caen havia sido capturada. O número de mortos para os Aliados foi de mais de 300, já as baixas alemãs são desconhecidas. (FORD, 2004). 

Tropas britânicas desembarcando na Praia de Sword. 

A Praia de Juno ficava situada entre Courseulles e Saint-Aubin, basicamente estava entre as praias Gold e Sword. As principais tropas atuantes eram canadenses, com o apoio de britânicos, franceses, noruegueses, entre outros. Os objetivos dessa invasão era capturar o aeroporto de Carpiquet, tomar controle da estrada para Bayeux e Caen, assim como, assegurar o terreno de forma a se conectar com as tropas atuantes em Gold e Sword. (BARRIS, 2004). 

As tropas canadenses eram na maioria provenientes da 3a Divisão, centrando-se nas pequenas cidades de Saint-Aubin, Courseulles e Bernières. A operação em Juno contou também com alguns tanques de guerra e um batalhão de comandos da Marinha Real Britânica, uma tropa de elite da época. Por sua vez, as forças alemãs faziam parte da 716a Divisão. Os ataques tiveram início pela manhã, mas o mal tempo atrasou o restante do desembarque até as 11h. Além disso, as defesas alemães estavam bem posicionadas e municiadas, levando algumas horas para serem derrotadas. Todavia, após 340 baixas, outros centenas de feridos, alguns capturados, as tropas invasoras por Juno, conseguiram conquistar seus objetivos na noite daquele dia. (BARRIS, 2004). 

Tropas canadenses caminhando pela orla de Bremières, na Praia de Juno. 

Resultados da Operação Overlord 

Apesar do sucesso das cinco invasões da Operação Neptuno em 6 de junho de 1944, isso era apenas o começo. A chamada Operação Overlord teve início, a qual perduraria por quase três meses com o objetivo de recuperar o máximo de território possível da Normandia, expulsando os alemãs. (NEILLANDS, 2002). 

À medida que portos, aeroportos e cidades eram sendo liberadas do domínio alemão, mais e mais reforços iam chegando. Até o final da operação em 30 de agosto de 1944, mais de 2 milhões de soldados de diferentes nacionalidades desembarcaram na Normandia. Por sua vez, os alemãs possuíam uma força estimada entre 380 mil a 640 mil soldados. (ZETTERLING, 2000). 

Estima-se que mais de 150 mil soldados aliados morreram nesses meses de operação, já o saldo para os alemãs foi pior, mais de 400 mil mortos. Porém, não foram apenas militares que acabaram morrendo. Estimativas apontam de 25 a 39 mil civis mortos durante os conflitos, o que incluiu alguns bombardeios. (ZETTERLING, 2000). 

A Batalha da Bolsa de Falaise (12-21 de agosto) foi o confronto decisivo para subjugar o domínio alemão na Normandia, forçando a retirada dos mesmos. O confronto ocorreu ao redor da cidade de Falaise, envolvendo infantaria e blindados. Apesar dos temidos tanques Panzer do exército alemão, os aliados em maior número conseguiram cercar as defesas nazistas e subjuga-las. Mais 5 mil soldados aliados pereceram no conflito, enquanto os alemães perderam em torno do dobro disso, porém, cerca de 50 mil soldados nazistas foram capturados. (NEILLANDS, 2002). 

Rotas das batalhas pela Normandia durante a Operação Overlord. 

Após isso, conflitos menores continuaram a ocorrer e em 1 de setembro o general Eisenhower assumiu o comando das divisões, organizando os planos de defesa e iniciando novas operações para empurrar o recuo do exército nazista do Front Ocidental. A vitória na Normandia foi crucial para mudar o rumo da guerra, enfraquecendo as defesas alemães, por conta disso a Operação Neptuno ficou conhecida como Dia D, o "dia decisivo". 

NOTA: Além dos americanos, britânicos, canadenses, franceses, poloneses, holandeses e noruegueses, participaram também do Dia D soldados australianos, belgas, checos, gregos, neozelandeses e rodésios (atual zimbabuanos). 

Referências bibliográficas:

BALKOSKI, Joseph. Omaha Beach. USA: Stackpole Books, 2004. 

BALKOSKI, Joseph. Utah Beach: The Amphibious Landing and Airborne Operations on D-Day, June 6, 1944. Mechanicsburg, PA: Stackpole Books, 2005. 

BARRIS, Ted. Juno. Canadians at D-Day: June 6, 1944. Markham, ON: Thomas Allen Publishers, 2004.

DARMAN, Peter. The Allied Invasion of EuropeRosen Publishing Group, 2012. 

FORD, Ken. Sword Beach. Col: Battle Zone Normandy. [S.l.]: Sutton Publishing, 2004. 

NEILLANDS, Robin. The Battle of Normandy, 1944. London: Cassell, 2002.

TREW, Simon. Gold Beach. Col: Battle Zone Normandy. Stroud, Gloucestershire: Sutton, 2004. 

ZETTERLING, Niklas. Normandy 1944: German Military Organisation, Combat Power and Organizational Effectiveness. Winnipeg: J.J. Fedorowicz, 2000. 





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