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Leandro Vilar

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

A origem do Natal

Celebrado em 25 de dezembro no mundo, é um dos feriados mais importantes do Cristianismo, o qual se comemora o nascimento de Jesus Cristo, figura central dessa religião. Todavia, o Natal é uma tradição inventada, pois na Bíblia não informa a data em que Jesus nasceu. E como a Igreja possuía a necessidade de celebrar o Messias, teve que adaptar feriados pagãos de origem romana e mitraísta para poder criar a celebração do Natal. Mas quando isso começou realmente? No caso é preciso esclarecer dois aspectos: o primeiro diz respeito a escolha da data, o segundo refere-se a oficialização dessa escolha, pois embora 25 de dezembro tenha sido escolhida há séculos, no entanto, não era hábito comemorar essa data, mas sim a Páscoa e outros feriados religiosos. 

Adoração dos pastores. Matthias Stomer, 1632. 

Origem pagã

Como dito anteriormente, o feriado de Natal é uma tradição inventada, logo, como o Cristianismo Primitivo estava em desenvolvimento, havia a necessidade de instituir suas celebrações religiosas. Na Roma Antiga havia uma diversidade de feriados e festivais religiosos, alguns deles serviram de inspiração para a escolha da data do Natal. 

Um deles foi o Festival do Sol Invicto, celebrado a partir de 21 de dezembro, data do Solstício de Inverno no Hemisfério Norte, que marca oficialmente o início do Inverno, em que os dias se tornam curtos e as noites mais longas. No Hemisfério Sul o oposto acontece com o Solstício de Verão. A crença no Sol Invicto foi uma importação dos romanos a partir do contato com o Mitraísmo no Oriente Médio, uma religião politeísta com características de mistérios e iniciática, que se expandiu inicialmente entre os militares, pois tal divindade também estava associada com aspectos de força, bravura, honra, lealdade, comunhão etc. 

Além das características supracitadas ligadas ao culto dos militares, o Sol Invicto também era adorado por marcar a resistência solar diante dos meses de inverno, onde as noites eram mais longas. Assim, cultuava-se esse deus pedindo que os dias fossem mais longos quanto pudessem, que não faltasse calor e a primavera chegasse. 

Entretanto, os historiadores se divergem se tal festival influenciou diretamente a criação do Natal, mesmo que o argumento para isso seja a condição de que Jesus simbolicamente era associado ao Sol. No entanto, por outro lado, outra hipótese sugere que o Festival da Saturnália, que ocorria entre 17 a 25 de dezembro, sendo vários dias de festejos nas cidades romanas, dedicados a Saturno, deus do tempo e da agricultura. Nesse festival os romanos agradeciam ao deus pelo ano, as colheitas, pediam suas bênçãos para o próximo plantio que começaria na primavera. Também se comemorava o solstício de inverno, que marcava um novo ciclo das estações. 

As saturnálias foram um dos mais populares festejos religiosos da Roma Antiga, sendo um feriado nacional com direito a ter horário reduzido nas repartições públicas. Nos dias de festejo havia competições atléticas, desfiles, banquetes, música, procissões, oferendas e troca de presentes. Em alguns aspectos a folia de rua da Saturnália lembrava práticas carnavalescas. 

Criação do feriado

Embora não se tenha certeza se o Festival do Sol Invicto e a Saturnália influenciaram a criação do Natal, essa data foi escolhida em algum momento do século IV apenas, quando o papa Júlio I decretou que 25 de dezembro seria a data simbólica do nascimento de Cristo. Apesar disso, o feriado não era normalmente celebrado, já que a Páscoa era tida como mais importante, por representar o sacrifício e ressureição de Jesus, assim como, algumas igrejas asiáticas comemoravam o nascimento em 6 de janeiro, Dia da Epifania (mais tarde conhecido também como Dia de Reis), momento quando os Reis Magos prestaram homenagem a Jesus, reconhecendo-o como Deus manifesto. 

Alguns teólogos importantes dos séculos IV e V como São Jerônimo (c. 342-420) e São Agostinho de Hipona (354-430) comentam o dia 25 de dezembro como data de celebração do nascimento de Cristo. Ou seja, o feriado oficialmente existia, mas não era amplamente celebrado como se tornaria séculos depois. Condição essa que em 529 o imperador bizantino Justiniano I decretou a celebração do Natal como feriado nacional de seu império. Mas a prática não se regularizou após sua morte. 

O Concílio de Tours de 567 declarou que o Natal seria comemorado entre 25 a 5 de janeiro, criando-se os doze dias natalinos, o Christmastide. Período que marcava a data simbólica do nascimento de Jesus até a chegada dos Reis Magos e seu reconhecimento, culminando na Festa de Reis. Durante o período do Christmastide agregou-se celebrações a outros santos como Santo Estêvão, São Silvestre, Dia dos Mártires e a Virgem Maria, além da passagem do Ano Novo. Países como Inglaterra, Alemanha e Itália deram bastante atenção a esse período prolongado de festejos natalinos, enquanto em outros países, comemorava-se mais o Dia de Reis (6 de janeiro). 

No ano de 800, o rei franco Carlos Magno foi coroado no Natal em Roma, empossado como imperador dos romanos. O feito dele foi emulado por outros monarcas cristãos como Edmundo, o Mártir em 855 e Guilherme, o Conquistador em 1066. Dessa forma, ao longo a Idade Média o Natal era comemorado com a celebração de missas e jantares. Mas a prática de trocar presentes, ornamentar os lares e ruas, entre outros costumes, não existiam ainda. Foram surgindo ao pouco em alguns países, mas não eram uma tradição.

Após o século XVI, as Igrejas Protestantes seguiram comemorando o Natal em 25 de dezembro, dando mais preferência a essa data, renegando a celebração do Christmastide e do Dia de Reis. Apesar que essas comemorações não sumiram. Por exemplo, William Shakespeare em sua peça Noite de Reis (1602) comenta a respeito dessa tradição natalina expandida. 

A origem do presépio natalino

O presépio é um dos poucos símbolos natalinos com maior conotação religiosa, já que mesmo que se se alegue que a árvore de natal simboliza a "árvore da vida", os pisca-pisca são o brilho de Deus, a estrela o anúncio do nascimento de Jesus, no geral esses sentidos já perdeu sua influência. 

A tradição do presépio é creditada a São Francisco de Assis (1181-1226) que por volta de 1223 montou uma encenação teatral para representar o nascimento de Cristo. Apesar de haver incertezas se Francisco de Assis fez realmente essa peça, no entanto, é fato que no século XIII pinturas representando o nascimento de Cristo se popularizaram nas igrejas. 

O que acabou influenciando a criação de cenários mostrando a manjedoura na qual Maria teria dado à luz a Jesus. Essa prática foi se difundindo pelas igrejas, depois adotada pelos nobres, somente na Idade Contemporânea as pessoas começaram a montar pequenos presépios em suas casas, praças, parques e estabelecimentos. 

Peças de um presépio natalino datadas de c. 1290, expostas na Igreja de Santa Maria Maggiore, em Roma. 

A criação do Natal moderno

Foi no século XIX que algumas tradições natalinas começaram a surgir, especialmente na Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. Uma delas foi a árvore de natal que se formalizou com sendo um pinheiro adornado com bolas, fitas e estrelas durante a segunda metade do XIX, na Inglaterra. No século XX inseriu-se os pisca-pisca e outras variedades de arranjos natalinos para essas árvores. Além de criar-se o comércio da venda de pinheiros natalinos ou de árvores de plástico. 

Ilustração de uma árvore de natal, para o Bazar Harper, em 1870. 

Por sua vez, dos Estados Unidos pós-1850 veio a popularização do Papai Noel. Tal personagem é baseado na lenda de São Nicolau de Mira, o qual supostamente dava presentes para as crianças durante o mês de dezembro. Condição essa que essa lenda foi desenvolvida no folclore europeu de alguns países como Alemanha, Holanda e Inglaterra. Entretanto, foi nos EUA em que a figura tradicional do Papai Noel sendo um velho gordo, barbudo, vestido de vermelho, carregando uma grande sacola de presentes, viajando num trenó mágico puxado por renas, se popularizou. Por sua vez, no XX ele se tornou mundialmente reconhecido, impulsionado pelo marketing do capitalismo, que tornou o Papai Noel símbolo do Natal consumista. Contos, livros, filmes, jogos, ilustrações, ornamentos etc., foram criados para destacar a nobre missão de Noel em presentear as crianças pelo mundo. 

Ilustração japonesa de 1914 mostrando o Papai Noel. 

Dos Estados Unidos também adveio o costume de ornamentar as casas e cidades com árvores de natal, pisca-pisca, figuras do Papai Noel, renas, trenós, bolas natalinas, festões, bonecos de neve etc. Isso tudo gerou uma indústria de produtos natalinos que começa a vender suas mercadorias no começo de novembro. No caso americano, passado o Halloween, dias ou duas semanas depois as pessoas começam a ornamentar seus lares com a temática natalina. Ao longo do mês de dezembro as cidades americanas seguem bastante enfeitadas, o que revela a transformação de dezembro no mês natalino. O costume é visto também em outros países da Europa e das Américas, em que é possível encontrar árvores de natal em locais públicos e shoppings, além de que parques e avenidas são ornamentados com pisca-piscas e outros enfeites. 

Uma casa nos Estados Unidos super enfeitada para o Natal. 

A figura do Papai Noel serviu de catalizador para promover o setor de vendas de final de ano, já que a tradição desenvolvida desde fins do XIX é que no Natal você tem que dar presentes para seus familiares, amigos e colegas de trabalho. Assim, as lojas optam em fazer descontos ao longo de dezembro e até lançar alguns produtos nesse período para incentivar o consumismo. Além de mercadorias diversas, também se destaca à venda de alimentos como tortas, bolos, panetone, chocolate, peru, tender, chester, bacalhau, leitão, uvas passas, ameixas, pêssegos etc. 

No caso do costume de comer peru no Natal, essa é uma prática difundida pela cultura americana. Nos Estados Unidos já há o costume de comer peru durante o feriado do Dia de Ação de Graças que ocorre no mês de novembro, então os criadores de perus decidiram expandir essa prática para dezembro, aproveitando o restante das aves que não foram abatidas no mês anterior. A prática de comer peru no Natal acabou sendo exportada para outros países do Ocidente como Canadá, Inglaterra, Itália, Brasil etc. 

Ceia de natal. Pintura de Carl Larsson, 1904. 

As canções natalinas surgiram por volta do século XVI pela Europa, existindo em diferentes países, apesar que mundialmente as canções de origem inglesa e americana sejam as mais conhecidas por conta de serem bastante cantadas em filmes, desenhos, seriados e programas de televisão. A popularidade dessas canções ocorreu entre os séculos XIX e XX, sendo celebradas em igrejas, praças, parques, ruas, shoppings, eventos públicos e privados. Embora que hoje em dia tal costume esteja mais restrito a algumas igrejas, no caso de alguns países. 

Entre algumas canções famosas temos Noite Feliz (1818), que consiste numa composição alemã intitulada Stille Natcht; em seguida temos Jingle Bells (1857) que foi adaptada para o Brasil como Sino de Belém; já a canção We wish you a merry Christmas, popular hoje em dia é de datação incerta, composta entre o XIX e o XX. 

Grupo apresentando uma canção natalina. 

Foi também no século XX que se popularizou a Véspera de Natal, quando surgiu o costume de ao invés do jantar natalino ser celebrado na noite do dia 25, as pessoas começaram a realizá-lo na madrugada, logo após a transição do dia 24 para o 25. Tal costume se mantém em vários países, a ponto de que em alguns deles a Véspera de Natal é considerado um feriado natalino ou ponto facultativo nas repartições públicas. Além disso, também se tornou hábito (até inusitado) das pessoas enviarem feliz natal no dia 24 e não mais no dia 25. 

Referências bibliográficas: 

BOWLER, Gerry. The World Encyclopedia of Christmas. London: McClelland & Stewart, 2004. 

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