quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A arte da Renascença

O período do Renascimento Cultural ou Renascença marca a divisória entre a Idade Média, a dita "era das trevas", da "idade da luz", que seria a Idade Moderna. Embora costuma-se ler nos livros de história do ensino médio e fundamental, que o Renascimento fora uma época que abarcou os séculos XV e XVI, alguns historiadores preferem dizer que na realidade o Renascimento não durou um século em si, mas fora um processo que iniciou-se por volta do final do século XIII e se estendeu até os fins do século XVI ou em alguns casos até mesmo nos idos do século XVII. De qualquer forma, este recorte temporal que abrange mais de três séculos, não perfaz um progresso contínuo, essencialmente a renascença fora de caráter profundamente local, ficando quase que restrita as cidades italianas, fato este que se elaborarmos uma lista simples de dez artistas renascentistas, pelos menos oito serão italianos ou os próprios dez serão italianos. Isso não significa que a influência artística do renascimento não se espalhou por outras terras, ela se espalhou mas, de forma lenta e não gradativa.

"O movimento surgiu nas cidades-estados italianas e, graças a seus humanistas e artistas, matemáticos e engenheiros, banqueiros e homens de negócios, a península itálica foi vanguarda dessa revolução cultural que dali se estendeu para o resto da Europa. (BYINGTON, 2009, p. 8).

Locais como a França, Espanha, Alemanha, Países Baixos, e posteriormente, Portugal e Inglaterra, foram as nações que tiveram influencia dos ideais artísticos e culturais dos italianos. Todavia, isso não fora algo que ocorreu num dia para o outro, houve em alguns lugares rejeições a este ideal artístico, alguns dos motivos serão visto mais a frente, e m outros casos, a falta de recursos, de mecenas para patrocinar estes artistas era um problema que não levava a ida destes artistas para estes locais, os quais preferiam viver nas cidades italianas, em contra partida, os artistas destas outras nações que queriam seguir estes ideais, tinham que ir estudar na Itália ou até mesmo viver nesta.

Antecedentes

Antes de falar acerca dos primeiros artistas que deram inicio a esta caminhada para o renascimento cultural, devemos levantar em consideração alguns fatos importantes. Primeiro, como fora visto, as cidades italianas foram as precursoras e difusoras do renascimento, mas para que isso viesse acontecer muito teve que ocorrer. Antes das cidades começarem a se revigorar no século XIII, os séculos XI e XII foram marcados pelas cruzadas, por mas que tenham sido malfadadas em sua missão principal que era reconquistar a Terra Santa das mãos dos muçulmanos, as nove cruzadas e os vários anos de guerra, gerou riqueza e miséria para alguns, todavia, alguns territórios acabaram de fato sendo conquistados pelo cruzados, e isso permitiu que portos antes não acessíveis para os mercadores cristãos, agora lhes fosse acessíveis.

O comércio a partir do das primeiras décadas do século XIII voltou a fluir cada vez mais nos principais portos da Itália, e logo fora se estendendo para outras nações de forma mais lenta. As cidades de Florença, Siena, Veneza, Gênova começaram a se destacar nesta época. Mas, nem tudo era uma paz duradoura. O historiador francês Fernand Braudel, demonstra em seus trabalhos, que a Itália vivenciou períodos de paz e prosperidade, e períodos de guerra e decadência, entre dos séculos XIV ao XVI. Será neste palco turbulento que Maquiavel escrevera o seu famoso O Príncipe, e será em meio as guerras, que Leonardo da Vinci se notabilizará por seu trabalho como engenheiro militar.

Se por um lado a guerra e a paz marcou as diretrizes destas cidades pelos séculos seguintes, no setor econômico, militar, politico e financeiro, a influência para as artes veio de uma reforma realizada no setor educacional e se assim posso chamar, no campo da tradução, e no direito. O século XII, marca uma renovação no campo das letras, algo que ainda ficou restrito ao clero e a poucos nobres, em geral da nobreza aos pobres, grande parte da população européia era analfabeta. Todavia, houve uma crescente fundação de novas escolas (apenas os nobres e abastados podiam estudar nestas escolas), houve uma revigoração nas leis, passou-se a se utilizar cada vez mais os preceitos legislativos, executivos e judiciários do direito romano, até então o direito romano já era utilizado, mas este dividia espaço com o direito canônico que ainda permaneceria e o direito comum, ou seja, o direito referente a cada povo. A utilização do direito romano e a ampliação de sua abrangência contribuiu para acertar brechas nas leis, e problemas legais, já que cada povo queria ser julgado por suas próprias leis, e neste caso, na Europa medieval o poder e a legislação eram bem fragmentados. Mas, outro ponto interessante que vem deste fator e a importância dada aos políticos, a história e até mesmo a literatura romana, fatores que seriam resgatados mais tarde.


No campo da tradução, o acesso aos documentos árabes, conquistados na Península Ibérica ao longo da Reconquista e nas Cruzadas, ajudou a introduzir novos conhecimentos nos campos da ciências, literatura, filosofia e politica. Os árabes eram exímios compiladores, e copiaram muitos dos textos da Antiguidade, como dos gregos, romanos, egípcios, hebreus, persas etc. O conhecimento adquirido por estes passou as ser "compartilhado" com o Ocidente.

Nas artes o estilo gótico predominaria no setor sacro, seja na arquitetura, pintura, iluminura, escultura etc. O gótico seria bem vísivel nas grandiosas e complexas catedrais medievais. Sua aceitação no gosto eclesiástico, e popular, barrou a expansão da arte renascentista em alguns locais.


Fachada da Catedral de Notre Dame de Paris, exemplo de construção no estilo gótico. 


O período renascentista

Como fora visto logo no início, alguns autores preferem dividir o renascimento entre três séculos, as vezes divididos pelos nomes de Trecentos, Quattrocentos e o Cinquecento. Assim, me prenderei a esta cronologia para falar um pouco da arte renascentista e de sua história, mas quando falo em arte, não se refere apenas a pintura e a escultura, mas também a literatura e a arquitetura, assim como Giorgio Vasari (1511-1574), pintor, arquiteto e biografo italiano, classificou a arte nestas três categorias: pintura e escultura, literatura e arquitetura. Neste trabalho focarei a primeira categoria e deixarei para o final para falar das outras duas. Antes de entrarmos no trecentos, devemos saber que Vasari o qual viveu no último século propriamente da renascença, se notabilizou por ter escrito uma vasta biografia sobre os mais importantes artistas da renascença, a obra que contêm dezenas de biografias se intitula Le vite de' piú eccellenti pittori, scultori e architettori (As vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos). Vasari é considerado como tendo sido um historiador da arte, ele fora um dos primeiros a empregar o termo moderno cunhado por alguns artistas para se referir ao estilo artístico deste período, além disso, ele também fora o primeiro a empregar a palavra renascença ou renascimento para se referir a estes períodos de mudança que marcam o fim da Idade Média e o começo da Idade Moderna.

Por fim um fato imprecendível para se compreender a filosofia destes artistas renascentistas, é se compreender a gradual separação entre o teocentrismo e o antropocentrismo ou humanismo. Ao longo do período medieval, a filosofia embasada no teocentrismo, dizia que Deus era o centro do universo, do mundo, de tudo e de todos, a forte presença dos preceitos católicos apostólicos na Europa pregava esta ideia, contudo por volta dos idos do século XIV, essa visão começou a ganhar uma ideia contrária, alguns filósofos, passaram a enxergar o mundo, a vida, o universo não apenas do ponto de vista de Deus, mas agora pondo o homem no centro de tudo.

O humanismo ganhou várias vertentes internas nos séculos seguintes, mas para o renascimento a ideia estava em que a arte não necessariamente deveria se prender a retratar a natureza a qual era a obra de Deus, retratar passagens bíblicas ou sobre a vida de algum santo; nesta nova etapa, a influência religiosa ainda permaneceria, a natureza ainda seria um objeto de estudo, mas agora o homem passaria a se impor a natureza, a tentar controlá-la, o homem passaria a ter mais "forma", em outras palavras maior expressividade. Para se entender isso basta comparar a retratação humana dos primeiros pintores do século XIV com os do século XV e XVI, verá-se que o corpo humano passou a ser idealizado, a figurar como uma obra de arte. Mas, esta influência humanista não se prende apenas a pintura e a escultura, ela é vista na literatura, como será dito mais a frente, e na arquitetura.

"Os intelectuais se dedicavam ao estudo da gramática, retórica e dialética, exercitando-se segundo os modelos mais elegantes da Antiguidade, em particular o latim neoclássico. Ao grande desenvolvimento de tais estudos, designados studia humanitatis, deu-se o nome de Humanismo". (BYINGTON, 2009, p. 7).

O estudo das artes clássicas passaram a exaltar aquilo que estes homens que propunham o humanismo necessitavam, uma modelo e o ideal. Todavia posteriormente, alguns artistas, filósofos chegaram a questionar até que ponto o renascimento fora algo inovador de fato, ou não passou de uma mera cópia dos antigos.
Um forma fácil de entender por que os antigos se tornaram a inspiração para os modernos, advêm de uma anedota sobre dois artistas gregos, Zêuxis e Parrásio. Os dois foram pessoas reais, mas a anedota criada para eles se tornou uma espécie de mito para os artistas modernos. Na anedota, contada no livro Historia naturalis do historiador romano Plínio, o Velho, diz que Zêuxis e Parrásio eram tidos como os maiores artistas da Grécia em seu tempo, porém ambos queriam saber que era o melhor, para isso eles se desafiaram a pintar qualquer coisa da forma mais realista que fosse possível. Zêuxis pintou um cacho de uvas, e diz a história que pássaros pousaram sobre a tela e começaram a bicá-la, pensando que fossem uvas de verdade, Zêuxis se virou para Parrásio e pediu que ele mostrasse a o que fizera, ele teria dito para Parrásio remover o pano que cobria sua tela. Parrásio respondeu que aquilo não era um pano de verdade, mas sim a pintura de um pano. Zêuxis havia conseguido enganar os olhos dos pássaros, mas Parrásio enganou os olhos dos homens.




Deste singelo mito, a ideia de que a perfeição poderia ser realmente alcançada, passou a ser a meta de alguns artistas da renascença.
"A imitação é um conceito crucial para todo o Renascimento, o ponto de intersecção por onde passam os diferentes elementos do projeto renascentista. Os mitos clássicos sobre o nascimento das artes - Demócrito a Aristóteles, de Vitrúvio Pollione a Plínio, o Velho - são radicados na imagem ancestral do homem, que, imitando, extrai da natureza o próprio saber". (BYINGTON, 2009, p. 15).

Trecentos
No inicio do século XIV, os artistas ainda eram fortemente influenciados pela tradição religiosa, e pelo estilo gótico, nos fins do XIII e nos idos do XIV alguns dos artistas que se destacaram foram: Cimabue (1240-1302), Duccio Di Buoninsegna (1255?-1319) e Giotto di Bondone (1266-1319). Cimabue e Duccio foram um dos últimos representantes do estilo bizantino e um dos primeiros do trecentos a difundir o estilo gótico internacional, o qual influenciou os irmãos Lorenzeti e Simone Martini.
Santa Trinita Madona, Giovanni Cimabue, 1280. 
No entanto dentre estes três artistas o que inovou na arte renascentista fora Giotto. Giotto era filho de um pastor de ovelhas de Vespignano, aos dez anos de idade seu talento fora descoberto por Cimabue, o qual se tornou seu mestre. Cimabue quando viu o jovem Giotto rabiscando o desenho de uma ovelha em uma rocha, viu que aquela criança tinha um grande talento pela frente.


"Seu mestre, Cimabue, trabalhou para representar a forma em seu próprio espaço, mas foi Giotto quem finalmente descartou a tradição Bizantina e, sem imitar ninguém, levou o retrato da humanidade a novos patamares. Há uma autenticidade de expressão nos olhos de suas figuras, e cada gestos é convincente porque corpos reais habitam suas vestimentas". (GERLINGS, 2008, p. 76).

Giotto iniciou uma nova visão e interpretação da arte sacra com o novo ideal humanista que se desenvolvia, suas personagens passaram a possuir um maior ar de realidade e expressões faciais e corporais mais realistas. Giotto se notabilizou na pintura de afrescos, os quais influenciaram Masaccio, Cennino Cennini e o próprio Michelangelo.

Cennini fora um dos primeiros artistas a chamar a arte de seu tempo de moderna, fato este que ele diz o seguinte de Giotto: " [Giotto] traduziu a arte de pintar o grego ao latim, inventando o moderno".

Sucedendo a Giotto, outros artistas que se notabilizariam foram: Ambrogio Lorenzetti (1290?-1348), Simone Martini (1284-1344) e Fra Angelico (1387-1455). Ambrogio e seu irmão Pietro, ficaram conhecidos por suas obras que retratavam o cotidiano das cidades, que falava sobre a vida pública, sobre a politica, algo que saía da tendência sacra fortemente difundida pela Itália. Todavia o que Ambrogio apresentou de novo fora a retratação da arquitetura das cidades, principalmente Florença a cidade mais rica da época. Martini como os Lorenzeti também difundiu as imagens arquitetônicas em sua obr a, sendo estas possuindo uma influência do gótico de Duccio. Fra Angelico ficou conhecido por seus trabalhos prestados a Ordem Dominicana, em muito de seus afrescos. Seu trabalho influenciou Da Vinci.

Os Efeitos do Bom Governo na Cidade, Ambrogio Lorenzetti, 1337-1339.  

Se por um lado, a arte renascentista do trecentos ainda sofria influências do estilo bizantino e principalmente do gótico, no quattrocentos, a arte chegaria em seu auge, será a época de Leonardo e Michelangelo, porém não foram apenas eles que marcaram este período.

Quattrocentos


O século XV será um século de profundas transformações na Europa, será o século que marcará o fim da Idade Média de fato, no ano de 1453, quando a cidade de Constantinopla, então capital do poderoso império bizantino de outrora, cairá perante ao cerco dos exércitos turco-otomanos de Mehmed II. Será a época em que a guerra que durou mais de cem anos entre França e Inglaterra terminará, será a época do inicio das grandes navegações, da descoberta das Américas, da invenção da prensa móvel por Gutenberg, da fronteira entre alquimia e química, do despertar das ciências, das artes; será uma época de guerras e conquistas, mas acima de tudo marca o ínicio de uma nova era da história, a Idade Moderna.


Mas, voltando para a Itália renascentista, uma Itália marcada por guerras, por lutas politicas, traições, mortes, mas ao mesmo tempo marcado pelas artes, pelos mecenas e pela rivalidade entre os artistas. Todavia, será neste período que surgirá a ideia entre trevas e luz, que a Idade Média fora uma "idade das trevas" e que esta era de renascimento marca uma luz que varrerá esta escuridão que cobriu o mundo por quase mil anos. E o caminho escolhido para isso, como já fora visto, será através das artes, das ciências, da filosofia, da poli tica, da retórica, do conhecimento dos antigos.

Nesta época as ciências terão um grande impacto e importância sobre a arte, seja na pintura, escultura e arquitetura, o estudo da geometria, da perspectiva e da anatomia serão fundamentais para os novos pintores. O estudo da geometria permitiu que os artistas desse uma maior complexidade a sua obras, e as conduzisse cada vez mais para o real na pintura, já na arquitetura, a geometria abriu novos caminhos para um novo estilo arquitetônico, o qual buscou reviver a arquitetura romana, lhe dando uma nova roupagem.

"As regras da perspectiva renascentista - inventadas em 1415 por Brunelleschi e descritas em 1435 por Leon Battista Alberti (1404-1472) - possibilitaram a criação do espaço tridimensional sobre a superfície plana, resultandoem uma imagem muito semelhante à percepção que o olho humano possuida realidade espacial e dos objetos nela colocados". (BYINGTON, 2009, p. 18).

"Leonardo havia adotado o princípio das proporções matemáticas para o corpo humano e da rigorosa base geom étrica para a representação tridimensional dos corpos. Para, ele, a ideia de imitação da natureza e a incansável exploração de seus segredos permanecemm uma doutrina absoluta à qual se dedica por meio do desenho; um exercício constante que essa singular figura do Renascimento leva muito álém do âmbito artístico". (BYINGTON, 2009, p. 26).

Homem Vitruviano, Leonardo da Vinci, 1490. 
Não obstante os estudos anatômicos juntos com a geometria eleveram a arte a um novo patamar, dando uma maior realidade as formas humanas. Nesta época, curiosamente era permitido pela Igreja em parte o estudo da anatomia humana e da dissecação de cadáveres, realizadas nas escolas de medicina, nestes casos, os artistas iam para os hospitais e para estas escolas assistir as aulas de dissecação e anatomia. No caso de Leonardo, este realizou seus próprios estudos. No entanto nem todo artista seguiu arrisca esta nova concepção.

Um bom exemplo para se enxergar a a natomia na arte, é vendo os trabalhos de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), como exemplo temos a famosa estátua de Daví (1501-1504), a Pietá (1498-1499) e o teto da Capela Sistina, que consagrou Michelangelo não como tendo sido apenas um grande escultor, mas também um grande pintor.

O Juízo Final, Teto da Capela Sistina, Michelangelo Buonarroti, 1534-1541.  

Em suas obras fica evidente a perfeição do corpo humano, na retratação de suas formas e músculos, algo que os gr egos e romanos valorizavam em sua época, não é a toa, que os deuses e deusas sempre eram representados com corpos belos, fortes e esbeltos. Michelangelo como outros artistas consideravam o corpo humano uma obra de arte da natureza, e sua retratação era algo necessário para uma boa arte. Daí em se falar de nu artístico.

Ironicamente mesmo Michelangelo tendo sido um exímio escultor e pintor, a retratação de figuras femininas em sua arte era algo bem peculiar. Ao ver as mulheres retratadas nas cenas na Capela Sistina, pode-se notar que as mulheres foram retratadas com os corpos parecidos as formas masculinas, lhe dando um "ar" masculinizado, a resposta para isso vai desde a contratação de modelos femininos que eram mais caros que os masculinos, e pelo fato de que Michelangelo achava o corpo masculino mais perfeito do que o da mulher.

Todavia, o período do quattrocentos não se marcou apenas pelos trabalhos de Leonardo e Michelangelo, seus principais expoentes, mas muitos outros artistas tiveram destaque nesta época, e não apenas na Itália, nesse século, o renascimento começava a se expa ndir com maior vigor para fora da Itália.

Artistas como Fra Angelico, já mencionado anteriormente, marcou parte deste período, Giovanni Bellini (1430?-1516), o qual teve um import ante papel nesta época, em seus trabalhos e aulas prestados a Veneza, a ponto de levar a cidade a ser concorrente direta de Florença, o berço das artes. Destacam-se Andrea Mantegna (1430-1506), amigo e cunhado de Bellini, Andrea del Verrocchio (1435-1488) famoso pintor e dono de atêlie em Florença, professor deLeonardo. Tommaso Masaccio (1401-1428), de carreira curta e vida díficil, fora igualado a Giotto em seu trabalho. Donatello (1386-1466) fora um dos escultores expressivos desta época. Sandro Botticelli (1445-1510), protegido dos Médicis, tivera um importante atêlie em Florença. Botticelli tentou conciliar em sua arte a retratação das histórias e alegorias cristãs, com a mitologia pagã dos gregos e romanos.


O nascimento de Vênus, Sandro Botticelli, 1483.

"Entre os séculos XV e XVI, houve uma grande mudança na posição que os artistas ocupavam na sociedade. Sua imagem perante o público, os mecenas e eles próprios mudou drasticamente. A transformação consistiu sobretudo na progressiva diferenciação entre o artista o artesão, pressupondo maior qualificação intelectual das artes visuais, com ênfase na fase de ideação e elaboração da obra em detrimento do aspecto menos nobre da mera realização". (BYINGTON, 2009, p. 30).

O caso mais famoso de mecenas fora Lourenço de Médici (1449-1492), cognominado o, Magnífico. Os Médicis, uma rica família de banqueiros, governaram a República de Florença por muitos anos, e fora Lourenço o responsável por evitar que esta caísse nas mãos do rei de Nápoles e dos franceses em algumas ocasiões, em contra partida, ele também ganhara fama de tirano e opressor em alguns momentos, algo que levou o historiador, diplomata, músico e poeta Nicolau Maquiavel (1469-1527) a dedicar sua obra o Príncipe a Lourenço. Lourenço, patrocinou dentre alguns artistas, Verrocchio, Leonardo e Michelangelo, o qual morou na casa da família Médici por alguns anos.


"Foi em Florença, desde a primeira metade do século XV, que todos esses elementos se conjugaram na arte de um Brunelleschi, um Donatello, um Masaccio, e no pensamento de um L. B. Alberti. Essa primeira Renascença rapidamente ganhou a Itália toda, adquirindo novos impulso nas cortes principescas de Urbino, Ferrara, Mântua e Milão, assim como em Veneza". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, v. 20, p. 4986).


Mas, além de pintar afrescos para igrejas, capelas, mosteiros, fazer esculturas, realizar a decoração de palácios e de outras propriedades de seus mecenas, um dos principais serviços prestados a estes nobres, e ricos burgueses era sua retratação, ou seja, a pintura de retratos. Muitos artistas ganharam um dinheiro relativo pintando retratos, lembrem-se que a pintura mais famosa da história é um retrato.


Será próximo ao fim do século XV que a influência do renascimento deixará de fato a Itália e viajará para outras terras. Hungria, França, Espanha, posteriormente, os Países Baixos e os Estados Alemãs do Sacro Império. Alguns historiadores chamam isso de italianismo, em referência a divulgação da cultura italiana da renascença. Dentre alguns artistas que se destacaram logo neste começo, estava, Albrecht Dürer (1471-1526), o qual fora um dos poucos artistas alemãs influenciados pelo renascimento que tivera fama em sua terra, é considerado por alguns como o precursor deste estilo nesta região. Ele viajou várias vezes para estudar na Itália, estudando com Mantegna e Bellini; serviu como pintor da corte do imperador Maximiliano I, viajando pela França, Bélgica, Países Baixos, Hungria e Itália. Sua grande série de obras representava o livro do Apocalipse.

Cinquecento

O cinquecento, será marcado por uma nova leva de importantes artistas, o surgimento de alguns estilos dentro do renascimento, a influência advinda da Reforma Protestante e o movimento artístico do Maneirismo.



Um dos primeiros nomes de destaque desta nova fase da renascença fora o jovem prodígio Rafael Santi (1483-1520) o qual vivenciou ao lado de outros artistas como Bellini, Leonardo, Boticelli e Michelangelo a transição do século XV para o XVI. Alguns historiadores preferem chamar os anos que marcam as décadas de 1480 a 1530 como a Alta Renascença em referência a apogeu da arte renascentista.

Madona Sistina, Rafael Santi, 1513-1514.
"O mais jovem dos três grandes gigantes da Alta Renascença italiana, Raphael é mais conhecido por seus afrescos do Vaticano, inúmeras Madonas e retratos fascinantes, incluindo a bonita La Fornarina (hoje, revelada como esposa secreta do pintor) e o assustador Papa Julius II". (GERLINGS, 2008, p. 162).

Rafael ficou conhecido por seus traços suaves e sua exímia períficia na arte do desenho. De grande talento, tivera uma vida curta, mas seus estudos remontam a influência da arte de Leonardo, Michelangelo, os quais a quem é comparado, e as obras de Bartolomeu e Masaccio.

Dentre estes artistas da Alta Renascença o único que de maior expressividade que viveria para ver a próxima fase do renascimento fora Michelangelo, contudo algo passou a lhe incomodar com respeito aos novos artistas.

"Pintava-se à maneira de Leonardo ou de Rafael, e as obras eram apreciadas como michelangiolescas, leonardescas, rafaelescas... Os grandes nomes tinham se tornado adjetivos". (BYINGTON, 2009, p. 28).


Não era que Michelangelo achasse ruim a homenagem ao seu trabalho, mas ele passou a dizer que estes novos artistas já não tinham mais criatividade, eles passaram apenas a copiar e a imitar os grandes artistas. Chegou-se a um ponto que em meados do século XVI a arte renascentista ficara momentaneamente estagnada.

"Quem vai sempre atrás dos outros jamais chega à frente", teria dito Michelangelo a proprósito do novo curso, referindo-se à necessidade de imitar a natureza como modelo imensamente mais rico do que a obra de qualquer artista". (BYINGTON, 2009, p. 28).


A solução para este entrave veio com o maneirismo, o qual desenvolvido por volta da década de 10 ou 20 do século XVI, levou os artistas a buscarem sua originalidade, ou "maneira", assim o maneirismo passou a valorizar o individualismo de cada artista, criando-se novos traços e formas. Este movimento artístico se espalhou pela Europa e perdurou até o século XVII, abarcando a pintura, escultura, gravura, desenho, arquitetura, música e literatura.

"Irrealismo, sofisticação e refinamento são os traços dominantes; o corpo humano se alonga, os temas confinam com o fantástico e até mesmo o esotérico, as cores tornam-se ácidas. Na Itália, os representantes mais ilustres foram Pontormo, Parmigiano, G. Romano (pintura e arquitetura), Bronzino, Cellini, Giambologna, Ammanati. Na França o maneirismo desenvolveu-se com a escola de Fontainebleau, graças a presença de Rosso, Primaticcio e de Niccolò dell'Abate; nos Países Baixos, com J. Metsys e F. Floris, J. Van Scorel e H. Goltzius. Floresceu em Praga com B. Spranger e chegou à Espanha, onde se manifestou nas obras de L. de Morales e de El Greco". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, v. 15, p. 3773).



O rapto da Sabina, Giambologna, 1581-1582. Exemplo de escultura do maneirismo.

O próprio Michelangelo se tornou adepto do maneirismo. Outros artistas que se notabilizaram nesta época foram Titian (1488-1576), um dos grandes nomes da arte em Veneza. Titian não apenas usava pincéis, mas passou a utilizar as mãos e pedaços de panos, dando novos traços e tons para suas pinturas. Seu trabalho influenciou Tintorreto e vários artistas do século XVII ao XIX.

Jacopo Tintorreto (1518-1594), o qual tendo passado praticamente toda a sua vida a trabalho do governo de Veneza, se notabilizou com um dos grandes artistas desta cidade. Sua arte envolvia o estilo renascentista, o maneirismo e contribuiu para o barroco. Um ponto importante em seu trabalho era a importância que ele dava ao jogo de luz e sombra, que tornou suas obras ousadas entre os maneiristas. Seu trabalho influenciou El Greco e Rubens.
Roubo do Corpo de São Marcos, Jacopo Tintorreto, 1562-1566.   


Na Espanha, o pintor, escultor e arquiteto El Greco (1541-1614), pseudônimo de Domenikos Theotokopoulos, fora um dos nomes mais representativos do estilo renascentista e do maneirismo em solo espanhol. Homem orgulhoso e assertivo, não conseguiu fama na Itália e passou a viver o resto da vida na Espanha. Suas obras abordam principalmente temas religiosos e místico, os quais foram acrescidos a introdução de uma dinaminzação própria, com espaços comprimidos e formas torcidas em alguns casos. Se estilo não possui seguidores, e seu legado permanceu até o século XIX esquecido.

O maneirismo é considerado por alguns historiadores da arte, como um movimento complicado de ser definido, já que no século XVI, ele esboça uma diferança as vezes não claras em relação ao estilo renascentista, e quando se chega no século XVII ele se confude algumas vezes com o barroco. O barroco substituíria a arte renascentistana Europa, tanto nos países católicos e protestantes, e ganhariam as Américas também, algo que o renascimento não conseguiu tanta expressividade fora da Europa.

Arquitetura

"... a arquitetura é ciência ornada de várias erudições e disciplinas, a juízo a qual são aprovadas todas as coisas que em arte se aperfeiçoam, e nascem da 'fábrica' e 'raciocínio'". (Vocabulário das artes do desenho, 1681. Filippo Baldinucci apud BYINGTON, 2009, p.43).

"A figura do arquiteto no Renascimento em nada se assemelhava ao seu homólogo medieval, enquanto profissional capaz de combinar competência técnica e capacidade filosófica - 'fábrica e raciocínio'. Dotado de saber enciclopédico e versado em todas as matérias, era quem mais naturalmente se aproximava da ideia de Homem Universal". (BYINGTON, 2009, p. 44).

A arquitetura renascentista tivera como modelo, as ruínas das construções romanas do tempo do império e da república, e as próprias obras dos arquitetos da Antiguidade que sobreviveram ao longo destes séculos, dentre os quais, Marco Vitrúvio Polião, arquiteto e engenheiro romano que viveu no século I a.C. Seu longo trabalho escrito formado por dez volums, fora batizado De Archictetura. Tal trabalho fora parcialmente utilizado durante a Idade Média sem muita atenção por parte dos arquitetos da época, ele só veio a ganhar destaque mesmo durante a renascença a qual priorizou os estudos clássicos greco-romanos. Leonardo homenageou os estudos de Vitrúvio, compondo o famoso desenho do Homem Vitruviano.

"... tratava-se, literalmente, de trazer à luz a arquitetura clássica soterrada pelo tempo e pela ignorância, redescobrir-lhe a técnica construtiva, reiventar-lhe as formas e funções". Petrarca. (BYINGTON, 2009, p. 44).

"Uma vez que os manuscritos do livro de Vitrúvio haviam sido encontrados sem as ilustrações que se supunham constantes da edição original, a decifração do antigo texto favoreceu a fértil colaboração entre artistas e humanistas". (BYINGTON, 2009, p. 46).

Nomes como Michelangelo, Rafael, Belinni, Giotto, El Greco, em parte também Leonardo, já que este também realizara trabalhos em arquitetura, mas principalmente no campo da engenharia militar; vários dos outros artistas já mencionados também atuaram como arquitetos. Todavia, irei citar mais dois nomes importantes em meio a tantos outros.

Filippo Brunelleschi (1377-1446), considerado o maior nome da arquitetura renascentista. Brunelleschi trabalhou como escultor e ourive, mas fora na arquitetura em que se destacou. Em 1419 ele projetou o portão do Hospital dos Inocentes em Florença, tornando-se a primeira construção renascentista da cidade. Entre 1420 e 1436, concebeu e supervisionou as obras do domo da catedral de Santa Maria del Fiore, considerada uma de suas maiores obras. Fora também responsável por reogarnizar os interiores das basílicas de S. Lorenzo (1420), S. Spirito (1436) e a capela dos Pazzi (1429) em parceria com outros arquitetos. Brunelleschi projetou várias estruturas para palácios, igrejas e fortalezas, pedidos que viam de Mântua, Milão, Pisa e da própria Florença.
Vista da Basílica de Santa Maria del Fiore, Florença, Itália. Em destaque a cúpula, projetada por Felippo Brunelleschi e a torre do campanário, projetada por Giotto. 




Leon Battista Alberti (1404-1472), fora arquiteto e engenheiro, atuou como filósofo humanista, urbanista, escultor e músico. Alberti na visão de Vasari, expressava o ideal do Homem Universal, uma pessoa polimata, assim como fora Leonardo da Vinci e outros artistas da época. Alberti deixou importantes tratados das artes, os quais tiveram grande importância na renascença. Dentre seus tratados deixados estão: De pictura (1436), De statua (1464) e De re aedificatoria (1452).

Alberti, em De pictura, acentua a diferença entre o artista medieval e o artista renascentista, enquanto no medievo o artista era mais ligado ao ofício de um artesão, na renascença o artista seria um homem letrado, filósofo, um intelectual. "'O pintor deve ser culto', escrevia Alberti, que também alertava sobre quanto o comportamento influenciava a fama do pintor". (BYINGTON, 2009, p. 37).
"Em seus tratados, o humanista parece claramente empenhado em influenciar e consolidar os novos caminhos da recepção das obras pelo público, desempenhando sua função crítica junto aos artistas e aos mecenas. Alberti discorre sobre o valor da habilidade do artista em contraposição ao valor da habilidade do artista pregado; teoriza sobre a necessidade de concordância entre todos os membros do corpo, seja na proporção, seja na intenção da ação representada, exemplificando como a figura de um morto cujos membros devem expressar essa condição". (BYINGTON, 2009, p. 41).

Ele realizou importantes obras em Florença, Mântua, Roma etc, mas seu grande legado fora suas obras teóricas sobre a pintura, escultura e arquitetura, além de sua filosofia humanista.

Fachada da Basílica de Santa Maria Novella, Florença, Itália. Projeto de Leon Battista Alberti .

Literatura e Filosofia

Para se compreender um pouco do humanismo que expressou-se como a filosofia do renascimento, devemos nos remeter a literatura medieval, de um dos maiores poetas da língua italiana, Petrarca (1304-1374). Petrarca estudou em muitas cidades, viajou pela Itália e pelo restante da Europa a serviço de príncipes e Estados, contudo fora esta vida movimentada, dividida entre o ar bucólico de sua casa em Vauciuse com os movimentados salões de cortes, que Petrarca desenvolveu sua visão de vida, que deu origem ao humanismo, assim alguns historiadores creditam a Petrarca a base do humanismo. Petrarca fora um grand poeta, mas ele também fora um filólogo e tradutor, publicou, e coordenou a tradução de vários manuscritos antigos, que abordavam estudos históricos e filosóficos. Com isso ele revivia a apreciação pelo conhecimento antigo, em especial pelos romanos e gregos, e tais histórias foram publicadas sob o nome de: Sobre os homens ilustres (1338), A vida solitária (1346-1356), O repouso dos religiosos (1347). Na poesia suas obras mais famosas foram, África (1338), Cartas (1366), As rimas e Os Triunfos, reunidos postumamente em um livro chamado Canzoniere (1470).

"Modelo de poeta elegíaco, expremiu sua divisão entre as aspirações ascéticas e as seduções do mundo por meio de múltiplos jogos de antíteses, que constituem um dos elementos fundamentais do petraquismo". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural. 1998, v. 19, p. 4582).

Petrarca pode ter sido famoso em vida e depois, mas antes de se tornar famoso outro poeta já assumia este posto, Dante Alighieri (1265-1321). Dante, fora um politico, poeta, escritor, filólogo e filósofo italiano, conhecido principalmente por ser autor da Divina Comédia, obra que lhe consagrou na história. Na Divina Comédia, Dante abordava temas de sua época, envolvidos num universo que mesclava o cristianismo com o paganismo greco-romano, Dante criou uma história que o remete desde personagens mitológicas e reais da Antiguidade Clássica, a personagens bíblicas. Sua menção aos poetas romanos, aos filósofos gregos e outras personalidades históricas, encaminhava a literatura medieval para o que viria ser o estilo renascentista.

Todavia outro poeta que deu continuidade ao estilo dantesco e petrarquista fora Giovanni Boccaccio (1313-1373). Boccaccio navegou entre o religioso, o pagão, o profano e o humano, sua obra mais famosa fora o Decamerão, um conjunto de dezenas de novelas, que retratar a realidade da vida na época de Boccaccio, algo que as novelas de hoje procuram fazer em parte. No entanto, o Decamerão marca uma ruptura da moral e do conservadorismo medieval, adentrando ao humanismo renascentista, que passou a enxergar o mundo pelos olhos dos homens.

"A Retórica e a Poética de Aristóteles e a Arte poética de Horácio forneceram os principais elementos literários da Renascença". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, v. 20, p. 4986).

A poesia búcolica, inspirada em Virgílio (70-19 a.C), influenciou os poetas do século XV e XVI, não apenas na Itália, mas também na França e na Espanha. Poemas com temas mitológicos passaram a ter um maior gosto entre os leitores, principalmente aqueles que abordavam histórias famosas, ou que expressavam a tradição da tragédia e da comédia grega.

"O gosto pastoril manifestou-se claramente no Orfeu de Angelo Poliziano, na Aminta de T. Tasso, no Pastor Fido de Guarini, na Arcádia de Sannazzaro, na Diana enamorada, de Jorge Montemayor e e L'Astrée, de H. D'Urfé". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, v. 20, p. 4987).

Na França o escritor, médico e padre Rabelais (1494-1553), fora representante do estilo renascentista ou italianismo como ficou conhecido na época. Suas obras mais famosas são Pantagruel e Gargântua. O escritor e ensaísta Michel de Montaigne (1533-1592), fora outro representante deste estilo, suas obras mostravam um profundo ceticismo.

Na Espanha, escritores como Juan Boscán, Garcilaso de la Vega e Juan de Yepes, são alguns de seus principais representantes. Os espanhoís desenvolveram um estilo liríco próprio, que fora bem recebido. Em Portugal tivemos, Gil Vincente e Bernadim Ribeiro, tidos como pré-renascentistas, dentre os humanistas, nomes como, Jerônimo Barbosa, André de Resende e André de Gouveia. E não esquecemos do grande poeta desta época, Luiz Vaz de Camões (1524-1580), autor dos Lusíadas (1572).

Na filosofia humanista encontram-se nomes como de Erasmo de Roterdão (1466-1536), teólogo, padre e humanista holandês, escreveu Elogio da Loucura (1511) o qual esboça uma crítica aos dogmas da Igreja Católica e ao mesmo tempo, compartilha alguns dos pontos defendidos por Martin Lutero na Reforma, além de realizar uma crítica a moral social e virtuosa dos homens. Na mesma, época, o grande amigo de Erasmo, São Tómas Morus (1478-1535), estadista, diplomata, escritor e advogado inglês, exerceu o cargo de primeiro-ministro ou lorde chanceler no governo de Henrique VIII. Morus não concordava plenamente com a politica do rei, e isso lhe custou a sua própria vida. Moro fora o autor do famoso tratado politico chamado a Utopia (1516), neste livro, ele imaginou uma sociedade e um Estado perfeitos, localizados numa pequena ilha chamada Utopia, o governo seria uma república governada por homens sábios e benevolentes. A sociedade seria culta, haveria incentivo a se buscar o conhecimento, as boas maneiras, aos dons artisticos e artesanais; a vida seria custeada pelo Estado, trabalharia-se poucas horas por dia, e teria-se mais tempo para o lazer. A Utopia se tornou uma crítica aos governos monarquícos e democratas decadentes da Europa, e uma visão ideal de mundo, fato este que o termo utopia se tornou algo fantasioso, surreal, dificil de ser alcançado.

Pico della Mirandola (1463-1494), fora um filósofo e humanista italiano, um dos nomes importantes da filosofia renascentista. Mirandola fora um neoplatonista, o qual procurou reviver os ensinamentos de Platão. Ele abordou questões ligadas as artes, as ciências, a filosofia, politica e religião.

Por fim encerro este longo texto por aqui, sei que faltou mencionar a música, mas devido a falta de fontes mais ricas, me restri a escrever o que já foi mencionado.

NOTA: Fra Angelico era também conhecido pelo nome de Giovanni da Fiesole. No entanto seu nome de batismo era Guido de Pietro di Trosini. Fra Angelico fora um apelido dado pelos monges da sua ordem, a Ordem Dominicana.
NOTA 2: Tintoretto significa "pequeno tintureiro", em referência ao fato de que seu pai possuia uma tinturaria, onde ele quando criança, Tintoretto costumava brincar.
NOTA 3: Titian era um apelido de Ticiano Vecellio.
NOTA 4: No afresco O Juízo Final, Michelangelo seu autorretrata pintando-se como sendo a pele esfolada de São Bartolomeu, o qual teria sido esfolado vivo.

Referências Bibliográficas:
BYINGTON, Elisa. O projeto do Renascimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2009.
DESIDÉRIO, Erasmo. Elogio da Loucura. Tradução de Paulo Neves, Porto Alegre, L&PM, 2010. p. 134-138.
GERLINGS, Charlotte. 100 Grandes Artistas: Uma viagem visual de Fra Angelico a Andy Warhol. Tradução de Luíz Antônio C. Andrade. China, EDIC, 2008.
MORUS, Tómas. A Utopia. Tradução de Paulo Neves, Porto Alegre, L&PM, 2009. p. 7-9.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. v. 1, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. v. 4, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. v. 15, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Laurosse Cultural. v. 19, São Paulo, Nova Cultural, 1998. Grande Enciclopédia Laurosse Cultural. v.20, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Links relacionados:

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

História e Paródia em Astérix

Por seis anos as legiões romanas lideradas pelo grande general Júlio César (100-44 a.C), confrontaram as tribos bárbaras das Gálias. A guerra iniciada em 58 a.C chegou ao fim em 52 a.C, quando os romanos derrotam os gauleses na Batalha de Alésia, onde o líder gaulês Vercingetórix foi preso e apresentou sua rendição a Júlio César. As Gálias caíam nas mãos do romanos, no entanto, após dois anos de conquista, os romanos ainda não haviam conseguido impor o seu domínio a todos os gauleses, havia uma pequena resistência gaulesa ao julgo romano, tal resistência provinha de uma pequena aldeia de gauleses irredutíveis...? Gauleses irredutíveis? Como assim? Deste ponto se inicia as aventuras de Astérix e companhia.

Da esquerda para direita: Veteranix, Ordenafalbetix, Obélix, Ideiafix (cachorro), um dos carregadores, o chefe Abracurcix, Astérix, outro dos carregadores, o druida Panoramix, Automatix e Chatotorix.
Em 1959, o desenhista francês Alberto Uderzo (1927-presente) em parceria do escritor e desenhista René Goscinny (1926-1977), criaram uma das histórias em quadrinhos mais famosas, as aventuras de Asterix, o Gaulês. Originalmente Astérix e seus amigos apareceram pela primeira vez na Revista Pilote, em 1959, somente a partir de 1961 é que Astérix se tornou uma série em si, possuindo mais de 30 volumes da história regular, além de alguns álbuns e outras histórias extras, baseadas em animações e nos filmes em live-action.

As histórias de Astérix focam uma par
ódia a história romana após a conquista das Gálias e uma alusão a vários outros contextos históricos e personagens da história antiga e contemporânea, e personagens literárias. Assim, o propósito deste artigo, é mostrar um pouco das alusões criadas por Uderzo e Goscinny a algumas destas personagens

O chamados g
auleses irredutíveis eram assim, graças a uma poção mágica que lhes concedia força sobre-humana para quem a bebe-se, menos Obélix já que ele caiu no caldeirão da poção quando era criança. Assim, com esta poção nenhum romano ou inimigo punha medo aos gauleses, a única coisa que eles mais temiam era que o céu caísse sobre suas cabeças.

Goscinny como Astérix e Uderzo como Obélix.
História Antiga:

Júlio César (100-44 a.C)

Paródia:


Nas histórias de Astérix, Júlio César é o personagem histórico mais recorrente, aparecendo em muitas das revistas. Ele é retratado como um homem ambicioso, prepotente, egocêntrico, furioso, preocupado e as vezes benevolente. A fúria e a preocupação de César quase sempre estão ligadas aos problemas que Astérix e os outros apresentam para o domínio romano. Outro ponto interessante é que César é retratado como sendo um imperador romano, porém ele nunca chegou a ser imperador.

Histórico:


Caio Júlio César nasceu em 100 a.C, filho de uma família patrícia de relativa riqueza e influência política, César passou sua juventude no anonimato. Sua vida mudou, quando sua tia Júlia se casou com o importante general e político Caio Mario. Mario pertencia ao lado dos populares, e por sete vezes foi eleito cônsul, o cargo mais alto da República. No entanto na década de 80 a.C, os populares entraram em embate com a oposição (os optimates), tais conflitos fez surgir uma guerra civil que perdurou por alguns anos, até que em 81 a.C, Lúcio Cornélio Sula, membro dos optimates, conseguiu derrotar os populares, e se tornou ditador (nesse caso, ditador era um cargo republicano, e seu conceito difere do conceito de hoje). Sula ordenou a prisão e a morte de seus inimigos, nessa parte da história o jovem Júlio César fora banido para o Oriente para servir no exército.

Anos depois ap
ós a morte de Sula em 78 a.C, César já um homem de respeito entre os militares, retornou para Roma, e passou a trabalhar como advogado e posteriormente a exercer cargos públicos. Em 59 a.C ele fora eleito para o cargo de cônsul, e nesta época a política e a autoridade do Senado passava por problemas já advindos de algum tempo, então César decidiu se unir a dois importantes homens de Roma, o respeitado general Pompeu, o Grande e ao rico, Marco Licínio Crasso. Juntos eles formaram o Primeiro Triunvirato o qual passou a governar Roma. 

De 58-50 a.C, Júlio César se manteve ocupado na guerra nas Gálias, porém com a morte de Crasso em 53 a.C, sua aliança com Pompeu fora abalada, por este e outros motivos, e finalmente em 50 a.C, Pompeu se uniu aos inimigos de César no Senado e assim se iniciou uma guerra civil entre os dois. No ano de 49 a.C, Pompeu abandonou Roma e fugiu para Grécia, e no ano seguinte os dois se confrontaram, e a vitória ficou com César, Pompeu acabou fugindo para o Egito.

Vitorioso, Júlio César retornou par
a Roma, e fora eleito ditador (ditador era um cargo politico dado em momentos de crise, por um período de 6 meses). Em 47 a.C ele partiu para o Egito, lá descobriu que Pompeu havia sido traído e assassinado. Nessa época ele conheceu a rainha Cleópatra VII, com quem tivera um caso, e dessa relação nasceu seu filho Cesárion. Júlio César passou os anos seguintes perseguindo os últimos aliados de Pompeu, e realizando conquistas para Roma, então em 15 de março de 44 a.C ele foi assassinado junto com parte de seus seguidores por um grupo de senadores liderados por Cássio e Bruto. 

A repercussão da morte de César abalou o povo que o amava, e levou Marco Antônio um fiel amigo a unir-se com o sobrinho de César, o jovem Caio Otávio a perseguirem os assassinos e formarem um novo triunvirato. Posteriormente, Marco Antônio se envolveria com Cleópatra, e iniciaria uma rixa com Otávio. Daí em diante o fim da República seria dado, e Otávio proclamado imperador.

Bruto (81-43 a.C)


Paródia:


A primeira vez que Bruto aparece nas histórias de Astérix é na revista Astérix Gladiador (Asterix Gladiateur) em 1964. Ele aparece ao lado de César numa arena, enquanto ele e os romanos assistem Astérix e Obélix lutarem contra gladiadores e leões. Posteriormente ele aparece com maior participação em Astérix e a Cizânia (Asterix La Zizanie) em 1970. Bruto é um personagem cômico, principalmente na história da Cizânia, ele tenta agradar César, mas nunca consegue. Não obstante, é recorrente o emprego da frase "Até tu, Bruto" para se fazer alguma piada com a personagem. A frase "Até tu, Bruto" foi imortalizada na peça Júlio César (Julius Caesar) de William Shakespeare.

Histórico:


Décimo Júnio Bruto Albino, foi um patrício, militar e político romano, sua entrada na História se deve principalmente por ter sido um dos assassinos e conspiradores da morte de Júlio César. Bruto era parente distante de César, e acabou se tornando um dos seus protegidos, principalmente após César passar a ter um caso com a sua mãe. Bruto em 45 a.C acabou se deixando passar para o lado da oposição ao governo de Júlio César, e no ano seguinte participou da conspiração que levou a morte de César. Após isso ele fugiu para a Grécia, lá Marco Antônio e Otávio o confrontaram com seus exércitos. Bruto contou com apoio de Cássio, mas com a derrota para as forças de Antônio e Otávio, ambos cometeram suicídio.

Cleópatra (69-30 a.C)

Paródia:

A famosa rainha do Egito apar
ece pela primeira vez em Astérix e Cleópatra (Asterix et Cleopatra) em 1965Nessa história, Cleópatra é representada como uma mulher destemida no poder, prepotente e desafiadora. 

Na história, César em visita ao Egito, conversando com Cleópatra acaba dizendo que os romanos eram melhores construtores do que os egípcios, a rainha indignada com isso, desafia César, ele aceita o desafio e faz uma aposta na qual Cleópatra teria que construir um palácio para ele num prazo de tantos dias. Ela aceita, então chama o arquiteto Numerabis, um parente distante dos gauleses para ser o arquiteto-chefe da construção do palácio. Numerabis sabendo que seria impossível construir o palácio em tão pouco tempo, decidiu procurar ajuda de alguns parentes distantes,  os quais eram gauleses. Então ele viajou para a Gália para buscar ajuda dos gauleses, e retornou para o Egito em companhia de Panoramix, Astérix, Obélix e Ideiafix.

Mas, saindo
da sinopse da história, a rainha como se pode ver na imagem possui um nariz arrebitado, diferente do nariz da Cleópatra verdadeira o qual não parecia ter sido um dos mais belos. Na história Astérix e os outros ficam contemplando o nariz da rainha, dizendo que ele é muito belo. A imagem de Cleópatra para esta história não foi baseada na personagem verdadeira propriamente, mas na atriz Elizabeth Taylor que interpretou a rainha no filme Cleópatra em 1963.

Histórico:


Cleópatra VII Thea Filopator (69-30 a.C) foi a última rainha do Egito, após o seu suicídio em 30 a.C, o Egito se tornou uma província romana. Filha de Ptolomeu XII e Cleópatra V, Cleópatra se casou com o seu irmão Ptolomeu XIII, sucessor do trono. No entanto, o reinado dos dois foi marcado por ameaças internas, e em meio a estas pressões, a rainha enxergou em Roma um poderoso aliado. Cleópatra chegou a se desentender com o seu irmão-esposo, mas conseguiu o apoio de Júlio César, daí nasceu seu romance e seu filho, Cesarion (pequeno César). Posteriormente, em 47 a.C, Ptolomeu XIII veio a morrer, se afogando num rio enquanto fugia das forças romanas, foi sucedido pelo seu irmão mais novo Ptolomeu XIV,,, com quem Cleópatra também se casou, no entanto o casamento de fachada, não impediu que a pedido de César Cleópatra e o filho se mudassem para Roma.

Em 44 a.C após a morte de Júlio César, Cleópatra e Cesárion retornaram para o Egito, lá misteriosamente o rei Ptolomeu XIV morreu no mesmo ano (acreditasse que Cleópatra mandou matá-lo). Assim Cesárion se tornou o herdeiro do trono como Ptolomeu XV. Como ainda era novo para governar sua mãe assumiu como co-regente. Após a morte de César, Cleópatra passou a ter um romance com Marco Antônio e se casou com este, os dois acabaram tendo três filhos, sendo que dois eram gêmeos. Marco Antônio e Cleópatra se tornaram inimigos de Otávio, e logo de Roma, a qual apoiava Otávio, e no ano de 30 a.C após terem seus exércitos derrotados, Marco Antônio cometeu suicídio, e posteriormente Cleópatra fez o mesmo, na famosa história da picada da serpente. Otávio ordenou que Cesárion fosse morto e anexou o Egito como provincia romana.

Cesárion é retratado em Astérix: O Filho de Asterix (Le fils d'Asterix) de 1983 e em O aniversário de Astérix e Obélix: O Livro de Ouro (L'anniversaire d'Asterix et Obelix - Le Livre d'Or) de 2009.

Vercingetórix (72-46 a.c)


Paródia:

Vercingetórix aparece em Astérix e o Escudo Arverno (Asterix Le bouclier Arverne) de 1968. O início da história se passa em Alésia em 52 a.C, quando Vercingetórix é derrotado pelas legiões de César, então este rende-se e entrega as suas armas para César, inclusive um grande escudo azul, tema desta história. Após isso ele não volta mais aparecer, todavia a terminação "ix" inspirou a criação do nome dos gauleses.

Histórico:

Vercingetórix foi um importante líder gaulês do povo Arverno, o qual liderou uma revolta entre os anos de 53-52 a.C, contra as legiões romanas de Júlio César. Ele havia servido as tropas de César alguns anos antes, sendo assim, possuía conhecimento sobre os interesses romanos naquela região, mas após a morte de seu pai, Celtill, ele foi eleito chefe dos arvernos, e decidiu não mais servir aos romanos, mas lutar pelo seu povo.

A Batalha de Alésia marcou a derrota gaulesa e a vitória romana. No entanto, Vercingetórix é considerado como tendo sido um herói do povo francês, por sua coragem e determinação de tentar libertar as Gálias do julgo romano. A revolta que parecia ser algo modesto, se mostrou bem mais complexa, levando as legiões de César terem que atuar rapidamente e com força para impedir que a revolta se alastrasse e logo toda a Gália insurgisse novamente. Vercingetórix após se render, fora feito prisioneiro e levado para Roma onde permaneceu os anos seguintes presos, até a sua morte em 46 a.C, provavelmente fora assassinado.


História Contemporânea:

Nas histórias de Astérix é recorrente a alusão e a paródia de personagens históricas ou não. Neste caso, as per
sonagens que serão apresentadas a seguir, perfazem apenas um sentido de alusão, não correspondendo necessariamente a pessoa em si, diferente das alusões feitas com Júlio César, Cleópatra e entre outras pessoas daquela época.

Napoleão Bonaparte 

Em Astérix e o Combate dos Chefes (Asterix le Combat des Chefs) de 1966, existe uma alusão a Napoleão Bonaparte (1769-1821), militar, político, e imperador da França de 1804-1814 e em 1815. Napoleão é uma das figuras mais famosas, interessantes e polêmicas da história, fato este que leva algumas pessoas quando sofrem de problemas mentais, em pensarem ser Napoleão. Ironicamente isso é retratado na imagem acima. Na história, Astérix e Obélix levam o druida Panoramix para se consultar com o druida Amnesix, para curar a amnésia de Panoramix, causada por um menir (monumento feito de pedra) que caiu em sua cabeça. Em meio aos pacientes, esta um gaulês que "ninguém" sabe ao certo quem pensa ser.

Benito Mussolini

Em o Combate dos Chefes, o centurião Langelus perfaz uma caricatura e uma alusão ao ditador italiano Benito Mussolini (1883-1945). Mussolini foi jornalista e político, sendo o líder do Partido Nacional Fascista e um dos criadores do Fascismo. Atuou como primeiro-ministro da Itália, Primeiro Marechal do Império até passar a governar como um ditador de 1943 a 1945, chamado de Il Duce. Mussolini formou aliança com a Alemanha Nazista de Hitler, lutou contra o comunismo, procurou implantar o nacionalismo, o sindicalismo, a ideia de progresso etc. Era um exímio orador como Hitler, fato este que era comum ver Mussolini exaltado em seus discursos, motivo no qual a personagem de Langelus aparece recorrentemente gritando, ou falando de forma enérgica.

Mahatma Gandhi

Em Asterix: As 1001 horas de Asterix (Asterix chez Rahazade) de 1987, marca a viagem de Asterix, Obelix, Ideiafix e Chatotorix, o bardo, para a Índia, onde eles são levados por Ahivá um faquir (espécie de religioso), os quais os transporta em seu tapete voador até a Índia para salvarem uma princesa. De qualquer forma, Ahivá representa uma paródia a Mahatma Gandhi (1869-1948), o qual se tornou um importante e influente líder revolucionário. Gandhi necessariamente não fora um líder religioso, já que ele não pregava a fé em si, mas pregava a paz, o amor, a não-violência, conhecida pelos ideais do satyagraha, além de lutar pela independência da Índia e do povo indiano, já que até então a Índia ainda era uma colônia da Inglaterra.

Outra curiosidade, é que a personagem de Ahivá utiliza óculos, porém os óculos ainda não existiam no século I a.C, marcando um entre vários anacronismos recorrentes nas histórias de Asterix.

Outras paródias:

Em Astérix entre os Bretões (Asterix chez les Bretons) publicado em 1966, as legiões de Júlio César conquistaram quase toda a Bretanha a não ser por uma pequena aldeia, na qual mora um primo de Astérix chamado Jolitorax, o qual parte para a Gália para pedir a ajuda de seu primo, assim Astérix, Obélix, Ideafix e Panoramix viajam para a Bretanha afim de libertar a vila de Jolitorax da ameaça romana. Lá eles conhecem quatro famosos bardos, que consistem em uma paródia aos Beatles, que na época que a revista fora publicada estavam em alta.

Paródia dos Beatles em Astérix entre os Bretões
Na revista A Galera de Obélix (La Galère d'Obélix) publicado em 2001, tendo como escritor e desenhista apenas Uderzo, pois Goscinny já havia falecido, Astérix e Obélix se envolvem em uma enrascada onde uma galera (tipo de navio) que pertencia a César fora roubada por um escravo chamado Spartix, o qual é uma paródia ao escravo e gladiador Espártaco (120-70 a.C). Entretanto o Spartix é baseado na memorável interpretação do ator americano Kirk Douglas como Espártaco no filme Spartacus (1960).

O personagem de Spartix, baseado na interpretação de Kirk Douglas como o gladiador Espártaco.
Em Astérix na Hispânia (Asterix en Hispanie) publicado em 1969, Júlio César conseguiu conquistar a Hispânia, e raptou o filho de um dos chefes hispânicos. O garoto chamado Pepe foi levado para a Gália, entretanto, Astérix e Obélix acabaram o encontrando e decidiram ajudá-lo a voltar para casa. Viajando pela Hispânia eles encontram dois cavaleiros, um vestindo uma armadura, e o outro montado em um burro, tais homens são uma alusão as personagens de Dom Quixote e Sancho Pancha, criados pelo escritor Miguel de Cervantes (1547-1616), onde o livro Dom Quixote de La Mancha teve o primeiro volume publicado em 1605 e o segundo volume publicado em 1615. 

Astérix, Obélix, Ideafix e Pepe diante das paródias de Dom Quixote e Sancho Pancha. Um anacronismo gritante nessa cena, são os moinhos de vento ao fundo, os quais não existiam em 50 a.C, data na qual acontecem as histórias de Astérix.

Referências Bibliográficas:
GRIMAL, Pierre. A Civilização Romana. Lisboa, Ed. 70, 1988.
CANFORA, Luciano. Júlio César — O Ditador Democrático. Tradução de Antonio da Siveira Mendonça. São Paulo, Estação Liberdade, 2002.
BALDSON, J. P. V. D. O Mundo Romano. Rio de Janeiro, Zahar, 1968
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 6, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural, v. 24, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Referência audiovisual:

Cleópatra: A rainha do Egito (Great Egyptian: The Real Cleopatra) [documentário-video], Discovery Channel, 1996, 23 min, color, som.

Referência da internet:
http://diccionarioasterix.blogspot.com/

Link relacionado:
Gaius Iulius Caesar - Pater Patriae

LINKS:
http://diccionarioasterix.blogspot.com/ (em espanhol)http://www.blogasterixgalo.blogspot.com/ (em espanhol)http://www.asterix.com/ (site oficial)http://www.sobresites.com/quadrinhos/personagens/asterix.htm