quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cogito ergo sum

Cogito ergo sum (Penso, logo existo), talvez tenha sido uma das maiores contribuições que René Descartes tenha deixado a filosofia moderna, juntamente com a doutrina do cartesianismo. Descartes chegou ao ponto de questionar sua própria existência, algo que tantos outros filósofos fizeram e ainda o fazem. Porém em meio a este dilema de como provar se realmente ele existia, ele chega a conclusão, de que pelo fato de ele pensar na dúvida de sua existência, já seria o indicio de que ele existe. Pode parecer algo complicado no inicio, mas logo se entende a razão por trás disso. Além do campo da filosofia, Descartes também deixou outras grandes contribuições nas áreas da Matemática e da Física. E sobre isso irei contar um pouco a seguir, sobre a vida e a obra, deste considerado como um dos gênios da Revolução Científica ou da Ciência Moderna.

René Descartes nasceu em 31 de março de 1596 e Haira, Indre-et-Loire (atual Descartes) em França. Quando criança, ingressou na escola jesuíta Royal Henry-Le-Grand, onde teve contato com as filosofias adotadas pela Igreja Católica, dentre as quais a Escolástica, a qual tinha como principal representante deste pensamento de fé, Santo Agostinho de Hipona, um dos célebres doutores da Igreja Cristã. No entanto mais tarde, Descartes apresentaria suas criticas a esta doutrina e visão de mundo. Descartes acabou se formando em direito pela Universidade de Potiers, no entanto nunca chegou a seguir a carreira de advogado, este preferiu se alistar no exército e nesse caso, se alistou em um dos exércitos do Príncipe Maurício de Nassau, por volta de 1618, passou os anos seguintes servindo na carreira militar, ele tinha a ambição de crescer entre as patentes, mas acabou descobrindo uma falta de vocação para isso. Mesmo assim passou os anos seguintes viajando pela Europa a serviço militar, e nesse tempo, começou a escrever trabalhos simples sobre filosofia, música, artes, física e matemática. Descartes tinha um gênio impetuoso. Quando esteve na escola, achava que o que era lhe ensinado, não correspondia totalmente a realidade do mundo, e muita coisa era omitida. Já que a escola era de vertente jesuítica e voltada para educação religiosa. Descartes decidiu ingressar no exército, como forma de escapar do "mundo" que ele estava confinado, e poder conhecer a verdadeira realidade da vida. Em alguns de seus trabalhos, ele diz que queria desvendar o "livro do mundo".

As grande obras de Descartes só viriam surgir durante a época que ele morou na Holanda, a onde passou vinte anos de sua vida. Por volta de 1628 este chega a Holanda, vindo de Paris, e onde permaneceria até 1649, como fora dito anteriormente. Foi nesse período que Descartes se consagrou como filósofo, matemático e físico. Em 1629, ele começa a trabalhar em um tratado físico que aborda a questão do heliocentrismo. Ele pretendia publicar tal texto. Porém após saber da noticia que naquela mesma época, em Roma, Galileu Galilei era condenado por crime de heresia pelo Tribunal da Santa Inquisição, acabou desistindo de publicar seu trabalho a respeito deste tema.

No entanto o grande trabalho no qual o consagraria como filósofo e pensador moderno, fora publicado em 1637, O discurso do método, tido como sendo sua magnum opus (grande obra ou obra prima), escrita em francês (nesta época era comum os trabalhos acadêmicos serem escritos em latim, mas o autor quis que esta obra não ficasse presa ao ciclo acadêmico). O qual marca a visão filosófica e epistemológica do autor perante a verdade cientifica, a existência de Deus, a verdade sobre a realidade, etc.

"E se escrevo em francês, que é a lingua do meu país, e não em latim, que é a de meus preceptores, , é porque espero que os que se servem apenas de sua pura razão natural julgaram melhor minhas opiniões que os que crêem apenas nos livros antigos". (DESCARTES, 2010, p. 117).

Ironicamente, Descartes por mas que tenha sido um cientista, ele dizia que mediante a razão se poderia provar a existência de Deus e da alma. Ele chega a dizer que os animais também possuem alma, mas, esta é uma alma irracional. Neste caso, é muito complicado de se entender este pensamento, e eu não irei entrar mais afundo nesta questão.

Nesse mesmo ano ele também publicou três pequenos tratados científicos de grande valor para a algébra e a geometria:
A Dióptrica, Os Meteoros e A Geometria.

"Esta obra iria ter sobre a história das ciências uma influência considerável, pois reforçava a ligação entre experiência e conhecimento". (LAROUSSE, 1998, p. 1838).

"Para Descartes, a metafisica, isto é, a prova racional da existência de Deus (que existe porque torna possível precisamente esta prova), funda a validade de seu método". (LAROUSSE, 1998, p. 1838).

No Discurso do Método, Descartes elabora alguns passos que devem ser tomados no ato de se estudar não somente a ciência mas, o mundo em si. Sobre tais métodos ele diz o seguinte:
  1. O primeiro era já mais aceitar alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal: isto é, evitar cuidadosamente a preciptação e a prevenção, e nada incluir em meus julgamentos senão o que se apresentasse de maneira tão clara e distinta ao meu espirito que eu não tivesse nenhuma ocasião de colocá-lo em dúvida.
  2. O segundo, dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas possíveis e que fossem necessárias para melhor resolvê-las.
  3. O terceiro, conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir aos poucos, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
  4. E o último, fazer em toda parte enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.
(DESCARTES, 2010, pp. 54-55)

Após a publicação deste trabalho onde Descartes visava encontrar um método para se responder tais premissas, ele também publicou e escreveu importantes obras filosóficas e matemáticas que continuam a seguir as propostas iniciadas em seu discurso. Em 1641 ele publica Meditações. "Nas Meditações, Descartes empreendeu um procedimento original e decisivo para história da filosofia ocidental. Num primeiro tempo demonstrou que é possível e, logo, necessário, duvidar de tudo, exceto da própria dúvida". (LAROUSSE, 1998, p. 1838). Em 1642, ele publicou uma segunda edição de suas Meditações, e em 1644 publica sua terceira importante obra nesse segmento do estudo metafisico e epistemológico, Princípios de Filosofia"Descartes publica ainda Princípios de Filosofia, onde expõe toda a sua filosofia, visando torná-la um manual a ser utilizado nos colégios jesuítas. Aqui, temos um outro Descarte, preocupado com o seu sucesso no mundo, tendo escrito um manual com o propósito escolar". (ROSENFIELD, 2010, p.15).

Na mesma época ele começou a manter uma comunicação com a princesa
Isabel da Boêmia ou Elizabeth da Alemanha, aquém lhe dedicaria em 1649 o trabalho Paixões da Alma.

"Paixões da Alma, é outro dos seus livros. O seu objeto são as paixões, os sentimentos, aquilo que o homem sente e pensa na sua condição de estar no mundo". (ROSENFIELD, 2010, p. 2010).

Entre este período, Descartes ainda continuou a escrever outros trabalhos sobre filosofia, matemática e física, e viajou algumas vezes para Paris. Em 1647 o então rei de França Luís XIV, o Rei-sol, ofereceu uma proposta ao filósofo em escrever Descrição do Corpo Humano. Descartes não pode se aprofundar muito no trabalho já que pouco tempo depois veio a morrer. Em 1649, mesmo ano que publica Paixões da Alma, este recebeu uma carta da rainha Cristina da Suécia, a qual lhe convidou a residir em Estocolmo. Descartes aceitou a proposta e se mudou para lá. No entanto, no dia 11 de fevereiro de 1650, aos 54 anos, veio a falecer de pneumonia.

Além dos trabalhos deixados na área de filosofia como fora apontado acima, quanto aos campos da matemática e da física, suas principais contribuições foram, o plano cartesiano (ver ilustração), a física cartesiana, as chamadas Leis de Descartes, sobre o processo reflexão e refração da luz, sobre uma superficie plana, com a colaboração do matemático francês Pierre Fermat (1601-1665), criaram a geometria analítica. Além disso ele, também enunciou as principais propriedades das equações algébricas e simplificou as notações algébricas. Em 1701, quase cinquenta anos após sua morte, fora publicado seu trabalho Regras para a direção do Espírito, escrito em latim em 1628.

"A obra de Descartes estende-se a todos os domínios, mas sua primeira preocupação é fundar o método claro e distinto, aquele cuja veracidade situa-se em Deus". (LAROUSSE, 1998, p. 1837).

NOTA: Em 10 de novembro de 1619, enquanto viajava pela Alemanha, o filósofo teria tido três sonhos de um novo método e sistema matemático, do qual teria se originado o plano cartesiano.
NOTA 2: Descartes nunca chegou a se casar. Ele tivera uma filha de nome Francine, com uma de suas governantas, enquanto morava na Holanda. Sua filha morreu aos 5 anos de idade. De acordo com seus diários, foi o dia mais triste de sua vida. Além dessa filha, não há relatos se o filósofo teve outros filhos.
NOTA 3: Dentre alguns dos pensadores, matemáticos, físicos e filósofos mais ilustres da história, que foram influenciados pelas ideias de Descartes, estão: Espinoza, Leibniz, Pascal, Locke e Kant.
NOTA 4: Descartes visitou muitas universidades da Europa, pela França, Itália, Alemanha, Inglaterra e Holanda, chegando a lecionar por pouco tempo em algumas, ou a realizar trabalhos de pesquisa para estas.
NOTA 5: O motivo deste ter trocado a vida em Paris por Amsterdam, fora devido ao fato, de que o filósofo ficou tão conhecido e famoso, que ele começou a ser per tubado na própria casa. Cartas e visitas chegavam todos os dias. E ele diz que assim não poderia ter sossego para trabalhar, então se mudou para a Amsterdam.
NOTA 6: Descartes foi um crítico do filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), autor da célebre obra o Leviatã (1651). Hobbes não concordava com os trabalhos de Descartes, e este por sua vez fazia o mesmo com o inglês. Infelizmente ele morreu antes da publicação do Leviatã. Seria bem interessante saber a opinião de Descartes se ele tivesse lido, a obra de um de seus críticos.
NOTA 7: Após a sua morte, seus amigos e seguidores publicaram uma série de trabalhos e cartas deixadas por este. Entretanto alguns trabalhos que falavam a respeito da teologia, foram a partir de 1663, incluídos na lista de livros proibidos pela Igreja Católica, o INDEX. Alegando que tais obras eram uma afronta ao doutrina católica.
NOTA 8: No Discurso do Método, Descartes dedica algumas páginas para falar a respeito de medicina, campo no qual ele possuía muito interesse, por mas, que não tivesse decidido seguir a profissão. No livro, ele fala principalmente sobre o sistema circulatório, sobre a função do coração e dos vasos sanguíneos, além de comparar a anatomia humana com a dos animais.

Referências bibliográficas:DESCARTES, René. Discurso do Método. Porto Alegre, L&PM Pocket, 2010.
ROSENFIELD,
Dennis L. Introdução. In: DESCARTES, René. Discurso do Método. Porto Alegre, L&PM Pocket, 2010.
Grande Enciclopédia Larousse CulturalSão Paulo, Nova Cultural, 1998.

LINKS:
Discurso do método (em português)
http://www.webartigos.com/articles/5651/1/O-Pensamento-Cartesiano/pagina1.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia
Grandeza e Miséria da Metafísica - Jacques Maritain
Carta de René Descartes a Constantin Huygens (fonte Scielo)
Pasiones del Alma de René Descartes (espanhol) (fonte Scielo)
Sobre o crescimento e a nutrição/ De accretione & nutritione (fonte Scielo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário