O jeans hoje é um dos tecidos mais usados no mundo no dia a dia, principalmente na forma de calças, mas também jaquetas, saias e bermudas. Porém, originalmente o jeans foi concebido como um tecido resistente para se produzir uniformes ou peças de roupa para o trabalho pesado, destacando-se o ofício do minerador.
Origem do jeans
O jeans consiste num tecido feito de brim ou ganga em língua portuguesa, já em inglês usa-se o termo denim. Esse tecido é feito de algodão, linho ou fibra sintética, trançados como ligamento do tipo sarja. No caso, os fios do jeans são tingidos de azul somente a parte da urdidura, enquanto a trama permanece branca, isso gera a coloração típica dos jeans que conhecemos até hoje, o qual não é inteiramente azul como alguns pensam.
O termo denim era de origem francesa, usado para designar um tecido feito de lã e seda, produzido na cidade de Nimes no século XVII, mas nos Estados Unidos, o termo passou a designar um tecido rústico de algodão tingido de azul. No entanto, a ideia por trás do jeans é mais antiga remontaria o final do medievo, quando cidades italianas como Gênova produziam um tecido rústico chamado gênes usado para se fazer forros, lonas e mais tarde empregado na produção de uniformes dos marinheiros. Assim, séculos antes o jeans já era conhecido por ser um tecido resistente.
Em 1872 o marinheiro e inventor russo Jacob W. Davis (1831-1908), já naturalizado americano, propôs Levi Strauss (1829-1902), um empresário e industrial teuto-americano, que fundou a Levi Strauss & Co. em 1853, empresa que produzia tecidos e roupas, a ideia de reforçar calças jeans usando rebites de cobre para os bolsos e a abotoadura. Levi Strauss se interessou pela proposta e mandou seus costureiros fazerem isso. O produto era dirigido aos trabalhadores como operários, marinheiros, lenhadores, mas principalmente mineradores, já que na Califórnia (onde estava a sede da empresa) ocorria a febre do ouro.
A venda de calças jeans deu certo a ponto que em 1873, Davis e Strauss patentearam a costura do produto, sob o número 139,121. A partir de então a empresa Levi Strauss & Co. passou a vender com exclusividade as chamadas calças Levi. Essa peça de roupa que utilizava tecido jeans, sendo tingido de azul, concedendo a coloração azul clara que conhecemos.
Mas o diferencial estava nos cortes da peça, seus rebites de cobre para tornar os bolsos mais resistentes para carregar peso e não descosturarem (a ideia para isso estava associada ao uso dos mesmos para guardar ferramentas), além da costura reforçada e material grosso. A intenção era que a calça jeans não rasgasse facilmente e fosse resistente a água. Duas características que ela mostrou estarem corretas.
Fotografia de 1895 mostrando mineradores da Califórnia usando calças jeans. |
Assim, ao longo do restante do século XIX, à venda de calças Levi foi se popularizando pela Califórnia entre os trabalhadores fossem mineradores, marinheiros, carregadores, vaqueiros (cowboys) etc., e depois sendo vendida em outros estados do país. Além das calças jeans, a Levi Strauss & Co. passou a produzir também macacões e casacos. O que incluiu também peças femininas mais tarde. Devido a popularidade das calças Levi, outras empresas começaram a vender produtos jeans para disputar esse crescente mercado de roupas. Fato esse que em fins do XIX, a Levi Strauss & Co. já fazia propaganda dizendo que ela "tinha o jeans azul original" e que as pessoas "evitassem comprar cópias baratas".
Propaganda da Levi mostrando a resistência de suas calças e recomendando não usar imitações. Datação incerta, mas final do XIX. |
Apesar da popularização do jeans, esse tecido ainda seguiu por décadas vinculado a imagem dos operários, trabalhadores braçais e a vida rural. Nas grandes cidades americanas entre as décadas de 1900 e 1940, as pessoas não tinham o hábito de usar jeans fora do dias de trabalho. Geralmente quando se via algum homem trajando calça jeans ou macacão jeans, sabia-se que ele estava de serviço. Já na zona rural e cidades do interior era mais comum ver pessoas usando jeans mesmo que não estivessem de serviço.
A mudança mais substancial ocorreu a partir da década de 1950 a partir do cinema. Estrelas de Hollywood como James Dean (1931-1955), o qual teve uma carreira meteórica, pois morreu jovem e famoso, costumava usar jeans azul, camisa branca e uma jaqueta vermelha ou preta, fosse em alguns filmes ou no cotidiano. O visual de jovem rebelde foi se destacando na sociedade pós-guerra, ao mesmo tempo que o movimento estudantil e culturas juvenis começavam a despontar.
Cartaz do filme Rebel Without a Cause (Juventude Transviada), 1955. |
Nesse período, outro galã de Hollywood que também se destacava usando jeans foi Marlon Brando (1924-2004). Antes de ficar popular em filmes dramáticos e de máfia, Brando atuou em várias produções e quando começou a ganhar fama na década de 1950, começou a participar de campanhas de publicidade e ensaios fotográficos. Brando apesar de não seguir um estilo "badboy" de James Dean, ainda assim, destacava-se por ser o jovem americano de trinta anos que usava camisa branca, calça jeans e sapatos.
Marlon Brando num ensaio fotográfico nos anos 1950. |
Na década de 1960 o jeans havia se tornado nos Estados Unidos e parte da Europa, roupa comum do dia a dia. Já não era mais vinculado a determinadas profissões e a vida rural. As pessoas iam para a escola, trabalho, passear, visitar amigos ou familiares, usando calças jeans, macacões e jaquetas. Por essa época também surgiram a saia e a bermuda jeans. Os anos 1960 com o movimento Hippie e Hipster, o desenvolvimento as culturas juvenis impulsionou a juventude entre 15 e 30 anos a passarem usar o jeans, roupa que se tornou símbolo da época.
Fato esse que que a Levi's e várias outras empresas começaram a investir em estilos diferentes de calças jeans (a principal peça vendida, ainda hoje), além de aplicar também o zíper, que antes não era comum. Assim, surgiram calças de cintura baixa ou alta, mais folgadas ou apertadas. Além de jeans baratos e outros mais caros, influenciados por estilistas famosos.
Inclusive a partir dos anos 1970 os jeans sensuais para mulheres começaram a serem desenvolvidos, os quais realçavam a bunda e as coxas. Jeans de coloração num azul mais escuro, passando para o preto e o branco também começaram a serem produzidos.
Propaganda de jeans feminina da década de 1970. |
Ainda nos anos 1970 muitos países desconheciam o jeans, sendo considerado uma moda praticamente exclusiva dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Embora tal tecido começou a ganhar mercados na América Latina e parte da Ásia, apesar de haver certas reações contrárias a isso. Em alguns lugares o jeans era visto como roupa apenas para jovens. Pessoas acima dos 40 anos que usassem jeans eram consideradas antiquadas, metidas a rebeldes. Somente na década de 1990 isso se normalizou de vez. Desde então a calça jeans se tornou um ícone da moda sendo vendido em quase todos os países.
NOTA: Existem roupas de jeans de várias outras cores como verde, vermelho, marrom, bege, cinza, amarelo etc. Apesar que o azul, o preto e o branco sejam as cores mais tradicionais.
NOTA 2: Ainda hoje os jeans Levi's são considerados os originais. A empresa utiliza tal aspecto por ter patenteado a primeira calça jeans com rebites lá em 1873.
Referências
SULLIVAN, James. Jeans: A cultural history of an American icon. London: Gotham Books, 2006.
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