quarta-feira, 21 de julho de 2010

Barba roxa

Alguns de vocês já devem ter ouvido falar do famoso pirata Edward Teach (1680-1718), conhecido pelo cognome de Barba Negra (Blackbeard), considerado o mais temível dos piratas que já navegaram por estes Sete Mares. Ou do macabro aristocrata Barba Azul, protagonista do conto de fadas Barba Azul (La Barbe-Bleue), escrito pelo grande escritor francês Charles Perrault.


Barba Negra


Barba Azul
No entanto, além destes "barbas" houve o Barba roxa. Mas, este não fora um homem tão cruel como os outros dois, fora para uns a esperança cristã contra os muçulmanos durante a Terceira Cruzada. Aqui narrarei um pouco da história de um dos grandes imperadores do Sacro Império Romano-Germânico. Um homem que teve o sonho de retomar Jerusalém das mãos de Saladino, que desafiou o poder do papa.

Frederico I da Germânia, conhecido pelos cognomes de Barba roxa, Barba ruiva ou Barbarossa, nasceu em 1122 em Waiblingen e faleceu em 1190 em Cidno. Era filho de Frederico II da Suábia, Duque da Suábia, e sobrinho de Conrado III. Membro da poderosa família dos Hohenstaufen. Em 1152, o seu tio, o sacro-imperador Conrado III (1093-1152) nomeou Barbarossa com o título de rei dos romanos, no entanto o imperador veio a falecer no mesmo ano, e Barbarossa fora nomeado seu herdeiro direto. Barbarossa quando assumiu o poder, tivera como meta inicial apaziguar as divergências pelo império. O Sacro Império nunca fora um Estado homogêneo, ele na verdade era uma nação dividida em nações, se assim eu posso dizer. Havia a imagem do sacro-imperador, mas, muitos dos estados que compunham o império eram governados por soberanos locais, sendo estes vassalos do imperador. Deve-se ressalvar que ainda se encontrava-se em plena Idade Média nessa época. Sendo assim os reinos e impérios não eram totalmente unificados na Europa. Além deste fato, o antigo imperador arranjou alguns conflitos com famílias nobres que ameaçavam seu poder sobre o império.

"Querendo restaurar a autoridade imperial, adotou inicialmente uma política de acordos com os grandes senhores da Alemanha, com o intuito de poder agir livremente na Itália". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2563).

Em 1154, Barbarossa escolheu o nobre Henrique, o Leão (1125-1195) para liderar seus exércitos na luta contra os eslavos que ameaçav
am as fronteiras do norte do império, e para restituir a Suábia e a Baviera que haviam se separado do império. Henrique teria sucesso em suas campanhas militares, conseguindo derrotar os eslavos, reunificar outros estados, e fundar novas cidades. Com o despacho de Henrique pelas terras do império, o imperador decidiu partir para a Itália a pedido do papa Adriano IV. Nessa época o papado sofria com as ameaças do líder rebelde Arnaldo de Brescia, o qual tentou reformar a Igreja Católica, e por isso fora excomungado e perseguido. No entanto, Arnaldo conseguiu reunir muitos seguidores e ameaçava depor o papa. Com isso, Adriano IV convocara a ajuda de Barbarossa, o qual no ano de 1154 derrotou as forças de Arnaldo e o prendeu junto com seus seguidores. Arnaldo de Brescia fora enforcado e teve o corpo queimado.

Com a vitória de Frederico Barbarossa, o papa Adriano IV em 18 de junho de 1155 coroou oficialmente Frederico I como sacro-imperador. No entanto este breve momento de união iria se romper. O novo imperador não aceitaria se submeter as ordens do papa e acabaria entrando em guerra contra o papado e a Itália. Barbarossa além de assumir como sacro-imperador, assumiu com o nome de Frederico III duque da Suábia, e fora nomeado rei da Itália.


"Frederico I reforçou a autoridade imperial na Itália, mas as cidades do norte não aceitaram sua administração e a perda de suas liberdades. O imperador mandou arrasar Milão (1162)". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564). 

Como medida para lutar contra as exigências de Barbarossa, as cidades italianas do norte se uniram e formaram em 1 de dezembro de 1167 a Liga Lombarda, a qual contou com o apoio do papa Alexandre III, sucessor de Adriano IV, o qual se via ameaçado pelo constante aumento do poder de Barbarossa sobre a Itália. Anos depois de conflitos contra o imperador, finalmente em 29 de maio de 1176 na Batalha de Legnano, as forças imperiais foram derrotadas pelos exércitos da Liga. No ano seguinte o imperador assinou um acordo de paz, chamada a Paz de Veneza (1177), prometendo seis anos de trégua. No entanto em 1183 ele assinou um novo tratado, o Tratado de Constança, no qual as cidades italianas se tornariam fiéis ao império, porém manteriam sua autonomia política. Humilhado com as derrotas na Itália e as tréguas, Barbarossa decidiu focar seu governo sobre as campanhas de expansão de Henrique, o Leão.

"Apesar da crescente independência e da oposição de Henrique, o Leão, ampliou o domínio e a influência dos Hohenstaufen e reforçou a administração imperial na Alemanha". (
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564). 


Pintura medieval de Barba Roxa
Por mas, que Frederico I estivesse sem muita credibilidade com os italianos e com a Igreja, sua ajuda voltaria a ser solicitada. Em 1187, a sagrada cidade de Jerusalém fora conquistada pelo sultão e chefe militar dos curdos, Saladino (1138-1193). A igreja Católica viu isso como uma abominação por ter perdido a cidade de Jerusalém a qual depois de tantas batalhas realizadas durante as outras duas cruzadas, custou a pertencer aos cristãos, e agora mais uma vez os muçulmanos a tinha em mãos. Como medida, o então papa Gregório VIII, decretara oficialmente a Terceira Cruzada. Nessa cruzada dois poderosos soberanos da Europa, atrás de riqueza, poder e glória, partiram para a Terra Santa. O rei da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão (Richard Lionheart) e o rei de França, Filipe Augusto (Philippe Auguste). Ambos concordaram em partir para recuperar Jerusalém. No entanto, o novo papa solicitou mais ajuda nesta batalha. Sendo assim ele recorreu a ajuda de Barbarossa, o qual acabou aceitando o pedido, Barbarossa visava recuperar seu prestigio perante a Igreja e seu povo, se tornando o libertador de Jerusalém.

Barbarossa reuniu seus exércitos e começou a longa viagem a
té Jerusalém. Antes e partir ele abdicou-se do trono, deixando seu filho Henrique no lugar. O ex-imperador marchou até a Terra Santa, ansioso em poder conquistar Jerusalém, no entanto em um fatídico dia, atravessando um rio na Cilícia (Armênia), o imperador acabou se afogando em suas águas. O fato fora algo tão de repente e de tão grande impacto, que seus súditos não sabiam o que fazer direito naquele momento. No fim eles resolveram por o corpo do rei dentro de um barril com vinagre e levar-lo até Jerusalém onde seria sepultado. Barbarossa acabou se tornando uma figura lendária entre o seu povo. Fora considerado um dos grandes imperadores da História do Sacro Império Romano-Germânico. Não somente por suas conquistas mas, também por seu governo.
"[...] a partir do século XVI, a figura mítica do imperador adormecido sob o monte Kyffhäuser, destinado a reaparecer com seu exército para concretizar as esperanças populares nacionais". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564). 

A Terceira Cruzada (1189-1192) terminou com a derrota de Ricardo Coração de Leão e o exércitos franceses perante as forças de Saladino. A campanha acabou com a assinatura de acordos de paz com Saladino e a retirada das tropas dos cruzados.

NOTA: Henrique, o Leão, acabou traindo o imperador Frederico Barbarossa, e isso levou sua destituição do comando de suas tropas e de seus títulos. Para não morrer, Henrique fugiu com sua família para a Inglaterra.
NOTA 2: O filho que sucedeu Barba roxa, Henrique, se tornou o sacro-imperador Henrique VI da Germânia.
NOTA 3: Arnaldo de Brescia anos depois fora considerado um mártir, e ainda passou a ter suas ideias seguidas e difundidas pelos arnoldistas.
NOTA 4: Dentre algumas cidades fundadas por Henrique, o Leão, estão Lubeck e Munique.
NOTA 5: A primeira aparição do conto do Barba Azul foi no livro Os contos da Mamãe Gansa em 1697 de autoria de Charles Perrault.
NOTA 6: Barba roxa também fora os cognomes de um pirata turco chamado de Arudj e de seu irmão Khair al-Din. Ambos foram os responsáveis pela fundação do Estado de Argel no século XVI.
NOTA 7: B
arba ruiva (Barbe-rouge) é o nome de uma história em quadrinhos belga, na qual o Barba ruiva é um pirata.
NOTA 8: No jogo Age of Empires II, existe uma campanha chamada de Barbarossa em referência a história do imperador.
NOTA 9: A Liga Lombarda contou com a participação de trinta cidades. Tendo esta permanecida mesmo após a morte de Barbarossa.
NOTA 10: O Sacro Império Romano-Germânico é conhecido também como o Primeiro Reich.
NOTA 11: Barbarossa foi o nome de uma operação nazista iniciada em 1941 com o intuito de se invadir a União Soviética.
NOTA 12: Os Sete mares são: Atlântico norte, Atlântico sul, Pacífico norte, Pacífico sul, Índico, Ártico e Antártico.

Referências Bibliográficas:
BASCHET, Jérome. A civilização feudal, Rio Grande do Sul, Globo, 2006.
HEERS, Jacques. História Medieval. São Paulo, DIFEL, 4 ed, 1985.
KOSMINSKY, E. A. História da Idade Média, Rio de Janeiro, Editorial Vitória, 1963.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo, Nova Cultural, 1998. 

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