Tio Sam é um personagem fictício criado para simbolizar o sentimento patriótico dos Estados Unidos da América. Representado como um velho usando roupas com as cores da bandeira nacional, tendo um olhar sério e intimidador, Tio Sam surgiu ainda no século XIX, mas ficou mundialmente conhecido no XX por conta da campanha política de alistamento para a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Tio Sam na revista Judge de 8 de junho de 1918, incentivando a luta na Primeira Guerra, e aparecendo como característico símbolo patriótico. |
Antes de sua criação os EUA já possuíam outro personagem patriótico, sendo uma mulher chamada Colúmbia, a qual inicialmente representava as Treze Colônias Inglesas, mais tarde com a Revolução Americana (1775-1781), Colúmbia foi adaptada para se tornar uma referência ao conceito de "mãe pátria", passando a ser representada usando um vestido que emulava a bandeira dos Estados Unidos. Dessa forma, pelo restante do século XVIII, Miss Colúmbia era uma das personificações patrióticas dos EUA mais recorrentes.
Quanto a origem do Tio Sam, essa é incerta, pois o personagem somente ganhou fama décadas depois. Uma primeira hipótese sugere que o nome adviria de uma gíria militar usada por soldados para se referir ao país, pois Uncle Sam e United States, possuem a mesma sigla. Essa ideia aparece brevemente no jornal Niles Weekly Register em 1810.
A segunda hipótese é a mais famosa, a qual credita que Tio Sam seria inspirado em Samuel Wilson (1766-1854), o qual era dono de frigoríficos e armazéns, fornecendo suprimentos para o exército americano. Principalmente durante a Guerra de 1812, entre EUA e o Reino Unido. Nos barris de carne, estaria gravado as letras US, referência ao nome do país, sendo que os soldados diriam que US significaria "Uncle Sam". Embora não haja certeza de tais afirmações, em 2006, a casa onde ele morou em Mason, em Nova Hampshire, passou a ser conhecida como "casa do Tio Sam".
Uma terceira hipótese aponta o livro The Adventures of Uncle Sam, in Search After his Lost Honor (1816) de Frederick Augustus Fidfaddy. A obra é uma crítica social satírica as ações da polícia durante a Guerra de 1812, em que o protagonista chamado Tio Sam, está em busca de reencontrar sua honra perdida.
Depois disso algumas menções sutis ao personagem apareciam em jornais e revistas, mas ele ainda não simbolizava o patriotismo dos Estados Unidos, sendo mais uma piada para se referir ao país.
Tio Sam ganha um rival
Na década de 1830 surgiu o personagem do Irmão Jonathan, que passou a representar um típico morador da cidade grande da região da Nova Inglaterra (nordeste dos EUA). Inicialmente o personagem era uma referência satírica aos homens metidos a rico e serem elegantes, por isso ele utiliza casaca e cartola. Porém, alguns jornais o tornaram como uma crítica a burguesia. Outro uso também dado ao personagem foi de representar o empreendedor americano. Assim, nas décadas de 1840 e 1860, o Irmão Jonathan se tornou até mais popular do que o Tio Sam, pois o primeiro representava uma parcela do povo, o segundo representava o governo.
Representação do Irmão Jonathan em jornais da década de 1840. Ele foi rival do Tio Sam em popularidade e teria inspirado sua aparência também. |
Mas com o término da guerra e a vitória da União sobre a Confederação, Tio Sam voltou a ganhar prestígio nacional, novamente sendo associado como uma referência ao patriotismo, ao nacionalismo, ao dever de servir e proteger seu país. Inclusive por influência da vitória de Lincoln na guerra, mesmo que ele tenha sido assassinado por conta disso em 1865, Tio Sam nas décadas seguintes ganhou um visual, o qual combinava ideias do traje do Irmão Jonathan e possívelmente com a figura do presidente Lincoln, em que ambos tinham em comum usarem cartolas altas e barba sem bigode. Inclusive essa imagem foi usada numa caricatura já em 1870, como pode ser vista abaixo.
Charge política de 1870 mostrando Tio Sam e Mãe Britânia debatendo o que fazer com a pequena Canadá. Autoria desconhecida. |
Se o personagem foi inspirado realmente em Abraham Lincoln ou apenas uma alteração do Irmão Jonathan, ainda há dúvidas quanto a isso, mas o fato é que a partir da década de 1870 ele começou a ser retratado em jornais, charges, pôsteres, gravuras, ilustrações, cartões postais, selos etc. O personagem passou a ser representado como um homem idoso de seus sessenta e poucos anos, alto e magro, usando calças de listras, casaca, cartola e botas (ou sapatos). A depender do artista ele tinha barba, cavanhaque ou barbicha.
Em termos comportamentais, as charges mostravam Tio Sam como um velho patriota e conservador, de olhar sério e pouco amigável. O personagem costumava nas décadas de 1890 e 1920 a aparecer em charges com críticas sociais a falta de patriotismo, imoralidades, vadiagem, imigração, disputas eleitorais, piadas do cotidiano, problemas do governo etc..
Tio Sam e o banqueiro J. P. Morgan numa paródia de Émile Renouf, 1881. Na época, criticava-se a dependência e sujeição do governo ao banco de Morgan. |
Tio Sam numa propaganda de café da A. J. Kasper Co, em 1900. |
Tio Sam num cartaz de recrutamento para Primeira Guerra. Arte de James Flagg, 1917. |
Depois da Grande Guerra, o personagem seguiu em alta nos jornais, revistas, pôsteres, cartões, charges e em desenhos animados até a época da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), após isso ele entrou em declínio, perdendo popularidade desde então, tornando-se cada vez mais uma sátira negativa aos problemas do governo americano, sendo visto como a representação de ideias retrógradas, de um patriotismo fanático e do ultraconservadorismo.
Referências bibliográficas:
GERSON, Thomas. The Story of Uncle Sam: Godfather of America. New York, Uncle Sam Enterprises Inc, 1959.