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Leandro Vilar

terça-feira, 9 de julho de 2024

Ossos de monstros: a descoberta dos dinossauros

O ser humano tem contato com fósseis de dinossauros desde os tempos pré-históricos, porém, o estudo desses seres antigos somente teve início no século XIX, antes disso, tais ossos, dentes, chifres e garras eram considerados pertencentes a diferentes tipos de monstros. Por exemplo, na China era comum referir-se a eles como sendo "ossos de dragão", inclusive vendidos como troféus e usados na medicina tradicional chinesa. Já na Europa e Oriente Médio, tais ossos eram referidos como pertencentes a gigantes. O presente texto apresenta como surgiu o conceito de dinossauro e teve início seu estudo pela Paleontologia do Oitocentos. 

Desenho de um esqueleto de estegossauro por Othniel Charles Marsh, em 1896. 

Introdução

Na Antiguidade, estudiosos gregos, persas, indianos e chineses chegaram a escrever sobre os ossos de dinossauros, mas relataram que se tratavam de monstros ou de animais fabulosos. Essa tendência se manteve pelo medievo e a modernidade. Mesmo que na Idade Moderna tenha começado a se delinear a Geologia, a Biologia, a Zoologia e a Botânica, os fósseis de dinossauros e de outros animais pré-históricos, ainda eram considerados sendo de monstros ou de algum tipo de animal desconhecido. No caso de fósseis achados em praias, as vezes eram considerados como sendo de baleias. 

Todavia, o interesse por estudar esses fósseis numa perspectiva zoológica começou a se delinear nos séculos XVII e XVIII, influenciados pela popularidade do antiquarismo, movimento cultural surgido na Europa, em que entusiastas por antiguidades e coisas tidas como exóticas, começavam a fazer coleções. Alguns antiquaristas eram apenas colecionadores, outros se preocupavam em estudar os artefatos e peças que compunham suas coleções. Neste ponto, alguns antiquaristas reuniam conhecimentos sobre Filosofia Natural, área que na época englobava a História, a Arqueologia, a Zoologia, a Botânica, a Mineralogia, a Geologia, a Química etc. Mais tarde no XIX com o surgimento da Antropologia e da Sociologia, essas ciências humanas também foram inseridas nos estudos dos antiquaristas, apesar que esse modismo já estivesse em declínio. 

Nos séculos XVII e XVIII tivemos publicações de alguns artigos e livros que analisavam os fósseis, tentando identificar a quais animais pertenceriam. A maior parte das hipóteses se mostravam inconclusivas ou até erradas, pois se desconheciam os dinossauros e espécimes pré-históricos. Mas a ciência é construída com o acerto e o erro. Todavia, algumas dessas obras ainda cogitavam que esses grande ossos pertenceriam a gigantes. 

Um exemplo disso foi o livro Herbarium of the Deluge (1709) do médico suíço Johan Jakob Scheuzchzer (1672-1733), o qual era interessado por filosofia natural, ao mesmo tempo que devido a ser influenciado pelo Cristianismo, ele procurou evidências na natureza que comprovassem o relato bíblico, assim, Schezchzer estava entre os estudiosos daquele tempo que defendiam a hipótese de que os fósseis de dinossauros e animais pré-históricos de grande porte, eram os esqueletos dos gigantes ou Nefilins, que viveram antes do Dilúvio. E o fato de eles serem tão antigos seria uma evidência de quão antigo ocorreu o Dilúvio bíblico. (DOMÉNECH & MARTINELL, 1996).

Entretanto, foi ainda no XVIII que mudanças significativas ocorreram. O botânico, zoólogo e médico sueco Carlos Lineu (1707-1778) criou a Taxonomia a partir de seu artigo Systema Naturae (1735), obra que ele seguiu atualizando até perto do fim da vida. A Taxonomia consiste numa área da Biologia na qual classifica-se os seres vivos, dividindo-os em famílias, classes, espécies, filos etc., além de propor nomes científicos para eles. 

Ainda no XVIII o naturalista Georges-Louis Leclrerc, Conde de Buffon (1707-1788) em seu livro Histoire Naturelle (1749-1804), cujos últimos volumes foram publicados postumamente, possuía capítulos dedicados a catalogação dos fósseis, além da proposta de seu estudo científico sério. Para Buffon, os fósseis não seriam ossos de monstros, mas de animais que viveram a bastante tempo. Inclusive esse sugeria que tais fósseis fossem incluídos no patrimônio histórico do país descoberto, pois eram tempos em que o conceito de monumento e patrimônio começavam a serem delineados. (DOMÉNECH & MARTINELL, 1996).

Surge a Paleontologia e os dinossauros

Influenciado pelos trabalhos de Buffon e de outros naturalistas, antiquaristas e geólogos, o naturalista Georges Cuvier (1769-1832) apresentou interesse em estudar os fósseis, começando a escrever a respeito e a propor teorias de que épocas de extinção ocorreriam naturalmente, levando ao fim desses animais. Cuvier inclusive analisou fósseis de mastodontes e mamutes, na época, considerando-os como sendo de alguma espécie de elefante que foi extinta. Seu interesses pelos fósseis foi crescendo gradativamente. Em 1789 ele ao analisar os ossos de um animal grande descoberto na Argentina, constatou que eram parecidos com o bicho-preguiça, Cuvier o chamou de megatério ("besta gigante"), mais tarde em 1800 ele analisou os ossos de um estranho réptil voador, chamando-o de pterodáctilo. O qual posteriormente foi incluído na categoria dos dinossauros alados. (DOMÉNECH & MARTINELL, 1996).

Georges Cuvier, o "pai da paleontologia". 

No ano de 1822Henri Marie Ducrotay de Blanville que era editor do Journal de Pshique, criou a palavra paleontologie para se referir ao estudo dos fósseis, promovido por Cuvier, principal referência na época e outros estudiosos profissionais ou amadores. Neste tempo em que o termo paleontologia foi criado, pesquisas de ossos que pertencia a dinossauros já tinham sido realizadas, como o caso dos irmãos Mary e Joseph Anning que encontraram em 1811 ossos de um ictiossauro; Gideon Mantell em 1822 encontrou dentes do que era um iguanodonte; Mary Anning em 1822, em suas andanças pelas praias encontrou o esqueleto de um plesiossauro; o geólogo e naturalista William Buckland em 1824 encontrou a mandíbula de um megalossauro. (HOLTZ, 2007). 

Observa-se que nas décadas de 1810-1820 ossos e dentes de dinossauros já tinham sido descobertos, entretanto, não se sabia ainda que criaturas eram essas. Mas a realidade começaria a mudar com o trabalho de Gideon Mantell (1790-1852), quando ele publicou seu artigo The Age of Reptiles (1831), obra na qual ele propunha a teoria de que houve uma época longínqua em que "grandes répteis" existiriam no planeta há milhões de anos. Ele baseava-se na ideia de que os fósseis por ele e outros achados, seriam de criaturas similares a répteis. (HOLTZ, 2007). 

No ano de 1842 o proeminente paleontólogo e anatomista Richard Owen (1804-1892) criou o termo dinossauro ("lagarto terrível"), para se referir aos fósseis dos "grandes répteis" que vinham sendo descobertos nas últimas décadas. Influenciado pelo artigo de Mantell, Owen decidiu chamar esses animais antigos e ainda estranhos de dinossauros, incluindo criar o conceito taxonômico Dinosauria para incluí-los. A palavra criada por Owen acabou se popularizando e outros estudiosos começaram a adotá-la para se referir aos fósseis de grandes animais com características reptilianas, os quais passaram a serem popularmente chamados de dinossauros até hoje. (HOLTZ, 2007). 

Retrato de Richard Owen, o criador do conceito de dinossauro. 

Ainda na década de 1840 o geólogo e naturalista John Phillips (1800-1874) renomeou as eras geológicas, assinalando que a "era dos répteis" proposta por Mantell equivaleria ao período Mesozoico (252-66 milhões de anos atrás), que se divididia em três fases Triássico, Jurássico e Cetáceo. Phillips utilizou os conceitos já propostos anteriormente por geólogos, paleontólogos e naturalistas. Mais tarde essas nomenclaturas temporais foram melhor adequadas, passando serem chamadas de "era dos dinossauros". (PAUL, 2000). 

Entre as décadas de 1850 e 1920 os estudos sobre os dinossauros estiveram em alta, impulsionados pela consolidação da Paleontologia, do conceito de dinossauro, da taxonomia, impulsionados pela teoria da evolução defendida por Charles Darwin e William Wallace, apontando que os dinossauros representavam uma etapa da evolução da fauna terráquea, assim como, começaram a delinear semelhanças entre eles e as aves, algo impulsionado a partir de 1861 com a descoberta dos ossos de um Archaeopyterix na Alemanha. (PAUL, 2000). 

Soma-se a isso a criação de instituições, grupos e revistas paleontológicas, museológicas e naturalistas na Europa e Estados Unidos, que depois foram para outros continentes procurarem mais dinossauros e outros animais pré-históricos. Dessa forma, ao chegarmos no começo século XX, os dinossauros já eram relativamente populares em vários países, aparecendo em livros, histórias em quadrinhos, ilustrações e filmes.  

NOTA: No famoso livro Viagem ao centro da Terra (1864) de Júlio Verne, ele menciona dinossauros e outros seres pré-históricos vivendo no subterrâneo. 

NOTA 2: O livro O mundo perdido (1912) de Artur Conan Doyle, mostra um platô isolado no meio da Amazônia brasileira, onde viveriam dinossauros e outros seres pré-históricos. O livro foi adaptado ao cinema em 1925. 

NOTA 3: A animação curta-metragam Gertie, o Dinossauro (1914) de Winsor McCay é o primeiro desenho famoso com um dinossauro. 

Referências bibliográficas: 

DOMÉNECH, R; MARTINELL, J. Introducción a los fósiles. Madrid: Masson, 1996. 

HOLTZ, Thomas R. Jr. Dinosaurs: The Most Complete, Up-to-Date Encyclopedia for Dinosaur Lovers of All Ages. New York: Random House, 2007.

PAUL, Gregory S. The Scientific American Book of Dinosaurs. New York: St. Martin's Press, 2000. 

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