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Leandro Vilar

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Gigantopithecus: o verdadeiro King Kong

Na Pré-história existiu um primata digno de ser comparado ao icônico gorila gigante do cinema, King Kong. Evidentemente que esse primata não era tão gigantesco quanto sua contraparte ficcional, ainda assim, era um animal que pertencia a chamada megafauna, espécies que possuíam um tamanho maior do que as espécies atuais. A fim de comparação, o primata mais próximo do Gigantopithecus em proporção é o gorila, sendo que o Gigantopithecus teria o dobro de seu tamanho. Pode não parecer muito, mas para os humanos daquele tempo, eles estariam diante de um "macaco gigante". 

Introdução

King Kong é o personagem título de um filme de aventura lançado em 1933, na época ainda preto e branco. Na trama do filme uma expedição viaja até a distante e misteriosa Ilha da Caveira, uma ilha tropical nas proximidades da Indonésia, onde dizem existir uma civilização perdida e animais nunca antes vistos. De fato, para além do gorila gigante na ilha existem insetos gigantes e dinossauros, além de um povo que cultua Kong como uma divindade, fazendo sacrifícios humanos a ele. 

O filme seguia o roteiro básico da literatura de fantasia de mundo perdido, ainda em popularidade naquela época, por conta disso a existência da tal ilha contendo um povo com resquícios pré-históricos e a presença de dinossauros, dois elementos comuns das narrativas de mundo perdido. Assim, King Kong foi um sucesso ao ser lançado, virando nos anos seguintes um clássico cult, gerando toda uma franquia de filmes, desenhos, jogos e outros produtos. 

Mas qual seria a relação dele com o gigantopithecus? De imediato nenhuma, pois o filme foi lançado em 1933 e o primeiro fóssil identificado do gigantophitecus foi descoberto em 1939, além disso, como será visto a seguir, nem sempre esse primata foi tido como um "macaco", mas chegou-se a considerá-lo uma suposta raça de humanos gigantes. De qualquer forma, à medida que as pesquisas sobre o gigantophitecus se desenvolviam, King Kong iam ficando mais famoso no cinema e há quem defendesse que a trama do filme não seria tão ridícula assim, afinal, houve um tempo pré-histórico em que humanos conviveram com macacos gigantes. 

O "macaco" gigante

O Gigantophitecus blacki foi uma espécie de primata que viveu entre 2 milhões e 200 mil anos atrás, habitando os atuais territórios da China, Tailândia e norte do Vietnã. Apesar de seu tamanho ser comparado ao dos atuais gorilas, essa espécie pertenciam ao subgênero Ponginae, a qual pertence os orangotangos. Dessa forma, em termos fisionômicos, o gigantophitecus seria mais parecido com um orangotango gigante do que com um gorila. 

Ilustração de como poderia ter sido a aparência dos gigantophitecus. 

Devido ao seu grande tamanho, estimado entre 2,5 e 3 metros de altura quando ficava de pé e pesando em média 300 kg, é a maior espécie de primata já descoberta até então. Por conta de seu peso e tamanho, isso tornava inviável que escalasse árvores, mas teria força bruta para derrubar árvores finas. Por conta de ter habitado a China pré-histórica, naquele tempo já abundavam bambuzais, que provavelmente teriam sido uma de suas principais fontes de alimentação. Vale ressalvar que gorilas e orangotangos apesar do porte grande, são primatas herbívoros. Dessa forma, o gigantophitecus provavelmente teria uma dieta alimentar parecida com a dos pandas, alimentando-se principalmente de bambu e outras plantas similares. 

Poucas informações existem sobre os gigantophitecus, já que os fósseis encontrados a maior parte foram de dentes. A primeira menção registrada paleologicamente dessa espécie advém de 1935, feita pelo antropólogo alemão-holandês Gustav R. H. von Koeningswald (1902-1982) ao analisar dois dentes molares de tamanho curioso, obtidos numa farmácia popular chinesa. A medicina popular chinesa costuma ainda hoje vender dentes, ossos e fósseis como parte dos ingredientes para diversas receitas de tratamento de saúde. Os chamados "ossos de dragão" eram em muitos casos fósseis, já que a China é um dos países com grande extensão de fósseis no mundo. 

Reconstituição de uma mandíbula de gigantopithecus. 

Assim, ao analisar esses molares, Koeningswald constatou serem similares ao de primatas, mas pertenceria a um primata de tamanho maior do que o comum, por conta disso ele chamou a espécie desconhecida de gigantophitecus ("macaco gigante"). Isso originou algumas teorias por parte de outros estudiosos. O paleontólogo sul-africano Robert Broom em 1939 lançou a teoria de que o gigantopithecus seria uma subespécie de Austrolopitecus que habitava aquela parte a Ásia. Baseado na sua teoria, o antropólogo judeu alemão Franz Weidenreich em 1946 atualizou a ideia de Broom, ao invés daqueles dentes pertencerem a uma variedade de Austrolopitecus, poderiam ter pertencido a uma raça hominídea desconhecida. Weidenreich influenciado pela crença de que houve gigantes reais, cogitou que o tal gigantophitecus seria uma evidência paleontológica da existência de gigantes, ou seja, para ele aquele molar não pertenceria a um macaco, mas a um ser humano gigante. 

As duas teorias propostas ainda permearam a Paleontologia e Antropologia por algumas décadas, o próprio Koeningswald mais tarde comprou a teoria de Weidenreich de que o gigantopithecus poderia ter sido uma espécie de humanos gigantes, essa ideia inclusive gerou cisão no meio acadêmico. Uns consideravam se tratar de um primata outros de um humanos primitivos, essa disputa perdurou até o começo dos anos 1980 quando estabeleceu-se que se tratava de um primata da subespécie Ponginae, mas até isso acontecer o gigantophitecus chegou a ser incluído em outras famílias de primatas e hominídeas e até supostas subespécies teriam sido identificadas na Índia e na Indonésia. 

O problema de classificação do gigantophitecus durou quase cinquenta anos devido a escassez de fósseis desse primata. A maior parte dos fósseis encontrados até hoje são dentes, porém, diversas escavações na China encontraram mandíbulas e outros ossos, mas nunca um esqueleto completo. Apesar disso, tais achados permitiram chegar a conclusão de que não se tratava de uma espécie de hominídeo gigante como se considerava, mas de um primata de grande dimensão, sendo aparentado dos atuais orangotangos. Além disso, todos os fósseis descobertos apontam para a mesma espécie, ou seja, até hoje só mente se identificou uma espécie de gigantophitecus. 

O gigantophitecus teria desaparecido entre 250 e 200 mil anos atrás, época que o Homo sapiens ainda não tinha saído da África, logo, os hominídeos que tiveram contato com ele pertenciam a espécie de Homo erectus e suas subspécies. Assim, tais espécies possuíam entre 1,40 e 1,70 metro de altura, comparadas ao giganthopitecus que passavam facilmente dos 2 metros de altura, realmente seriam tomados por aqueles pequenos hominídeos como "macacos gigantes". 

Representação do contato do Homo erectus com gigantophitecus. 

Mas teriam esses hominídeos caçados esses enormes primatas? É possível, já que em outros lugares do mundo o Homo erectus, o Homo neanderthalensis e o Homo sapiens caçaram animais bem maiores. Mas essa caça teria levado a extinção da espécie? Essa é uma pergunta sem uma resposta concreta. Mas no geral os paleontólogos consideram que as mudanças climáticas ocorridas entre 250 e 150 mil anos atrás foram fatores mais determinantes para reduzir a população de gigantophitecus, além da condição de que possivelmente eles tinham poucos filhotes anualmente como visto com o caso dos orangotangos e gorilas, os quais geralmente dão à luz a um filhote por ano. 

Assim, somando-se a condição biológica de baixa natalidade, mudanças ambientais que afetaram o hábitat natural desses primatas comprometendo sua fonte de alimento, ainda mais sendo eles animais que necessitavam de grande quantidade de alimento diária; sua incapacidade de escapar de um grupo de humanos armados com lanças e arcos, a pouca população nativa, isso tudo contribuiu para a gradativa extinção da espécie. Dessa forma, quando indivíduos do Homo sapiens sapiens chegaram à China, o gigantopithecus já estava extinto a milhares de anos. 

NOTA: No filme Mogli: O menino lobo (2016) o Rei Louie é retratado como um gigantophitecus. 

NOTA 2: Já se considerou que o Abominável homem das neves poderia ser uma subspécie de gigantopithecus, o problema é que esses primatas não viviam em regiões montanhosas como o Tibete e o Himalaia. Para ser uma subsespécie, ela teria que ter trocado o hábitat de florestas tropicais pelo o frio das montanhas, não apenas passando a resistir as baixas temperaturas, mas mudar seu comportamento alimentar e outras necessidades. 

NOTA 3: A espécie Gigantopithecus giganteus habituou um território entre China e Índia, mas sendo de porte menor, possívelmente equiparável ao dos atuais gorilas africanos. Já a espécie Gigantopithecus bilaspurensis, suposta ancestral dos demais, foi descartada por se tratar da espécie Indopithecus giganteus, um possível parente. 

NOTA 4: No jogo Ark: Survival Evolved (2015) o gigantopithecus é retratado como se fosse um Pé-grande. 

Referências bibliográficas

LOPATIN, A. V; MASCHENKO, E. N; DAC, Le Xuan. Gigantophitecus blacki (Primates, Ponginae) from the Lang Trang Cave (Norther Vietnam): The Latest Gigantophitecus in the Late Pleistocene? Doklady Biological Sciences, v. 502, n. 1, 2022, p. 6-10. 

ZHAO, L. X; ZHANG, L. Z. New fossil evidence and diet analysis of Gigantophitecus blacki and its distribution and extinction in South China. Quaternay International, n. 286, 2013, p. 69-74. 

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