Poucos são os homens que podem dizer que realizaram grandes feitos em suas vidas, que fizeram grandes conquistas. E Genghis Khan teve o orgulho em vida de dizer que se tornou o senhor do mais vasto império da história. Em outras palavras, se tornou o senhor de quase todo o mundo conhecido em sua época. Mas, fica difícil de se imaginar, que isto possa ter sido possível. Quem imaginaria que o homem como este, sem uma cara que lhe fizeste parecer alguém temível ou que lhe desse a graça de parecer um grande soberano, pudesse se tornar o mais bem sucedido conquistador e comandante militar da história, fundador das bases do mais vasto império territorial já visto pela humanidade, e o líder do Império Mongol.
Quando se pensa em grandes generais, as vezes é comum as pessoas se lembrarem de Júlio César, de Alexandre Magno e de Napoleão, mas são poucos aqueles que lembram de Temudjin, o qual ficaria mais conhecido pelo nome de Genghis Khan. Um homem que ousou confrontar o mundo e decidiu conquistá-lo. Ousou dizer que fora um enviado dos céus para por ordem neste mundo. De certa forma existem algumas lendas xamânicas mongóis, as quais profetizavam que um grande lobo cinzento iria descer dos céus e iria conquistar o mundo, e este lobo fora Genghis Khan.
No ano de 1167 (data não exata) nascia nas longínquas estepes da Mongólia, em uma tenda próxima as margens do rio Onon, nascia Temudjin, filho primogênito de Yesugei e de Ulun (ou Hoelun). Seu pai era líder do clã Yasoun dos Kiyats, era um clã menor do grande clã Obok dos Bordjigins. Seu clã vinha de uma família tradicional e com origens divinas. Dizia-se que seus antepassados foram homens divinos, espécies de semideuses, daí posteriormente, Genghis Khan alegar ser um enviado do Céu. Quanto a sua mãe, ela era esposa de um membro dos Merkit, clã inimigo. Existia uma tradição entre os mongóis de se raptar mulheres de outros clãs para tomá-las como esposas, e esse fora o caso de Ulun. Temudjin posteriormente tivera mais três irmãos e uma irmã por parte de sua mãe e outros dois irmãos, Bekter e Belgutei por parte de seu pai, com uma segunda esposa. A poligamia era permitida entre os mongóis.
Quando completou nove anos, seu pai o levou em uma viagem para escolher sua esposa. Além de se raptar mulheres, a tradição normal era de se arranjar casamentos entre os clãs como forma de fortalecer os laços de união, assim, Yesugei fora tomar uma esposa para seu filho no clã dos Urigats, lá, Temudjin escolheu Boerte como sua futura esposa. Era tradição dos mongóis que após os noivos serem escolhidos, antes do casamento ocorrer, o noivo deveria passar algum tempo morando com os sogros e trabalhando para estes. Temudjin permaneceu no clã de sua noiva e seu pai voltou para casa, mas durante a viagem, ele e seus companheiros se deparam com cavaleiros do clã do tártaros. Os tártaros realizaram um banquete e os convidaram, mas Yesugei acabou sendo envenenado e veio a falecer alguns dias depois.
Temudjin com nove anos passava a ser o novo líder do clã Yasoun, porém os vassalos de seu pai, negaram-se a reconhecer a autoridade do menino e de sua mãe e os abandonaram, os largando nas estepes. Nessa época, Temudjin havia voltado para casa, para assumir a liderança, mas fora traído pelos antigos companheiros e vassalos de seu pai. Além de ter que cuidar dos irmãos mais novos, e enfrentar a vida difícil nas estepes, os Taichiuts, antigo clã aliado e traidor, liderado por Tergutai, jurou matar Temudjin quando esse crescesse, temendo que o mesmo viesse a procura de vingança. Temudjin fora agredido por Tergutai e seus homens e permaneceu algum tempo como prisioneiro e escravo, até que conseguiu fugir.
Sobre a infância e grande parte da vida de Temudjin não se sabe muito ainda hoje, pelo fato de os mongóis na época não possuirem escrita, e depois que adotaram uma, não possuiam muito o caráter de fazer anotações sobre suas conquistas ou a vida de seus imperadores. No entanto a dois livros que datam após a morte de Genghis Khan, no qual trazem algumas informações de sua vida. No entanto os livros que hoje chegaram até a nós são copilações chinesas ou persas, os originais desapareceram. Dentre os livros estão Altan Debtèr (O livro de Ouro) e Mongol-um Ni'uca Tobci'an (História secreta dos mongóis).
Com 12 anos ele partiu para recuperar os poucos bens de valores que sua familia tivera roubada pelos Taichiuts e outros, fora nesse caso que ele fora mantido prisioneiro e feito escravo por Tergutai. Após conseguir escapar, vagou por vários lugares e nessa viagem ele conheceu outro jovem, que viria ser um grande amigo seu e um de seus melhores generais e posteriormente seu inimigo, Djamuca ou Jamukha. Na adolescência, Temudjin acabou matando seu meio-irmão Bekter, devido a uma discussão ou um desentendimento.
Com 16 anos ele se casou com Boerte, a qual havia sido lhe prometida desde os 9 anos de idade. Boerte, ficaria casada com ele até o fim da vida, sendo sua principal esposa, embora que ele ao longo da vida tomou outras esposas e tivera várias amantes. Boerte tivera quatro filhos e cinco filhas com Temudjin, sendo que o primeiro filho, Djochi era bastardo. Os outros filhos foram, Djaghatai, Ogedei e Tolui. Todos os seus filhos e alguns netos e irmãos, participaram das campanhas do império.
Após terem se casado, algum tempo depois, membros do clã Merkit (merquítas), localizaram Temudjin e sua família, os Merkit haviam ido atrás de vingança, devido ao fato de que Ulun pertenceu ao clã e havia sido roubada deste, logo, eles pretendiam fazer o mesmo, dessa vez roubando Boerte. Boerte fora sequestrada, e Temudjin decidiu salvá-la, contudo ele precisaria de ajuda, sozinho não seria capaz de enfrentar todo o clã dos Merkit. Para isso, ele fora procurar a ajuda de seu amigo e irmão das armas, Djamuca, o qual nessa época era chefe do clã dos Djadirats, e de Togrul, chefe do clã dos Kiyats, antigo amigo de seu pai. Quase nove meses depois, o ataque ocorreu. Os Merkit fora atacados, muitos foram mortos, outros foram tomados como escravos e a tribo fora saqueada, Boerte fora resgatada, mas estava grávida naquele momento, o filho que nasceu fora chamado de Jochi, e mesmo sendo bastardo, Temudjin o acolheu como filho.
Os anos que se seguem a este incidente são desconhecidos para a História pelos motivos já apontados, sabe-se que Temudjin recuperou sua honra e seu clã. Se tornou um guerreiro forte e um líder respeitado. Ele acabou tendo outros filhos e filhas com Boerte, e acabou brigando com Djamuca, o qual posteriormente se tornaria seu inimigo. Por volta de 1196, com cerca de 29 ou 30 anos, Temudjin fora convocado pelo Quriltay (conselho da confederação das tribos mongóis), e neste dia fora eleito por muitos dos conselheiros e outros líderes, inclusive Djamuca, a receber o titulo de khan (senhor, líder), titulo dado a poucos homens, até então. Temudjin, passou a se chamar Genghis Khan ("Grande Senhor" ou "Senhor dos senhores").
Pelos dez anos seguintes ele travaria várias batalhas para unificar toda a Mongólia sobre o seu controle. Antes de Genghis Khan, a Mongólia era fragmentada, tinha suas terras divididas entre vários clãs, onde os seus khans se digladiavam entre si por mais um pedaço de terra. Durante este período, ele expandiu seus domínios e conseguiu conquistar a porção oriental da Mongólia, subjugando os outros líderes e khans, de forma pacifica ou cruel. Já nos primeiros anos do século XIII, ele passou a liderar campanhas para conquistar a porção ocidental, e tivera como inimigos, os Merkit, os Tártaros, os Taichuits, Naimans, seu antigo amigo e irmão das armas Djamuca, entre outros.
"Em 1201, uma coalização excêntrica se formou sob a égide do chefe djadjirat: todos os inimigos de Genghis Khan ali se reencontraram, Tártaros, Markits, Taichuits, Oirats da floresta, Naimans, Buiruq, todos tinham razões para odiar o khan designado alguns anos antes. Os guerreiros de todas as tribos se encontraram em 1201, próximo ao Argun, para dar a Djamuca o título de Ger Khan, Rei Universal, e para preparar uma campanha definitiva contra o filho de Yesugei". (CONRAD, 1976, p. 160).
A batalha se deu sob uma tempestade, o céu ficou negro, e os trovões ribombavam por sua imensidão, para alguns dos inimigos, naquele dia, Genghis Khan contou com a ajuda do deus Tengri, Senhor do Céu Azul, dos trovões e das tempestades. De fato, as forças de Genghis venceram, Djamuca, acabou fugindo. No ano seguinte, Genghis subjugou e exterminou o clã dos Taichuits e em seguida os Tártaros. Em 1204, Djamuca retornou de seu exilio, agora tendo firmado forças com Tai Yang Khan, líder dos Naimans, e o chefe Toktoa dos Merkits, essa nova coalização tentaria destruir o "reinado" de Genghis Khan, contudo, os eficientes e hábeis generais de Genghis, Borku, Djebé e Subotei, esmagaram as forças inimigas, os inimigos foram massacrados e escravizados. Os Tártaros foram praticamente extintos, e quanto a Djamuca, este fora traído pelos seus próprios homens e entregue a Genhgis, o qual ordenou que os homens que haviam feito isso fossem degolados, pelo fato de terem traído seu senhor, mesmo que fosse para ajudar o Khan, e por fim, Genhgis, ordenou que Djamuca tivesse a coluna quebrada, ele fora amarrado numa roda de madeira, e sua coluna fora partida ao meio.
Finalmente em 1206, a porção ocidental fora conquistada e a Mongólia fora unificada. Ainda no mesmo ano, o Quriltay voltou a se reunir, os líderes reconheceram Genghis Khan como um guerreiro e líder formidável, então lhe concederam o titulo de kagan (imperador). O Império Mongol havia sido criado, e a conquista do mundo se iniciaria. Nesse meio-tempo, Genghis, ganhou a confiança e lealdade de muitos bons homens, os quais viriam ser grandes generais seus, tal como Djebé, Subotai, Borku e Mugila, conhecidos como "os cães de guerra do Khan". Outro ponto importante de se relatar a respeito do Khan, era que este ficara conhecido como um lider generoso para aqueles que lhe serviam bem, e cruel para aqueles que o desobedeciam ou traiam. Genghis, era um homem que valorizava muito a lealdade e a justiça. Nessa época como já fora dito ele elegeu alguns de seus principais generais, dentre quais estavam alguns de seus irmãos, parentes e amigos. Ele o dividira em dois grupos: "cavalos de guerra de Khan", e "cães de caça".
A conquista da China
Após ter unificado toda a Mongólia, o próximo passo de Genghis Khan era expandir os seus domínios para além das estepes mongóis, e o primeiro alvo era o Império Jin ou Kin na China. Nessa época, o Império Chinês estava dividido em três grandes Estados e alguns menores, nesse caso, os principais Estados, eram, ao norte, o Império da Dinastia Jin, conhecido como os "Reis de Ouro", fundado por invasores tunguses, vindos da Sibéria e da Mongólia; ao sul estava o poderoso e grande Império da Dinastia Song, conhecido também como os Song do Sul, de fato era a única dinastia verdadeiramente chinesa. E o outro era o pequeno Reino Si Hia ou Hsia ou Império Tangut, fundado pelos tanguts, povo de origem tibetana. Antes de atacar os Jin, Genghis preferiu eliminar a minoria e assegurar autoridade e posicionamento no iminente campo de batalha. Embora sendo um reino pequeno e fraco, a Rota da Seda cruzava o Reino de Si Hia, logo era um local próspero e de grande oportunidade para enriquecer e conseguir poder.
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"Sua capital Ning Hia, protegida por sólidas muralhas, era inatingível para a cavalaria mongol, mas o reino Tangut, fixado na rota da seda que ia da China ao Irã, vivia sobretudo de comércio, e a insegurança das rotas de caravanas era insuportável para este reino. O rei de Sia Hia teve que aceitar a soberania mongol e pagar o tributo ao Grande Khan, dando-lhe uma de suas filhas e inúmeros camelos". (CONRAD, 1974, p. 164).
Os taunguts não foram conquistados de fato naquele momento, pelo contrário, foram submetidos a se tornarem aliados dos mongóis e lhe prestarem serviços quando fosse exigido. Terminada a conquista de Si Hia, Genghis retornou para a Mongólia e começou a dá inicio as preparativos para a invasão do Império Jin. Os ataques tiveram inicio em 1211, e por três anos, os mongóis tiveram problemas de se conquistar e consolidar a região norte do país até conseguirem chegar a capital Pequim. A região montanhosa dificultava a mobilidade da cavalaria mongol, a principal formação de seu exército, isso levou ao retardo da campanha em alguns meses, prejudicada também pelo inverno. Contudo, os mongóis não estavam sozinhos nessa empreitada, eles contaram com a ajuda dos Onguts, um povo de ascendência turco-mongol. Os Onguts, conheciam a região e a habitavam, prestavam serviços de vassalagem ao império, contudo não gostavam de seus senhores, assim, eles passaram a apoiar Genghis na conquista do império.
"Adiando para mais tarde o cerco de Pequim fortemente guardado, Genghis Khan lançou seu exército até o rio Amarelo arrasando este país de sedentários e agricultores, completamente novo para ele. O Chan Tung e o Ho Pei foram assim devastados. Enquanto o rei ocupava-se da parte oriental do rei Kin, seus três filhos mais velhos, Djotchi, Djaghatai e Ogodei percorriam o Chan Si destruindo fazendas e colheitas, massacrando as populações". (CONRAD, 1976, p. 167-168).
Alguns historiadores da época apontam que pelo menos 1 milhão de chineses tenham sido mortos nas campanhas lideradas por Genghis Khan, e esse número aumentou com as campanhas de seus filhos e netos, que deram continuidade para conquistar o Império Song. Em 1214, o imperador Jin, estava encurralado em Pequim, recebendo noticias que as hordas bárbaras dos mongóis, destruíam seu país, nessa época, cidades, vilas e aldeias foram destruídas, fortalezas e fortes haviam sido tomados, a fúria mongol engolia este próspero país, e nem mesmo a Grande Muralha, apresentava um obstáculo para o Grande Khan. Assim, em 1214, iniciou-se um cerco a capital que levou alguns meses. A cidade estava bem fortificada e protegida, a estratégia de Genghis fora cansa-los. Ele ordenou que um cerco fosse feito e ninguém entraria e sairia da cidade, assim, os meses se passaram, e os estoques de alimento na cidade escassearam, com isso o imperador decretou rendição e ao mesmo tempo aproveitou para fugir para o sul, instalando-se na cidade de Kai Fong. Metade do império havia sido tomado pelos mongóis, Pequim fora saqueada, queimada em 1215, seu povo fora massacrado e escravizado. As lutas ainda continuaram até 1217 para se conquistar o restante do Império Jin, contudo acontecimentos ocorridos no ocidente, levaram Genghis a adiar a conquista total da China e parti para um novo campo de batalha. Os domínios então conquistados na China ficaram a cargo do general Mugila.
Os reinos muçulmanos
Na Ásia Central, três poderosos reinos muçulmanos coexistiam, o Canato dos Uigures, povos turcos-mongóis, o Canato de Kara Khitai e o Sultanato do Khwarezm o qual compreendia grande parte da Pérsia (atualmente o Irã). Em 1211, os Kara Khitai procuravam formar uma aliança de paz com os mongóis e reconheciam a autoridade do imperador mongol, contudo, um usurpador, chamado Kutchlug tornou-se genro do rei e príncipe, ele aproveitou e destronou o sogro e assumiu o poder. Kutchlug era do clã dos Naimans, antigos inimigos de Genghis, assim dando continuidade a seu repudio, ele rompeu os laços de amizade com o Grande Khan. Logo, os príncipes do império viram-se governados por um tirano e temiam que os mongóis se tornassem seus inimigos, mas antes que isso viesse a acontecer, alguns nobres foram buscar a ajuda de Genghis Khan.
Assim, o próprio em 1216, enviou seu fiel e renomado general Djebe para cuidar desta afronta. Os exércitos mongóis foram bem recebidos enquanto atravessavam o Canato dos Uigures, embora que nem todos fossem a favor deles. Os uigures deram apoio aos mongóis e enviaram tropas junto ao exército de Djebe. Quando este chegou em 1217 aos domínios do Canato de Kara Khitais, o então usurpador Kutchulug abalou-se com a chegada do inimigo, ele abandonou a capital Balassagum e fora buscar refúgio em Pamir, lá suas defesas foram esmagadas e o mesmo fora decapitado. Os dois canatos agora faziam parte dos domínios do Império Mongol.
Os canatos, compreendiam os atuais territórios do Quirguistão, Turcomenistão, Uzbequistão,Tadjiquistão e o Cazaquistão. Em 1218 ambos canatos estavam sob o domínio mongol, contudo revoltas internas impediriam o total controle da região, e a resolução de tais problemas fora incumbida a alguns dos filhos de Genghis Khan. Se por um lado, os embates nas novas províncias trariam alguns eventuais problemas aos mongóis, novos problemas tomariam o tempo do Grande Khan. A sudoeste dos canatos ficava o grande Sultanato do Khwarezm, governado pelo sultão ou xá (titulo dado ao soberano persa) Mohammed Chah.
"A oeste dos territórios recentemente conquistados por Djebe estendia-se, do Khorassan ao mar de Aral o sultanato do Khwarezm que compreendia o atual Turquestão russo, assim como boa parte do Irã e do Afeganistão". (CONRAD, 1976, p. 171).
De inicio o Grande Khan queria manter relações cordiais e pacificas com o sultão Mohammed, o seu império era rico, grande e poderoso, logo não seria fácil de ser conquistado, embora que o mesmo tenha caído após três anos de guerra. Contudo, por hora, os interesses do Khan era de se estabilizar os territórios recém conquistados, e possivelmente continuar em direção ao oeste, ou voltar a atenção para as tribos tibetanas ou retornar para as campanhas na China. Contudo, dois incidentes graves com um governador de Khwarezm, levou o Grande Khan, a declarar guerra ao sultanato.
"Um grave incidente iria, entretanto, comprometer as relações entre as duas potências dominantes da Ásia Central e provocar a guerra. Em 1218, uma rica caravana mongol, acompanhada de um enviado pessoal do Khan, apresentou-se em Otrar, na fronteira do Khwarezm. O governador local, Inaltchik Kadir Khan, apropriou-se das riquezas transportadas por estes "selvagens" e fez degolar uma centena, inclusive o embaixador. O soberano mongol, furioso, exigiu de Mohammed Chah uma medida exemplar: a prisão do governador culpado. O príncipe do Khwarezm respondeu mandando matar um dos enviados do Grande Khan e raspando sua cabeça de dois outros, o que era também uma grave injúria para os Mongóis". (CONRAD, 1976, p. 172);
No verão de 1219, Genghis Khan liderou as campanhas contra o sultanato, ao seu lado iam seus fiéis generais, Djebe e Subotei, alguns irmãos, filhos e netos, em si a guerra era coisa e família. Historiadores persas apontam que o exército do Khan era formado por 200 mil guerreiro, em sua maioria mangudais (nome dado aos cavaleiros arqueiros).
Quando se pensa em grandes generais, as vezes é comum as pessoas se lembrarem de Júlio César, de Alexandre Magno e de Napoleão, mas são poucos aqueles que lembram de Temudjin, o qual ficaria mais conhecido pelo nome de Genghis Khan. Um homem que ousou confrontar o mundo e decidiu conquistá-lo. Ousou dizer que fora um enviado dos céus para por ordem neste mundo. De certa forma existem algumas lendas xamânicas mongóis, as quais profetizavam que um grande lobo cinzento iria descer dos céus e iria conquistar o mundo, e este lobo fora Genghis Khan.
No ano de 1167 (data não exata) nascia nas longínquas estepes da Mongólia, em uma tenda próxima as margens do rio Onon, nascia Temudjin, filho primogênito de Yesugei e de Ulun (ou Hoelun). Seu pai era líder do clã Yasoun dos Kiyats, era um clã menor do grande clã Obok dos Bordjigins. Seu clã vinha de uma família tradicional e com origens divinas. Dizia-se que seus antepassados foram homens divinos, espécies de semideuses, daí posteriormente, Genghis Khan alegar ser um enviado do Céu. Quanto a sua mãe, ela era esposa de um membro dos Merkit, clã inimigo. Existia uma tradição entre os mongóis de se raptar mulheres de outros clãs para tomá-las como esposas, e esse fora o caso de Ulun. Temudjin posteriormente tivera mais três irmãos e uma irmã por parte de sua mãe e outros dois irmãos, Bekter e Belgutei por parte de seu pai, com uma segunda esposa. A poligamia era permitida entre os mongóis.
Quando completou nove anos, seu pai o levou em uma viagem para escolher sua esposa. Além de se raptar mulheres, a tradição normal era de se arranjar casamentos entre os clãs como forma de fortalecer os laços de união, assim, Yesugei fora tomar uma esposa para seu filho no clã dos Urigats, lá, Temudjin escolheu Boerte como sua futura esposa. Era tradição dos mongóis que após os noivos serem escolhidos, antes do casamento ocorrer, o noivo deveria passar algum tempo morando com os sogros e trabalhando para estes. Temudjin permaneceu no clã de sua noiva e seu pai voltou para casa, mas durante a viagem, ele e seus companheiros se deparam com cavaleiros do clã do tártaros. Os tártaros realizaram um banquete e os convidaram, mas Yesugei acabou sendo envenenado e veio a falecer alguns dias depois.
Temudjin com nove anos passava a ser o novo líder do clã Yasoun, porém os vassalos de seu pai, negaram-se a reconhecer a autoridade do menino e de sua mãe e os abandonaram, os largando nas estepes. Nessa época, Temudjin havia voltado para casa, para assumir a liderança, mas fora traído pelos antigos companheiros e vassalos de seu pai. Além de ter que cuidar dos irmãos mais novos, e enfrentar a vida difícil nas estepes, os Taichiuts, antigo clã aliado e traidor, liderado por Tergutai, jurou matar Temudjin quando esse crescesse, temendo que o mesmo viesse a procura de vingança. Temudjin fora agredido por Tergutai e seus homens e permaneceu algum tempo como prisioneiro e escravo, até que conseguiu fugir.
Sobre a infância e grande parte da vida de Temudjin não se sabe muito ainda hoje, pelo fato de os mongóis na época não possuirem escrita, e depois que adotaram uma, não possuiam muito o caráter de fazer anotações sobre suas conquistas ou a vida de seus imperadores. No entanto a dois livros que datam após a morte de Genghis Khan, no qual trazem algumas informações de sua vida. No entanto os livros que hoje chegaram até a nós são copilações chinesas ou persas, os originais desapareceram. Dentre os livros estão Altan Debtèr (O livro de Ouro) e Mongol-um Ni'uca Tobci'an (História secreta dos mongóis).
Com 12 anos ele partiu para recuperar os poucos bens de valores que sua familia tivera roubada pelos Taichiuts e outros, fora nesse caso que ele fora mantido prisioneiro e feito escravo por Tergutai. Após conseguir escapar, vagou por vários lugares e nessa viagem ele conheceu outro jovem, que viria ser um grande amigo seu e um de seus melhores generais e posteriormente seu inimigo, Djamuca ou Jamukha. Na adolescência, Temudjin acabou matando seu meio-irmão Bekter, devido a uma discussão ou um desentendimento.
Com 16 anos ele se casou com Boerte, a qual havia sido lhe prometida desde os 9 anos de idade. Boerte, ficaria casada com ele até o fim da vida, sendo sua principal esposa, embora que ele ao longo da vida tomou outras esposas e tivera várias amantes. Boerte tivera quatro filhos e cinco filhas com Temudjin, sendo que o primeiro filho, Djochi era bastardo. Os outros filhos foram, Djaghatai, Ogedei e Tolui. Todos os seus filhos e alguns netos e irmãos, participaram das campanhas do império.
Após terem se casado, algum tempo depois, membros do clã Merkit (merquítas), localizaram Temudjin e sua família, os Merkit haviam ido atrás de vingança, devido ao fato de que Ulun pertenceu ao clã e havia sido roubada deste, logo, eles pretendiam fazer o mesmo, dessa vez roubando Boerte. Boerte fora sequestrada, e Temudjin decidiu salvá-la, contudo ele precisaria de ajuda, sozinho não seria capaz de enfrentar todo o clã dos Merkit. Para isso, ele fora procurar a ajuda de seu amigo e irmão das armas, Djamuca, o qual nessa época era chefe do clã dos Djadirats, e de Togrul, chefe do clã dos Kiyats, antigo amigo de seu pai. Quase nove meses depois, o ataque ocorreu. Os Merkit fora atacados, muitos foram mortos, outros foram tomados como escravos e a tribo fora saqueada, Boerte fora resgatada, mas estava grávida naquele momento, o filho que nasceu fora chamado de Jochi, e mesmo sendo bastardo, Temudjin o acolheu como filho.
Os anos que se seguem a este incidente são desconhecidos para a História pelos motivos já apontados, sabe-se que Temudjin recuperou sua honra e seu clã. Se tornou um guerreiro forte e um líder respeitado. Ele acabou tendo outros filhos e filhas com Boerte, e acabou brigando com Djamuca, o qual posteriormente se tornaria seu inimigo. Por volta de 1196, com cerca de 29 ou 30 anos, Temudjin fora convocado pelo Quriltay (conselho da confederação das tribos mongóis), e neste dia fora eleito por muitos dos conselheiros e outros líderes, inclusive Djamuca, a receber o titulo de khan (senhor, líder), titulo dado a poucos homens, até então. Temudjin, passou a se chamar Genghis Khan ("Grande Senhor" ou "Senhor dos senhores").
Pelos dez anos seguintes ele travaria várias batalhas para unificar toda a Mongólia sobre o seu controle. Antes de Genghis Khan, a Mongólia era fragmentada, tinha suas terras divididas entre vários clãs, onde os seus khans se digladiavam entre si por mais um pedaço de terra. Durante este período, ele expandiu seus domínios e conseguiu conquistar a porção oriental da Mongólia, subjugando os outros líderes e khans, de forma pacifica ou cruel. Já nos primeiros anos do século XIII, ele passou a liderar campanhas para conquistar a porção ocidental, e tivera como inimigos, os Merkit, os Tártaros, os Taichuits, Naimans, seu antigo amigo e irmão das armas Djamuca, entre outros.
"Em 1201, uma coalização excêntrica se formou sob a égide do chefe djadjirat: todos os inimigos de Genghis Khan ali se reencontraram, Tártaros, Markits, Taichuits, Oirats da floresta, Naimans, Buiruq, todos tinham razões para odiar o khan designado alguns anos antes. Os guerreiros de todas as tribos se encontraram em 1201, próximo ao Argun, para dar a Djamuca o título de Ger Khan, Rei Universal, e para preparar uma campanha definitiva contra o filho de Yesugei". (CONRAD, 1976, p. 160).
A batalha se deu sob uma tempestade, o céu ficou negro, e os trovões ribombavam por sua imensidão, para alguns dos inimigos, naquele dia, Genghis Khan contou com a ajuda do deus Tengri, Senhor do Céu Azul, dos trovões e das tempestades. De fato, as forças de Genghis venceram, Djamuca, acabou fugindo. No ano seguinte, Genghis subjugou e exterminou o clã dos Taichuits e em seguida os Tártaros. Em 1204, Djamuca retornou de seu exilio, agora tendo firmado forças com Tai Yang Khan, líder dos Naimans, e o chefe Toktoa dos Merkits, essa nova coalização tentaria destruir o "reinado" de Genghis Khan, contudo, os eficientes e hábeis generais de Genghis, Borku, Djebé e Subotei, esmagaram as forças inimigas, os inimigos foram massacrados e escravizados. Os Tártaros foram praticamente extintos, e quanto a Djamuca, este fora traído pelos seus próprios homens e entregue a Genhgis, o qual ordenou que os homens que haviam feito isso fossem degolados, pelo fato de terem traído seu senhor, mesmo que fosse para ajudar o Khan, e por fim, Genhgis, ordenou que Djamuca tivesse a coluna quebrada, ele fora amarrado numa roda de madeira, e sua coluna fora partida ao meio.
Finalmente em 1206, a porção ocidental fora conquistada e a Mongólia fora unificada. Ainda no mesmo ano, o Quriltay voltou a se reunir, os líderes reconheceram Genghis Khan como um guerreiro e líder formidável, então lhe concederam o titulo de kagan (imperador). O Império Mongol havia sido criado, e a conquista do mundo se iniciaria. Nesse meio-tempo, Genghis, ganhou a confiança e lealdade de muitos bons homens, os quais viriam ser grandes generais seus, tal como Djebé, Subotai, Borku e Mugila, conhecidos como "os cães de guerra do Khan". Outro ponto importante de se relatar a respeito do Khan, era que este ficara conhecido como um lider generoso para aqueles que lhe serviam bem, e cruel para aqueles que o desobedeciam ou traiam. Genghis, era um homem que valorizava muito a lealdade e a justiça. Nessa época como já fora dito ele elegeu alguns de seus principais generais, dentre quais estavam alguns de seus irmãos, parentes e amigos. Ele o dividira em dois grupos: "cavalos de guerra de Khan", e "cães de caça".
Gravura persa retratando a coroação de Genghis Khan como kagan (imperador) dos mongóis em 1206. |
A conquista da China
Após ter unificado toda a Mongólia, o próximo passo de Genghis Khan era expandir os seus domínios para além das estepes mongóis, e o primeiro alvo era o Império Jin ou Kin na China. Nessa época, o Império Chinês estava dividido em três grandes Estados e alguns menores, nesse caso, os principais Estados, eram, ao norte, o Império da Dinastia Jin, conhecido como os "Reis de Ouro", fundado por invasores tunguses, vindos da Sibéria e da Mongólia; ao sul estava o poderoso e grande Império da Dinastia Song, conhecido também como os Song do Sul, de fato era a única dinastia verdadeiramente chinesa. E o outro era o pequeno Reino Si Hia ou Hsia ou Império Tangut, fundado pelos tanguts, povo de origem tibetana. Antes de atacar os Jin, Genghis preferiu eliminar a minoria e assegurar autoridade e posicionamento no iminente campo de batalha. Embora sendo um reino pequeno e fraco, a Rota da Seda cruzava o Reino de Si Hia, logo era um local próspero e de grande oportunidade para enriquecer e conseguir poder.
Mapa com os principais reinos e impérios na Ásia e na África no ano de 1200 |
"Sua capital Ning Hia, protegida por sólidas muralhas, era inatingível para a cavalaria mongol, mas o reino Tangut, fixado na rota da seda que ia da China ao Irã, vivia sobretudo de comércio, e a insegurança das rotas de caravanas era insuportável para este reino. O rei de Sia Hia teve que aceitar a soberania mongol e pagar o tributo ao Grande Khan, dando-lhe uma de suas filhas e inúmeros camelos". (CONRAD, 1974, p. 164).
Os taunguts não foram conquistados de fato naquele momento, pelo contrário, foram submetidos a se tornarem aliados dos mongóis e lhe prestarem serviços quando fosse exigido. Terminada a conquista de Si Hia, Genghis retornou para a Mongólia e começou a dá inicio as preparativos para a invasão do Império Jin. Os ataques tiveram inicio em 1211, e por três anos, os mongóis tiveram problemas de se conquistar e consolidar a região norte do país até conseguirem chegar a capital Pequim. A região montanhosa dificultava a mobilidade da cavalaria mongol, a principal formação de seu exército, isso levou ao retardo da campanha em alguns meses, prejudicada também pelo inverno. Contudo, os mongóis não estavam sozinhos nessa empreitada, eles contaram com a ajuda dos Onguts, um povo de ascendência turco-mongol. Os Onguts, conheciam a região e a habitavam, prestavam serviços de vassalagem ao império, contudo não gostavam de seus senhores, assim, eles passaram a apoiar Genghis na conquista do império.
"Adiando para mais tarde o cerco de Pequim fortemente guardado, Genghis Khan lançou seu exército até o rio Amarelo arrasando este país de sedentários e agricultores, completamente novo para ele. O Chan Tung e o Ho Pei foram assim devastados. Enquanto o rei ocupava-se da parte oriental do rei Kin, seus três filhos mais velhos, Djotchi, Djaghatai e Ogodei percorriam o Chan Si destruindo fazendas e colheitas, massacrando as populações". (CONRAD, 1976, p. 167-168).
Alguns historiadores da época apontam que pelo menos 1 milhão de chineses tenham sido mortos nas campanhas lideradas por Genghis Khan, e esse número aumentou com as campanhas de seus filhos e netos, que deram continuidade para conquistar o Império Song. Em 1214, o imperador Jin, estava encurralado em Pequim, recebendo noticias que as hordas bárbaras dos mongóis, destruíam seu país, nessa época, cidades, vilas e aldeias foram destruídas, fortalezas e fortes haviam sido tomados, a fúria mongol engolia este próspero país, e nem mesmo a Grande Muralha, apresentava um obstáculo para o Grande Khan. Assim, em 1214, iniciou-se um cerco a capital que levou alguns meses. A cidade estava bem fortificada e protegida, a estratégia de Genghis fora cansa-los. Ele ordenou que um cerco fosse feito e ninguém entraria e sairia da cidade, assim, os meses se passaram, e os estoques de alimento na cidade escassearam, com isso o imperador decretou rendição e ao mesmo tempo aproveitou para fugir para o sul, instalando-se na cidade de Kai Fong. Metade do império havia sido tomado pelos mongóis, Pequim fora saqueada, queimada em 1215, seu povo fora massacrado e escravizado. As lutas ainda continuaram até 1217 para se conquistar o restante do Império Jin, contudo acontecimentos ocorridos no ocidente, levaram Genghis a adiar a conquista total da China e parti para um novo campo de batalha. Os domínios então conquistados na China ficaram a cargo do general Mugila.
Os reinos muçulmanos
Na Ásia Central, três poderosos reinos muçulmanos coexistiam, o Canato dos Uigures, povos turcos-mongóis, o Canato de Kara Khitai e o Sultanato do Khwarezm o qual compreendia grande parte da Pérsia (atualmente o Irã). Em 1211, os Kara Khitai procuravam formar uma aliança de paz com os mongóis e reconheciam a autoridade do imperador mongol, contudo, um usurpador, chamado Kutchlug tornou-se genro do rei e príncipe, ele aproveitou e destronou o sogro e assumiu o poder. Kutchlug era do clã dos Naimans, antigos inimigos de Genghis, assim dando continuidade a seu repudio, ele rompeu os laços de amizade com o Grande Khan. Logo, os príncipes do império viram-se governados por um tirano e temiam que os mongóis se tornassem seus inimigos, mas antes que isso viesse a acontecer, alguns nobres foram buscar a ajuda de Genghis Khan.
Assim, o próprio em 1216, enviou seu fiel e renomado general Djebe para cuidar desta afronta. Os exércitos mongóis foram bem recebidos enquanto atravessavam o Canato dos Uigures, embora que nem todos fossem a favor deles. Os uigures deram apoio aos mongóis e enviaram tropas junto ao exército de Djebe. Quando este chegou em 1217 aos domínios do Canato de Kara Khitais, o então usurpador Kutchulug abalou-se com a chegada do inimigo, ele abandonou a capital Balassagum e fora buscar refúgio em Pamir, lá suas defesas foram esmagadas e o mesmo fora decapitado. Os dois canatos agora faziam parte dos domínios do Império Mongol.
Os domínios do Canato de Kara Khitai (1124-1218). |
O Sultanato ou Império Khwarezm (1190-1220). |
De inicio o Grande Khan queria manter relações cordiais e pacificas com o sultão Mohammed, o seu império era rico, grande e poderoso, logo não seria fácil de ser conquistado, embora que o mesmo tenha caído após três anos de guerra. Contudo, por hora, os interesses do Khan era de se estabilizar os territórios recém conquistados, e possivelmente continuar em direção ao oeste, ou voltar a atenção para as tribos tibetanas ou retornar para as campanhas na China. Contudo, dois incidentes graves com um governador de Khwarezm, levou o Grande Khan, a declarar guerra ao sultanato.
"Um grave incidente iria, entretanto, comprometer as relações entre as duas potências dominantes da Ásia Central e provocar a guerra. Em 1218, uma rica caravana mongol, acompanhada de um enviado pessoal do Khan, apresentou-se em Otrar, na fronteira do Khwarezm. O governador local, Inaltchik Kadir Khan, apropriou-se das riquezas transportadas por estes "selvagens" e fez degolar uma centena, inclusive o embaixador. O soberano mongol, furioso, exigiu de Mohammed Chah uma medida exemplar: a prisão do governador culpado. O príncipe do Khwarezm respondeu mandando matar um dos enviados do Grande Khan e raspando sua cabeça de dois outros, o que era também uma grave injúria para os Mongóis". (CONRAD, 1976, p. 172);
No verão de 1219, Genghis Khan liderou as campanhas contra o sultanato, ao seu lado iam seus fiéis generais, Djebe e Subotei, alguns irmãos, filhos e netos, em si a guerra era coisa e família. Historiadores persas apontam que o exército do Khan era formado por 200 mil guerreiro, em sua maioria mangudais (nome dado aos cavaleiros arqueiros).
Os Mangudais, compreendiam o contingente predominante das hordas. |
As tropas invadiram o território inimigo, o sultão dividiu suas forças em pontos estratégicos, mas resguardando a capital Urgendj e as cidades de Bukhara e Samarcanda. Na estratégia do sultão, as tropas localizadas nestas cidades, não iriam participar do confronto direto, ele estava assegurado de que o restante do exército seria capaz de barrar a fúria mongol. No outono de 1219, a cidade de Otrar, palco do inicio das brigas, fora sitiada por Djaghatai e Ogodei, o governador Inaltchik, sabia que não haveria clemência por sua vida, então lutou com tudo que estava disponível. Depois de algumas semanas de cerco, a cidade fora tomada, o governador fora executado, a cidade fora saqueada, milhares de guerreiros foram massacrados, e parte da população fora escravizada.
As batalhas prosseguiram pelo restante do império, e no ano de 1220, Genghis Khan e seu filho Tolui atacaram a cidade de Bukhara (hoje a cidade faz parte do Uzbequistão), uma das maiores cidades do sultanato.
"Era então uma das mais belas cidades dos países muçulmanos. Suas ruas pavimentadas seus numerosos monumentos, seus jardins irrigados, suas fábricas de tapetes faziam-na uma cidade onde os caravaneiros gostavam de parar antes de enfrentar o deserto de Kizil Kum (Areias Vermelhas). Depois de alguns dias de assaltos furiosos e um fracasso de uma saída tentada pela guarnição turca, a cidade foi tomada no dia 16 de fevereiro de 1220". (CONRAD, 1976, p. 175).
A cidadela tombou logo em seguida, as defesas foram massacradas, e a população fora poupada, mas tivera que abandonar a cidade, a qual fora saqueada e incendiada. Com a queda de Bukhara, o próximo alvo de Genghis Khan era a próspera cidade de Samarcanda.
"René Grousset descreveu-nos este oásis de civilização no coração da Ásia Central: "Numerosos canais, derivados do rio, asseguram ao limo do oásis sua fertilidade, que contrasta com a aridez, a nudez da paisagem dos arredores. Como todas as cidades da Transoxiana, Samarcanda era formada de três partes, dispostas ali do sul ao norte. Ao sul, a cidadela, depois a cidade propriamente dita, e finalmente, o subúrbio. A cidade era protegida por uma larga muralha aberta por quatro portas, entre as quais a leste, a Porta da China, e ao sul a Porta Maior, perto da qual se estendia o bairro dos bazares, as estalagens de caravanas e os entrepostos. Era o bairro mais populoso, mas a população inteira podia chegar aos 500.000 habitantes". (CONRAD, 1976, p. 176).
A cidade fora sitiada em março de 1220. A cidade contava com uma guarnição de 50 mil soldados turcos, contra pelo menos o dobro de mongóis. Depois de alguns dias de cerco e muitas baixas, especialmente para os inimigos, alguns relatos falam que pelo menos vinte mil turcos que estavam protegendo a cidade foram mortos na batalha antes, de decretarem rendição. A cidade se rendeu, os mongóis a invadiram, saquearam, destruíram parte das muralhas, fizeram prisioneiros, contudo o clero e os locais sagrados como o Registan o qual é formado por uma mesquita e duas madrasas (escolas corânicas), fora poupado. Quanto aos soldados turcos que haviam se rendido, estes foram degolados. Grande parte da população fora poupada, e alguns prisioneiros foram libertos mais tarde, mediante a pagamento de resgates.
Com a queda de duas das maiores e mais ricas cidades do sultanato, agora restava a conquista da capital, a cidade de Urgendj (antigamente chamada de Gurgandj). A tomada da capital fora incumbida a Djotchi, filho bastardo do Khan. Em abril de 1221 o cerco iniciou-se, diferente do que ocorrera em Bukhara e Samarcanda, as defesas da cidade resistiram bravamente por vários dias, até que os mongóis, destruíram as plantações e cortaram o acesso de água da cidade, em seguida começaram a demolir as muralhas com armas de cerco, e assim invadiram a cidade. Muitas baixas foram geradas para ambos os lados, de qualquer forma mulheres e crianças foram escravizados e os homens massacrados, a cidade fora pilhada e destruída.
O sultão Mohammed fugiu da capital e passou a se esconder em algumas cidades pelas semanas seguintes. Genghis Khan, ordenou que Djebé e Subotei o perseguissem e o trouxessem vivo até ele, os dois generais atravessaram mais de 1600 km por desertos e estepes, ameaçando as cidades que abrigassem o sultão, de serem destruídas. Mohammed Chah, morreu ainda em 1221, em uma ilha no Mar Cáspio.
Com a conquista das três maiores cidades de Khwarezm, o sultanato estava praticamente sob o domínio dos mongóis, contudo, algumas revoltas impediam total submissão, assim, Genghis Khan deixou Samarcanda e partiu em direção a Bacteriana (região que compreendia o norte do atual Afeganistão). A Bacteriana caiu em poucas semanas, Tolui, último filho do Khan, fora incumbido de arrasar a região do Khorassan (nordeste do atual Irã). Khorassan fora tomada em abril de 1221, na mesma época que Urgundj era conquistada. Contudo, alguns meses antes da conquista da região, um dos genros de Genghis Khan, Tokutchar, fora morto em batalha, o Grande Khan, ordenou um ato de vingança, ordenou que todos os soldados inimigos inclusive os mortos, fossem decapitados, e suas cabeças empilhadas.
"O Khorassan havia dado à Pérsia o filósofo Ghagali e os poetas Firdusi e Omar Khayam; suas cidades estavam entre as mais agradáveis do Oriente, seus monumentos famosos em todos os países do Islã. Depois da passagem do furacão mongol, esta região não era mais do que um campo de ruínas e mesmo a terra estava morta pela destruição metódica dos sistemas de irrigação". (CONRAD, 1976, p. 181).
Nos fins de 1221, Genghis Khan ordenou que o herdeiro do sultão, o príncipe Djelai ed Din, fosse executado. O principe acabou deixando seu refúgio na cidade de Ghazni (atualmente Afeganistão) e partiu para se exilar na Índia.
"Escapou assim, por pouco da cólera do Grande Khan. Este atravessou rapidamente o Hindu-Cuxe. A Índia, já nos trópicos, não tentava em um pouco os cavaleiros do Norte, que se limitavam a rápidas incursões. As cidades afegãs, que haviam apoiado a tentativa do príncipe rebelde, foram sistematicamente arrasadas e suas populações massacradas". (CONRAD, 1976, p. 182).
Genghis Khan decidiu descansar um pouco, havia conquistado mais um império, e agora o seu próprio império se estendia do Mar Cáspio ao Mar Amarelo na China, seu domínios já eram superiores ao que Alexandre, o Grande, havia conquistado vários séculos antes. Na primavera de 1223, ele voltou a seguir viagem em direção ao nordeste, em 1225, retornou a Mongólia.
O sul da Rússia
Ainda no ano de 1221, enquanto a consolidação do sultanato de Khwarezm prosseguia, Djebé e Subotei haviam sido encarregados de perseguir e capturar o sultão, mas este acabou falecendo em uma ilha no Mar Cáspio, então os dois generais decidiram seguir viagem de lá mesmo indo em direção ao norte. Ainda em 1221, os dois generais invadiram o antigo reino cristão da Geórgia e saquearam o país, depois de uma rápida visita, eles retornaram para o sul, em direção a Hamadam (atualmente no Irã), lá pilharam a cidade, finalmente decidiram retomar as expedições para o norte, e atravessaram o Montes Cáucaso, indo em direção a Rússia.
Lá eles enfrentaram uma coalização formada pelos Tcherkesses os quais eram muçulmanos, os Alanos, os quais eram cristão ortodoxos, e alguns turcos do Kyptchak. Djebé e Subotei conseguiram derrotar os três povos, porém a situação piorou para eles, quando o grão-duque russo de Suzdal e Wladimir, decidiu dá apoio aos turcos. O grão-duque era genro do chefe turco.
Nesse caso, os príncipes de Kiev (hoje Ucrânia) e Tchermigov deram apoio ao duque.
As batalhas prosseguiram por semanas, os mongóis usaram a tática de recuarem cada vez mais em direção as terras que já dominavam e conheciam, assim acabaram em 31 de maio de 1222, emboscando os exércitos inimigos perto do rio Kalkhia o qual deságua no Mar de Azov, próximo ao Mar Negro, hoje território ucraniano. Lá a aliança russa fora subjugada e derrotada, o príncipe de Kiev fora capturado e executado. Em seguida, eles derrotaram os búlgaros e os turcos da região, a conquista da Rússia seria uma questão de tempo, porém ela acabou ficando para outro momento, os generais tiveram que abandonar suas campanhas, e retornarem para a Pérsia. Genghis Khan, aguardava o inverno terminar e voltar a seguir viagem.
A morte do Grande Khan
A China, ainda apresentava uma obsessão para Genghis Khan. Anos antes, ele havia conquistado apenas o Reino de Si Hia e parte do Império Jin ou Kin, ainda restava a outra metade e o Império Song ao sul, assim, em 1226, ele decidiu retomar as campanhas na China. Nessa época, o general Mugali então governador, havia pacificado e reestruturado a região, mesmo assim, rebeliões em Si Hia ou Taugut, ainda imperavam. Genghis Khan decidiu por fim a estas rebeliões e seguiu para a região, seu filho Ogodei, conseguiu conquistar a cidadela de Kai Fong em 1227, e posteriormente tomou o reduto do rei rebelde dos tauguts em Ning Hia, assim o reino havia sido conquistado de vez. O Império Taugut fora arrasado a fogo e ferro, centenas de milhares de pessoas foram mortas, outras foram escravizadas, cidades com suas altas muralhas, foram postas abaixo pelas catapultas mongóis, assim o país todo fora arrasado e devastado da face do mundo, um verdadeiro genocídio, até mesmo cultural, já que a fúria avassaladora do Khan, havia ordenado a destruição da cultura deste povo.
Contudo, no mesmo ano Djotchi havia falecido em batalha na Ásia Central, a milhares de quilômetros dali, isso havia abalado muito o Khan, mesmo a vitória, não lhe tirava esta perda amarga.
Em agosto de 1227, após alguns meses da morte de Djotchi e a conquista dos tauguts, Genghis Khan se preparava para invadir o que restava do Império Jin, contudo em 18 de agosto ele veio a falecer aos 60 anos, as causas ainda são misteriosas. Alguns apontam que ele sofria de um ferimento de flecha, outros dizem que ele morreu de uma queda de cavalo, outros que fora envenenado por uma das concubinas, ou teria contraído tifo de seus próprios soldados.
O seu corpo fora levado de volta a Mongólia, onde teria sido enterrado próximo ao Monte Kentei, embora que até hoje seu túmulo nunca fora descoberto. Uma lenda, diz que os escravos que construíram o túmulo, foram executados para não revelar sua localização, e que um exército teria marchado sobre este, para destruir os rastros da construção.
Com sua morte, seu filho caçula o sucedeu até que em 1229, Ogodei se tornou o novo Khan, dando continuidade as conquistas do pai. O império cresceria ainda mais e sobreviveria por mais um século. Genghis Khan de um simples nômade, se tornou o homem mais poderoso e temido do mundo em seu tempo. Ele havia conseguido através da estratégia, da ambição, do medo e da guerra, ligar o Ocidente ao Oriente. Fora no século XIII que se teve inicio a viagem de aventureiros, missionários, viajantes, mercadores, embaixadores da Europa e da África para a Ásia adentro, isso interligou as culturas, e possibilitou uma nova visão do mundo que se conhecia.
"A extensão de suas conquistas, da China à Persia, representava mais de quatro vezes o império de Alexandre Magno e o dobro do Império Romano". (MAGNOLI, 2008, p-151).
As reformas gengiscânicas
Contudo ainda tenho algumas informações acerem ditas, a respeito do governo de Genghis Khan. De fato ele não foi somente um grande estrategista e conquistador, suas reformas foram mais profundas para o povo mongol do que se pode pensar inicialmente. Como eu já havia dito no inicio, a Mongólia era dividida entre vários territórios (yurt), entre as tribos (ulus), antes dessa unificação, os povos que ali habitavam, mongóis, tartáros, turcos, e dentre outros, não se reconheciam como uma nação, mesmo que tivessem linguas em comum, religião e costumes, cada um se designava a partir do clã que pertencia. Quando a Mongólia é unificada, todos passaram a se reconhecerem como mongóis, e passaram a possuirem um sentimento de nacionalidade. Já que um "Estado" foi criado. Na verdade, os mongóis não haviam abandonado suas vidas nômades, então fica dificil de se falar de um Estado sedentarizado, porém havia a noção de nacionalidade. Sendo assim prefiro dizer que os mongóis formavam um "Estado móvel".
Mas além de ter criado a nação mongol, o Grande Khan também realizou outras importantes contribuições para seu povo. Em primeiro lugar, ele restruturou toda a divisão e formação do exército mongol, antes disso, os mongóis não possuiam um exército profissional e disciplinado, os soldados, eram arrogantes, gananciosos, desleais e as vezes preguiçosos. Genghis organizou as estruturas do exército o tornando um aforça profissional e bem disciplinada. Ele dividiu as tropas a partir de um sistema decimal.
A divisão feita por Genghis Khan lembra um pouco a organização das legiões romanas. Contudo, os termos dizinier, centenier e millenier foram dados pelo missionário francês Plan Carpin, enviado do Papa Inocêncio IV ao Império Mongol. Assim, Carpin fizera uma série de relatos sobre os costumes e a cultura dos mongóis, de tal forma ele designou um nome mais compreensivo para se referir as divisões feitas pelo Khan, com exceção das palavras arbans, minggas e tumen, que são de origem mongol.
A partir do tumen, o exército poderia se dividir em 5 tumen, 10 e até mesmo 20, sendo comandado por dois ou até três generais. Os cargos de general era hereditário nesse caso, o filho assumiria na morte do pai, a não ser que o Grande Khan intervisse acerca.
Além da estruturação do exército, o Khan, também impôs uma rígida disciplina. A covardia era punida a chicotadas, a deserção e a traição, eram punidos com a morte. Se um membro de uma décuria desertasse, toda a décuria corria o risco de ser punida ou executada, se não trouxesse o desertor de volta. Além disso, a deslealdade era punida com a morte. Em caso, de um ou mais membros de um grupo fosse capturado e feito prisioneiro, era obrigação de seus companheiros irem resgatá-lo, se recusassem a fazê-los, seriam executados.
Sob esta rígida disciplina, o exército mongol munido do arco mongol, do sabre, de um escudo e de uma lança, se tornaram uma verdadeira máquina de guerra, que fez tremer a Ásia e a Europa. Embora, um guerreiros mongol se vestisse de forma rústica (sua armadura era feita de placas de couro), Genghis Khan e outros de seus generais, filhos e netos, souberam se valer da tecnologia e do conhecimento bélico dos povos conquistados. Após conquistar o Império Jin, eles passaram a usar armas de cerco (catapultas, aríetes, balistas,etc) e até mesmo a pólvora, a qual era utilizada em algumas armas precursoras das armas de fogo.
Além de reformas no exército, Genghis também empregou o uso da escrita entre o seu povo. Até então eles não utilizavam uma escrita, então passaram a utilizar o alfabeto dos naimanos, o qual era um alfabeto utilizado por alguns povos da Ásia Central.
"Decidiu-se então pela adoção do alfabeto utilizado pelos naimanos, empregado por diferentes grupos como uma espécie de lingua franca da Ásia Central. Sua origem remontava ao aramaico e, portanto, tinha a grande vantagem de ser um sistema fonético. Escrita na vertical, é usada ainda hoje na Mongólia Interior". (MAGNOLI, 2008, p-139).
Com a introdução da escrita, Genghis, ordenou que as leis mongóis fossem copiladas, sendo assim, ele as começou a ditar. Basicamente muitas das leis utilizadas por este povo ao longo do império foram elaboradas pelo próprio Khan. Tal conjunto de leis era chamado de jasaq ou yassak, os quais eram organizados no chamados Cadernos Azuis. Parte destes registros se perderam no tempo, e o que temos hoje são compilações suas em outros idiomas.
Por fim além de ter reformado o exército, ter empreendido várias campanhas e conquistado vários povos, Genghis Khan também contribuiu para organização e a formação da nação mongol e parte de sua cultura e ideais. Sob sangue, fogo e ferro, a Ásia se unificou da China a Pérsia, da Mongólia a Rússia. Caravanas de mercadorias voltaram a cruzar a Rota da Seda a qual se tornou mais segura ao longo do governo dos mongóis, pessoas vindas da Europa e da África passaram a viajar e estudar nas grandes cidades persas e chinesas, as culturas se misturaram e as histórias deste homem o tornaram uma legendárias. O nome de Genghis Khan ainda faz soar imponência e medo nos ouvidos de hoje.
NOTA: Alguns historiadores atribuem que Temudjin teria nascido entre 1162 e 1167.
NOTA 2: Ogedei foi escolhido como seu sucessor, não por ser o primogênito, mas sim por ter sido considerado o mais apto a governar. Já que seus dois irmãos mais velhos ficavam brigando entre si, e aparentavam uma futura ameaça para a integridade do império.
NOTA 3: Atualmente o principal aeroporto da Mongólia, se chama Aeroporto Internacional Genghis Khan. Localizado na cidade de Ulaanbaatar, capital do país.
NOTA 4: Mesmo em pleno século XXI, parte da população da Mongólia ainda conservam hábitos nômades, como seus ancestrais o faziam há séculos.
NOTA 5: Para os computadores existe a série de quatro jogos intitulada Genghis Khan, tratando-se de jogos de estratégia por turno.
NOTA 6: Algumas das campanhas de Genghis Khan, são retratadas no jogo Age of Empires II (1999). Por sua vez, o imperador aparece em duas missões na campanha dos mongóis em Age of Empires IV (2020).
NOTA 7: Existem vários filmes que abordam a vida de Genghis Khan, mas um que recomendo é O Guerreiro Genghis Khan (Mongol), do diretor russo Sergei Brodov, de 2007.
NOTA 8: Genghis Khan ainda hoje é a figura mais idolatrada e respeitada entre o povo mongol, é considerado o "Pai da Pátria mongol".
NOTA 9: O sonho do Grande Khan de conquistar toda a China, só se realizaria quase quarenta anos depois, com o seu neto, Kublai Khan.
As batalhas prosseguiram pelo restante do império, e no ano de 1220, Genghis Khan e seu filho Tolui atacaram a cidade de Bukhara (hoje a cidade faz parte do Uzbequistão), uma das maiores cidades do sultanato.
"Era então uma das mais belas cidades dos países muçulmanos. Suas ruas pavimentadas seus numerosos monumentos, seus jardins irrigados, suas fábricas de tapetes faziam-na uma cidade onde os caravaneiros gostavam de parar antes de enfrentar o deserto de Kizil Kum (Areias Vermelhas). Depois de alguns dias de assaltos furiosos e um fracasso de uma saída tentada pela guarnição turca, a cidade foi tomada no dia 16 de fevereiro de 1220". (CONRAD, 1976, p. 175).
A cidadela tombou logo em seguida, as defesas foram massacradas, e a população fora poupada, mas tivera que abandonar a cidade, a qual fora saqueada e incendiada. Com a queda de Bukhara, o próximo alvo de Genghis Khan era a próspera cidade de Samarcanda.
O Conjunto do Registan em Samarcanda, Uzbequistão. Na época, Genghis Khan poupou as construções de serem destruídas, contudo, outras cidades não tiveram a mesma sorte. |
"René Grousset descreveu-nos este oásis de civilização no coração da Ásia Central: "Numerosos canais, derivados do rio, asseguram ao limo do oásis sua fertilidade, que contrasta com a aridez, a nudez da paisagem dos arredores. Como todas as cidades da Transoxiana, Samarcanda era formada de três partes, dispostas ali do sul ao norte. Ao sul, a cidadela, depois a cidade propriamente dita, e finalmente, o subúrbio. A cidade era protegida por uma larga muralha aberta por quatro portas, entre as quais a leste, a Porta da China, e ao sul a Porta Maior, perto da qual se estendia o bairro dos bazares, as estalagens de caravanas e os entrepostos. Era o bairro mais populoso, mas a população inteira podia chegar aos 500.000 habitantes". (CONRAD, 1976, p. 176).
A cidade fora sitiada em março de 1220. A cidade contava com uma guarnição de 50 mil soldados turcos, contra pelo menos o dobro de mongóis. Depois de alguns dias de cerco e muitas baixas, especialmente para os inimigos, alguns relatos falam que pelo menos vinte mil turcos que estavam protegendo a cidade foram mortos na batalha antes, de decretarem rendição. A cidade se rendeu, os mongóis a invadiram, saquearam, destruíram parte das muralhas, fizeram prisioneiros, contudo o clero e os locais sagrados como o Registan o qual é formado por uma mesquita e duas madrasas (escolas corânicas), fora poupado. Quanto aos soldados turcos que haviam se rendido, estes foram degolados. Grande parte da população fora poupada, e alguns prisioneiros foram libertos mais tarde, mediante a pagamento de resgates.
Com a queda de duas das maiores e mais ricas cidades do sultanato, agora restava a conquista da capital, a cidade de Urgendj (antigamente chamada de Gurgandj). A tomada da capital fora incumbida a Djotchi, filho bastardo do Khan. Em abril de 1221 o cerco iniciou-se, diferente do que ocorrera em Bukhara e Samarcanda, as defesas da cidade resistiram bravamente por vários dias, até que os mongóis, destruíram as plantações e cortaram o acesso de água da cidade, em seguida começaram a demolir as muralhas com armas de cerco, e assim invadiram a cidade. Muitas baixas foram geradas para ambos os lados, de qualquer forma mulheres e crianças foram escravizados e os homens massacrados, a cidade fora pilhada e destruída.
O sultão Mohammed fugiu da capital e passou a se esconder em algumas cidades pelas semanas seguintes. Genghis Khan, ordenou que Djebé e Subotei o perseguissem e o trouxessem vivo até ele, os dois generais atravessaram mais de 1600 km por desertos e estepes, ameaçando as cidades que abrigassem o sultão, de serem destruídas. Mohammed Chah, morreu ainda em 1221, em uma ilha no Mar Cáspio.
Com a conquista das três maiores cidades de Khwarezm, o sultanato estava praticamente sob o domínio dos mongóis, contudo, algumas revoltas impediam total submissão, assim, Genghis Khan deixou Samarcanda e partiu em direção a Bacteriana (região que compreendia o norte do atual Afeganistão). A Bacteriana caiu em poucas semanas, Tolui, último filho do Khan, fora incumbido de arrasar a região do Khorassan (nordeste do atual Irã). Khorassan fora tomada em abril de 1221, na mesma época que Urgundj era conquistada. Contudo, alguns meses antes da conquista da região, um dos genros de Genghis Khan, Tokutchar, fora morto em batalha, o Grande Khan, ordenou um ato de vingança, ordenou que todos os soldados inimigos inclusive os mortos, fossem decapitados, e suas cabeças empilhadas.
"O Khorassan havia dado à Pérsia o filósofo Ghagali e os poetas Firdusi e Omar Khayam; suas cidades estavam entre as mais agradáveis do Oriente, seus monumentos famosos em todos os países do Islã. Depois da passagem do furacão mongol, esta região não era mais do que um campo de ruínas e mesmo a terra estava morta pela destruição metódica dos sistemas de irrigação". (CONRAD, 1976, p. 181).
Nos fins de 1221, Genghis Khan ordenou que o herdeiro do sultão, o príncipe Djelai ed Din, fosse executado. O principe acabou deixando seu refúgio na cidade de Ghazni (atualmente Afeganistão) e partiu para se exilar na Índia.
"Escapou assim, por pouco da cólera do Grande Khan. Este atravessou rapidamente o Hindu-Cuxe. A Índia, já nos trópicos, não tentava em um pouco os cavaleiros do Norte, que se limitavam a rápidas incursões. As cidades afegãs, que haviam apoiado a tentativa do príncipe rebelde, foram sistematicamente arrasadas e suas populações massacradas". (CONRAD, 1976, p. 182).
Genghis Khan decidiu descansar um pouco, havia conquistado mais um império, e agora o seu próprio império se estendia do Mar Cáspio ao Mar Amarelo na China, seu domínios já eram superiores ao que Alexandre, o Grande, havia conquistado vários séculos antes. Na primavera de 1223, ele voltou a seguir viagem em direção ao nordeste, em 1225, retornou a Mongólia.
O sul da Rússia
Ainda no ano de 1221, enquanto a consolidação do sultanato de Khwarezm prosseguia, Djebé e Subotei haviam sido encarregados de perseguir e capturar o sultão, mas este acabou falecendo em uma ilha no Mar Cáspio, então os dois generais decidiram seguir viagem de lá mesmo indo em direção ao norte. Ainda em 1221, os dois generais invadiram o antigo reino cristão da Geórgia e saquearam o país, depois de uma rápida visita, eles retornaram para o sul, em direção a Hamadam (atualmente no Irã), lá pilharam a cidade, finalmente decidiram retomar as expedições para o norte, e atravessaram o Montes Cáucaso, indo em direção a Rússia.
Lá eles enfrentaram uma coalização formada pelos Tcherkesses os quais eram muçulmanos, os Alanos, os quais eram cristão ortodoxos, e alguns turcos do Kyptchak. Djebé e Subotei conseguiram derrotar os três povos, porém a situação piorou para eles, quando o grão-duque russo de Suzdal e Wladimir, decidiu dá apoio aos turcos. O grão-duque era genro do chefe turco.
Nesse caso, os príncipes de Kiev (hoje Ucrânia) e Tchermigov deram apoio ao duque.
As batalhas prosseguiram por semanas, os mongóis usaram a tática de recuarem cada vez mais em direção as terras que já dominavam e conheciam, assim acabaram em 31 de maio de 1222, emboscando os exércitos inimigos perto do rio Kalkhia o qual deságua no Mar de Azov, próximo ao Mar Negro, hoje território ucraniano. Lá a aliança russa fora subjugada e derrotada, o príncipe de Kiev fora capturado e executado. Em seguida, eles derrotaram os búlgaros e os turcos da região, a conquista da Rússia seria uma questão de tempo, porém ela acabou ficando para outro momento, os generais tiveram que abandonar suas campanhas, e retornarem para a Pérsia. Genghis Khan, aguardava o inverno terminar e voltar a seguir viagem.
A morte do Grande Khan
A China, ainda apresentava uma obsessão para Genghis Khan. Anos antes, ele havia conquistado apenas o Reino de Si Hia e parte do Império Jin ou Kin, ainda restava a outra metade e o Império Song ao sul, assim, em 1226, ele decidiu retomar as campanhas na China. Nessa época, o general Mugali então governador, havia pacificado e reestruturado a região, mesmo assim, rebeliões em Si Hia ou Taugut, ainda imperavam. Genghis Khan decidiu por fim a estas rebeliões e seguiu para a região, seu filho Ogodei, conseguiu conquistar a cidadela de Kai Fong em 1227, e posteriormente tomou o reduto do rei rebelde dos tauguts em Ning Hia, assim o reino havia sido conquistado de vez. O Império Taugut fora arrasado a fogo e ferro, centenas de milhares de pessoas foram mortas, outras foram escravizadas, cidades com suas altas muralhas, foram postas abaixo pelas catapultas mongóis, assim o país todo fora arrasado e devastado da face do mundo, um verdadeiro genocídio, até mesmo cultural, já que a fúria avassaladora do Khan, havia ordenado a destruição da cultura deste povo.
Contudo, no mesmo ano Djotchi havia falecido em batalha na Ásia Central, a milhares de quilômetros dali, isso havia abalado muito o Khan, mesmo a vitória, não lhe tirava esta perda amarga.
Em agosto de 1227, após alguns meses da morte de Djotchi e a conquista dos tauguts, Genghis Khan se preparava para invadir o que restava do Império Jin, contudo em 18 de agosto ele veio a falecer aos 60 anos, as causas ainda são misteriosas. Alguns apontam que ele sofria de um ferimento de flecha, outros dizem que ele morreu de uma queda de cavalo, outros que fora envenenado por uma das concubinas, ou teria contraído tifo de seus próprios soldados.
O seu corpo fora levado de volta a Mongólia, onde teria sido enterrado próximo ao Monte Kentei, embora que até hoje seu túmulo nunca fora descoberto. Uma lenda, diz que os escravos que construíram o túmulo, foram executados para não revelar sua localização, e que um exército teria marchado sobre este, para destruir os rastros da construção.
Por vinte e um anos, Genghis Khan foi o Senhor da Ásia. |
Mapa com as conquistas e as campanhas de Genghis Khan e de seus generais e familiares. |
"A extensão de suas conquistas, da China à Persia, representava mais de quatro vezes o império de Alexandre Magno e o dobro do Império Romano". (MAGNOLI, 2008, p-151).
O Império de Genghis Khan em sua morte em 1227. |
As reformas gengiscânicas
Contudo ainda tenho algumas informações acerem ditas, a respeito do governo de Genghis Khan. De fato ele não foi somente um grande estrategista e conquistador, suas reformas foram mais profundas para o povo mongol do que se pode pensar inicialmente. Como eu já havia dito no inicio, a Mongólia era dividida entre vários territórios (yurt), entre as tribos (ulus), antes dessa unificação, os povos que ali habitavam, mongóis, tartáros, turcos, e dentre outros, não se reconheciam como uma nação, mesmo que tivessem linguas em comum, religião e costumes, cada um se designava a partir do clã que pertencia. Quando a Mongólia é unificada, todos passaram a se reconhecerem como mongóis, e passaram a possuirem um sentimento de nacionalidade. Já que um "Estado" foi criado. Na verdade, os mongóis não haviam abandonado suas vidas nômades, então fica dificil de se falar de um Estado sedentarizado, porém havia a noção de nacionalidade. Sendo assim prefiro dizer que os mongóis formavam um "Estado móvel".
Mas além de ter criado a nação mongol, o Grande Khan também realizou outras importantes contribuições para seu povo. Em primeiro lugar, ele restruturou toda a divisão e formação do exército mongol, antes disso, os mongóis não possuiam um exército profissional e disciplinado, os soldados, eram arrogantes, gananciosos, desleais e as vezes preguiçosos. Genghis organizou as estruturas do exército o tornando um aforça profissional e bem disciplinada. Ele dividiu as tropas a partir de um sistema decimal.
- 10 arbans (cavaleiros) é comandada por 1 dizinier;
- 10 décurias são comandadas por 1 centenier;
- 10 centúrias (minggans) são comandadas por 1 millenier;
- 1 tumen (10mil homens) é liderado por um capitão.
A divisão feita por Genghis Khan lembra um pouco a organização das legiões romanas. Contudo, os termos dizinier, centenier e millenier foram dados pelo missionário francês Plan Carpin, enviado do Papa Inocêncio IV ao Império Mongol. Assim, Carpin fizera uma série de relatos sobre os costumes e a cultura dos mongóis, de tal forma ele designou um nome mais compreensivo para se referir as divisões feitas pelo Khan, com exceção das palavras arbans, minggas e tumen, que são de origem mongol.
A partir do tumen, o exército poderia se dividir em 5 tumen, 10 e até mesmo 20, sendo comandado por dois ou até três generais. Os cargos de general era hereditário nesse caso, o filho assumiria na morte do pai, a não ser que o Grande Khan intervisse acerca.
Além da estruturação do exército, o Khan, também impôs uma rígida disciplina. A covardia era punida a chicotadas, a deserção e a traição, eram punidos com a morte. Se um membro de uma décuria desertasse, toda a décuria corria o risco de ser punida ou executada, se não trouxesse o desertor de volta. Além disso, a deslealdade era punida com a morte. Em caso, de um ou mais membros de um grupo fosse capturado e feito prisioneiro, era obrigação de seus companheiros irem resgatá-lo, se recusassem a fazê-los, seriam executados.
Sob esta rígida disciplina, o exército mongol munido do arco mongol, do sabre, de um escudo e de uma lança, se tornaram uma verdadeira máquina de guerra, que fez tremer a Ásia e a Europa. Embora, um guerreiros mongol se vestisse de forma rústica (sua armadura era feita de placas de couro), Genghis Khan e outros de seus generais, filhos e netos, souberam se valer da tecnologia e do conhecimento bélico dos povos conquistados. Após conquistar o Império Jin, eles passaram a usar armas de cerco (catapultas, aríetes, balistas,etc) e até mesmo a pólvora, a qual era utilizada em algumas armas precursoras das armas de fogo.
Além de reformas no exército, Genghis também empregou o uso da escrita entre o seu povo. Até então eles não utilizavam uma escrita, então passaram a utilizar o alfabeto dos naimanos, o qual era um alfabeto utilizado por alguns povos da Ásia Central.
"Decidiu-se então pela adoção do alfabeto utilizado pelos naimanos, empregado por diferentes grupos como uma espécie de lingua franca da Ásia Central. Sua origem remontava ao aramaico e, portanto, tinha a grande vantagem de ser um sistema fonético. Escrita na vertical, é usada ainda hoje na Mongólia Interior". (MAGNOLI, 2008, p-139).
Com a introdução da escrita, Genghis, ordenou que as leis mongóis fossem copiladas, sendo assim, ele as começou a ditar. Basicamente muitas das leis utilizadas por este povo ao longo do império foram elaboradas pelo próprio Khan. Tal conjunto de leis era chamado de jasaq ou yassak, os quais eram organizados no chamados Cadernos Azuis. Parte destes registros se perderam no tempo, e o que temos hoje são compilações suas em outros idiomas.
Por fim além de ter reformado o exército, ter empreendido várias campanhas e conquistado vários povos, Genghis Khan também contribuiu para organização e a formação da nação mongol e parte de sua cultura e ideais. Sob sangue, fogo e ferro, a Ásia se unificou da China a Pérsia, da Mongólia a Rússia. Caravanas de mercadorias voltaram a cruzar a Rota da Seda a qual se tornou mais segura ao longo do governo dos mongóis, pessoas vindas da Europa e da África passaram a viajar e estudar nas grandes cidades persas e chinesas, as culturas se misturaram e as histórias deste homem o tornaram uma legendárias. O nome de Genghis Khan ainda faz soar imponência e medo nos ouvidos de hoje.
NOTA: Alguns historiadores atribuem que Temudjin teria nascido entre 1162 e 1167.
NOTA 2: Ogedei foi escolhido como seu sucessor, não por ser o primogênito, mas sim por ter sido considerado o mais apto a governar. Já que seus dois irmãos mais velhos ficavam brigando entre si, e aparentavam uma futura ameaça para a integridade do império.
NOTA 3: Atualmente o principal aeroporto da Mongólia, se chama Aeroporto Internacional Genghis Khan. Localizado na cidade de Ulaanbaatar, capital do país.
NOTA 4: Mesmo em pleno século XXI, parte da população da Mongólia ainda conservam hábitos nômades, como seus ancestrais o faziam há séculos.
NOTA 5: Para os computadores existe a série de quatro jogos intitulada Genghis Khan, tratando-se de jogos de estratégia por turno.
NOTA 6: Algumas das campanhas de Genghis Khan, são retratadas no jogo Age of Empires II (1999). Por sua vez, o imperador aparece em duas missões na campanha dos mongóis em Age of Empires IV (2020).
NOTA 7: Existem vários filmes que abordam a vida de Genghis Khan, mas um que recomendo é O Guerreiro Genghis Khan (Mongol), do diretor russo Sergei Brodov, de 2007.
NOTA 8: Genghis Khan ainda hoje é a figura mais idolatrada e respeitada entre o povo mongol, é considerado o "Pai da Pátria mongol".
NOTA 9: O sonho do Grande Khan de conquistar toda a China, só se realizaria quase quarenta anos depois, com o seu neto, Kublai Khan.
NOTA 10: Genghis Khan aparece brevemente na segunda temporada da série Marco Polo (2014-2016).
NOTA 11: O monarca aparece em alguns dos jogos da franquia Civilization.
Referências Bibliográficas:
CONRAD, Philippe. As civilizações das estepes. Rio de Janeiro, Editions Ferni, 1976.
MAGNOLI, Demétrio (organizador). História das Guerras. 3a ed. São Paulo, Contexto, 2008.
WELLS, H. G. História Universal - volume III. São Paulo, Editora Egéria S. A. 1966. (Capitulo XXXII: O grande império de Genghis Cã e seus sucessores).
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Link relacionado:
Os Mongóis
Referências Bibliográficas:
CONRAD, Philippe. As civilizações das estepes. Rio de Janeiro, Editions Ferni, 1976.
MAGNOLI, Demétrio (organizador). História das Guerras. 3a ed. São Paulo, Contexto, 2008.
WELLS, H. G. História Universal - volume III. São Paulo, Editora Egéria S. A. 1966. (Capitulo XXXII: O grande império de Genghis Cã e seus sucessores).
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo, Nova Cultural, 1998.
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Os Mongóis
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