segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A cidade dos dois continentes

Localizada nas coordenadas geográficas de 41° 1' 7" N/ 28° 57' 53" E, se encontra dividida pelo Estreito de Bósforo, o qual liga o Mar Negro ao Mar de Mármara, a cidade de Istambul. Uma cidade a qual ao mesmo tempo, em parte se encontra na Europa, e a outra na Ásia (no caso desta imagem, a parte da esquerda fica na Europa e a da direita na Ásia). Istambul não é só famosa por ser uma cidade de dois continentes, mas sim por sua longa história, e tradições culturais. Atualmente Istambul é a maior e mais desenvolvida cidade da Turquia, e diferente do que muitos pensam, ela não é a sua capital; a capital da Turquia é a cidade de Ankara. Mas indo além destas condições primárias, a cidade de Istambul se mostra uma verdadeira ligação entre o Ocidente liberal, tecnológico, alvoraçado; toda a vida corrida do século XXI; em contraste com as ideologias orientais, a calma, o conservadorismo, o respeito, a tradição; questões fundamentadas principalmente sobre a influência do Islamismo. No entanto irei um pouco mais além desta perspectiva atual, irei mergulhar no passado desta cidade, um passado de grandes feitos, e marcados por grandes conflitos na história. Não obstante a isso, além do fato de Istambul ser uma cidade em dois continentes, ela também fora uma cidade com três nomes, que marcaram três determinadas épocas de sua existência.

Bizâncio

Sendo assim, vamos voltar no tempo, a um período antes do nascimento de Cristo, mas exatamente ao século VII a.C, ao ano de 657 a.C, data esta que marca a fundação da colônia grega de Bizâncio, colônia fundada pela cidade de Mégara, a qual atribuem a sua fundação ao rei Bizas. Na margem oposta, poucos anos antes os mesmos gregos de Mégara haviam fundado a cidade de Calcidônia, todavia a localização de Bizâncio era mais privilegiada do que a de Calcidônia, já que a porção europeia neste estreito era favorecida com uma baía de cerca de 11 km de extensão, um porto natural. Tal local é conhecido desde os tempos antigos pelo nome de Chifre de Ouro. Bizâncio garantia para si um ponto comercial estratégico, um ponto militar, já que a baía favorecia a proteção dos navios contra as ondas que quebram nas margens do estreito, e ao mesmo tempo, o local da cidade perfaz praticamente uma península cercada por rochas e pequenos montes, logo Bizâncio se tornara uma fortaleza.

"Sua importância como fortaleza, porém, foi logo compreendida. Na guerra do Peloponeso foi louvada por sua posição de comando sobre a entrada para o Mar Negro, em cuja margem norte estavam as plantações de cereais onde Atenas se alimentava. Felipe da Macedônia e seu filho Alexandre reconheceram nela a principal porta para a Ásia. Os imperadores romanos chegaram a considerar sua força estratégica como uma ameaça". (RUNCIMAN, 1977, p. 10).

Todavia, por mas que Bizâncio estivesse favorecida com sua posição estratégica, a vida neste lugar não era fácil, o clima em muitas vezes não era favorável. Tal local oscilava entre um frio que advinha de rajadas congelantes vindas das estepes centrais da Ásia, e verões muito quentes, além disso, a corrente marítima no sul do Bósforo atrapalhava a navegação até Bizâncio em certas épocas do ano. Com isso a cidade não pode se tornar uma grande potência.

Constantinopla

Durante o Império Romano, Bizâncio, ganharia um novo nome, e uma nova importância mundial. No século IV d.C, o império romano se reestruturava de sua crise no século anterior, na década de 20 deste século, o então imperador do Ocidente Constantino travava batalha contra o imperador do Oriente Lícinio. Anos antes, o imperador Diocleciano havia dividido o império em duas porções e criou um governo de quatro imperadores, a tetrarquia, contudo os imperadores começaram a lutar entre si, e no fim Constantino e Lícinio, antes aliados se tornaram inimigos. Constantino derrotou a frota de Lícinio no Helisponto (Dardanelos) estreito que liga o Mar Egeu ao Mar de Mármara, a poucos quilômetros de Bizâncio. O ano era 324, nessa período, Lícinio utilizara Bizâncio como seu quartel-general, e com a sua derrota, Constantino viu um grande potencial em Bizâncio.

"Mal acabara a guerra, e o imperador já levava arquitetos e agrimensores a visitar a cidade e seus arredores, e as operações de construção tiveram inicio". (RUNCIMAN, 1977, p. 11).

"A escolha do imperador era excelente. Por sua situação geográfica, Constantinopla oferecia grandes vantagens. Do ponto de vista militar, estava melhor colocada do que Roma, muito longíqua para vigiar o Oriente, e defender se necessário as fronteiras do império, ameaçadas, na Europa pelo gôdos, na Ásia, pelos persas. Do ponto de vista econômico, construída no ponto de encontro da Europa e da Ásia, bem próxima das praias do Mar Negro e do Mediterrâneo oriental, Bizâncio estava bem colocada para se tornar um centro importante de comércio, um grande mercado internacional".

Constantino queria fundar uma nova capital do império no Oriente, e escolheu Bizâncio para tal. Nessa época, Roma já não era a única capital do império, cidades como Milão, Nicomédeia assumiam este posto, porém a ambição de Constantino era criar uma cidade digna de ser comparada a Roma. Seis anos depois, de reformas, construções e ampliações, a cidade de Bizâncio estava com cara nova, e no dia 11 de maio de 330, oficialmente a cidade fora rebatizada com o nome de a Nova Roma. Porém o nome não fora bem aceito entre o povo, então a cidade passou a se chamar Constantinopla "a cidade de Constantino", contudo o imperador queria por que queria que Constantinopla fosse uma segunda roma, assim o nome oficial de batismo da cidade ficou, "Nova Roma é Constantinopla".

Ruas, casas, templos, palácios, hipódromos, praças, prédios do governo, muralhas, igrejas (devemos lembrar que Constantino fora o primeiro imperador romano a adotar o cristianismo como religião pessoal), tudo isso deu uma nova vista a velha Bizâncio, agora Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente e posteriormente do Império Bizantino.

Constantinopla cresceria nos séculos seguintes pelas mãos dos imperadores bizantinos, legado iniciado com o próprio Constantino, que ganhara o epiteto de o, Grande. Diferente de Roma que entraria em decadência ao longo da Idade Média, Constantinopla manteria sua grandiosidade durante este período, mesmo não tendo sido algo constante. A cidade também herdaria o legado dos romanos, da cultura helênica e das culturas do Oriente Médio, Constantinopla seria uma cidade cosmopolita, abrigando pessoas que falavam distintas línguas, mesmo sendo o grego a língua oficial e não o latim, pessoas vindas da Europa, África e Ásia, diferentes religiões, mesmo que a religião oficial do Império Bizantino fosse o cristianismo, a influência do judaísmo, mitraísmo, zoroastrismo, islamismo e outras crenças pagãs, seria vistas nos domínios do império.

Istambul

Um dos grandes marcos visto hoje na atual Istambul é a Basílica de Santa Sofia (Haghia Sofia), construída pelo imperador Justiniano entre os anos de 532-537, representando o esplendor da arquitetura e da arte bizantina (atualmente a Haghia Sofia é um museu). Mas mesmo com este esplendor do Império Bizantino, este passaria por longas crises, principalmente por volta da época das Cruzadas, o qual levou muito a seu enfraquecimento, ao ponto de que em 29 de Maio de 1453, o exército turco-otomano, comandado pelo sultão Maomé II (1432-1481), cerca e conquista a cidade de Constantinopla; levando a morte do último soberano bizantino, Constantino XI Paleólogo (1404-1453). Assim o Império Bizantino chegava ao seu fim, e o Império Otomano (1299-1923) conquistava todas as suas terras. Com a conquista do Império Otomano, Constantinopla passaria a se chamar Istambul, no entanto ela ainda ficaria conhecida pelo seu antigo nome; o nome de Istambul só passaria a ser utilizado oficialmente a partir de 1930, quando a capital é tranferida para Ankara, se tornando capital oficial da Turquia.

NOTA: A Queda de Constantinopla em 1453, é utilizada como marco que determina o fim da Idade Média e o começo da Idade Moderna.
NOTA 2: Haghia Sofia, significa "Sagrada Sabedoria".
NOTA 3: Maomé II pode ser também chamado de Mehmed ou Muhammed.
NOTA 4: Constantinopla chegou a contar com 500 mil habitantes em tempos mais antigos.

Referências Bibliográficas:
BALDSON, J. P. V. D. O Mundo Romano. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1968.
DIEHL, Charles. Os grandes problemas da história bizantina. São Paulo, Editora das Américas, 1960.
GRIMAL, Pierre. 1988. A Civilização Romana. Lisboa, Ed. 70.
GIORDANI, Mario Curtis. História do império bizantino. 3a edição, Petrópolis, Vozes, 1992.
RUNCIMAN, Steven. A Civilização Bizantina. 2a edição, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1977

Nenhum comentário:

Postar um comentário